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ATIVIDADE - POLÍTICA EDUCACIONAL

Larissa de Mello Giancursi Schwarz


2021.1.19.014

Quando falamos sobre política, é necessário entendê-la enquanto processo contínuo e


plural. Isso porque as produções e demandas dessa área se formam a partir das necessidades
da sociedade, considerando diversos fatores em suas execuções.
Levando em consideração que as sociedades mudam constantemente, é lógico que
suas necessidades e valores mudam com ela. Com isso, surgem também novos desafios e
problemas, sejam eles tecnológicos, econômicos, ambientais, sociais. Assim sendo, é
necessário que a política acompanhe essas mudanças, considerando as variáveis para atender
demandas.
Também é preciso considerar que as sociedades, e a política em si, são formadas por
pessoas. Ainda que atuando de forma coletiva, cada indivíduo possui sua cultura, seus
interesses, o que gera conflitos e consensos diversos, que interferem nas mudanças políticas.
É por isso, também, que o envolvimentos de diferentes grupos no âmbito político trazem
novas perspectivas e novas políticas.
Em seu texto sobre a LDB 1996, a autora Iria Brzezinski dá um exemplo claro sobre a
mutação da política. Ela demonstra, através de sua pesquisa, as mudanças ocorridas na
formulação da lei ao longo dos anos, que foram reflexo do interesse de dois grupos
antagônicos: os pró escola pública e os pró educação privada. A partir dessa análise, fica claro
a importância da averiguação e crítica das condições materiais, ideológicas e econômicas que
fundamentam a adoção de políticas públicas, não só no âmbito educacional, mas na sociedade
de modo geral. Apesar da lei em questão pender para a iniciativa privada em alguns
momentos, como no momento em que fala sobre ensino religioso, assegurando princípios que
regem a escola privada, muitos de seus artigos garantem o estudo às classes mais baixas, bem
como garantem a presença de agentes como negros e indígenas no ensino, destacando a luta
pela educação pública de qualidade e a luta pela inclusão de diferentes grupos sociais.
Dessa forma, é inegável a importância de estarmos atentos às bases que constróem um
movimento político, para entender de onde surgem suas motivações, quais seus objetivos
finais, qual seu público alvo e qual instância busca beneficiar.
A autora explica:
A análise que venho empreendendo neste artigo permite-me localizar, de um lado, o
mundo vivido liderado pelos educadores profissionais afiliados à tendência
educacional da Escola Nova ancorada nas matrizes do ideário liberal que defendia o
Estado laico e democrático, visando à reconstituição da Nação Republicana por meio
da educação e pleiteava a instalação da escola básica única e gratuita para todos os
brasileiros. De outro lado, localizo o mundo ‘oficial’ formado pelos intelectuais
católicos, que pretendiam recristianizar a nação, mantendo o ideário da Pedagogia
Tradicional, conservadora, acrítica, como pilar de suas ações discriminadoras e não
emancipatórias, pois a escola básica, segundo esses católicos leigos deveria servir
aos filhos das classes privilegiadas. Ao dar destaque ao anacronismo e ao caráter
excludente da escola ideológica de “fundo conservador” para classes dominantes,
Cury (1994, p. 19) critica a ideologia da Igreja Católica, sólida instituição, que “se
posicionava claramente a favor do ensino acadêmico, classicista e sobretudo
classista” (Brzezinski, 2010, p.189).

A partir desse trecho fica nítida a diferença entre os interesses de cada grupo, que a
autora divide entre mundo vivido e mundo oficial. É interessante, inclusive, observar a
maneira como ela se posiciona, identificando de forma incisiva os ideais de cada vertente e a
crítica à entendida como “oficial”, que é definida dessa forma por carregar uma
academicidade e uma distância do dia a dia educacional e do aluno.
Quando analisamos as propostas de reforma na educação que navegam entre as
perspectivas neoliberais e democratizantes, podemos observar como as contradições se
misturam. Enquanto o foco da política neoliberal é o mercado, num objetivo de melhorar a
qualidade de ensino, mas acentuando a desigualdade social, a política democratizante busca
garantir uma educação pública como direito, que respeite as inclusões e a equidade, mas
encontrando obstáculos em relação a escassez de recursos.
Sendo políticas que trabalham por vias opostas, colocá-las em constante embate acaba
sendo ineficiente, gerando um movimento de constantes progressos e retrocessos. Dessa
forma, é possível considerar a ideia de reformas moderadas trazida por Hobsbawm. Em uma
sociedade marcada por tantas vertentes políticas, seria mais eficaz buscarmos uma política
que foque em atender demandas e equilibrar contradições, trazendo melhorias no sistema
educacional que garantam igualdade e qualidade? Em um mundo utópico talvez, mas
considerando os moldes capitalistas do sistema em que vivemos hoje, acredito ser um
posicionamento ingênuo a busca por um equilíbrio entre mercado e direitos sociais.
Percebemos, então, a trajetória tumultuada e os embates persistentes entre visões
antagônicas na educação e na política, que ressaltam um desafio inerente à busca por
reformas equilibradas e eficazes. Diante desse cenário, a reflexão sobre as bases estruturais
que sustentam os sistemas políticos e educacionais torna-se crucial para compreender não
apenas as motivações por trás das políticas, mas também os reais impactos e alcances de tais
medidas na sociedade. O caminho para um sistema educacional mais equitativo e eficiente
demanda não apenas reformas, mas uma revisão crítica dos pilares fundamentais que regem as
políticas, a fim de alcançar um equilíbrio verdadeiro entre os objetivos de mercado e as
demandas sociais.

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