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03/03/2020 https://sisweb02.unipar.br/eventos/anais/4354/html/19149.

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A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO DISCENTE NO INSTITUTO


FEDERAL DO PARANÁ (IFPR)

1Júnior Cezar Castilho

1Técnico em Assuntos Educacionais / Instituto Federal do Paraná – Campus Umuarama

Introdução: O trabalho como princípio educativo é o cerne da proposta de criação dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia em todo o território nacional. A proposta baseou-se na criação de uma escola que rompesse o
ranço histórico de uma formação para o trabalho meramente mecanicista, para uma compreensão ontológica do mesmo.
No Paraná, o processo seletivo de ingresso na instituição leva em consideração uma política institucional de cotas, que
destina 80% das vagas à inclusão. Entretanto, é fato que esse tipo de política não pode estar restrito apenas ao
processo de ingresso, uma vez que a permanência dos estudantes é o grande gargalo do IFPR, que instalou uma
política de Assistência Estudantil, inclusive no repasse de recursos financeiros, destinados àqueles em situação de
vulnerabilidade socioeconômica. Para acompanhar esses estudantes em seu percurso escolar, os campi do IFPR
contam com uma equipe multidisciplinar. Não obstante, tanto a existência dessa equipe quanto a financeirização dos
estudantes em situação de vulnerabilidade não são garantia de permanência e êxito. Abrantes (2013) apresenta dados
sobre a evasão escolar nos cursos técnicos subsequentes do IFPR, com percentual de 50% de estudantes evadidos.
Para refletir sobre o processo de inclusão/exclusão no IFPR é que se buscou subsídios de investigação dentro da
perspectiva da Psicologia Social Comunitária, por entender necessária uma imersão na vida cotidiana desses estudantes
ingressantes, sujeitos reais e não meros números estatísticos.
Objetivo: Investigar na perspectiva da Psicologia Social Comunitária o processo de inclusão/exclusão discente no IFPR,
objetivando potencializar teoricamente a ação da equipe multidisciplinar.
Desenvolvimento: O IFPR propõe uma formação escolar técnica e tecnológica para o mundo do trabalho. Constitui-se
representante de um microcosmo social de relações políticas e de poder, no qual, segundo Kuenzer (2009), se constrói
uma dualidade estrutural, antepondo forças de inclusão excludente e de exclusão includente. Essa relação dialética
sobre um modelo de sociedade pautada no capitalismo e a consequente formação de grupos de cidadãos apartados dos
bens econômicos e culturais produzidos e do papel da escola como reforçador e perpetuador desse modelo é o pano de
fundo do texto exclusão social e fracasso escolar. No texto, Spozati (2000) propõe pensar a escola para além dos muros
e do projeto pedagógico que a cercam, pensando também as condições de acesso, moradia, renda, transporte, família,
etc. Mais que acesso, é necessário criar condições de permanência para além da mera escolarização bancária, ou da
financeirização da permanência forçada, sem entender o estudante como um sujeito histórico. Essa inclusão proposta na
vida escolar pressupõe uma ação multiprofissional, familiar, individual e de políticas públicas intrinsecamente
conectadas. Logo, é preciso ir para além dos rótulos construídos estatisticamente em percentuais de exclusão/evasão,
sem se conhecer as condições concretas de vida historicamente construídas dos indivíduos. Freitas (2006) discute os
significados e usos da concepção de exclusão. Partindo de um viés histórico, apresenta uma construção social
amparada num modelo de sociedade tradicional, típica do período colonial, que criou situações de diferenciação social
de classes, cuja participação dos indivíduos criou dimensões psicossociais de exclusão-participação. Discorre que não
bastam medidas paliativas de preenchimento de lacunas pontuais (como aumento de vagas em escolas), mas uma
formação plena quanto ao desenvolvimento educacional, cultural, intelectual, artístico e afetivo intrínsecos à humanidade
e sua trajetória histórica. Logo, possuir uma equipe multidisciplinar ou uma política institucional de financeirização não
faz do IFPR uma escola inclusiva e democrática, pois são ações que podem perder-se de forma paliativa se não for
realizado um trabalho que contribua realmente com a formação de redes psicossociais comunitárias autênticas e
participativas. Considerando as políticas de ingresso do IFPR, muitos dos estudantes que frequentam a escola têm nela,
talvez, a única oportunidade de acesso a uma escola cuja proposta de ensino difere de um modelo tradicional de
educação dito “meritocrática”, mas que reproduz modelos de inclusão excludente. Entretanto, a permanência destes não
está garantida quando se considera o alto índice de evasão, reforçador da ideia de fracasso escolar. Logo, é preciso
entender o enleio histórico da vida social dos diferentes grupos que compõem a instituição e buscar articulá-los em
movimentos sociais coletivos e solidários, numa perspectiva equânime.
Conclusão: A realização deste estudo acerca da inclusão/exclusão educação profissional no IFPR pode contribuir para
que seu corpo pedagógico, administrativo, docente, discente e suas famílias reflitam sobre este tema e possam repensar
práticas comunitárias, vislumbrando a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem, criando condições para
se promover a educação enquanto política pública comprometida com a transformação da realidade local, de forma
significativa a todos os envolvidos no processo.

Referências
ABRANTES, Terezinha dos Anjos et all. Conhecendo e Combatendo a Evasão nos Cursos Técnicos do IFPR – Campus
https://sisweb02.unipar.br/eventos/anais/4354/html/19149.html 1/2
03/03/2020 https://sisweb02.unipar.br/eventos/anais/4354/html/19149.html

Umuarama. Disponível em http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/pdf/9540_6344.pdf. Acesso em: 08 jul. 2019.


FREITAS, Maria de Fatima Quintal de. Dimensões da exclusão e da participação na vida cotidiana: perspectiva da
psicologia social comunitária latinoamericana. In Scmidt, M.Auxiliadora; Stoltz, Tania (orgs.). Educação, Cidadania e
Inclusão Social (p.104-114). Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2006.
KUENZER, Acácia Zeneida. Exclusão includente e inclusão excludente: a nova forma de dualidade estrutural que
objetiva as novas relações entre educação e trabalho. Disponível em: . Acesso em: 08 abr. 2019.
SPOSATI, A. (2000, janeiro). Exclusão social e fracasso escolar. In: Revista Em Aberto, v.17, n. 71, .211-232.

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