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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE – FACES

Psicologia - 7º semestre

CAMPOS DE ATUAÇÃO E INVESTIGAÇÃO: PSICOLOGIA ESCOLAR I

SEMESTRE: 2°/2022

CAMPUS/TURNO: Asa Norte – Noturno, turma única

PROFESSORA: Marília de Queiroz Dias Jácome

ALUNA: Bibiana Soyaux de Almeida Rosa (RA: 21954381)

Unidade 2 - Articulação entre a Psicologia e a Educação


a. Educação: questões históricas e filosóficas.

Brasília, novembro de 2022


A sociedade contemporânea é configurada a partir das relações de produção do
modelo econômico capitalista; e neste sentido, o lastro histórico da constituição deste
modelo é paralelo com a história de instituições de controle social à exemplo da Escola,
enfoque deste texto.
Imersas na perspectiva produtivista capitalista, em que a mercadoria passa a ser a
unidade estruturante das relações sociais e econômicas, a lógica destas instituições
também se orientam a partir das demandas do mercado e segundo os ideais utilitaristas e
pragmáticos, os quais fundamentam as ideologias dominantes do capital desde a
modernidade.
Neste contexto, algumas formas de controle social, resultantes e produtoras da
exploração capitalista, se expressam a partir da apropriação da escola como um espaço de
reprodução da lógica de exploração capitalista, promotora de um processo de
“ensino-aprendizagem”, muitas aspas, orientado à adequação do estudante às expectativas
do mercado de trabalho.
Compreendo que essa orientação deturpa concepções valiosas de educação
quando a concebemos como possibilidade de promoção do pleno desenvolvimento do
sujeito, tendo em vista uma formação humana emancipadora.
É importante desnaturalizar e contextualizar a educação. Da mesma forma que ela
pode ensinar, ela pode deseducar… da mesma forma que ela pode libertar, ela pode
conformar. E, pensando na Escola como a institucionalização da educação oficial, orientada
para a integração dos sujeitos à sociabilidade que o circunda, este é um espaço onde se
disputa que seres humanos estamos formando.
Temos portanto, como síntese dos fatores geradores para este texto, a constatação
de que a Escola, inserida e informada pela ideologia capitalista, é uma instituição de
controle que possui caráter disciplinador e condicionado às relações de exploração
capitalista. Conforme argumenta Carlos Rodrigues Brandão (1980), é necessário diferenciar
a educação da instituição Escola. A educação possui significados amplos,
multidimensionais e inerentes à vida humana - misturamos vida com educação.
Considera-se que em termos gerais a educação pode ser considerada um processo
de endoculturação, no qual durante o processo de desenvolvimento da pessoa ocorre a
inserção dela nas normas, códigos e significações simbólicas de seu grupo social. Quando
este processo é sistematizado e circunscrito em um local específico para ele, com seleção
do quê, como e a partir de quem se aprende, temos o surgimento da “Escola” e a
educação, então, é submetida à sistematização da Pedagogia.
Apesar do teor negativo que esta ideia de escola pode sugerir, o autor defende a
necessidade de disputar a educação justamente porque ela é necessária e constitutiva do
nosso modelo de sociedade. Assim, a escola é um importante campo de resistência e
construção de pontes para um outro tipo de sociedade que dê espaço para a emancipação
humana.
Considerando que é importante desnaturalizar a educação e a escola, é necessário
historicizá-las, tanto quanto o próprio sistema capitalista. Portanto é imprescindível
compreender a conjuntura atual do capitalismo, em que a ideologia neoliberal minou o
pouco que tínhamos de seguridade social garantida pelo Estado.
Sabemos das contradições que a escola apresenta, mas também vimos os
potenciais avanços quando disputamos, e vencemos, um pouco do chão da sala de aula da
e as trocas que lá acontecem. Não são à toa os ataques neoliberais à educação pública.
No bojo do neoliberalismo, a premissa liberal clássica do Estado mínimo dá lugar a
um Estado que serve aos interesses empresariais e aos índices econômicos. O resultado
disso é que, cada vez mais, dados econômicos se sobrepõem às discussões de cunho
social como prerrogativas para decisões de governo.
Nesse sentido, a ideologia gerencialista e racionalista que sustentam o
neoliberalismo penetram nos âmbitos da governabilidade, inclusive nos setores do chamado
bem estar social. No Brasil, os reflexos disso começam a aparecer na educação a partir da
década de 1990 com as reformas educacionais da época (Silva, Maria Abádia, 2003).
Um dos indícios da inflexão neoliberal nas políticas educacionais foi a guinada da
compreensão do educar para a noção da "aprendizagem" em detrimento dos processos de
ensino-aprendizado. Tal visão é consagrada no texto da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, entendida como um marco legal de importância na democratização da educação
pública, mas cujo conteúdo e vocabulário apontam para a adoção de uma percepção liberal
do ensinar e das funções da escola e da docência.
Dessa forma, desde a década de 1990 as reformas educacionais, alinhadas com
princípios e metas estabelecidas por organismos internacionais como UNESCO e Banco
Mundial, vêm direcionando a estruturação da Educação Pública brasileira às lógicas
neoliberais (Silva, Maria Abádia, 2003). Como consequência, as concepções das funções
da escola, da docência e do aprender sofrem inflexões, aprofundando o caráter
mercadológico da educação.
Considero que, uma vez que o neoliberalismo é uma forma ideológica do capital, e
não somente uma doutrina econômica, tais inflexões promovem o enfraquecimento da
educação como bem público e direito a ser assegurado pelo Estado. O resultado é o
esvaziamento da Educação Pública de sua função de desenvolvimento pleno do ser
humano e de formação para a cidadania, como estabelece nossa Constituição Federal de
1988 (CF/1988).
O avanço neoliberal comprometeu os tímidos avanços que conquistamos a partir da
resistência histórica de diversos setores marginalizados e oprimidos e das mobilizações
políticas e sociais que pautaram, no ensejo da redemocratização pós Ditadura Militar, a
responsabilidade do Estado perante a realidade concreta de vulnerabilidade e miséria que
esse sistema produz.
A questão que se coloca a partir do exposto é que tipo de Psicologia queremos
promover na Educação, em especial pública, quando adentramos este campo. Que tipo de
desenvolvimento humano se produz no contexto histórico e social que estamos inseridos e,
mais especificamente, nos contextos escolares?
Vimos que a aproximação da Psicologia com as políticas públicas deu um primeiro
passo com a redemocratização e a promulgação da Constituição Federal de 1988. A
concretização deste redesenho das políticas públicas se deu no decorrer da década de
1990, principalmente na área da Saúde e da Educação. Portanto, infelizmente, já
comprometido com a racionalidade neoliberal.
Válido dizer que a inserção da Psicologia nestes campos não foi imediata nem sem
percalços que ainda hoje devem ser enfrentados. Por exemplo, é preciso o reconhecimento,
por parte da própria categoria, da necessidade de inflexões teóricas, epistemológicas e
instrumentais na ciência psicológica para compreender e atender efetivamente os contextos
e populações visados, como a escola.
As professoras Ingrid Lilian Fuhr Raad e Penélope Ximenes (2013) tratam das
relações históricas, e epistemológicas, entre a Psicologia e a Educação, a começar pelas
raízes modernas de ambas.
A filiação acrítica de uma Psicologia Escola aos paradigmas positivistas e
funcionalistas do liberalismo econômico - e atualmente, de valores neoliberais - faz com que
nossa ciência e profissão contribua para processos de medicamentalização da
aprendizagem, de endosso de relações de exploração e opressão e, no contexto do
esvaziamento da escola pública, para um processo não emancipatório de desenvolvimento
e aprendizagem (Raad, Ximenes, 2013). .
Vale retomar os três primeiros princípios do Código de Ética Profissional da(o)
Psicóloga(o) (Resolução CFP nº 10/2005), que determinam que a(o) psicóloga(o) deve
basear seu trabalho no respeito e promoção dos Direitos Humanos; contribuir para a
eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão e atuará com responsabilidade social, analisando crítica e
historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
Relevante ressaltar a aprovação da Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019, que
estabelece a atuação de serviços de Psicologia e Assistência Social nas Escolas Públicas,
somando-se à conjuntura aqui pincelada, convidando a Psicologia a uma maior
compreensão concreta da realidade educacional do Brasil e suas implicações nos
processos de ensino-aprendizagem e para quem compõe a comunidade escolar.
Referências Bibliográficas

Brandão, Carlos Rodrigues. O que é educação. Brasiliense, 2017.

Silva, Maria Abádia da. "Do projeto político do Banco Mundial ao projeto
político-pedagógico da escola pública brasileira." Cadernos Cedes 23 (2003):
283-301.

Tunes, Elizabeth. "O fio tenso que une a Psicologia à Educação." (2013).
do Psicólogo, Código de Ética Profissional. "Conselho Federal de Psicologia."
Brasília, agosto de (2005).

do Psicólogo, Código de Ética Profissional. "Conselho Federal de Psicologia."


Brasília, agosto de (2005).

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