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DIREITO CONSTITUCIONAL - Profª Flavia Bahia


Aula 1 de Direito Material

ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada no dia 5 de outubro


de 1988 e é dividida em 3 (três) partes: Preâmbulo, corpo fixo (ou parte dogmática) e o Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).

Para o STF (ADI 2076), o preâmbulo é desprovido de normatividade, não serve de


parâmetro de controle de constitucionalidade das leis, tampouco é de reprodução
obrigatória nas Constituições Estaduais e funciona, apenas, como fonte de interpretação.

Não há hierarquia entre as normas do corpo fixo e as do ADCT e ambas servem, em


regra, como parâmetro de controle de constitucionalidade.

As normas constitucionais (corpo fixo e ADCT) são divididas em originárias e


derivadas. As originárias foram promulgadas no dia 5.10.88 e são presumidas
absolutamente constitucionais; as derivadas foram inseridas ao texto por meio das Emendas
e gozam de presunção relativa de constitucionalidade, ou seja, estão sujeitas ao controle de
constitucionalidade.

CONCEPÇÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO

A Constituição, lei fundamental que é, coração de todo o ordenamento jurídico, tem


como papel mais importante o de caracterizar as singularidades de um país, reunindo as
suas principais feições, como por exemplo: a sua forma de Estado e de Governo, a
organização dos poderes do Estado, os direitos e garantias fundamentais que devem ser
protegidos ao seu povo ou até mesmo as metas que devem ser cumpridas pelos
governantes.1 É conhecendo a Constituição de um Estado que aprendemos um pouco
mais sobre os seus costumes, política e a sua própria história.

O verdadeiro sentido ou concepção de uma “Constituição” sempre despertou


muitas controvérsias e, na realidade, não temos uma única teoria chave, servindo as
premissas a seguir apresentadas como fonte de maior destaque sobre o tema que ainda
gera muitos debates.

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Numa Constituição dirigente como a nossa, essas normas se fazem muito presentes.

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Sentidos/Concepções
SOCIOLÓGICO Segundo Ferdinand Lassale, a Constituição seria resultado dos fatores
reais do poder. Em sua obra Qué es una Constitución?, traduzida como
A Essência da Constituição,2 Lassale defende que a Constituição é a
realidade, o somatório dos fatores econômicos, culturais, sociais e
políticos de uma sociedade e se não obedecesse a esses fatores não
passaria de uma mera folha de papel.
É uma visão mais marxista e social da concepção de Constituição. É como
se uma Constituição que não traduzisse exatamente o que está na
sociedade, não seria uma Constituição, não passaria de uma mera folha
de papel!

POLÍTICO De acordo com Carl Schmitt, em sua obra Teoria de la Constitución,3 a


Constituição seria uma decisão política fundamental, que comporta
matérias como a estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, entre
outras. O referido autor distingue Constituição (decisão política
fundamental) das leis constitucionais, que seriam os demais dispositivos
do texto constitucional não relacionados a esse tema. Com base nesse
conceito se visualiza normas materialmente constitucionais e
formalmente constitucionais.
As normas materialmente constitucionais seriam aquelas que não
poderiam deixar de estar presentes em um texto constitucional (a
estrutura principal do país) e as demais seriam intituladas de leis
constitucionais. O jurista alemão faz uma separação cartesiana: a
Constituição é a norma hierárquica fundamental e as outras leis
constitucionais estão subordinadas a ela pela matéria. Se a norma trata
de conteúdo político essencial é Constituição, se não, é lei constitucional.

2
LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
3
SCHMITT, Carl. Teoria de la Constitución. Madrid: Alianza Editorial, 1992.

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JURÍDICO- Segundo a teoria positivista de Hans Kelsen, o fundamento do Direito
NORMATIVO não é transcendental ao homem e à sociedade, mas se encontra no
(POSITIVISTA) pressuposto lógico (a norma fundamental) de que as leis são válidas e
que devem ser obedecidas, quando forem editadas segundo um
processo regular, (isto é, organizadas por regras aceitas pela
comunidade) e pela autoridade competente, legitimada de acordo com
princípios também anteriormente estabelecidos e aceitos. É a explicação
formal da validade do direito.
No início do século XX, Kelsen relata em sua famosa obra Teoria Pura do
Direito,4 uma concepção de ciência jurídica com a qual se pretendia
finalmente ter alcançado, no Direito, os ideais de toda a ciência:
objetividade e exatidão.
Essa concepção, que acaba retratando a supremacia formal da
Constituição e que sempre foi de extrema importância para a ciência do
direito, hoje é analisada à luz da abertura das Constituições pós-guerra
aos princípios, pois é inegável que os valores, a moral e a ética são
também importantes para a análise e compreensão do Direito.
CULTURALISTA De acordo com a concepção culturalista, a Constituição encerra um
“conjunto de normas fundamentais condicionadas pela cultura total, e ao
mesmo tempo, condicionante desta, emanadas da vontade existencial da
unidade política, e reguladora da existência, estrutura e fins do Estado e
do modo de exercício e limites do poder político”. Com isso, a
Constituição atua também como elemento conformador do sentido de
alguns aspectos dessa cultura.5

4
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 5. ed. Trad. João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes,
1996.
5
TEIXEIRA, J. H. Meirelles. Curso de Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.

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Material de Jurisprudência da Aula 1 de Direito Material

Não apenas o Estado haverá de ser convocado para formular as políticas públicas que podem
conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a sociedade haverá de se organizar
segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma comunidade fraterna, pluralista e
sem preconceitos (...). E, referindo-se, expressamente, ao Preâmbulo da Constituição
brasileira de 1988, escolia José Afonso da Silva que "O Estado Democrático de Direito
destina-se a assegurar o exercício de determinados valores supremos. ‘Assegurar’, tem, no
contexto, função de garantia dogmático-constitucional; não, porém, de garantia dos valores
abstratamente considerados, mas do seu ‘exercício’. Este signo desempenha, aí, função
pragmática, porque, com o objetivo de ‘assegurar’, tem o efeito imediato de prescrever ao
Estado uma ação em favor da efetiva realização dos ditos valores em direção (função diretiva)
de destinatários das normas constitucionais que dão a esses valores conteúdo específico" (...).
Na esteira destes valores supremos explicitados no Preâmbulo da Constituição brasileira de
1988 é que se afirma, nas normas constitucionais vigentes, o princípio jurídico da
solidariedade. [ADI 2.649, voto da rel. min. Cármen Lúcia, j. 8-5-2008, P, DJE de 17-10-2008.]

Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não
se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força
normativa. [ADI 2.076, rel. min. Carlos Velloso, j. 15-8-2002, P, DJ de 8-8-2003.]

(...) o alcance de normas constitucionais transitórias há de ser demarcado pela medida da


estrita necessidade do período de transição, que visem a reger, de tal modo a que, tão cedo
quanto possível, possa ter aplicação a disciplina constitucional permanente da matéria (...).
[ADI 644 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 4-12-1991, P, DJ de 21-2-1992.]

Os postulados que informam a teoria do ordenamento jurídico e que lhe dão o necessário
substrato doutrinário assentam-se na premissa fundamental de que o sistema de direito
positivo, além de caracterizar uma unidade institucional, constitui um complexo de normas
que devem manter entre si um vínculo de essencial coerência. O Ato das Disposições
Transitórias, promulgado em 1988 pelo legislador constituinte, qualifica-se, juridicamente,
como um estatuto de índole constitucional. A estrutura normativa que nele se acha
consubstanciada ostenta, em consequência, a rigidez peculiar às regras inscritas no texto
básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o reconhecimento de que inexistem,
entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constantes da Carta Política, quaisquer
desníveis ou desigualdades quanto à intensidade de sua eficácia ou à prevalência de sua
autoridade. Situam-se, ambos, no mais elevado grau de positividade jurídica, impondo-se, no
plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à observância

1
compulsória de todos, especialmente dos órgãos que integram o aparelho de Estado. [RE
160.486, rel. min. Celso de Mello, j. 11-10-1994, 1ª T, DJ de 9-6-1995.]

2
Estrutura da constitução
e poder reformador Não há hierarquia entre as

normas do corpo fixo e ADCT.

O poder reformador é

responsável pelas alterações


O C󰈮󰈤󰉚ÇÃO 󰈣󰉋P󰈤󰉈󰈟EN󰈜󰉝
CORPO FIXO
formais na constituição e

preâmbulo A 󰈾M󰈪󰈭󰈣TÂ󰈰󰉎I󰉝 D󰉚
NÃO HÁ HIERARQUIA
enfrenta vários limites:

CO󰈰󰈟T󰈾󰈜󰈓IÇÃ󰈮 P󰉚󰈤A
Circunstanciais -> 60, § 1º
O P󰉝Í󰈠
Formais -> 60, i, ii, iii, § 2º, §3º, §5º

Materiais -> 60, §4º


não serve como
parâmetro de
desprovido de controle de
normatividade constitucionalidade

ADCT
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Direito Constitucional
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Material de Questão da Aula 1 de Direito Material

Como se sabe, a Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em outubro


de 1988 e é dividida em três partes: Preâmbulo, corpo fixo (ou parte dogmática) e o Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
Sobre o tema, responda: Há hierarquia entre as normas do corpo fixo e as elencadas no
ADCT? Explique.

Resposta:
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Gabarito comentado

Deve ser respondido que não há hierarquia entre as normas do corpo fixo da Constituição
Federal de 1988 e as elencadas no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e,
inclusive, todas elas, em regra, servem como parâmetro de controle de constitucionalidade.

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