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PSICOLOGIA INSTITUCIONAL

PSICOLOGIA INSTITUCIONAL, ESCOLA E


CIDADANIA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Compreender as principais discussões contemporâneas relacionadas à área temática das instituições nela

inserida, o estudo sobre escola e cidadania.

De forma geral, uma sociedade costuma reproduzir alguns mitos sobre o significado da instituição escolar.

Igualdade social, oportunidades para todos, neutralidade e cientificidade, estão entre estes mitos que colocam a

Escola à parte da luta de classes. Coimbra, educadora e psicóloga, mostra que o objetivo, nesta situação, é

político-ideológico.

Um dos motivadores desta situação, segundo ela, refer-se à vários, tais como, ênfase na relação professor /

aluno, melhoria dos currículos, modernização das técnicas e métodos de ensino que, desvinculados do contexto

histórico, social, político e econômico reforça o ponto de vista predominante, como se a formação social não

fosse necessária.

Para uma visão integral da Escola, enquanto instituição, para a autora cabem algumas perguntas:

Estamos sendo formados para servir a quem?

Para propiciar e desenvolver o quê? Para reforçar o poder de quem?

Somos levados a refletir criticamente sobre o mundo que nos cerca?

Sobre como nos inserimos neste mundo e como poderíamos dele participar de forma mais ativa e

transformadora?

Para responder às levantadas questões, uma autora apresenta um histórico da Instituição Escolar. Aponta que

nas formações sociais mais antigas todos os adultos ensinavam:

"Aprendia-se fazendo, o que tornava inseparáveis ​o sabre, a vida e o trabalho" (COIMBRA, 1989, p.15).

O marco para o início da instituição Escola foi a Idade Média, especialmente na Europa, onde religiosos se

responsabilizavam pelo ensino reservado às elites, crianças ou adultos. Nesta época, a ênfase não era aplicada à

disciplina.

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No século XVII, surge uma escola como instituição, de modo semelhante ao contemporâneo.
Este surgimento é concomitante à Revolução Industrial, (por volta de 1750). A necessidade
principal foi a formação de um número maior de pessoas que soubessem ler, escrever e contar,
obrigatoriamente a mão de obra das indústrias.

Inspirada em vários autores clássicos tais como Althusser, Bourdieu, Passeron, Baudelot, Establet, Poulantzas,

Coimbra, com a burguesia no poder find-se, também, a necessidade no âmbito atitudinal. A massa trabalhadora

existente nos grandes centros urbanos teria que ser socializada e educada de acordo com os parâmetros

burgueses. Supunha-se, nesta época, que seria seriamente formar "bons" cidadãos e trabalhadores disciplinados.

A ideia predominante aqui é o surgimento da Escola com a função de inculcar os valores, hábitos e normas da

ideologia burguesa e, com isso, mostrar a cada “educando” o lugar que deve ocupar na sociedade, segundo sua

origem de classe.

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Essa ideia fundamenta a visão “Escola como Aparelho Ideológico de Estado”. Na sequência, é
possível concordar com a autora quando reforça que a família e os meios de comunicação,
também, são elementos reforçadores da visão mencionada.

Sobre a influência das instituições na subjetividade humana, Martin-Baró (1998), reconhecido por seu

comprometimento com as maioresias populares, à quebra do fatalismo e à desideologização para a liberdade das

massas, três conjuntos grandes categorias que se destacam relacionadas entre si:

1) como condições materiais da existência,

2) uma estrutura social e

3) um trama ideológica.

Estas três categorias se entrelaçam num determinado regime político que, para Martín-Baró, compreende uma

ideologia, consta num sistema, que organiza e regula como formas de vida, de um conglomerado social em um

determinado tempo e circunstância. Neste sentido, o regime político se forma a partir de três componentes

essenciais:

1) uma ideologia,

2) a organização / regulação e

3) a historicidade.

O argumento principal que amplia a visão de Coimbra refere-se a outro estudo de Martín-Baró (1983) em que

ele aponta que as pessoas incorporam psiquicamente a ideologia social, em forma de atitudes, como um conjunto

psicológico de crenças sobre o mundo, nas quais três instituições funcionam como catalisadores:

1) uma família,

2) a escola e

3) uma moral.

Estes elementos contribuem para formar o autor denomina de "mentalidade fatalista".

A família, do tradicional corte patriarcal, expresso, através de suas atitudes, padrões dinâmicos e dicotômicos

que transcendem sua realidade enquanto possui. Neste espectro, a figura do pai é habitualmente machista,

autoritária e psicologicamente ausente do lar e dos trabalhos domésticos, enquanto a mãe mantém uma postura

feminina, dadivosa e presente no lar e tarefas domésticas.

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Estes traços geram uma visão do mundo fatalista, determinista e a-histórica. A moral, segundo
este pensador, é composta pelas normas que determinam as atitudes (pensamento, sentimento
e julgamento).

Se, de um lado, estas três instituições têm importância na determinação da mentalidade fatalista, por outra,

aponta Martín-Baró, que a ruptura desta mentalidade fatalista se dá através da consciência histórica,

desideologização e manutenção de uma atitude altruísta.

Para Coimbra, este histórico leva à identificação de alguns mitos questionáveis.

a Escola surge para fortalecer e garantir o poder de uma classe social que é dominante numa determinada

formação social;

a Escola não é neutra, na medida em que tem por modificados os valores, hábitos e costumes de uma

determinada classe social. Essa visão hierárquica vertical define disciplina como o conjunto de punições e

castigos;

a Escola não assume responsabilidade pelos fracassos escolares. O grande número de repetências e evasões

passa a ser explicado como responsabilidade dos alunos e suas famílias. Essas práticas, que excluem os alunos

segundo sua classe social, estão concretizadas nos currículos, nos conteúdos, nos métodos de avaliação, nos

testes psicológicos.

Se educadores acreditarem esses mitos, eles próprios acatam a neutralidade como natural e, segundo Coimbra,

fica reforçada a ideia de que educadores se configuram como instrumentos importantes na transmissão da

ideologia dominante. E assim, a Escola cotidianamente coloca em funcionamento a ideologia dominante,

utilizando o aval técnico e científico da Educação.

Para a autora, entretanto, há “luz no fim do túnel” porque “apesar de a Escola ser uma instituição fortemente

articulada com o Estado” (COIMBRA, 1986, p. 16), há espaços possíveis para a atuação contra ideológica com

base na pedagogia da emancipação. E, nessa atuação, é possível fazer mais do que denunciar as funções da

instituição escolar.

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As concepções influenciadas pelas ideias de Gramsci apontam para uma concepção
caracterizada pela pluralidade ideológica, em que o conjunto de instituições (Igreja, partidos
políticos, meios de comunicação, sindicatos, entidades etc.) e a Escola influenciam de forma
efetiva a construção da Sociedade Civil.

Sendo assim, na concepção da autora, se a Escola é uma instituição fundamental para a formação da cidadania, é

preciso que esta tenha um papel fundamental no desenvolvimento do processo social mais amplo com ideias

transformadoras.

E isso é possível através da ação organizada de setores sociais que atuem dentro dessas instituições.

Um dos objetivos da escola é a formação do comportamento crítico e, para isso, é essencial para o

desenvolvimento das competências lógica, linguística e moral.

Neste sentido, o planejamento (currículos e programas escolares) da Escola deve estar de acordo com as

características e necessidade da população atendida.

Outro ponto de ressaltar nesta discussão sobre o papel da Escola na formação da cidadania é a necessidade de se

assegurar a permanência das crianças durante os anos básicos escolares.

Para isso, há, atualmente, indicadores para avaliação da educação básica no Brasil, como o Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica - Ideb, criado em 2007. Ele sintetiza dois conceitos para a qualidade da

educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O indicador,

que avalia em uma escala de zero a dez, é completa a partir dos dados aprovação escolar, obtida no Censo

Escolar, e médias de desempenho nas propostas propostas pelo MEC.

Com base problemas dados concretos, é possível verificar que o enfrentamento dos fatores extraescolares

depende da superação dos principais socioeconômicos que afetam a população.

Setores organizados têm possibilitado a organização dos setores sociais para permitir o atendimento dos

interesses da maioria da população, principalmente como parcelas historicamente marginalizadas.

Assim, a questão inicial em discussão nesta aula é respondida com uma conclusão de que a escolarização tem um

papel decisivo no processo de formação da cidadania.

E para dar continuidade à evolução, é preciso aprofundar os estudos em relação ao fracasso escolar incluindo,

sobretudo, uma explicação dentro da própria Escola, às condições de oferta do ensino básico, ao contexto social

concreto e não somente responsabilizar as dificuldades do aluno e da família.

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O que vem na próxima aula
• A forma e a intensidade das relações entre escolas e famílias variam e estão relacionadas aos mais
diversos fatores, tais como estrutura e tradição de escolarização das famílias, classe social, meio urbano
ou rural, número de filhos, ocupação dos pais, etc;
• o que os professores e os gestores das unidades escolares pensam sobre a participação dos pais na
escola;
• o enfoque dos escolanovistas mineiros sobre a questão da relação entre escola e família.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Percorreu as seguintes questões: A escola é uma Instituição fundamental para a formação da cidadania?
Qual o papel da Escola no desenvolvimento da sociedade brasileira? Estão os profissionais da área
preparados e conscientes para participar do processo político que visa transformar a realidade de nossa
Escola pública? É viável a visão idealista-liberal, para explicar a Escola como instrumento de
democratização?
• Compreendeu a discussão sobre as concepções crítico-reprodutivistas que interpretam a Escola como
aparelho ideológico do Estado, através do qual os setores dominantes tentam exercer seu poder
hegemônico.

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