Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
11/10/2021
Caso do Arlindo, alínea a): Artigos 202º CC e seguintes, coisa futura, saber se B tinha
um direito real, usando uma ação de reivindicação.
204º/1/c) CC, 211º CC coisa futura, 212º CC fruto, neste caso natural, logo 212º/2 CC.
Aplicar 408º/1 CC, regra geral, propriedade se transmite por mero efeito do contrato,
vamos parar ao 408º/2 CC tem exceções, em que estão os frutos naturais e coisas
futuras que só com a aquisição da coisa ou no momento da colheita.
Mas a herdade já não é do A, que vende a C, 408º/1 CC, C adquire a propriedade da
herdade e adquire a propriedade da cortiça, que ainda está ligada ao solo, quem é o
proprietário da herdade e da cortiça é C. O B não tem um direito real, só tem direito a
uma indemnização, e não a uma ação de reivindicação, artigo 879º CC, 880º tem uma
exceção para bens futuros e fruto pendente, o vendedor, A, fica obrigado a exercer as
diligências, mas A fez o contrário, vendeu a herdade e esse bem futuro é a cortiça.
Aplicar 882º/2, negócio entre A e C, a obrigação da entrega abrange frutos pendentes.
A solução seria diferente para um direito real de aquisição.
Alínea b): Artigo 408º/1, aqui funciona a regra geral, não estamos perante nenhuma
das exceções. D tem o direito real de gozo máximo, que é a propriedade. 408º/1 tem o
princípio da consensualidade. 875º tem o princípio da causalidade, em que tem de
haver uma causa justa.
Aplicar o 879º, para dizer que os efeitos são a transmissão da propriedade, obrigação
de entregar a coisa e entregar o preço e dizer quais é que não foram cumpridos.
Aplicar p 886º, que diz que uma vez transmitida a propriedade da coisa, o vendedor já
não pode resolver o contrato por falta de pagamento do preço, porque aqui ele deixa
de ter um direito real, passando apenas a ter um direito de crédito.
Alínea c): hipoteca é um direito real de garantia, característica da absolutidade; aplicar
o artigo 712º para dizer que é voluntária.
Alínea d): Arlindo podia ter constituído propriedade horizontal, artigo 1414º CC.
Alínea e): eles atribuíram eficácia real mas falam só de apanhar os pêssegos, princípio
da tipicidade do 1306º CC.
Caso Francisca: Francisca vive num apartamento arrendado por Gabriela, que esta
tinha adquirido por ocasião da morte de seus pais.
Desde 1998 até à presente data (2019), Francisca deixou de pagar as rendas devidas,
em virtude de, nesse ano, ter sido despedida. Gabriela, por caridade, foi sempre
tolerando a situação, abstendo-se de exigir o pagamento das rendas vencidas.
Em 2018, Gabriela descobre que Francisca (finalmente!) arranjou um emprego,
exigindo-lhe, por esta ocasião, o pagamento das rendas em falta. Contudo, Gabriela
recusa-se a pagar qualquer renda, alegando ser a proprietária do imóvel por
usucapião, desde 1998. Quid júris?
Resposta: Começando por caracterizar o objeto do contrato celebrado por Francisca e
Gabriela, para ver se o objeto é suscetível de ser objeto de um contrato com eficácia
real ou meramente obrigacional. Ora, Francisca e Gabriela celebram um contrato de
arrendamento, segundo o artigo 1023º do Código Civil, cujo objeto é uma coisa imóvel,
um prédio, segundo o artigo 204º CC.
Diz-nos o enunciado que Francisca, pelo facto de ter sido despedida, não paga as
rendas desde 1998 até 2019, o que, segundo o artigo 1038º alínea a), é uma das
obrigações do contrato que celebraram, mas ocorre o incumprimento de uma
obrigação, que os artigos 1083º números 3 e 4 e 1084º CC vêm resolver.
Aqui, vale a pena mencionar que, como Francisca vive desde 1998 no apartamento
arrendado por Gabriela, ela tem a posse, porque tem um direito pessoal de gozo,
segundo o artigo 1037º/2 CC.
Segundo o artigo 1288º, usucapião, a posse do direito de propriedade ou de outros
direitos reais de gozo por um certo lapso de tempo, faculta ao possuidor, salvo
disposição em contrário, a aquisição do direito cujo exercício corresponde a sua
atuação. Aqui, para que Francisca possa adquirir o apartamento por usucapião, é
necessário ver se ela tem efetivamente a posse ou se é apenas detentora.
O que Francisca tem é um direito pessoal de gozo, por causa do contrato de
arrendamento, e não um direito de propriedade, esse é o direito real de Gabriela.
Francisca, com o direito pessoal de gozo, é possuidora do apartamento, e mesmo
que não tenha pagado as rendas, peno que ela continua a ser possuidora.
Ora, segundo o artigo 1296º do CC, usucapião de imóveis, diz-nos que a posse tem de
ser de boa-fé, e aqui penso que tenha sido de má fé, porque Francisca sabia que não
estava a pagar as rendas, ou seja, acho que se for possível Francisca adquirir o
apartamento por usucapião, se for de boa-fé, o prazo é de 15 anos de um uso
interrupto. Portanto, aqui, Francisca, tendo agido de má-fé, não adquiriu o direito de
propriedade por usucapião, pelo menos não em 2019, porque é necessário um prazo.
Caso de Alexandre, amante de livros: Pergunta 1: Artigo 1251º CC, para definir a
posse, artigo 1263º e seguintes para perda e aquisição da posse.
Quando foi celebrado o contrato entre Alexandre e Bernardino, Alexandre passa a ter
o direito de propriedade sobre o livro, segundo o artigo 1263º alínea c), que é através
de contrato de compra e venda. Mas quem tem a posse do livro é Bernardino, porque
depois Alexandre, mesmo tendo um direito de propriedade sobre o livro, não tem o
corpus, porque deixa o livro com Bernardino. Neste caso, quem tem o direito de
propriedade sobre o livro, mesmo estando ele sobre posse ou detenção de outrem, é
Alexandre, porque o adquiriu através de constituto possessório. O artigo 408º CC dá-
nos o princípio da consensualidade.
Pergunta 2: Ora, com o contrato de compra e venda, Alexandre tem agora, o direito de
propriedade sobre o livro, artigos 408º/1 CC e 879º, a) e 1317, a) CC. Sendo certo que
Alexandre adquiriu o direito de propriedade sobre o livro mediante contrato de
compra e venda, mesmo que ele não tenha posse efetiva da coisa, Bernardino já nem
sequer consegue negociar com outra pessoa esse livro, porque já não tem o direito de
propriedade sobre este. Assim, o contrato celebrado com Carlos nem é possível,
porque a esse ponto Bernardino está a vender bens que já não estão em seu nome, e é
uma venda de bens alheios, segundo o 892º quem continua a ter o direito de
propriedade sobre o livro é Alexandre.
Pergunta 3: Como foi mencionado acima, Bernardino procedeu a uma venda de bens
alheios, porque Alexandre adquiriu logo o direito de propriedade sobre o livro quando
celebrou o contrato de compra e venda com Bernardino (artigo 408º/1 CC),
constituindo uma venda de bens alheios com Carlos, artigo 892º CC. Sendo que
Alexandre tem um direito de propriedade, que tem eficácia real e não meramente
obrigacional, ele pode, nos termos do artigo 1311º CC recorrer a uma ação de
reivindicação, e que no artigo 1268º/1 do CC, ele tem também presunção de posse. Se
olharmos para o artigo 1263º alínea b) CC, com a tradição material da coisa, Carlos é o
possuidor do livro neste momento. Aqui, penso que Alexandre não possa recorrer a
uma ação de restituição, porque ele não foi efetivamente roubado, Carlos apenas
negociou com Bernardino de boa-fé, porque o enunciado não nos diz que Carlos tinha
conhecimento de que Alexandre era o proprietário do livro.
Pergunta 4: Aqui temos outra vez de ver a diferença entre detenção e posse. A posse
foi transferida para Alexandre quando ele celebrou o contrato de compra e venda,
artigos 1263º alínea c), e 1264º CC. Sendo que Alexandre deixou o livro com
Bernardino, este é detentor, porque tem o coropus mas, por exemplo não tem o
animus. Sendo detentor, Bernardino, tendo o depósito com ele, o livro, e em nome de
Alexandre, ele tem a posse de Alexandre, uma posse tipo por mandato, que neste caso
é por depósito, e sendo que neste caso foi esbulhado, tendo aqui o vetor da má-fé, ele
tem tutela possessória, artigo 1188º/2 CC, e pode recorrer a uma ação de restituição.
29/10/2021
Caso: Arménio é comproprietário, com a sua esposa Bruna, de uma casa na aldeia de
Santa Susana, no Alentejo, há cerca de 10 anos. Apesar de viver em Lisboa, Arménio
costuma passar as suas férias de verão na aldeia, em grande parte devido a Bruna, pois
a calmaria da aldeia atenua as suas frequentes e dolorosas enxaquecas. Acontece que,
desde há um mês, a tranquilidade de Arménio e de Bruna nunca mais foi a mesma.
Carlitos, proprietário de um prédio a 100 metros do imóvel de Arménio, constituiu,
com a devida licença camarária, uma pocilga no seu terreno, fazendo com que o mau-
cheiro seja insuportável para o casal, especialmente para Bruna, desde que a situação
agrava ainda mais o seu estado de saúde. Como se não bastasse, Arménio descobriu
que Carlitos construiu uma conduta subterrânea até ao seu terreno, que faz com que
as descargas da pocilga sejam aí despejadas. Quid júris?
Segunda questão: Tendo em conta que a permissão foi dada por António apenas a
Bruno, como é que Carlos poderá aceder à via pública?
Neste caso, penso estarmos perante uma servidão de passagem, uma figura que tem
que ver com a constituição de direitos reais mediante negócio jurídico (artigo 1547º
CC). Segundo o artigo 1547º CC, estas servidões podem ser constituídas mediante
contrato, testamento, usucapião, etc.
A constituição de direitos reais pode dar-se, ainda, por lei, ou seja, pode haver lugar a
uma servidão legal, ou seja, remetemos para o artigo 1550/1 CC. Aqui, tendo a dúvida
se foi ou não devido à imposição por lei, penso que como António deu mesmo a
autorização a Bruno, não houve necessidade de se constituir uma servidão de
passagem por lei, artigo 1547º/2 CC. Ver artigo 1543º CC.
Esta autorização que António deu a Bruno, como penso não ter sido por lei, culmina o
problema de agora quem ser o proprietário do prédio é agora Carlos.
Agora, Carlos tem de obter uma servidão de passagem concedida por António, desta
vez por lei, ou seja, ter o registo predial dessa servidão de passagem, que consta do
Código do Registo Predial, artigo 2º/1 alínea a), porque lhe dá a publicidade desse
mesmo direito e pode opô-lo a António e pode, até, reagir mediante uma ação de
reivindicação, artigos 1315º e 1311º/1 CC com base nesse direito de passagem, porque
como vimos nos deveres relativos às limitações dos direitos reais, há um dever de non
facere ou de padecere de António não intervir no direito de passagem de Carlos.
Caso Hélder adquiriu a propriedade de uma quinta por sucessão: Aqui estamos
perante um caso que engloba o direito de usufruto, o direito de servidão e o direito de
propriedade e a possibilidade de extinção de cada um destes.
Primeiramente, olhando para o direito de Isabel, que é usufrutuária da quinta,
olhamos para os artigos 1439º e seguintes; no enunciado, é-nos dito que Hélder
decidiu trocar as fechaduras da entrada da quinta, impedindo o acesso a Isabel. A
questão aqui prende-se com a extinção do direito de usufruto de Isabel; ora, em
relação à extinção de direitos reais, esta pode ocorrer por:
a) expropriação por utilidade pública;
b) perda da coisa;
c) impossibilidade de exercício do direito;
d) abandono;
e) renúncia;
f) prescrição;
g) caducidade;
h) não uso;
i) confusão;
j) perda da posse;
k) usucapio libertatis;
l) constituição de um direito real incompatível;
m) extinção do direito real maior com base no qual o direito se adquiriu.
No caso do usufruto, temos o artigo 1476º CC, que enuncia as suas causas de extinção;
ora, observando cada uma das alíneas, não parecendo o caso caber em nenhuma
destas; mas, se formos às causas de extinção que acima enunciei, penso estarmos
perante uma situação de usucapio libertatis, situação em que o titular do direito real
maior (neste caso, Hélder), por via da oposição, consegue obter a liberação do seu
direito real maior daquele direito menor que o onerava. Esta forma de extinção
encontra-se prevista no artigo 1574º CC, que tem três pressupostos: oposição ao
direito real menor por parte do titular do direito real maior; o decurso do prazo legal
para usucapião e invocação pelo beneficiário.
A doutrina tem considerado esta figura como forma geral de extinção dos direitos reais
menores, com o argumento de que não há razão para que o proprietário, quando
exerce o seu direito em contrariedade com esse direito real menor, adquira a liberação
desse ónus, quando essa liberação ocorreria igualmente, caso fosse a propriedade
plena adquirida por um terceiro por via da usucapião.
Assim, releva verificar se estão presentes os três pressupostos, e desde logo não se
verifica o pressuposto do decorrer do prazo legal necessário, que está presente nos
artigos 1594º/2 e 1294 alínea b) CC, nem houve uma invocação por parte do
beneficiário, que está nos artigos 303º parte final e 1292º CC. Assim, não considero
que esteja extinto o direito de usufruto; Assim, Hélder não pode decidir mudar as
fechaduras apenas porque sim, e Isabel pode de facto reagir contra esta ação, por
intentar uma ação de reivindicação, artigos 1311º e 1315º do Código Civil.
Depois, temos João, que tem um direito de servidão, regulado nos artigos 1543º e
seguintes do Código Civil, neste caso, estamos perante uma servidão de passagem, que
deixou de ser utilizada em virtude de ter sido construída uma estrada municipal junto
ao seu prédio. Pondo, então, a possibilidade de extinção desta servidão, atendemos ao
artigo 1597º CC, que tem na sua alínea b) o não uso durante vinte anos, qualquer que
seja o motivo. Ora, no enunciado sabemos que um ano depois de ter sido constituída,
quando o pai de João ainda era vivo, a servidão deixou de ser utilizada.
Como estamos, neste caso, em 2021 e não sabemos quando é que foi constituída a
servidão de passagem, podemos abrir as duas hipóteses, ou seja, podemos considerar
que durante 20 anos não foi utilizada essa servidão de passagem, pelo que
consideramos que esse direito real se encontra extinto, ou podemos considerar que o
prazo de vinte anos ainda não se encontra cumprido, não está ainda extinta a servidão
de passagem.
Ainda assim, no número 2 do artigo 1569º CC, temos que as servidões podem ser
consideradas extintas se se verificar que se considerem desnecessárias, pelo que não
havendo uma necessidade de servidão de passagem por parte de João, esta pode
extinguir-se, por declaração judicial de João com fundamento na desnecessidade,
artigo 1569º/2 CC, isto admitindo que a tal servidão é reconhecida por lei.
Por último, Hélder coloca as chaves num envelope e envia-as para o Presidente da
República, dizendo que pretende que a quinta fique para o Estado. Tendo isto em
conta, penso estarmos perante uma renúncia por parte do titular do direito de
propriedade, Hélder.
Em relação à renúncia, tem-se distinguindo entre a renúncia abdicativa, em que a
extinção do direito se realiza sem qualquer contrapartida para o titular, e a renúncia
liberatória, em que a extinção do direito tem como contrapartida a exoneração do
titular em relação a certas obrigações propter rem , aquelas que decorrem da relação
com a coisa, sendo que neste caso há dependência em relação a essa mesma
exoneração.
Neste caso, penso que a renúncia seja abdicativa, que não tem qualquer contrapartida
para o titular, e aparece prevista especificamente em relação a determinados direitos
de gozo menores, como o usufruto, o uso e habitação e as servidões prediais, bem
como a todos os direitos reais de garantia, como a hipoteca, a consignação de
rendimentos, o penhor, o privilégio e o direito de retenção.
Inversamente, não há quaisquer referências à renúncia a propósito do direito de
propriedade, propriedade horizontal e direito de superfície, mas sabemos que um dos
seus requisitos é a forma, pelo que penso que, como a propriedade só pode ser
constituída através de um negócio jurídico que cumpra com a forma escrita, ainda por
cima estando a falar de um imóvel, penso que tenha de respeitar a forma escrita,
através de escritura pública ou documento particular autenticado, seria de esperar que
a sua extinção, mesmo através da renúncia, se faça pelos mesmos preceitos, ou seja,
se Hélder quer fazer extinguir o seu direito de propriedade sobre a quinta, deve fazê-lo
por escrito, o que não aconteceu, por isso, penso ue ele ter enviado as chaves num
envelope não produz quaisquer efeitos jurídicos, muito menos faz extinguir o seu
direito de propriedade. Hélder continua a ser o proprietário da quinta.
Dia 18/11/2021
Resposta: Estamos perante um caso de propriedade horizontal, que faz coexistir sobre
o mesmo edifício dois tipos de faculdades distintas dos condóminos, estando regulada
nos artigos 1414º e seguintes. Essas faculdades são as correspondentes à propriedade
exclusiva sobre uma fração autónoma do prédio e as correspondentes à
compropriedade sobre as partes comuns do edifício.
Para se poder constituir um edifício em propriedade horizontal, é necessário que o
mesmo tenha condições adequadas para esse efeito, designadamente que o mesmo
possa ser dividido em frações e que estas sejam suscetíveis de constituir unidades
independentes, o que não será um problema neste caso, uma vez que o enunciado
nos dá a entender que, à partida, já se deu a constituição do prédio em propriedade
horizontal.
Quanto às partes comuns do prédio, cuja existência é essencial à propriedade
horizontal, estas encontram-se previstas no artigo 1421º do CC, havendo que
distinguir entre as partes do prédio que são obrigatoriamente comuns, que se
encontram no artigo 1421º/1 e que são as fundamentais para o uso comum do
prédio, portanto nem é possível estipular a sua atribuição em propriedade exclusiva
a qualquer condómino, e as que não apenas presuntivamente comuns, artigo
1421º/2 CC, em que vigora apenas uma presunção, podendo o título constitutivo
dispor de forma diferente, e pode até afetar a um uso exclusivo de um dos
condóminos certas zonas das partes comuns, veja-se o artigo 1421º/3 do CC,
situação em que apesar de a parte se manter comum, fica afeta à utilização exclusiva
por um condómino.
Neste caso, sabemos que Vasco apenas recebeu um telefonema a dizer que tinha sido
feita uma deliberação em assembleia de condóminos.
Nos termos do 1420º CC, cada condómino é considerado proprietário exclusivo da
sua fração e comproprietário das partes comuns do prédio: quanto aos poderes
relativos à fração, olhando para o artigo 1422º/2 alínea b), percebemos que o direito
de uso da fração por parte dos condóminos se encontra extremamente limitado, em
virtude de terem de respeitar o fim a que a fração se destina. Quanto aos poderes
relativos às partes comuns, temos o artigo 1420º/1. A administração das partes
comuns do edifício compete à assembleia de condóminos e a um administrador,
artigo 1430º/1 CC. A assembleia dos condóminos é o órgão deliberativo composto
por todos os condóminos, tendo cada condómino tantos votos quanto for o valor da
percentagem referida no artigo 1418º/1 CC.
Ora, olhando para o artigo 1431º/2 do CC e artigo 1432º/ 1 e 2, sabemos que, não só
tem de haver uma convocação por meio de carta registada, enviada com 10 dias de
antecedência, ou mediante aviso convocatório feito com a mesma antecedência,
desde que haja recibo de receção assinado pelos condóminos, e, para além disso, têm
de ser informados os assuntos cujas deliberações só podem se aprovadas por
unanimidade de votos. Agora, cabe saber quais são os assuntos que carecem de
unanimidade de votos.
A colocação de plataformas elevatórias já é uma inovação, artigo 1425º CC, pelo que
no número 1 sabemos que podem ser aprovadas por maioria representativa, desde
que represente dois terços do valor total do prédio.
Depois, quanto à abertura da porta de ligação, mas feita entre apenas o primeiro
esquerdo e o primeiro direito, se nada tiver a ver com Vasco, este não teria de
proceder a uma autorização; como a sua fração é a correspondente ao segundo
andar esquerdo, Vasco não precisa de dar autorização neste assunto. Aqui, tive
algumas dúvidas em enquadrar num artigo do CC, mas penso que seja 1422-A, logo
no número 1, que nos diz que essa ligação não precisa de autorização dos restantes
condóminos.
Quanto à última disposição, que proíbe os condóminos de fazerem fritos, porque isso
afeta as partes comuns. Nesta disposição, penso que o problema está na imposição
de uma proibição aos condóminos que incide sobre a sua fração autónoma, cujos
órgãos do condomínio não têm competência para administrar, veja-se o artigo
1430º/1. Por outro lado, a emissão de cheiros dos fritos acaba por afetar as partes
comuns.
Para isso, temos de ver quais as limitações aos poderes que cada condómino tem
sobre a sua fração autónoma. Nos termos do artigo 1420º, cada condómino é
considerado proprietário exclusivo da sua fração e comproprietário das partes
comuns. Os poderes relativos à fração como propriedade exclusiva, atendendo ao
artigo 1305º, deveriam ser atribuídos ao condómino, de modo pleno e exclusivo, os
poderes de uso, fruição e disposição da fração.
Porém, tal não sucede, os poderes dos condóminos sobre as suas frações são muito
inferiores aos poderes que o proprietário possuiria sobre as mesmas partes do
edifício, se este não tivesse constituído em propriedade horizontal.
Surgem limitações específicas aos direitos dos condóminos que não se verificam na
propriedade em geral, artigo 1422º/2, sendo especialmente vedado aos condóminos,
e o que nos interessa está na alínea d), praticar quaisquer atos ou atividades que
tenham sido proibidos no título constitutivo ou, posteriormente, por deliberação de
assembleia de condóminos, aprovada sem oposição. Penso que no caso estejamos
perante a segunda parte.
No número 4 do artigo 1422º, a alteração ao uso das frações autónomas carece de
autorização da assembleia de condóminos, aprovada por maioria representativa de
dois terços do valor total do prédio, pelo que a validade da disposição vai depender
aqui da maioria necessária.
Admitindo que sim, a disposição é válida.
Resposta final: Quanto a esta disposição final, disse que estamos perante uma
proibição que é feita aos condóminos na sua fração autónoma, que têm propriedade
exclusiva sobre esta (1420º/1), mas isto não pode ser objeto de deliberação em
assembleia de condóminos, porque este órgão nem sequer tem poder para deliberar
relativamente às frações autónomas, veja-se o artigo 1430º/1, pelo que a disposição
não seria válida porque o objeto não é suscetível de deliberação. Como tal, segundo
o artigo 1433º/1 CC, Vasco pode opor-se às deliberações contrárias à lei, que são
anuláveis mediante requerimento. Ou então aplicar o 1436º dos cheiros nas relações
de vizinhança. Esta é a resolução da professora.