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A ordem jurídica corresponde a um sistema, um conjunto de comandos
normativos que é ordenado segundo os parâmetros lógicos. Esses parâmetros
permitem que ele seja compreensível do exterior, como um todo.
Sistema Jurídico
- Compõe-se em várias áreas ou subsistemas (tese defendida por Canaris no
livro “O pensamento sistemático da ciência do direito”).
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relevantes aos interesses dos particulares – por ex: os direitos fundamentais
podem ser invocados por particulares.
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A distinção entre Dto. Público e Dto. Privado, tal como é
tradicionalmente construída, não incide sobre regulações concretas e
parcelares, mas antes sobre aquilo que se convencionou designar pela
expressão “ramos do direito”.
Incidindo sobre “ramos do direito”, a distinção acaba por separar o
Direito Público do Direito Privado, consoante os interesses dominantemente
tutelados, consoante a natureza pública ou privada tida e assumida pelos
intervenientes e consoante a relação de paridade ou de autoridade em que se
desenvolvem.
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Finalmente, os bens são o terceiro ponto de partida do Direito. Os bens
são tudo aquilo que não seja pessoa e que seja hábil para satisfazer as
necessidades e apetências das mesmas. Os bens, como se sabe, são sempre
escassos. As pessoas raramente se satisfazem com o que têm e criam sempre
novas necessidades e apetências para a satisfação das quais os meios são
fatalmente escassos. Uma sociedade duradouramente saciada é uma utopia.
Por isso, os bens aptos para satisfazer as necessidades e apetências das
pessoas são causa de contacto social e fonte de conflitos.
Para além das pessoas, das ações e dos bens, como pontos de partida
do Direito, o Dto. Civil enquadra ainda no seu âmbito, institutos, figuras e
processos do exercício jurídico que são comuns a todos os sub-ramos
especiais. O Direito Civil é, assim, o direito comum do Direito Privado.
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25/09/2019
Direito privado
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No 2º os interesses perseguidos são os interesses dos trabalhadores,
dos empregadores, das associações sindicais. é fácil de separar a posição dos
entes, c base nestes interesses o D. do trabalho regula o contrato de trabalho,
os fenómenos de natureza coletiva sindicatos... sendo por isso identificável
como diferente do direito comum/ civil.
Esta distinção pode ser feita através do Código Civil, uma vez que, a
teoria geral é um dos livros do código. Nesta cadeira vamos ocupar-nos da
parte geral, os outros livros serão desenvolvidos noutras cadeiras do curso. O
Código Civil português é baseado no Código Civil alemão e foi aí que fomos
buscar esta divisão. A ideia em estabelecer uma parte geral surge, em primeiro
lugar, para que se possam definir princípios, normas, conceitos, que podem
depois ser aplicados às partes especiais.
Em primeiro, aparece a matéria das pessoas (segunda parte do nosso
estudo) – quem são os sujeitos de uma relação jurídica. Depois, ocupa-se das
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coisas e depois da dinâmica como se formaram as situações jurídicas- negócio
jurídico. A parte geral tem ainda um outro ponto, o da tutela dos direitos – o
exercício ou tutela jurídicos (a nossa quarta parte).
A parte geral ocupa-se ainda de duas outras coisas: uma delas é a dos
direitos de personalidade (art. 70 e ss do CC). Ocula-se ainda da lei aplicável a
situações que envolvam sujeitos de vários regimes jurídicos, que será tratada
em Direito Internacional Privado.
30/09/2019
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Influencia toda a civilização ocidental. Esta influência perdura mt para
alem da queda o império, perdura até aos dias de hoje.
“O nome da rosa”
3 Grandes conceitos:
-o homem;
- o que tem;
- o que pode fazer;
Esta sistematização central é muito mais sistemática e perfeita do poto
de vista da observação
Os p1ºs códigos civis são o produto desta sistemática racionalista. Estes
só surgem no sec. XIX o primeiro e de Napoleão, e são produto desta
sistemática, é compilado, não tem nenhuma ordem.
O nosso primeiro código civil é o chamado código Seabra.
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Apendetistica – estudo dos textos legais romanos e influenciou a
sistematização do código civil alemão e depois o português.
2/10/2019
A partir do séc. XVI começa também a surgir a ciência jurídica civil. Esta
evolução traduz-se sobretudo na codificação do Direito Civil. O D. Civil é um
ramo do direito codificado. Esta evolução justifica porque é que, apesar da sua
base românica, só muito mais tarde surge a codificação. O produto mais
acabado da 3ª sistemática é o BGB, o Código Civil alemão, o livro de leis do
burgo.
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gerais. Esta passa por conceitos aglutinadores, deduções lógicas, etc. Por
outro lado, normalmente a codificação não é inovadora. Como pressupõe um
trabalho prévio de reflexão, epa pressupõe um esforço já feito de reflexão, de
trabalho sobre conceitos e normas já estabelecidos. Os expoentes máximos da
codificação civilista são o Código de Napoleão, no inicio do séc. XIX e o BGB
no fim do séc. XIX.
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o Código napoleónico, mas pelo que há 100 anos de difereça. Base em 1
conceito basilar para todo o código- conceito de relação jurídica.
Na sua estruturação o BGB tem uma parte geral, e tem depois várias
partes especiais que pretendem decompor o conceito de relação jurídica: as
relações jurídicas familiares (casamento, parentesco) e as relações jurídicas
sucessórias (sucessão). Esta é uma organização de grande apuro técnico,
onde se irão decompor as relações oriundas da parte geral. Esta diferença face
ao código francês justifica que haja hoje duas grandes famílias de direito civil:
napoleónicas e germânicas. Portugal é germânico.
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7/10/2019
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está patente no código civil de 1966. Destacam-se Pires de Lima, Galvão
Teles, etc., que fizeram parte ou que auxiliaram comissões preparatórias,
comissões essas que fizeram vários anteprojetos das diversas partes. Na base
deste código estão algumas críticas feitas ao Código de Seabra, ao longo de
vários anos de aplicação, foi revelado ter várias lacunas, pelo que havia que as
colmatar. Essas lacunas justificaram um alto número de leis avulsas, que se
justificava integrar num único código.
O nosso CC tem um grande mérito no capítulo da técnica jurídica. Com
a arte geral resolve-se uma série de problemas que não são objeto de
tratamento nas partes específicas, e as matérias sã facilmente encontráveis.
Sujeita-se às mesmas críticas do BGB, que elaboramos na aula anterior- parte
geral demasiado teórica, critérios não uniformes de arrumação das matérias,
etc. Por um lado, diz a doutrina que é um Código com muitas definições. O
código tem provado muito bem – é de 1966 e ainda está em vigor -, mas já
teve algumas alterações.
Alterações do CC:
A mais importante foi a que sucedeu ao 25 de Abril, porque o Código
tinha sido pensado à luz de um ideário corporativo. Esta reforma ficou
conhecida por reforma de 1977, e adequou o CC à nova ordem funcional
nalgumas matérias delicadas – igualdade, maioridade ou direito da família.
à Alterou se a idade de maioridade de 21 anos para 18;
à Alterou-se o regime de emancipação;
à Desapareceu a figura do chefe de família;
à Desapareceram as incapacidades da mulher casada;
à Por força do princípio da igualdade desapareceu o conceito de filhos
ilegítimos;
à Foi consagrado o divórcio;
à Foram ainda alterados alguns regimes na matéria das sucessões –
como a mulher poder ser herdeira do marido.
Houve ainda alterações ao CC depois da adesão de Portugal à UE,
sobretudo em normas com incidência financeira – conversão para o euro.
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Apesar da estabilidade, há algumas matérias que são excecionalmente
delicadas, e que foram já alteradas várias vezes ou foram mesmo subtraídas
ao Código para serem postas como diplomas autónomos. Por outro ex., o
contrato promessa foi alvo de muitas alterações, tal como o arrendamento, que
originalmente constava no CC, mas acabou por ser retirado e hoje é tratado
como legislação especial. Outra matéria delicada é a copropriedade, ou
propriedade horizontal, que tem sido alterada e complementada por diplomas
próprios. São ainda alteradas diversas áreas do D. da família (filiação, união de
facto, casamento, divórcio, adoção, etc.). Recorrentemente e fala na reforma
do CC, mas até agora ainda não aconteceu.
Há ainda diversa legislação avulsa. Esta existe no caso do
arrendamento urbano, que tem um regime especial; do arrendamento rural; e
há ainda outro diploma importante, a Li das Clausulas Contratuais Gerais. As
clausulas contratuais gerais têm a ver com a forma de contratação em massa,
em que o contrato é apresentado por uma das partes à outra já todo feito, e a
outra parte que pode vir a assinar sem ter a possibilidade de modificar as
cláusulas.
Temos ainda que contar com a legislação complementar do CC –
diplomas necessários para a aplicação das normas civis. Por exemplo, o
Código de Processo Civil, o Código do Registo Predial, o Código do Notariado,
entre outros.
Por fim, revelam também como fontes importantes do Direito Civil a
Constituição e o D. Europeu em matéria civil, que já não é tão pouco quanto
isso.
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Irei referir outras áreas que distingui muito brevemente na primeira aula.
As áreas mais tradicionais que se concede uma denominação especial do
direito privado são o D. comercial o D. do trabalho, o D. de consumo, e D. de
autor.
à Direito Comercial:
Separa do direito c pq o que releva são interesses privados ligados a
atividade de comercio ou a atividade comercial. Os protagonistas do direito
comercial são os comerciantes e as sociedades comerciais. O D. Comercial foi
a 1ª área jurídica a separar-se do D. civil. Durante muitos seculos o que
imperou foram os usos do comercio. Inicialmente denominado ius mercatorum,
o 1º foi em 1807, por napoleão; o 1º em PT foi em1833 e depois o Código de
Ferreira Borges 1888; código de veiga beirão.
Os interesses fundamentais do D. Comercial são a tutela dos
comerciantes, foi primeiramente o direito dos comerciantes, com o tempo
passou a ser o direito das empresas comerciais uma vez que a certa altura um
comerciante pretende separar a sua vida pessoal da profissional.
Hoje o Direito Comercial é o D. das sociedades comerciais, empresas
comerciais constituídas sobre forma de sociedade com o objetivo comercial e
adotando uma das modalidades previstas na lei. Hoje o sistema é bastante
complexo, abrange o código comercial e tbm um código das sociedades
comerciais (especial); matéria da concorrência entre as empresas; propriedade
industrial; direito bancário e financeiro; direito dos seguros. Hoje em dia os
usos comerciais são quase todos escritos apesar de algumas exceções.
à Direito do Trabalho:
Ocupa se de 2 tipos de situações: individuais, o empregador, o
trabalhador, considerados separadamente ou o vinculo que os une, sendo este
o contrato de trabalho; coletivas, onde se estudam entes coletivos, sociedades
sindicais, etc., e a contratação coletiva e estudou se ainda os conflitos laborais
coletivos – greves. Estas duas áreas tbm se desenvolveram por separação ao
Direito Civil tendo, por isso, princípios próprios – tem uma dimensão coletiva
dos assuntos e matérias que o CC não tem; o nosso CC é individualista e nas
matérias laborais há muito a ideia de grupo e de interesses coletivos.
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à Direito do Consumo:
Esta em desenvolvimento; O consumo hoje esta muito massificado e é
necessário proteger o consumidor final que nem sempre este totalmente
esclarecido. É uma área influenciada pelo direito europeu, que levou ao
surgimento de um regime de defesa do consumidor, que no caso pt se divide
em diversos diplomas. Existem disposições normativas diversificadas que se
interpreta com o direito eletrónico, existem novas formas de celebrar um
negócio.
à Direito de Autor:
Tem sido reconhecida a sua autonomia, pelos interesses de autonomia
das obras artísticas. O Código dos Direitos de Autor levou a pensar que
estávamos numa área jurídica diferente.
O Direito Civil é composto por princípios fundamentais sendo estes:
à Personalismo ético;
à Princípio da autonomia;
à Princípio da responsabilidade;
à Princípio da confiança e da aparência;
à Princípio da boa-fé;
à Princípio da paridade jurídica;
à Princípio da equivalência;
à Reconhecimento da propriedade e da sua função;
à O respeito pela família e pela sucessão por morte.
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9/10/2019
Dogmática Básica
à Situações Jurídicas: conceito operativo fundamental do D. Civil.
à Eixos fundamentais e valorações axiológicas que influenciam o D.
Civil.
Situações Jurídicas
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Primeiro estuda as pessoas; Segundo estuda as coisas art. 202 e
subsequentes; depois o facto jurídico o que distingue uma relação jurídica.
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14/10/2019
Institutos Jurídicos
O que é um instituto?
O conceito de instituto tem um caráter cultural e compreensivo, sendo
mais abstrato que a norma, mas não é apenas uma regra orientadora e geral,
tão abstrata quanto a um princípio, estando, pois, a meio caminho entre a
norma e o princípio. Ele é reconhecido com referência a um conjunto de
normas que têm a característica de se debruçar sobre um conjunto de normas
que incidem sobre um mesmo assunto, ou sobre assuntos concatenados.
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Há várias ideias para concretizar melhor o que pode ser um instituto
jurídico:
à Estar a meio caminho entre a norma e o princípio;
à O instituto jurídico exige um certo grau de aperfeiçoamento científico
da realidade a que se reporta – quando falamos no instituto de propriedade; ou
seja, a ideia de propriedade compreende mais do que as normas do código
sobre a propriedade;
à Evidencia-se também a carga cultural – a propriedade é um conceito
que invoca que alguém tem um bem, e o significado que isso tem na
sociedade;
à Evidencia ainda os aspetos fundamentais da regulação jurídica de
uma certa categoria de situações – é um conceito retirado da realidade,
operacional, não meramente abstrato.
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O Direito Civil é o direito das pessoas enquanto tais. Ora a pessoa não
pode ser reduzida a instituto jurídico – é algo que existe antes do Direito, é uma
realidade pré-jurídica. O prof. Oliveira Ascensão chama à pessoa “um dado
pré-legal”. Não se trata por isso de um instituto jurídico. Mas à pessoa também
se pode assacar um sentido jurídico – podemos falar em pessoa jurídica.
Chama-se a atenção que o conceito de pessoa jurídica não coincide
necessariamente com o conceito ontológico de pessoa. Pessoa em sentido
jurídico é também o ser humano, como em sentido ontológico, mas também
pode ser uma organização, a que o direito chama uma pessoa coletiva. A
pessoa, em sentido biológico, é toda ela pessoa jurídica. Ora nem sempre foi
assim.
Ex: nas sociedades da Roma e da Grécia os escravos eram pessoas em
sentido ontológico, mas eram tratados como coisas.
è Instituto civil
Direitos de Personalidade
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àSão também não-patrimoniais – os valores que aqui estão em causa
não são avaliáveis em dinheiro, o que não impede que não haja uma
compensação monetária pela violação dos direitos, mas não é uma
compensação reconstitutiva (não dá para voltar atrás; não pode sanar a
violação, mas sim compensá-la). Discussão abordada mais adiante.
à Direitos originários da pessoa – que têm a ver com o ser pessoa. O
Código Seabra chamava-lhe direitos originais.
à Direitos subjetivos e autónomos.
à São direitos privados – são direitos que assistem a um sujeito privado
enquanto tal (estão ligados à qualidade da pessoa humana).
à São direitos gerais – assistem a todas as pessoas
independentemente da raça, sexo, nacionalidade, credo, etc.
à São direitos absolutos – por oposição a direitos relativos. Isto quer
dizer que se impõe só por si, não precisam de uma posição jurídica de sinal
contrário.
à São direitos inatos – são coessenciais à pessoa humana.
à São direitos perpétuos – mantêm-se até à morte dos seus titulares.
Tudo isso está no Art. 71 do CC. Mesmo quando a pessoa morre, o que fica
em causa é o direito de quem vive à memória. Discussão tratada mais adiante.
à São direitos intransmissíveis – ninguém pode transmitir os seus
direitos para outra pessoa.
à São direitos indisponíveis por princípio – não são limitáveis. É
possível que o próprio titular aceite a imposição de restrições, mas estas são
limitadas e têm um regime particular de tutela. Sobre esta matéria dispõe o Art.
81 do CC.
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Tradicionalmente não havia grande dificuldade em distinguir direitos de
personalidade de direitos fundamentais – o que está em causa nos direitos
fundamentais é assegurar que o estado não restrinja o individuo em matérias-
chave, e são por isso proposições de salvaguarda dos cidadãos perante o
estado. Contudo estes têm um regime de tutela muito forte, que aumenta a
possibilidade de sobreposição (Art. 18 da CRP), que tem duas regras muito
importantes: os direitos fundamentais vinculam de forma imediata e direta as
entidades públicas e privadas; as restrições aos direitos fundamentais devem
ser reduzidas ao mínimo e o seu núcleo essencial tem que se manter intocado.
Se pensarmos nos direitos fundamentais como proposições de
salvaguarda, o que acontece se o Estado desrespeitar os direitos fundamentais
é que surge aqui uma questão de inconstitucionalidade, por ação ou por
omissão. Coisa bem diferente pode decorrer do facto de se violar a 1ª regra – a
questão de saber se os direitos fundamentais serem proposições dos direitos
dos cidadãos contra o estado também podem ser invocadas pelos cidadãos
uns contra os ouros. É a chamada eficácia civil dos direitos fundamentais, ou
eficácia horizontal.
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Ex: não há direito fundamental mais relevante que o direito à vida. No
entanto, se alguém estiver a morrer a fome, isso não o legitima para impor a
outra pessoa que o contrate e que lhe pague, para ele poder comprar comida;
é proibido matar, mas quem mata na guerra não é homicida. A intenção
funcional no exercício daquele ato desvaloriza, ou não permite, criminalizar. Há
pois que distinguir, dentro das situações jurídicas privadas, as que têm um
elemento de poder, e que podem pois ser assimiladas às relações públicas,
das outras. Dentro das outras, só se admite a eficácia dos direitos
fundamentais se mediatizadas por princípios gerais do Direito Civil,
designadamente a boa fé.
16/10/2019
Em geral:
O princípio do respeito pela personalidade não pode deixar de beneficiar
de uma tutela jurídica fortíssima. Constitui um princípio do Direito Natural que
se impõe ao legislador, mesmo ao legislador constitucional, que se impõe aos
juízes, aos juristas e a toda a gente.
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Num segundo plano, a tutela da personalidade está positivada, quer na
lei constitucional, quer na lei civil, quer a lei criminal e na própria lei
internacional.
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Podemos ainda classificar os direitos como típicos (têm regulamentação
prevista na lei), ao passo que há também os atípicos (a lei não estabelece
regime). Não tem que haver coincidência entre esta classificação e a anterior –
por exemplo, uma lei pode dar nome a um direito mas sem o sujeitar a certo
regime.
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caso”. Deixa-se assim, uma larguíssima margem de liberdade ao juiz a quem
forem requeridas. A lei prevê um processo especial para o decretamento das
providências nos Art. 878 a 890 do Código de Processo Civil.
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defender, no âmbito do direito subjetivo de personalidade, o direito que os
vivos têm a que os mortos sejam respeitados.
A difamação ou injuria de um familiar já falecido pode afetar gravemente
a dignidade dos seus parentes ou herdeiros que lhe sobreviveram e pode
causar-lhes sofrimento e afronta grave. É da natureza das coisas que assim
seja. Por isso, faz parte do conteúdo do direito subjetivo de personalidade de
cada um poder de reagir contra ofensas à dignidade dos seus parentes já
falecidos.
Nesta perspetiva, não deve ser negada a faculdade de exigir uma
indemnização dos danos morais e materiais causados.
No nº 1 do Art. 71 constitui fundamento para a qualificação da ofensa
como ilícita; conjugado com o regime do Art. 483, oferece base suficiente para
justificar a vigência do regime geral da responsabilidade civil aquiliana à
indemnização dos danos morais e materiais causados às pessoas vivas pela
ofensa da dignidade dos seus parentes já falecidos.
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uma pessoa não pode consentir que a matem, se me matarem depois de eu
consentir continua a ser ilícito – tenho direito a vida e não à morte.
Matar por legitima defesa não é lícito, mas pode não ser ilícito; Ex: é
ilícito cortarem braços a pessoas? Depende! Se tiverem cancro e não houver
outra opção e o medico vos pedir autorização para o fazer e vocês autorizarem
é licito; podemos dar órgãos a outras pessoas? Depende! o cérebro não, o
coração não... dar um órgão que leva a morte a uma pessoa viola a ordem
pública; o titular limita o exercício dos D. de personalidade
De específico tem o regime de revogabilidade do nº 2 do mesmo Art. O
contrato, sendo livremente revogável pelo titular é apenas unilateralmente
vinculante. Só uma das partes o pode revogar livremente, e não a outra.
Tratam-se de aspetos da vida humana dos quais a pessoa nunca pode perder
o controlo definitivamente.
Daqui se pode concluir que os negócios de personalidade têm uma
eficácia mais legitimadora e reguladora do que vinculativa.
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Doutrina:
No entendimento do Pedro P. Vasconcelos, em primeiro lugar, o direito
de personalidade tem o seu fundamento ético-ôntico na dignidade humana, e
esta não é ofendida pela afirmação ou difusão “factos capazes de prejudicar o
crédito ou o bom nome” de pessoas coletivas. As pessoas coletivas só sofrem
no seu património. A afirmação ou difusão pode porventura ferir a dignidade
dos sócios, dirigentes ou outras pessoas ligadas à pessoa coletiva, mas
quando assim for, do que se trata é do direito de personalidade destas pessoas
singulares. Em segundo lugar, admitir que o Art. 484 atribui direito de
personalidade seria redundante porque, por um lado, este preceito também
contempla as pessoas singulares, que já têm direito ao seu bom nome
consagrado no Art 70 do CC e, por outro lado, porque se as pessoas coletivas
tivessem “direitos de personalidade” estes estariam já regidos pelo Art. 70 que
tornaria inútil o Art. 484. Finalmente, porque o Art. 70 ao limitar o direito de
personalidade aos “indivíduos” exclui expressamente da sua titularidade as
pessoas coletivas.
A razão de ser do artigo 484 é a de admitir expressamente que a ofensa
ao bom nome e crédito das pessoas coletivas por meio da afirmação ou
difusão de factos dá lugar a responsabilidade civil.
21/10/2019
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das cartas confidências, em que o que se pressupõe é. Uma relação inter
partes, ao menos em primeira linha. Isto impede-nos de dizer que os direitos de
personalidade que são relativos – uma vez mais, é o caso da
confidencialidade.
Tentemos por isso uma 2ª via. Os direitos de personalidade são
absolutos por deverem ser respeitados por todos. Isto sim, é verdade. O direito
de personalidade exige que todos o respeitem, e se não o fizerem o lesante
incorrerá na obrigação de indemnizar. Sendo assim, nos termos do Art. 483 do
CC, a lei confere aos direitos de personalidade a chamada tutela aquiliana –
quem os vir desrespeitados pode pedir responsabilidades a quem lesou.
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pessoa e não a uma pessoa diversa. Esta ideia tem de ser analisada com mais
atenção para podermos chegar a esta conclusão.
Num certo sentido, é indubitável que há uma intransmissibilidade dos
direitos de personalidade. O que acontece é que está a admitir aí uma
limitação, mas é correto afirmar-se que os direitos de personalidade são
intransmissíveis. Nascem numa certa esfera jurídica e ai permanecem ate que
se extingam, o que acontece eventualmente com a morte ou, em relação a
alguns direitos, por extinção do seu objeto – a personalidade. Não é possível
alterar os bens de personalidade sobre os quais incidem os direitos. Neste
duplo sentido que se referiu, podemos dizer que há uma dupla inerência nos
direitos de personalidade, uma ligação entre o direito de personalidade e o
sujeito e entre o direito de personalidade e o seu objeto.
Prevalência de direitos:
à Imagine-se que há uma colisão de um direito de personalidade com
um direito de outro tipo – um direito de crédito, ou um direito relativo.
Por ex. Prevalecerão os direitos de personalidade? A tendência seria
dizermos que sim. Mas será mesmo assim? Imagine-se que alguém pede
esmola a outrem. Dessa esmola pode depender até o direito à vida, de quem
pede. Por outro lado, temos o direito de propriedade da pessoa a quem é
pedida a esmola. Se se sustentasse que o direito de personalidade prevalece
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sobre os outros direitos, poderíamos concluir que a pessoa a quem é pedida a
esmola teria o dever jurídico de a dar. Como tal, não podemos afirmar que o
direito de personalidade prevalece sempre sobre todos os outros direitos. Não
é possível pois falarmos assim.
Não há nenhum código nenhuma regra jurídica que diga que o direito de
personalidade prevalece sobre outro qualquer tipo de direitos. Não obstante, é
indubitável que há certos direitos de personalidade que prevalecem sobre
quaisquer outros. É o caso sem dúvida do direito à vida.
Há certos direitos pois, em que a lei, não admitindo a sua anulação,
determina a nulidade de todos os contratos que superem essas limitações.
Temos aqui um forte indício de que a lei os faz prevalecer sobre outros direitos.
Ainda assim, apesar de podermos em certos casos estabelecer regras de
prevalência, não temos um critério uniforme que resolva todos os casos
concretos. Por isso, em caso de conflito, temos de analisar caso a caso, de
acordo com os critérios normativos que a lei nos possa fornecer, qual deles
deve prevalecer.
è Direito à vida
O direito à vida é o mais importante direito de personalidade apesar de
não ser referido diretamente no código civil, talvez por se entender que é um
pressuposto.
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O direito à vida visa a preservação biológica do ser humano. Mas só
mesmo quando está em causa a sobrevivência é que pode estar em causa o
direito à vida, caso contrário haverá apenas direito à integridade física.
Porque é que o direito à vida é tutelado? Há uma doutrina secular sobre
isso. Primeiramente, o titular do direito à vida não tem a sua livre
disponibilidade. Por outro lado, a perda da vida de uma pessoa é um ato anti
social – é uma perda para a sociedade humana. Se o Direito o admitisse, seria
ir contra ele, pois ele regula a sociedade. Por outro lado, há ainda um fator
cultura, que é a nossa herança cristã.
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Suicídio
O suicídio, sabemos que o direito à vida é indisponível, nem mesmo pelo
próprio. Por isso um contrato que preveja que alguém seja privado da sua
própria vida é nulo. Se a vida for retirada por um terceiro, mesmo com
consentimento, há violação do direito à vida – o consentimento do próprio é
nulo.
O auxílio ao suicídio é, por isso mesmo, e em si mesmo, um ato nulo em
si. Quanto ao suicídio em si, é também um ato ilícito. Não temos uma proibição
do suicídio, que de resto seria inútil, mas a partir de certos dados do sistema
podemos concluir que é ilícito. O direito à vida é, pois, um direito indisponível.
Mas ficcionemos que alguém se suicida e causa prejuízos a terceiros com esse
ato. Há aqui responsabilidade civil, nos termos gerais do D. Civil, por estar a
cometer um ato ilícito. É claro que pode acontecer que os comportamentos de
alguém resultem em morte, mas que não sejam ilícitos. Alguém pode querer
salvaguardar outros bens jurídicos, ainda que lhe cause a morte. Mas sem
intenção de morrer – aqui temos atos lícitos, porque não visam dispor do direito
à vida.
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Eutanásia
O que é a eutanásia? Consiste num encurtamento da vida de pessoas
que estejam em estado terminal e em sofrimento. Ora segundo alguma da
melhor doutrina de hoje, a eutanásia é um ato ilícito. Já que falamos de
eutanásia, interessa fazer algumas distinções.
A morte é ainda algo irreversível. Se houver algum erro, ele não pode
ser corrigido. É esta também uma das justificações para não haver pena de
morte. Também na eutanásia, se houver um erro, não se poderá voltar atrás.
Ora numa situação em que a eutanásia possa surgir como opção, surge
na prática um conflito entre a vida e a morte. Isto é mais um argumento para a
ilicitude da eutanásia.
Justificada a posição da recusa ou da ilicitude da eutanásia, há que
fazer notar que o terminar da assistência clínica a um doente terminal não é por
si só eutanásia.
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Duas possibilidades:
àResponsabilidade civil pela violação do direito à vida de outrem (homicida vai
para a prisão e paga indemnização a família);
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23/10/2019
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O que é indemnizável quando alguém perde a vida? Em primeiro lugar,
os danos patrimoniais ou não patrimoniais sofridos por certas pessoas
próximas do falecido. É ainda indemnizável o sofrimento do falecido. Então e a
vida, será esse um direito indemnizável? Apesar de autores como Oliveira
Ascensão ou Antunes Varela dizerem que não, a doutrina e a jurisprudência
têm sido consensuais a dizer que sim.
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Existe ainda outro caso que é o da disponibilização do próprio corpo
(com consentimento) para efeitos com proveito económico – este é um negócio
contrário à ordem pública (Art. 81).
Nota: No caso do direito à imagem este pode ser disponibilizado para fins
económicos, mas não é contrário à ordem pública.
O direito ao bom nome e integridade moral são dotados de tutela mesmo após
o falecimento dos respetivos titulares – Art. 71 do CC: o direito passa para o
cônjuge sobrevivo ou qualquer descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou
herdeiro do falecido.
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è Direito à imagem
Quanto ao direito à imagem começaremos por chamar a atenção para o
Art. 79 do CC. Como decorre da epígrafe e da letra do nº 1 deste artigo, o que
está essencialmente em causa no direito à imagem é o retrato da pessoa e a
sua reprodução – retrato em sentido amplo. O CC é de uma altura em que
havia muitos retratos, embora hoje haja retratos, imagens, etc., captadas pelas
mais variadas tecnologias.
À ideia de retrato tende hoje a associar-se o logótipo de uma pessoa
coletiva, aquela que é no fundo a imagem, a marca da pessoa coletiva. No D.
comercial também se tutela a marca. O que nós temos aqui no CC é a tutela do
direito à imagem das pessoas singulares.
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O nº 3 vem dizer que o retrato não pode, porém, ser reproduzido,
exposto ou lançado no comércio, se daí resultar prejuízo para a honra, etc.
Aqui temos a aplicação do que os teoristas chamam a teoria das esferas: a
esfera pública, a esfera individual, mas ainda assim social, a esfera privada dos
indivíduos e por fim a esfera íntima de cada um.
Se eu for na rua e for captado por um vídeo de segurança, as
finalidades de segurança daquela imagem permitem que ela seja visualizada
por polícias. Coisa diferente é saber se a pessoa pode ser filmada numa festa
– apesar de ser social é um grupo restrito. Aqui temos a esfera individual, mas
ao mesmo tempo social da pessoa – a mostra dessa imagem demonstra que a
pessoa quis pelo menos ir ali. Temos depois a esfera privada – quando se está
em casa – ou intima – quando se está em cenas íntimas.
Esta teoria alemã das esferas permite-nos dizer que há menos
restrições ao direito à imagem nas esferas de cariz público. É consoante essas
esferas que se definem as diferentes restrições. Isto é uma projeção do direito
à dignidade. É, por isso, da máxima importância fazer uma interpretação do
mais restritiva possível da exceção do nº 2, e bastante amplas quanto às
restrições do nº 3. O critério que parece importante de reter quanto à
interpretação restritiva do nº 2 é um princípio de adequação – as pessoas
podem ser retratadas e a sua imagem divulgada nos termos do nº 2 mas dentro
de um princípio de adequação – as pessoas pode ser retratadas e a sua
imagem divulgada nos termos do nº 2 mas dentro de um princípio de
adequação.
43
è Direito ao nome
O direito ao nome está presente nos Art’s. 72 a 74 do CC. O direito ao
nome decorre obviamente da individualidade de cada um, tal qual como a
imagem – a pessoa é aquilo que aparenta e o nome que tem. É um direito
tradicionalmente popular. A tutela do direito ao nome no CC tem uma dimensão
positiva e uma dimensão negativa – Art. 72 nº1. A dimensão positiva tem a ver
com o uso do nome – a pessoa tem direito a usar o nome, seja de forma
completa ou de forma abreviada. Tem ainda o direito de impedir que outros
utilizem ilicitamente o seu nome. Esta tutela tem um limite, que tem a ver cum o
uso adequado do nome, nomeadamente em termos profissionais. Uma questão
que se coloca é a questão do Art. 72 nº 2, a necessidade de usar o nome de
forma a não prejudicar quem tenha profissionalmente um nome idêntico. Uma
outra questão interessante relativamente ao nome é que esta tutela abrange os
pseudónimos e os títulos nobiliárquicos (há um acórdão famoso sobre o
Capitão Roby). O Capitão Roby processou a cadeia televisiva SIC, e o tribunal
entendeu que havia tutela de um direito de personalidade pelo uso da
expressão Capitão Roby.
44
CC refere-se às cartas missivas confidenciais, nos Art’s. 75 a 77, e só no Art.
78 se refere às cartas missivas não confidenciais. Esta designação
“cartas/missivas” tem que ser interpretada com amplitude para abranger outros
meios de comunicação que não apenas a comunicação postal – a
comunicação pela Internet, por exemplo.
45
è Direito à reserva da intimidade privada
O direito à reserva da intimidade privada é, a seguir aos direitos à vida e
à integridade física, um direito de personalidade por excelência. Este direito é
referido no CC Art. 80, aparentemente sem grande destaque. Mas não nos
devemos deixar enganar pela descrição do Código. O Código é discreto nesta
matéria, mas isso não ilude a importância do direito à intimidade da vida
privada. Na realidade, ela revela-nos um princípio geral desta matéria dos
direitos de personalidade. O que está em questão na tutela desses direitos de
personalidade é em regra a questão da intimidade da vida das pessoas.
O princípio geral nesta matéria é o que vem enunciado no Art. 80 nº 1 do
CC – qualquer um de nós que tenha possibilidade de revelar algo sobre a vida
privada de outra pessoa não o deve fazer. Aplicamos aqui mais um vez a teoria
das esferas – não está em questão um facto público ou notório, nem um facto
social da vida de todos nós. Estamos a tratar de aspetos relativos à vida
familiar e íntima de cada um.
46
admitindo a retração de vontade unilateral do titular da própria limitação que se
tenha imposto – o titular pode unilateralmente revogar o consentimento, em
prejuízo de poder indemnizar, e repor o direito de personalidade na plenitude
da sua conceção – é o que decorre do Art. 81.
47
indemnizáveis se forem graves, e a jurisprudência da interpretação do Art. 496
do CC tem alguma dificuldade em estabelecer as indemnizações, porque não
tem o efeito de reproduzir a situação, mas antes de a compensar pela perda.
30/10/2019
Instituto da Boa Fé
48
Tem um sentido moral profundo e pode exprimir-se pelo mandamento de
que cada um fique vinculado em fé da palavra dada, que a confiança que
constitui a base imprescindível de todas as relações humanas não deve ser
frustrada nem abusada e que cada um deve comportar como é de esperar de
uma pessoa honrada, de uma pessoa de bem.
Desde sempre que o princípio da boa fé teve uma dupla faceta, até hoje
apresenta: uma faceta subjetiva (convencimento do sujeito sobre determinada
realidade; ou ignorância de determinados factos), e um prisma mais objetivo.
49
No nosso Código encontramos diversas consagrações da boa fé, quer
num sentido quer noutro. Vejamos algumas como exemplo:
Em sentido subjetivo, veja-se por exemplo o Art. 1219 do CC. O Art. 119
refere-se a suma figura que vamos estudar a propósito das pessoas, e que é a
ausência – alguém desaparece sem se saber o paradeiro. A lei atribui certos
efeitos à ausência, e este art. Trata da situação em que o ausente regressa. No
nº 2 refere-se à má fé dos sucessores. O que é a má fé dos sucessores? É o
conhecimento de que o ausente afinal não estava morto – vide nº 3.
Veja-se o Art. 243. Este artigo refere-se a uma figura que é a simulação,
e que estudaremos a propósito dos vícios do negócio jurídico. A simulação é
um negócio entre A e B para prejudicar. A simulação tem aqui um regime
relativamente a terceiros de boa fé. Aqui a boa fé é a ideia presente no nº 2.
50
sentidos menores. É o caso do regime da responsabilidade na formação do
negócio (Art. 227), também chamado culpa in contendo; o relevo da boa fé na
integração de negócios jurídicos (Art. 239); abuso de direito (Art. 334); a boa fé
como fundamento da modificação do contrato por alteração das circunstâncias
(Art. 437 nº1); exigência da boa fé no cumprimento das obrigações (Art. 762 nº
2).
51
exercido dentro dos limites da razoabilidade, e tendo em conta a razão pela
qual o direito foi atribuído – há como que um dever de exercer o direito de
forma razoável. Não há aqui nenhuma violação da norma legar, mas um uso
manifestamente desadequado de um direito de que dispõe. Admitir o abuso de
direito é admitir uma nova forma de ilicitude – não é uma violação, mas
justamente um uso ilegítimo da norma. Esta figura surgiu da jurisprudência, foi
criada no séc. XIX em frança. A ideia central a reter é que as posições jurídicas
de vantagem, designadamente os direitos subjetivos, devem ser exercidos
dentro dos limites de razoabilidade (os limites impostos pela boa fé), sob pena
de ilicitude.
52
à Tem que ter sido criada uma situação de confiança relativamente ao
negócio ou à conduta de outra parte – ou seja, tem que haver um estado de
boa fé subjetiva;
à Tem que haver uma justificação para esse estado;
à Tem que haver um investimento na confiança;
à Isso tem que ser imputável à outra parte.
53
de celebração. Por outro lado, pode ter a liberdade de determinar os efeitos
desse ato (o que é chamado a liberdade de estipulação).
Esta classificação é bastante importante, porque há certos factos
jurídicos relativamente aos quais apenas se verifica uma liberdade de
celebração, isto e cada pessoa tem a liberdade de praticar ou não esse ato, e
com isso se esgota a sua autonomia privada.
Existem ainda factos que para além da liberdade de celebração, há uma
liberdade de estipulação. São os chamados negócios jurídicos. Por exemplo,
os contratos.
Cada cidadão tem a liberdade de celebrar ou não um contrato, mas cada
cidadão tem também a liberdade de, ao celebrá-lo, determinar o seu conteúdo,
ou seja, os seus efeitos jurídicos, os efeitos jurídicos que irá produzir.
54
Imputação de danos
55
Ocorrendo um dano, levanta-se uma magna questão de quem o
suportará?! Há uma regra básica nesta matéria: o dano é suportado na esfera
jurídica em que ele ocorre. Porque?
Antes de mais, isso corresponde à natureza das coisas – se alguém
perde o direito à vida, é essa pessoa que suporta o dano. Por outro lado, há
aqui uma vantagem em termos práticos: a solução da questão é simples e
prática. Por outro lado, além desta explicação há ainda outra, é que
normalmente a solução mais justa a de que o dano seja suportado por que o
sofre. Porquê? Nós suprimimos uma vantagem – não havia dano – e isso
ocorrerá porque tirou dela benefício, dai sofrer a respetiva desvantagem. Quer
isto dizer que em caso algum esse dano pode ser atribuído a outrem? Seria
absurdo dize-lo. O que se pretende dizer é que a regra é que quem sofre o
dano irá suporta-lo.
Todavia, há um instituto civil que é a imputação do dano – apesar de o
dano ocorrer numa certa esfera, var ser atribuído a outra esfera. Esta atribuição
chama-se imputação.
56
E qual é o objetivo? O objetivo é a supressão do dano.
à Tipos de imputação:
Já vimos que a regra é que o dano é suportado na esfera em que ocorreu.
Daí resulta que só há responsabilidade civil nos casos previstos na lei, e essas
circunstâncias, ou casos, são chamados de títulos de imputação – os títulos
pelos quais é possível imputar o dano a outra pessoa. Atualmente podemos
dizer que há 3 tipos de imputação:
Þ Responsabilidade do facto ilícito ou incumprimento: este é o âmbito
mais alargado da responsabilidade civil. A responsabilidade civil,
neste titulo, é atribuída a alguém que age ilicitamente e que, com
culpa, viola um direito alheio ou uma norma legal destinada a
proteger direitos alheios. É isto que resulta do Art. 483 do CC. Ou
seja, tem que haver um ato ilícito, sem causa de justificação, e com
culpa. Há culpa quando o Direito faz um juízo de censura sobre esse
comportamento. Pode o agente ter querido violar diretamente a
norma jurídica, ou pode ter violado a norma jurídica de forma
necessária, ou até eventual. Aqui estamos perante a figura de dolo
57
como modalidade de culpa. Há ainda outra modalidade de culpa que
é a negligência – o agente não quis violar a norma, toda a via não
teve o dever de cuidado que a situação exigia, e dai ser absurdo o
seu comportamento, havendo negligência;
Þ Responsabilidade pelo risco: uma ideia relativamente recente, com
perto de 2 séculos, e que surge associada a uma ideia fundamental
certas pessoas fazem uso de certos meios que implicam riscos para
terceiros. A utilização desses meios é consentida pelo direito, até
pode mesmo ser tutelada pelo direito. Mas apesar disso, da
utilização desses meios decorre um risco para terceiros. No seu
núcleo essencial, a responsabilidade civil pelo risco traduz-se quando
alguém, sem culpa, causa prejuízo para terceiros. Será justo que
quem tem vantagens desses meios também lhe sejam imputados os
danos sofridos por terceiros. Antes de mais, é preciso ter em conta
que só há responsabilidade pelo risco nos casos previstos na lei (Art.
483 nº 2 do CC). Os casos previstos na lei são os casos do Art. 500 e
seguintes. Alguém agindo licitamente provoca danos a terceiros terá
de os suportar;
Þ Responsabilidade por facto lícito ou pelo sacrifício: alguém causa um
dano a outrem, e causa-o voluntariamente, todavia, esse ato não
contraria a lei. Em regra, não haverá responsabilidade. Mas em
certos casos a lei, uma vez que, aquele que causa o dano pode
retirar certos benefícios dai, a lei imputa-lhe responsabilidade pela
prática desse ato lícito. Ex: Estado de necessidade.
58
Pessoas – tomo IV
6/11/2019
Personalidade Jurídica
59
A personalidade jurídica costuma ser definida formalmente como a
suscetibilidade de direitos e obrigações ou de titularidade, ou de ser sujeito de
direitos e obrigações ou de situações jurídicas. Pessoa jurídica é, então, nesta
perspetiva, todo o centro de imputação de situações jurídicas ativas ou
passivas, de direitos ou de obrigações.
A personalidade é uma consequência da titularidade de direitos e
obrigações. Partindo deste ponto de vista, torna-se fácil admitir que a lei possa
criar outras “pessoas jurídicas” para além das pessoas humanas, através do
expediente de lhes atribuir “ex lege” direitos e obrigações. É o que sucede com
as pessoas coletivas que resultam da personalização operada pela lei de
certas realidades da vida humana em sociedade.
Este ponto de vista, ao aceitar a personalidade jurídica como algo que
contribuído pelo Direito, de intrajurídico, tem a vantagem de facilitar a
compreensão da personalidade coletiva e da sua inclusão num amplo conceito
geral-abstrato de personalidade jurídica. Tem, todavia, o defeito de colocar no
mesmo plano a personalidade das pessoas humanas e das pessoas coletivas
o que induz por vezes a um equivoco grave que se traduz no reconhecimento
ao Direito e à Lei do poder de atribuir a personalidade e, consequentemente,
de a excluir e condicionar, o que envolve riscos importantes, abrindo o caminho
para construções jurídicas que não respeitem a dignidade humana nem a
centralidade da pessoa em todo o direito.
Em suma, a personalidade jurídica é a qualidade de ser pessoa que o
Direito reconhece a todas as pessoas pelo simples facto de o serem, que se
traduz no necessário tratamento jurídico das pessoas como pessoas, isto é,
como sujeito e não como objeto de direitos e deveres, como originariamente
dotadas de dignidade inviolável de pessoas humanas, que o Direito não pode
deixar de respeitar e que não constitui um dado extra legal, de Direito Natural.
A personalidade jurídica das pessoas coletivas é semelhante, mas diferente, e
tem uma problemática própria de fundamentação e um conteúdo que
corresponde à transposição “mutatis mutandis” para as pessoas coletivas de
módulo jurídico de personalidade das pessoas humanas.
O conceito de personalidade jurídica é apresentado no Art. 66 do CC; este
não a define apenas diz quando começa, no artigo já referido e quando acaba
no Art. 68.
60
Conceito diferente é o conceito de capacidade jurídica. A capacidade
jurídica tem a ver com a medica quantitativa de situações jurídicas de que cada
um é titular. Esta é apresentado no Art. 67 do CC.
A doutrina costuma classificar a capacidade em dois grandes tipos:
à Capacidade de gozo – conjunto de direitos e deveres de que a
pessoa é titular;
à Capacidade de exercício – conjunto de situações que a pessoa pode
exercer;
Embora que a regra seja que eu posso exercer todas as situações de que
sou titular a lei diz que nem sempre é ele que exerce as situações. A ordem
jurídica entende que, nem todas as pessoas têm capacidade para exercer as
suas capacidades – fornece-lhe capacidade de gozo, mas não de exercício.
Estas limitações surgem para proteger a pessoa. Quando isto acontece, o
incapaz tem alguém que exerce os direitos por ele, ou então, só o pode fazer
depois de dada autorização para tal.
Esta distinção surge, por exemplo, para explicar que um bebé pode ser
titular de uma fortuna imensa que herdou, mas não tem capacidade de a gerir,
por motivos óbvios.
O CC não a define apenas diz quando ela começa e quando ela termina.
A lei refere, no Art. 66 nº 2, que a personalidade jurídica se adquire no
momento do nascimento completo e com vida. Porquê? O que está aqui em
questão, primeiramente, é o nascimento. Quer isto dizer que a lei em princípio
não reconhece personalidade jurídica antes do nascimento. Em segundo lugar,
61
este nascimento tem de ser completo, ou seja, se o óbito ocorrer durante o
parto, não chega a haver personalidade jurídica. No entanto, se o óbito se der
logo a seguir ao parto houve sim personalidade jurídica, que cessou com a
morte. Em terceiro lugar, este nascimento tem que se com vida – um nado
morto não chega a adquirir personalidade jurídica. Isto quer ainda dizer que se
a criança por morta logo a seguir a nascer, há um homicídio.
Mas no nº 2 do mesmo artigo, diz que os direitos que a lei reconhecer aos
nascituros depende do seu nascimento. Aparente contradição. O nº 1 só
reconhece personalidade jurídica com o nascimento, mas o nº 2 fala-se dos
direitos dos nascituros. A razão de ser disto pensa-se se pensarmos nos
concepturos – os que ainda podem ser concebidos. Ex: "Deixo os meus bens
aos filhos da tia Maria que possam vir a nascer”. Ela diz: fixe, não tenho filhos
cá vai disto. Mal, vai mal. O problema aqui é a tutela anterior ao parto, a tutela
anterior à aquisição da personalidade jurídica. A doutrina tem-se dividido muito
relativamente a este regime jurídico.
O nascituro é relevante e merecedor de tutela jurídica enquanto tal,
independentemente da questão ética de lhes atribuirmos personalidade jurídica
ou não – este é um direito em formação tal como a vida.
Tutela pré-natal
62
Mas há mais questões como a eventual colisão do direito do nascituro a
nascer com outros direitos, como os direitos à saúde da mãe. Isto deve ser
resolvido à luz do instituto da colisão de direitos, previsto no Art. 35 do CC,
fazendo prevalecer o direito que maior valor tiver, digamos assim.
Falta ainda dizer que, tal como acontece com os atos do chamado estatuto
das pessoas, tem que haver uma comunicação oficial do nascimento para
efeitos de registo civil. Isto é apenas a primeira manifestação do que vai estar
associado às principais fases da pessoa na sua vida singular – comunica-se o
63
nascimento, o casamento, a paternidade, a morte. Isto destina-se a possibilitar
transparência, casamentos consanguíneos, etc.
11/11/2019
64
Estatuto Jurídico do Cadáver
à transplante de órgãos:
A lei 12/93, 22 de abril, permite a colheita de órgãos e tecidos do cadáver,
desde que usados para a cura ou alívio do sofrimento de outras pessoas, ou
para o avanço do conhecimento humano e não para fins lucrativos.
A colheita tem de ser feita logo após a morte e exige cuidados especiais
ministrados ainda em vida.
Para que tal não ocorra é necessário que a pessoa deixe expressamente
declarado que não é doador, sendo que a indisponibilidade pode ser total ou
restringir-se a certos órgãos ou tecidos.
Concluindo, o art. 19 da referida lei dita que “são considerados como
potenciais doadores post mortem todos os cidadãos nacionais ou apátridas e
estrangeiros residentes em Portugal que não tenham manifestado junto do
Ministério da saúde a sua qualidade de não dadores”.
65
15/10/2019
Capacidade Jurídica
66
uma pessoa possa praticar um ato que incide sobre um objeto tem de ser titular
de uma situação jurídica que incida sobre o mesmo objeto.
Ex: A tem capacidade de gozo sobre todos os bens que venha a adquirir. A
só pode vender a sua mota, se a tiver.
O problema e que isto só não chega, o facto de ser titular de uma situação
jurídica que incida sobre um bem não significa que eu atue sobre esse bem;
basta pensar nas pessoas que tenham a capacidade de gozo e titularidade da
situação jurídica – por exemplo os bebés ou os menores – são titulares de
situações jurídica, por exemplo de uma casa que herdada, têm personalidade
jurídica, têm capacidade de gozo, mas não tem capacidade de exercício – e
por isso não pode exercer os seus direitos porque não tem legitimidade para
agir.
A capacidade é uma situação e a legitimidade é uma relação.
Vamos aprofundar isto no próximo semestre.
Esfera Jurídica
67
A confusão surge entre a esfera jurídica e a capacidade de gozo. Esta
última é a medida quantitativa das situações jurídicas de que uma pessoa pode
ser titular – é a medida quantitativa das titularidades possíveis. A esfera jurídica
é a medida quantitativa das titularidades efetivas.
Quando estamos a falar da capacidade de gozo não sabemos que direitos a
pessoa tem, mas sim os que pode ter. A esfera jurídica são os direitos que a
pessoa tem.
68
de solvência (se for superior às nossas dividas) e de insolvência (se for inferior
às nossas dividas). O património responde pelas dividas das pessoas; não há
pessoas sem património e também não há pessoas com mais do que um
património.
à A autonomia: as dividas de um património restringem se aos ativos
desse património. Este ponto será tratado noutra altura. Pelas situações
passivas (obrigações) de um património respondem apenas as situações
ativas que o integram.
Domicílio
É a sede jurídica da pessoa. Pode ou não coincidir com a sua efetiva e real
localização.
69
Art. 84 – aplicado em negócios jurídicos em que para efeitos desse contrato
se fixa um domicílio num sítio que pode nada ter a ver com o sítio onde vive ou
passa mais tempo. Domicílio eletivo – ganha especial importância perante o
regime do Art. 224 do CC. Segundo o qual as declarações negociais são
enviadas para o domicílio eletivo da pessoa e tornam-se eficazes a partir do
momento em que chegam lá.
Art. 85 – domicílio dos menores – tem domicílio legal na residência da
família; mesmo que saiam de casa é lá. Se quem vai agir é o representante e
não o incapaz então quem tem de receber a carta é o representante.
Art. 87 – domicílio dos empregados públicos; o prof Rebelo sousa mora no
palácio de Belém; este não vive lá mesmo, mas a sua residência oficial é lá
mesmo. Se alguém precisar de lhe enviar uma carta, mesmo que viva ao lado
da pessoa tem de a enviar para o palácio de Belém.
Art. 88 – agentes diplomáticos; quando tem extraterritorialidade consideram-
se domiciliados em Lisboa, não sabemos sempre onde se encontram.
18/11/2019
Instituto da ausência
70
Þ Curadoria definitiva;
Þ Morte Presumida.
Estas têm tendência a ser sequenciais, mas nada assim o obriga. Cada
uma delas tem os seus requisitos.
É necessário o preenchimento de vários requisitos para se dar a
ausência (Art. 89) – é preciso que alguém desapareça sem se saber onde a
pessoa está e haver duvidas sobre se está viva ou morta (Art. 98, 112 e 119),
tem de haver necessidade de prover os bens de uma pessoa – uma pessoa
que não tenhas bens nenhuns não lhe é atribuído este regime; é necessário
que esta não tenha deixado um representante legal; é ainda necessário que
haja um requerimento sobre esta justificação da ausência, que é feita através
de uma pessoa que vai substituir o ausente (denomina-se curador provisório) –
este gere os bens como consegue.
à Curadoria provisória:
O sentido do regime é o da proteção do património do ausente, na
espectativa do seu regresso. O curador tem o dever de prestar contas da sua
gestão anualmente e sempre que lhe for pedido pelo tribunal; tem ainda direito
a uma remuneração de 10% da receita líquida.
O curador provisório fica sujeito ao regime do mandato geral – Art. 1157.
Cessa com o regresso do ausente ou com a instauração da curadoria
definitiva.
Há medida que a situação se perde no tempo passa a incluir os
interesses dos sucessores daquele que desapareceu. Quando uma pessoa
morre o seu património passa aos seus herdeiros e por isso se uma pessoa
desaparece sem deixar rasto vai se tornando cada vez mais importante tutelar
os bens que pertenciam a pessoa.
à Curadoria Definitiva:
A seguir a esta fase surge a curadoria definitiva, os interesses dos
sucessíveis sobrepõem-se aos do ausente; a perspetiva de que a pessoa vá
regressar vai desaparecendo.
Esta esta regulada nos Art. 99 e seguintes do CC. Os requisitos desta
são os mesmos da fase anterior mais terem decorridos 2 anos do
71
desaparecimento. Se o ausente tiver deixado um representante legal este
prazo estende-se para 5 anos. A questão regulariza-se pelos termos do Art.
100.
Pode ainda n ter sido requerida a curadoria provisória e dar-se a
definitiva.
à Morte Presumida:
Neste regime, a lei descrê a sua sobrevivência e presume a sua morte;
os bens são atribuídos aqueles que os receberiam se o ausente estivesse
morto.
Uma pessoa só pode ser declarada morto presumido se tiverem
passado 10 anos do seu desaparecimento ou 5 se já tiver mais de 80 anos.
Segundo o nº 2 do Art. 114 não poderá ser presumida a morte do ausente
antes de decorridos 5 anos sobre a data em que este completaria a maioridade
se fosse vivo. Os requisitos são os gerais da ausência.
72
Art. 115 – A declaração de morte presumida produz os mesmos efeitos que
a morte, mas não dissolve o casamento. O cônjuge não fica viúvo, mas este
apesar disso pode contrair outro casamento.
Art. 116 – o cônjuge casado civilmente pode contrair novo casamento, neste
caso se o ausente regressar considera-se o casamento do 1 casamento
dissolvido por divórcio à data da morte presumida.
Art. 118 – têm direito à herança aqueles que naquela data lhe deveriam
suceder.
Aspetos gerais:
73
Quando referimos incapacidades, queremos dizer que a pessoa tem uma
incapacidade de ser titular de uma situação jurídica (incapacidade de gozo – é
rara porque o princípio é genérico), ou então não pode exerce-la de forma
pessoal e livre (incapacidade de exercício).
Quando estamos a falar deste tema temos de fazer uma distinção entre o
meio de suprimento (instituto que a lei predispõe para fazer face a uma
incapacidade – tutelada subsidiariamente no caso da menoridade; os menores)
74
e a forma de suprimento da incapacidade (é como é que o ato é praticado em
termos válido para a ordem jurídica. – O menor não pode vender, então, os
pais vendem por ele. Temos ainda a assistência – ratificação do ato).
20/11/2019
Regime da menoridade
Aspetos Gerais:
75
inimputabilidade do menor; nos termos do Art. 1984 a) prevê-se o
consentimento do menor de 12 anos para a sua adoção etc.
O código combina o critério formal e geral com outras situações.
A começar pelo Art. 123 - incapacidade dos menores – percebemos que os
menores, em princípio, carecem de capacidade de exercício. Tal não significa
que não sejam afetados por incapacidades de gozo, em casos muito cntados,
como são os de falta de capacidade para casar (Art. 1601) e perfilhar antes dos
16 anos (Art. 1850) e, quando não emancipados, para representar os seus
filhos e administrar os seus bens, no âmbito do poder paternal (Art. 1913 nº 2).
Nestes casos não há incapacidade de exercício, mas sim de gozo., não se
trata apenas de uma limitação ao pessoal e livre exercício de direitos, mas
antes à sua titularidade.
É, contudo, no âmbito da capacidade de exercício que o menor sobre de
uma incapacidade geral. O Art. 123 é muito claro, ao estabelecer a regra geral
de incapacidade genérica de exercício com a expressão “Salvo disposição em
contrário”.
As exceções à capacidade de exercício são enunciadas no Art. 127.
Exceções:
à os atos de administração ou de disposição de bens que o menor tenha
adquirido pelo seu trabalho;
à os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor, que estando ao
alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas ou disposições de
bens de pequena importância (vaira consoante a idade, um bebé de 1 ano não
pode fazer o mesmo que uma criança de 7 ou 14, também valores de pequena
importância variam consoante o estatuto da vida económica do menor);
à os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor
tenha sido autorizado a exercer ou os praticados no exercício dessa profissão,
arte ou ofício.
76
A incapacidade cessa quando atingem a maioridade ou quando são
emancipados – Art. 129 do CC.
Suprimento da Capacidade:
Em todos estes casos o menor não fica privado dos seus direitos, mas não
pode exercê-los pessoalmente. O menor não age pessoalmente, mas sim
através de outrem, o seu legal representante.
77
O sentido e o conteúdo jurídico da invalidade é tratado a propósito dos
negócios jurídicos.
Na matéria específica da incapacidade dos menores deve, no entanto, ser
tratada a legitimidade para pedir a anulação dos atos praticados pelos menores
que consolidam com a sua incapacidade, bem assim, o tempo dentro do qual
pode ser invocada a sua invalidade.
78
Este regime, constante do Art. 126 do CC, tem suscitado divergências na
sua interpretação.
Þ Numa interpretação restritiva, esta limitação seria aplicável tão só
quando a anulação fosse pedida pelo próprio menor, não
abrangendo os casos em que o requerimento partisse do seu legal
representante ou de um herdeiro, nos moldes em que tal é permitido
no Art. 125. Esta posição encontraria apoio imanente a todo o regime
da incapacidade dos menores, como regime especial de proteção do
menor, e que sobrelevaria o particular desvalor do dolo do menor,
correspondente ao tipo “venire contra factum proprium”. Embora
justificando uma especial sanção sobre o próprio menor, não
peculiariza a ação do seu representante ou do seu herdeiro. Esta é a
posição de Oliveira Ascensão e da regente.
Þ Uma outra interpretação dita que o dolo bloqueia a invocação da
invalidade quer pelo próprio menor, quer pelos seus legais
representantes ou herdeiros. Há a favor desta interpretação 2
argumentos: um emergente da posição jurídica dos representantes
legais e dos herdeiros em relação ao menor e outro que decorre dos
princípios da boa fé e da confiança e da aparência, e da tutela de
terceiros. Esta é a posição tomada por Menezes Cordeiro e por P.
Pais Vasconcelos.
Emancipação
79
administração do património anterior ao casamento continua a pertencer, até á
sua maioridade, ao pai e à mãe.
Este regime foi alterado o ano passado com a lei 48/18. Inicialmente dividia-
se este regime em dois tipos o da interdição e o da inabilitação.
Verificou-se uma necessidade de renovar o regime das “incapacidades” e,
por isso, desaparecem essas duas figuras e surge a figura do maior
acompanhado.
O regime tem como objetivos:
à a primazia da autonomia do visado, cuja vontade dever ser respeitada e
aproveitada até aos limites do possível;
à a subsidiariedade de quaisquer limitações judiciais à capacidade do
visado: só encaráveis quando o problema não possa ser ultrapassado com
recurso aos deveres de proteção e de acompanhamento comuns, próprios de
qualquer situação familiar;
à a flexibilização da interdição/inabilitação, dentro da ideia de que cada
caso é um caso;
à a manutenção de um controlo jurisdicional eficaz sobre qualquer
constrangimento imposto ao visado;
à o primado dos interesses pessoais e patrimoniais do visado;
à a agilização dos procedimentos, no respeito pelos pontos anteriores;
à a intervenção do Ministério Público em defesa e, quando necessário, em
representação do visado.
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Podemos fazer uma aproximação ao sistema geral do acompanhamento
com recurso a seis princípios básicos:
- Judicialidade: o acompanhamento pode ser limitativo de autodeterminação
livre do beneficiário; assim, apenas o juiz do Estado, com todas as garantias do
moderno processo civil e ouvindo os visados, os interessados e quem possa
ajudar pode tomar as dadas decisões, vejam-se os artigos 139 e 148;
- Primazia do acompanhado: nas decisões a tomar (Art. 140 nº1) e no modo
de as executar (Art. 146 nº 1), prevalecem sempre o interesse do
acompanhado e os valores a eles associados;
- Supletividade: no âmbito da família e, ainda, por via de certos contratos,
como o de internamento solicitado pelo próprio, surgem deveres gerais de
cooperação e de assistência que podem proteger eficazmente o beneficiário;
nessa eventualidade, não há que recorrer ao acompanhamento que fica
reservado para os casos em que não haja outra saída (Art. 140 nº 2);
- Necessidade: independentemente da existência de outros esquemas de
tutela, o acompanhamento só opera perante a impossibilidade de o próprio
poder agir plena, pessoal e conscientemente (Art. 138); deve entender-se que
essa impossibilidade se manifesta de modo poderoso e continuado; uma falha
secundária e/ou pontual não justifica a proteção legal;
- Minimalismo: o acompanhamento é personalizado, devendo moldar-se a
cada situação, em termos a apreciar pelo juiz e independentemente do que
haja sido pedido (Art. 145 nº 2), devendo cessar ou ser modificado, em função
de evoluir das causas que o justificaram (Art. 149 nº 1).
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à Requerimento de acompanhamento:
O acompanhamento é requerido pelo próprio ou, mediante autorização
deste, pelo cônjuge, pelo unido de facto, por qualquer parente sucessível ou,
independentemente de autorização, pelo Ministério Público (Art. 141 nº 1). A
autorização do beneficiário pode ser suprida pelo Tribunal, quando ele não a
possa dar livre e conscientemente (Art. 141 nº 2). Por razões de eficiência
processual, o pedido de suprimento pode ser cumulado com o de
acompanhamento (Art. 141 nº 3).
O acompanhamento pode ser requerido um ano antes do beneficiário atingir
a maioridade, para produzir efeitos a partir dela (Art. 142).
à Conteúdo do acompanhamento:
O conteúdo concreto do acompanhamento é decidido pelo juiz. O Art. 145
nº 2 refere, algumas das medidas:
à Exercício das responsabilidades parentais ou dos meios de as suprir,
conforme as circunstâncias;
à Representação geral ou representação especial com indicação expressa,
neste caso, das categorias de atos para que seja necessária;
à Administração total dos bens;
à Autorização prévia para a prática de determinados atos ou categorias de
atos;
à Intervenções de outro tipo, devidamente explicitadas.
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Nos termos do Art. 153 nº1, a publicidade é limitada ao estritamente
necessário para defender os interesses do beneficiário e de terceiros, em
termos dependentes de cada caso.
A sentença do acompanhamento fixa, ainda, a periodicidade com que as
medidas de acompanhamento devem ser revistas (Art. 155) tudo isso
pressupõe uma especial habilitação do tribunal.
à O acompanhante:
A figura do acompanhante é uma peça chave do novo regime. Dependendo
do conteúdo da decisão judicial, ele poderá representar total ou sectorialmente
o beneficiário, administrar total ou parcialmente os seus bens, autorizá-lo a
praticar determinados atos ou intervir de outra forma, dando conselhos,
acompanhando-o em conservatórias, em cartórios, em tribunais ou nas
diversas repatriações públicas, em agências bancárias ou em assembleias de
sociedades.
A escolha do acompanhante deve ser criteriosa. Esta descrita no Art. 143.
O nº 2 desse artigo enumera mesmo algumas pessoas, entre elas:
à Ao cônjuge não separado, judicialmente ou de facto;
à Ao unido de facto;
à A qualquer dos pais;
à À pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as
responsabilidades parentais, em testamento ou em documento autêntico ou
autenticado;
à Aos filos maiores;
à A qualquer dos avós;
à À pessoa indicada pela instituição em que o acompanhado esteja
integrado;
à Ao mandatário a quem o acompanhado tenha conferido poderes de
representação;
à A pessoa idónea.
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A escusa e exoneração do cargo de acompanhante está descrita nos
Artigos 144 quando referente a cônjuges, descendentes e ascendentes e no
1934 quando referente a outros acompanhantes.
O acompanhante pode ser removido quando falte ao cumprimento dos seus
deveres.
Nos dois primeiros casos, o prazo dentro do qual a ação de anulação deve
ser proposta só começa a contar-se a partir do registo da sentença (Art. 154 nº
2). Consegue-se, assim, um suplemento de tutela do acompanhado.
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Pessoas Coletivas
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Surge um problema! Assim podemos atribuir suscetibilidade de ser pessoa
no direito a qualquer coisa que tenha estas características – uma arvore, um
cão, etc.
Os indivíduos não têm fim são um fim em si mesmas – não servem para
nada, não podem ser objetos, deixam de ser pessoas e passam a ser meios –
mas as pessoas coletivas têm um fim.
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As pessoas coletivas têm personalidade jurídica, se não, não era uma
pessoa coletiva. Mas há pessoas coletivas sem personalidade jurídica – são
entidades que parece que têm personalidade jurídica, mas não têm, para o
direito não são pessoas coléticas- são as comissões especiais por exemplo, as
comissões de finalistas.
Uma pessoa com fins lucrativos pode celebrar negócios mesmo que não
sejam lucrativos. Quando uma sociedade oferece dinheiro por caridade não
ganham nada com isso.
Uma pessoa sem fim lucrativo também pode praticar atos lucrativos.
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O regime é o da plena validade de atuações com exceção dos negócios de
má fé.
O centro de imputação é a sociedade e não as pessoas que as integram.
Os associados e os sócios não estão vinculados à sociedade.
2/12/2019
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Desconsideração da pessoa coletiva.
4/12/2019
Subcapitalização
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Várias teorias: uma diz que so pode ocorrer desconsideração se se
provar que a atuação em causa teve uma intenção fraudulenta – subjetivista;
assim que haja um desvio relevante justifica-se o levantar do veu;
Pontos essenciais:
- acessibilidade concetual das pessoas coletivas – centro autónomo de
imputação de normas jurídicas, a p. coletiva é diferente da singular – e
atribuído pelo direito e n reconhecido; mas não e uma ficção tbm tem uma
forma de organização; e construído a partir de uma certa classificação – traços
fundamentais e os seus fins; sociedades civis, comerciais...; fundações
- Regime – a p. jurídica não é inata, mas sim uma atribuição do direito
ptt pode não existir. A capacidade é limitada pelo fim que pretendem
prosseguir; 160 – princípio da especialidade; o seu fim é sempre relevante para
o direito;
- Organização da pessoa coletiva
- Limites da personalidade coletiva: apesar do interesse que esta na
base da sua autonomização por tras dela esta sempre um conjunto de pessoas
singulares.
8/12/2019
Coisas/Bens
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Pontos Gerais
Art. 202 nº 1 – diz-se coisa tudo o que pode ser objeto de relações jurídicas.
Inspirada na técnica da relação jurídica – coisa é o objeto da relação. Este
conceito tem de ser reequacionado. Por outro lado, se compararmos esta
noção com a noção do código de Seabra (é coisa tudo o que carece de
personalidade) – noção muitíssimo ampla. O código atual é mais específico.
Do ponto de vista da regente é conveniente ficarmos a meio caminho dos
dois códigos.
A noção atual de coisa decorre do d. romano – rege. Esta era limitada a
bens corpóreos – apreensível pelos sentidos, realidades com existência física.
Só mais tarde se alargou aos bens incorpóreos – obras intelectuais, marcas,
invenções.
A noção que procuramos e um conceito jurídico e não físico.
Por outro lado, era tradicional a distinção entre coisas públicas e privadas –
nº 2 -.
Na tradição portuguesa é mais comum a designação de coisa, mas bem e
coisa são sinónimos – têm o mesmo sentido. Talvez o termo coisa seja mais
difícil de aplicar a bens incorpóreos. (PODEMOS USAR QUALQUER UMA
DAS EXPRESSÕES).
Esta noção é criticável. Uma coisa não perde a sua qualidade quando não é
objeto de relação jurídica nenhuma. Ex: Se eu perder o meu bem ele não perde
a sua qualidade de coisa, mas não é objeto de situação nenhuma porque eu o
perdi e ainda ninguém o encontrou.
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entre as pessoas e as cousas, aos quais a ordem jurídica trata de forma
diferente – Ex: o cadáver, os animais.
O prof. Menezes Cordeiro diz que, coisa é uma realidade a qual o direito
dispensa um tratamento que foi pensado para seres inanimados – posição
formal.
Classificações
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As coisas incorpóreas têm 4 tipos:
Þ bens intelectuais: abrangem as obras literárias – livros, tradução
plástica ou musical -, os eventos – registo de uma patente, o registo
de um evento/ descoberta é um bem intelectual, e as marcas – sinal
distintivo de uma coisa ou serviço, pode ser constituída por palavras,
desenhos, etc., sujeitam-se ao código da propriedade industrial e tem
de ser registadas. O código de direitos de autor é muito importante
para proteger os bens intelectuais;
Þ as prestações: é conduta humana devida (Castro Mendes) Tem
utilidade jurídica e por isso é uma coisa ainda que incorpórea;
Þ os quia jurídicos: são formas de representar uma determinada
situação jurídica, mas perspetivando-a como um bem. Ex: conta de
uma sociedade. (Art. 204 d) e
Þ bens de personalidade: discute-se se são ou não bens. A regente
considera que são bens e não uma posição intermédia. São
incorpóreos.
11/12/2019
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Para MC a noção de prédio não é descritiva o suficiente.
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Art. 210 – coisas acessórias –.
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