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MÓDULO 1 – FORMAÇÃO CONSTITUCIONAL DO

BRASIL
1. O Direito Constitucional
 Antes de tudo, é necessário situar o Direito Constitucional no âmbito da
Ciência do Direito, definir seu objeto e as suas várias vertentes sob as quais
analisa o seu objeto.
 O Professor José Afonso da Silva (2007, p. 34) define o Direito
Constitucional como “o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e
sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”.
Como adiante veremos, a Constituição de um Estado traça a organização
fundamental de uma sociedade, suas estruturas básicas de poder, os Direitos
Fundamentais e os órgãos de poder, logo, a disciplina do Direito que tem por
objeto o estudo dessas normas fundamentais acaba por categorizá-lo, também,
como Direito Público Fundamental.  Dentro da grande divisão das disciplinas
do Direito, o Direito Constitucional se insere dentro do Direito Público.
O Direito Privado disciplina as relações jurídicas entre particulares, nas quais
predomina a autonomia da vontade, ou seja, o que as partes convencionaram é
o que prevalece, se não houver lei proibindo.
 Já no Direito Público, nas relações jurídicas, prepondera a vontade da lei e
não das partes, geralmente são relações de subordinação do interesse privado
ao interesse público, seu conteúdo visa um interesse geral e não particular.
Outra questão importante é saber que o Direito Constitucional estuda o seu
objeto, a Constituição, sob pelo menos três prismas, como bem informa o
professor José Afonso da Silva:
a)  Direito Constitucional Positivo: que tem por objeto o estudo específico de
uma determinada constituição de um determinado estado;
b)  Direito Constitucional Comparado: que tem por objeto o estudo
comparado de duas ou mais constituições, vigentes ou não, de dois ou mais
Estados; e,
c)  Direito Constitucional Geral: que tem por objeto a sistematização dos
estudos a respeito de uma teoria geral do Direito Constitucional, seus
institutos próprios, a identificação das categorias gerais, comuns, às diversas
constituições.
 
1.1 Constituição: conceito, classificação e elementos.
A pergunta essencial: o que é uma constituição? Pode não ser tão simples de
se responder como incialmente possa parecer, pois na doutrina, há tratados
profundos sobre o tema e pontos de vistas distintos.
O próprio nome pode ser variável, ou seja, vários signos podem ter o mesmo
sentido. Por exemplo, é comum vermos na doutrina as expressões: texto
constitucional, carta suprema, carta fundamental, carta magna, lei das leis,
entre outras, significando, todos eles, a mesma coisa.
Outro ponto importante é que “o que é uma constituição” tem também o seu
sentido variável no tempo, quanto maior o recorrido histórico que se faça,
mais sentidos e conceitos do que é uma constituição se terá, de maneira que é
impossível convir a um único conceito definitivo.
 Todavia, por uma questão didática e sem ter a pretensão de exaurir o conceito
e o sentido da expressão, de uma maneira geral, compreende-se que uma
constituição é a norma suprema, a mais importante que está em vigor em um
determinado Estado ou sociedade politicamente organizada.
Sem sombra de dúvidas, essa é uma noção exclusivamente jurídica, mas uma
constituição é muito mais que uma norma jurídica. Logo adiante veremos
alguns conceitos do que é uma constituição, de forma que o candidato ao
exame de ordem possa ter, sinteticamente, uma noção, a mais completa
possível, do que é uma constituição.
 
1.1.1 Conceito:
 Constituição é o conjunto de normas, da mais alta hierarquia, que organiza os
elementos constitutivos do Estado (Povo, Território, Finalidade e Soberania),
é a Lei Fundamental de uma determinada sociedade organizada politicamente.
Como afirma Bulos (2007. p.28), “as constituições revelam a particular
maneira de ser do Estado.”. Se desejamos saber como uma sociedade (Estado)
está organizada, devemos iniciar nosso estudo por sua constituição.
A constituição regula a Forma de Estado, a Forma de Governo, o modo,
aquisição e exercício do poder, estabelece ainda órgãos, direitos fundamentais
e suas garantias.
 Acima dissemos que constituição não é apenas uma norma jurídica, ou que,
não existe apenas um conceito ou acepção do que é uma constituição, agora,
vamos ver em quais sentidos podemos entender o que é uma constituição.
Todas essas acepções completam-se no explicar o que é uma constituição.
 
1.1.2 Concepções
A constituição, então, pode ser entendida de várias maneiras:
a) Sentido Sociológico: é a somatória dos fatores reais do poder operantes
dentro de uma sociedade. Este sentido está relacionado à legitimidade de uma
constituição, a sociedade tem vários núcleos de poder como os sindicatos, os
partidos, as igrejas, os militares, o poder econômico, etc. A Constituição
legítima é aquela que representa a maior parcela da sociedade. Esta concepção
aponta um valor atual da Constituição, pois o seu conteúdo não pode ficar
estagnado no tempo, pois a sociedade muda. Assim, é necessário que a
constituição seja adequada a cada momento histórico de uma dada sociedade,
o que pode ser feito com ou sem alteração de texto (emendas constitucionais
ou interpretação do texto). A ideia de Constituição Sociológica é de Ferdinand
Lassalle.
b) Sentido Político: constituição só se refere à decisão política fundamental,
ou seja, modo, forma do Estado e direitos fundamentais. Tudo que estiver no
texto da constituição, mas que não disser respeito à decisão política
fundamental (organização do Estado, dos poderes e direitos e garantias
fundamentais), não é, propriamente, constituição, mas lei constitucional.
Assim, como explica a doutina, analisando os textos de Carl Schmitt, se faz
uma distinção entre constituição (decisão fundamental) e leis constitucionais
(quaisquer outros assuntos que não sejam decisão fundamental).
c) Sentido Material: importa o conteúdo da norma. Pode haver norma
constitucional fora da constituição. Sob o aspecto material, qualquer norma
que trate de questões relativas à organização fundamental do Estado é
constituição, não importando que esteja em um texto solene ou não.
d) Sentido Formal: já no sentido formal interessa a forma de nascimento da
norma, se foi produzida como um documento solene, diferenciado em relação
aos demais, indicando o peculiar modo de ser de um Estado e tudo o mais que
a decisão política fundamental entendeu por bem inserir nesse mesmo texto.
Nesse sentido, não importa o teor da norma, o seu conteúdo, mas
simplesmente o fato de constar de um texto solene chamado de constituição.
Ex.: Colégio D. Pedro II do RJ (art. 242, § 2º). Não há nada de fundamental
neste texto, mas por constar no texto da constituição brasileira de 1988 é
norma constitucional, portanto, faz parte da constituição, e somente pode ser
alterado por emenda constitucional.
e) Sentido Jurídico: Constituição é mundo do “dever ser”, norma pura, sem
conexão sociológica, política ou filosófica, como pensava Hans Kelsen. A
constituição é um ato de vontade de seus criadores, simples imposição
coercitiva que organiza o Estado. Há uma hierarquia lógica da constituição,
fundada na ideia de que existe uma norma fundamental hipotética (que diz que
devemos obedecer à constituição e que dá validade à constituição jurídico-
positiva), esta sendo a norma positiva suprema, a mais alta norma do Estado.
Sob a concepção jurídica, em sentido lógico-jurídico, constituição é uma
norma hipotética fundamental, uma norma superior à própria constituição
vigente que lhe fundamento de validade.
Ainda sob o prisma jurídico, a constituição também pode ser entendida como
jurídico-positiva: a norma escrita, suprema, de uma determinada sociedade.
 f) Sentido Culturalista: a constituição é produto de um fato cultural,
produzido pela sociedade que influenciou o seu texto, mas que também por
ela é influenciada.
 
1.1.3 Classificação
 A classificação das constituições não é exaustiva, procura atender com maior
proximidade ao que é exigido nos concursos e exame de ordem, além do que,
não existe propriamente uma classificação certa ou errada, mas busca-se com
as classificações compreender um pouco mais do objeto de estudo,
observando-o da forma mais analítica possível e sob os mais diversos pontos
de vista.
Assim, as classificações que se estabelecem a seguir são aquelas que mais têm
sido exigidas nos concursos e exame de ordem e que, certamente, irá ajudar o
aluno a melhor fixar o entendimento do que é uma constituição. Vejamos:
Quanto à origem:
a) Outorgadas: são aquelas impostas unilateralmente por uma pessoa ou grupo
de pessoa, sem consulta ao povo. Ex. Constituição brasileira de 1967.
b) Promulgada: é a constituição democrática, votada ou popular – são
constituições cuja origem se dá numa assembleia constituinte, escolhida pelo
povo, que elabora a constituição. Ex. Constituição brasileira de 1988.
c) Cesarista – constitui-se em projeto prévio elaborado por uma pessoa e
aprovado por referendo (consulta popular) – Constituição do Chile de
Pinochet.
d) Pactuadas: são aquelas em que mais de um titular do poder originário
realizam um pacto para estabelecer uma constituição, geralmente entre realeza
e legislativo. Ex. Magna Carta de 1215 João Sem Terra e Barões.
Quanto à forma:
 a) escritas: são aquelas formadas por um único texto ou documento solene.
Ex. Constituição dos Estados Unidos da América e do Brasil.
b) costumeiras: suas regras se encontram em mais de um texto, não solene
nem codificado, formadas através dos usos e costumes. Ex. Constituição da
Inglaterra.
Quanto à extensão:
a) sintéticas ou enxutas: são veiculadoras apenas de princípios fundamentais e
estruturais do Estado, sem quaisquer outras disposições inúteis ou que não
tratem de decisão fundamental. Ex. Constituição dos Estados Unidos da
América.
b) analíticas ou prolixas: são constituições minuciosas, todo assunto que foi
tido por fundamental foi inserido no texto, normalmente são repetitivas. Ex.
Constituição do Brasil.
Quanto ao conteúdo:
a) material: materialmente constitucional será aquele texto que contiver as
normas fundamentais à estrutura do Estado, organização, direito e garantias
fundamentais;
b) formal: é aquela constituição que elege como critério o processo de
formação e não o conteúdo da norma, tudo o que nela estiver contido é
constitucional.
Quanto ao modo de elaboração:
a) dogmáticas: são sempre escritas, consubstanciam dogmas estruturais do
estado, feita por um órgão constituinte. Ex. Constituição do Brasil.
b) históricas: formadas através de um lento e contínuo processo de formação.
Ex. Constituição da Inglaterra.
Quanto à alterabilidade ou estabilidade:
a) rígidas: são aquelas que exigem um processo de alteração solene, mais
rígido que para as normas em geral. O quórum de votação e provação é maior,
as etapas de discussão mais amplas.
b) flexíveis ou plásticas: são aquelas que o processo de alteração é igual ao
das leis ordinárias ou infraconstitucionais, ou seja, o texto constitucional pode
ser alterado de maneira mais simples.
c) semi-rígidas: são aquelas que algumas matérias exigem processo solene de
alteração (rígida), e outras não (flexíveis).
d) imutáveis: são constituições inalteráveis.
 e) super-rígida: em alguns pontos é rígida, pode ser alterada, mas exige um
procedimento solene, em outros é imutável, ou seja, não pode ser alterada.
Quanto à essência:
a) Normativas: são aquelas que formadas a partir de sua conexão com o fato
social, ou seja, produzidas de acordo com a vontade do povo;
b) nominais: são aquelas que se constituem num projeto voltado para o futuro,
a ser realizada em outro momento histórico;
c) semântica: são constituições idealizadas para proteger e beneficiar aqueles
que detêm o poder econômico, social ou de força.
Quanto à ideologia:
a) ortodoxa: são aquelas elaboradas com base em uma única ideologia, como a
da China Marxista e da Soviética de 1977.
b) eclética: são aquelas que consagram diversas ideologias, buscando conciliá-
las.
Fala-se, ainda, em:
a) Constituição heterônoma: constituição que foi decretada fora do Estado, por
outro Estado ou um Organismo Internacional (Constituição Japonesa de
1946);
b) Constituição autônoma: aquela produzida pelo próprio Estado;
c) Constituição Dirigente: é aquela que estabelece um plano de governo, uma
direção, não importando o partido que exerce o governo no momento;
d) Constituição garantia: é aquela que prioriza a defesa e a garantia das
liberdades;
e) Constituição balanço: é a constituição que registra um estágio da sociedade,
reflete o grau de evolução social.
           
A partir desse estudo, podemos, então, classificar a Constituição Brasileira de
1988 em:
a) Promulgada;
b) escrita;
c) analítica;
d) formal;
e) dogmática;
f) rígida ou super rígida;
g) normativa;
h) eclética;
i) autônoma;
j) dirigente;
 
          
1.1.4 Objeto e Conteúdo
Conforme ensina José Afonso da Silva, o objeto da constituição é estabelecer
a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do
poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos
e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins
socioeconômicos do estado, bem como os fundamentos dos direitos
econômicos, sociais e culturais.
Afirma, ainda que o conteúdo das constituições venha se alterando
historicamente, pois o que é considerado fundamental como integrante de seu
texto tem mudado de tempos em tempos, de maneira que o que hoje é
considerado como conteúdo básico para um documento ser intitulado de
constituição, em épocas passadas não o era, ao menos de forma tão extensa
como é atualmente.
 
1.1.5 Elementos
Alguns doutrinadores nomeiam-nos de elementos mínimo-irredutíveis das
constituições e outros de elementos das constituições, com isso querendo dizer
que se trata de conteúdos mínimos e não passíveis de redução que devem
existir dentro do texto da constituição para que assim seja, então, considerada.
Se não existirem, não podemos falar propriamente de constituição.
São eles:
a) Orgânicos: são normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder, por
exemplo: art. 1º, art. 18, art. 25, 29, 44 e ss., 76, 77, 92 da Constituição do
Brasil.
b)  Limitativos: são normas que compõem o elenco de direitos e garantias
fundamentais, impondo um limite a atuação estatal: art. 5º a 17, 153 da CF/88.
c) Socioideológicos: constitui-se das normas que revelam a opção do Estado
Individualista ou Social, os fins sociais e econômicos, que realizam ou não a
justiça social: arts. 3º, 6º, 170 da CF/88.
d) De Estabilização Social: são normas destinadas a assegurar a solução de
conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do estado, das instituições
democráticas objetivando a paz: arts. 34 a 37 e 136, 137 da CF/88.
e) Formais de Aplicabilidade: são normas que estabelecem regras de aplicação
das normas das constituições e de formação das normas em geral que a ela
darão aplicabilidade e eficácia: art. 24, § 1º a 4º, art. 59 a 69 da CF/88.
f)  De transição constitucional: são aqueles constituídos de normas
transitórias, cuja aplicação se exaure no tempo, esgotando sua aplicabilidade.
Ex. as normas que compõem o Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
 
1.2 Históricos das Constituições Brasileiras.
Nossa história constitucional é bastante prolixa e reflete bem as variações
políticas profundas porque passamos ao longo de pouco mais de um século e
meio (1824 a 1988). De Estado Ditatorial a Estado Democrático e em sentido
inverso, não foram poucas as vezes que assim ocorreu.
Podemos afirmar que tivemos sete constituições e uma Emenda
Constitucional equivalente a uma nova constituição (Emenda nº 1/69), sendo
que destas as 1824, 1937, 1967 e Emenda nº 01/69, podem ser consideradas
outorgadas e, portanto, totalitárias, e tivemos as de 1891, 1934, 1946 e 1988
que foram promulgadas e, portanto, democráticas.
Vejamos, a seguir, sucintamente, os principais pontos de cada uma dessas
constituições.
 
1.2.1 Constituição de 1824
Foi a primeira constituição brasileira e que surgiu logo após a independência
ocorrida em 1822.
A Constituição do Império foi jurada em 25 de março de 1824 e elaborada por
um conselho nomeado pelo Imperador D. Pedro I.
O texto da nova constituição estabeleceu a forma unitária de Estado, cujas
capitanias hereditárias foram transformadas em províncias (art. 2º), e a forma
monárquica de governo, que era hereditário, constitucional e representativo
(art. 3º). Estabeleceu a religião oficial como sendo a Católica Apostólica
Romana, admitindo, todavia, os cultos domésticos de outras religiões.
Estabeleceu-se a forma quadripartite de divisão de funções de poder, criada
por Benjamin Constant, influenciado por Clermont Tonerre.
O Poder Legislativo correspondia à Assembleia Geral, formada por Câmara
de Deputados e Câmara de Senadores, estes eleitos após escolha em lista
tríplice indicada pelo Imperador.
O Poder Executivo era exercido pelos Ministros de Estado e chefiado pelo
Imperador.
O Poder Judiciário era exercido por Juízes e Jurados, garantindo-se aos
primeiros a vitaliciedade. O órgão de cúpula era o Supremo Tribunal de
Justiça.
O Poder Moderador era a “chave” do sistema de poder do Império e da
constituição. Era exercido pelo Imperador, Chefe Supremo da Nação e
Primeiro Representante, sendo sua figura sagrada e inviolável, não
respondendo por qualquer ato. Como Poder equilibrador das demais funções,
podia: dissolver a Câmara dos Deputados, nomear Senadores, suspender
magistrados, nomear e demitir livremente Ministros de Estado, entre outras
formas absolutas de poder.
O voto era censitário e indireto, com base na riqueza. Havia um rol de direitos
fundamentais, mas se mantinha a escravidão. Era uma constituição
semirrígida, pois, na parte que não era essencialmente norma fundamental,
podia ser alterada livremente, sem o processo solene de emenda à
constituição.
 
1.2.2 Constituição de 1891
Com a proclamação da República houve a necessidade de se elaborar uma
nova constituição, o que ocorreu em 24 de fevereiro de 1891.
A nova Constituição estabeleceu a forma federativa de Estado, a forma
republicana de governo, tendo ainda transformado as antigas províncias do
Império em Estados federados. O Município do Rio de Janeiro transformou-se
em Distrito Federal.
Estabeleceu a forma tripartite de poder: Poder Legislativo, exercido pelo
Congresso Nacional, formado por Câmara de Deputados e Senado Federal, o
Poder Executivo, exercido pelo Presidente da República, eleito diretamente e
o Poder Judiciário, cujo órgão de cúpula passou a ser o Supremo Tribunal
Federal.
Houve ampliação da declaração de direitos, com inclusão do “habeas corpus”,
e profunda separação entre a Igreja e o Estado.
 
1.2.3 Constituição de 1934
A terceira constituição brasileira, promulgada em 16 de julho de 1934,
manteve a estrutura básica da constituição anterior, como a tripartição de
poderes, alterando o Poder legislativo, que passou a funcionar basicamente
pela Câmara dos Deputados.
Estabeleceu o voto feminino quando estas exercessem função pública,
instituiu o mandado de segurança e ação popular.
O Poder Judiciário passou a ser composto pela Corte Suprema (antigo
Supremo Tribunal Federal), Justiça Federal, Justiça Militar e Justiça Eleitoral.
Estabeleceu, ainda, a ordem econômica e social.
 
1.2.4 Constituição de 1937
Conhecida como constituição polaca, tratou-se de um retrocesso, instituindo
uma verdadeira ditadura sob todos os sentidos, já que praticamente instituiu
um federalismo nominal, sem efeitos concretos, pois o Presidente da república
concentrava extremos poderes.
Outorgada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937 instalou o
denominado “Estado Novo”, com a redução dos direitos fundamentais,
desconstitucionalização do mandado de segurança e da ação popular, criou os
decretos-leis, pelos quais o Presidente da República praticamente exercia todo
o poder, legislando e aplicando as leis.
 
1.2.5 Constituição de 1946
Após o final da segunda guerra mundial, ocorre a redemocratização do Brasil,
pois a nova constituição foi promulgada por uma assembleia constituinte em
18 de setembro de 1946.
Mantém-se a tripartição de poderes, institui-se a Justiça do Trabalho e o
Tribunal Federal de Recursos, alçou novamente ao texto constitucional o
mandado de segurança e a ação popular.
Praticamente restabeleceu os textos de 1891 e 1934, não avançando muito,
além disso.
No início da década de 60, do século passado, graves crises institucionais
abalam a estruturas políticas, de maneira que após o golpe militar a
constituição de 1946 não mais resistiu.
 
1.2.6 Constituição de 1967
Antes da constituição de 1967, com a deposição do Presidente Jânio Quadros,
pelos militares, estabelece-se a ordem constitucional mediante um Ato
Institucional que mantém a Constituição de 1946, com várias restrições a
direitos, seguidamente publicam-se novos Atos Institucionais, até ser
promulgada em 24 de janeiro de 1967.
Basicamente ela estabeleceu a política de “segurança nacional” (usada como
instrumento de repressão política).
O Presidente da república é eleito de forma indireta, por um Colégio Eleitoral.
Estabelece-se uma extensiva política de suspensão dos direitos individuais em
inúmeras situações de perigo duvidoso.
 
1.2.7 Constituição de 1969, Emenda Constitucional nº 1.
A Emenda Constitucional nº 01, de 1969, foi o instrumento de outorga de uma
nova constituição, que teve por objeto ser mais totalitária que a anterior, de
1967, pois suprimiu as garantias dos parlamentares, ampliou a censura às
publicações, estabeleceu eleições indiretas para os governadores.
Uma parte da doutrina entende que não se trata de uma nova constituição, mas
a grande maioria entende que a Emenda foi apenas uma forma anômala de
outorgar uma constituição, já que o novo texto, inclusive, alterou o nome do
Estado.
 A Constituição sofreu várias Emendas, sendo que a de número 26, de 27 de
novembro de 1985, convocou uma Assembleia Nacional Constituinte, que foi
instalada em 1º de janeiro de 1987.
 
1.2.8 Constituição de 1988
 A nova constituição, promulgada em 05 de outubro de 1988, foi nomeada por
Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, como
“Constituição Cidadã”, pois estabelece uma Nova República, cunhada nos
sonhos democráticos, na consagração das liberdades públicas, nos direitos
sociais e na participação política de toda a sociedade na vida do Estado.
A nova constituição possui nove títulos, consagrando uma extensa declaração
de direitos e garantias fundamentais, um rol de direitos sociais, direitos
políticos, uma ordem econômica e social fundadas nos valores da justiça
social e da função social da propriedade e da primazia do trabalho.
 Inúmeros diretos coletivos e difusos são estabelecidos e mecanismos de sua
proteção são criados.
O Ministério Público passa a ter algumas funções fundamentais na proteção
da ordem democrática, da cidadania e da proteção da lei e da ordem
democrática.
Essa nova Constituição previu um momento de revisão de seus termos, o que
ocorreu em 1993, com seis novas Emendas de Revisão, e pelo Poder
Constituinte Derivado Reformador foi alterada, até o momento por 70
Emendas Constitucionais.
 
1.3 Constitucionalismo
É um movimento social, político e jurídico, cujo principal objetivo é limitar o
poder do Estado por meio de uma constituição.
 
1.3.1 Antecedentes históricos do constitucionalismo
Parte da doutrina reconhece demonstrações de Constitucionalismo na
antiguidade, denominado Constitucionalismo antigo (século V). Karl
Loewenstein reconheceu manifestações Constitucionalistas do povo Hebreu,
na conduta dos profetas – os profetas tinham a função de controlar/fiscalizar
os atos do poder público. Há demonstrações, também na Grécia Antiga,
principalmente em Atenas, da existência de normas superiores, como na ação
chamada “graphe paranomon” que fiscalizava os atos normativos, é o
antecedente mais remoto do controle de constitucionalidade.
Na idade média em 1215 é outorgada a Magna Carta Libertatun do Rei João I
(“João Sem Terra”), que definia uma série de direitos ao povo Inglês. “João
Sem Terra” teve este apelido porque de todos os herdeiros foi o único que não
recebeu uma parcela de terra do seu pai. Foi um tirano, um dos reis que mais
instituiu impostos, contudo foi forçado pelos barões ingleses a assinar tal
documento (na prática o documento não teve grande aplicabilidade, mas
deixou grande legado histórico para as futuras gerações). Foi escrita em latim
propositadamente para que ninguém a compreendesse. É uma constituição
pactuada ou dualista, pois foi fruto de duas forças políticas (Rei da Inglaterra
x Barões Ingleses). Inobstante a ausência de consequências práticas, a Magna
Carta é a origem mais remota do habeas corpus e do devido processo legal. O
habeas corpus não era tratado com esse nome, recebia a nomenclatura de
liberdade de locomoção. O devido processo legal era tratado como a Lei da
Terra, per legem terrae ou “law of the land”.
No século XVII, na Inglaterra, foram editadas leis para concretizar os direitos
originariamente previstos na Magna Carta. Ex: Bill of rights (1689), petition
of rights (1628) e habeas corpus act (1679). Paralelamente também tivemos os
pactos, forais ou cartas de franquias voltadas para proteção dos direitos
individuais.
 Nascimento do constitucionalismo moderno no final do Século XVIII surgiu
a constituição Norte Americana de 1787 e a constituição Francesa de 1791.
Com o advento dessas duas constituições, o constitucionalismo se espalha
pelo mundo ex.: Espanha 1812 (constituição de Cádiz), Portugal 1822 (feita à
revelia do rei, uma vez que ele estava no Brasil), Brasil 1824.
 
1.3.2 Modalidades de constitucionalismo:
a) Constitucionalismo Social – é a previsão constitucional dos direitos sociais
(direitos de segunda dimensão – são aqueles que o Estado tem o dever de
fazer, de agir. Ex: saúde, educação, moradia, alimentação). A primeira
constituição a trazer essa nomenclatura foi a do México em 1917. A segunda e
mais importante, foi a constituição alemã de 1919 (Constituição de Weimar).
No Brasil surgiu na constituição de 1934.
 b) Constitucionalismo do Futuro ou “por vir” – introduzido pelo argentino
José Roberto Dromi – É uma tentativa de prever o constitucionalismo das
próximas gerações. Segundo ele as futuras constituições devem ser pautadas
por alguns valores, tais como: Veracidade – as próximas constituições não
podem fazer promessas irrealizáveis, que seguramente não serão cumpridas.
Solidariedade - trata-se da colaboração recíproca, não só das pessoas, mas
também dos países (solidariedade internacional). Consenso – A constituição
do futuro deve ser fruto de consenso democrático. Continuidade – A
constituição futura não pode deixar de levar em conta os avanços
conquistados. Participação – diz respeito à efetiva participação dos corpos
intermediários da sociedade. Integração – previsão de órgãos supranacionais
para implementar a integração entre os povos. Universalização – Consagração
dos direitos fundamentais internacionais nas constituições futuras. A
constituição de 1988 diz que um dos objetivos da república é construir uma
sociedade solidária. Por essa razão, Carlos Ayres Brito defende que o direito
constitucional brasileiro é traduzido por um constitucionalismo solidário,
previsto no art. 3º da CF:
 “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;”
c) Transconstitucionalismo – foi criada por Marcelo Neves e segundo ele é a
relação entre o direito interno e o direito internacional para melhor tutela dos
direitos fundamentais. Ex.: o princípio pelo qual ninguém será obrigado a
produzir prova contra si mesmo não está expressamente contido na
constituição de 1988, mas está expresso no art. 8º do pacto de San Jose da
Costa Rica. “Nemo tenetur se detegere”. Duplo grau de jurisdição previsto no
Pacto de San Jose da Costa Rica deve ser aplicado até mesmo aos réus que são
julgados em superior instância
d) Constitucionalismo Transnacional – possibilidade de uma criação de uma
só constituição para vários países ex.: na Europa houve uma proposta para
elaboração de uma constituição única, na ocasião, Holanda e França votaram
contra esta elaboração.
e) Constitucionalismo Whig ou Termidoriano: é aquele que defende mudanças
constitucionais mais lentas e historicamente graduais. Termidoriano é
expressão originária da revolução francesa, o ano termidor que foi o ano da
calmaria, após severas batalhas sangrentas. Whig, por sua vez, era um partido
conservador inglês.
f) Neoconstitucionalismo: surgiu após a segunda guerra mundial (marco
histórico), segundo o pós-positivismo (marco filosófico), tendo como marco
teórico a força normativa da constituição e como principal objetivo buscar
maior eficácia da constituição – impor deveres e alterar a realidade –,
principalmente dos direitos fundamentais.
 
1.3.2.1 Consequências práticas do Neoconstitucionalismo:
- Maior importância dos princípios constitucionais;
- Aumento da jurisdição constitucional;
- Surgimento da hermenêutica constitucional – a ciência da interpretação da
constituição;
- Aumento da eficácia dos direitos fundamentais; ex.: direitos sociais,
mandado de injunção;
- Maior ativismo jurisdicional.
 
1.3.3 Constitucionalismo no Brasil
A evolução histórica do constitucionalismo no Brasil coincide com as
transformações substanciais e históricas do próprio Estado, o que nos permite
dizer que o constitucionalismo no Brasil pode ser dividido em seis fases.
Primeira fase – Império. Constituição de 1824 previa a existência de um Poder
Moderador, tal poder poderia ser utilizado como forma de limitação do Poder.
Segunda fase – República. Constituição de 1891. Previsão da concessão de
habeas corpus e controle de constitucionalidade.
Terceira fase - Constituição de 1937. Autoritatismo. Período em que se
desenvolvem as ideias contrárias a um constitucionalismo.
Quarta fase - Constituições de 1946. Foi caracterizada pela diversidade e
pluralismo no tocante à Assembleia Constituinte, valorizou o trabalho e a livre
iniciativa. Adotou o bicameralismo. Surgem então os primórdios do postulado
da justiça social e o aparecimento das linhas iniciais do Estado de Direito
Social.
Quinta fase - Constituição de 1967. Perda de força do constitucionalismo, pois
tal constituição conduziu ao fortalecimento do Poder Executivo, sobretudo,
por propiciar mecanismo mais célere de elaboração legislativa, tornando a
função do Congresso Nacional secundária.
A Constituição de 1988 - No que se refere à Constituição de 1988, destaque-se
a influência direta no seu texto, do jurista português J. J. Gomes Canotilho. Na
atual Constituição é clara a consagração de novo Estado Social de Direito, não
mais admite a edição de decretos-leis pelo Presidente da República, etc.

Com base no critério da estabilidade, a Constituição Federal de 1988 pode ser


classificada como:

A histórica, pois resulta da gradual evolução das tradições, consolidadas como


normas fundamentais de organização do Estado.

B cesarista, pois foi formada com base em um plebiscito a respeito de um


projeto elaborado pela autoridade máxima da República.
C flexível, por admitir modificações em seu texto por iniciativa de membros
do Congresso Nacional e pelo Presidente da República.

D semirrígida, por comportar modificações de seu conteúdo, exceto com


relação às cláusulas pétreas.

E rígida, pois só é alterável mediante a observância de processos mais


rigorosos e complexos do que os vistos na elaboração de leis comuns.

A resposta correta é: E.

Hans Kelsen sempre defendeu que o estudo dos fatores sociais em uma dada
sociedade não compete ao jurista e que a Constituição é considerada norma
pura, puro dever-ser. Com base na classificação das constituições, é correto
afirmar que Hans Kelsen está associado à teoria da constituição em seu
sentido:

A político.

B jurídico.

C sociológico.

D dogmático.

E literal.

A resposta correta é: B.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF) caracteriza-se


por ser:

A rígida e material.

B formal e outorgada.

C escrita e rígida.

D flexível e escrita.

E promulgada e semirrígida.

A resposta correta é: C.

A Constituição que é votada por uma Assembleia composta de representantes


do povo e que admite ser modificada, exigindo, porém, um processo
legislativo mais solene e dificultoso do que aquele seguido para a edição de
leis ordinárias é chamada de:

A Constituição promulgada e rígida.

B Constituição flexível e dogmática.

C Constituição dogmática e semirrígida.

D Constituição promulgada e semirrígida.

E Constituição outorgada e rígida.

A resposta correta é: A.

O Constitucionalismo do Estado Novo, no Brasil, apresentou como


características:

A Uma Constituição autoritária, outorgada em 1934, que dava ao Presidente


da República poderes de expedir decretos-leis sem a devida análise pelo
Congresso Nacional.

B A outorga de uma Constituição, em 1937, que dava amplos poderes ao


Presidente da República para fechar ou manter sem funcionamento o
Congresso Nacional e pela via dos decretos-leis, governar como única fonte
de poder legislativo.

C A outorga de uma Constituição, em 1941, que acabou por capitular direitos


aos trabalhadores e às mulheres pela primeira vez na história constitucional
brasileira.

D A promulgação de uma Constituição, em 1937, que dava ao Presidente da


República poderes para decretar intervenção federal em todos os estados da
federação.

E A ausência de uma Constituição por quatro anos, tendo em vista que, em


função dele, houve, em São Paulo, uma Revolução Constitucionalista que
lutava justamente pela elaboração de um novo texto constitucional.

A resposta correta é: B.

Sobre a evolução histórica do constitucionalismo no Brasil, é INCORRETO


afirmar:

A A Constituição de 1891 estabeleceu, pela primeira vez na história


constitucional do Brasil, a possibilidade de intervenção federal nos Estados.
B A Constituição de 1934 assegurou o direito de voto às mulheres.

C A Constituição de 1946 vedou a organização, o registro ou o funcionamento


de qualquer partido político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o
regime democrático.

D De acordo com a Constituição de 1967, a administração pública federal era


representada em juízo pela Consultoria Geral da União.

E Nenhuma das anteriores.

A resposta correta é: D.

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