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ESQUEMA DE RESOLUÇÃO DE CASOS SOBRE COMPETÊNCIA

NA AÇÃO EXECUTIVA
Joana Costa Lopes
Assistente Convidada

Nota prévia: A resolução de todos os casos de competência do tribunal pressupõe primeiro a análise da competência
internacional se existir um conflito plurilocalizado devido ao primado da União Europeia (cf. artigo 8.º, n.º 4 da
CRP), se não existir então começamos por analisar a competência do tribunal ao nível da matéria, hierarquia, valor e
território.

Competência internacional – no âmbito da ação executiva, vigora o princípio da territorialidade,


segundo o qual “cada Estado possui o monopólio das medidas coativas efetuadas no seu território”
(MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Ação Executiva Singular, p. 113).

1. Os tribunais são internacionalmente competentes para o conhecimento de


uma ação executiva quando se verifique uma conexão suficientemente forte
com o ordenamento jurídico português, ao ponto de nele ser permitida a
adoção de providências adequadas à realização coativa de uma obrigação (cf.
art.10/4.º do CPC);

2. Por força do primado da União Europeia, antes de se aplicar o regime da


competência internacional previsto no CPC (artigo 59.º e ss) torna-se
necessário atender ao que se acha estabelecido nesta matéria no Reg.
1215/2012 de 12 de dezembro de 2012;
Consequência decorrente
da violação de normas
relativas à competência 3. Em sede executiva este Regulamento apenas prevê no artigo 24.º n.º 5 onde
internacional: refere que têm competência exclusiva, em matéria de execução de decisões,
Da violação das normas de os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução.
competência internacional
resulta a incompetência
absoluta do tribunal (al. a) do 4. Há divergência doutrinária relativamente ao disposto no n.º 5 do artigo 24.º
artigo 96.º do CPC) que por do Reg. 1215, LIMA PINHEIRO E MARCO GONÇALVES defendem que este
sua vez comporta uma
exceção dilatória (cf. al. a do normativo regula tanto a competência dos tribunais para a prática de atos de
artigo 577.º do CPC) que se execução no território de um determinado Estado-Membro – sendo que só
tem como consequência o
podem praticar atos de execução no território de um Estado os tribunais deste
indeferimento liminar do
requerimento executivo nos Estado ) como também a competência exclusiva contraditórios que
termos do artigo 726/2/al.b) apresentam um laço estrito com a execução, tais como os embargos de
do CPC, se não existir
indeferimento absolve-se o executado e de terceiro.
executado da instância.
Competência Interna – o artigo 60/2.º do CPC refere que na ordem interna, a jurisdição reparte-
se pelos diferentes tribunais segundo a 1) matéria, 2) o valor da causa, 3) a hierarquia judiciária
e o 4) território.

1)

Competência em razão da matéria

(a) Primeira etapa: no que diz respeito à competência em razão da matéria, aplica-se a mesma regra
que vigora no domínio da ação declarativa, são da competência dos tribunais judiciais as causas
que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional (art. 40.º, e 80.º da LOSJ e art. 64.º do CPC).
Neste enquadramento os tribunais judiciais têm uma competência supletiva.

(b) Segunda etapa:


Se virmos que os tribunais judiciais são os competentes, temos de analisar os tribunais da comarca
(tribunais da 1.ª instância). Diz-nos o artigo 80.º/n.º 2 da LOSJ, estabelece que os tribunais de
comarca são de competência genérica e de competência especializada.

Dentro dos Tribunais e juízos de competência especializada:


- O artigo 80/1.º da LOSJ estipula que os tribunais de comarca de desdobram em juízos, que podem
ser de competência especializada, de competência genérica e de proximidade;
- Juízos de competência especializada: O artigo 81/3.º da LOSJ, preceitua que podem ser criados
Consequência diversos juízos de competência especializada, destacando-se, em matéria civil, os juízos centrais cíveis,
decorrente da
os juízos locais cíveis e os juízos de execução;
violação de normas
relativas à
competência em
• No que diz respeito aos juízos de execução, estes têm competência exclusiva para exercer,
razão da matéria:
no âmbito dos processos de execução de natureza cível, as competências previstas no CPC
Da violação das normas
de competência resulta a (cf. artigo 129.º da LOSJ);
incompetência absoluta
do tribunal (al. a) do
• No entanto é importante atender ao disposto no n.º 2 do artigo 129.º da LOSJ (exceção à
artigo 96.º do CPC) que
por sua vez comporta regra da competência exclusiva do juízo de execução). Ex: Se estivermos perante uma
uma exceção dilatória sentença que foi proferida por um juízo de comércio, então é neste que a sentença tem de ser
(cf. al. a do artigo 577.º
do CPC) que se for
executada (cf. artigo 128/3.º + 129/2.º da LOSJ).
procedente tem como
consequência o
• Assim se o Tribunal territorialmente competente tiver juízo de execução (v. arts. 66º e ss
indeferimento liminar
do requerimento ROFTJ), encontrámos o Tribunal competente; se não houver juízo de execução, atendemos
executivo nos termos ao valor. ASSIM: Só vemos o valor se não houver juízo de execução no tribunal
do artigo 726/2/al.b)
territorialmente competente. se a ação for superior a 50.000 EUR, é competente o juízo
do CPC, se não existir
indeferimento absolve- central cível (art. 117º/1 b LOSJ); se for inferior a 50.000 EUR, é competente o juízo local
se o executado da cível (art. 130º/2 c) LOSJ).
instância.
2)
Competência em razão do valor

a) Quando a esta, se estiver em causa uma circunscrição que se encontre abrangida pela competência
de um juízo de execução, este será competente para exercer, no âmbito do processo de execução, as
competências previstas no CPC, independentemente do valor da ação; (cf. 129.º da LOSJ);

b) Se estando em causa uma circunscrição que não se encontre abrangida pela competência de um juízo
de execução ou tribunal, será competente:

i) O juízo central cível, se o valor da execução for igual ou superior a 50.000 EUR (cf. art.
117/n.º1/al. b) do LOSJ);
ii) Ou o juízo local cível, se o valor da execução for igual ou inferior a 50.000 EUR (cf. 130.º,
n.º 2, al. c) da LOSJ).

Consequência da violação de competência e razão do valor: ocorre incompetência relativa, por


violação das regras em razão do valor (art. 102.º do CPC) tal determina a remessa do processo
executivo para o tribunal competente (cf. n.º 3 do artigo 105.º do CPC).

3)

Competência em razão da Hierarquia

i) Em razão da hierarquia só são competentes os tribunais de 1ª instância para executar as


ações propostas neste âmbito. Tendo em conta que nos termos do art. 42.º da LOSJ, os
tribunais encontram-se hierarquizados para o efeito de recurso das suas decisões, sendo que nem
o tribunal da Relação nem o STJ, têm competência executiva

ii) Assim os tribunais da comarca têm competência exclusiva em matéria executiva, ainda que esteja
em causa uma decisão condenatória proferida pelo Tribunal da Relação ou pelo STJ (cf.
artigo 86.º do CPC). Assim se for proposta na Relação ou no STJ, há incompetência absoluta do
tribunal. – cf. artigo 86.º do CPC + artigo 96.º do CPC.

iii) Significa isto que independentemente de estar em causa a execução de uma decisão proferida,
em primeira instância ou em sede de recurso, os tribunais da comarca são os que têm
competência executiva.

Consequência da violação de competência e razão da hierarquia: incompetência absoluta do


tribunal (cf. artigo 96.ºal.a) do CPC) → o que implica o indeferimento liminar do requerimento
executivo ou a absolvição do executado da instância (cf. 99/1.º + 726/2/al.b) do CPC).
4)

Competência em razão do Território

Aqui é importante distinguirem se estamos perante título executivo judicial ou extrajudicial.

• Título Judicial (cf. artigo 703/al.a) do CPC): Sentença – art. 85º a 88º e 90º CPC;
• Título Extrajudicial (cf. artigo 703/al. b), c) e d) do CPC: Outro título – art. 89º CPC.

Execução de sentença proferida pelo tribunal da comarca (artigo 85.º do CPC):

i) Regra geral: se estiver em causa uma ação executiva fundada em sentença condenatória
proferida pelos tribunais portugueses, é territorialmente competente para a execução o tribunal
onde tiver corrido termos a própria ação declarativa (cf. artigo 85.º do CPC + artigo 626.º do
CPC).

ii) Nos termos do artigo 85/2.º do CPC → o requerimento executivo deve ser apresentado junto do
tribunal onde correu ou corre termos o processo declarativo e não diretamente junto do juízo
Títulos de execução que será competente para tramitação da execução, pois caberá ao tribunal onde foi
Judiciais proferido a sentença remeter ao juízo de execução a cópia da sentença e do requerimento
executivo.

Execução de sentença proferida por Tribunais superiores (cf. artigo 86.º do CPC):

a) Se a ação tiver sido proposta, em primeira instância, no tribunal da Relação ou no STJ, é competente
para a execução o tribunal do domicílio do executado, salvo a situação prevista no artigo 84.º do CPC
respeitante às ações em que seja parte o juiz, seu cônjuge (...).
b) De acordo com a Lei da Organização do Sistema Judiciário, nem o STJ, nem o tribunal da relação, têm
competência para executar as decisões por ele proferidas em primeiro instância (cf. artigo 55/al.b) e c), e
art. 73/ b) e c) da LOSJ.
c) Para que seja possível a execução da decisão, torna-se necessário que o processo declarativo seja
remetido para o tribunal competente para a execução; (cf. 86.º do CPC).

Execução para a execução fundada em título executivo extrajudicial: (artigo 89.º do CPC).

Decorrem as seguintes regras do artigo 89.º n.º 1 do CPC:


i) A ação executiva deve ser intentada junto do tribunal do domicílio do executado;
ii) Havendo pluralidade de executados, devem ser todos demandados no tribunal do domicílio do maior
Títulos
número;
iii) Sendo o executado uma pessoa coletiva, o exequente pode optar por intentar a ação executiva no Extra
tribunal do domicílio do executado ou no tribunal do lugar do cumprimento da obrigação
(se não estiver definido o local ver as regras supletivas do CC artigo 772.º do CC + 774.º do CC). judiciais
iv) Se o exequente e o executado residirem, simultaneamente, na Área Metropolitana do Porto ou
na área Metropolitana de Lisboa, o exequente pode optar por intentar a ação executiva no
tribunal do domicílio do executado ou no tribunal do lugar onde a obrigação deva ser
cumprida.

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