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Poder constituinte é aquele que cria a Constituição,

Justiça e Sociedade: Impactos Humanos enquanto os poderes constituídos são os


, estabelecidos por ela, ou seja, aqueles que resultam
de sua criação. As questões primordiais são:
titularidade, legitimidade, seus limites e sua natureza.
INTRODUÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO

A titularidade do poder constituinte, que é a


Os temas Poder Constituinte, o debate Kelsen-
capacidade de fazer e determinar que se observe
Schmitt e o do judicial review estão ineridos no
uma Constituição, precisa ser legitimada para que
módulo “constitucionalismo” e serão estudados para
tenha tal poder de fato. A discussão sobre a
que possamos compreender melhor as bases
titularidade e legitimidade está em definir quem
políticas do surgimento da supremacia constitucional
detém soberania. Historicamente, diversos
e as críticas que vêm sendo feitas à chamada
“soberanos” foram os detentores desse poder
“expansão do judiciário”.
(monarca, ditadores, nação, povo etc.)

Quando o povo é o titular do poder constituinte, seu


exercício é considerado democrático.

Muitas vezes, a Constituição é criada por ditadores


ou grupos que conquistam o poder por meio da
força. Mas, historicamente, a teoria de que o poder
constituinte é titularizado pelo povo tornou-se
vitoriosa — a chamada soberania popular. Assim, a
Constituição é o resultado do exercício dessa
soberania e considerada, portanto, a lei suprema; e
A reunião dos Estados Gerais em 5 de maio de 1789
os poderes do Estado são os denominados poderes
na Salle des Menus Plaisirs no Palácio de Versalhes. constituídos, fazendo com que a soberania popular
Pintura de Isidore-Stanislaus Helman e Charles se converta em supremacia da Constituição.
Monnet, Biblioteca Nacional da França.

É função do constitucionalismo traçar os princípios


ideológicos que serão a base de toda a organização
interna da Constituição de um Estado; e o estudo
dos temas propostos será de fundamental
importância para compreender o processo de
publicização do Direito que resultou na atual
centralidade da Constituição.

Além disso, você verá que o debate Kelsen-Schmitt,


tem se mostrado fundamental na atualidade porque
recoloca, como questão central da teoria e da prática
constitucional, a relação entre direito e política, entre
direito e democracia. Da mesma forma, o estudo do Com relação à natureza, existe diferença entre as
chamado judicial review, cujas origens remontam ao perspectivas jusnaturalistas e as do positivismo
célebre caso Marbury vs Madison, será muito jurídico. Para a primeira, a natureza do poder
importante para discutir separação de poderes, constituinte é de um poder de direito fundado em um
representatividade, o papel do STF e diferenciar direito natural, não no ordenamento vigente, e teve
judicialização da política de ativismo judicial. origem junto à teoria desenvolvida pelo abade de
Sieyés. Para o positivismo jurídico, não se reconhece
um direito preexistente ao Estado, sendo o poder
PODER CONSTITUINTE constituinte um fato pré-jurídico, externo ao Direito.

A Teoria do Poder Constituinte surge mais O poder constituinte pode ser de dois
recentemente, no século XVIII, com a publicação do tipos: originário ou derivado.
livro do abade de Sieyès: O que é o Terceiro
Estado?, publicado às vésperas da Revolução
Poder constituinte originário é o poder de criar uma
Francesa, no qual Sieyès abordou tese inovadora
nova Constituição. Apresenta seis características
que rompia com a legitimação divina e incontestável
que o distinguem do derivado:
do poder.
Clique nas informações a seguir. Vamos abordar agora uma segunda forma de Poder
Constituinte: o Derivado.
Político : É um poder de fato (e não um poder de
direito) para a doutrina dominante (paradigma
O Poder Constituinte Derivado é o poder de
do positivismo jurídico). Ele é, portanto,
modificar a Constituição Federal bem como de
anterior ao direito e cria o ordenamento jurídico elaborar as Constituições Estaduais, estando
de um Estado. previsto na própria Constituição. Tem como
características ser:
Inicial: Dá início a uma nova ordem jurídica,
rompendo com a anterior. A manifestação do
Poder Constituinte tem o efeito de criar um Clique nas informações a seguir.
Estado. Jurídico: É regulado pela Constituição, estando,
Incondicionado: Não se sujeita a qualquer forma portanto, previsto no ordenamento jurídico
ou procedimento predeterminado para sua vigente.
manifestação. Derivado: É fruto do poder constituinte
Permanente: Pode se manifestar a qualquer originário.
tempo. Ele não se esgota com a elaboração de Limitado ou subordinado: A forma de seu exercício
uma nova Constituição. é determinada pela Constituição. Assim, a
Ilimitado juridicamente: Não se submete a limites aprovação de emendas constitucionais, por
determinados pelo direito anterior. Pode mudar exemplo, deve obedecer ao procedimento
completamente a estrutura do Estado ou os estabelecido no artigo 60 da Constituição
direitos dos cidadãos, por exemplo, sem ter sua Federal (CF/88).
validade contestada com base no ordenamento
jurídico anterior. Por esse motivo, o STF Condicionado: A forma de seu exercício é
entende que não há possibilidade de se invocar determinada pela Constituição. Assim, a
direito adquirido contra normas constitucionais aprovação de emendas constitucionais, por
originárias. A doutrina se divide quanto a essa exemplo, deve obedecer ao procedimento
característica do Poder Constituinte. estabelecido no artigo 60 da Constituição
Federal (CF/88).
Os positivistas entendem que, de fato, o poder O Poder Constituinte Derivado subdivide-se em dois
constituinte originário é ilimitado juridicamente; e ambos devem respeitar as limitações e condições
já os jusnaturalistas dizem que ele encontra impostas pela Constituição Federal. Veja quais são:
limites no direito natural, ou seja, em valores
suprapositivos.
Poder Constituinte Reformador
Consiste no poder de modificar a Constituição.
No Brasil, a doutrina majoritária adota a Poder Constituinte Decorrente
corrente positivista, reconhecendo que o poder É aquele que a CF/88 confere aos estados de se
constituinte originário é ilimitado juridicamente. organizarem, por meio da elaboração de suas
Embora os positivistas defendam que o Poder próprias constituições.
Constituinte Originário é ilimitado, é importante
que todos reconheçamos, como afirma
Canotilho (2003), que ele deverá obedecer a GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO: DEBATE
“padrões e modelos de conduta espirituais, ENTRE HANS KELSEN E CARL SCHMITT
culturais, éticos e sociais radicados na
consciência jurídica geral da comunidade”, ou
seja, a observância de critérios de justiça, bem
como os direitos humanos deve pautar a
elaboração de uma nova Constituição.

Autônomo: Tem liberdade para definir o


conteúdo da nova Constituição. Muitos autores
tratam essa característica como sinônimo de
ilimitado. Capa do
livro Quem deve ser o guardião da Constituição?,
Hans Kelsen, Editora Mandamentos, 2008.

Capa do livro O Guardião Da


Constituição, Carl Schmitt, Editora Del Rey, 2007.

O debate constitucional mantido entre Carl Schmitt


(1888-1985) e Hans Kelsen (1881-1973) sobre o
guardião da Constituição é de extrema atualidade, Schmitt entendia que o perfil do guardião da
uma vez que confronta direito e política a partir das Constituição estava em uma zona limítrofe entre a
diferenças de visão da teoria jurídica de cada um política (fenômeno pré-jurídico) e o direito
deles. propriamente dito (direito posto). Kelsen, de modo
diverso, mostra-se favorável à instauração de um
Schmitt publicou, em 1931, a obra O guardião da tribunal exclusivo para cuidar da guarda
Constituição em que formula uma crítica ao Estado constitucional visto que, na visão de Kelsen,
Constitucional e no qual busca resgatar a categoria transformar o chefe do Poder Executivo no único
do político em detrimento da concepção que defensor da Constituição implicaria uma violação à
subordina o Estado ao direito. Logo na sequência da Constituição de Weimar, pois ignora a possibilidade
publicação de seu livro, Schmitt obteve a reposta de de violação da Constituição por parte do chefe de
Kelsen, em seu texto intitulado Quem deve ser o Estado ou de governo.
guardião da Constituição?, publicado por Kelsen
também em 1931 na revista berlinense Die Justiz. O debate entre Schmitt e Kelsen propõe a retomada
Trabalharemos em torno deste debate e de sua de uma série de questões sobre uma disputa de
atualidade. fundo que tem adquirido mais atualidade nas
democracias em processo de consolidação; qual
Saiba mais seja, a discussão sobre o papel do Poder
O debate travado entre Kelsen e Schmitt do início de Judiciário e, em especial, no que tange ao controle
século XX foi reacendido no Brasil quando da de constitucionalidade. A disputa entre a órbita
Proposta de Emenda Constitucional n. 33 (PEC política e a esfera jurídica tem apresentado
33/2011), que visava modificar a sistemática de progressiva radicalização no mundo.
controle de constitucionalidade ao propor que as
decisões do STF fossem submetidas ao controle do CASO MARBURY VS. MADISON
Parlamento (Congresso Nacional). As discussões em
torno desta proposta recolocaram, no centro do
debate, a relação entre direito e política ou entre
constitucionalismo e democracia.

Igualmente, no debate Kelsen-Schmitt, que ofereceu


a possibilidade de se estabelecer uma reflexão mais
profunda sobre política e direito, a PEC 33 também
permitiu refletir melhor sobre a relação entre os
Poderes Constituídos.

Essa proposta de emenda à Constituição alterava a


quantidade mínima de votos de membros de
tribunais para a declaração de inconstitucionalidade
de leis, submetia o efeito vinculante de súmulas
aprovadas pelo STF à aprovação pelo Poder
Legislativo e submetia ao congresso Nacional a William
decisão sobre a inconstitucionalidade de emendas à Marbury
Constituição.
específicas não satisfeitas pelos responsáveis pela
implementação de políticas públicas. Trata-se do uso
da interpretação constitucional para suprir lacunas
legislativas ou de políticas públicas voltadas para a
sociedade.

O precedente histórico famoso no estudo do judicial


review e do controle de constitucionalidade é o
caso Marbury vs. Madison, do início do século XIX,
mais precisamente 1803. Trata-se de um lugar-
comum, na teoria constitucional, o entendimento de
que esse caso teria fundado a prática do controle
judicial da constitucionalidade das leis.

Mas vamos a um resumo do caso:

A conturbada eleição presidencial de 1800, que


James Madison deixa clara a derrota dos federalistas ao mesmo
O que sobressaiu neste debate foi a precedência, ou tempo em que demoram os resultados da eleição
não, da política (poder) sobre o direito (técnica), bem que acabou sendo decida pela Câmara das
como a determinação da preeminência de um deles Representantes, deixa espaço para que Adams e os
sobre o outro. No caso de Schmitt, teve lugar a perdedores tomassem medidas para garantir
afirmação da política sobre o direito (governo dos influência federalista no Estado, sobretudo através
homens) e, no caso de Kelsen, do direito sobre a da criação de cargos no Judiciário. Os midnight
política (governo das leis). A PEC 33 também judges, como são chamados, são nomeados às
reforçou esse entendimento de que a relação entre pressas, no apagar das luzes do mandato
política e direito segue tensa e como isso se reflete presidencial, no entanto nem todos recebem seu ato
na interação entre os Poderes do Estado e de instituição a tempo, ainda que nomeados alguns
especialmente na interpretação da Constituição.
amanhecem em 4 de março de 1801, dia da posse
do novo presidente, sem sua instituição em mãos. O
JUDICIAL REVIEW novo presidente, Thomas Jefferson, nega a
instituição àqueles que haviam sido nomeados pelo
Judicial review (ou simplesmente controle judicial das seu antecessor, mas não receberam os respectivos
leis) é o controle feito pelo Poder Judiciário de atos documentos. Dentre estes está Marbury que
do Poder Executivo e de leis promulgadas pelo ingressa na Suprema Corte contra o Secretário de
Poder Legislativo. Esse processo Estado republicano Madison, buscando sua
de judicialização da vida política e social é um instituição. Estão postos os fatos e armado o cenário
fenômeno mundial que ganhou força no Brasil da mais importante e famosa decisão da Suprema
especialmente em razão de a Constituição de 1988 Corte Americana.
ser extremamente ampla e tratar de diversos temas,
bem como de um sistema de controle de (STERN, 2016, p. 193)
constitucionalidade abrangente.
O direito de Marbury de tomar posse não foi
garantido pela decisão, mas se afirmou um poder
muito maior à Suprema Corte. Atualmente, não é
novidade encontrarmos decisões das Supremas
Cortes com teor político. Naquele momento, no
entanto, de disputa de poder entre Federalistas e
Republicanos, entre Presidente e Suprema Corte,
afirmar a competência da Suprema Corte para
interpretar a Constituição e para o controle de
constitucionalidade foi realmente um marco!

Este fenômeno não se confunde com ativismo Com o tempo, o Direito constitucional foi ganhando
judicial que, entre nós, é mais recente e se manifesta centralidade, especialmente no Brasil, com a
de maneira pontual para atender a demandas sociais
ascensão do paradigma pós-positivista, o uso dos A Ação que reconheceu que as uniões homoafetivas
princípios não mais apenas como preenchedores de possuem status de união estável (ADI nº 4277).
lacunas, mas como normas (em igualdade de
importância com as regras) de modo que o À falta de regra expressa, nos casos de
pluralismo da vida contemporânea foi demandando ambiguidades na legislação, assim como com as
cada vez mais respostas para os momentos em que transformações sociais, a Corte acaba sendo um
as políticas públicas não conseguiam atuar refúgio contra majoritário para melhor equacionar o
satisfatoriamente. problema.

Mas a expansão da atuação do Poder Judiciário vem Casos difíceis são aqueles em que a solução não é
sendo alvo de muitas críticas e a principal delas é facilmente encontrada nas leis postas e no
a representatividade democrática, porque juízes não ordenamento. Envolvem sempre questões jurídicas,
são eleitos. Barroso (2012) contrapõe a esta crítica a políticas e morais controvertidas e uma atuação
noção de que democracia não se faz apenas por criativa do Tribunal para adaptar o direito à
meio da vontade das maiorias eleitas, mas também complexidade social, sempre pautado pelo princípio
em tudo que visa garantir e preservar os chamados basilar da dignidade humana. Outros exemplos que
“direitos fundamentais” de todos. temos de hard cases na jurisprudência:

Casos considerados difíceis (hard cases) em que o


STF atuou, agindo como verdadeiro substituto do
Legislador, a despeito das discussões em torno de
haver um conflito com o princípio da separação dos
Poderes:

ADI (ação direta de inconstitucionalidade) nº


3510 sobre a constitucionalidade das pesquisas em
células-tronco, julgada em 2008, em que o STF
decidiu que tais pesquisas não violam o direito à
vida, tampouco a dignidade da pessoa humana.

Clique nas setas para ver o conteúdo.

A ação de descumprimento de preceito fundamental


sobre legitimidade da interrupção de gestação de
feto anencéfalo (ADPF nº 54).
ADI (ação direta de inconstitucionalidade) nº
Ilustração de um bebê anencéfalo 3510 sobre a constitucionalidade das pesquisas em
células-tronco, julgada em 2008, em que o STF
decidiu que tais pesquisas não violam o direito à
vida, tampouco a dignidade da pessoa humana.
ADC (ação declaratória de inconstitucionalidade) nº causado pela inércia ou incapacidade reiterada e
12 sobre a constitucionalidade da Resolução nº persistente das autoridades públicas em modificar a
7/2005 do CNJ. Em 2006, o STF decidiu pela conjuntura. Trata-se de medida excepcional, exigindo
constitucionalidade dessa norma, que proíbe a que haja, além da séria e generalizada afronta aos
contratação, para cargos em comissão ou função direitos humanos, também a constatação de que a
gratificada (de livre nomeação e exoneração), de intervenção da Corte é essencial para a solução do
parentes até o terceiro grau de magistrados e de gravíssimo quadro enfrentado. Este ainda não foi
servidores em cargos de chefia e direção em todas decidido.
as esferas da Justiça brasileira (nepotismo).
Existem muitos outros exemplos de casos em que o
Clique nas setas para ver o conteúdo. Supremo foi chamado a resolver uma questão
complexa apresentada pela sociedade e que a
solução teve de ser criativa.

A Carta de Weimar e o constitucionalismo social


A História cria relações muito vívidas e que nos
ajuda a entender os debates conduzidos até aqui. A
professora Bianca Walther recupera um evento vital
da história: a Carta de Weimar e sua relação com o
ADI (ação direta de inconstitucionalidade) nº constitucionalismo.
3510 sobre a constitucionalidade das pesquisas em
células-tronco, julgada em 2008, em que o STF
decidiu que tais pesquisas não violam o direito à VERIFICANDO O APRENDIZADO
vida, tampouco a dignidade da pessoa humana.

ADC (ação declaratória de inconstitucionalidade) nº


12 sobre a constitucionalidade da Resolução nº
7/2005 do CNJ. Em 2006, o STF decidiu pela
constitucionalidade dessa norma, que proíbe a
contratação, para cargos em comissão ou função
gratificada (de livre nomeação e exoneração), de
parentes até o terceiro grau de magistrados e de
servidores em cargos de chefia e direção em todas
as esferas da Justiça brasileira (nepotismo).

ADPF 347/MC (ação de descumprimento de preceito


fundamental): estado de coisas inconstitucional do
sistema carcerário. Tal estado ocorre quando se
verifica a existência de um quadro de violação
generalizada e sistêmica de direitos fundamentais,
1. (MPFDFT-2004 – adaptada). Já que, para Kelsen, Nas palavras de Luís Roberto Barroso (p. 368,
o Direito regula sua própria produção e aplicação, a 2009): “A fase atual é marcada pela passagem da
função normativa da autorização desempenha, Constituição para o centro do debate jurídico, de
particularmente, um importante papel no Direito. onde passa a atuar como o filtro axiológico pelo qual
Apenas pessoas, às quais o ordenamento jurídico se deva ler o direito civil. É nesse contexto que se dá
confere este poder podem produzir ou aplicar a virada axiológica do direito civil, tanto pela vinda de
normas de direito civil para a Constituição, como
normas de Direito. A respeito do conceito, da
sobretudo, pela ida da Constituição para
estrutura e função da Constituição, segundo Hans
interpretação do direito civil, impondo um novo
Kelsen, e de sua configuração na Constituição conjunto de valores e princípios (…)”.
Brasileira de 1988, analise as frases abaixo:

I - A Constituição Brasileira é o fundamento de


validade de toda a ordem jurídica nacional.
II - A Constituição confere unidade ao ordenamento
jurídico, tendo em vista que a ordem jurídica não é
um sistema de normas jurídicas ordenadas no 2. Sobre o caso Marbury vs. Madison (1803),
mesmo plano. assinale a alternativa correta (PGE-PA/2011):
III - A ordem jurídica de 1988 é uma construção
escalonada de diferentes camadas ou de níveis de
normas jurídicas.
IV = A Constituição de 1988 e o novo Código Civil
são o ponto comum ao qual se reconduzem todas as
normas vigentes no âmbito do Estado Brasileiro.
Trata-se de um marco do constitucionalismo
ocidental, porque a Suprema Corte dos Estados
Estão corretas as afirmativas: Unidos proferiu, pela primeira vez, uma decisão que
condenou o então presidente George Washington,
com fundamento na Constituição de 1787.

I e II apenas. Trata-se de um marco do constitucionalismo


ocidental, porque a Suprema Corte criou o modelo
jurisdicional de controle de constitucionalidade
concentrado e abstrato, assim como um Tribunal
I e III apenas. Constitucional, inspirado na Teoria Pura do Direito de
Hans Kelsen, para decidir sobre a validade de atos
emanados pelos Poderes Executivo e Legislativo.

II e III apenas.
Trata-se de um marco do constitucionalismo
ocidental, porque a Suprema Corte criou o modelo
jurisdicional de controle de constitucionalidade difuso
I, II e III apenas. e concreto, assim como um Tribunal Constitucional,
inspirado no pensamento de Hans Kelsen, para
decidir sobre a validade de atos emanados pelos
Poderes Executivo e Legislativo.
II, III e IV apenas.

Comentário
Trata-se de um marco do constitucionalismo
Parabéns! A alternativa "D" está correta. ocidental porque a Suprema Corte assentou que a
imunidade do Executivo não era um valor absoluto e
que, nas circunstâncias, deveria ser ponderada com
a necessidade de produção de prova em um
processo penal em curso. Determinou, assim, que o
presidente John Adams entregasse ao Judiciário A temática dos direitos humanos tem na
documentos que o incriminavam. promulgação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos pela ONU, em 1948, o marco do
constitucionalismo moderno (estudamos
constitucionalismo no nosso primeiro módulo), que
consagra direitos do cidadão, do indivíduo em face
Decidido o mérito, afirmou, em seus dicta, o princípio
do Estado. Sabemos, historicamente, que as
da supremacia da Constituição, assim como a
ameaças aos direitos humanos podem vir do Estado
autoridade do Poder Judiciário para zelar por ela,
e das Leis, bem como da sociedade massificada e
inclusive invalidando os atos emanados dos Poderes
seus conformismos e, também, da sociedade
Executivo e Legislativo que a contrariem.
capitalista e toda a sua rede de desumanização.
Comentário
1
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
Originalmente, os direitos declarados em 1948, em
um contexto de pós-Segunda Guerra Mundial tinham
uma carga mais individualista e exprimia a
desconfiança do cidadão contra o Estado e todas as
O caso Marbury vs. Madison significa falar de um formas de Poder instituído e organizado. Desejava-
marco no Direito constitucional, pois foi com esse se um Estado não intervencionista nas liberdades e
caso, em 1803, nos Estados Unidos, que se instituiu nos direitos dos cidadãos.
o controle difuso de constitucionalidade, ao afirmar
que a Constituição é soberana e que os atos e as
leis que a contrariam são nulos, fazendo com que a
Constituição seja contemplada como lei fundamental Com o tempo, os direitos coletivos e sociais foram
e suprema da nação. Além disso, esse caso que ganhando mais espaço na agenda dos direitos
trouxe a ideia de que o Judiciário possui mais força humanos, buscando-se até mesmo uma atuação
na interpretação da constituição. Mas não podemos positiva do Estado, sobretudo quando se trata de
nos esquecer de que o controle concentrado de minorias e de marginalizados (veremos mais
constitucionalidade tem origem na Áustria e nas detidamente no terceiro módulo do nosso conteúdo,
teorias de Hans Kelsen. quando abordaremos o tema das minorias
vulnerabilizadas).
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
2Existem importantes teóricos dos direitos humanos
Os temas proteção do indivíduo e dignidade humana, que chegam a tratar das chamadas dimensões (ou
soberania popular e grupos de pressão “gerações”, termo este mais antigo) dos Direitos
e advocacy estão inseridos neste módulo e
estudados em conjunto para que possamos melhor Humanos. Sendo a primeira dimensão aquela
compreender esses direitos, sua origem, seus pautada nos valores de liberdade individual e
desdobramentos e relações. Especialmente o tema concentrada nos direitos civis e políticos em face do
dos grupos de pressão e advocacy e suas
Estado. A segunda baseia-se no princípio de
estratégias para a mudança de políticas públicas e
busca de respostas favoráveis do Legislativo, igualdade social, são os chamados direitos
quando o Poder Executivo se mostra inoperante ou econômicos, sociais e culturais.
não acompanha as demandas da complexidade
social. Também a importância da atuação desses A Constituição de Weimar (1919), na Alemanha,
grupos fora desses Poderes será estudada. marca o início da ideia de um Estado Social de
Direito e influenciou, assim como a Constituição do
México (1917), a elaboração da Constituição
brasileira (1934), a primeira a trazer um capítulo
sobre direitos fundamentais sociais.

Na terceira dimensão dos direitos humanos temos o


valor da fraternidade e o Estado já não é mais o
único responsável para levar mais direitos àqueles
vulnerabilizados, mas também os representantes da
sociedade civil, os ditos “grupos de pressão”, as
organizações não governamentais, as chamadas
ações populares e as ações civis públicas. Essas declarações trouxeram a questão da relação
Passemos aos estudos de cada tópico. com o ordenamento jurídico-político interno, pois a
organização do poder, por meio do direito positivo,
impõe que sejam estabelecidos direitos e deveres
precisos. Então, ou os direitos enunciados nas
declarações ficam como meros princípios abstratos e
ideológicos ou são positivados para que possam ser
exigíveis em face do Estado. Mas a primeira e única
Constituição dos Estados Unidos (1787) alterou essa
questão ao positivar alguns dos direitos dos cidadãos
previstos nessas declarações.

Após as barbáries cometidas durante a Segunda


Guerra Mundial, foi fundada a ONU, em 1945, com a
assinatura da Carta das Nações Unidas. Os objetivos
A Constituição de declarados eram restabelecer a paz mundial, a
Weimar em formato de livreto. A constituição em si segurança internacional e a proteção de direitos
exigia que fosse entregue aos estudantes no humanos básicos (todos violados pelo nazismo na
momento de sua formatura. Alemanha).

PROTEÇÃO DO INDIVÍDUO E DIGNIDADE Nesse clima de reconciliação internacional, a ONU


promulga a Declaração Universal dos Direitos
HUMANA: BREVE HISTÓRICO
Humanos, em 1948, sendo um marco para o Direito
Internacional e, também, a primeira vez em que
Historiadores, geralmente, apontam a origem dos direitos humanos são declarados de forma global.
direitos humanos na Declaração dos Direitos do Veremos que esse caráter universal será bastante
Homem e do Cidadão, de 1789, no período de criticado por pensadores como Boaventura de Sousa
eclosão da Revolução Francesa no século XVIII, mas Santos.
a verdade é que há dois antecedentes dessa
declaração, que são: os Bills of Rights das colônias
norte-americanas que se rebelaram em 1776; e o Bill
of Right inglês, de 1689.
Em razão desse caráter universal, os indivíduos
passaram a gozar de direitos e de proteção
internacional pelo simples fato de serem pessoas, de
existirem, independentemente de nacionalidade,
raça, religião, etnia, sexo e língua. O direito a ter
direitos e a ter uma vida digna como pessoa humana
é um grande avanço na história do Direito
internacional e se constitui no núcleo duro da
proteção do indivíduo frente às violações
perpetradas inclusive por seu Estado de origem.

Atenção
O Brasil se rege nas suas relações internacionais por
Do ponto de vista de conceitos não há diferença determinados princípios positivados pela
significativa entre a Declaração Francesa e Constituição de 88 e um deles é o da prevalência
os Bills norte-americanos, uma vez que são produtos dos direitos humanos (art. 4º, II, CR/88).
do clima cultural dominado pelo jusnaturalismo
(paradigma considerando existirem direitos naturais Aqui, no Brasil, os direitos humanos positivados pelo
prévios à formação da sociedade) e pelo ordenamento jurídico interno são
contratualismo (os cidadãos firmam um contrato denominados: direitos fundamentais. Em essência,
social de proteção com o Estado, mas esse deve significam a mesma coisa, só variando a
respeitar o rol de direitos naturais anteriores à nomenclatura de acordo com a localização normativa
sociedade). Já o Bill inglês não reconhece direitos do (se em Declarações e Convenções Internacionais; se
homem, mas alguns direitos tradicionais e na Constituição).
consuetudinários aos nobres em face da monarquia.
O valor inerente a esse conjunto de direitos é Dignidade como valor comunitário, no sentido de ser
o princípio da dignidade humana, que se constitui em um limite ao exercício da autonomia individual. O
princípio jurídico de nível constitucional e encontra- indivíduo vive em sociedade e ela possui valores que
se positivado como fundamento da República implicam responsabilidades e deveres. Esse
Federativa do Brasil (art. 1º, III, CR/88) na elemento social da dignidade visa à proteção dos
Constituição de 1988. direitos de terceiros; à proteção do indivíduo contra si
próprio; e, também, à proteção de valores sociais
(deve haver um consenso social e risco ao direito de
Barroso (2012, p. 44) fez uma
outras pessoas em uma eventual violação).
interessante síntese do conteúdo jurídico da
dignidade humana que é composto basicamente de
três elementos: SOBERANIA POPULAR E DIREITOS HUMANOS

O conceito de soberania está intimamente


relacionado ao conceito de Estado e poder político e
isso desde fins do século XVI. Matteucci (1998, p.
1179) afirma que a “soberania pretende ser a
racionalização jurídica do poder, no sentido da
transformação da força em poder legítimo, do poder
Dignidade como valor inerente a todos os seres de fato em poder de direito”. Com a formação dos
humanos, como vida, igualdade, integridade física, grandes Estados, fundados na unificação e
moral e psíquica. Este é o núcleo da proteção concentração de poder, a soberania é exercida por
individual, juntamente às autonomias privadas e um único soberano, que centraliza o poder de vida e
públicas abaixo. morte sobre seus súditos (aqueles sob seu domínio).

Dignidade como autonomia de cada indivíduo de


como conduzir a sua vida da melhor forma. Aqui
estão as liberdades (de consciência, de crença, de O poder legitimava-se pela força bruta, com o tempo,
expressão, de trabalho, de associação e outros além da força bruta, o poder passou a contar com
direitos individuais). Também estão aqui os direitos um caráter divino de justificação. Então, a soberania
de participação na condução da coisa pública do monarca com base na força e em um poder
(direitos políticos). A autonomia privada e a pública divino, deu lugar, com o tempo, à ideia de uma
exigem a satisfação do chamado mínimo soberania da nação, trazida pelo abade de Sieyés e
existencial como pressuposto para o exercício que teve aceitação na França revolucionária
dessas liberdades e dos direitos políticos (quem (vontade da Nação e não vontade do povo).
passa fome não tem como exercer qualquer direito
de liberdade, a necessidade escraviza). O mínimo A ideia de vontade soberana do povo surge no
existencial corresponde, assim, ao núcleo duro dos mesmo século XVI com Rousseau. Contudo, no
direitos fundamentais sociais e premissa para o século XX a soberania como conceito político-jurídico
exercício de uma vida livre, igual e autônoma. entra em crise, com o surgimento das teorias
constitucionalistas, com a crise do Estado Moderno,
que se mostra incapaz de atuar como centro único e
autônomo de poder.

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, como


vimos no tópico anterior, as relações internacionais
ganham novos formatos e atributos (Estados
Nacionais cada vez mais interdependentes política e
economicamente), os direitos humanos passam a ser
valorizados em nível global, bem como a realidade
cada vez mais plural e democrática das sociedades
esvaziaram bastante o conceito de soberania como
plenitude do poder estatal.

A questão do reconhecimento de um rol de direitos


humanos universais trouxe alguns problemas
também para a questão da soberania. Para aqueles
que entendem que os direitos humanos são direitos
naturais, anteriores ao ordenamento posto, ao
defenderem que o Estado deve reconhecê-los
admitem claramente um limite preexistente à O parágrafo único, do art. 1º, da Constituição de
soberania estatal. 1988 estabelece a soberania popular como
fundamento da República:

“todo poder emana do povo, que o exerce por meio


de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta constituição”.

Assim, esse poder instaura um Estado Democrático


de Direito, onde o Estado e o poder político não só
se sujeitam à Supremacia da Constituição, mas
Mesmo para os que não seguem esse paradigma também à vontade popular.
jusnaturalista, os direitos humanos passam a ser
exigíveis em seu núcleo essencial (vida, liberdade, O constitucionalismo, que traz em seu bojo, a ideia
integridade, mínimo existencial etc.), admitindo até de separação de poderes, a supremacia da lei e da
mesmo interferências do tipo humanitárias em outros Constituição, bem como o pluralismo social e o
Estados para fazer valer tais direitos. federalismo tende a enfraquecer e a relativizar a
ideia de soberania conforme antes concebida, mas
Na prática, os direitos humanos são invocados pela não se pode esquecer de que a unidade do corpo
comunidade internacional para o tratamento de político e a coesão do corpo social devem ser
estrangeiros e, mais raramente em relação a grupos mantidas por meio de instituições democráticas
das chamadas “minorias vulnerabilizadas” (minorias fortes, sob pena de o enfraquecimento da soberania
étnicas, grupos religiosos, entre outros), pois os gerar um Estado de “guerra de todos contra todos”
Estados ainda atribuem muita importância à (referência a T. Hobbes).
soberania (externa) e, portanto, a atuação em prol de
direitos humanos somente quando seus direitos e
interesses ou direitos de seus cidadãos parecem A relação que podemos traçar entre o exercício da
estar em jogo. Então, a grande crítica que se faz é soberania popular e os direitos humanos está em
justamente a consideração de que o que se afirma que tais direitos serão limites intransponíveis para o
universal é, em matéria de direitos humanos, a exercício do poder constituinte, seja ele originário,
perspectiva hegemônica na disputa, aquela que seja ele derivado (decorrente e reformador).
“venceu” e se estabeleceu.
A teoria democrática tem como soberano o povo e a
Com a progressiva juridicização do Estado de Direito elaboração da Constituição será feita por assembleia
não faz mais sentido falar em soberania nos moldes com representantes eleitos democraticamente pelo
que vinha sendo abordada, uma vez que os poderes povo. A Constituição passa a ser a lei suprema e que
constituídos (como vimos no módulo sobre reconhece os direitos humanos declarados no plano
Constitucionalismo) são limitados pelos direitos e internacional como direitos fundamentais na ordem
pela lei. A soberania, atualmente, atua na origem interna.
como “poder constituinte”, como criadora do
ordenamento. Uma dessas formas de manifestação Os poderes do Estado passam a ser constituídos e
do poder constituinte é a soberania popular. organizados de acordo com o princípio da separação
dos poderes, limitados pelos direitos e pelas
garantias individuais (direitos fundamentais).
GRUPOS DE PRESSÃO E ADVOCACY

Grupos de pressão são uma espécie de grupos de


interesse (gênero). Tais grupos podem existir
organizados e ativos sem, contudo, exercerem
a pressão política. Adotam uma postura direta de
influência sobre as autoridades públicas,
principalmente na esfera dos Poderes Executivo e
Legislativo. Não se confundem com partidos
políticos, pois os grupos defendem interesses gerais
da sociedade e não de setores específicos.

Atenção
A função dos grupos de pressão (espécie ativa dos
grupos de interesse) e da prática da chamada
advocacy é tentar a mudar a lógica da luta pelo
poder e influenciar governos, parlamentares e
partidos políticos a enxergarem que as políticas
voltadas às melhorias sociais, ambientais e
educacionais são também instrumentos para que a
luta pelo poder encontre limites civilizatórios e não
seja apenas uma estratégia para “as próximas
eleições”!
Advocacy é a defesa, a argumentação e a atuação
em favor de uma causa que envolve a elaboração de Existem diversos grupos atuando para melhorar e
políticas públicas importantes para a melhora de influenciar nas políticas públicas. No Esporte, na
diversos setores sociais. É um processo de Educação, na Saúde, pelos direitos das mulheres e
reivindicação de direitos, tendo por objetivo influir na para atender a demandas dos movimentos negros,
implementação de políticas públicas que atendam às tais como a inclusão de estudos sobre a História e a
necessidades da população. cultura afro, bem como a liberdade de exercício de
religiões de matizes africanas, demandas de
reconhecimento e por igualdade de direitos dos
Utiliza-se o termo advocacy para descrever ações de movimentos LGBTQIA+. Enfim, veja que são muitas
pressão realizadas por organizações da sociedade frentes de atuação.
civil que possuem representatividade e poder de
influência para defender causas que carecem de
atuação do poder público, seja por falta de vontade Vamos citar alguns exemplos de organizações da
política, seja por dificuldades orçamentárias, seja por sociedade civil em prol de direitos e políticas públicas
invisibilidade de determinados grupos. eficientes:

Muito embora haja pouco material sobre grupos de


pressão, no Brasil, eles são fundamentais para a
democracia e para a promoção de direitos humanos
porque podem contribuir para o aperfeiçoamento das
políticas públicas; para o estabelecimento de limites
à ação dos poderes; e promoção do interesse
público em favor de determinadas causas sociais,
como educação, saúde etc.

São muitas as modalidades de organização de Atletas pelo Brasil: uma sociedade sem fins
interesse, inclusive no âmbito interno do Parlamento, lucrativos e pioneira em que atletas e ex-atletas de
onde tem sido comum a articulação de frentes diversas modalidades e de diferentes gerações
parlamentares ou bancadas informais para a atuam para a melhoria do Esporte, da Educação e,
promoção de direitos, valores e interesses sociais. consequentemente, por causas sociais nacionais
através da prática da advocacy.
1. A respeito dos marcos históricos, fundamentos e
princípios dos direitos humanos, assinale a opção
correta (questão da Banca CESPE/CEPRASPE,
2019).

Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006): exemplo bem- Segundo a doutrina contemporânea, direitos
sucedido de advocacy feminista em prol dos direitos humanos e direitos fundamentais são indistinguíveis;
das mulheres. Houve forte atuação e pressão de por isso, ambas as terminologias são intercambiáveis
movimentos feministas, de organizações não no ordenamento jurídico.
governamentais feministas no cenário nacional que
impulsionaram políticas públicas voltadas para a
efetivação da cidadania das mulheres,
especialmente no que se refere ao enfrentamento da Os direitos humanos estão dispostos em um rol
violência. taxativo, internalizado pelo ordenamento jurídico
brasileiro com a promulgação da Constituição
Federal de 1988.

No Brasil, os direitos políticos são considerados


direitos humanos e seu exercício pelos cidadãos se
esgota no direito de votar e de ser votado.

Instituto Oncoguia (Operação Chaminé) e ACBG


Brasil: trabalham para articular melhorias na
prevenção e no tratamento de câncer, não só aos A dignidade da pessoa humana, princípio basilar da
pacientes (advocacy para inclusão de tratamentos e Constituição Federal de 1988, é fundamento dos
exames nos planos de saúde e marcação direitos humanos.
preferencial na rede pública) como aos parentes, que
acabam sendo bastante afetados psicológica e
economicamente.
Em razão do princípio da imutabilidade, os direitos
humanos reconhecidos na Revolução Francesa
permanecem os mesmos ainda na atualidade.

Comentário

Parabéns! A alternativa "D" está correta.

Grupos de apoio à prevenção à AIDS (GAPA): atuam Como vimos, a dignidade da pessoa humana é
em prol de pessoas vivendo com HIV/Aids e seus considerada o fundamento da proteção dos direitos
familiares; mulheres; adolescentes (de 10 a 19 humanos, além de ser indicada como um dos pilares
anos), especialmente por meio de ações de da República Federativa do Brasil, conforme indica o
prevenção e promoção da Saúde (orientações, art. 1º, III, da CR/88.
disponibilização de preservativos, palestras,
capacitações em saúde etc.) e na advocacy por
direitos (cidadania, discriminação, jurídicos etc.).

VERIFICANDO O APRENDIZADO
2. Com base na relação entre Direitos Humanos e premissa, minoria pode ser conceituada como a
Estado, assinale a alternativa correta: existência de grupos que se distinguem da maioria,
entendida essa como aquele agrupamento
generalizado, baseado na indeterminação de traços
e que pertence ao “padrão normalizado” (branco,
masculino e heteronormativo), considerado
majoritário em relação a outro que dele destoa
(negros, mulheres, população LGBTQI+ etc.).
O Estado não deve buscar a efetivação dos direitos
fundamentais porque esses direitos se satisfazem
com o simples reconhecimento abstrato.

O poder público deve atuar de modo a garantir a


efetivação dos direitos e garantias fundamentais,
usando inclusive mecanismos coercitivos quando
necessário.

Direitos humanos não são a mesma coisa, na


essência, que direitos fundamentais. A vulnerabilidade advém das pressões impostas por
esse suposto padrão de normalidade, que pressiona
o diferente. Essa exclusão social é violenta e essa
violência tanto pode ser física quanto simbólica,
originária dessa opressão, que, muitas vezes, se
O Estado Democrático de Direito surge do exercício manifesta na forma de preconceito, discriminação e
da soberania popular e não tem por limite dos rejeição, marginalizando o diferente.
direitos humanos.

Quem ousa ser diferente, em uma sociedade


patriarcal, de papéis sociais bem definidos, para
Os direitos humanos não se aplicam a todos os atuação em prol do capitalismo?
indivíduos, sendo dependente de questões de
nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção Há que se introduzir também a distinção de termos
político-filosófica. correlatos como preconceito e discriminação, mas
que designam fenômenos diversos.
Comentário

Parabéns! A alternativa "B" está correta. O preconceito refere-se a percepções mentais


negativas em face de indivíduos e de grupos social e
historicamente inferiorizados e representações do
corpo social conectadas com tais percepções. O
preconceito costuma ser estudado sob duas
perspectivas:
Os direitos e as garantias fundamentais não se
bastam apenas pelo mero reconhecimento abstrato.
É preciso, além do reconhecimento interno, Psicológica: As abordagens psicológicas buscam
encontrar meios para efetivá-los (princípio da respostas na dinâmica interna dos indivíduos para
efetividade dos direitos humanos – possibilidade real encontrar as raízes do preconceito em projeções de
de ela ser efetivamente aplicada e observada). conflitos internos e frustrações sociais.

Sociológica: A perspectiva sociológica abarca a


INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS CHAMADAS categorização e a construção de estereótipos para
MINORIAS VULNERABILIZADAS se desenvolver atitudes negativas e depreciativas em
relação ao grupo invisibilizado nas relações sociais
Minorias e grupos vulneráveis originam-se de intergrupais.
relações em que há assimetria social (econômica,
educacional, cultural etc.). Partindo-se dessa Já discriminação se refere à materialização de
atitudes arbitrárias em razão do preconceito e que
produz a violação de direitos de indivíduos TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DOS POVOS
pertencentes a esses grupos minoritários e TRADICIONAIS E INDÍGENAS
vulneráveis. Veja as modalidades de discriminação:
A diversidade étnica brasileira é característica que
Discriminação direta: É o desprezo escancarado a
nos faz um país plural. Apesar do extermínio sofrido
indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial, por boa parcela dos grupos indígenas, muitas
religiosa, de sexo etc. Um exemplo, segundo populações resistiram à exploração, às doenças e à
Almeida (2019) é o que ocorre em países que morte e, atualmente, são reconhecidos como sujeitos
proíbem a entrada de negros, judeus, muçulmanos, de direitos a serem protegidos pela ordem jurídica
pessoas de origem árabe e os persas (esses como nacional.
grupo populacional), ou ainda lojas que se recusem a
atender clientes de determinada raça ou classe
social. É também aquela discriminação que existiu
durante o período de segregação racial nos EUA,
imposta inclusive legalmente.

Discriminação indireta; É um processo em que a


discriminação de fato, em relação a grupos
minoritários ou, por exemplo, o mito da neutralidade
racial, da neutralidade em relação a certos grupos
notoriamente discriminados, sem que se leve em
conta a existência de diferenças econômico-sociais Por um tempo, essas populações eram tratadas
significativas, geram a chamada estratificação social. como um obstáculo ao desenvolvimento nacional em
Não há intenção deliberada de discriminar, mas a razão de não cederem às pressões “civilizatórias”
norma ou a práxis social não pode ou não consegue predominantemente europeizada e norte-
prever as consequências discriminatórias advindas americanizada. A legislação que existia antes da
da aplicação de um conceito de neutralidade que Constituição de 1988 era mais estigmatizante desses
esconde enormes desigualdades em relação a povos do que realmente emancipadora e promotora
dos seus interesses, e foi assim desde o período
grupos invisibilizados e marginalizados.
colonial.
A estratificação social é um fenômeno que se
propaga por gerações, tornando o percurso de vida O trato da população indígena, no Brasil, passou por
de todos os membros de determinado grupo social – três momentos:
o que inclui as chances de ascensão social, de
reconhecimento e de sustento material – prejudicado 1- O do extermínio — período colonial,
de geração a geração, perpetuando e amplificando a tentativa de escravização, tomada de suas
pobreza e a marginalização. terras, estímulo a conflitos entre aldeias
distintas a fim de que a própria rivalidade
Atenção entre eles os destruísse.
No estudo das minorias vulnerabilizadas é
importante destacar a contribuição de estudos 2- O da integração e tentativa de assimilação
culturais de identidades e de reconhecimento. E as — Lei 6.001/73, conhecido como Estatuto
identidades são produzidas a partir das diferenças, do Índio é ainda dessa fase de política de
sendo a discriminação o ato de atribuir-se significado integração dos considerados silvícolas,
negativo às diferenças, cristalizando-as em de aqueles que viviam afastados das cidades.
grupos excluídos.
3- O advento da Constituição de 1988 —
Feita essa breve introdução, vimos que a existência reconhecimento de direitos, de identidade
de minorias vulnerabilizadas está intimamente e ampliação do sistema protetivo e de
relacionada com preconceitos, discriminações e garantias.
pobreza intergeracional. Vamos aos assuntos
propostos! O Estatuto do Índio (Lei 6001/73), embora seja da
fase integracionista, trata-se de legislação que se
contradiz, ora defendendo a cultura indígena, ora
obrigando-os a se adequarem aos moldes da
sociedade considerada “civilizada”, o que a torna
ultrapassada em relação ao disposto no art. 231, da
Constituição (1988).
São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger
e fazer respeitar todos os seus bens.
(CF, 1988)

A questão das terras indígenas e sua demarcação é


o ponto de impasse na luta por reconhecimento e
direitos. Em 2009, o STF encerrou o julgamento da
Petição nº 3388 que questionava, em ação popular
ajuizada por um senador da república, a demarcação Raça engloba mais características biológicas e
da Terra Indígena Raposa do Sol e pedia a fenotípicas de cor da pele, textura e cor dos cabelos
declaração de nulidade da Portaria nº 534 do e outros traços físicos característicos.
Ministério da Justiça, homologada pela Presidência
da República em 2005.

Os Ministros da Corte Suprema decidiram pela


demarcação contínua da terra indígena e imediata
retirada dos ocupantes não indígenas. Em 2019, um
estudo feito sobre os avanços naquelas terras para a
organização, desenvolvimento e sobrevivência dos
povos da Raposa do Sol. O dossiê feito nos dez
anos da decisão do STF mostra avanços nos
aspectos social, cultural, ambiental e econômico,
Etnia, de acordo com o antropólogo da USP, também
pois há atividades de produção e comércio de
smo território.
produtos agrícolas e artesanais nessas terras.
O estudo das relações étnico-raciais é aquele aborda
em conjunto a problemática dos preconceitos,
Os povos indígenas possuem autonomia de decisão discriminações de um grupo, sem se concentrar
e produzem de forma consciente e responsável. apenas na cor, mas abarcando também a
vestimenta, a religião, a língua e a cultura de
indivíduos pertencentes a um grupo racial e étnico
Esse caso foi considerado um leading case e expôs historicamente discriminado pela sociedade.
o papel do STF como legislador positivo e, muito
embora tenha sido favorável aos povos indígenas da
Raposa do Sol, a decisão traz a tese do marco A inclusão de uma educação étnico-racial nas
temporal que impede a demarcação de terras de escolas, desde o ensino infantil, é fundamental para
povos que não se encontravam nas terras quando da o reconhecimento de culturas afrodescendentes e
promulgação da Constituição de 1988. indígenas como partes da nossa formação social.
Isso favorece à construção de uma sociedade plural
e democrática em que grupos, historicamente
Trata-se de inovação jurídica que impõe uma marginalizados, sejam reconhecidos como
interpretação restritiva aos direitos dos povos importantes para a formação da nossa sociedade e
indígenas e que tem sido contestada por uma série nossa cultura. Para que sintam orgulho de serem
de entidades indigenistas, além de povos indígenas. diferentes, mas que essa diferença não sirva para
Referida tese interpretativa trouxe à reflexão os torná-los vítimas constantes de violências físicas e
debates sobre os limites e a legitimidade da institucionais.
jurisdição constitucional em uma democracia.

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E CULTURA


AFRO-BRASILEIRA

Primeiro vamos abordar os conceitos de etnia e raça,


que apesar de serem empregados, muitas vezes,
como sinônimos são palavras distintas, para depois
abordarmos o que se entende por relações étnico-
raciais e o reconhecimento da cultura afro-brasileira.
nesses três níveis (político, econômico e das
subjetividades) produz desigualdades e estratificação
social.

Exemplo
Quase dois anos após a promulgação da Lei
10.639/03, líderes de religiões de matriz africana de
diferentes partes do Brasil tiveram de buscar uma
conversa oficial com o presidente do Supremo Há a naturalização da violência contra a população
Tribunal Federal à época, ministro Nelson Jobim, negra.
com a finalidade de pedir o apoio institucional para a
inclusão no currículo dos ensinos fundamental e A estrutura social é constituída por inúmeros conflitos
médio das disciplinas de História da África e História – de classe, raciais, sexuais etc. –, o que significa
do Negro (um exemplo de advocacy que já que as instituições também podem atuar de maneira
estudamos). Na ocasião, protocolaram uma conflituosa, posicionando-se dentro do conflito. Em
representação dirigida ao Ministério Público Federal uma sociedade em que o racismo está presente na
para pedir o cumprimento da lei que alterou a Lei de vida cotidiana, as instituições que não tratarem de
Diretrizes e Bases da Educação visando à inclusão
maneira ativa e como um problema a desigualdade
de matérias relativas à História da África e à Cultura
racial irão facilmente reproduzir as práticas racistas
Afro-Brasileira nas escolas.
já tidas como “normais” em toda a sociedade.
Trata-se de uma luta pelo resgate da cultura afro- (ALMEIDA, 2019)
brasileira, com o reconhecimento de suas religiões,
de sua história, suas vestimentas e que isso comece Dizer que o racismo está nas estruturas da
pela educação primária. Com o objetivo de as sociedade (que se reproduz na economia, na
crianças não aprenderem a discriminar o diferente, política, no ordenamento jurídico e nas instituições
mas que conheçam a história e cultura desse públicas e privadas) não quer dizer que ele seja
diferente para entendê-la e respeitá-la. insuperável e que medidas em forma de ações e
políticas antirracistas não sejam eficazes. Além
Comentário disso, importante frisar que o fato de o racismo ser
É preciso ter o cuidado de não focar a história estrutural não retira do indivíduo a sua
desses grupos apenas na fase colonial e responsabilidade pelo cometimento de atos racistas,
escravocrata, para não reforçar a estigmatização. É só que apenas essa responsabilização não será
claro que a escravidão explica muito o racismo que suficiente para que a sociedade deixe de reproduzir
vemos na sociedade, mas temos de reforçar o preconceitos, discriminações e desigualdades com
estudo da história desses povos, que é rica e que foi base na raça.
apagada pela Grande História, a dos conquistadores.
Exemplo
RACISMO ESTRUTURAL Em julgamento histórico (HC 82.424-2/RS, ano de
2004), o STF concluiu pela consumação do crime de
racismo (responsabilização individual prevista na
O racismo estrutural consiste em encarar o Constituição e na Lei 7.716/89) refutando a tese
preconceito e a discriminação de raça como algo que defensiva que alegava que não seria possível haver
não só existe, mas que foi normalizado (naturalizado) racismo por ausência de fundamento biológico para
pela sociedade. Isso não quer dizer que deva ser a identificação de raças entre os seres humanos. O
aceito, ou que seja aceito, mas sim que constitui e STF reforçou, nesse julgado, a ideia de que o
marca as relações sociais desde o período das preconceito e a discriminação decorrem de
grandes colonizações. É racismo como forma de representações sociais falsas, construídas
estrutura social (nível político, econômico e de culturalmente e dirigidas contra um grupo e
subjetividades) e que constitui as próprias relações. indivíduos que se identificam com esse grupo. Então,
A sociedade “funcionando” no seu aspecto normal a Suprema Corte reforçou o entendimento de que
raça é um conceito que só pode ser compreendido que era um contrassenso completo e uma subversão
em perspectiva relacional. do que seja igualdade.

As denominadas ações afirmativas são instrumentos No caso Brown vs. Conselho de Educação, em plena
que colaboram para tentar reverter esse quadro de efervescência dos movimentos pelos direitos civis
desigualdades, especialmente na educação e na dos negros, a Corte decidiu que a doutrina do
inserção no mercado de trabalho. Muitas vezes, “separados, mas iguais” feria a XIV (décima quarta)
estão associadas às ideias de cotas, tratamentos Emenda Constitucional. A decisão foi no sentido de
ditos “preferenciais”, sendo chamadas que a segregação racial presente nas escolas
pejorativamente de “discriminação inversa”. públicas fazia com que as crianças negras se
sentissem inferiores às crianças brancas, o que
prejudicava o aprendizado, fazendo com que muitas
Só que reduzir as ações afirmativas às políticas de
desistissem de estudar, perdendo oportunidades de
cotas é apenas simplificar a realidade. Um exemplo:
ascensão social. Essa decisão acabou com a
dizer que alguém foi “beneficiado” com um emprego
segregação nas escolas públicas norte-americanas.
pelo fato de ser negro é algo que, à primeira vista,
parece injusto, mas é totalmente diferente quando se
enxerga que a decisão foi apenas um critério de
desempate e que visa reparar as consequências de
um racismo estrutural na sociedade.

As ações afirmativas como respostas à


discriminação institucional e à discriminação indireta
existente na sociedade não devem ser vistas como
tratamentos preferenciais, mas como medidas de
combate ao racismo e às desigualdades por ele
perpetradas.
No direito brasileiro, o tema vem sendo tratado com
Então, melhor entender ações afirmativas como o seriedade há quase vinte anos, mas não sem muita
controvérsia. Oficialmente, foram estabelecidas cotas
uso de critérios raciais, étnicos ou mesmo sexuais
para negros e indígenas nos vestibulares das
com o propósito de reduzir as desvantagens prévias universidades públicas , nas seleções de mestrado e
enfrentadas por determinados grupos em razão doutorado, nas seleções de diversos concursos
públicos e isso foi um movimento positivo das
desses mesmos critérios.
instituições públicas. O problema que vem sendo
observado não é o seu uso criterioso e correto, mas
Nos Estados Unidos, onde essas ações foram o uso deturpado e as fraudes verificadas.
bastante empregadas no contexto dos movimentos
pelos direitos civis dos negros, um primeiro momento
foi marcado pela proibição de discriminações em Comentário
sistemas de educação e nos sistemas de Reconhecer a existência de rica interdisciplinaridade
recrutamento e seleção para postos de trabalho. no estudo dos direitos humanos, de racismos, de
grupos minoritários em situação de vulnerabilidade,
cultura afro, cultura indígena é entender que, a
Exemplo garantia de direitos mínimos para uma existência
Um desses casos emblemáticos foi o de Brown vs. digna, são complexos e referidos histórica e
Conselho de Educação, julgado pela Suprema Corte socialmente, não podendo excluir nenhum indivíduo
dos EUA em 1954. Ao ter a matrícula da filha e nenhum grupo.
negada, em uma escola pública de brancos, o pai da
menina negra Linda Brown, que na época tinha
apenas 8 anos de idade, entrou com uma ação VERIFICANDO O APRENDIZADO
judicial. O argumento da escola para a exclusão da
menina era baseado em um caso de 1892, o
famoso Plessy vs. Ferguson, no qual a Suprema
Corte Norte-americana negou o direito de um negro
que reivindicava ter assento no mesmo vagão de
trem que os brancos. Esse caso ficou conhecido pela
frase disposta na sentença: “separados, mas iguais”
(separate, but equal), ou seja, brancos e negros
eram iguais, mas deveriam permanecer separados, o
1. (VUNESP/2015) Conforme o antropólogo 2. (FUMARC, SEE MG, 2018 – adaptada) “Em
Kabengle Munanga, doutor pela USP, o conceito de muitos casos, a discriminação racial coloca a
etnia pode ser definido como: população afrodescendente nos estratos mais baixos
da sociedade e eles estão agrupados entre os mais
pobres dos pobres. A discriminação enfrentada pela
população afrodescendente perpetua ciclos de
desvantagem e transmissão intergeracional de
pobreza, prejudicando o seu desenvolvimento
Um grupo de pessoas que têm um ancestral comum humano. As barreiras ao acesso e à conclusão de
e que possuem algumas características físicas em uma educação de qualidade repercutem no acesso
comum, designando a descendência ou a linhagem. ao mercado de trabalho e nos tipos de empregos
encontrados”.
Com base nos seus estudos, leia as afirmativas
abaixo:
Um conjunto de indivíduos que, histórica ou
mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma I - A Década Internacional de Afrodescendentes é
língua em comum, uma mesma religião ou uma ocasião para promover maior conhecimento,
cosmovisão; uma mesma cultura e moram valor e respeito às conquistas da população
geograficamente em um mesmo território. afrodescendente e às suas contribuições para a
humanidade. É uma ferramenta útil para abrir
caminho para o trabalho e a cooperação futura entre
Estados, organizações internacionais e regionais,
Um grupo de indivíduos que possuem uma sociedade civil e outros, a fim de aprimorar a
identidade biológica com qualidades psicológicas, situação dos afrodescendentes.
morais, intelectuais e culturais adjacentes a essa II - As desigualdades são parte do legado de erros
genética. do passado. Racismo, preconceito e discriminação
racial contra a população afrodescendente têm suas
raízes nos regimes de escravização, no tráfico de
escravizados e no colonialismo. Na história do tempo
Uma ideologia que postula a divisão da humanidade presente, essas heranças são reforçadas pela
em grandes grupos, que possuem características discriminação interpessoal, institucional e estrutural e
físicas hereditárias comuns, sendo essas últimas manifestam-se na desigualdade e marginalização em
suportes das características psicológicas, morais e âmbito mundial.
intelectuais que se situam em uma escala de valores III - Homens jovens afrodescendentes são
desiguais. essencialmente vulneráveis. São cidadãos que
correm maiores riscos de serem apreendidos na rua
por ocasião da filtragem racial, enfrentam maiores
índices de violência policial e mortes e,
Uma classificação hierárquica, fundamentada na consequentemente, continuam sendo detidos,
relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, encarcerados e sujeitos a penas maiores com mais
traços morfológicos) e as qualidades psicológicas, frequência.
morais, intelectuais e culturais. IV - Mulheres afrodescendentes sofrem
discriminações múltiplas com base em raça,
Comentário condição socioeconômica, gênero, acesso limitado à
Parabéns! A alternativa "B" está correta. educação, ao trabalho e à segurança. Por isso, a
Década Internacional de Afrodescendentes é uma
oportunidade não só de combater a discriminação
racial, mas também de assegurar o desfrute
igualitário dos direitos humanos por todos.
O reconhecimento de conceitos das Ciências Sociais V - As condições econômica e social sobrepõem-se
é fundamental para o entendimento do papel de à condição de raça e cor, ou seja, a desigualdade é
justiça, então, o reconhecimento passa pelo um problema de distribuição de renda e
processo social das situações aqui demarcadas. oportunidades iguais para todos.

As afirmativas corretas são:


Visitamos os principais eventos históricos que
culminaram na ascensão dos direitos humanos na
I, II, III e IV. arena internacional, as gerações de direitos, bem
como internalização desses direitos nos
ordenamentos internos para a proteção do indivíduo
e garantia da dignidade humana.

I, III, IV e V.
Analisamos a relação entre direitos humanos e
exercício da soberania popular como inauguradora
de um Estado democrático de direito, no qual a
Constituição e os direitos fundamentais passam a ser
I, II, IV e V. limites para a atuação dos poderes constituídos.

Abordamos um assunto muito interessante e ainda


pouco estudado que se relaciona com os grupos de
I, II, III e V. pressão e advocacy: as organizações não
governamentais e sociedades sem fins lucrativas.
Elas atuam em prol do reconhecimento de direitos e
implementação de políticas públicas nas mais
diversas áreas, fazendo com que grupos
II, III, IV e V.
vulnerabilizados ganhem voz junto aos tomadores de
decisão, o que não deixa de ser uma luta pela
Comentário efetividade de direitos humanos fundamentais
previstos por nossa Constituição.
Parabéns! A alternativa "A" está correta.

Reconhecer a existência de rica interdisciplinaridade


no estudo dos direitos humanos é entender que,
justamente por serem garantidores de direitos
A afirmativa V é a única resposta errada, pois essas mínimos a uma existência digna, são complexos e
condições não se sobrepõem, no sentido de uma ser referidos histórica e socialmente.
mais importante do que a outra, mas são
interseccionais (classe, raça, gênero), são sistemas Visitamos os principais conceitos que nos ajudam a
de opressão inter-relacionados. melhor compreender os temas que tocam os direitos
humanos, os direitos fundamentais de grupos que
CONSIDERAÇÕES FINAIS historicamente foram invisibilizados e marginalizados
pela sociedade. O módulo trabalha com “minorias”
vulnerabilizadas, mas, muitas vezes, verificamos que
Estudamos poder constituinte, suas origens, seu tais minorias são, na verdade, maiorias em termos
conceito, seus limites e características. Vimos o quantitativos e populacionais (caso específico da
debate travado entre Kelsen e Schmitt sobre “Quem população negra, não dos indígenas), mas são
deve ser o guardião da Constituição” para entender minorias nos espaços políticos, nas escolas, nos
as diferenças sobre a teoria normativa (Kelsen) e o trabalhos de maior remuneração, nos cargos
decisionismo (Schmitt). Enquanto Kelsen entende públicos de proeminência.
que um Tribunal Constitucional deva controlar a
constitucionalidade das leis, Schmitt entende que o
fundamento último do direito deve estar no soberano. Estudamos o tratamento constitucional dado aos
indígenas, as melhorias no amparo a eles dado que
ocorreram com a promulgação da Constituição de
Estudamos também a origem do chamado judicial 1988, vimos o caso Raposa da Serra do Sol, que
review e o caso histórico Marbury vs. Madison, muito embora tenha sido favorável àqueles grupos
marcando o entendimento de que leis e atos, abaixo indígenas, representou um retrocesso na forma
da Constituição, não podem contrariá-la sob pena de como estabeleceu o marco temporal das
serem declarados nulos. demarcações de terras indígenas.

Vimos a definição de casos difíceis e apresentamos Destacamos também a importância do estudo das
alguns exemplos, assim como vimos que a relações étnico-raciais para o combate ao racismo
Constituição passou a ser o centro do ordenamento estrutural desde o ensino básico, do resgate da
jurídico com a ascensão de novos direitos e novos história, da cultura e da religião afrodescendente
princípios.
para a consolidação de uma sociedade de fato plural
e não discriminatória.

Estudamos racismo estrutural, seu conceito e suas


implicações bem como formas de combatê-lo, por
meio de políticas antirracistas por instituições
públicas e privadas bem como por meio de ações
afirmativas.

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