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Prof.Dr.

Walter Amaro Baldi


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1 ORIGEM DO TERMO CONSTITUIÇÃO

- A palavra constituição vem do latim “constitutio” e ou “constituere”


que traduz a ideia de um todo formado, estruturado e ordenado.

- Em termos jurídico-políticos a constituição traduz a ideia de Lei


Fundamental do Estado.

- A palavra constituição vai revelar o modo pelo qual uma sociedade


se estrutura.
2 CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO
- É a Lei Fundamental de Organização do Estado,ao estruturar e delimitar os
poderes.
- É a organização político-jurídica fundamental do Estado concernente a um
conjunto de normas relativas á forma de Estado e de Governo,bem como o
modo de aquisição e exercício do poder.
- Conjunto de normas jurídicas que tem por fim limitar a autoridade política do
Estado e dar garantias ao indivíduo como membro da sociedade.
- Conjunto de normas superiores que estabelece direitos,deveres e garantias
fundamentais das pessoas.
2 CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO

- Código político que traz as normas que definem e organizam os podres do


Estado soberano.

- Conjunto sistemáticos de dispositivos jurídicos que determinam a forma de


governo, institui os poderes públicos, regulando suas funções, assegurando
seus direitos e deveres essenciais e fundamentais das pessoas.
3 CARACTERÍSTICAS DA CONSTITUIÇÃO

- Lei fundamental e suprema do Estado.


- Particular maneira de ser de um Estado.
- Estabelece a estrutura do Estado e a formação dos poderes.
- Declara os direitos e garantias fundamentais.
- Disciplina o modo de aquisição e exercício do poder.
- traduz uma pluralidade de acepções.
4 FUNÇÕES DA CONSTITUIÇÃO

- Revelação de consensos fundamentais.


- Ordenação, estabilização e unidade.
- Legitimação do poder e da ordem pública.
- Proteção e garantia de direitos.
- Organização e limitação do poder político.
- Fundamentação da ordem jurídica da sociedade.
5 CONSTITUIÇÃO E CARTA CONSTITUCIONAL

a) Constituição deriva de um ato democrática,traduzido numa promulgação.


- Considera-se constituições promulgadas os textos de 1891,1934,1946 e
1988.

b) Carta Constitucional deriva de um ato arbitrário e autoritário,traduzido


numa outorga.
- Considera-se constituições outorgadas os textos de 1824,1937,1967,1969.
6 SENTIDOS TRADICIONAIS DE CONSTITUIÇÃO

6.1 Constituição em Sentido Sociológica


Teoria criada por Ferdinand Lassalle, na qual a constituição deve representar a soma dos
fatores reais do poder que nele atuam. Segundo esse autor, a constituição é concebida
como fato social e não como norma. Portanto, a constituição escrita (“folha de papel”) seria
válida se correspondesse à constituição real, ou seja, a que diz respeito aos fatores reais do
poder. Ele dissocia, assim, a constituição jurídica, pautada no dever-ser (de Hans Kelsen) da
constituição real, que se situa no plano do ser.

6.2 Constituição em sentido Político


Teoria criada por Carl Schmitt, na qual a constituição é uma decisão política fundamental.
Segundo esse autor, a decisão política é quem dá existência à constituição, da qual é gerada
de um ato constituinte, fruto de uma vontade política fundamental. Ele estabeleceu uma
importante diferença entre constituição e leis constitucionais, na qual a constituição seria a
disposição acerca das decisões políticas fundamentais, tais como a forma de Estado e de
governo, o sistema de governo, a estrutura do Estado, direitos fundamentais, entre outros. As
demais disposições seriam apenas leis constitucionais.
6.3 CONCEPÇÃO JURÍDICA - HANS KELSEN

Teoria criada por Hans Kelsen, denominada Teoria Pura do Direito, segundo a qual a
Constituição seria uma norma pura, suprema e positivada de cumprimento obrigatório.
Conforme esse autor, ainda, a constituição, enquanto norma, situa-se no plano do dever-
ser.

Importante referir também que Kelsen desmembrou essa teoria em duas, quais sejam,
constituição em sentido lógico-jurídico (na qual a constituição é entendida como norma
fundamental hipotética, de imposição obrigatória) e constituição em sentido jurídico-
positivo ( a constituição como norma suprema a regular a criação de outras
normas).Passou-se a considerar a Constituição não como apenas uma lei limitadora e
organizativa, mas como a própria fonte de eficácia de todas as leis de um Estado.
6.4 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO CULTURAL

No sentido culturalista, encontra-se o conceito de constituição total, representando,


entre outros, os aspectos jurídicos, sociológicos e filosóficos. Segundo essa teoria, a
constituição deve ser percebida como realidade social, decisão política fundamental
e norma suprema positivada, ou seja, abarca todas as anteriores teorias. No Brasil
seus propulsores foram Konrad Hesse, Peter Haberle e Paulo Bonavides.

A Constituição é fruto da cultura existente dentro de determinado contexto histórico, em


uma determinada sociedade, e ao mesmo tempo, é condicionante dessa mesma cultura,
pois o direito é fruto da atividade humana.
6.5 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL

A constituição material diz respeito a todas as regras estruturais de uma sociedade,


independentemente da forma legislativa em que são materializadas no ordenamento jurídico.
Constituição material Conjunto de regras materialmente constitucionais que estejam ou não
codificadas em um único documento, pode existir de forma escrita ou costumeira.

6.6 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO FORMAL

A constituição formal refere-se a toda a matéria tratada pelo legislador constituinte original e


estabelecida na constituição, independentemente do seu conteúdo. Dessa forma, mesmo
não se tratando de regra de organização do Estado ou de direito fundamental, se estiver no
texto da constituição, o preceito será formalmente constitucional.
Constituição formal Consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene
estabelecido pelo poder constituinte originário.
6.7 OUTROS SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO

Pensadores como Ferdinand Lassalle, Konrad Hesse, Robert Alexy Juan Bautista
Alberdi e Ronald Dworkin contribuíram sobremaneira para definir a real função da
Constituição. Esta norma, superior a todas, não teria apenas a função de garantir a
existência e limites do Estado.

Ao invés de apenas ter um caráter negativo em relação ao exercício dos direitos das
pessoas, a Constituição deve prever os Direitos Fundamentais inerentes a cada pessoa,
e prever modos de garantir a eficácia dos mesmos, de modo que o Estado não apenas
se negue a prejudicar as pessoas, mas sim cumpra aquela que é sua função precípua a
promoção da dignidade da pessoa humana.
SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO

SOCIÓLOGO POLÍTICO JURÍDICO CULTURAL

Ferdinand Lassalle Carl Schimitt Hans Kelsen Konrad Hess

Soma dos Fatores Decisão Política Norma Pura, Suprema e Fruto da Cultura
Reais do Poder Fundamental Positivada Existente
Fruto da Atividade
Humana
7 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

7.1 Quanto à Origem


a) Constituições Históricas: São aquelas que provém da lenta evolução dos
valores do povo,em determinada sociedade,resultando em normas escritas (leis) e
não escritas (usos e costumes).Ex:Constituição Inglesa

b) Constituições Promulgadas: São aquelas elaboradas por um órgão constituinte


composto por representantes legitimamente eleitos pelo povo e que se originam da
participação popular,sendo também chamadas de populares ou
votadas .Ex:1891,1934,1946 e 1988.

c) Constituições Outorgadas: são aquelas elaboradas sem a participação de


representantes legitimamente eleitos pelo povo e que se originam sem a
participação do popular.Ex:1824,1937,1967,1969.
7.1 QUANTO À ORIGEM

d) Constituições Pactuadas: originam-se mediante pacto entre o soberano e


a organização nacional. Ex: A Magna Carta de 1215.

e) Constituição Cesarista: Origina-se da participação popular através de


plebiscito ou referendo.A participação popular visa apenas ratificar a vontade
do detentor do poder. Ex:Cartas Pebliscitárias do Chile e as Constituições
bonapartistas. Ex: Textos Constitucionais Referendados de New Hampshire de
1784 e de Massachusetts de 1780.
7.2 QUANTO À ESSÊNCIA

a) Constituições Normativas: São aquelas válidas juridicamente e adaptadas


ao fato social e em consonância com o processo político.

b) Constituições Semânticas: Trata-se de um documento formal criado para


beneficiar os detentores do poder que dispõem de meios para coagir os
governados.Encontram-se submetidas ao político prevalecente.Ex:
Constituições Brasileiras de 1937,1967 e 1969.

c) Constituições Nominais: São aquelas em que a dinâmica do processo


político não se adapta às suas normas.Seriam constituições prospectivas
voltadas para um dia serem realizadas na prática.Ex:Constituições Brasileiras
de 1891,1934,1946 e 1988.
7.3 QUANTO A FORMA

a) Constituições Escritas: São aquelas formalizadas por um conjunto de


normas sistematizadas e organizadas em um único documento legal ou vários
documentos legais de natureza constitucional.Ex:Constituição
Brasileira,Portuguesa e Espanhola.

b) Constituições Não Escrita ou Costumeira: São aquelas formadas por


textos esparsos reconhecidos pela sociedade como fundamentais,baseados
nos usos,costumes,jurisprudências e convenções.Ex:Constituição da
Inglaterra.
7.4 QUANTO A SISTEMATIZAÇÃO

a) Constituições Unitárias ou Codificadas: São aquelas que estão inseridas


em um único e exclusivo texto base,sendo articulado por normas dispostas de
maneira ordenada,geralmente divididas em partes,títulos,capítulos e seções.

b) Constituições Variadas ou Legais: São aquelas integradas por diversos


documentos distintos que se agrupam sob o espírito de normas
constitucionais.
7.5 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO

a) Dogmáticas ou Sistemáticas: São aquelas que resultam da aplicação de


princípios (dogmas) que fixam a organização fundamental do Estado e são
elaboradas por um órgão constituinte que incorpora os valores políticos e
ideológicos predominantes em determinado período histórico.Ex:Constituições
escritas.

b) Constituições Históricas: Constituem-se através de um lento e contínuo


processo de formação e evolução dos valores do povo e da
sociedade,resultando de normas oriundas basicamente da jurisprudência e dos
Costumes.Ex:Constituições não escritas.
7.6 QUANTO A MUTABILIDADE OU AO PROCESSO DE MUDANÇA

a) Constituições Rígidas: São aquelas em que as normas constitucionais


somente poderão ser alteradas mediante processo especial e
qualificado,sendo mais rigoroso que as demais normas infraconstitucionais.

b) Constituições Flexíveis ou Plásticas: São aquelas em que as normas


constitucionais são passíveis de modificações pelo processo legislativo
comum.
7.6 QUANTO A MUTABILIDADE OU AO PROCESSO DE MUDANÇA

c) Constituições Semi-rígida ou Semi-flexível: São aquelas em que as


normas constitucionais poderão ser alteradas em parte pelo processo
legislativo comum e outra pelo processo legislativo especial.

d) Constituições Super-rígidas: São aquelas em que as normas


constitucionais são inalteráveis,pois pretendem ser eternas. Ex:Cláusulas
Pétreas.
7.7 QUANTO AO CONTEÚDO

a) Constituições Materiais: Consiste no conjunto de normas escritas ou


costumeiras que incorporam os valores socias, políticos,econômicos,religiosos
e ideológicos que configuram determinada sociedade.

b) Constituições Formais: Consiste no conjunto de normas jurídicas


elaboradas de maneira especial e solene por um poder constituinte.
7.8 QUANTO À EXTENSÃO

a) Constituições Sintéticas ou Concisas: São compactas e enxutas e


abordam apenas os princípios fundamentais e estruturais do
Estado.Ex:Constituição dos Estados Unidos da América de 1787 e a do Brasil
de 1891.

b) Constituições Analíticas ou Longas: São amplas e detalhistas e abordam


todos os assuntos que entendem fundamentais,estabelecendo regras que
deveriam estar em leis infraconstitucionais.Ex:Constituição Portuguesa de
1976 e Constituição Brasileira de 1988.
7.9 QUANTO À IDEOLOGIA

a) Constituições Ortodoxas: São aquelas elaboradas e influenciadas com


base em uma única corrente ideológica.Ex:Constituições soviéticas de
1923,1936 e 1977.

b) Constituições ecléticas: São aquelas elaboradas e influenciadas por


diversas correntes ideológicas,resultando em uma fórmula de compromisso
entre as forças políticas da época.Ex:Constituição portuguesa de 1976 e a
Constituição Brasileira de 1988.
7.10 Quanto ao Modelo ou Finalidade

a) Constituições-garantias: São aquelas do tipo clássico que asseguram as


liberdades individuais e coletivas e limitam o poder do Estado. Ex: Constituição
Americana.

b) Constituições-balanço: São aquelas que meramente descrevem e


sistematizam a organização política do Estado, refletindo as relações de poder no
Estado, sendo revisada a cada novo estágio no rumo da construção do comunismo.
Ex: Modelo adotado pelos juristas Soviéticos.

c) Constituições-dirigentes: São aquelas que estabelecem diretrizes para o


exercício do poder, de forma a atingir objetivos políticos, sociais e econômicos e que
contém normas programáticas. Ex: Constituição Brasileira de 1988 e Constituição
Portuguesa de 1976.
TIPOLOGIA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988
Origem Democrática

Essência Nominal

Forma Escrita

Sistematização Unitária

Elaboração Dogmática

Mutabilidade ou Processo de Mudança Rígida e Super Rígida

Conteúdo Formal

Extensão Analítica

Ideologia Eclética

Modelo ou Finalidade Dirigente


9 ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO

9.1. Elementos Orgânicos


- São normas constitucionais que regulam a estrutura e o funcionamento do Estado e o
exercício do poder.Ex:Título III - Da Organização do Estado, Título IV - Da Organização do
Poder e do Sistema de Governo,Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições
Democráticas - Capítulo II - Das Forças Armadas e Capítulo III - Da Segurança pública e Título
VI - Da Tributação e Orçamento.

9.2. Elementos Limitativos


- São normas constitucionais que delimitam a atuação do Estado e asseguram proteção aos
Direitos Fundamentais dos Indivíduos .Ex: Título II - Dos Direitos e garantias Fundamentais -
Capítulo I - Direitos individuais e coletivos,Capítulo III - Da Nacionalidade,Capítulo IV - Dos
Direitos políticos e Capítulo V - Dos partidos políticos.
9.3 Elementos Socioideológicos
- São normas constitucionais que equilibram a extensão dos Direitos
Individuais com os Direitos da Coletividade, por meio da ação Intervencionista
do Estado, assegurando proteção a grupos minoritários.
Ex: Titulo VII - Da Ordem Econômica e Financeira e Título VIII - Da Ordem
Social.

9.4 Elementos de Estabilização Constitucional


- São normas que preveem a solução de conflitos constitucionais, a defesa do
Estado, das instituições e da própria Constituição.
Ex: Controle de Constitucionalidade, Intervenção Federal e estadual, Estado
de Defesa e Estado de Sítio e Processo Legislativo.
9.5 Elementos Formais de Aplicabilidade

- São normas que estabelecem regras de aplicação da Constituição.


EX: Preâmbulo, Disposições Constitucionais Transitória, Direitos e Garantias
Fundamentais - Art.5º,§1º da CRFB/88.
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Normas que regulam a estrutura e o Título III - Da Organização do Estado,
funcionamento do Estado e o Título IV - Da Organização do Poder e do
exercício do poder. Sistema de Governo
Elementos Orgânicos
Normas que organizam o Estado e os Título V - Da Defesa do Estado e das
Poderes Constituídos. Instituições Democráticas
Título VI - Da Tributação e Orçamento.

Normas que delimitam a atuação do Título II - Dos Direitos e garantias


Estado e asseguram proteção aos Fundamentais:
Direitos Fundamentais .
Elementos Limitativos
Normas que limitam o poder do Capítulo I - Direitos individuais e
Estado e asseguram direitos e coletivos,Capítulo III - Da Nacionalidade,
garantias fundamentais. Capítulo IV - Dos Direitos políticos
Capítulo V - Dos partidos políticos.
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Normas que equilibram a extensão Título VII - Da Ordem Econômica e
dos Direitos Individuais com os Financeira
Direitos da Coletividade,assegurando
proteção a grupos minoritários.
Elementos Socioideológicos

Princípios da ordem econômica e Título VIII - Da Ordem Social.


social.

Normas que prevêem a solução de Controle de constitucionalidade


Elementos de Estabilização conflitos constitucionais, a defesa do
Constitucional Estado, das instituições e da própria Solução de conflitos constitucionais.
constituição.

Preâmbulo da Constituição.
Elementos Formais de Normas que estabelecem regras de Disposições Constitucionais transitória
aplicação da constituição. - ADCT.
Aplicabilidade
Direitos e Garantias Fundamentais.
10 REFERÊNCIAS

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.24.ed.São Paulo:Saraiva.2019.

BULOS, Uiadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 19.ed. São Paulo:Saraiva,2019.

MORAES, Alexandre de. Curso de Direito Constitucional. 35.ed.São Paulo:Atlas,2019.

INGO, Wofgang Sarlet. Curso de Direito Constitucional. 8.ed.São Paulo: Saraiva


Educação,2019.

TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 17.ed.São Paulo:Saraiva,2019.

SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 42.ed.São Paulo:


Malheiros,2019.

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