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Discente: Ana Clara Rodrigues Duarte Matrícula: 2021.1.9.001
A política é um campo complexo, permeado por disputas e conflitos entre grupos que defendem propostas e projetos de sociedade distintos - e, em alguns casos, opostos -, e representam ideologias que personificam sua visão de mundo. Os embates inerentes ao campo da política simbolizam as contradições presentes na vida material da população de uma sociedade, por exemplo. Nesse cenário permeado por embates, torna-se essencial compreender a política como algo que está em constante produção, sendo formulada a partir dos projetos de diferentes grupos, movimentos e representantes das diversas áreas da sociedade. Partindo dessa concepção, observar as ações políticas no campo educacional dentro desse espectro torna-se fundamental para compreender como essa área é central para justificar projetos de sociedade. Sendo a esfera da educação uma área de disputas para formulações de legislações e projetos que visem a naturalização e concretização de um modelo de sociedade específico. Tal afirmação, é evidente no artigo “Tramitação e desdobramentos da LDB/1996: embates entre projetos antagônicos de sociedade e de educação”, de Iria Brzezinski. No qual ela expõe e discute o cenário conflituoso que se deu para a formulação da LDB, destacando os embates entre o mundo real, dos educadores, e o oficial, o mundo dos sistemas educativos. É nesse sentido que a autora destaca a necessidade de averiguar, de forma crítica, as condições materiais, ideológicas e econômicas que fundamentam a adoção de políticas públicas. É importante enfatizar que as políticas formuladas são produzidas a partir de percepções de mundo, de ideologias, o que demonstra que elas simbolizam interesses de determinados grupos políticos. Ao analisarmos uma política pública devemos nos atentar para o contexto no qual ela foi formulada: os recursos disponíveis para sua formulação, a orientação ideológica dos grupos que reivindicaram-na, as disputas que se formaram ao seu entorno, a disponibilização de recursos financeiros para sua implementação, entre outros fatores. Assim, ter um olhar atento para essas questões, torna-se essencial para fugirmos de uma lógica que compreende tanto o campo da política quanto o da política educacional como um espaço isento de ideologia, disputas e movimentos de reivindicação de projetos. Essa complexa e fervorosa disputa evidencia-se no texto de Iria Brzezinski quando ela discute o embate entre os grupos pró-escola pública e pró-investimento público no setor da educação privada. Ao discutir sobre os embates do público versus privado, a autora analisa como na década de 1930, deu-se esse embate entre o mundo vivido e o mundo oficial. Conforme explica Brzezinski (2010, p. 189)
A análise que venho empreendendo neste artigo permite-me localizar, de um lado, o
mundo vivido liderado pelos educadores profissionais afiliados à tendência educacional da Escola Nova ancorada nas matrizes do ideário liberal que defendia o Estado laico e democrático, visando à reconstituição da Nação Republicana por meio da educação e pleiteava a instalação da escola básica única e gratuita para todos os brasileiros. De outro lado, localizo o mundo ‘oficial’ formado pelos intelectuais católicos, que pretendiam recristianizar a nação, mantendo o ideário da Pedagogia Tradicional, conservadora, acrítica, como pilar de suas ações discriminadoras e não emancipatórias, pois a escola básica, segundo esses católicos leigos deveria servir aos filhos das classes privilegiadas.
No trecho acima é perceptível o embate entre projetos educacionais antagônicos.
Enquanto os educadores do movimento escolanovista tinham como objetivo o estabelecimento de uma educação básica e gratuita para todos os brasileiros, os intelectuais católicos, defensores da Pedagogia Tradicional, tinham uma projeto educacional conservador, que tinha como alvo os filhos das classes privilegiadas. Nesse sentido, evidencia-se de um lado um projeto emancipatório e democrático, que compreende que a educação é uma ferramenta que possibilita o fortalecimento da democracia; enquanto do outro permanece uma visão reacionária da função social da educação, que visa manter privilégios e estruturas desiguais. Essa contradição é nítida, também, nas disputas que permearam a tramitação da LDB 1996, em que de um lado havia propostas democratizantes, da escola pública como direito dos cidadãos e dever do Estado e, de outro, reivindicações que favoreciam projetos neoliberais. De acordo com a autora, as escolas básicas católicas e algumas escolas públicas deram lugar às escolas privadas e laicas, que estão inseridas em uma lógica neoliberal, na qual o mercado é o maior regulador. As escolas de educação básica ou às instituições do ensino superior são compreendidas como empresas de ensino, que estão inseridas na lógica do lucro. É nessa lógica neoliberal que se deram as disputas durante a tramitação da LDB/1996, na qual os movimentos sociais da esfera da educação lutaram e se impuseram, buscando o estabelecimento e a defesa de uma escola pública, laica, gratuita e para todos, em todos os níveis de escolarização. Contrapondo-se a ideia de educação como mercadoria, e sim como direito do cidadão e dever do Estado. Diante das disputas e embates narrados por Brzezinski, fica claro que a política educacional não é um território neutro, mas sim um campo de tensões onde se confrontam projetos antagônicos de sociedade e educação. A análise desses embates entre os defensores de uma educação pública, laica e inclusiva e aqueles que propõem uma visão mais conservadora e privatista revela não apenas a complexidade dessas discussões, mas também a representatividade de interesses diversos. Ao compreender as origens desses embates e as ideologias em jogo, torna-se evidente a importância de considerar as condições materiais, ideológicas e econômicas que fundamentam a formulação e implementação de políticas públicas educacionais. É a partir desse olhar crítico que se pode vislumbrar não apenas os embates do passado, mas também as potenciais direções que a política educacional pode tomar no futuro, reforçando a necessidade de uma escola pública, laica e acessível para todos, em oposição à mercantilização do ensino e em defesa do direito à educação como pilar fundamental de uma sociedade democrática e igualitária.