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RESUMO DA AULA DE 11 DE OUTUBRO DE 2022.

Marcia Reis

Vimos na aula anterior que as parcerias estabelecidas entre Brasil e os Estados


Unidos no âmbito da educação, não só abarcaram todos os segmentos de ensino, mas
também os cursos de formação de professores e quase definiram de forma bem
imperialista os rumos da Educação no país, especialmente no ensino superior.
A educação era vista como um grande negócio e privilegiava a educação
privada, pois, dentre outras iniciativas, favorecia parcerias com empresas dos próprios
conselheiros. Também se apresenta condições fomentadas pelo Estado para
universidades particulares como Gama Filho e Veiga de Almeida surjam e cresçam.
Dentro dessa perspectiva mercadológica, duas políticas se destacam: a de contenção e
liberação. As políticas de contenção buscaram conter as demandas principalmente no
ensino médio e superior, como a reforma de sistema de créditos, licenciaturas curtas e
uma disciplina sendo oferecida em cursos diversos, por exemplo. Já as políticas de
liberação objetivavam elevar os níveis de escolaridade, mas na verdade, o que
ofereciam era algo de baixa qualidade ou desqualificada para o mercado de trabalho.
Nesse contexto, a teoria do capital humano ganha contorno especial, pois se a
educação é um valor econômico, para o capitalismo não basta formar, mas
desqualificar a formação desses sujeitos. No entanto, a educação escolar não tem
necessariamente vínculo direto com a produção capitalista; i.e, a escola não é
necessariamente aparelho reprodutor, mas pode ser espaço produtor de
pensaressaberesfazeres contra hegemônicos.
As pedagogias críticas, então, de alguma forma, buscam orientam as práticas
educativas nesse sentido, como veremos a seguir.
Os anos 80, a partir do fracasso do programa das Nações Unidas para os países
mais pobres do globo, ficaram caracterizados como a década perdida. No entanto, a
análise histórica do campo da educação mostra um panorama de efervescência com a
criação de inúmeras associações importantes – ANDES, ANPED, CEDES – e sindicatos,
que geraram forte movimento de organização profissional marcados por problemas,
contradições e ambiguidades, como nos diz Saviani (2019, p.473).
Tais esforços para se organizarem tiveram dois principais objetivos: um social e
político de luta por escola pública de qualidade para todos e voltada para as
necessidades da maioria (classe trabalhadora), protagonizado pelas entidades
acadêmicas-científicas e outra de caráter econômico-corporativo que era
reivindicatório, representadas pelas entidades sindicais dos estados e articuladas
nacionalmente pela CNTE e ANDES.
Os resultados das inúmeras mobilizações variaram no campo educacional. Na
esfera federal, não se avançou muito além das proclamações que não chegaram a ser
implementadas. Nos estados, tivemos governos se opondo ao regime militar em favor
de políticas públicas educacionais de interesse popular (c.f. SAVIANI, 2019, p.475).

Circulação das ideias pedagógicas


Os anos 80 ficou marcado também pela ampliação das produções científico-
acadêmicas divulgadas por revistas e editoras especializadas que fez com que a área
de educação atingisse reconhecimento e respeito da comunidade cientifica.
Duas revistas especializadas se destacaram: a ANDES, que buscava o desenvolvimento
da hoje educação básica ao articular a teoria produzida nas academias com o trabalho
pedagógico nas escolas e a Educação & Sociedade, que discutia e difundia diversos
temas educacionais com foco nos professores universitários e alunos de pós-
graduação.

As pedagogias contra hegemônicas

Dentro desse contexto de incremento da circulação de ideias e de abertura


democrática, no entanto, o caráter da transição do governo militar para o democrático
e a heterogeneidade dos participantes e das propostas impuseram algumas limitações,
visto que tanto o grupo dominante, quanto o grupo dominado interpretam a transição
de forma a ocultar as diferenças sociológicas e os antagonismos entre as classes, o que
permite que as elites obtenham o consentimento para realizar uma transição
conservadora que garanta a continuidade da ordem econômica.
Nessas circunstâncias, as ideais pedagógicas contra hegemônicas podem ser divididas
em dois modelos: uma centrada no saber do povo e na autonomia das organizações,
inspirada em Freire, e outra centrada na educação escolar e no conhecimento
sistematizado, inspirada no marxismo.
a) Pedagogias da educação popular

Inspiradas na concepção libertadora, advogavam a organização, no seio dos


movimentos populares, de uma educação do povo e pelo povo, para o povo
e com o povo em contraposição àquela dominante caracterizada como da
elite e pela elite, para o povo, mas contra o povo. Manejavam, portanto, a
categoria “povo” em lugar de “classe” e tendiam a conceber a autonomia
popular de uma forma um tanto metafisica, cuja validade não dependeria
de condições histórico-políticas determinadas, mas seria decorrente, por
assim dizer, de uma virtude intrínseca aos homens do povo.

b) Pedagogias da prática
De inspiração libertária e em consonância com os princípios anarquistas, o
saber da prática social é o que deve ser valorizado e ser matéria de ensino,
fazendo emergir toda a sua carga política. Entende-se que o ato pedagógico
é político.
c) Pedagogia crítico-social dos conteúdos
Afirma a primazia dos conteúdos como critério para diferenciar as
pedagogias. Mas tarde, esse critério se expande para uma análise do papel
da escola, conteúdos de ensino, métodos de ensino, relacionamento
professor-aluno, pressupostos de aprendizagem e manifestações na prática
escolar.
d) Pedagogia histórico-crítica
A pedagogia histórico-crítica tem fortes afinidades com a psicologia
histórico-cultural desenvolvida pela Escola de Vygotsky. A educação é
entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada
individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens. A educação é entendida como mediação. A
prática social põe-se, portanto, como o ponto de partida e o ponto de
chegada da prática educativa.
Observaremos, a seguir, que as últimas décadas do século XX e o início do século XXI
foram marcadas por mudanças econômicas, socioculturais, eticopoliticas, ideológicas e
teóricas advindas da crise do sistema capital, éticopolitica e teórica.
A crise mais profunda foi a da forma capital, onde após expansão e ganhos reais da
classe trabalhadora, o sistema entra em crise com suas taxas históricas de lucro e
exploração que impulsiona a acumulação via especulação do capital financeiro entre
grandes grupos transnacionais., que concentram tecnologia, riqueza e ciência de forma
sem precedente (sociedade 20/80).
No plano ideológico e supra estrutural destacam-se as noções criadas de globalização,
Estado mínimo, reengenharia, reestruturação produtiva, sociedade pós-industrial, pós-
classicista, do conhecimento, qualidade total, empregabilidade etc para justificar
reformas no aparelho do Estado e nas relações capital/trabalho, que são inversas as
políticas de bem-estar social ou o fim da capacidade civilizatória do capital, cujos
protagonistas são FMI, BIRD, PNUD, OMC. Tal situação representou uma crise
profunda do pensamento comprometido com mudanças sociais.

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