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III.

“Eros e Thanatos”: Os elementos do processo

A) Pressupostos processuais relativos às partes

Hipótese prática n.º 4

Na sequência da aplicação de uma sanção disciplinar de descida de divisão pela


Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol ao clube F.C. Axadrezados, os
respetivos jogadores pretendem impugnar a referida decisão, alegando para o efeito a
perda de visibilidade e de estatuto a que ficarão sujeitos como “meros” jogadores da 2.ª
Liga. Sentindo-se igualmente prejudicados com a decisão da Comissão Disciplinar, os
principais patrocinadores do clube preparam também uma reação judicial, que incluirá
igualmente um pedido de indemnização por conta das mais do que certas perdas de
receitas de publicidade.

a) Questão prévia: em que tribunal deveriam ser propostas estas ações?

b) Independentemente da resposta à questão anterior, e assumindo que as respetivas


ações seriam propostas e correriam termos perante um tribunal administrativo
de círculo:

b.1) Pronuncie-se sobre a legitimidade processual dos jogadores e dos


patrocinadores do F. C. Axadrezados.

b.2) Imagine que o Ministério Público pretende igualmente impugnar a decisão,


imputando à Comissão Disciplinar da Liga diversíssimas ilegalidades na
tramitação do procedimento que lhe esteve subjacente. Pode fazê-lo?

b.3) Imagine também que uma claque organizada do clube pretende reagir
jurisdicionalmente, invocando para o efeito a tutela do “interesse público da
verdade desportiva”. Pode fazê-lo?

Hipótese prática n.º 5

120 dos “lesados do papel comercial do BES” pretendem impugnar a medida de


resolução adotada pelo Banco de Portugal no dia 3 de agosto de 2014. Não sabem, no
entanto, se o devem fazer individualmente, em coligação, ou se, para o efeito, devem
constituir uma Associação defensora dos seus interesses. O que lhes sugeriria?

Hipótese prática n.º 6

A. pretende impugnar o Regulamento de Avaliação da Faculdade de Direito da


Universidade de Lisboa. Propõe, para o efeito, ação contra o Conselho Pedagógico da
Faculdade, órgão responsável pela aprovação do referido Regulamento. Fez bem?
Hipótese prática n.º 7

A CIMA ― Centro de Inspeção Mecânica em Automóveis, S.A., propôs junto do


Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa uma ação de responsabilidade civil
extracontratual contra o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, alegando ser
ilícita a falta de aprovação de uma Portaria que habilite, como previsto na lei, a realização
de inspeções periódicas a motociclos. Consultado sobre o caso, um reputado especialista
comenta: “a ação deveria ter sido proposta contra o Estado, não contra o Ministério do
Planeamento e das Infraestruturas, o que significa também que deveria ter sido citado,
para assumir a respetiva representação em juízo, o Ministério Público”. Concorda?

Hipótese prática n.º 8

B. S.A., empresa ordenada em terceiro lugar num concurso público promovido pela
Secretaria-Geral do Ministério da Economia e nos termos do qual foi adjudicada a
proposta de C., Ld.ª e ordenada em segundo lugar a proposta de D., Ld.ª, propõe ação de
contencioso pré-contratual destinada a impugnar o ato adjudicatório praticado. Demanda,
para o efeito, apenas o Estado português e C. Quid iuris?

Hipótese prática n.º 9

E., residente e eleitor em Lisboa, pretende impugnar a deliberação da Câmara


Municipal através da qual se atribuiu, a F., um subsídio tendente à publicação da tese de
mestrado deste último, simplesmente por considerar que a mesma não possui relevo
científico digno do patrocínio do Município, sendo por isso ilegal. Poderá fazê-lo?

Hipótese prática n.º 10

G., empresa do sector da construção, pretende anular o contrato de empreitada


celebrado entre a Ordem dos Advogados e a empresa F., alegando que o mesmo não
corresponde, sob o ponto de vista dos trabalhos a realizar, aos previstos no Caderno de
Encargos. E se se tratasse de um contrato de prestação de serviços informáticos celebrado
entre a Ordem dos Advogados e uma empresa do sector, e fosse H., Advogado
beneficiário desses serviços, a querer propor uma ação destinada a garantir a sua boa
execução?

Hipótese prática n.º 11

A Assembleia Municipal de Sintra pretende impugnar uma deliberação da Câmara


Municipal de Sintra, por entender que este último órgão, ao deliberar sobre alteração da
toponímia de diversas ruas da cidade, decidiu sobre matérias para as quais não dispunha
de qualquer competência. Pode fazê-lo?
Tema de análise n.º 6

Analise e comente, à luz das regras sobre legitimidade ativa e interesse em agir, o
Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 29-10-2009, proc. 01054/08, de cujo
sumário consta o seguinte:

«A indispensável e efetiva ligação entre o autor e o interesse cuja proteção reclama só garante a sua
legitimidade quando, por um lado, ocorre uma situação de efetiva lesão que se repercute na sua esfera
jurídica, causando-lhe direta e imediatamente prejuízos, e, por outro, quando daí decorre uma real
necessidade de tutela judicial que justifique a utilização do meio impugnatório, isto é, quando o
interesse para que reclama proteção é direto e pessoal. Não tem interesse direto e pessoal e, por isso,
carece de legitimidade ativa aquele que pretende a anulação do licenciamento de uma grande
superfície comercial com o fundamento de que a sua entrada em funcionamento abalaria seriamente
a atividade do seu estabelecimento comercial tornando-o economicamente inviável e que tal
conduziria ao seu encerramento e ao consequente despedimento dos seus trabalhadores».

Tema de análise n.º 7

Analise e comente, à luz das regras sobre legitimidade ativa e passiva e do interesse
em agir, o acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 14-07-2015, proc. 0549/15,
através do qual se julgou uma providência cautelar destinada a bloquear o processo de
subconcessão da Metro de Lisboa e da Carris e cujo sumário é o seguinte:

«I― Ocorre interesse em agir do requerente quando, apesar de aprovada Resolução e lançado
concurso público com a aprovação de todas as peças, o procedimento concursal ainda não terminou.

II - Não ocorre ilegitimidade ativa dos requerentes com o fundamento de que era o Município quem
detinha os poderes de concessão e por isso o único ente legítimo para sindicar judicialmente a
titularidade das concessões outorgadas ao ML e à Carris quando essa matéria é controvertida nos
autos.

III ― Têm legitimidade ativa ― independentemente de qualquer lesão específica na sua esfera
jurídica, património ou demonstração de benefícios diretos e imediatos que derivariam da
anulabilidade ou suspensão do ato ― os requerentes que invocam a violação de preceitos
constitucionais de legalidade e qualidade de vida dos habitantes de Lisboa, por estar em causa a
defesa de “interesses difusos” gerais e unitários da comunidade quanto à regularidade de um
concreto desempenho por parte da Administração.

IV ― Consistindo a relação material configurada pelos requerentes na intervenção do Conselho de


Ministros (enquanto órgão autor da Resolução suspendenda) e dos conselhos de administração do
METROPOLITANO DE LISBOA, E.P.E. e da CARRIS, S.A (enquanto órgãos responsáveis pela
preparação e condução do procedimento concursal desencadeado por essa Resolução) para além das
entidades a quem cumpre a execução da mesma, não ocorre legitimidade processual, no processo
cautelar, da contra-interessada AMT».

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