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Vitor Malaggi2
Felipe Valente Antonakopoulos3
Amanda Pires Andrade4
Dalton Madruga da Silva5 6
1 A realização das ações de Extensão Universitária e Pesquisa relatadas neste artigo contaram com
financiamento obtido junto à PROEX/UDESC, por meio do Edital PAEX nº 02/2017. Desta forma, registramos
aqui nosso agradecimento ao apoio financeiro concedido pela UDESC na efetivação destas atividades.
2 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Centro de Educação a Distância (CEAD), Curso
de Pedagogia a Distância, vitor.malaggi@udesc.br.
3 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Centro de Artes (CEART), Curso de Teatro,
felipevalentea@gmail.com.
4 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Centro de Artes (CEART), Curso de Teatro,
amandaandradej37@gmail.com.
5 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Centro de Artes (CEART), Curso de Teatro,
dalton.madruga@gmail.com.
6 Faz-se fundamental destacar neste ponto em torno da autoria que, a realização do Programa de
Extensão e Projeto de Pesquisa de onde derivam os resultados do presente artigo, não poderia ocorrer sem o
envolvimento solidário de um coletivo de educadores(as) e educadoras(as) populares, oriundos da Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC) e da Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha (ETHCI/CUT). Sendo
assim, citamos aqui os demais sujeitos que compuseram este coletivo no ano de 2018: Rosana Miyashiro, Salete
Martins da Aparecida, Aline Salami, Patrícia Félix e Monalisa Pivetta da Silva.
Resumo: O presente artigo apresenta discussões teórico-metodológicas e resultados de uma
experiência concreta de indissociabilidade Extensão Universitária-Pesquisa, tendo a Pesquisa
Participante como norteadora do processo de investigação e transformação coletiva da
realidade. Mais precisamente, a proposta teórico-metodológica aqui apresentada focaliza na
formação permanente de educadores(as) populares(as), no tocante aos desafios emergidos das
relações pedagógicas do “Círculo de Cultura Digital”. Este “Círculo” trata-se, pois, de uma
Ação de Extensão que intenciona uma práxis de inclusão digital popular, junto a
jovens/adultos da classe trabalhadora. Das situações-limites emergidas desta práxis derivou a
necessidade da dimensão investigativa do real, buscando superar o senso comum pedagógico
e demais entraves concretos que potencialmente condicionam o Círculo de Cultura Digital a
uma experiência meramente instrumentalizadora com as Tecnologias Digitais de Informação
e Comunicação (TDICs). Neste sentido, o presente artigo traz uma síntese tanto da proposta
teórico-metodológica desenvolvida pela Equipe de Educadores(as) responsável pelo
“Círculo”, quanto os primeiros movimentos de aplicação desta proposta na prática.
Palavras-Chave: Pesquisa Participante; Extensão Universitária; Educação Popular Freiriana.
1 Para contextualizar...
Dentre os marcos legais que balizam a atuação da Universidade no contexto social
brasileiro, destaca-se no Art. 207 da Constituição Federal a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão como princípio fundante do quefazer universitário (BRASIL, 1988). Em
linhas gerais, tal princípio postula a necessidade de que os processos de apropriação dos
conhecimentos historicamente acumulado (Ensino), bem como a produção de novos
conhecimento (Pesquisa), deve dar-se de forma profundamente articulada com as demandas
sociais, em um diálogo horizontal entre Universidade e Sociedade que produza sínteses dos
saberes acadêmicos e populares (Extensão).
No legado político-pedagógico de Paulo Freire podemos subsidiar a luta pela
superação de uma concepção “dissociada” e assistencialista de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Concepção que, fundamentalmente, situa a Extensão (e também o Ensino e a Pesquisa...)
como conjunto de atividades exercidas pela Universidade sobre a Sociedade, em um sentido
de doação de conhecimentos acadêmicos, pretensamente “superiores” e socialmente
valorizados, aos setores populares, movimentos sociais e demais instituições civis. Trata-se de
forjar uma cosmovisão sobre Ensino, Extensão e Pesquisa que se dirige para a constituição de
um espaço-tempo formativo, dialógico e problematizador da Universidade com a Sociedade,
em que tais polos encontram-se para produzir, solidariamente, novas sínteses culturais e
formas coletivas de ação (FREIRE, 1977, 2011).
É com base em tais colocações que apresentamos o artigo em tela, derivado dos
resultados iniciais do projeto de pesquisa intitulado “Formação permanente de educadores
populares em inclusão digital – tecituras entre Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária”.
Este projeto de pesquisa nasce de uma articulação orgânica entre Universidade e Sociedade,
por intermédio do Programa de Extensão “Inclusão digital na educação popular de
jovens/adultos e formação docente”. Mais precisamente, no contexto da Ação de Extensão
“Círculo de Cultura Digital”, desenvolvida em parceria com a Escola de Turismo e Hotelaria
Canto da Ilha (ETHCI/CUT). Tal escola, situada em Florianópolis e vinculada a Central
Única dos Trabalhadores (CUT), realiza cursos de Educação Profissional direcionados à
classe trabalhadora, em um contexto de Educação de Jovens e Adultos (EJA)7.
Com uma orientação teórico-metodológica atrelada à Educação Popular Freiriana
(FREIRE; NOGUEIRA, 1999), o Círculo de Cultura Digital procura articular processos de
inclusão digital de jovens/adultos a partir de temáticas derivadas da realidade social destes
sujeitos, com vistas a sua inserção crítica na cultura digital8.
b) Reflexão:
1º momento: Socialização e sistematização das Memórias
Trata-se de um primeiro momento daquilo que Benincá (2010, p. 32) denomina
“Sessões de Estudo”: estabelecimento sistemático e metódico do contexto teórico de ad-
miração da prática anteriormente efetivada, pela mediação da teoria . Aqui, os(as)
educadores(as) participantes realizam a narração das Memórias Reflexivas, buscando lançar
diferentes olhares em torno do(s) objeto(s) observado(s) nas relações pedagógicas. Em
seguida, procede-se a sistematização das Memórias, o que implica “[...] agrupar informações
por sua semelhança e significação, procedimento que permite construir núcleos indicativos de
uma realidade” (BENINCÁ, 2010, p. 32). Tais indicativos, sugeridos por Benincá, podem ser
encarados como “temas geradores em potencial” da investigação.
Em seguida, os investigadores “[...] retomam os indicativos para verificar se estão
suficientemente claros ou se exige nova observação específica” (Ibidem, p. 32). No momento
em que os indicativos pré-selecionados estiverem claros, será efetivada a escolha daquele(s)
que possam constituir um tema gerador. Atrelado a este, algumas categorias de análise que
passarão a guiar o olhar teórico e a continuidade da coleta de dados acerca da realidade.
[...] detour para aprender as leis dos fenômenos em sua concretude [...]. Este detour
implica necessariamente ter como ponto de partida os fatos empíricos que nos são
dados pela realidade. Implica, em segundo lugar, superar as impressões primeiras, as
representações fenomênicas destes fatos empíricos e ascender ao seu âmago, às suas
leis fundamentais. O ponto de chegada será não mais as representações primeiras do
empírico ponto de partida, mas o concreto pensado. Esta trajetória demanda do
homem, enquanto ser cognoscente, um esforço e um trabalho de apropriação,
organização e exposição dos fatos (FRIGOTTO, 2001, p. 79-80).
c) Ação:
Transformação da prática pedagógica
Nas palavras de Benincá, com as hipóteses ou propostas de intervenção na realidade
delimitadas, “[...] retornar-se à prática pedagógica [...], momento em que o pesquisador deve
ter clareza do que deve mudar e de como deve agir em relação ao contexto e ao aluno. (2010,
p. 33). Na perspectiva de Thiollent, faz-se necessário pensar coletiva e criticamente em torno
da ideia de “transformação da realidade”, de tal forma a não recaírmos em proposta idealistas
sem lastro nas condições concretas do real:
Referências
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