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2021/2022
Professora Doutora Mónica Jardim
Parte Geral
O Homem para substituir precisa de meios, e, como esses são escassos, tornam-
se bens económicos, sendo alvo de disputas e conflitos. Torna-se necessário regular o a-
cesso a esses bens e, por isso, surge o Direito Civil Patrimonial, que pode ser definido,
de acordo com Mota Pinto, como “aquele conjunto de normas atribuidoras de bens e defi-
nidoras da sua utilização, abrangendo outrossim aquelas regras que regulam a troca dos
bens entre as pessoas e a cooperação prestada por estas umas às outras - bens e coope-
ração avaliáveis em dinheiro”.
- Direito das Obrigações - regula o acesso as coisas, sendo que não há um poder dire-
to e um domínio autónomo sobre a coisa.
Exemplo: num contrato de arrendamento o que se pretende é usar a coisa de forma di-
reta e imediata, mas só é possível utilizar essa coisa porque o dono da coisa se obrigou
a facultar a coisa e, então, enquanto não for entregue a coisa, eu não posso utilizá-la.
Trata-se de um compromisso pre-existente.
- Direito das Coisas - regula o domínio autêntico e absoluto sobre as coisas e a direta e
imediata utilização das coisas, de forma autónoma sem mediador ou intermediários
(não pressupõe a interferência de terceiros), esquecendo, neste caso, o Direito das Su-
cessões. Encontra-se regulado no Código Civil, no Código Registo Predial, no Código
do Notariado, no Regime da Propriedade Horizontal e no Direito Real de Habitação Pe-
riódica e Duradoura.
Nos termos do artigo 397º do CC podemos retirar uma noção de obrigação, víncu-
lo jurídico, sendo que uma pessoa fica adstrita a realizar determinada prestação a favor
de outra pessoa. Por sua vez, direito de crédito é um vínculo segundo o qual uma pe-
ssoa (credor) pode exigir de outra (devedor) uma determinada prestação, que pode ter co-
mo objeto uma coisa, uma atividade ou uma abstenção.
Porém, para definir direito real torna-se mais difícil e, por isso, várias teorias foram
surgindo na doutrina.
Segundo esta teoria, o direito real é um poder direito e imediato sobre uma coisa,
existindo uma relação entre uma coisa e uma pessoa, sem que haja um intermediário. A
relação existente tem uma estrutura simples, linear e não intersubjetiva. Ao contrário, os
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direitos de crédito são o poder de exigir de outrem o direito a uma determinada presta-
ção e, portanto, pressupõe uma relação entre pessoas complexa, triangular e intersubjeti-
va.
No entanto, esta teoria não se refere quanto à forma de tutelar o direito real e tam-
bém não realiza a distinção entre direitos reais (poder direto e imediato sobre uma coisa)
e direitos pessoais de gozo (o titular só satisfaz o interesse se atuar direta e imediatamen-
te sobre a coisa).
Teoria personalista
Em primeiro lugar, a crítica principal é que não existem relações entre homens e
coisas, uma vez que todas as relações são entre pessoas, ou seja, são subjetivas e, por-
tanto, só em sentido figurado é que se pode falar num homem e numa coisa. Qualquer di-
reito subjetivo é uma pretensão dirigida a um comportamento humano, envolvendo sem-
pre 2 pessoas. Como tal, nos direitos reais existe uma relação entre pessoas.
Outra crítica que os personalistas dirigem à teoria clássica é que existem direitos
reais que não envolvem tal poder direto e imediato. Por exemplo, a hipoteca é um direito
real que não envolve um poder direto e imediato.
Por sua vez, Mónica Jardim entende que não é assim, visto que esse poder direto
e imediato dos direitos reais varia consoante as suas dimensões (de garantia, de gozo ou
de aquisição). Neste caso, estamos perante um direito real de garantia (hipoteca). Efetiva-
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mente o credor hipotecário não fica com a coisa, mas tem outro poder direto e imediato, a
venda judicial do bem, satisfazendo o seu crédito com preferência face a outros credores
de A. Como tal, se A não pagar ao banco, o banco pode intentar uma ação executiva. Este
poder consiste numa afetação jurídica de uma as vantagens que a coisa pode oferecer.
Porém, esta crítica também não procede, uma vez que é esquecido que o poder di-
reto e imediato não é sempre o mesmo, depende do direito real em causa (de garantia, de
gozo ou de aquisição).
Por fim, a última crítica demonstra que existem direitos que não são direitos reais
e, que, apesar disso, envolvem um poder direto e imediato sobre a coisa. Então, a nota
caracterizadora não é este poder direto e imediato. É exemplo o direito de um comanda-
tário ou de um arrendatário.
Quanto a esta crítica, rigorosamente, estes direitos não são direitos reais, mas sim
direitos pessoais de gozo, que envolvem um poder direto e imediato sobre a coisa, e
que tem uma eficácia relativa e não erga omnes. São eficazes inter partes, tal como os di-
reitos de crédito. Sendo assim, esta crítica também não procede, uma vez que a fonte dos
poderes dos direitos pessoais de gozo e os efeitos são diferentes da fonte e dos efeitos
dos direitos reais. O direito pessoal de gozo vale perante aquele que se vinculou e não
perante todas as outras pessoas.
No que toca aos direitos pessoais de gozo, estes envolvem um poder direto e
imediato, que não é autónomo nem independente, encontrando a sua fonte numa relação
intersubjetiva. Assim, são um 3º género, uma vez que não são direitos reais, mas também
não são direitos de crédito. Os direitos pessoais de gozo apresentam-se como estrutural-
mente complexos, visto que tem uma zona periférica, consubstanciada por várias obriga-
ções de conteúdo positivo e negativo, e um núcleo central, que procura retirar da coisa
certas utilidades. Logo, são direitos imediatos mas relativos.
O concurso de direitos ocorre sempre que sobre uma mesma coisa recai mais do
que um direito real, isto é, sobre uma mesma coisa incidem 2,3 ou 4 direitos reais.
Exemplo: sobre um prédio incide uma servidão de passagem e uma servidão de aqueduto
(direitos do mesmo tipo, mas de conteúdo diverso).
Exemplo: sobre um prédio incidem várias servidores de passagem (direitos do mesmo ti-
po e do mesmo conteúdo)
Para os personalistas, quando tal ocorre entre os titulares de direito real há uma re-
lação de cooperação intersubjetiva. Contudo, Mónica Jardim não considera que assim se-
ja, o que acontece é que os direitos reais são um conjunto de normas que visam realizar a
ordenação direta dos bens, subordinado-os ao domínio e a soberania das pessoas. Mas
para que esta ordenação ocorra não basta indicar quais são os tipos de direitos reais (go-
zo, garantia e aquisição), é preciso ir mais além, definindo o conteúdo e, ainda, determi-
nar os limites objetivos dentro dos quais os poderes podem ser exercidos. Como tal,
quando são fixados os limites, tudo fica resolvido e não há necessidade de relações inter-
subjetivas.
Exemplo: A é proprietária de um prédio rústico e não há outro direito real a incidir sobre
aquele prédio. Se o vizinho, B, decide passar no prédio de A, esta pode reagir, uma vez
que tem o domínio e a soberania sobre a coisa. O vizinho não pode passar no seu prédio,
já que se encontra vinculado ao dever geral de abstenção. Contudo, imaginemos que A
constitui, a favor do tal vizinho, uma servidão de passagem. Já não poderá reagir, dado
que foi constituída uma servidão.
Sendo assim, não implica qualquer relação intersubjetiva, uma vez que os terceiros
apenas devem imiscuir-se, cumprindo o dever geral de abstenção.
Quanto aos direitos reais menores, estes provam que o direito real não envolve
uma relação intersubjetiva. Há direitos reais menores que nascem independentemente de
qualquer relação entre o proprietário (dado que a propriedade é o direito mais amplo) e o
titular do direito real menor. Os direitos reais menores mantém-se à margem do contrato,
que tem apenas uma função genética ou matricial. Além do mais, os direitos reais meno-
res mantém-se mesmo que se extinga o direito de propriedade, por exemplo, quando
esteja em causa móveis. Por fim, os direitos reais menores podem ser adquiridos por
aquisição originária, sem relação jurídica.
Relações de vizinhança
Sendo assim, é preciso analisar o direito real numa dupla perspetiva: lado interno
(conteúdo) e lado externo (sanção e penalização de terceiros). Para o lado interno, o di-
reito real é um poder direto e imediato sobre uma coisa (inspiração realista). Já o lado ex-
terno, é o poder de afastar as ingerências dos terceiros que estejam onerados com a obri-
gação passiva universal - direito com eficácia erga omnes (inspiração personalista). No
âmbito dos direitos de crédito, o lado interno é o poder que incide imediatamente sobre
o comportamento de outrem e mediatamente sobre uma coisa. Quanto ao lado externo,
é a tutela relativa dirigida contra uma pessoa ou pessoas certas e determinadas (devedor)
(eficácia inter partes).
Porém, acabamos por afastar também esta teoria, recusando que se possa definir
o direito real através de uma componente subjetiva, mesmo que sancionatória.
Esta teoria parte de Henrique Mesquita, sendo que Mónica Jardim e Margarida
Costa Andrade adotam a mesma, atribuindo-lhe esta designação.
De acordo com Henrique Mesquita, o direito real traduz-se numa relação jurídica
através da qual uma coisa fica diretamente subordinada ao domínio ou soberania de uma
pessoa, segundo certo estatuto, que constitui fonte de poderes e de deveres que impen-
dem sobre o respetivo titular.
Apesar de defensor de uma teoria realista, a sua teoria acaba por trazer novidades.
Henrique Mesquita trouxe para dentro dos direitos reais, os deveres e as obrigações
reais, que vinculam o titular do direito real pelo simples facto de o ser e são de conteúdo
positivo (o que não significa que o titular do direito real esteja também constrangido por
deveres de conteúdo negativo, apenas não fazem parte do estatuto do direito real). Por
exemplo, quem tem um carro, pelo simples facto de ser proprietário, todos os anos tem de
pagar o IUC (obrigação real).
Para Henrique Mesquita, o interesse é satisfeito com o poder que é exercido direta
e imediatamente sobre a coisa, e não com o afastamento das ingerências de terceiros. E,
então, a nota caracterizadora do direito real é o poder direto e imediato, considerando que
o núcleo de qualquer relação real é o domínio ou soberania de uma pessoa sobre uma
coisa.
Ademais, é evidente que uma relação creditória é uma relação intersubjetiva, en-
tre pessoas (relação de cooperação).
Mas, uma coisa não é devedora de outra coisa nem de outra pessoa. E portanto,
Henrique Mesquita nega as relações intersubjetivas no quadro dos direitos reais, enten-
dendo que é uma relação entre homens e coisas, sendo que os terceiros não estão vincu-
lados por qualquer obrigação. Porém, isso não significa que os homens não tenham de
cumprir com o dever geral de abstenção, que não é a obrigação passiva universal, uma
vez que a coisa está sobre o domínio de uma pessoa (noção mais ampla do que a obriga-
ção - trata-se de uma conduta específica).
Deste modo, atribui-se soberania a uma pessoa sobre uma coisa, sendo que todos
os outros estão afastados. Nesta medida, afasta-se da teoria eclética porque o dever é
uma consequência.
Tal como Henrique Mesquita, ambas consideram que o direito real traduz-se num
poder direto e imediato sobre uma coisa, no domínio ou soberania de uma pessoa sobre
uma coisa (núcleo essencial) e, portanto, defensoras de uma teoria realista. Em conse-
quência, leva a subordinação da coisa ao domínio do titular do direito (aspeto positivo da
soberania) e a exclusão de terceiros relativamente a mesma esfera de soberania (aspeto
negativo da soberania). Por isso, o direito real é um direito absoluto, uma vez que é um
direito independente e que não pressupõe uma relação com outrem, não existindo uma
relação intersubjetiva - num polo está uma coisa e noutro polo está uma pessoa.
Deste modo, o direito real visa a ordenação direta dos bens, a sua imediata su-
bordinação a uma pessoa e, portanto, não tem de envolver uma relação entre pessoas,
visto que em causa está uma relação ordenadora e atributiva.
Acresce que, por ser um um direito dotado de eficácia erga omnes, impõe a todos
os não titulares do direito (terceiros) um dever geral de abstenção, que não supõe o es-
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tabelecimento de qualquer relação jurídica entre o titular de direito e os terceiros. O dever
geral de abstenção é apenas corolário da soberania positiva.
Assim, o dever geral de abstenção não envolve uma relação de cooperação com
terceiros, porque o titular de um direito real, para satisfazer o interesse que o levou a ad-
quirir esse direito, tem de atuar direta e imediatamente sobre a coisa, e, dessa forma, o
dever geral de abstenção não assume a função de realizar o direito real do titular.
Inerência
Traduz-se num direito inerente a coisa, ou seja, está ligado a coisa e, portanto, não
há direito real sem a coisa. Assim, se a coisa se extinguir, o direito real extingue-se e
deixa de existir (artigos 677º, 730º/c), 752º, 761º, 1476º/1/d), 1485º e 1536º/1/e) do CC).
Por sua vez, se apenas se perder parte da coisa (perda parcial), o direito real subsiste na
parte soberana (artigos 1478º e 1428º/2 do CC).
Da inerência resulta que não se pode transmitir um direito real de uma coisa para
outra. O direito está ligado àquela coisa, não pode ser transferido para outra coisa (artigo
1545º do CC).
Por sua vez, casos há em que o desaparecimento da coisa leva a que, em seu lu-
gar, apareça outra coisa que toma o seu lugar. É exemplo quando a coisa desaparece,
mas aparece no património do proprietário uma quantia pecuniária (artigos 692º/1, 1465º,
1480º e 1481º do CC).
Eficácia erga omnes e dever geral de abstenção - remissão para a natureza jurídica
dos direitos reais.
Forte tutela
Os direitos reais gozam de uma forte tutela, ou seja, se violarem o dever geral de
abstenção, atue com culpa ou sem culpa, cause ou não danos, tem de repor a situação
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em conformidade com o estatuto do direito real.
O titular do direito real passa a ter um direito de crédito (pretensão real) contra a-
quele que violar o dever geral de abstenção. Se o titular de direito real ficar privado da
coisa, passa a ter o direito de crédito a que a coisa seja restituída e, então, intenta uma a-
ção de reivindicação (artigos 1311º a 1313º do CC). Ao invés, se não ficar privado da coi-
sa, intenta uma ação negatória, de modo a exigir a eliminação da situação material con-
trária ao estatuto do direito. A estes pedidos pode somar-se um pedido indemnizatório, se
tiver existido danos. Este pedido já não é de natureza real, visto que se funda no facto do
outro ter causado danos, sendo necessário o preenchimento dos requisitos da responsa-
bilidade civil.
Por sua vez, num direito de crédito a tutela é bem mais fraca, dado que o terceiro
só pode ser responsabilizado se souber do direito de crédito ou se tiver uma atuação cul-
posa.
Sequela
As normas legais em causa aparecem, por vezes, indicadas como exceções à se-
quela. Todavia, para Mónica Jardim e Margarida Costa Andrade não se trata de exceções,
mas, antes, de um afastamento do princípio nemo plus iuris.
Decorre do artigo 5º/1 do Código do Registo Predial que “os factos sujeitos a regis-
to só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respectivo registo”. E do nº4
que “terceiros, para efeitos de registo, são aqueles que tenham adquirido de um autor co-
mum direitos incompatíveis entre si”.
Exemplo: A vende a B um imóvel, de forma válida, mas B ainda não realizou o registo,
sendo que há um prazo para o fazer. Neste lapso de tempo, A vende a C o mesmo imóvel,
também de forma válida e este regista, já que a 1ª aquisição não lhe é oponível. Neste ca-
so, o direito de B deixa de existir, sendo que a a titularidade do direito é reconhecida a C,
pela ordem jurídica, como não podem existir direitos incompatíveis sobre a mesma coisa.
Ora, se o direito de B deixa de existir, não há uma sequela (deixaria de atuar). Por força
do princípio da consensualidade (artigo 408º/1 do CC), o direito de propriedade transmitiu-
se de A para B no momento do contrato. Consequentemente, quando A vendeu o mesmo
imóvel a C celebrou um negócio nulo, de acordo com o princípio nemo plus iuris, a pro-
priedade já não é de A mas sim de B, e ninguém pode vender mais do que aquilo que é ti-
tular. Porém, o direito de propriedade deve ser registado, de modo a ficar consolidado pe-
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rante terceiros. Assim, se o negócio entre A e C não padecer de outra causa de invalida-
de, apenas a não legitimidade da venda de A, o artigo 5º do Código do Registo Predial
atribui o direito de propriedade a C.
Note-se, ainda, que o registo da 2ª aquisição assume uma função atributiva a favor
do 2º adquirente, com efeitos ex nunc, e uma função resolutiva a favor da 1ª aquisição,
que conduz à extinção do direito primeiramente constituído.
Em suma, não existe uma exceção à sequela, porque não temos um sujeito que é
impedido de seguir uma coisa que é sua. Deste modo, trata-se de um afastamento à regra
nemo plus iuris.
Artigo 291º do CC
Exemplo: A vendeu a B um imóvel, mas este negócio é nulo ou anulável. Antes de ter sido
declarada a nulidade ou a anulabilidade, B vendeu a C, sendo que C cumpriu com os re-
quisitos de validade e ainda registou. Já passaram mais de 3 anos e ninguém intentou a
ação de anulabilidade ou nulidade. Nesse caso, se o negócio vier a ser declarado nulo ou
anulado, isso não vai prejudicar C, C vai efetivamente adquirir o seu direito.
Assim, em causa está um afastamento ao princípio nemo plus iuris e não uma ex-
ceção à sequela, porque o adquirente de boa fé adquire o direito e, consequentemente, o
sujeito passivo do facto jurídico originariamente inválido deixa de o ser ou vê o seu direito
contraído, uma vez que sobre uma mesma coisa não podem existir direitos reais total ou
parcialmente conflituantes.
Preferência
Para Mónica Jardim, não existe, contudo, um verdadeiro conflito no caso dos direi-
tos pessoais de gozo e, portanto, rigorosamente não se pode falar em preferência. Tam-
bém não acontece um conflito entre um direito de crédito ou um direito pessoal de gozo
anteriormente constituído em relação a um direito real, já que temos de um lado um direito
eficaz inter partes e, do outro, um direito eficaz erga omnes.
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Porém, nos direitos reais de garantia, a ideia de preferência já é pertinente, já
que atribuem ao seu titular uma preferência de pagamento à custa do valor da coisa face
aos demais credores e de outros que detenham uma garantia real. Assim, admitindo que
a mesma coisa possa servir de garantia a mais do que um crédito, e pensando na hipóte-
se de incumprimento de um ou mais créditos garantidos, coloca-se o problema de quem
vai ser pago em primeiro lugar. Dado que a preferência é o critério ordenador de paga-
mentos, pagar-se-à primeiro o credor cuja garantia tenha sido constituída em primeiro lu-
gar (eficácia erga omnes), e assim sucessivamente, a não ser que a lei mobilize critérios
de interesses especiais dos credores.
Por último, regra potior in tempore, potior in iure não é característica exclusiva da
ordenação dos direitos reais de garantia. Por um lado, os privilégios mobiliários gerais,
que recaem sobre todos os móveis do devedor e, portanto, não podem ser considerados
direitos reais, atribuem aos seus titulares preferência sobre os credores comuns do deve-
dor (artigo 733º do CC). Por outro lado, os direitos pessoais de gozo são ordenados em
função da data da sua constituição (artigo 407º do CC). O legislador estendeu aos direitos
pessoais de gozo a regra da prioridade temporal a que estão subordinados os direitos
reais.
Por fim, note-se que o que foi dito quanto ao carácter excecional dos artigos 5º do
Código do Registo Predial e do artigo 291º do CC, aplica-se também aqui.
Um direito de crédito é eficaz inter partes, já um direito real é eficaz erga omnes.
Um direito de crédito pode ter por objeto coisa indeterminada, enquanto que o obje-
to de um direito real é uma coisa certa, determinada e atual, sendo que o direito real é
inerente à coisa que assume o estatuto do seu objeto.
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Um direito de crédito pode incidir sobre mais do que uma coisa, um direito real, em
regra, apenas tem por objeto uma coisa (princípio da especialidade). Contudo, como ex-
ceção encontramos a hipoteca, que pode incidir sobre várias coisas certas e determina-
das (artigo 696º do CC).
Nos direitos de crédito vigora o princípio da autonomia privada (artigo 405º do CC),
nos direitos reais valem os princípios da tipicidade e taxatividade (artigo 1306º do CC).
Os direitos de crédito estão sujeitos à prescrição extintiva que não opera por força
da lei, não é de conhecimento oficioso e tem de ser invocada pelo interessado. Por seu
turno, em matéria de direitos reais, os direitos reais de aquisição só prescrevem se a lei
não estabelecer prazo para o respetivo exercício, pois, no caso contrário, o direito ficará
subordinado ao regime da caducidade. Quanto aos direitos reais de gozo sobre coisa
alheia extinguem-se pelo não uso (artigo 298º/3 do CC), exceção do direito de superfície
(artigo 1528º do CC). O direito de propriedade pode extinguir-se por abandono se tiver por
objeto móveis, se tiver por objeto imóveis discute-se na doutrina que se extinga mediante
renúncia abdicativa.
Finalmente, apenas os direitos reais de gozo podem ser adquiridos por usucapião -
forma de aquisição originária (artigo 1287º do CC).
Quer os direitos de crédito, quer os direitos reais são direitos patrimoniais que con-
cedem o acesso a bens.
Tanto uns como outros podem surgir por mero efeito do contrato, segundo o princí-
pio da causalidade, não sendo necessário qualquer ato posterior tendente à execução da
vontade (como a entrega da coisa ou o registo).
Os direitos reais de garantia são instrumentais face aos direitos de crédito, uma
vez que asseguram a satisfação do credor, compelem o devedor ao cumprimento e permi-
tem uma reação privilegiada em face do eventual incumprimento.
São ainda pontos de contacto entre os direitos de crédito e os direitos reais a pre-
tensão real e a obrigação real.
Obrigações reais
Noção
Obrigações reais são vínculos jurídicos por força dos quais, uma pessoa, na quali-
dade de titular de um direito real, pelo simples facto de o ser, fica adstrita para com outra
pessoa, que pode ou não ser titular de um direito real, à realização de uma prestação de
conteúdo positivo (dar ou fazer), de acordo com o estatuto de um direito. Estruturalmente
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são verdadeiras obrigações, mas estão situadas dentro do conteúdo de um direito real e
emergem do estatuto desse.
Acresce que, não englobam nenhuma relação intersubjetiva, o que o legislador faz
é apenas e somente dizer os limites entre os quais se pode exercer o direito próprio, pois
nem sempre os limites do exercício do direito coincidem com limites da coisa.
Nota: quando o credor do cumprimento da obrigação seja titular de um direito real, diz-se
que é titular de um crédito propter rem.
Elementos cumulativos:
Regime Jurídico
As obrigações reais estão sujeitas ao princípio da taxatividade, visto que estas fa-
zem parte do conteúdo do direito e, portanto, vale o princípio da taxatividade a que estão
subordinadas, quer quanto às modalidades que podem revistar, quer quanto ao respetivo
conteúdo.
Fontes legais:
Questão da ambulatoriedade
Contudo, na doutrina afirma-se que a autonomia privada não pode ir tão longe, ao
ponto de impor uma obrigação a todo aquele que, no futuro, venha a ser titular do direito
real. Há, então, um vício de raciocínio, por faltar justificação prévia para esta ambulatorie-
dade de obrigações que, nascidas anteriormente, passariam a vincular automaticamente
o subadquirente do direito real, independentemente de qualquer acordo e franca contradi-
ção.
Na perspetiva de Mónica Jardim, tendo por base Henrique Mesquita, são sempre
ambulatórias as obrigações reais de facere que imponham ao devedor a prática de atos
materiais na coisa que é objeto do direito, visto que, por um lado, se o alienante do direito
real deixa de exercer a soberania sobre a coisa, passa a estar impossibilitado de realizar
a prestação debitória, e, se se transmite o direito, transmite-se também a obrigação real
que já houver nascido na sua esfera jurídica. Por outro lado, porque em causa estão obri-
gações que decorrem de certa situação material com o escopo de modificar tal situação
por forma a harmonizá-la com o estatuto real a que ela se encontra sujeita.
Por sua vez, apenas devem ser consideradas ambulatórias as obrigações de dare,
no momento em que é transmitido o direito, se os pressupostos materiais que deram ori-
gem ao surgimento da obrigação ainda estiverem objetivados na coisa. Em caso de trans-
missão do direito real, a obrigação real passa a vincular automaticamente o subadquiren-
te, independentemente de qualquer acordo.
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real e que lhes aumentaram o valor. Por fim, o subadquirente não dispõe de elementos
para saber se o alienante cumpriu as obrigações e não é justo que se lhes imponha o
ónus de averiguar. Sendo assim, a obrigação real não acompanha o direito real, autono-
mizando-se e permanecendo na esfera jurídica do transmitente e, portanto, tornando-se
numa obrigação autónoma.
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Direitos reais de gozo
O direito mais amplo é o direito de propriedade, que é um direito real de gozo, que
permite ao seu titular usar a coisa, fruir (retirar as utilidades que dela emerjam), dispor,
onerar e alienar a coisa, e, por vezes vezes, até transformar (material e juridicamente) (ar-
tigo 1305º do CC). Acresce que, o proprietário tem o direito de não ser privado arbitraria-
mente da sua propriedade (artigo 1308º do CC).
Propriedade horizontal
Com base nos artigos 1414º e 1420º/1 do CC, na propriedade horizontal congrega-
riam-se 2 direitos reais distintos: um de propriedade singular sobre cada uma das frações,
e outro de compropriedade ou comunhão, cujo objeto é constituído pelas partes comuns
do artigo 1421º do CC.
Direitos reais de gozo sobre coisa alheia ou direito reais limitados de gozo
O direito de usufruto pode ser temporário, durante o tempo previsto pelas partes,
ou vitalício, durante o tempo de vida do usufrutuário. Se for constituído a favor de pessoa
coletiva a duração máxima são 30 anos (artigo 1443º do CC).
Ao invés, nesta situação inexiste consenso. Para Mónica Jardim, o direito de usuf-
ruto dura até o tempo de vida do usufrutuário, e, morrendo o usufrutuário, morre o usufru-
to. No caso do usufrutuário ter transmitido o direito, o usufruto extingue-se quando o pri-
meiro a morrer é o usufrutuário originário, visto que o tempo fixado faz parte do regime do
usufruto e mantém-se com a transmissão. Por sua vez, se quem morrer for o usufrutuário
subsequente, ou seja, a quem é transmitido o usufruto, o usufruto mantém-se e é transmi-
tido para os herdeiros do usufrutuário subsequente. Em suma, não se transmite mortis
causa se quem morrer for o usufrutuário inicial ou originário e, portanto, transmite-se sem-
pre que for o usufrutuário subsequente a morrer primeiro.
Os direitos em causa são 2 direitos diferentes, quer quanto ao objeto, quer no que
toca às faculdades atribuídas ao seu titular.
- Direito de uso - ao contrário da sua expressão na letra da lei, confere mais do que u-
sar. Trata-se de um direito de usar e fruir de uma coisa alheia, na medida das suas ne-
cessidades e da sua família. Como tal, é um direito intuito personae, e, por isso, não
pode ser trespassado, locado ou onerado (artigo 1488º do CC). É também insuscetível
de aquisição por usucapião (artigos 1485º e 1293º/b) do CC).
- Direito de habitação - consiste no direito de uso apenas da casa de morada, sem po-
der trespassar, onerar ou locar.
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Note-se que o artigo 1528º do CC prevê o desmembramento do objeto do domí-
nio, dado que a propriedade do solo permanece no património de um sujeito e a proprie-
dade da obra ou plantação passa para outro.
Deste modo, na posição do curso, quando ainda não foi feita a obra ou plantação,
estamos perante um direito real menor de gozo. Feita a obra ou a plantação, o superficiá-
rio passa a ter o direito a manter, que é também um direito real menor de gozo, bem como
o domínio sobre a dita obra ou plantação (direito muito próximo ao direito de propriedade,
sendo que se aplicam algumas regras, nomeadamente a faculdade de alienar e onerar -
artigos 1534º e 1541º do CC).
Por fim, este direito envolve uma exceção ao princípio superficies solo cedit, já que
ao proprietário do solo não pertence tudo o que a ele se vem implantar ou a incorporar.
- Servidão é um encargo;
- Encargo que recai sobre um prédio;
- Aproveita outro prédio;
- Os prédios devem pertencer a donos diferentes. Contudo, os prédios não tem que ser
vizinhos nem confinantes.
Deste modo, não pode ser um encargo imposto a uma pessoa a favor de um pré-
dio, visto que isso são servidões de gleba que não são admitidas, nem pode ser um en-
cargo a favor de uma pessoa.
Exemplo: A atribui a B o direito de instaurar a sua rolote no seu prédio durante a volta a
Portugal. Será que estamos perante uma servidão? Não, visto que não estamos perante 2
prédios, a rolote não esta incorporada no solo (artigo 204º do CC).
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Características das servidões:
- Atipicidade de conteúdo (artigo 1544º do CC) - quaisquer utilidades que o prédio po-
ssa proporcionar podem ser objeto de uma servidão. A servidão é um tipo aberto, sen-
do que o seu conteúdo pode ser moldado segundo a vontade das partes.
- Inseparabilidade (artigo 1545º do CC) - as servidões não se separam dos prédios. A
servidão predial recai sobre o prédio serviente, independentemente de quem seja o
proprietário, e o proprietário do prédio dominante não pode transmitir a servidão sem
transmitir a propriedade do prédio.
- Indivisibilidade (artigo 1546º do CC) - caso a divisão respeite ao prédio dominante, a
servidão mantém-se, passando a beneficiar cada um dos novos titulares, que a podem
usar sem alteração nem mudança. Se for dividido o prédio serviente, cada uma das
parcelas continua a suportar a servidão, tal como ela existia anteriormente, na parte
que já a onerava, enquanto parte do todo.
Distingue-se:
- Servidões legais (artigo 1547º/2 do CC) - são as que estão previstas na lei e podem
ser constituídas coercivamente, mediante decisão judicial ou administrativa. Exemplo:
artigo 1550º/1 do CC.
- Servidões voluntárias (artigo 1547º/1 do CC) - são as que não podem ser constituídas
coercivamente. Podem ser constituídas por contrato, usucapião e destinação de pai de
família.
- Servidões aparentes (artigo 1362º/1 do CC) - revelam-se por sinais visíveis e perma-
nentes. São oponíveis independente de registo (artigo 5º/2 do Código do Registo Pre-
dial).
- Servidões não aparentes (artigo 1548º/2 do CC) - não se revelam por sinais visíveis e
permanentes. Não podem ser adquiridas por usucapião (artigos 1293º/a) e 1548º/1 do
CC). Devem ser registadas, para produzirem efeitos por terceiros. No artigo 1280º do
CC menciona-se a relevância das ações de defesa da pose, sendo que não são aplicá-
veis as ações de defesa da pose, a não ser que se funde em título provindo do proprie-
tário do prédio serviente ou de quem lho transmitiu.
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De acordo com o artigo 2º do DL 1/2020, este direito faculta a uma ou várias pe-
ssoas o gozo de uma habitação alheia para residência permanente, por um período vitalí-
cio, mediante o pagamento de uma caução e ainda de contrapartidas periódicas, cujo
montante é estabelecido no contrato (artigo 7º/1 do DL 1/2020). Contudo, o direito de go-
zo desdobra-se nas faculdades de uso e fruição, e, não é isso que está em causa aqui.
Assim sendo, o direito real de habitação duradoura não concede ao morador o gozo, mas
apenas o uso de coisa alheia.
Contudo, é possível onerar o direito em causa com uma hipoteca, mas apenas
quando esta sirva para garantir o crédito que seja concedido ao morador para pagar, no
todo ou em parte, o valor da caução (artigo 13º/1 do DL 1/2020).
Acresce que, nada impede o proprietário de alienar o seu direito (artigo 11º do DL
1/2020). Porém, com exceção da hipoteca, sendo que não pode constituir outros direitos
ou garantias reais sobre a mesma (artigo 11º/1 do DL 1/2020). Note-se que, o proprietário
só pode hipotecar a casa, depois de constituir o direito real de habitação duradoura.
Com base no artigo 5º/3 do DL 1/2020, o contrato é celebrado por escritura pública
ou por documento particular, sendo que está sujeito a inscrição no registo predial - o mo-
rador deve requerer no prazo de 30 dias a contar da data de celebração do contrato (arti-
go 5º/4 do DL 1/2020).
No que toca à extinção deste direito, pode ocorrer por reunião do direito real de ha-
bitação duradoura com a propriedade na mesma pessoa, caducidade, renúncia e resolu-
ção do contrato por meio do qual se constituiu o direito. A extinção determina que o mora-
dor fica obrigado à entrega do imóvel e o proprietário fica obrigado à devolução da caução
(artigo 15º/1 do DL 1/2020).
Os direitos reais de garantia são direitos que asseguram a realização, ainda que
subsidiária, de um crédito, ou seja, contribuem para assegurar o cumprimento das obriga-
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ções. Assim, através destes, o titular do direito real de garantia pode promover a venda ju-
dicial de um bem e com um produto da venda satisfazer o seu crédito, com preferência fa-
ce aos demais credores. Deste modo, podemos assumir que os direitos reais de garantia
tem uma função instrumental face aos direitos de crédito.
O titular do direito real de garantia não pode, em regra, praticar atos de uso ou frui-
ção. Porém, é consagrada uma exceção, sendo que, na consignação de rendimentos, po-
de desencadear um ato de disposição da coisa, satisfazendo-se paulatinamente através
do crédito, uma vez ocorrido o incumprimento.
A hipoteca é uma garantia real que confere ao credor o direito de ser pago pelo va-
lor de certas coisas imóveis e móveis equiparados (veículos automóveis, navios e aerona-
ves - artigo 688º/1/f) do CC) pertencentes ao devedor ou a terceiro com preferência sobre
os demais credores que não gozem de privilégio especial ou prioridade sobre o registo.
Podem também ser objeto os direitos, por exemplo, ser hipotecado o usufruto de uma
casa.
Embora seja um direito acessório, que apenas existe em função da obrigação cujo
cumprimento assegura, a hipoteca pode garantir uma obrigação futura ou condicional, nos
termos do artigo 686º/2 do CC.
Note-se que a coisa hipotecada não tem que pertencer ao devedor. Assim, quem
pode alienar o bem é quem pode constituir a hipoteca (artigo 715º do CC). Além do mais,
a hipoteca não envolve a perda da posse sobre a coisa objeto da garantia.
- Voluntárias (artigo 712º do CC) - encontram o seu título num contrato ou numa decla-
ração unilateral do seu autor, sendo que se exige forma (artigo 714º do CC). Uma vez
que a hipoteca deve ser registada, o registo funciona como modo (artigos 687º do CC e
4º/2 do Código do Registo Predial).
- Legais (artigo 704º do CC) - estão previstas na lei e podem ser constituídas logo que
exista a obrigação a que servem de garantia, através do registo. O registo é constitutivo
e pressuposto da existência de direito.
- Judiciais (artigo 710º do CC) - nasce de uma sentença de condenação, que condena o
devedor à realização de uma prestação de venda em dinheiro ou de outra coisa fungí-
vel (título) e do registo da sentença (modo). Tem o valor de pré-penhora.
Por fim, podem existir garantias ocultas, não registadas que, em alguns casos, pre-
valecem sobre os direitos do credor hipotecário. É exemplo os privilégios creditórios imo-
biliários (artigo 751º do CC) e direito de retenção (artigo 759º/2 do CC).
Tem por objeto coisas móveis (não equiparadas a imóveis) e direitos que tenham
por objeto móveis suscetíveis de transmissão (que não sejam objeto da hipoteca) (artigos
666º/1 e 680º/1 do CC). Quando em causa esteja um penhor de um direito de crédito, na
perspetiva do curso, não existe qualquer direito real.
Apenas tem legitimidade quem poder alienar a coisa, sendo que o objeto empenha-
do pode ser do devedor ou de terceiro.
O penhor, ao contrário da hipoteca, não está sujeito a registo, em regra, a não ser
que seja um penhor de um direito de crédito assegurado por uma hipoteca ou consigna-
ção de rendimentos (artigo 2º do Código do Registo Predial).
O credor que tenha a coisa, em regra, não pode usar a coisa, a não ser que seja
indispensável para a sua conservação (artigo 671º/b) do CC). Na falta de convenção em
contrário, se a coisa móvel objeto do penhor gerar frutos, o credor pode ir abatendo a sua
dívida, ou seja, em vez de satisfazer o crédito com a prestação voluntária do seu vende-
dor ou mediante a venda judicial, pode satisfazer gradualmente o crédito com o que a coi-
sa vai gerando (assemelha-se à consignação) (artigo 672º do CC).
Existe quando alguém detém licitamente uma coisa de outrem que deve entregar,
se, em simultâneo, estiver em posição de devedor quanto à entrega da coisa e for credor
do seu credor por despesas feitas na coisa ou por danos por ela causados. Assim, não só
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pode recusar a entrega da coisa, como pode promover a sua execução judicial, para se
pagar à custa do valor da coisa com preferência face aos de-mais credores.
- Titular do direito dever licitamente uma coisa que deva entregar a outrem;
- Titular do direito, obrigado à restituição da coisa, ser simultaneamente credor daquele a
quem a deve restituir;
- Entre os 2 créditos exista uma relação de conexão.
O direito de retenção pode ter por objeto coisas imóveis, móveis equiparados a
imóveis (aplica-se o regime da hipoteca - artigo 758º do CC) ou coisas móveis não equi-
paradas aos imóveis (aplica-se o regime do penhor - artigo 759º do CC).
O direito de retenção não está sujeito a registo para consolidar a oponoibilidade pe-
rante terceiros.
Trata-se da faculdade atribuída por lei, e apenas por lei, a certos credores de se-
rem pagos por preferência em relação aos demais, em atenção à natureza dos seus cré-
ditos independentemente de registo.
Os privilégios creditórios imobiliários especiais são direitos reais, mas são um peri-
go para um comércio jurídico. Para além de se constituírem e serem oponíveis para ter-
ceiros, independentemente de registo, gozam de preferência sobre os restantes direitos
reais de garantia anteriormente constituídos.
O direito real de garantia que resulta da penhora e do respetivo registo
A penhora, em sentido amplo, pode ser definida como um conjunto de atos ordena-
dos, complementares e funcionalmente ligados com vista a produzir um efeito único: a
vinculação dos bens a satisfação do crédito do que intenta a ação executiva ou a vincula-
ção dos bens ao processo, assegurando a viabilidade dos atos executivos. Em sentido es-
trito, a penhora traduz-se num ato de apreensão de bens identificados e individualizados,
bens esses que vão ser vendidos no âmbito da ação executiva, para satisfação do crédito.
O ato de apreensão produz efeitos jurídicos e um deles é o previsto no artigo 822º do CC,
sendo que o credor exequendo passa a ter o poder de ser pago com preferência a qual-
quer outro credor que não tenha garantia real anterior à custa do valor dos bens apreendi-
dos. Ou seja, a penhora não é um direito real de garantia, mas da penhora e do registo
nasce um direito real de garantia.
Não atribui ao seu titular o poder de venda judicial do bem, e, por isso, é um direito
real diferente.
Pode garantir uma dívida já existente, futura ou condicional (artigo 656º/1 do CC).
Pode ser voluntária ou judicial (artigo 658º do CC). A primeira resulta de negócio entre vi-
vos ou de testamento, constituída pelo devedor ou por terceiro, já a segunda resulta de
decisão judicial. No caso de consignação voluntária, depende de escritura pública, docu-
mento particular autenticado ou testamento, se o objeto for bens imóveis ou simples escri-
to particular, se for móvel (artigo 660º do CC). Em qualquer caso, está sujeita a registo
(artigo 2º/1/h) do Código do Registo Predial). Mas, se for créditos nominativos, basta a
menção nos títulos e averbamento (artigo 660º do DL 116/2008).
De acordo com o artigo 659º do CC, o prazo pode ser fixado até ao pagamento da
dívida ou a consignação pode ser estabelecida até que a dívida seja paga. Nesta última
hipótese, se estiverem em causa bens imóveis, não pode exceder os 15 anos.
Apesar de ter por objeto rendimentos de certas coisas, essas coisas podem conti-
nuar na mão do devedor ou podem ser entregues ao credor e o credor é equiparado ao
locatário que é mero detentor ou podem ser entregues a um terceiro (artigo 661º/1/a), b) e
c) do CC - modalidades do direito de retenção).
Por fim, o artigo 665º do CC realiza uma remissão para o regime da hipoteca.
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Atribuem ao seu titular a faculdade de aquisição de um direito real de garantia ou
de gozo e, portanto, tem uma função instrumental. Apenas estamos perante um direito
real de aquisição se através do seu exercício se conseguir adquirir um direito real de ga-
rantia ou de gozo. Em causa tem de estar um verdadeiro direito. É uma construção da
doutrina da jurisprudência germânica, tendo um campo de aplicação relativamente redu-
zido.
Não pode ser apenas uma faculdade que a lei concede a todas as pessoas, ou se-
ja, que a lei atribui indiscriminadamente a todas as pessoas. Nesta hipótese está o caso,
por exemplo, do artigo 1323º do CC, referente à ocupação, sendo que quem encontrar um
animal ou uma coisa móvel perdida terá de tentar saber a quem pertence, avisando as au-
toridades. Contudo, se continuar sem determinar o dono, a coisa será havida como perdi-
da decorrido 1 ano, sendo que quem encontrou pode fazer sua a coisa. Qualquer pessoa
pode tornar-se proprietária da mesma, desde que siga os passos fixados no artigo. Esta é
uma faculdade que a lei atribui indiscriminadamente e, portanto, não estamos perante um
direito real de aquisição.
Para parte da doutrina, estamos perante um direito real de aquisição, sendo assim,
há quem entenda que a ação de execução específica, depois de ser registada, se traduz
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num direito real de aquisição. Do contrato promessa nasce um direito de crédito a que ve-
nha a ser celebrado o contrato definitivo e nasce também o direito a intentar a ação espe-
cífica.
Para além desta posição na doutrina, há outra, nos termos da qual, o direito do
promissário é um direito real de aquisição, porque o promissário tem um direito de crédito
à prestação, tem o direito de intentar a ação de execução específica e depois, do tribunal
se substituir ao faltoso e emitir a declaração, a pessoa adquire o direito real com prevalên-
cia sobre o terceiro porque sempre teve um direito real de aquisição, desde o início. Esta
é a posição maioritária. Na nossa perspetiva continua a não fazer sentido falar em direito
real de aquisição, já que se pode chegar ao mesmo resultado de outro modo.
No entanto, Calvão da Silva diz que nasce um direito de crédito com eficácia pe-
rante terceiros, nasce o direito à execução específica e depois, do tribunal se substituir ao
faltoso e emitir a declaração, o promissário vê o seu direito prevalecer em relação aos ter-
ceiros, porque a sentença constitutiva vai retroagir os seus efeitos à data do contrato pro-
messa. Na nossa perspetiva, é certo que em causa está um direito de crédito fortemente
tutelado, mas Mónica Jardim não concorda com a ideia de que a sentença proferida deva
retroagir os efeitos, porque é uma sentença constitutiva. Para que uma sentença produzi-
sse efeitos retroativos, tinha de haver normas nesse sentido e não existe. Por último, o
fundamento não é efetivamente o mais correto, dado que o registo da sentença vai retroa-
gir os seus efeitos ao registo provisório, de acordo com o artigo 6º do Código do Registo
Predial.
Note-se que, nem sempre é feito um registo provisório para depois ser feito um re-
gisto definitivo. No caso da sentença e de acordo com o Código do Registo Predial, antes
de haver o registo da sentença, há o registo da ação provisório, e quando é proferido o re-
gisto da sentença este retrotrai-se à data do registo da ação (não é a data do contrato-
promessa). Os efeitos que se retrotraem são os do registo.
O legislador português admitiu que, a par dos direitos reais, determinados direitos
de crédito, pudessem aceder ao registo (inscrição definitiva). Quando permitiu isso foi
para atribuir a eficácia equiparada a um direito de crédito em face de terceiros, o tal direito
de crédito, uma vez registado, não muda de natureza, isto é, não passa a direito real, mas
passa a ser eficaz perante a terceiros para efeitos de registo. Quando o promissário faz o
registo do direito de crédito, passa a ter um direito oponível perante terceiros. Consequen-
temente, todos os negócios que celebrar com terceiros que ponham em causa a celebra-
ção do contrato prometido serão tidos como ineficazes perante aquele direito de crédito.
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Se for celebrado o contrato prometido, no final de uma ação executiva, todos os negócios
celebrados com terceiro que podiam impedir a celebração do contrato prometido que pa-
deceram de eficácia relativa e provisória, quando for celebrado o contrato e for feito o re-
gisto de aquisição, todos esses negócios passam a ser definitivamente ineficazes.
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O preferente deve intentar a ação de preferência. Através da ação de preferência, o
preferente pede ao tribunal que o substitua face ao terceiro. O preferente quer a posição
contratual do terceiro para si, pretendendo sub-rogar-se à posição do terceiro. Trata-se de
um direito potestativo. Nesta última fase não se deve pedir que o contrato com terceiro se-
ja declarado nulo, anulado ou ineficaz. O que o preferente pretende é efetivamente aquele
contrato, e, naturalmente, quer um contrato válido. Do ponto de vista do registo, também
não se pede o cancelamento, continua a valer mas para o preferente. Todos os atos cele-
brados pelo terceiro são considerados como atos sobre coisa alheia, sendo nulos.
Em causa está uma relação jurídica complexa e não um direito real de aquisição,
sendo que é integrada por vários direitos de crédito e direitos potestativos.
Parte Geral
De acordo com o artigo 202º do CC, coisa que é o objeto dos direitos reais é “tudo
aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. Contudo, este artigo não é particular-
mente feliz, de acordo com Mónica Jardim, dado que nem tudo o que é objeto de relação
jurídica é uma coisa - não são coisas as pessoas e as pessoas são suscetíveis de serem
objeto de relação jurídica; não são coisas as prestações e são objeto de relação jurídica e
não são coisas as situações económicas, sendo que são suscetíveis de ser apropriadas.
Assim, entende-se que a noção é demasiado ampla. Não podem ser objeto de direitos
reais as coisas que estão no domínio público e as que sejam insuscetíveis, por natureza,
de apropriação pessoal. Deste modo, o conceito jurídico de coisa tem de ser restringido.
Exemplo: uma mesa da sala de aula reúne todas estas características, mas o painel de a-
zulejos poderia estar a venda, se fosse de domínio privado, e então não está individuali-
zado, visto que faz parte de um todo, isto é, da faculdade, e porque assim o é não é con-
siderado coisa. Assim, este painel de azulejos fixado na parede, uma vez que não é uma
coisa não pode beneficiar de direitos reais, com a ressalva de enquanto aquele painel não
for autonomizado (individualizado). Mas se esse painel for retirado da parede já será indi-
vidualizado e então será uma coisa.
Neste sentido, não cabe na noção jurídica de coisa o que tenha personalidade jurí-
dica (pessoas), qualquer objeto que não tenha existência autónoma (partes integrantes e
partes componentes), algo insuscetível de apropriação, ou seja, que o homem não possa
dispor ou usar ou algo que seja suscetível de apropriação mas não seja exclusiva. Tam-
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bém não são coisas aquilo que não seja apto a satisfazer necessidades ou interesses hu-
manos.
Para Orlando Carvalho, coisa é uma entidade do mundo externo, dotada de sufi-
ciente individualidade e economicidade para assumir o estatuto permanente de objeto de
domínio.
Em suma, coisas são sempre bens, mas nem todos os bens são coisas.
O legislador português não formula uma distinção entre ambas, realizando apenas
uma enumeração taxativa. Assim, o que não conste do artigo 204º do CC é havido como
móvel. Esta distinção releva em matéria de forma, de registo, de direitos reais e de usuca-
pião.
São coisas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade. Por outro
lado, são determinadas por conta, peso e medida, de acordo com Manuel de Andrade.
Não são entidades certas e determinadas na espécie, sendo que só se tornam cer-
tas e determinadas depois da escolha, e, portanto, não são suscetíveis de serem objeto
de direitos reais.
São aquelas que não estão em poder do disponente ou que este não tem direito ao
tempo da relação negocial.
Distingue-se:
- Coisa relativamente futura - coisa que já existe mas ainda não está no poder do dis-
ponente ao momento da declaração negocial. No entanto, ele tem a legítima expectati-
va de vir a adquira-la, dando conta disso à contraparte e o negócio é celebrado nessa
suposição (artigos 408º/2, 893º e 942º do CC).
- Coisa absolutamente futura - coisa que não existe mas que é esperada.
- Coisa alheia - já existe, não está em poder do disponente e este não tem a legítima
expectativa de vir a adquirir (artigo 892º, 893º, 942º e 956º do CC).
- Coisa inexistente - não existe na disponibilidade do disponente, nem de quer que seja,
sendo que o disponente não tem a legítima expectativa de vir a adquirir.
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Enquanto que, as partes integrantes (artigo 204º/3 do CC) são coisas móveis
unidas materialmente e com carácter de permanência, com o intuito de aumentar as utili-
dades da coisa, tornando-a mais produtiva, mais segura, mais cómoda ou embelezar. Não
fazem parte da estrutura e sem ela a coisa continua a estar apta ao fim e ao uso a que se
destina, portanto, podem ser levantadas. É exemplo a louça sanitária ou um painel solar.
Ambas não podem ser objeto de direitos reais autónomos enquanto não forem se-
paradas da coisa principal. Assim, podem ser objeto de negócio distinto daquele que tem
por objeto a coisa principal, ou seja, posso vender a porta principal da minha casa. No en-
tanto, enquanto ela estiver na estrutura da casa, este negócio da venda da porta não vai
produzir efeitos reais, mas apenas efeitos obrigacionais. Só no momento da separação é
que se produz o efeito real.
Deste modo, o negócio que tenha por objeto a coisa principal abrange quer partes
componentes, quer partes integrantes. No entanto, pode haver negócios que tenham por
objeto apenas as partes componentes ou as partes integrantes.
Se tivermos uma coisa autónoma, certa e determinada, que perca a sua autonomia
e passe a ser parte integrante ou componente de uma coisa principal deixam de poder ser
objeto de relações jurídico reais autónomas (artigo 408º/2 do CC).
Exemplo: os elevadores são coisas autónomas, mas, se forem integrados num prédio su-
jeito a um regime de propriedade horizontal, deixam de ser objeto do direito de proprieda-
de que existia anteriormente e passam a ser objeto da propriedade horizontal, pois pa-
ssam a ser parte do prédio.
São coisas autónomas, separadas e distintas, que não compõe a estrutura de ou-
tra, nem estão ligadas com carácter de permanência a outra coisa, ou seja, não são par-
tes componentes (não fazem parte da estrutura) nem são partes integrantes (não tem ca-
rácter de permanência). No entanto estão afetadas de forma duradoura ao serviço ou a
ornamentação de outra, estando ligadas a uma coisa apenas pelo destino económico.
O negócio que tenha por objeto a coisa principal não abrange a coisa acessória,
sendo uma coisa distinta. Contudo, não será assim se tal for convencionado (artigo 210º/2
do CC). Quanto aos negócios reais que tenham por objeto coisas acessórias produzem os
seus efeitos quando as partes o previrem, ou seja, imediatamente, se nada for dito.
Exemplo: A vende a B o seu apartamento, com a propriedade do imóvel não segue o re-
cheio, a não ser que o contrário seja expressamente acordado.
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Por sua vez, os frutos pendentes são os que já existem mas ainda não foram co-
lhidos. Os frutos percebidos já foram produzidos e já foram colhidos. E os frutos perce-
biendos são frutos que a coisa poderia ter gerado, mas não gerou, já que estavam em
poder de outrem.
Distinguir ambas tem sido um trabalho doutrinal ao longo dos anos. Assim, benfei-
toria é uma despesa feita numa coisa já existente com vista ou à sua conservação, ou à
sua valorização ou a gerar um maior recreio. Já a acessão conduz a um ato que se traduz
num ato de inovação e criação de uma nova realidade.
No atual código, Antunes Varela, Pires Lima e António Carvalho Martins conside-
ram que a distinção deve ser feita com base na existência ou inexistência da relação jurí-
dica. A benfeitoria é praticada por quem tenha uma relação jurídica com a coisa e a ace-
ssão por quem não tem uma relação jurídica com a coisa.
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supõe um ato de inovação, criando um novo corpo e alterando a substância, mas apenas
por quem não tiver uma relação jurídica com a coisa.
Parte Geral
Este princípio deve ser cruzado com um outro princípio, o princípio da causalida-
de, bastando que o tal contrato de compra e venda não padeça de causas de inexistência
(vícios substancias), seja válido (vícios formais) e que seja apto a produzir efeitos reais,
apoiado o efeito jurídico-real numa causa de atribuição real.
Porém, há países em que vigora o sistema de título e de modo, sendo que pode
ser simples ou complexo.
Por sua vez, no penhor de coisa não basta o acordo, é necessária a entrega da
coisa, nos termos do artigo 669º do CC.
Apesar do curso considerar que não corresponde a uma excecão, alguns autores
consideram que é. Quanto ao artigo 408º/2 do CC, não é exceção porque diz respeito a
coisas futuras, que não são objeto de direito real. Relativamente, às partes integrantes e a
partes componentes, ainda não são coisas, só o são depois da separação. Assim, não in-
cidem sobre direitos reais coisas inexistentes e futuras. Enquanto a coisa não for suscetí-
vel de ser objeto de direito real existe uma impossibilidade legal objetiva do contrato pro-
duzir efeitos reais, sendo que essa eficácia real fica diferida, em suspenso.
Já o artigo 409º/1 do CC consideramos que não é uma exceção, já que diz respeito
ao diferimento da produção do efeito real e não supõe a ocorrência de um modo. Assim, o
legislador permite que as partes, através de cláusulas, difiram a eficácia real. O que não
consagra é a possibilidade de subordinarem a produção do efeito real à prévia verificação
de um modo. Não obstante o efeito real ser um efeito do mero contrato (princípio da con-
sensualidade), este pode ser diferido e não ocorrer com a celebração do mesmo, bastan-
do que as partes o convencionem.
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Vale no direito português o princípio numerus clausus, nos termos do qual são di-
reitos reais aqueles que, como tal, estejam previstos na lei. Os direitos reais oferecessem-
se em tipos característicos, por força dos usos. Apesar do legislador ter uma ampla con-
sagração legislativa, não consagra todos os tipos de direitos reais.
Neste sentido, esta prevista uma tipologia taxativa, visto que o legislador, expressa
ou tacitamente, pode decidir que os agentes económicos não são livres de constituir ab
libitum um direito real diferente dos previstos na lei, bem como não são livres de conceder
esse estatuto a um dos tipos sociais não escolhidos pelo legislador.
A generalidade dos direitos reais podem ser moldados, à exceção do direito de pro-
priedade. Deste modo, os tais tipos aceites pelo legislador são mais ou menos abertos, já
que podem ser alterados. Rigorosamente, todos os tipos, à exceção do direito de proprie-
dade, são de algum modo abertos, sendo que o legislador permite regular. Assim, o
preenchimento dos elementos que não compõem, definem, diferenciam ou identificam o
tipo é deixado à autonomia privada, pela previsão de regras supletivas.
Exemplo: no direito de superfície, pode ser fixado o cânone superficiário (artigo 1530º do
CC).
Exemplo: nas servidões quaisquer utilidades podem ser objeto de servidões (artigo 1544º
e 1564º do CC).
Princípio da publicidade
Os direitos reais são eficazes erga omnes, atribuindo um domínio e soberania aos
seus titulares, e, portanto, são eficazes perante terceiros, vinculados pelo dever geral de
abstenção. O titular de direito real corre mais riscos de ver violado o seu direito, do que
um titular de um direito de crédito, que apenas tem o devedor para cumprir a prestação.
Os terceiros tem mais riscos de violar um direito real do que um direito de crédito, não
obstante atuem de boa fé.
Acresce que, sem o registo, um terceiro que, não seja titular de um direito real, mas
que pretenda ser, corre o risco de estar a negociar um direito real com alguém que nunca
tenha sido titular desse direito ou já não o era.
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constituem-se, transmitem-se e modificam-se apenas com o registo. Os terceiros nunca
são afetados pelos direitos reais, porque não existem enquanto não são registados.
Não obstante, também existem registos que dão publicidade à situação jurídica dos
bens móveis.
- Sistema de fólio real - os factos publicitados pelo registo dizem respeito a prédios. No
fólio pessoal, que vigora em outros países europeus, os factos são associados à pe-
ssoas.
- Sistema que está a cargo de serviços públicos - o registo é desempenhado por ser-
viços públicos, nomeadamente as Conservatórias do Registo Predial.
- Não vigora a regra da competência territorial - não é preciso registar no sítio onde
queremos comprar.
- Os atos de registo são suscetíveis de recurso hierárquico ou impugnação judi-
cial.
Efeitos do registo:
Por fim, pode adquirir-se por usucapião contra alguém que é titular registal.
Posse
De acordo com o artigo 1251º do CC, a posse é o poder que se manifesta quando
alguém atua por forma correspondente ao direito de propriedade ou de outro direito real.
- Posse causal - a posse que acompanha a titularidade do direito, é uma mera projeção
ou reflexo do direito.
Exemplo: A é proprietária do livro e tem poderes de facto sobre o livro.
- Posse formal ou autónoma - a posse é desacompanhada de um qualquer direito,
sendo que a pessoa exerce poderes de facto sobre a coisa como se fosse titular de um
direito real, mas não o é.
Exemplo: A pretendeu constituir a favor de B uma servidão de passagem sobre o seu
prédio, sendo que celebraram um acordo por escrito e o B pagou. A forma que era exi-
gida era escritura pública ou documento particular autenticado. As partes não recorre-
ram a este documento e o acordo padece de um vício de forma, e, portanto, B não ad-
quire um direito de servidão, já que este vício conduz a nulidade do negócio. Associado
ao princípio da consensualidade, está o princípio da causalidade - embora os direitos
reais se transmitam por mero efeito do contrato, este contrato deve ser válido, quer do
ponto de vista substancial, quer do ponto de vista formal. B não adquiriu o direito de
servidão. Não obstante, B tem passado pelo prédio de A, como se fosse titular do direi-
to de servidão de passagem, excedendo poderes de facto. O B tem posse, mas é autó-
noma, já que não encontra a sua causa num direito.
É uma forma de assegurar a paz social e a paz jurídica. Enquanto que não há a
certeza do direito, protege-se a situação, garantindo-se a paz e evitando-se a autotutela. A
tutela da posse surge para facilitar o verdadeiro titular do direito. Protege-se o possuidor
porque se parte do pressuposto que essa posse é causal, ou seja, de que há um titular do
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direito. Protege-se a posse, visto ser mais fácil fazer prova da posse do que da proprieda-
de. A posse surge como uma guarda avançada da propriedade ou de qualquer outro
direito real em cujo os termos se esteja a possuir.
Apesar dos direitos reais terem uma forte tutela e existir um conjunto de ações, co-
mo a causa de pedir nessas ações é o facto jurídico de que deriva o direito real, a prova
de que se é titular do direito é muito complicada e difícil (prova diabólica).
A posse pode ser vista como uma categoria autónoma, produtora de utilidades, já
que alguém exerce poderes de facto. A posse, só por si, deve ser vista como categoria
autónoma, tutelada por si própria, sendo uma realidade com valor económico.
Para que haja posse é necessário que estejam reunidos 2 elementos: o corpus,
que consiste no domínio de facto ou no exercício de poderes de facto sobre a coisa; e o
animus (possidendi), que é a intenção de atuar como titular de um direito real - a inten-
cionalidade é específica, já que a intenção é a de atuar como titular de um direito real.
Não é necessário exercer poderes de facto, basta que haja a possibilidade empíri-
ca para tal exercício. Pressupõe que o exercício dos poderes de facto seja feito com algu-
ma continuidade, o que não significa que não possam existir interrupções, que os atos
não possam ser exercidos de forma reiterada, ou que os atos materiais tenham de ser os
mesmos.
Deste modo, só são possuidores aqueles que exercem poderes de facto, como titu-
lares de um direito real. Não são possuidores aqueles que exercem poderes de facto co-
mo titulares de um direito de crédito, por exemplo, não são possuidores os locatários. Não
são possuidores, também, os que exercem poderes de facto sobre a coisa mas de forma
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fugaz e transitória, por exemplo, quando vamos ao médico, em regra, na sala de espera
estão revistas, e ao lermos estamos a exercer poderes de facto fugazes e transitórios.
De acordo com esta conceção, para haver posse basta que haja corpus (exercício
de poderes de facto sobre a coisa ou possibilidade empírica desse exercício), exercido
com uma intencionalidade, mas uma qualquer intencionalidade. Ou seja, a posse supõe o
exercício de poderes de facto sobre uma coisa, com uma intenção e vontade, mas não
com uma intencionalidade específica.
Assim, podem exercer-se poderes com a intenção de atuar como titular do direito
real, ou como titular de um direito de crédito ou como titular de um direito pessoal de go-
zo.
Os possuidores são todos aqueles que exercem poderes de facto sobre a coisa,
com uma intencionalidade. Na verdade, só não são possuidores os que exercem poderes
de facto sobre a coisa na direta e imediata dependência de outrem, como subordinados,
por exemplo, os empregados domésticos. Não são, também, possuidores os que exercem
poderes de facto sobre a coisa mas de forma fugaz e transitória.
Neste sentido, são meros detentores os que exercem poderes de facto, sem a in-
tenção de atuar como titular de direito real, não tem animus possidendi.
- Os que exercem poderes de facto sem intenção de agir como beneficiário de um direi-
to. O titular do direito não exerce um poder ou uma faculdade contida no regime do seu
direito e em virtude desse não exercício um terceiro acaba por ter um benefício.
Exemplo: A, proprietário de um prédio superior, onde existe uma fonte ou nascente, es-
te pode usar a totalidade da água, mas pode deixar a água escorrer para prédio inferior,
sendo que o proprietário do prédio inferior pode aproveitar essa água (artigos 1351º e
1391º do CC). O proprietário do prédio inferior pode ter água, porque o proprietário do
prédio superior não exerceu uma faculdade contida no seu direito. O proprietário do
prédio inferior beneficia da inércia, sendo um detentor por ato facultativo, de acordo
com o Código de Seabra.
- Os que se aproveitam da tolerância do titular do direito. Os que praticam atos porque
houve um consentimento por parte do titular do direito. Supõe, então, que determinada
pessoa exerça poderes de facto sobre a coisa alheia, que não podia exercer, em princí-
pio, sob pena de violar o dever geral de abstenção, mas pratica-os, porque o titular do
direito consentiu. São atos de intromissão excecional.
Exemplo: A, proprietário de um imóvel com acesso à via pública, tem um longo caminho
até lá. B, seu vizinho, possibilita a passagem pelo seu prédio para que seja mais rápido
aceder à via pública. B nunca onerou o seu direito de propriedade com uma servidão
de passagem. Portanto, A está a praticar um ato sobre um prédio alheio, que lhe estaria
vedado, sendo que não tem qualquer direito, apenas pratica o ato porque B tolerou.
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- Os representantes, mandatários, comandatários e todos os que possuem em nome de
outrem. Atuam com base num título jurídico.
Porém, não há posse em termos de direitos reais de aquisição, porque estes não
envolvem um exercício de um poder de facto sobre a coisa e esgotam-se no seu exercício
de forma muito rápida, e a posse supõe uma estabilidade e durabilidade.
Quanto aos direitos reais de garantia, a maioria da doutrina, considera que não
existe posse, porque não envolvem um exercício de um poder de facto sobre a coisa.
Outra parte da doutrina, nomeadamente Orlando Carvalho, acompanhado pela Mónica
Jardim, considera que existe posse em termos de penhor e de direito de retenção, sendo
que nos outros não.
De facto, Mónica Jardim considera que a maioria dos direitos reais de garantia não
envolvem um exercício de poderes de facto, mas ressalva o penhor, que supõe a entrega
da coisa, e o direito de retenção, que supõe guardar a coisa nas suas mãos até a venda
judicial. A maioria da doutrina afirma que também não há posse, porque reduzem este
exercício de poderes de facto a um exercício de poderes de uso e de fruição. No entanto,
segundo Mónica Jardim, a posse não tem que se reduzir. Mais, o legislador reconhece ao
credor penhoratício e ao retentor o direito de intentar uma ação de defesa de pose
(artigos 670º/a) e 758º do CC).
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Na perspetiva de Carlos Mota Pinto, a posse é um direito real provisório, que po-
de deixar de existir logo que o titular do direito real surja, já que, havendo conflito entre a
titularidade do direito e a posse, vencerá sempre a titularidade. A posse formal é um direi-
to real, mas provisório, sendo que, em regra, os factos que fazem nascer os direitos de-
vem se substituir. Assim, a posse é um direito real, eficaz erga omnes, com valor econó-
mico, suscetível de transmissão (inter vivos e mortis causa) e de ser registado (artigos 2º/
1/f) e 1º do Código de Registo Predial) e incide sobre coisa certa e determinada.
Na nossa perspetiva (curso), em causa não está um direito real. Desde logo, não é
uma situação oponível erga omnes, a partir do momento que se sabe que a posse cai pe-
rante o verdadeiro titular do direito real. Também não é um direito suscetível de ser regis-
tado, sendo que o que se regista é a mera posse (artigo 1295º do CC). Quanto ao facto
de ter valor económico, sim, tem, e, portanto, é suscetível de ser transmitida inter vivos e
mortis causa. Acresce que, é suscetível de defesa.
Sendo assim, não estamos perante um direito, mas antes um facto juridicamente
relevante, e, por isso, o legislador permite a sua defesa, o registo da mera posse e a pro-
dução de efeitos. Mónica Jardim não considera que é um direito porque, de acordo com o
artigo 1268º do CC, a posse gera a presunção da titularidade de um direito. Mas, não faz
sentido assumir que um direito autónomo pode gerar a presunção de outro direito.
A posse pode ser adquirida de acordo com o artigo 1263º do CC. Existem outras
formas de aquisição para além das previstas no artigo, por exemplo, através de esbulho.
Além do mais, não está prevista a aquisição mortis causa. Assim, as formas previstas não
são taxativas.
Exemplo: acessão industrial e imobiliária - artigo 1340º do CC. A, de boa fé, autorizado
por um titular de um terreno ou ignorando que o terreno era alheio, fez uma obra ou plan-
tação. Se o valor que gerar com a nova realidade predial for superior ao da antiga realida-
de predial, pode torna-se proprietário do todo, desde que pague o valor da antiga realida-
de predial. Imaginemos que A não paga e não pretende pagar e está a comportar-se co-
mo proprietário do solo - não adquiriu a propriedade, porque não pagou, mas adquire po-
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sse originariamente. Dá-se à aquisição da posse quando não se verifica todos os requisi-
tos previstos na lei, mas se tem corpus e animus, tem a posse.
De acordo com este artigo, quem encontrar animal ou coisa móvel abandonada,
deve tentar apurar o dono. Decorrido 1 ano, se o dono não aparecer, o achador tem o di-
reito de ficar com a coisa. Deste modo, trata-se de uma forma de aquisição originária de
coisas móveis e animais.
Exemplo: A encontra um animal perdido, sem identificação, sendo que o levou ao veteri-
nário, mas o animal não tinha chip, e, portanto não fica a saber de quem é o animal. Con-
tudo, não avisa as autoridades que encontrou o animal. Daí a diante comporta-se como
proprietário do animal. Mas, não é o proprietário, ou seja, não adquire direito de proprie-
dade porque não se verificam os requisitos da lei. Assim, adquire a posse do animal por
ocupação.
Adquire-se a posse pela prática reiterada de atos materiais (não jurídicos) corres-
pondentes ao exercício do direito, desde que essa prática ocorra com publicidade. Para
se adquirir posse por aquisição paulatina deve praticar-se de forma reiterada atos mate-
riais, mas, não significa que seja contínua e que tenha que ter uma certa periodicidade.
Note-se que a publicidade à vista da comunidade social não tem nada a ver com o carác-
ter da posse de posse pública. Relativamente ao exercício do direito, antes de haver a
aquisição da posse, há um pré-corpus e pré-animus, isto é, uma pré-posse antes de se
adquirir a posse.
Essa oposição pode ser de forma explícita, em que há um ato declarativo de infor-
mação e notificação, ou seja, o detentor muda de ânimos e informa e declara ao até ali
possuidor, portanto, pressupõe um comportamento declarativo; ou implícita, em que há a
prática de atos positivos inequívocos de mudança de ânimos, apesar de não haver uma
informação direta, chegam ao conhecimento do possuidor. Esta posse tem a característi-
ca da publicidade, já que é conhecida em ambos os casos.
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Não está em causa um ato de terceiro suscetível de transferir a posse. Neste caso,
temos um terceiro que não é titular do direito real, não é possuidor, nem é detentor.
Exemplo: imaginemos uma relação entre um possuidor e um detentor, sendo que aparece
um terceiro que convence o detentor que é ele o titular do direito real, celebrando um ne-
gócio, em abstrato, idóneo à transmissão do direito e à constituição do direito real. Por for-
ça da celebração desse negócio, o detentor muda de ânimos e passa a comportar-se co-
mo possuidor. Não é por ato de terceiro capaz de transferir a posse, como diz no artigo. O
terceiro é terceiro perante a relação de posse e detenção. Este terceiro pode ser ou não
titular do direito - mas não é possuidor.
A causa da aquisição da posse é a alteração do animus, a alteração do animus
deu-se por causa daquele negócio, mas a causa de aquisição da posse é ter havido uma
mudança de intencionalidade.
- Esbulho
Está previsto no âmbito das ações de defesa da posse, sendo que cabem todas as
formas de aquisição da posse contra a vontade do até ali possuidor sempre que atua com
intenção de ficar com a posse de outro.
De acordo com o artigo, por morte do possuidor a posse vai continuar nos herdei-
ros do possuidor, desde o momento da morte. Há uma ficção, já que, quando alguém mo-
rre, dá-se a abertura da sucessão, depois a herança fica jacente à espera de aceitação ou
repúdio, depois de aceitação a herança fica em divisa e depois faz-se a partilha. Portanto,
pode haver um grande lapso de tempo entre a hora da morte e a hora da partilha, isto é,
hora em que os herdeiros ficam com bens certos e determinados no poder.
- Explícita
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Em regra, é explícita. O antigo possuidor transmite para o novo possuidor, sendo
que este último pratica atos materiais sobre a coisa, isto é, há atos de empossamento da
coisa. O novo possuidor passa a exercer poderes de facto sobre a coisa (tendo corpus e
animus), que antes nunca tinha exercido, e, portanto, supõe um ato de empoçamento.
Note-se que não basta o mero acordo, é necessário que haja um ato de empossa-
mento.
- Implícita
Alguém adquire posse fundando-a no antigo possuidor. Mas é uma aquisição implí-
cita, porque o novo possuidor não vai receber a coisa, não vai exercer poderes de facto
sobre ela, porque já era detentor, e, portanto, exercia poderes de facto com outra intencio-
nalidade.
Caracteres da posse
(artigos 1258º e ss do CC)
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- Posse titulada - é a posse fundada em qualquer título, e não modo, legítimo de adqui-
rir o direito. É titulada a posse que se funda em qualquer título legítimo, em abstrato,
para adquirir o direito. Se o título for um negócio jurídico, o transmitente não for o titular
do direito nem existir invalidade substancial não obsta a que seja titulada. Não pode é
padecer de vícios formais. A ocupação e a acessão são meios, em abstrato, idóneos
para adquirir o direito de propriedade, logo a posse em termos de ocupação e acessão
é uma posse titulada.
- Posse não titulada - é a posse fundada no negócio jurídico, em abstrato, idóneo à a-
quisição do direito, mas que padeça de vícios de forma. A exigência formal resulta à
contrário. A aquisição paulatina e a inversão, são sempre não tituladas porque a posse
é titulada quando se funda num título em abstrato idóneo à aquisição do direito real em
cujos termos possui.
Exemplo: A vende um imóvel a B, que não era seu, era de C. B comporta-se como possui-
dor, em termos de direito de propriedade. Esta posse adquirida por B, é tutelada? Funda-
se ou não num título, em abstrato, idóneo à aquisição do direito de propriedade? A com-
pra e venda é ou não idónea para adquirir o direito de propriedade? É, então, temos título.
Tendo em contra que título é negócio jurídico, devemos ver o restante artigo. Aparente-
mente, temos uma posse titulada. Mas, se A tiver vendido a B, através de contrato de
compra e venda mas sem escritura pública ou documento particular autenticado, haverá
vício de forma. Aí, a posse de B passa a ser não titulada.
Uma das críticas da doutrina face ao artigo 1259º do CC é a possibilidade dos ví-
cios formais afastarem o carácter tutelado da posse, mas os vícios substanciais (por
exemplo, o direito não pertencer a quem o transmitiu) não assumirem qualquer relevância.
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- Efeitos de prazo de usucapião, já que os prazos variam para aquisição do direito real,
consoante seja titulada ou não titulada (artigos 1294º, 1296º, 1298º, 1299º e 1300º do
CC).
- Posse pública - exercida de modo a ser conhecida pelos interessados. Não é nece-
ssário conhecimento efetivo, basta a cognoscibilidade. O que interessa é saber se um
homem médio e diligente colocado na posição do real interessado teria ou não tido co-
nhecimento ou a possibilidade de conhecer (artigo 236º do CC - teoria da impressão do
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destinatário). A cognoscibilidade é apurada não tendo em conta o interessado em con-
creto (anterior possuidor).
- Posse oculta.
Perda da posse
Com base no artigo 1267º do CC, o possuidor perde a posse pelo abandono, pela
perda ou destruição, pela cedência e pela posse de outrem mesmo contra a vontade do
antigo possuidor, se a nova posse houver durado por mais de 1 ano.
- Artigo 1267º/a) do CC (perder a posse pelo abandono) - se alguém colocar a coisa fora
da sua disponibilidade empírica e deixar de exercer poderes de facto sobre ela, pode
perder a posse pelo abandono, sendo que deixa de ter a intenção de atuar como titular
de um direito real. Este artigo não tem aplicação à posse dos direitos reais de natureza
perpétua (sendo o caso típico o da propriedade sobre imóveis), isto é, daqueles direitos
que não se extinguem por renúncia do seu titular. Em relação a estes direitos vale o
princípio consagrado no artigo 1257º/1 do CC, sendo que a posse mantém-se enquanto
durar a possibilidade de praticar atos materiais.
- Artigo 1267º/b) do CC (pela perda ou destruição material da coisa) - a posse envolve o
exercício dos poderes de facto ou a possibilidade de os exercer. Se a coisa se perder
ou se destruir deixa de poder haver posse sobre ela, já que a posse só pode ser exerci-
da sobre coisas dentro do domínio jurídico.
- Artigo 1267º/c) do CC (cedência) - em todas as hipóteses de aquisição derivada por tra-
dição real.
- Artigo 1267º/d) do CC (pela posse de outrem mesmo contra a vontade do antigo po-
ssuidor, se a nova posse houver durado por mais de 1 ano) - enquanto não decorrer 1
ano de nova posse contrária a anterior, não se sabe para quem vai contar esse ano. Se
o antigo possuidor reagir e se defender atempadamente e esta for lhe restituída, o tem-
po de posse exercido pelo outro passa a contar como seu. Ao invés, se o antigo possui-
dor se vir confortado com uma posse contrária e não reagir e deixar passar mais do
que 1 ano, esse período de posse vai contar para o novo possuidor. O prazo só come-
ça a contar a partir do momento em que a posse se torna pacifica e pública.
Se alguém for possuidor e não for titular do direito real, apenas tem as ações de
defesa da posse. Por outro lado, se for titular de direito real e não for possuidor, apenas
pode intentar ações de defesa dos direitos reais. No caso de ser titular do direito e tiver
posse, pode reagir com ambas.
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CC), não havendo aqui qualquer especificidade, e à legítima defesa da posse (artigo 337º
do CC).
A procedência das ações possessórias, muito embora não exija a prova da existên-
cia de um direito real definitivo, exige, no entanto, a prova da posse. Mas a lei facilita esta
prova, visto que feita a demonstração do corpus, o animus possidendi, em caso de dúvi-
da, presume-se (artigo 1252º/2 do CC).
Note-se que o artigo 1282º do CC prevê o prazo de 1 ano para as ações possessó-
rias.
Ações
Recorre a esta ação quem tiver o justo receio ou o fundado receio de vir a ser
perturbado ou esbulhado da sua posse, em virtude de uma ameaça, que pode ser através
de palavras ou por atos (jurídicos, materiais, administrativos, judiciais, etc.).
A ação de prevenção é intentada por quem venha a ter esse receio (possuidor), e é
intentada contra o autor da ameaça, e não contra os seus herdeiros (legitimidade passi-
va).
Supõe que o possuidor veja o exercício dos seus poderes de facto diminuídos e
modificados, sendo que este foi perturbado na sua posse, então, houve mais do que uma
ameaça, mas menos do que um esbulho.
Assim, um terceiro deve ter praticado um ato material e não jurídico que diminuiu
ou modificou o exercício dos poderes de facto sobre a coisa. No entanto, o possuidor con-
tinua a exercer o seu direito.
É proposta pelo possuidor, de acordo com o artigo 1281º do CC, ou pelos seus her-
deiros contra o perturbador ou contra os herdeiros, se houver direito a indemnização con-
tra estes.
Se a ação vier a ser julgada procedente, o possuidor é havido como nunca pertur-
bado, sendo que tem direito a ser indemnizado pelo prejuízo que haja sofrido (artigos
1283º e 1284º do CC).
Quanto ao artigo 1278º/2 do CC, entende-se que se a posse perturbada não tiver
mais do que 1 ano, o possuidor vai ter que agir rapidamente. O possuidor que foi pertur-
bado só pode intentar a ação de manutenção ou só verá a sua ação ser procedente se
reagir contra alguém que não tenha melhor posse. Como se sabe quem tem melhor po-
sse? É melhor posse a posse titulada. Na falta de título, a que tem uma duração superior.
Se tiverem igual duração, a posse mais atual. Portanto, tem de reagir rapidamente, já que
pode estar a reagir contra alguém com uma posse titulada, por exemplo, e perderá.
Se a ação for julgada procedente, o tempo da posse contrária vai contar como se
fosse tempo exercido pelo esbulhado, sendo que este terá direito a ser indemnizado
(artigos 1283º e 1284º do CC).
Exemplo: A passa pelo prédio de B, porque o seu prédio é absolutamente encravado, sen-
do que A acha que já tem o direito de servidão de passagem, comportando-se como titu-
lar. A servidão de passagem não pode existir automaticamente, tem de ser constituída por
acordo ou por decisão judicial. B, para reagir à situação, diz que se A volta a passar por
lá, constrói um muro ou solta os cães. Como é que A pode defender a sua posse em ter-
mos de servidão de passagem? Apenas foi ameaçado. Sendo que tem receio de vir a ser
esbulhado. Assim, intenta a ação de prevenção. Imaginemos, por outro lado, que B não
se limita a dizer isto, colocando umas pedras no caminho. O que exercia posse em termos
de servidão de posse, A, continua a exercer. Mas não foi apenas ameaçado, foi mais do
que isso, sendo que viu os seus poderes de facto alterados. Houve um ato de perturba-
ção, e, portanto, intenta uma ação de manutenção da posse, foi mais do que ameaçado
mas não foi esbulhado. Por último, se o dono resolver murar o prédio, há esbulho, já que
A foi privado da sua posse. E, então, intenta-se a ação de restituição da posse, ou seja,
pede que a posse lhe seja restituída, sendo que tem de fazer no prazo de 1 ano e rapida-
mente.
Procedimentos cautelares
Se por acaso o possuidor for esbulhado com violência pode recorrer também a um
procedimento cautelar nominado ou inominado (artigos 1279º do CC e 377º e 378º do
CPC). É um procedimento cautelar. logo pode ser intentado antes da propositura da ação,
mas depois da ação, como incidente.
Se for antes da ação, será uma ação de restituição de posse, sendo que a ação
terá de ser proposta nos 30 dias subsequentes a ser conseguida a providência cautelar.
Embargos de terceiro
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ofendida, perturbada ou esbulhada por uma diligência judicial, pode deduzir embargos de
terceiro.
Para isso, basta fazer prova da posse e presume-se que ele é o titular do direito
(artigo 1268º do CC). Passa a ser o credor a ter que fazer prova de que apesar do bem
ser do possuidor, o proprietário é o devedor.
Efeitos da posse
Assume relevância quando o possuidor tem que abrir mão da sua posse para o
verdadeiro titular do direito real.
Assume relevância quando o possuidor tem que abrir mão da sua posse para o
verdadeiro titular do direito real.
No que respeita ao possuidor de má fé, vai ter de restituir todos os frutos percebi-
dos de todos os anos, mas com o direito de ser indemnizado pelas despesas de produção
(artigo 215º do CC). Relativamente aos frutos pendentes, perde-os, mas sem direito de in-
demnização (artigo 215º/2 do CC). Por fim, responde pelos frutos percebiendos (artigo
1271º do CC).
Assume relevância quando o possuidor tem que abrir mão da sua posse para o
verdadeiro titular do direito real.
Tendo em conta os artigos 1273º e ss do CC, se em causa estiverem benfeitorias
necessárias há direito de indemnização, quer para o possuidor de boa fé, quer para o po-
ssuidor de má fé (artigo 1273º do CC), sendo que o possuidor de boa fé pode exercer di-
reito de retenção, enquanto não for indemnizado. Ao invés, o possuidor de má fé não tem
direito de retenção (artigos 754º e 756º/b) à contrário do CC).
Quanto às benfeitorias úteis (artigo 1273º/1/2º parte do CC), ambos tem, em pri-
meira linha, o direito de as levantar, se não resultar um prejuízo para a coisa. Se não po-
der existir o levantamento sem prejuízo para a coisa, tem o direito a ser ressarcidos nos
termos do enriquecimento sem causa. O possuidor de boa fé, enquanto não for ressarci-
do, pode reter a coisa consigo e eventualmente promover a venda judicial. O possuidor de
má fé não tem direito de retenção.
- Invocação da usucapião
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A posse mantida por um determinado lapso de tempo, de forma pacífica e pública,
pode conduzir à aquisição do direito, em termos do quais se possuiu. Trata-se de uma
forma de aquisição originária do direito real.
Requisitos:
Apenas podem ser adquiridos por usucapião os direitos reais de gozo (artigo 1287º
do CC). Note-se que, para Mónica Jardim, também há posse em termos do direito de re-
tenção e de penhor. No entanto, essa posse nunca conduz a usucapião. Não são todos os
direitos reais de gozo suscetíveis de serem usucapidos, já que não é possível nas servi-
dões prediais não aparentes e o direito de uso e habitação (artigo 1293º do CC).
De acordo com o artigo 1288º do CC, invocada a usucapião, os seus efeitos retro-
traem-se a data do início da posse.
- Se existir título suscetível de ser registado (só há este título, quando a posse foi adqui-
rida derivadamente e existe um documento suscetível de ser levado a registo, sendo
que não pode padecer de vícios de forma) e registo, os prazos são menores (artigo
1294º do CC). Se o possuidor estiver de boa fé, o prazo são 10 anos. Se estiver de má
fé, o prazo são 15 anos.
- Por outro lado, havendo posse e desde que essa posse tenha sido reconhecida atra-
vés de uma justificação notarial ou num processo de justificação, o prazo é reduzi-
do (artigo 1295º do CC). Havendo registo da mera posse e se o possuidor estiver de
boa fé, em 5 anos consegue usucapir, que se somam aos outros 5 anos da justificação,
portanto, são 10 anos. Se estiver de má fé, havendo registo da mera posse, consegue
ao fim de 10 anos, que se devem somar aos 5 que permite o processo de justificação,
portanto, 15 anos.
- Se não houver registo do título nem registo da mera posse, o artigo 1296º do CC dita
que se o possuidor estiver de boa fé o prazo são 15 anos. Se estiver de má fé, o prazo
são 20 anos.
No que concerne aos bens móveis, há uma distinção, consoante estejam sujeitos a
registo ou não. Se os móveis tiverem sujeitos a registo, existir título e registo, e o possui-
dor estiver de boa fé, o prazo é de 2 anos. Se, houver título e registo, mas estiver de má
fé é de 4 anos (artigo 1298º do CC). Se os móveis tiverem sujeitos a registo e não hou-
ver registo, o prazo é de 10 anos. Quanto aos móveis não sujeitos a registo, havendo
título e boa fé, o prazo é de 3 anos. Se não houver título ou estiver de má fé, o prazo é
de 6 anos (artigo 1299º do CC).
Imóveis:
Direito de propriedade
De acordo com o artigo 1305º do CC, o proprietário goza de modo pleno e exclusi-
vo dos direitos de uso, fruição e de disposição (material ou jurídica) das coisas que lhe
pertencem, dentro dos limites na lei. Portanto, pode retirar todas as vantagens da coisa.
A regra geral da proibição do abuso do direito vale para o exercício dos diretos
reais e do direito de propriedade em concreto (artigo 334º do CC).
Note-se que, de acordo com o artigo 1344º do CC, a propriedade abrange o solo
em toda a sua profundidade e altura, inclusive do espaço aéreo existente sob o solo
(princípio superficies solo cedit).
Características:
- Unicidade - é um direito que não pode ser desmembrado e fragmentado, ou seja, não
pode umas faculdades serem de uma pessoa e outras de outra pessoa. O nosso legis-
lador, desde que eliminou a enfiteuse, não admite figuras parcelares ao direito de pro-
priedade (artigo 1306º do CC).
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- Indeterminação (artigos 1305º e 1344º do CC) - a lei não enumera as faculdades que
cabem na propriedade, apenas estabelece as restrições ou limites.
- Elasticidade - o proprietário pode onerar ou comprimir o seu direito, através de direitos
reais menores, sendo que nasce por aquisição derivada constitutiva. Quando o direito
real menor se extingue, o direito de propriedade reexpande-se. A compressão máxima
do direito de propriedade é o usufruto, sobrando apenas a nua propriedade.
- Exclusividade - é entendida num duplo sentido. Apenas há 1 direito de propriedade so-
bre uma coisa, e, portanto, não podem haver 2 direitos sobre a mesma coisa. Por outro
lado, o direito de propriedade é o único que pode existir sozinho, não acompanhado de
outros direitos. Todos os outros direitos reais acompanham um direito de propriedade
pré-existente.
- Transmissibilidade (artigos 1305º do CC e 62º da CRP) - é uma característica própria
da generalidade dos direitos reais, exceptuando o direito de uso e de habitação (é
intuitu personae) e a servidão (tem de ser transmitida com o prédio dominante).
- Tendencialmente perpétuo - não se extingue pelo seu não uso. Não usar ainda é uma
forma de usar a coisa. A única exceção é nas águas originariamente públicas (artigo
1397º do CC).
Intenta esta ação que se vê privado da coisa (não do direito). É uma ação proposta
pelo proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário, ou contra o detentor
ilegítimo pelo proprietário possuidor. Ou seja, o proprietário fica privado da coisa por ter
constituído sobre ela uma posse contrária ou uma detenção ilegítima.
Sendo assim, este sujeito exercerá o direito de sequela. Envolve 2 pedidos: pede o
reconhecimento do direito de propriedade e a restituição da coisa (artigo 1311º do CC).
- Ação negatória
A ação em causa não está prevista na lei. Intenta esta ação quando, não ficando
privado do direito, há a violação do dever geral de abstenção, ou seja, pretende reagir
contra atos de interferência ou intromissão na coisa.
É uma ação real, que tem de ser registada e a sua causa de pedir é o facto de que
deriva o direito de propriedade. Sendo assim, terá de ser provada a aquisição da proprie-
dade, através da prova diabólica, da aquisição originária e das presunções oferecidas pe-
lo registo e pela posse (artigo 7º do Código do Registo Predial)
Há 3 pedidos possíveis: pedido para que o tribunal declare que foi violado o dever
geral de abstenção e não tem qualquer direito que legitime a sua ação (função declarati-
va); pedido de condenação, para o que violou seja condenado a repor a situação material
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em conformidade com o estatuto do direito real, reposição que pode não ser uma reposi-
ção na íntegra (função reparadora) e pedido para que o tribunal declare que este não vol-
ta a praticar atos daquele tipo (função preventiva).
O titular não é privado da coisa e não necessita que outrem seja condenado a pra-
ticar o ato. Basta uma declaração do tribunal de que o outro não tem qualquer direito que
legitime a sua atuação (ação de simples apreciação negativa) ou o reconhecimento do di-
reito de propriedade (ação de simples apreciação positiva).
É intentada contra o sujeito que seria responsável pelo prejuízo caso este se verifi-
casse (proprietário ou possuidor).
Com base no artigo 1316º do CC, o direito de propriedade adquire-se por contrato,
por sucessão por mortis causa, por usucapião, por ocupação e por acessão. Sendo que o
artigo 1317º do CC consagra o momento da aquisição da propriedade.
Se a coisa não for reclamada pelo dono, o que achou pode fazer sua a coisa. Se ti-
ver que a restituir, tem direito a ser indemnizado pelo prejuízo ou despesas, portanto, tem
direito de retenção.
Dá-se acessão quando uma coisa que é propriedade de alguém, se une ou incor-
pora, formando um novo corpo, com outra coisa que é propriedade de outrem. Para haver
acessão, tem de haver junção de uma coisa alheia a uma coisa de determinada pessoa, e
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essa junção tem de ser permanente, tem de haver uma ligação estável e permanente,
dando origem a um novo corpo.
* Acessão natural - resulta exclusivamente das forças da natureza. Pode ser por aluvião
(artigo 1328º do CC - aquisição automática, imediata e independentemente da vontade)
ou avulsão (ação natural e violenta - artigo 1329º do CC).
* Acessão industrial - ocorre quando, por facto do homem, se confundem objetos per-
tencentes a diversos donos, ou quando alguém aplica o trabalho próprio a matéria per-
tencente a outrem, confundindo o resultado desse trabalho com propriedade alheia. Po-
de ser mobiliária (artigo 1333º e ss do CC - pode ser união, confusão ou especificação)
ou imobiliária (artigos 1339º e ss do CC - obras, sementeiras ou plantações feitas em te-
rreno alheio).
- Requisição - apenas pode ocorrer nos casos previstos na lei e mediante uma indemni-
zação (artigos 1309º e 1310º do CC e do artigo 62º/2-A da CRP). É um ato administrati-
vo através do qual um orgão competente impõe a um particular, verificadas certas cir-
cunstâncias previstas na lei, a obrigação de: prestar serviços, receber coisas móveis ou
solventes ou consentir na utilização de temporária de quaisquer bens. Tem por objeto
quer imóveis, quer móveis. Nunca conduz a perda do direito de propriedade. É limitada
no tempo - 12 meses seguintes ou interpolados (artigo 80º do código…).
- Expropriação - conduz à extinção do direito de propriedade privado e há a aquisição
por parte do estado, ou seja, o estado apropria-se de um direito de propriedade. Tem
apenas por objeto imóveis. Priva da propriedade do até ali proprietário. Só pode ocorrer
nos casos previstos na lei e mediante indemnização (artigos 1308º e 1310º do CC e do
artigo 62º/2-A da CRP).
- Fracionamento de prédios rústicos (artigo 1376º do CC) - estabelece que os prédios
não podem ser fracionados em unidades inferiores à unidade de cultura.
- Atravessadouros que se dirijam a ponte ou fonte de manifesta utilidade pública (artigo
1384º do CC).
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verificar 1 de 2 hipóteses: se as mesmas envolverem um prejuízo substancial para o
uso do seu próprio imóvel (como é que se apura se causam ou não este prejuízo? Ten-
do em conta o fim a que está afeto o imóvel. O que interessa é o fim habitual em geral -
todas estas situações devem ser avaliadas com bom senso) e se tais emissões não re-
sultam da utilização normal do prédio de onde emanam. Basta 1 destes factos, não
sendo comutativas. Podem ser elementos incorpóreos, bem como elementos corpó-
reos. Deve ser sempre considera ilícita quando é direcionada, isto é, se houver mão de
homem e não for natural.
- Escoamento natural das águas (artigo 1351º do CC) - os proprietários dos prédios in-
feriores são obrigados a receber as águas e os elementos que vierem dos prédios su-
periores. Podem aproveitar essa agua para si, mas não tem direito a qualquer indemni-
zação. Note-se que tem de ser elementos naturais, já que produtos colocados na água
traduzem-se em emissões ilícitas.
- Abertura de frestas, seteiras ou óculos para luz e ar (artigo 1363º do CC) - podem
ser abertos até a extrema do prédio, com a particularidade do vizinho poder fechar es-
sas frestas e levantar parede ou contramuro.
- Janelas gradadas (artigo 1364º do CC) - o que não se pode abrir junta a extrema ou a
menos de 1.5m são as janelas gradadas.
- Estilicídio (artigo 1365º do CC) - ninguém pode edificar de modo a que a beira do te-
lhado fique a gotejar sobre o prédio do vizinho. Pode-se colocar o telhado até à estre-
ma, mas devem colocar-se caleiras. Porém, se for deixado um intervalo de 0.5m entre
aquela beira e o prédio do vizinho, o proprietário deste não poderá impedir o escoa-
mento.
Compropriedade
- Concurso de direitos reais sobre a mesma coisa - vários sujeitos cada um deles
titular de um direito real que tem por objeto a mesma coisa. Estes sujeitos não são
colocados em posição qualitativamente igual, diferenciando-se da compropriedade.
Sendo assim, é unânime que cada um dos comproprietários pode utilizar a totalida-
de da coisa, dentro dos direitos pressupostos. Cada um pode, sozinho, praticar atos de
administração ordinária e depois apresentar as despesas aos outros comproprietários.
Nos termos do artigo 1417º e ss do CC, pode ser através de um ato negocial, por
negócio jurídico ou por disposição legal (a lei presume em diversas hipóteses a situação
de compropriedade - artigo 1358º, 1359º/2, 1371º do CC). Pode, ainda, existir comproprie-
dade constituída por decisão judicial (artigo 1370º do CC). Ainda se pode constituir atra-
vés de usucapião.
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Regime jurídico
A quota parte é apenas do comproprietário em questão, sendo que ele pode fazer o
que entender. Pode alienar, onerar, doar, etc. Contudo, ressalva-se que pode o fazer e
não precisa do consentimento dos restantes (artigo 1408º do CC). Pode fazer o que qui-
ser quanto a sua quota parte.
Esta obrigação real não existe para os casos de doação, pois tal colocaria em cau-
sa o carácter intuitu personae deste negócio jurídico, nem se constituirá em caso de per-
muta, porque dificilmente o titular do direito de preferência será capaz de colocar o com-
proprietário disponente na mesma situação em que se encontraria com a celebração do
contrato com o terceiro.
De acordo com o artigo 1405º do CC, vale para a fruição, retirada de vantagens e
proveitos.
Quem tem direito a ficar com outras utilidades que a coisa possa produzir sem ser
periodicamente?
Assim, ao conjugar o artigo 1403º com o artigo 1405º do CC prevê-se que todos
podem retirar em conjunto e singularmente, isto é, cada um fica com as vantagens e utili-
dades na proporção da sua quota.
De acordo com o artigo 1406º do CC, na falta de acordo (norma supletiva), qual-
quer um deles pode usar a totalidade da coisa, desde que não prive os outros consórcios
ou empregue para fim diferente a que coisa se destina. O uso da coisa pode não decorrer
da forma que está prevista na lei, já que as partes podem convencionar o contrário. Pode
ocorrer que os comproprietários usem a coisa para um fim diferente. Não se deve consi-
derar que não podem usar com um fim diferente, podem usar com um fim diferente, desde
que lícito e que não altere o destino da coisa.
Exemplo: A, B e C são proprietários de um lago, sendo que decidiram que a água desse
lago iria irrigar os terrenos de cada um deles. Contudo, um deles decidiu pescar no lago,
utilizando o lago para um fim diferente para o que se destina. Mas não está a por em cau-
sa a afetação que deram ao lago. Portanto, esse uso deve ser admitido.
Por último, na alienação da parte de coisa comum ou da coisa comum vale o artigo
1408º do CC. Impedem-se os comproprietários, singular ou maioritariamente, de praticar
qualquer ato de disposição ou de oneração de parte especificada da coisa, e, por maioria
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de razão, da coisa comum no seu todo. Trata-se de uma decisão que tem necessariamen-
te de ser tomada pela unanimidade dos consortes, sob pena de aplicação do regime jurí-
dico da alienação/oneração de coisa alheia. Além disso, a alienação de parte especificada
da coisa é nula também por impossibilidade do objeto, na medida em que não pode cons-
tituir-se um direito de propriedade sobre parte, ainda que especificada, de uma coisa (arti-
go 280º e 408º/2 do CC).
Extinção da compropriedade
Quando 2 comproprietários querem dividir o bem, não se traduz numa divisão váli-
da. Nenhum deles pode vender o seu lado, porque, qualquer um deles é comproprietário
sobre o direito de propriedade que incide sobre a coisa. Se quiser vender não pode ven-
der um lado ou o outro, sob pena de nulidade. Pode apenas alienar a sua quota parte, e
antes de alienar, deve dar preferência. Mas note-se que o terceiro que tiver a propriedade
não vai ficar com um dos lados, vai ficar com toda a propriedade.
Propriedade horizontal
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Exemplo: imaginemos um edifício de vários andares com várias frações. Se não houvesse
propriedade horizontal, cada fração, existente em cada andar, não era mais do que uma
parte de um edifício e consequentemente não poderia ser objeto de um direito real autó-
nomo.
O legislador vem admitir, com o regime da propriedade horizontal, que fique subor-
dinado a um regime específico e que desse modo as frações (que antes eram partes do
edifício) passem a ser autónomas juridicamente. Este regime permite criar coisas jurídi-
cas, e sobre elas pode incidir um novo direito e um direito diferente. Assim, os condomí-
nios tem um direito de propriedade horizontal. Através deste regime, o legislador permite
que um edifício seja divido por planos horizontais e entre cada plano surja unidades inde-
pendentes com as características da lei e que sejam havidas como coisas jurídicas.
Só pode estar sujeito a este regime um prédio ou um edifício em que as ditas fra-
ções não tenham por si só autonomia estrutural e só adquiram autonomia funcional atra-
vés de partes comuns.
Passamos a ter um edifício com certas partes que pertencem a todos em compro-
priedade (partes comuns - artigo 1421º/1 e 2 do CC) e outras que são objeto de proprie-
dade individual (frações autónomas).
O artigo 1415º do CC estabelece quais as condições para que o prédio seja sujeito
ao regime da propriedade horizontal.
Modo de constituição
Com base no artigo 1417º do CC, a propriedade horizontal pode ser constituída por
negócio jurídico, usucapião e decisão administrativa ou judicial.
Relativamente ao conteúdo, está previsto no artigo 1418º do CC, sendo que deve
constar a indicação de quais são as frações e tem de ser fixado o valor expresso em
permilagem ou em percentagem relativo de cada fração. Estes são os requisitos e são
imperativos. Em regra a fixação do valor acaba por ser feita tendo em conta a área, mas
não há uma imposição legal.
Em primeiro lugar, para votar, já que as decisões a serem tomadas sobre as partes
comuns são na assembleia de condóminos, sendo que cada condomínio tem tantos votos
quanto os que cabem no valor da sua fração. É relevante porque em relação as partes co-
muns cada tem de contribuir para a sua preservação, ou seja, a nível de despesas, quan-
to maior o valor da fração, maior é a contribuição. Por fim, é ainda importante porque tam-
bém podem haver lucros e benefícios, devendo ser devidos na proporção do valor das
suas frações.
No entanto, do título podem constar outros elementos, sendo que isto não é impe-
rativo (artigo 1418º/2 do CC).
Note-se que o fim não pode ser alterado, o que consta do título só pode ser modifi-
cado por unanimidade (artigo 1419º do CC). Se um proprietário comprar uma fração que
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se destina ao comércio, não pode utilizá-la para habitação.
Se não forem feitas as menções obrigatórias, o título é nulo por falta de um ele-
mento obrigatório ou ainda no caso de discrepância entre o fim estipulado e o fim aprova-
do no projeto (artigo 1418º/3 do CC).
A assembleia não pode: deliberar contra normas imperativas, nem violar normas
supletivas que não tenham sido até aliafastadas pelo título constitutivo, deliberação ou
acordo unânime; violar o título constitutivo e ir contra o regulamento (constante do título
ou aprovado por unanimidade).
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