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Docente Nidia Adelia Chamussora

Tema: As marcas de alienação em canto dos guerrilheiros, de Sergio Viera

Cap[itulo I . Alienacao

1.1.Definicao de aliencao

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Alienaçao a direito de herança


Publicado em 20 de outubro de 2016 por Jaquissone Domingos

Advertisements

Introdução
O presente trabalho que tem como tema “Alienação da Herança” ira debruçar de
forma muita clara e sintética em relação vários aspectos a respeito do mesmo tema a
destacar, em primeiro lugar, ira apresentar conceitos de base nomeadamente o conceito
de alienação, e herança de modo a facilitar ao leitor a perceção do tema acima descrito,
e logo de seguida ira apresentar uma ideia geral em relação a alienação da herança,
diversos modos de alienação da herança sob ponto de vista de Luís filipe sacramento e
amaral, como autor de referencia e também subsidiando-se do código civil como um
meio para efetivação do mesmo que parte dos artigo 2124 e seguintes do dispositivo a
cima retro mencionado que tratam do tema, e porque toda relação jurídica pressupõe a
existência de um objecto também ira debruçar em torno do objecto da alienação da
herança, forma de alienação da herança, os efeitos da alienação da herança  e por fim ira
culminar em realçar acerca do direito de preferência o prazo para efetivação do mesmo
direito tudo isto com base no código civil em vigor na republica de Moçambique.

Metodologia
Como ganhar coisas DE GRAÇA no AliExpress?

Para efetivação do presente trabalho, recorreu-se  a consulta de manuais em formato


físico, a internet e por fim a consulta de legislação em vigor na republica de
moçambique, nomeadamente o código civil.

Objetivos:
Objectivos gerais
 Compreender de forma clara os efeitos da alienação da herança no contesto da
lei moçambicana.
 Estabecer uma analise clara e concisa em relação ao tema

Objectivos específicos

 fazer uma analise profunda e percetível em relação aos efeitos da alienação da


herança. 

1.ALIENAÇÃO  DÀ HERANÇA
1.1.1. Conceitos de base

Alienação é forma voluntária de perda da propriedade. É o acto pelo qual o titular


transfere sua propriedade a outro interessado. Dá-se a alienação de forma voluntária ou
compulsória, sendo exemplo de alienação voluntária a dação em pagamento, e de
alienação compulsória a arrematação ( wilkipédia a enciclopédia livre ).

Herança (do latim hærentia) é o conjunto de princípios jurídicos que disciplinam a


transmissão do patrimônio (bens, direitos e obrigações), de uma pessoa que morreu, a
seus sucessores legais( wilkipédia a enciclopédia livre)

A alienação do direito à herança é um negócio jurídico utilizado frequentemente quando


um dos herdeiros cede a alguém o seu quinhão ou quota hereditária numa
herança( wilkpedia a enciclopédia livre).

AdvertisementsCom esse tipo de negócio, o herdeiro cedente evita a sua intervenção na


futura partilha dessa herança, em cujos bens não está interessado. A forma mais usual de
titular este negócio jurídico é a escritura notarial.

De acordo com FILIPE (1997, p. 223), logo após ter se verificado o chamamento, e
tendo o sucessível respondido aquele afirmativamente, aceitando a herança, pelo menos
virtualmente o herdeiro passa a deter um direito de propriedade em abstrato, sobre a
globalidade da herança ou sobre a quota parte que lhe pertencera.

Dai, que se possa admitir a possibilidade de poder transmitir a terceiro o seu direito a
herança ou ao quinhão, quer a titulo oneroso, quer a titulo gratuito, transmissão essa que
se inscrevera no âmbito do direito de disposição que a lei confere a qualquer
proprietário.

É assim que nos termos do artigo 2124 do código de processo civil, “ alienação da
herança ou o quinhão hereditário esta sujeita as disposições reguladoras do negocio
jurídico que lhe der causa, salvo o preceituado nos artigos seguintes.

Ainda para FILIPE (1997, p. 223), somente se pode proceder a alienação da herança,
verificados que hajam dois pressupostos a saber:

Em primeiro lugar, é necessário que se ache aberta a sucessão, pois como já se sabe o
artigo 2028 do código civil proíbe a disposição de sucessão de outrem ainda não aberta.
Em segundo lugar, é necessário que o herdeiro tenha aceite a herança, na medida em
que so então terá adquirido a plenitude do direito sobre aquela, nos termos do disposto
pelo artigo 2050 do código civil.

E por ultimo, deve ter em atenção que a possibilidade de alienação da herança cessa por
impossibilidade do objecto, conforme dispõe o artigo 280 do código civil, ou seja,
quando deixe de haver a herança, quota de herança ou quinhão hereditário.

Ensina FILIPE (1997, p. 224), esta situação a cima referenciada, pode ocorrer quer,
quando desapareçam, ou seja, se tenham destruído os bens que deveriam integrar o
património hereditário, quer quando, coo resultado dos encargos da herança, nada tenha
restado, primeiro caso pode acontecer quando os bens tenham sido consumidos por um
incendio, sendo eles o único património que o decujus possuía.

1.2. Diversos Modos de Alienação da Herança

Para FILIPE(1997, p. 224), o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação
da herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem
causa, indica-nos que ela (herança)pode ter origem em negócios jurídicos de diversa
natureza.

Porem ainda para este autor, de facto, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos
onerosos, designadamente a compra e venda( artigo 874 do código civil), a adoção em
pagamento (artigo 837 do código civil), a troca ou outras formas onerosas de
alienação( artigo 939 do código civil).

Mas, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos gratuitos, como seja, a
doação(artigo 940 do código civil). deve se terem em conta que o regime jurídico da
alienação da herança dependera e estará moldado pelo negocio jurídico que lhe esta
subjacente. É isso mesmo que se tem de concluir necessariamente do disposto no artigo
2124 do código civil.

Assim, tendo em conta o tipo de negocio jurídico que esteve na origem da alienação dos
bens, que integram a massa hereditária, ela terá de obedecer as regras próprias do
respectivo negocio negocio jurídico causal. É isso mesmo que dispõe o artigo 2124 do
código civil.

No intender de FILIPE, para uma melhor compreensão do alcance daquele daquele


dispositivo legal, passa-se a exemplificar esta situação, do seguinte modo:.

 Se o bem hereditário é constituído por um bem imóvel e se alienação se traduziu


em contrato de compra e venda, para efeitos de alienação estará sujeito as regras
próprias daquele tipo de negocio jurídico, no que respeita as regras relativas a
forma.

1.3. Objeto da Alienação

para FILIPE(1997, p. 225), a alienação pode abranger, tanto a herança no seu todo,
como uma quota parte da herança já partilhada, bem como o direito a um quinhão
hereditário, em herança ainda indivisa. Convém, agora saber quais são os direitos e
obrigações que, de facto, são susceptiveis de se integrar no acto alienação. Esta é
questão que se encontra tratada no artigo 2125 do código civil, o que estabelece três
presunções , e que são:

 A primeira presunção consiste em se considerar que todo  beneficio resultante da


caducidade de legado, encargo ou fideicomisso se transmite com a alienação, nº
1 do artigo acima citado;
 A segunda presunção é no sentido de se entender excluída da alienação a parte
hereditária devolvida ao alienante, após a alienação, em resultado de
fideicomisso ou do direito de acrescer nº 2 do artigo 2125 do código civil;
 A terceira presunção é também no sentido de se considerar excluídos da
alienação as recordações de família de pequeno valor económico, bem como os
diplomas e a correspondência do decujus nº 3 do artigo 2125 do código civil.

Uma vês que o artigo 2125 do código civil nos apresenta meras presunções, há que
reconhecer que as partes, podem no negocio jurídico pelo qual se proceda a alienação,
dispor de forma diversa dentro do principio da livre disposição de vontade, que neste
caso tem inteira aplicação.

1.4. A Forma de Alienação

Em principio, referir que a forma pela qual se deve proceder a alienaçãoacha-se


regulada no artigo 2126 do código civil.

De acordo com FILIPE (1997, p. 226), o preceito legal a cima referenciado, impõe que
devera alienar por escritura publica a herança, sempre que ela se contenham bens, cuja
transmissão tenha de obedecer aquela forma de documento, ou seja, estabelece um
regime que terá de ser completado pelas normas reguladoras dos actos notariais.

Nos termos da alínea d) do artigo 89 do código do notariado terá de se efetuar por


escritura publica  a alienação de herança, que contenha em si bens imoveis. Se no
património da herança a alienar, somente existirem bens, para cuja transmissão não se
exige escritura publica, nos termos das disposições a cima citadas, estabelece o numero
2 do artigo 2126 do código civil, que tal alienação devera obedecer a forma de
documento particular.

Ainda para o autor acima referenciado, quando a alienação esta sujeita a forma especial,
o seu não cumprimento determina a aplicação da sansão prevista no artigo 220 do
código civil, ou seja, a nulidade do respectivo negocio jurídico, por quanto se trata de
um requisito essencial da sua validade.

1.5. Efeitos da Alienação

Segundo FILIPE(1997, p. 226), os efeitos da alienação de herança obedecem, na sua


essência, as mesmas regras que se aplicam aos negócios jurídicos, que lhe estão
subjacentes. Contudo, dada a especifidade deste tipo de transação, a lei estabelece
algumas particularidades, como seja em relação a alienação de coisa alheia, segundo o
artigo 2127 do código civil, a sucessão de encargos( artigo 2128 do código civil).
De acordo com o preceituado no artigo 2127, pode retirar-se o principio de que o
alienante so respondera por alienação de coisa alheia, conjugado com o artigo 895
ambos do mesmo código, se não vier a ser reconhecido como herdeiro e quando tenha
disposto de bens não especificados da herança ou de quinhão hereditário.

Porem, no que respeita ao efeito relativo a sucessão nos encargos, do segundo


dispositivo legal a cima referenciado, pode inferir-se que o adquirente sucede nos
encargos que se incidirem sobre a herança ou sobre ou de quilha hereditário alienado.
Mas, neste caso o alienante é sempre solidariamente responsável pelos encargos.

[...]

Artigo enviado por:

Jaquissone Domingos

Estudante do ultimo nivel da Universidade Pedagogica de Moçambique, delegaçao de


Niassa, na Faculdade de Ciencias de Terra e Ambiente, Curso de Geografia.
Actualmente Professor estagiario na Escola Secundaria Geral de Amizade na Cidade de
Lichinga.

(7) artigos publicados


Autor desde 30 de setembro de 2016

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Índice
Introdução..........................................................................................................................3

Metodologia.......................................................................................................................3

Objetivos............................................................................................................................3

1.ALIENAÇÃO DÀ HERANÇA.....................................................................................4

1.1.1. Conceitos de base.............................................................................................4

1.2. Diversos Modos de Alienação da Herança.............................................................5

1.3. Objeto da Alienação................................................................................................6

1.4. A Forma de Alienação............................................................................................6

1.5. Efeitos da Alienação...............................................................................................7

1.6. Direito de preferência.............................................................................................8

Conclusão........................................................................................................................10

Bibliografia......................................................................................................................11
Introdução

O presente trabalho que tem como tema “Alienação da Herança” ira debruçar de
forma muita clara e sintética em relação vários aspectos a respeito do mesmo tema a
destacar, em primeiro lugar, ira apresentar conceitos de base nomeadamente o conceito
de alienação, e herança de modo a facilitar ao leitor a perceção do tema acima descrito,
e logo de seguida ira apresentar uma ideia geral em relação a alienação da herança,
diversos modos de alienação da herança sob ponto de vista de Luís filipe sacramento e
amaral, como autor de referencia e também subsidiando-se do código civil como um
meio para efetivação do mesmo que parte dos artigo 2124 e seguintes do dispositivo a
cima retro mencionado que tratam do tema, e porque toda relação jurídica pressupõe a
existência de um objecto também ira debruçar em torno do objecto da alienação da
herança, forma de alienação da herança, os efeitos da alienação da herança e por fim ira
culminar em realçar acerca do direito de preferência o prazo para efetivação do mesmo
direito tudo isto com base no código civil em vigor na republica de Moçambique.

Metodologia

Para efetivação do presente trabalho, recorreu-se a consulta de manuais em formato


físico, a internet e por fim a consulta de legislação em vigor na republica de
moçambique, nomeadamente o código civil.

Objetivos:

Objectivos gerais

 Compreender de forma clara os efeitos da alienação da herança no contesto da


lei moçambicana.
 Estabecer uma analise clara e concisa em relação ao tema

Objectivos específicos

 fazer uma analise profunda e percetível em relação aos efeitos da alienação da


herança.
1.ALIENAÇÃO DÀ HERANÇA

1.1.1. Conceitos de base

Alienação é forma voluntária de perda da propriedade. É o acto pelo qual o titular


transfere sua propriedade a outro interessado. Dá-se a alienação de forma voluntária ou
compulsória, sendo exemplo de alienação voluntária a dação em pagamento, e de
alienação compulsória a arrematação ( wilkipédia a enciclopédia livre ).

Herança (do latim hærentia) é o conjunto de princípios jurídicos que disciplinam a


transmissão do patrimônio (bens, direitos e obrigações), de uma pessoa que morreu, a
seus sucessores legais( wilkipédia a enciclopédia livre)

A alienação do direito à herança é um negócio jurídico utilizado frequentemente quando


um dos herdeiros cede a alguém o seu quinhão ou quota hereditária numa
herança( wilkpedia a enciclopédia livre).

Com esse tipo de negócio, o herdeiro cedente evita a sua intervenção na futura partilha
dessa herança, em cujos bens não está interessado. A forma mais usual de titular este
negócio jurídico é a escritura notarial.

De acordo com FILIPE (1997, p. 223), logo após ter se verificado o chamamento, e
tendo o sucessível respondido aquele afirmativamente, aceitando a herança, pelo menos
virtualmente o herdeiro passa a deter um direito de propriedade em abstrato, sobre a
globalidade da herança ou sobre a quota parte que lhe pertencera.

Dai, que se possa admitir a possibilidade de poder transmitir a terceiro o seu direito a
herança ou ao quinhão, quer a titulo oneroso, quer a titulo gratuito, transmissão essa que
se inscrevera no âmbito do direito de disposição que a lei confere a qualquer
proprietário.

É assim que nos termos do artigo 2124 do código de processo civil, “ alienação da
herança ou o quinhão hereditário esta sujeita as disposições reguladoras do negocio
jurídico que lhe der causa, salvo o preceituado nos artigos seguintes.

Ainda para FILIPE (1997, p. 223), somente se pode proceder a alienação da herança,
verificados que hajam dois pressupostos a saber:
Em primeiro lugar, é necessário que se ache aberta a sucessão, pois como já se sabe o
artigo 2028 do código civil proíbe a disposição de sucessão de outrem ainda não aberta.

Em segundo lugar, é necessário que o herdeiro tenha aceite a herança, na medida em


que so então terá adquirido a plenitude do direito sobre aquela, nos termos do disposto
pelo artigo 2050 do código civil.

E por ultimo, deve ter em atenção que a possibilidade de alienação da herança cessa por
impossibilidade do objecto, conforme dispõe o artigo 280 do código civil, ou seja,
quando deixe de haver a herança, quota de herança ou quinhão hereditário.

Ensina FILIPE (1997, p. 224), esta situação a cima referenciada, pode ocorrer quer,
quando desapareçam, ou seja, se tenham destruído os bens que deveriam integrar o
património hereditário, quer quando, coo resultado dos encargos da herança, nada tenha
restado, primeiro caso pode acontecer quando os bens tenham sido consumidos por um
incendio, sendo eles o único património que o decujus possuía.

1.2. Diversos Modos de Alienação da Herança

Para FILIPE(1997, p. 224), o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação
da herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem
causa, indica-nos que ela (herança)pode ter origem em negócios jurídicos de diversa
natureza.

Porem ainda para este autor, de facto, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos
onerosos, designadamente a compra e venda( artigo 874 do código civil), a adoção em
pagamento (artigo 837 do código civil), a troca ou outras formas onerosas de
alienação( artigo 939 do código civil).

Mas, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos gratuitos, como seja, a
doação(artigo 940 do código civil). deve se terem em conta que o regime jurídico da
alienação da herança dependera e estará moldado pelo negocio jurídico que lhe esta
subjacente. É isso mesmo que se tem de concluir necessariamente do disposto no artigo
2124 do código civil.

Assim, tendo em conta o tipo de negocio jurídico que esteve na origem da alienação dos
bens, que integram a massa hereditária, ela terá de obedecer as regras próprias do
respectivo negocio negocio jurídico causal. É isso mesmo que dispõe o artigo 2124 do
código civil.

No intender de FILIPE, para uma melhor compreensão do alcance daquele daquele


dispositivo legal, passa-se a exemplificar esta situação, do seguinte modo:

 Se o bem hereditário é constituído por um bem imóvel e se alienação se


traduziu em contrato de compra e venda, para efeitos de alienação estará sujeito
as regras próprias daquele tipo de negocio jurídico, no que respeita as regras
relativas a forma.

1.3. Objeto da Alienação

para FILIPE(1997, p. 225), a alienação pode abranger, tanto a herança no seu todo,
como uma quota parte da herança já partilhada, bem como o direito a um quinhão
hereditário, em herança ainda indivisa. Convém, agora saber quais são os direitos e
obrigações que, de facto, são susceptiveis de se integrar no acto alienação. Esta é
questão que se encontra tratada no artigo 2125 do código civil, o que estabelece três
presunções , e que são:

 A primeira presunção consiste em se considerar que todo beneficio resultante


da caducidade de legado, encargo ou fideicomisso se transmite com a alienação,
nº 1 do artigo acima citado;
 A segunda presunção é no sentido de se entender excluída da alienação a parte
hereditária devolvida ao alienante, após a alienação, em resultado de
fideicomisso ou do direito de acrescer nº 2 do artigo 2125 do código civil;
 A terceira presunção é também no sentido de se considerar excluídos da
alienação as recordações de família de pequeno valor económico, bem como os
diplomas e a correspondência do decujus nº 3 do artigo 2125 do código civil.

Uma vês que o artigo 2125 do código civil nos apresenta meras presunções, há que
reconhecer que as partes, podem no negocio jurídico pelo qual se proceda a alienação,
dispor de forma diversa dentro do principio da livre disposição de vontade, que neste
caso tem inteira aplicação.

1.4. A Forma de Alienação


Em principio, referir que a forma pela qual se deve proceder a alienaçãoacha-se
regulada no artigo 2126 do código civil.

De acordo com FILIPE (1997, p. 226), o preceito legal a cima referenciado, impõe que
devera alienar por escritura publica a herança, sempre que ela se contenham bens, cuja
transmissão tenha de obedecer aquela forma de documento, ou seja, estabelece um
regime que terá de ser completado pelas normas reguladoras dos actos notariais.

Nos termos da alínea d) do artigo 89 do código do notariado terá de se efetuar por


escritura publica a alienação de herança, que contenha em si bens imoveis. Se no
património da herança a alienar, somente existirem bens, para cuja transmissão não se
exige escritura publica, nos termos das disposições a cima citadas, estabelece o numero
2 do artigo 2126 do código civil, que tal alienação devera obedecer a forma de
documento particular.

Ainda para o autor acima referenciado, quando a alienação esta sujeita a forma especial,
o seu não cumprimento determina a aplicação da sansão prevista no artigo 220 do
código civil, ou seja, a nulidade do respectivo negocio jurídico, por quanto se trata de
um requisito essencial da sua validade.

1.5. Efeitos da Alienação

Segundo FILIPE(1997, p. 226), os efeitos da alienação de herança obedecem, na sua


essência, as mesmas regras que se aplicam aos negócios jurídicos, que lhe estão
subjacentes. Contudo, dada a especifidade deste tipo de transação, a lei estabelece
algumas particularidades, como seja em relação a alienação de coisa alheia, segundo o
artigo 2127 do código civil, a sucessão de encargos( artigo 2128 do código civil).

De acordo com o preceituado no artigo 2127, pode retirar-se o principio de que o


alienante so respondera por alienação de coisa alheia, conjugado com o artigo 895
ambos do mesmo código, se não vier a ser reconhecido como herdeiro e quando tenha
disposto de bens não especificados da herança ou de quinhão hereditário.

Porem, no que respeita ao efeito relativo a sucessão nos encargos, do segundo


dispositivo legal a cima referenciado, pode inferir-se que o adquirente sucede nos
encargos que se incidirem sobre a herança ou sobre ou de quilha hereditário alienado.
Mas, neste caso o alienante é sempre solidariamente responsável pelos encargos.
Do preceituado no artigo 2129 do código civil, atinente a indemnizações, pode retirar-se
o principio de que o alienante por titulo oneroso, que que tenha disposto de bens da
herança esta obrigado a indemnizar o adquirente, entregando-lhe o valor da coisa,
quando aquele seja obrigado o restituir os bens por si adquiridos.

Para FILIPE, pondo de parte as regras especificas agora descrita, tomando por base o
referido a este propósito pode afirma-se que, como efeito da alienação, se transmitem os
direitos consagrados nos artigos 2091, 2092, e 2101, todos do código civil.

O artigo 2091, diz respeito a regras relativas ao exercício de direitos inerentes a herança
e estabelece que aqueles tem de ser exercidos em conjunto, por todos os herdeiros ou
tem de ser opostos contra todos eles. Assim sendo, porque o adquirente passa a assumir
a posição do herdeiro alienante, ele terá de participar no exercício de tal direitos
conjuntamente com os outros co-herdeiros.

O artigo 2092 do código civil, estabelece regras quando a distribuição de rendimentos.


Ora, pela mesma razão antes exposta, o adquirente passa a usufruir dos direitos, que a
lei atribuía ao herdeiro alienante

Ainda para FILIPE (1997, p. 227), no que tem a ver com com o direito de exigir a
partilha referido no artigo 2101 do código civil, do mesmo modo e pelas mesmas razoes
o adquirente passa a deter tal direito em relação aos restantes herdeiros, quando se tratar
de bem indiviso.

1.6. Direito de preferência

De acordo com AMARAL( 1997, p. 228), o direito de preferência constitui exclusivo


dos co-herdeiros e não dos co-legatarios, enquanto sucessíveis

Ainda para este autor, Consequentemente e face ao disposto no numero 1 do artigo 2130
do código civil, importa reter o principio de que os co-herdeiros só gozam do direito de
preferência, quando seja alienado um quinhão hereditário, a titulo oneroso ou dado em
cumprimento a terceiros, estranhos a herança.

Atende-se contudo, no que se ache disposto no nº 2 do artigo 2130 do código civil, o


prazo para se exercer o direito de preferência é de dois meses, havendo comunicação
para a preferência. Quanto ao processo de notificação para a preferência, ele acha-se
regulado nos artigos 1458 e seguintes do código de processo civil. importa ainda tomar
em devida nota que se esta perante mais um caso, em que se segue a forma de processo
especial.

Por ultimo, interessa realçar, de novo, qoe o direito de preferência, em conformidade


com o que resulta do nº 1 do artigo 2130 do código civil não abrange os legatários. No
entanto, é necessário ter-se em atenção que os legatários estão excluídos daquele direito,
tao somente enquanto sucessíveis, que também são.
2. Conclusão

Chegado a este ponto do presente trabalho que tem como tema acima do trabalho
mencionado, importa realçar que alienação é o acto pelo qual se transfere a titularidade
de uma propriedade a outrem, ou seja, acontece quando um dos herdeiros cede o seu
quinhão ou a sua herança a alguém, Com esse tipo de acto que é considerado um
negocio jurídico, o herdeiro cedente evita a sua intervenção na futura partilha dessa
herança, em cujos bens não está interessado. A forma mais usual de titular este negócio
jurídico é a escritura notarial. Também realçar que existem diversos modos de alienação
da herança, isto é, o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação da
herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem causa,
indica-nos que a herançapode ter origem em negócios jurídicos de diversa natureza.

No entanto a alienação pode ter por causa negócios jurídicos onerosos, designadamente
a compra e venda, artigo 874 do código civil, a adoção em pagamento, artigo 837 do
código civil, a troca ou outras formas onerosas de alienação, artigo 939 do código civil.

Porem, e porque toda relação jurídica tem um objecto conforme descrito na introdução
do presente trabalho, o objecto de alienação da herança esta previsto no artigo 2125 do
código civil

Outro aspecto relevante apresentado é que existe a possibilidade de alienação do


quinhão hereditário, ou seja, é possível a venda de parte ideal de um herdeiro a uma 3ª
pessoa, estranha ou não, através da cessão de direito hereditário, desde que respeitado o
direito de preferência dos demais herdeiros. A cessão deverá ser lavrada através de
escritura pública, pois se trata de um imóvel a ser alienado por meio de um negócio
jurídico oneroso. No que toca ao direito de preferência ,importa reter o principio de que
os co-herdeiros só gozam do direito de preferência, quando seja alienado um quinhão
hereditário, a titulo oneroso ou dado em cumprimento a terceiros, estranhos a herança.

Atende-se contudo, no que se ache disposto no nº 2 do artigo 2130 do código civil, o


prazo para se exercer o direito de preferência é de dois meses, havendo comunicação
para a preferência.
3. Bibliografia

Doutrina

SACRAMENTO, Luís Filipe et al. Direito das Sucessões. 2ᵃ edição . livraria


universitária.. Maputo. 1997.

Wilkipedia a enciclopédia livre.

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 Alienação fiduciária em garantia


Erik Frederico Gramstrup

 Tomo Direito Civil, Edição 1, Dezembro de 2021

Este verbete trata da alienação fiduciária em garantia, negócio jurídico que dá origem a
um direito real de garantia sobre coisa própria, a propriedade fiduciária. Por meio desse
contrato, o alienante, normalmente o devedor fiduciante, atribui ao adquirente, o credor
fiduciário a propriedade temporária de um bem dado em garantia de obrigação. O
contrato surgiu, no direito privado brasileiro e na década de 1960, com o propósito de
facilitar o financiamento de bens de consumo. Hoje, essa causa econômico-social foi
muito ampliada pela legislação extravagante e o instituto foi unificado pelo Código
Civil, que o trata no âmbito dos direitos reais como propriedade fiduciária. As diversas
modalidades de alienação fiduciária em garantia e de propriedade fiduciária com
idêntico fim serão tratadas, neste texto, como espécies de um gênero único, que obedece
a princípios comuns e pode ser reconhecido por atributos também comuns. Não é a
abordagem mais comum na literatura pátria, que prefere abordar cada tipo específico de
alienação fiduciária em garantia com as peculiaridades próprias de seu ramo
especializado. Cremos, no entanto, que os tempos já estejam maduros para uma
sistematização, favorável, inclusive, a que o credor civil passe a fazer uso mais
frequente de um contrato e de garantia sobre coisa própria extremamente útil, porém
pouco empregado fora do âmbito das instituições financeiras. Com esse propósito em
vista, trataremos da alienação de coisa móvel (fungível e infungível) e da alienação
fiduciária de imóveis dentro e fora do Sistema Financeiro Imobiliário, com ênfase nos
aspectos conceituais comuns, mas sem descurar de suas particularidades.  

1. Alienação fiduciária: definição e generalidades

1.1. Alienação fiduciária: comparação com o trust

1.2. Partes da alienação fiduciária

1.3. Alienação fiduciária em geral: sede normativa e objeto

1.4. Noções comuns: constituição, desdobramento da posse e finalidade

1.5. Alienação fiduciária em geral: a teoria do adimplemento substancial

2. Da alienação fiduciária de coisa móvel

2.1. Alienação fiduciária de bem móvel: princípio da indivisibilidade

2.2. Alienação fiduciária de coisa móvel: perda e deterioração da garantia


2.3. Alienação fiduciária de coisa móvel: deveres do devedor fiduciante

2.4. Alienação fiduciária de coisa móvel: extinção

2.5. Alienação fiduciária de coisa móvel: a cobrança da obrigação

3. Alienação fiduciária de imóvel

3.1. Alienação fiduciária de imóvel: objeto

3.2. Alienação fiduciária de imóvel: modalidades e regimes

3.3. Alienação fiduciária de imóvel: a pessoa jurídica estrangeira como proprietário


fiduciário

3.4. Alienação fiduciária de imóvel: sede normativa e o regime consumerista

3.5. Alienação fiduciária de coisa imóvel: mora e inadimplemento

3.6. Alienação fiduciária de imóvel: a consolidação da propriedade e seus efeitos


3.7. Alienação fiduciária de imóvel: outros aspectos da cobrança extrajudicial

3.8. Alienação fiduciária de imóvel: responsabilidades das partes

3.9. Alienação fiduciária de imóvel: pedido de restituição

3.10. Alienação fiduciária de imóvel: oponibilidade a terceiro adquirente de unidade


condominial

3.11. Propriedade fiduciária de imóvel: extinção

1. Alienação fiduciária: definição e generalidades

A alienação fiduciária em garantia é negócio jurídico praticado, no Brasil, com o escopo


de dar nascimento a garantia consistente na propriedade resolúvel, conferida ao credor
até a solução da obrigação garantida. Pode ter como objeto móveis e imóveis. Referida
propriedade é temporária (pro tempore) e conhecida pelo nome de propriedade
fiduciária. Não se equipara à propriedade plena (e isso é reconhecido, com efeitos
práticos, pela jurisprudência1) dado o seu propósito de garantia; as faculdades do credor
fiduciário (titular da propriedade fiduciária) são compreendidas em função desse
escopo.

Notemos algumas particularidades nessa definição. Primeiramente, o negócio jurídico.


Compreende-se como espécie de negócio fiduciário, ou seja, aquele negócio em que a
titularidade sobre bem ou direito, transferida com fins evidenciados no próprio ato
negocial, deve ser restituída ou transferida a um terceiro . A alienação não é o fim do
negócio, mas meio para que outros propósitos sejam realizados. Nesse contexto, o
negócio fiduciário pode ser considerado principal (quando o fim é a administração do
bem ou do direito) ou acessório (quando o fim é o de constituir garantia de outra relação
jurídica2). Diz-se fiduciante a parte que transmite a propriedade e fiduciário aquele a
quem ela é transmitida.3 

Justamente porque a alienação não é o propósito per se do negócio fiduciário, mas


instrumento para outros fins, sempre houve a preocupação de distingui-lo do negócio
simulado. Há simulação em ato negocial quando as partes declaram o que não querem
(simulação absoluta) ou declaram algo diverso do que pretendem (simulação relativa).
Em poucas palavras, não são sinceras quanto ao escopo negocial. Além disso, na
simulação há o objetivo de frustrar a aplicação de norma cogente ou de prejudicar
terceiros. Nenhum dos requisitos da simulação comparece em um negócio fiduciário, ao
menos quando normalmente celebrado. As partes enunciam claramente a sua vontade de
transferir o bem com o propósito de administração ou de garantia, não havendo,
portanto, fraude, nem intenção de ferir direitos de terceiros. O fiduciante e o fiduciário
não ocultam seus objetivos, tampouco criam um velo para ocultar sua vontade real, que
transparece no negócio fiduciário.

Em conclusão, a propriedade fiduciária em garantia decorre do negócio alienação


fiduciária. E pode ser definida como a propriedade resolúvel de coisa que o devedor,
com escopo de garantia, transfere ao credor. Registre-se que essa definição é um pouco
mais ampla do que a constante do art. 1.361 do Código Civil, que se refere, muito
restritivamente, à coisa móvel infungível. Mas o art. 1.367 já deixa claro que pode ter
por objeto bens móveis e imóveis (e, também, direitos reais, como veremos)4.

1.1. Alienação fiduciária: comparação com o trust

Há semelhanças bastante óbvias entre o negócio fiduciário e seu correlato da Common


Law, o trust. No trust, tem-se o fenômeno da propriedade “dividida” (equitable title to
the property e legal title to the property). Um sujeito, o trustee, será titular do bem
(legal title) com base no acordo conhecido como deed of trust. Quando tal contrato é
celebrado com fins de garantia, o trustee terá o poder de alienar o bem (power of sale),
caso a obrigação não seja paga. Note-se que o trustee é um terceiro imparcial em
relação ao credor e o devedor. Mas o trust é um instituto muito mais amplo quanto à sua
função social. Ele pode ser constituído para fim de investimento5, constituição de fundo
de pensão, caridade, mantença de monumentos e animais, no interesse de menores, em
benefício de associações e sindicatos, apenas para ilustrar e sem esgotar o assunto6. A
palavra trust, em um universo tão elástico, pode ser empregada para designar o conjunto
de responsabilidades do trustee, cuja titularidade deve ser exercida segundo o modo
previsto no instrumento constitutivo, ou ainda segundo a equidade e em prol das
pessoas indicadas como cestuis que trust, isto é, os beneficiários (dentre os quais
poderia figurar o próprio trustee!).7 

1.2. Partes da alienação fiduciária

São partes na alienação fiduciária o devedor fiduciante e o credor fiduciário. Essas


expressões não são casuais e nem podem ser substituídas uma pela outra, como
infelizmente por vezes se lê em algumas decisões judiciais. O devedor é “fiduciante”
porque deixa a coisa em mãos do credor. E este é “fiduciário” porque recebe a
propriedade resolúvel sobre o bem. Como nem sempre a alienação fiduciária visa à
aquisição financiada do bem, embora esse seja o caso mais corriqueiro, pode mais
raramente comparecer, ao lado do devedor, um terceiro legitimado a dispor da coisa
para fins de garantia. Naturalmente, na medida em que consente com a garantia, ele
deixa de ser terceiro no sentido próprio da expressão, passando a integrar a relação
contratual.

1.3. Alienação fiduciária em geral: sede normativa e objeto

A sede normativa da alienação fiduciária, no Brasil, é complexa. Nas origens, esse


negócio foi projetado para a aquisição de bens pelo consumidor mediante
financiamento. Tinha, portanto, como objeto a coisa móvel infungível. Foi inicialmente
tratado pela Lei 4.728/1965, conhecida como lei do mercado de capitais. Tratava-se de
contrato, nesse momento histórico, privativamente empregado por instituições
financeiras e tinha como objeto o bem móvel. Essa é a razão de o Código Civil referir-
se, pelo menos de início, à coisa móvel infungível. Pois o credor fiduciário tem o ônus
de identificar o bem, se ele não o fosse por número de série ou por outros sinais
particulares. Desse modo, ainda que se tratasse de bem de consumo produzido em série,
ele era (e é) contratualmente tratado como bem infungível. As disposições da Lei 4.728
foram integralmente reformuladas pela Lei 10.931/2004, que passou a mencionar
expressamente as coisas móveis fungíveis e, também, os direitos reais e de crédito, mas
neste último caso (direitos) o negócio é chamado de cessão fiduciária8. Os aspectos
procedimentais da alienação fiduciária de coisas móveis, notadamente quanto à
excussão extrajudicial, foram tratados pelo Decreto-Lei 911, de 1969.

No final da década de 1990, a alienação fiduciária foi estendida aos bens imóveis. A Lei
9.514, de 1997 organizou o Sistema Financeiro Imobiliário e passou a admitir que fosse
conferida, como garantia, não apenas a propriedade resolúvel sobre os imóveis em
sentido estrito (isto é, o solo e suas acessões), mas também sobre direitos reais
imobiliários, como a enfiteuse, a superfície, o direito real de uso e o uso especial para
fim de moradia, limitados, nas hipóteses do uso e da superfície, pelo prazo determinado
no seu título constitutivo. O Sistema Financeiro Imobiliário veio tomar o lugar do
antigo Sistema Financeiro da Habitação, que se valia basicamente da garantia
hipotecária9. Por essa e outras razões, que apontaremos no devido tempo, a hipoteca
entrou em franca decadência no Brasil. Uma outra observação deve ser destacada: em
que pese a alienação fiduciária de imóveis haver sido tratada no âmbito de uma lei
setorial, ela não é restrita às instituições financeiras10 e sequer se limita pela finalidade
de financiar a aquisição do bem de raiz. A garantia pode ser contratada por qualquer um
e pode ser conferida como acessório de qualquer espécie de mútuo ou de financiamento
atípico. No primeiro caso (aquisição financiada), o mercado costuma referir-se à
“propriedade retida”, porque o bem financiado é atribuído em caráter resolúvel ao
credor fiduciário e assim fica até o pagamento e, no segundo, à “propriedade
transmitida”, porque se tratava de mútuo ou financiamento garantido por bem já de
titularidade do devedor fiduciante e, naturalmente, transferido em caráter resolúvel ao
credor fiduciário. Também seria possível figurar um financiamento não aquisitivo, cuja
garantia fosse conferida por terceiro.

O Código Civil de 2002 chegou, neste instituto como em outros, um tanto tardiamente,
fixando normas gerais sobre a propriedade fiduciária. Isso explica por que menciona,
inicialmente, a alienação fiduciária de coisa móvel infungível (art. 1.361)11, para depois
corrigir-se (em dispositivo reformulado em 2014, o art. 1.36712), acrescentando os bens
imóveis. Não se refere à cessão fiduciária de direitos, mas, como vimos, essa
possibilidade está amplamente prevista pela legislação extravagante.

1.4. Noções comuns: constituição, desdobramento da posse e finalidade

Todas as espécies de alienação fiduciária e de propriedade fiduciária têm alguns


aspectos conceituais comuns, dos quais nos ocuparemos agora. 
Primeiramente, o negócio jurídico é praticado por escrito, inscrito no registro próprio
para produzir efeitos contra terceiros. Em se tratando de bens móveis (ou de direitos de
crédito), o instrumento pode ser público ou particular. Normalmente é levado ao
Registro de Títulos e Documentos, mas no caso de veículos automotores também deve
ser inscrito na repartição de trânsito13. Na alienação fiduciária de imóveis (e de direitos
reais imobiliários), a inscrição é feita no Registro de Imóveis, mas também se admite
que o instrumento seja público ou particular, tendo este último efeito de escritura
pública14. A razão dessa exceção é a redução dos custos de transação, tornando os
financiamentos mais acessíveis. 

Diante dessas exigências, nota-se que a propriedade fiduciária se aperfeiçoa desde a


celebração do instrumento escrito (público ou particular), mas se torna oponível contra
terceiros quando do registro15. Ela existe entre as partes desde o consentimento por
escrito, mas tem sua eficácia ampliada quando levada ao registro próprio, variável
conforme o caso. E a extensão dos efeitos, vale notar, é de grande relevância para o
credor fiduciário no caso de insolvência do devedor. No entanto, como veremos adiante,
o Superior Tribunal de Justiça firmou precedente no sentido de que o registro é
constitutivo, quando a garantia fiduciária for imóvel.

Estabelecido o momento da constituição da propriedade fiduciária, é a partir de então


que se verificará o desdobramento da posse. O credor fiduciário passa à condição de
possuidor indireto do bem; o devedor, a seu turno, torna-se possuidor direto. Isso faz
muito sentido nos financiamentos destinados à aquisição do bem dado em garantia,
porque o adquirente, desde logo, pode usá-lo16. A posse tornará a ser plena em caso de
inadimplemento, em mãos do credor e para fins de execução da garantia; ou na hipótese
de pagamento, em mãos do devedor – e tal pagamento é condição resolutiva da
propriedade fiduciária. Exceção ao que dissemos é a cessão fiduciária de direitos
representados por títulos de crédito, porque, nesse caso, a posse dos títulos permanece,
salvo disposição em contrário, com o credor.17 

Paralelamente ao desdobramento da posse, a alienação (ou a cessão) fiduciária


estabelece, para o credor fiduciário, uma propriedade (ou titularidade) resolúvel e
teleologicamente orientada pela função de garantia. Primeiramente, porque está sujeita,
no plano da existência, à condição resolutiva do pagamento. E, em segundo lugar,
porque o proprietário fiduciário não é um titular comum, não dispondo de todas as
faculdades inerentes ao domínio. O Código Civil deixa-o bem claro, por disposição
explícita (art. 1.367). Isso significa, por exemplo, que ao credor fiduciário não compete
usar do bem, nem fruir18 e nem mesmo ficar com ele, pois deve excuti-lo em havendo
inadimplemento. É pela mesma razão que se costuma negar a responsabilidade do
credor fiduciário por despesas e dívidas da coisa, salvo se imitido na posse plena – mas
a questão apresenta peculiaridades que teremos de tematizar. Pode-se afirmar que, antes
do inadimplemento, a propriedade fiduciária confere apenas uma expectativa de dispor
do bem, se o devedor vier a falhar; depois do inadimplemento, surge o direito de
consolidar a propriedade e de excutir a coisa, mas mesmo esse direito é orientado a um
fim. Tanto assim que o Código Civil proíbe o pacto comissório19 (art. 1.365) e, também,
impõe ao credor vender a coisa a terceiros, no caso de inadimplemento (art. 1.364). Da
mesma forma, a Lei 9.514/1997, não obstante preveja, não purgada a mora, a
consolidação da propriedade fiduciária de imóvel, mediante averbação no registro de
imóveis, impõe ao credor prazo para realizar os públicos leilões.
Em suma e para bom entendimento, são características comuns a constituição da
propriedade (e demais formas de titularidade) fiduciária o instrumento constitutivo
escrito, público ou particular; a ampliação da eficácia pelo registro; o desdobramento da
posse em direta e indireta; e a natureza teleologicamente orientada, não se confundindo
com a propriedade plena.

1.5. Alienação fiduciária em geral: a teoria do adimplemento substancial

Em matéria de alienação fiduciária, não há impedimento à aplicação da teoria do


adimplemento substancial . Segundo essa concepção, o cumprimento parcial que se
aproxima muito do pagamento deve ser considerado, para evitar-se a resolução do
contrato por inadimplemento. O credor da obrigação substancialmente (embora não
integralmente) cumprida não fica impedido de cobrar o resíduo da prestação pelas vias
normais, mas não poderá dar o contrato como resolvido . Em matéria de alienação
fiduciária, isso significa que o credor fiduciário não poderá lançar mão da execução da
garantia, desde que o credor fiduciante tenha se acercado do cumprimento cabal. Tudo
sem prejuízo da cobrança do saldo em aberto, pelas vias comuns.

2. Da alienação fiduciária de coisa móvel

Como já dissemos, a alienação fiduciária de coisa móvel constitui-se pelo


consentimento expresso em instrumento público ou particular, cuja eficácia se estenderá
a terceiros por ocasião da inscrição no Registro de Títulos e Documentos. Se o objeto
for a propriedade fiduciária de veículo automotor, concomitantemente se lançará
perante o órgão de licenciamento. 

O conteúdo do contrato exige cláusulas mínimas que, resultando da aplicação


concomitante do Código Civil e da Lei 4.728/1965, são: (a) o principal da dívida, a
atualização monetária, a taxa de juros e o prazo de pagamento; (b) a identificação da
coisa com as suas características; e (c) a cláusula penal e demais comissões e encargos.
Portanto, a propriedade fiduciária, embora tenha sua originalidade inconfundível,
guarda algo em comum com outras garantias reais: referimo-nos ao princípio da
especialização. Por força dele, tanto a obrigação quanto a garantia devem ser
perfeitamente individualizadas. Isso vale para o penhor, para a hipoteca e, também, para
a propriedade fiduciária, deixando a lei bem cristalino que o débito e seus acessórios,
bem como o objeto da garantia devem ser conhecidos e identificados. Em nosso modo
de ver, trata-se de norma imperativa, que opera no plano da validade22 – se não for
observado o conteúdo mínimo legal, nulo será o ajuste, como também a propriedade
fiduciária. Como única ressalva, achamos prudente admitir que as partes de boa-fé
possam integrar o instrumento por retificação, no caso de alguma omissão acidental.
Essa exceção não se compadece bem com o regime das nulidades, mas atenta à função
social do instituto e, sobretudo, à boa-fé dos contratantes. Por isso mesmo, a exceção
não pode ser aplicada se a omissão foi dolosa. Pensamos que a racionalidade da solução
ora esposada é evidente. Se não for aceita, a alternativa seria admitir que o contrato só
existiria e projetaria efeitos depois de integrado com todas as cláusulas mínimas
compulsórias, o que pode resultar em inconvenientes desnecessários.

Outra observação que resulta do princípio da especialização, da maneira como definido


aqui, é a de que, mesmo que a coisa móvel seja fungível em si mesma, ela será tratada,
no instrumento, como única, ou seja, contratualmente infungível23. Não vemos como
escapar dessa conclusão, diante da clareza do texto24. Até mesmo a cessão fiduciária de
créditos, bens imateriais, aparentemente tão inefáveis, não escapa ao princípio da
especialização, pois o instrumento deve identificar (a) o total da dívida; (b) o local, data
e forma do pagamento; (c) a taxa de juros; e (d) a identificação dos direitos cedidos.25 

2.1. Alienação fiduciária de bem móvel: princípio da indivisibilidade

A propriedade fiduciária sobre coisa móvel representa garantia indivisível. O


pagamento parcial, ou a quitação de parcelas da prestação divisível não implica em
exoneração parcial da garantia. Esse princípio da indivisibilidade incide, igualmente,
nas garantias reais sobre coisa alheia. Admite, porém, que as partes convencionem em
sentido contrário. Tal acordo poderia ser útil, por exemplo, se a garantia compreendesse
mais de uma coisa, ajustando-se expressamente que alguma delas ficaria liberada, à
medida que o devedor obtivesse quitação parcial.

2.2. Alienação fiduciária de coisa móvel: perda e deterioração da garantia

A perda e a deterioração da garantia fiduciária implicam em vencimento antecipado da


dívida. Também nesse ponto o regime não discrepa do geral. Assim, o credor pode
encetar cobrança imediata se a garantia se perder ou tiver o seu valor reduzido, mas não
pode computar juros futuros26. O devedor pode elidir a cobrança substituindo ou
reforçando a garantia. 

Se a garantia estiver segurada, ocorre sub-rogação do direito do credor sobre o valor da


indenização. A mesma solução deve ser aplicada sobre a indenização devida no caso de
desapropriação, apesar da falta de nitidez da lei, porque as hipóteses são manifestamente
análogas. Para o credor, é como se o objeto da garantia fosse perdido, mas há
indenização sobre a qual seu direito pode se sub-rogar.

2.3. Alienação fiduciária de coisa móvel: deveres do devedor fiduciante

O devedor fiduciante, na qualidade de possuidor direto do bem há de defender a coisa e


guardá-la, com as responsabilidades próprias de depositário. Isso quer dizer que
responde por culpa lato sensu, mas essa culpa é apurada em concreto: o devedor
fiduciante deve cuidar da coisa com o mesmo zelo que tenha com o que é seu. Não
responde, porém, por força maior.

A posse direta pode e deve ser defendia contra terceiros, inclusive pelos interditos, para
os quais o devedor fiduciante está legitimado. 

2.4. Alienação fiduciária de coisa móvel: extinção

As causas extintivas da propriedade fiduciária sobre bem móvel são as mesmas do


penhor. Extingue-se ela:

(a) pelo pagamento, pois a garantia extingue-se com a obrigação garantida. Portanto,
têm o mesmo efeito as formas de pagamento indireto (dação, consignação em
pagamento) e as demais formas de extinção das obrigações (como a compensação, a
remissão e a confusão). Se houver extinção parcial, a garantia subiste íntegra, por força
do princípio da indivisibilidade, salvo convenção em contrário;
(b) pela renúncia do credor, sendo aqui necessário distinguir a renúncia à garantia do
perdão à obrigação garantida. Ambos têm o mesmo efeito de pôr fim à garantia, mas a
primeira jamais faz presumir o segundo;

(c) pela execução da garantia, mas deve-se obtemperar que, se o apurado não for
suficiente para atender à obrigação e seus acréscimos, poderá ser cobrado o saldo
(diferentemente do que sucede com a alienação fiduciária de coisa imóvel).

O contrato de alienação fiduciária de coisa móvel extingue-se nos casos (a) e (b). O caso
(c), em termos contratuais, significa resolução por inadimplemento.

Finalmente, nada impede que o contrato de alienação fiduciária de coisa móvel seja
resolvido por onerosidade excessiva, se não for possível a sua revisão judicial ou
negocial.

2.5. Alienação fiduciária de coisa móvel: a cobrança da obrigação

No âmbito do mercado financeiro e de capitais, o credor fiduciário pode promover a


venda a terceiros do objeto da garantia fiduciária, independentemente de qualquer
procedimento judicial ou extrajudicial27. Aplicará o preço recebido no pagamento da
dívida, das despesas decorrentes da realização da garantia e, se houver saldo, terá de
restitui-lo ao devedor. Havendo saldo em favor do credor, poderá ser cobrado com um
crédito quirografário qualquer.

Para efeito da venda, não se distingue a mora do inadimplemento. Em qualquer dos


casos, a instituição do mercado financeiro e de capitais poderá promover a venda,
devendo apenas comprovar que notificou o devedor mediante carta registrada. Repare-
se que não assinalamos “notificou da mora” e isso foi proposital. Porque a mora se
caracteriza ex re, pelo simples vencimento e a notificação comprovada é apenas
requisito para a apreensão do bem. Ela não constitui o devedor em mora, mas é simples
comprovação da mora28. A notificação é relativa a mora já incorrida.

A comprovação da mora também é requisito para que o credor financeiro se valha do


procedimento de busca e apreensão previsto pelo Decreto-Lei 911/1969. O pedido pode
ser formulado em face do devedor ou de terceiro que detenha o objeto da garantia. Cabe
a concessão liminar da medida. Em cinco dias do cumprimento da liminar, o credor
consolidará a propriedade em seu nome, podendo requerer, se for o caso, o registro
perante a repartição competente, em seu nome ou no de terceiro. Por que esse intervalo
de cinco dias? Porque nele o devedor poderá purgar a mora, o que, nos expressos termos
legais, significa pagar a integralidade da dívida pendente, compreendendo principal,
atualização, demais acessórios e despesas29. 

Se o bem não for encontrado, a ação de busca e apreensão pode ser convertida em
execução. E o credor pode, desde logo, preferir o ajuizamento da execução da dívida,
sendo a busca e apreensão uma simples faculdade.

O pedido de recuperação judicial ou extrajudicial não afeta o direito de o credor


promover a busca e apreensão do bem. Havendo falência, o credor fiduciário poderá
pedir a restituição do bem perante o Juízo universal.
Não ingressaremos aqui em outros detalhes processuais, pois era nossa intenção apenas
explicitar as alternativas à disposição do credor integrante do mercado financeiro. Resta
agora considerar a posição do credor civil, pois já vimos que a propriedade fiduciária
pode garantir as obrigações em geral.

A contrario sensu do que até agora dissemos, ao credor civil de obrigação garantida por
alienação fiduciária de coisa móvel resta a excussão judicial da garantia, conquanto
dentre as modalidades contemporâneas também se admita a alienação a título particular,
mesmo no Código de Processo Civil. O bem será judicialmente apreendido por ocasião
da excussão judicial, mas convém frisar que o credor civil poderia se valer da
reintegração de posse por ocasião da caracterização da mora. A mora é ex re, porque
essa é a regra do ordenamento civil brasileiro e se consubstancia com o simples
vencimento da obrigação. À semelhança do caso já estudado (instituições financeiras),
eventual notificação do devedor serve apenas ad probationem. Não constitui em mora,
mas fornece prova inconteste dela. Para deferir eventual liminar de reintegração de
posse, essa prova é muito relevante, dando a certeza de que o devedor não cumpriu e
que a posse direta perdeu sua razão de ser, dando azo a que o credor se reintegre na
posse plena do bem – como preparação para futura excussão judicial do bem30.

Também o credor comum (que não seja instituição financeira) pode simplesmente
intentar a execução, mesmo que não seja antecedida da reintegração de posse. E terá de
restituir ao devedor eventual sobejo, podendo, por outra parte, prosseguir por saldo não
coberto depois da alienação do bem. De novo, frisemos o contraste com a alienação
fiduciária de coisa imóvel, quanto a esse ponto.

3. Alienação fiduciária de imóvel

Aplica-se à alienação fiduciária de imóvel, naturalmente, o regime geral a que já


aludimos acima: o imóvel é alienado ao credor para fim de garantia, desdobrando-se a
posse em direta (do devedor fiduciante) e indireta (do credor fiduciário). O propósito da
transmissão delimita os contornos da propriedade fiduciária, também neste caso e como
veremos essas limitações são ainda mais nítidas. O devedor fiduciante tem a expectativa
de readquirir a propriedade plena, se cumprir a sua obrigação. Seu direito aquisitivo
pode ser comparado à posição de um proprietário sob condição suspensiva ou ainda à do
promitente-comprador em compromisso irretratável de compra e venda. Essa posição
jurídica é um ativo em seu patrimônio, que inclusive pode ser penhorado (não o direito
do credor, mas sim o direito aquisitivo do devedor). O credor fiduciário pode consolidar
a propriedade fiduciária, no caso de inadimplemento, segundo procedimento que será
examinado em tópico próprio. Trata-se, também aqui, de uma propriedade pro tempore
e com teleologia bastante definida, resolúvel e limitada31. Cabe, por fim, a analogia que
traçamos com o trust ajustado com propósito de garantia, em que se consubstancia a
figura da propriedade “dividida”.

Encerrando esta recordação das características gerais do instituto, a constituição da


propriedade fiduciária ou da titularidade fiduciária sobre direitos reais imobiliários dá-se
por escrito, público ou particular, seguido de registro no RI. O Superior Tribunal de
Justiça tem julgado no sentido de que esse registro é constitutivo, em se tratando de
imóvel32. Além dos requisitos de forma, há os de fundo: a lei impõe cláusulas
mínimas33, em atenção ao princípio da especialidade que – já o dissemos – envolve tanto
a individualização da garantia, quanto do crédito. O contrato, portanto, deve conter: (a)
o valor da dívida, o prazo e os acréscimos moratórios, a título de caracterização da
obrigação exigível; (b) a especialização do objeto da garantia fiduciária; (c) a posse
direta e o uso do imóvel pelo devedor fiduciante; (d) o valor de avaliação da garantia,
não inferior à base de cálculo do imposto de transmissão inter vivos; (e) a cláusula
descritiva do procedimento de execução extrajudicial, para o caso de convolação da
mora em inadimplemento, abaixo descrita. Atendendo a reclamos doutrinários, a lei
exige hoje que o valor de avaliação, contratualmente estipulado, tenha um piso34. Isso
visa a evitar os expedientes abusivos das instituições financeiras, ao superavaliar ou
subavaliar a garantia35.

3.1. Alienação fiduciária de imóvel: objeto

O objeto da modalidade que agora examinamos é o imóvel, ou seja, o solo, suas


projeções aérea e subterrânea, dentro dos confins legais e as suas acessões. Geralmente
se aplica às construções. Mas também é possível que o direito do credor fiduciário seja
instituído sobre direitos reais imobiliários, como a enfiteuse, a superfície (durante seu
prazo de duração), o direito de uso e o uso especial para fim de moradia.

O imóvel (ou o direito real em questão) há de ser alienável, mas não necessariamente
penhorável. Assim, o bem de família conceituado pela Lei 8.009/1990 pode ser objeto
de propriedade fiduciária, pois aquela lei apenas determina a sua impenhorabilidade (e a
venda da garantia a terceiros não depende de penhora prévia)36. Já o bem de família
instituído na forma do Código Civil não pode ser alienado fiduciariamente, pela simples
e óbvia razão de que seu regime é o da inalienabilidade.

Como já apontamos, o direito aquisitivo do devedor pode ser penhorado, mas não se o
objeto se constituir como bem de família da Lei 8.009, pois a impenhorabilidade
também abrange a propriedade em fase de aquisição. Por outro lado, a propriedade
fiduciária em si não pode ser penhorada por conta de dívidas do devedor fiduciante para
com terceiros, pois o credor fiduciário, de regra, não é responsável por elas37.

3.2. Alienação fiduciária de imóvel: modalidades e regimes

A alienação fiduciária pode garantir o financiamento com vistas à aquisição do próprio


imóvel definido como garantia ou ainda outras dívidas. Assim, costuma-se distinguir a
propriedade fiduciária instituída para financiamento habitacional daquela pratica com o
fito de fomento empresarial. A primeira é compreendida dentro do Sistema Financeiro
Imobiliário, tendo por isso função social pronunciada. A segunda não. Não há qualquer
impedimento a que a propriedade fiduciária seja instituída para garantir operações de
empréstimo para capital de giro; ou também outros contratos de mútuo e financiamentos
atípicos. Mas como tais operações não tem a mesma função social do financiamento
imobiliário, essa diferença terá impacto sobre a compreensão do instituto. Por exemplo,
seria defensável que o saldo devedor, não cobrável após a excussão extrajudicial no
âmbito do SFI, sê-lo-ia no caso de financiamento de capital de giro.

3.3. Alienação fiduciária de imóvel: a pessoa jurídica estrangeira como proprietário fiduciário

A lei que determina restrições à aquisição de imóvel rural por pessoa jurídica
estrangeira delimita, dentre outras balizas, certas finalidades.38 Desse modo, é
questionável se o credor estrangeiro-pessoa moral poderia adquirir propriedade
fiduciária para fins de garantia. Em nosso modo de sentir, a exclusão do estrangeiro não
tem razão de ser. A lei estabelece limitações para a aquisição de propriedade no sentido
comum e ordinário do termo, a bem da soberania nacional. Essa soberania não é
ameaçada pela propriedade fiduciária que, ademais de temporária, é teleologicamente
limitada quanto aos poderes e faculdades do titular. No entanto, há quem aponte, com
argúcia, que a adjudicação do imóvel pelo credor estrangeiro não seria possível, por
contrariar a lei de regência (Lei 5.709/1971)39.

3.4. Alienação fiduciária de imóvel: sede normativa e o regime consumerista

A propriedade fiduciária imobiliária (e outras formas de titularidade fiduciária) rege-se


pelo Código Civil e pela Lei 9.514/1997. Sendo esta última especial, normalmente
prevalece, mas se deve notar que a Lei 9.514 é voltada ao Sistema Financeiro
Imobiliário. Então, suas normas nem sempre se ajustam à garantia, quando firmada a
bem de obrigações fora daquele sistema – mesmo que sejam créditos de instituições
financeiras.

Quanto ao Código de Proteção de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/1990, entendemos


que deveria ser aplicado quando a relação obrigacional fosse, também, de consumo, o
que notoriamente é o caso dos financiamentos de aquisição habitacional. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não obstante, tem afastado a aplicação
do Código do Consumidor sob o fundamento da especialidade da Lei 9.51440. Mas isso
deve ser compreendido cum grano salis. Cautela é necessária aqui. A especialidade
divisada pelo STJ diz respeito aos financiamentos inadimplidos e à cobrança
extrajudicial, notadamente quanto aos valores eventualmente restituíveis ao devedor,
após a resolução do contrato de financiamento e a alienação da garantia. Para o tribunal
– e com razão – deve ser restituído ao devedor o que sobejar, depois de satisfeito o
principal, acréscimos e despesas previstos pela Lei 9.514. Quanto a esse detalhe,
realmente não faria sentido – como já se viu na praxe forense – aplicar a regra de que,
desfeito o contrato, o credor (fornecedor de serviços) retivesse parcela (de 10% a 20%)
a título de despesas e restituísse o restante, corrigido, pois há regras expressas na Lei
9.514 a esse respeito (arts. 26 e 27)41.  Quanto a esse detalhe há, realmente,
“especialidade”, indicando que ao devedor cabe apenas o que sobejar, alienada a coisa e
imputado no pagamento o arrecadado no leilão. Mas a posição jurisprudencial já
estabelecida cinge-se a esse aspecto, do quanto pode o credor “reter” na cobrança e do
quanto há de “restituir”. Por isso, não se pode dizer a priori que nenhuma regra do
Código do Consumidor seja aplicável. Para dar um exemplo marcante, a regra da
inversão do ônus da prova, nas hipóteses em que cabível é aplicável em benefício do
devedor-consumidor. Da mesma forma, as normas relativas aos contratos de adesão.

3.5. Alienação fiduciária de coisa imóvel: mora e inadimplemento

A mora do devedor é ex re; dá-se pela ausência de pagamento no vencimento. Mas para
maior segurança e proteção do devedor, ela é comprovada por meio de um
procedimento previsto na Lei 9.514/1997. O credor fiduciário deve notificar o devedor
por intermédio do Cartório de Registro de Imóveis para purgar a mora em 15 dias. Dita
notificação não deve ser confundida com a notificação do leilão. Se o devedor purgar a
mora – até aqui, as parcelas em atraso, juros, atualização e multa de mora – no prazo
previsto, o contrato “convalesce”, isto é, não é rompido – e o devedor poderá retomar o
pagamento das prestações nos termos contratuais originalmente previstos. Se o devedor
falhar na purgação, o contrato se resolverá, com o vencimento antecipado do saldo
devedor, correndo ainda encargos e despesas. E o credor consolidará a propriedade em
seu nome, mas não poderá ficar com a coisa para si. Explicá-lo-emos adiante.

O procedimento descrito não faz com que a mora seja considerada ex persona. Isso
porque ele não diz respeito à conformação da mora (a mora se dá com o vencimento da
parcela inadimplida), mas à sua comprovação e convolação em inadimplemento
definitivo. Caracterização da mora e comprovação da mora são fatos jurídicos diferentes
. Pelo menos, esse é o espírito da lei, ao qual a jurisprudência nem sempre é fiel. A
comprovação formal da mora e da sua conversão em inadimplemento é um requisito
para que o credor tenha acesso ao procedimento de alienação extrajudicial da garantia.
Mas a mora, propriamente dita, irradia seus efeitos desde o vencimento – portanto, é
mora ex re. Tais efeitos são ilididos pela purgação tempestiva, mas isso é elementar.

Como advertimos, há um costume jurisprudencial no sentido de “postergar” a


convolação da mora em inadimplemento e de conferir-se prazos para a purgação,
ultrapassando o marco legal43. Está claro que isso advém de uma noção confusa a
propósito da função social do contrato, por meio da qual o interesse da sociedade é
sacrificado em prol do interesse do inadimplente, sem que ao menos se averigue se o
inadimplemento foi culposo. Em outras palavras, há uma tendência paternalista pró-
inadimplência. Ela conduz a que se aceite “purgação” intempestiva, até o momento do
leilão, provocando uma série de desvios. Dentre eles, a escassez de financiamento e a
alta dos juros bancários, preço que é pago por toda a sociedade. Daí dizermos que a
função social é invocada aqui de modo completamente torcido. Não estamos cometendo
nenhum exagero, pois que função social pode haver no prêmio à inadimplência, às
custas de toda a sociedade? A lei previu um sistema equilibrado, cujas premissas são as
seguintes: (a) deve haver segurança jurídica na caracterização formal do
inadimplemento; (b) comprovado o inadimplemento, o credor tem acesso a um sistema
mais eficiente e expedito de excussão extrajudicial, mas deve atender aos prazos e
formas legais; (c) a contrapartida para o devedor é a de que, se o procedimento de
execução extrajudicial não for plenamente bem sucedido, ainda assim ele terá
“quitação” de suas obrigações, sem a exigência de saldo. Como se vê, o sistema provê a
liquidez do sistema de financiamento imobiliário, mas também considera os interesses
do devedor. Se as suas regras são afastadas discricionariamente, o equilíbrio se rompe e
o SFI se torna deficiente. A deficiência tem um custo, que será arcado por todos, mesmo
aqueles que nada têm a ver com o inadimplemento. Outro desvio grave está na
perpetuação de devedores, com nenhum interesse na renegociação da dívida, na posse
dos imóveis, cujas despesas passam, também, a ficar em aberto.

O costume judicial contra legem não tem origem apenas na psicologia dos julgadores ou
na má compreensão do que seja a função social do contrato. Ele também nasce de
confusão conceitual entre as categorias da mora, do inadimplemento definitivo e de
aplicação retrospectiva do Direito: aplica-se – indevidamente - à propriedade fiduciária
da Lei 9.714/97 o regime da execução hipotecária do Decreto-Lei 70/1966. Nessa
execução hipotecária, sim, era possível a purgação da mora até a assinatura do auto de
arrematação. Essa regra foi equivocadamente transposta para a propriedade fiduciária.
Hoje, há expressa proibição de que as regras procedimentais da execução extrajudicial
do velho DL 70 sejam estendidas para a execução extrajudicial de imóvel alienado
fiduciariamente44.

Em conclusão: modificar o regime de mora e de inadimplemento da Lei 9.714 é virar


todo o sistema pelo avesso, destruindo o equilíbrio que foi balanceado pelo legislador,
com consequências muito negativas para o crédito imobiliário e, no fim das contas, para
o consumidor, que terá de pagar encargos mais altos e deparar-se com a escassez da
oferta de crédito45.

Ao devedor que incidiu em mora, portanto, cabem as seguintes alternativas:

(a) Purgar as parcelas de dívida vencidas, mais despesas, em cartório e dentro dos
quinze dias legais;

(b) Decorrido o prazo para purgação da mora em cartório, exercer preferência, em


igualdade de condições, até o segundo leilão, oferecendo preço não inferior ao da
dívida, encargos, despesas, além dos ônus relativos à própria aquisição. Por que a lei
chama a isso de “preferência”? A pergunta se justifica, porque as parcelas integrantes do
preço equivalem a uma remição da dívida. É que essas parcelas compõem, igualmente,
o piso para aceitação do lanço vencedor em segundo leilão. Dessarte, o direito de
preferência só pode ser exercido dentro da baliza mencionada e, simultaneamente, deve
equivaler, pelo menos, ao maior lanço oferecido, em qualquer dos leilões;

(c) Dar o imóvel em pagamento. Mas terá, simultaneamente, de fazê-lo com a


anuência do credor e antes que o imóvel seja adquirido por lanço vencedor, em qualquer
dos leilões. Resta claro que, se a garantia já foi alienada em leilão, o credor não tem
mais legitimidade para consentir com a dação em pagamento;

(d) Nas operações compreendidas pelo programa social instituído pela Lei
11.977/2009 – e somente nessas – o devedor conta com um prazo maior para purgar a
mora. Além dos 15 dias em Cartório, o credor deve aguardar 30 dias para consolidar a
propriedade em seu nome e, nesse interregno, tolera-se que o devedor pague as parcelas
vencidas e despesas. Essa exceção, aliás, confirma que outra é a regra.

Esse é o sistema legal, bem azeitado e equilibrado. Insistimos nisso porque é frequente,
como acontece com todo sistema complexo, que seja mal compreendido, atribuindo-se
elasticidade aos prazos aludidos e oportunidades inexistentes para a purgação, em
flagrante prejuízo do correto funcionamento. Falta agora explicar por que persistimos
em dizer que ele é bem equilibrado. As razões são abaixo elencadas:

(a) A sistemática legal foi erigida para que houvesse certeza jurídica em torno da
caracterização da mora e, também, da sua convolação em inadimplemento, de sorte que
a máquina de cobrança extrajudicial só possa ser colocada em movimento se, por
procedimento formal, foi apurado que o devedor está em atraso e deixou de purgar a
mora em cartório. Secundariamente, o sistema visa a poupar o Poder Judiciário,
constantemente acossado com demandas que objetivam elidir os prazos legais ou,
simplesmente, deixar o imóvel com um devedor que não tem a menor intenção de pagar,
procrastinando indefinidamente a cobrança;
(b) O sistema oferece um benefício final ao devedor que não pagou, não deu o
imóvel em pagamento, não transigiu, não purgou a mora e não exerceu o direito de
preferência. Não há cobrança de saldo em aberto, uma vez que tenha sido encetada a
cobrança extrajudicial. O credor deve promover a realização dos dois leilões previstos e,
mesmo que não sejam bem-sucedidos, o saldo é considerado extinto, não podendo ser
cobrado sequer como crédito quirografário. Em outras palavras, o pior dos cenários,
para o devedor, é a perda do imóvel dado em garantia e não mais que isso; daí que, por
outro lado, os prazos e formas legais para purgação da mora devam ser respeitados.
Anote-se a diferença com o credor e a hipoteca, no âmbito das quais o saldo pode ser
cobrado como um crédito comum, sem privilégio;

(c) Não há razão para dar outros benefícios ao devedor inadimplente, com uma
única exceção, a do adimplemento substancial, já comentada. Isso não quer dizer,
evidentemente, que o controle judicial não possa ser exercido se o credor violou as
regras legais para a caracterização da mora, para sua transformação em inadimplemento
ou mesmo as procedimentais.

3.6. Alienação fiduciária de imóvel: a consolidação da propriedade e seus efeitos

Dá-se o nome de consolidação da propriedade ao efeito imediato do ato do registrador


que, verificando a convolação da mora em inadimplemento, pela ausência de purgação
tempestiva, inscreve a propriedade em nome do credor fiduciário. A lei define tal ato
como averbação da consolidação . Seguem-se duas consequências: (a) o credor deve
promover a execução extrajudicial do bem, marcando os leilões públicos dentro dos
prazos previstos (frise-se que não se trata de uma faculdade, mas de um poder-dever: se
o credor quiser evitá-lo, terá de optar pela cobrança por outros meios); (b) passa a correr
taxa de ocupação, equivalente a 1% do valor de avaliação e devida até o instante em que
o credor, ou terceiro sejam imitidos na posse do imóvel; (c) efeito relacionado com o
anterior é o direito de o credor fiduciário (ou seus sucessores, cessionários e o terceiro
arrematante) reintegrar-se (ou imitir-se, conforme o caso) na posse plena da coisa,
inclusive liminarmente, com prazo de 60 dias para a desocupação47.

A consolidação da propriedade não significa que o credor possa ficar com a coisa para
si. Ela tem os efeitos acima descritos, mas ainda é teleologicamente orientada pela
função social de garantia. E não é da tradição de nosso Direito que o credor possa ficar
com a garantia para si. Há de aliená-la, seja pelos leilões previstos em lei, seja, na
hipótese de fracasso da cobrança extrajudicial, pela venda particular48.

3.7. Alienação fiduciária de imóvel: outros aspectos da cobrança extrajudicial

Uma das peculiaridades interessantes do contrato de alienação fiduciária de coisa


imóvel está em que, dentre as cláusulas mínimas desenhadas por lei, está a de
procedimentos. O contrato deve alertar o devedor para a possibilidade de cobrança
extrajudicial e, em nosso modo de ver, deve detalhar o procedimento a ser seguido, cujo
esqueleto foi arquitetado na Lei 9.714. Esse é um aspecto, aliás, do direito à informação
que compete ao devedor enquanto consumidor de serviços. Lembramos ao leitor que os
princípios consumeristas não são completamente afastados do funcionamento dessa
espécie contratual, por mais especial que seja.
Outro aspecto importante está no equilíbrio que se busca no desenho da cobrança em si
mesma. Se o devedor tem prazos e modos para purgar a mora ou para exercer outras
faculdades legais, por um lado, por outro lado o credor não pode ser desidioso. Em
trinta dias da consolidação da propriedade em seu nome, há de promover o 1º público
leilão. Esse leilão só é considerado frutuoso se for oferecido lanço igual ao valor de
avaliação da garantia, contratualmente definida e não inferior à base fiscal para fins de
transmissão. Senão, em quinze dias deve ser realizado o segundo público leilão, pelo
maior lanço, mas não inferior ao valor das dívidas, encargos e despesas pendentes. O
devedor deve ser comunicado dos leilões, mesmo que de forma eletrônica, da maneira
prevista pelo contrato. E, como assinalamos, mesmo que os leilões não logrem sucesso
segundo a definição legal, a dívida será considerada extinta, sendo de rigor a
conferência de comprovante (que a lei chama de “termo de quitação da dívida” ) ao
devedor. O nome “quitação” é de todo impróprio, porque não houve pagamento, mas
compreende-se qual é a finalidade: o devedor não pode mais ser incomodado por
eventual saldo em aberto e inclusive tem direito a que a extinção da dívida seja atestada,
fornecendo-se o termo dentro do prazo de cinco dias da data do segundo leilão. E se o
primeiro leilão for bem-sucedido, a ponto de apurar o exato para a satisfação do credor?
Apesar do silêncio da lei, cremos que se aplica, por analogia bem justificada, o prazo de
cinco dias para que seja fornecido ao devedor comprovante de extinção da dívida
(“termo de quitação”, na curiosa linguagem legal). E na hipótese rara de haver sobejo,
apurando-se mais do que o necessário em qualquer dos leilões? Nesse caso, o excesso
deve ser entregue ao devedor, também no prazo de cinco dias e, mais uma vez, apesar o
silêncio legal, nesse mesmo prazo deve-lhe ser atestado que a obrigação se encontra
extinta. A importância que sobejar cobre também o valor de eventuais benfeitorias, mas,
simultaneamente, prevê-se expressamente que não se aplica o art. 516 do Código Civil
de 1916, cujo equivalente vigente é o art. 1.219 do Código Reale. É difícil estabelecer
uma interpretação satisfatória. Está-se dizendo que não há direito de retenção por
benfeitorias ou que não há crédito por elas? E, no primeiro caso, haveria tal crédito no
leilão que não apura excesso? Em prol dessa intepretação, a lei declara a benfeitorias
compensadas – e não há compensação sem créditos compensáveis. Apesar de tudo,
acreditamos que a lei esteja excetuando o próprio crédito por benfeitorias, imunizando a
excussão extrajudicial contra eventuais óbices dele decorrentes. Porque não haveria
sentido lógico em tratar diferentemente os leilões conforme o resultado obtido, quanto a
esse aspecto.

3.8. Alienação fiduciária de imóvel: responsabilidades das partes

O devedor fiduciante responde, enquanto estiver com o bem, pelas despesas ligadas à
posse direta e ao uso, por exemplo, as condominiais. Responde também pelas despesas
necessárias à eventual cobrança da dívida50. Mas há situações que exigem um
comentário mais apropriado às suas nuances:

(a) Débitos condominiais: o credor fiduciante responderá pelos débitos


condominiais incidentes após a sua imissão na posse do bem, se ela for necessária em
virtude de cobrança da dívida. Mas se houver obrigações anteriores em aberto,
responderá também por ela, dado o seu caráter propter rem, podendo ulteriormente
recobrá-las ao devedor fiduciante (a quem competia primacialmente a responsabilidade,
em razão da posse direta). Para evitar que se acumulem, já se admitiu nos tribunais que
o boleto de condomínio fosse expedido em nome do credor fiduciário;
(b) Lesão a direitos de vizinhança: a responsabilidade por lesões a direitos de
vizinhança é objetiva. Aquela incorrida pelo possuidor direto decorre, porém, de um
ilícito pessoal , quando compreendida na cláusula geral do art. 1.277 do Código Civil
(uso anormal da propriedade, em prejuízo do sossego, saúde e segurança dos vizinhos).
Ilícitos pessoais, por sua vez, não se transmitem, não podendo ser cobrados do credor
fiduciário.  Diferem disso as disposições especiais em matéria de vizinhança, exempli
gratia aquelas relativas a cabos e tubulações, uso das águas, direito de construir,
tapagem, limites e árvores limítrofes. Nesses casos, as obrigações advindas são propter
rem e podem passar para o credor fiduciário, caso ele venha a se apossar do imóvel;

(c) Passivos ambientais: o ilícito ambiental implica em responsabilidade objetiva e


solidária. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem-na caracterizado como
risco integral. Por corolário, dificilmente o credor fiduciário se eximirá de responder,
enquanto possuidor indireto, por danos ambientais, notadamente os de natureza
coletiva52;

(d) Responsabilidade pelo imposto predial: a sujeição passiva direta ou indireta


depende de previsão em lei complementar. Assim, temos que o previsto da Lei 9.514,
no sentido de que o devedor fiduciante responda pelo imposto predial, com exclusão do
fiduciário, deve ser entendido como regra contratual e não de âmbito fiscal53. Tal regra
define as obrigações entre as partes e é inoponível ao Fisco. Resultando disso, o Fisco
pode cobrar o credor fiduciário pelo imposto predial em aberto, mas esse credor pode
reembolsar-se junto ao devedor fiduciante, pelo que incidiu durante sua posse direta.
Em outros termos, a responsabilidade contratual do devedor fiduciante não se confunde
com a responsabilidade tributária, pois esta não pode ser definida em lei ordinária, como
a Lei 9.514 e, ademais, de cunho federal, sendo o imposto em questão municipal54. Na
sua redação vigente, o Código Tributário Nacional prevê a sujeição dos possuidores
direto e indireto por impostos incidentes sobre a propriedade, de modo que, se a lei
municipal assim instituir, o imposto poderá ser cobrado do credor fiduciário,
solidariamente ou em substituição ao devedor fiduciante. A posição aqui defendida
assim o é porque se considera a mais consentânea com o Direito Tributário pátrio , sem
prejuízo da responsabilidade final contratual do devedor fiduciante perante o credor
fiduciário que paga o tributo. Lembremos, novamente, que as convenções particulares
não são oponíveis ao credor fiscal e a previsão da Lei 9.514 insere-se como obrigação
contratual. Porém, essa não é a posição mais encontradiça em nossa jurisprudência. Os
tribunais federais têm negado a legitimidade do credor fiduciário para a execução fiscal
municipal, até o momento em que este texto foi composto. A jurisprudência leva em
conta um aspecto importante e frisado até aqui, o da limitação finalística da propriedade
fiduciária, mas, ressalvado o devido respeito, deixa de lado as normas gerais de Direito
Tributário, em uma questão que não é puramente da alçada civil-obrigacional.

3.9. Alienação fiduciária de imóvel: pedido de restituição

Um dos aspectos atraentes da alienação fiduciária está na possibilidade de o credor


fiduciário pedir a restituição do bem perante o juízo universal, em caso de falência do
devedor fiduciante56. Na recuperação judicial, o credor fiduciário terá de aguardar o
prazo de suspensão das ações e execuções, nunca superior a 180 dias, se o imóvel em
questão for essencial à atividade da empresa em recuperação57. A faculdade de evitar o
juízo universal é uma das razões que levou ao engrandecimento da propriedade
fiduciária às custas da hipoteca, que entrou em decadência entre nós. Aquela, sendo
direito de garantia sobre coisa própria, avantaja-se do ponto de vista processual sobre a
hipoteca, direito sobre coisa alheia.

3.10. Alienação fiduciária de imóvel: oponibilidade a terceiro adquirente de unidade


condominial

A propriedade fiduciária é garantia sobre coisa própria e, dada sua natureza, oponível
contra todos. O mesmo já não se diz com tanta firmeza da hipoteca, pois, segundo a
jurisprudência, ela não é oponível ao terceiro adquirente de unidade autônoma, se
formalizada entre a instituição financeira e o incorporador. Assim reza o enunciado 308
da Súmula de jurisprudência dominante do STJ58. Essa é outra razão para a relativa
decadência da hipoteca. Mencionamos o assunto aqui não apenas para efeito
comparativo, mas também porque a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem
dado indicações no sentido de estender esse entendimento para a propriedade
fiduciária59, o que lhe retiraria parte do interesse prático, pelo menos nas incorporações
imobiliárias.

3.11. Propriedade fiduciária de imóvel: extinção

As causas extintivas da propriedade fiduciária sobre bem imóvel são: as mesmas do


penhor. 

(a) o pagamento, como forma normal de extinção, pois a garantia é acessória à


obrigação garantida. Terão, portanto, efeitos semelhantes a dação em pagamento
(expressamente tratada pela Lei 9.514), o pagamento por consignação e as demais
formas de extinção das obrigações (como a compensação, a remissão e a confusão). Se
houver extinção parcial, a garantia subiste íntegra, por força do princípio da
indivisibilidade, salvo convenção em contrário. Daí ser preocupante o hábito das
instituições financeiras “fragmentarem” a garantia, isto é, exigirem diversos imóveis, de
valor cumulativo muito superior ao do crédito, o que pode ser considerado cláusula
abusiva;

(b) pela renúncia à garantia que, como já dissemos, não se confunde com o perdão. A
remissão do crédito está incluída no item anteriormente tratado. A transação, hoje
tratada pelo direito civil como um contrato pode envolver a extinção da garantia
fiduciária, se assim dispuserem as partes, fazendo uso de sua autonomia privada;

(c) pela execução extrajudicial da garantia fiduciária imobiliária, descabendo, como já


explicamos, a cobrança de eventual saldo por outros meios. A execução judicial é
cabível – e única para o credor que não seja instituição financeira, como já opinamos –
e, naturalmente, leva à extinção da propriedade fiduciária.

O contrato de alienação fiduciária sobre coisa imóvel também se extingue nos casos (a)
e (b), podendo-se ainda mencionar a extinção por resolução, no caso de inadimplemento
do devedor fiduciante, caracterizado pela não-purgação da mora na forma da lei. Pode
ainda extinguir-se por distrato (resilição bilateral) e, judicialmente, se forem
preenchidos os requisitos da resolução por onerosidade excessiva, não sendo viável a
sua revisão judicial ou negocial.
Notas
1
“Desse modo, o proprietário fiduciário não dispõe de todos os poderes inerentes ao
domínio, notadamente os direitos de usar e de fruir, pois a consolidação da propriedade
em favor do credor fiduciário se dá exclusivamente com o propósito de satisfazer o
débito.” (AgInt nos EDcl no REsp 1.378.468/SP, 3ª Turma, rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, DJe 21.05.2018)
2
CHALHUB, Melhim Namem. Negócio fiduciário, p. 32.
3
Essa garantia, por sua vez, pode ser constituída pelo próprio bem financiado ou por
conta de outra obrigação. Por exemplo, neste precedente: “A lei não exige que o
contrato de alienação fiduciária de imóvel se vincule ao financiamento do próprio bem,
sendo legítima a sua formalização como garantia de toda e qualquer obrigação
pecuniária.” (AgInt no AREsp 829.403/PR, 3ª Turma, rel. Ministro Moura Ribeiro, DJe
31.10.2017.)
4
O negócio jurídico de cessão fiduciária, a seu turno, pode ter por objeto direitos de
crédito.
5
No Brasil, a Lei 8.668/1993 instituiu uma espécie de propriedade fiduciária com fito de
investimento. Os bens e direitos integrantes do fundo de investimento imobiliário, seus
imóveis, frutos e rendimentos não se comunicam com o patrimônio da instituição
financeira (embora sob propriedade fiduciária desta), formando, portanto, um
patrimônio separado (PEDROTTI, Irineu Antonio. Arrendamento mercantil (leasing) e
alienação fiduciária, pp. 93-94).
6
TURNER, Chris; BRAY, Judith. Equity and trusts, pp. 8-11.
7
MOFFAT, Graham. Trust law: text and materials, p. 3. 
8
É tradição, no direito brasileiro, chamar de “cessão”, onerosa ou gratuita, o negócio
jurídico transmissivo que tenha como objeto bens imateriais. Conforme Chalhub, “por
meio da cessão, o cessionário é investido da condição de credor, com todos os poderes
inerentes a este, inclusive o de valer-se de todas as ações e execuções a que o credor
está legitimado, mas, recebendo o crédito, não pode apropriar-se da totalidade do
produto, mas apenas do quantum correspondente ao seu crédito, ou retendo o produto
recebido até que o devedor-cedente pague sua dívida” (CHALHUB, Melhim Namen.
Negócio fiduciário, p. 51).
9
O Diploma básico é o Decreto-Lei 70/1966, que regulamenta a execução extrajudicial
hipotecária e já foi invocado, por simetria, em matéria de alienação fiduciária de
imóveis. Hoje, a lei proíbe expressamente essa aplicação analógica.
10
O art. 22, § 1o, da Lei 9.514/1997 é expresso nesse sentido.
11
A propriedade fiduciária de coisa móvel infungível era a hipótese cediça quando da
formulação do anteprojeto de Código Civil; as demais advieram durante sua longa
tramitação. Isso explica as inconsistências do texto vigente.
12
Art. 1.367 do Código Civil, com a redação da Lei 13.043/2014: “A propriedade
fiduciária em garantia de bens móveis ou imóveis sujeita-se às disposições do Capítulo I
do Título X do Livro III da Parte Especial deste Código e, no que for específico, à
legislação especial pertinente, não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade
plena de que trata o art. 1.231.” (grifo nosso)

Art. 1.361, § 1o, do Código Civil. 


13

Arts. 23 e 38 da Lei 9.514/1997.


14

15
Como consequência prática, aponta-se que a busca e apreensão do Decreto-lei
911/1969 não prevalece contra terceiros de boa-fé, se não houver o devido registro. Do
mesmo modo, não pode ser empreendida contra o veículo automotor em mãos de
terceiro, se não foi anotada no certificado de registro (Cf. MICHELAZZO. Da busca e
apreensão na alienação fiduciária, p. 23).

Historicamente, as garantias reais evoluíram no sentido de não privar o devedor da


16

posse direta do bem. Nesse sentido, a hipoteca (pignus obligatum) foi também um
avanço em relação ao penhor (pignus datum). Assim, o arrendatário da terra não
precisaria desfazer-se de seus instrumentos de trabalho (invecta et illata), conquanto
dados em garantia (Cf. MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano, p. 365).

Art. 66-B, § 1o, da Lei 4.728/1965 e art. 19, I, da Lei 9.514/1997.


17

Há uma exceção a isso quanto a cobrança de taxa de ocupação na alienação fiduciária


18

de imóveis. Remetemos o leitor ao tópico próprio.


19
Pacto comissório é o acordo, anterior ao vencimento da dívida, que permita ao credor
ficar com a garantia no caso de inadimplemento. Ele não deve ser confundido com a
dação em pagamento do bem, realizada após o vencimento da dívida. Nem deve ser
confundido com o pacto marciano, cláusula que habilita o credor a adquirir o bem dado
em garantia, mediante apuração justa de seu valor de mercado de forma independente
por um terceiro.
20
“Segundo a teoria do adimplemento substancial, que atualmente tem sua aplicação
admitida doutrinária e jurisprudencialmente, não se deve acolher a pretensão do credor
de extinguir o negócio em razão de inadimplemento que se refira a parcela de menos
importância do conjunto de obrigações assumidas e já adimplidas pelo devedor. A
aplicação do referido instituto, porém, não tem o condão de fazer desaparecer a dívida
não paga, pelo que permanece possibilitado o credor fiduciário de perseguir seu crédito
remanescente (ainda que considerado de menor importância quando comparado à
totalidade da obrigação contratual pelo devedor assumida) pelos meios em direito
admitidos, dentre os quais se encontra a própria ação de busca e apreensão de que trata
o Decreto-Lei 911/1969, que não se confunde com a ação de rescisão contratual - esta,
sim, potencialmente indevida em virtude do adimplemento substancial da obrigação”
(REsp 1255179/RJ, 3ª Turma, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 18.11.2015).
21
Como dizem autores de prestígio: “(...) nas hipóteses de adimplemento substancial,
configurando-se o inadimplemento mínimo do devedor, após cumprir de forma quase
integral a obrigação duradoura, terá o credor de aceitar a prestação, sob pena de incidir
em abuso do direito (art. 187 do CC)”. (FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD,
Nelson. Curso de direito civil: obrigações, p. 442.)
22
A violação de norma cogente desprovida de sanção expressa é a invalidade mais
grave, isto é, a nulidade. Na acepção mais rigorosa, o nulo não poderia ser objeto de
retificação, nem de ratificação, mas estamos diante de um caso que indica solução
contrária. Para ilustrar, considere-se que esse não é o único. As cláusulas abusivas no
Direito do Consumidor são nulas, mas admitem revisão judicial, o que, fosse aplicada a
concepção tradicional do nulo, não deveria ser possível. Outro exemplo: o casamento
nulo putativo produz efeitos, contra o que se esperaria.
23
Em sentido contrário, Chalhub assenta que a diferença prática, quanto aos bens
fungíveis, é procedimental: “...já se se tratar de propriedade fiduciária de bem fungível,
direitos creditórios ou títulos de crédito, o credor é investido na posse dos bens no
mesmo ato em que se contratar a constituição da propriedade, de modo a que possa
promover ele mesmo a venda ou a cobrança e pagar-se diretamente com o produto
apurado.” (CHALHUB, Menim Namen. Alienação fiduciária, incorporação imobiliária
e mercado de capitais: estudos e pareceres, p. 190.)
24
Art 66-B § 1o, da Lei 4.728/1965, com a redação da Lei 10.931/2004: “Se a coisa
objeto de propriedade fiduciária não se identifica por números, marcas e sinais no
contrato de alienação fiduciária, cabe ao proprietário fiduciário o ônus da prova, contra
terceiros, da identificação dos bens do seu domínio que se encontram em poder do
devedor.”  

Art 66-B § 4o, da Lei 4.728/1965, combinado com art. 18 da Lei 9.514/1997.
25

Isso não exclui que, ajuizada a demanda, os juros sejam computados a medida que se
26

forem vencendo.

Ensina-se que, na verdade, o credor fiduciário – instituição financeira dispõe de quatro


27

opções: (a) alienação da coisa, se foi entregue pelo devedor; (b) ação de busca e
apreensão do bem alienado fiduciariamente; (c) ação de depósito se o bem não foi
encontrado; e (d) ação executória autônoma (Cf. SCHONBLUM, Paulo Maximilian W.
Mendlowicz. Contratos bancários, p. 223).

Ou se poderia dizer que comprova o inadimplemento, pois a mora se presume a partir


28

do vencimento, devendo o devedor provar o contrário.


29
Tema clássico, nesse ponto, é o da abusividade dos encargos cobrados por instituições
financeiras, do qual não podemos tratar aqui. Dando as linhas gerais do problema,
ensina Arnaldo Rizzardo que “nem sempre se acima das taxas estabelecidas na lei
importam em abusividade. Desde que mantida a média de mercado, reconhece-se a
normalidade, admitindo-se, então, a busca e apreensão (...)” (RIZZARDO, Arnaldo.
Contratos de crédito bancário, p. 416).

Estamos a tratar de situação muito incomum, para a qual oferecemos a solução


30

exposta, por parecer a mais compatível com o ordenamento vigente. Há projeto, porém,
no sentido de tornar as execuções por quantia certa extrajudiciais. Em tal ambiente, se e
quando venha a se confirmar, não restaria mais base para negar ao credor civil a
excussão extrajudicial do bem dado em garantia fiduciariamente.
31
Estamos adotando a terminologia predominante. No entanto, alguns autores advertem
que há uma diferença entre a resolução como conditio iuris (decorrente do regime
jurídico) e a resolução decorrente de cláusula acidental, isto é, da vontade das partes
aposta como condição em negócio jurídico. O primeiro seria o caso da propriedade
fiduciária, diferente, portanto, do caso da propriedade resolúvel meramente em razão de
contrato. Dessarte, admitida essa diferença, “a propriedade fiduciária, resolúvel em
decorrência da conditio iuris, tem peculiaridades próprias, distintas da propriedade
resolúvel, cuja resolução depende da condição resolutiva do art. 119 do Código Civil”
(VAZ, Ubirayr Ferreira. Alienação fiduciária de coisa imóvel: reflexos da lei n.
9.514/97 no registro de imóveis, p. 41).
32
Dada a importância dessa questão, anoto o seguinte excerto: “No ordenamento jurídico
brasileiro, coexiste um duplo regime jurídico da propriedade fiduciária: a) o regime
jurídico geral do Código Civil, que disciplina a propriedade fiduciária sobre coisas
móveis infungíveis, sendo o credor fiduciário qualquer pessoa natural ou jurídica; b) o
regime jurídico especial, formado por um conjunto de normas extravagantes, dentre as
quais a Lei n. 9.514/1997, que trata da propriedade fiduciária sobre bens imóveis.
Quanto à propriedade fiduciária de bem imóvel, regida pela Lei n. 9.514/1997, verifica-
se que a garantia somente se constitui com o registro do contrato que lhe serve de título
no registro imobiliário do local onde o bem se situa. Dessa maneira, sem o registro do
contrato no competente Registro de Imóveis, há simples crédito,situado no âmbito
obrigacional, sem qualquer garantia real nem propriedade resolúvel transferida ao
credor. Assim, na ausência de registro do contrato, não é exigível do adquirente que se
submeta ao procedimento de venda extrajudicial do bem para só então receber eventuais
diferenças do vendedor.” (EAREsp 1.835.598-SP, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi,
por maioria, DJe 17.02.2021, in Informativo STJ 685, 22.02.2021). É de notar que o
Tribunal sujeitou a propriedade fiduciária sobre imóvel, no plano da existência, ao
registro. Outro ponto a se destacar: a decisão aparentemente passa por alto da menção
que o Código Civil faz aos bens móveis e imóveis no art. 1.367, com a redação que
recebeu a partir da Lei 13.043/2014.

“O contrato é típico e nominado, tendo requisitos obrigatórios que deverão nele


33

constar, sob pena de não produzir os efeitos que a alienação fiduciária prescreve”
(HOFFMANN, Dirceu. Alienação fiduciária em garantia de bens imóveis no Brasil, p.
113).

Art. 24, parágrafo único, da Lei 9.514/1997 – redação atribuída pela Lei 13.465/2017.
34

Explicamos esses expedientes abusivos no seguinte artigo: GRAMSTRUP, Erik


35

Frederico; PEREIRA DE BARROS, Paula Cristina Lippi. Alienação fiduciária de


imóvel: aporias na contratação, pp. 121-159.
36
“(…) tem-se que a própria Lei 8.009/90, com o escopo de proteger o bem destinado à
residência familiar, aduz que o imóvel assim categorizado não responderá por qualquer
tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, mas em
nenhuma passagem dispõe que tal bem não possa ser alienado pelo seu proprietário. 11.
Não se pode concluir que o bem de família legal seja inalienável e, por conseguinte, que
não possa ser alienado fiduciariamente por seu proprietário, se assim for de sua vontade,
nos termos do art. 22 da Lei 9.514/97. 12. Reconhecida, na espécie, a validade da
cláusula que prevê a alienação fiduciária do bem de família, há que se admitir que o
imóvel, após a consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário, seja vendido,
nos termos do art. 27 da já referida lei.” (REsp 1.677.015/SP, 3ª Turma, rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, DJe 06.09.2018).
37
“Não se admite a penhora do bem alienado fiduciariamente em execução promovida
por terceiros contra o devedor fiduciante, haja vista que o patrimônio pertence ao credor
fiduciário, permitindo-se, contudo, a constrição dos direitos decorrentes do contrato de
alienação fiduciária. Precedentes.” (REsp 1.677.079/SP, 3ª Turma, rel. Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva, DJe 01.10.2018)

Art. 5º da Lei 5.709/1971: “As pessoas jurídicas estrangeiras referidas no art. 1º desta
38

Lei só poderão adquirir imóveis rurais destinados à implantação de projetos agrícolas,


pecuários, industriais, ou de colonização, vinculados aos seus objetivos estatutários.”

Cf. PINTO E SILVA, Fábio Rocha. Garantia imobiliárias em contratos empresariais:


39

hipoteca e alienação fiduciária, p. 148.

“A Lei 9.514/1997, que instituiu a alienação fiduciária de bens imóveis, é norma


40

especial e também posterior ao Código de Defesa do Consumidor - CDC. Em tais


circunstâncias, o inadimplemento do devedor fiduciante enseja a aplicação da regra
prevista nos arts. 26 e 27 da lei especial” (AgInt no REsp 1.822.750/SP, 3ª Turma, rel.
Min. Nancy Andrighi, DJe 20.11.2019).

Dita regra tem em mira contratos de compra e venda ou compromissos de venda pagos
41

em parcelas. E não contratos de mútuo ou financiamentos atípicos.

Estamos seguindo a posição majoritária. Mas faz sentido dizer que a notificação via RI
42

comprova o inadimplemento e não a mora. Nesse sentido: “a notificação, a nosso ver,


não tem função de comprovar a mora e sim, de caracterizar o incumprimento definitivo
da obrigação do devedor. A mora não se prova pela notificação, mas se presume quando
o credor declara não ter recebido, devendo o devedor exibir prova do pagamento para
comprovar que cumpriu a obrigação (art. 313 a 326 do CCB).” (PINTO, Marcos Mello
Ferreira. Sistema financeiro imobiliário brasileiro: contratos e a circulação do crédito,
p. 119)

“A jurisprudência do STJ possui entendimento no sentido de que, no âmbito de


43

contrato de alienação fiduciária de bem imóvel (Lei n. 9.514/1997), é possível a purga


da mora até a assinatura do auto de arrematação do leilão público do bem objeto da
contratação, desde que cumpridas todas as exigências previstas no art. 34 do Decreto-
Lei n. 70/1966, o que na espécie, não ocorreu” (AgInt no AREsp 1.353.105/SC, 4ª
Turma, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 04.06.2019).

Art. 39 da Lei 9.514/1997, com a redação da Lei 13.465/2017.


44

A propósito do termo para purgação da mora, o Tribunal de Justiça de São Paulo


45

decidiu que “a alteração introduzida pela Lei nº 13.465/2017 ao art. 39, II, da Lei
9.514/97 tem aplicação restrita aos contratos celebrados sob a sua vigência, não
incidindo sobre os contratos firmados antes da sua entrada em vigor, ainda que
constituída a mora ou consolidada a propriedade, em momento posterior ao seu início de
vigência” (TJSP, Tema 26, Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 2166423-
86.2018.8.26.0000, j. 25.11.2019). Desse modo, o sistema da Lei 13.465 só se aplicaria
aos contratos firmados depois de 12/07/2017. E, nos contratos firmados anteriormente
ao precitado termo, seria possível a purga da mora até a assinatura do auto de
arrematação. Até a uniformização, havia correntes que propugnavam (a) pela aplicação
imediata da Lei 9.514 a todos os contratos; (b) pela aplicação aos procedimentos
expropriatórios iniciados sob a égide da nova lei; e (c) pela aplicação apenas aos
contratos celebrados após a vigência da nova lei, corrente, essa, que se saiu vencedora
no âmbito tribunal paulista.

Art. 26, § 7º, da Lei 9.514/1997, com a redação da Lei 10.931/2004.


46

“(...) a consolidação da propriedade do bem no nome do credor fiduciante confere-lhe


47

o direito à posse do imóvel.” (REsp 1.155.716-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 13.03.2012).
48
Essencialmente, é o que também se sustenta a seguir: “(...) a sistemática da nova lei
não contraria o princípio da proibição do pacto comissório, eis que o credor (fiduciário)
tem o dever legal de realizar o leilão com objetivo declarado de vender o imóvel para
que utilize o lance vencedor para se cobrar, restituindo eventual diferença ao devedor
(TERRA, Marcelo. Alienação fiduciária de imóvel em garantia, p. 55).

Art. 25, § 1º, da Lei 9.514/1997.


49

Segundo o art. 26, § 1º, da Lei 9.514/1997, o principal e acessórios, quando da


50

oportunidade para a purgação da mora, compreendem “a prestação vencida e as que se


vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais
encargos contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições
condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação.”
51
Não há contradição. No abuso de direito, também há um ato ilícito e, nada obstante, a
responsabilidade por ele é objetiva. A equiparação entre delito e responsabilidade
subjetiva está superada.
52
Em sentido contrário, já se defendeu que, se a instituição financeira credora realizar
due diligence documental do imóvel, cumprindo seu dever de cautela, não poderá ser
responsabilizada por qualquer dano ambiental (Cf. CASTANHO, Renata O. Pires;
CANELA, Carina. Alienação fiduciária de bens imóveis e outras garantias, pp. 62-63).

O mesmo raciocínio se aplica, e pelas razões que serão deduzidas, ao art. 1.368-B do
53

Código Civil, acrescentado pela Lei 13.043/2014.

Dizendo de outra forma, a sujeição passiva tributária depende de lei nacional


54

complementar, posição hoje ocupada pelo Código Tributário de 1966. De nada adianta o
Código Civil disciplinar o assunto, exceto quanto ao aspecto obrigacional e privado.

O STJ, presentemente, tem reconhecido que se trata de questão constitucional,


55

deixando de conhecer dos recursos especiais interpostos: “1. A controvérsia versa sobre
a legitimidade passiva da Caixa Econômica Federal, como credora fiduciária, em
execução fiscal de IPTU.2. A apreciação sobre a possibilidade de lei ordinária
determinar quem é o contribuinte do IPTU refere-se a questão constitucional, prevista
no artigo 146 da CF. Conforme dispõe o art. 105 da CF, a competência do Superior
Tribunal de Justiça restringe-se à interpretação e uniformização do direito
infraconstitucional federal, restando a impossibilidade de exame de eventual violação a
dispositivos e princípios constitucionais, sob pena de usurpação da competência
atribuída ao STF.” (REsp 1670295/SP, 2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
13/09/2017)

“(...) no caso de falência do devedor fiduciário, vale também o regime do contrato


56

garantido. Caberá ao administrador judicial decidir pela continuação ou não do contrato


garantido, seja ele bilateral ou unilateral. Caso não haja prosseguimento do contrato, o
credor fiduciante, por ter a propriedade do bem, poderá realizar o pedido de restituição
para a retomada do bem e, obtendo a retomada, deverá promover sua alienação para a
satisfação do seu crédito (Decreto-lei no 911/69 – art. 7o). O eventual saldo positivo
será remetido para a massa falida. Em caso de saldo negativo, deverá haver a habilitação
do crédito. A mesma solução vale para os três tipos de alienação fiduciária.”
(TOMAZETE, Marlon. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de
empresas, p. 562).

“O credor titular da posição de proprietário fiduciário ou detentor de reserva de


57

domínio de bens móveis ou imóveis não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial
(Lei 11.101/2005, art. 49, § 3º), ressalvados os casos em que os bens gravados por
garantia de alienação fiduciária cumprem função essencial à atividade produtiva da
sociedade recuperanda.” (AgInt no AgInt no AgInt no CC 149.561/MT, 2ª Turma, rel.
Min. Luis Felipe Salomão, DJe 24.08.2018.)

“A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à


58

celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do


imóvel.”
59
“(...) 6. De acordo com a Súmula 308/STJ, a hipoteca firmada entre a construtora e o
agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda,
não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.7. A Súmula 308/STJ, apesar de
aludir, em termos gerais, à ineficácia da hipoteca perante o promitente comprador,
traduz hipótese de aplicação circunstanciada da boa-fé objetiva ao direito real de
hipoteca.8. Dessume-se, destarte, que a intenção da Súmula 308/STJ é a de proteger,
propriamente, o adquirente de boa-fé que cumpriu o contrato de compra e venda do
imóvel e quitou o preço ajustado, até mesmo porque este possui legítima expectativa de
que a construtora cumprirá com as suas obrigações perante o financiador, quitando as
parcelas do financiamento e, desse modo, tornando livre de ônus o bem negociado.9.
Para tanto, partindo-se da conclusão acerca do real propósito da orientação firmada por
esta Corte - e que deu origem ao enunciado sumular em questão -, tem-se que as
diferenças estabelecidas entre a figura da hipoteca e a da alienação fiduciária não são
suficientes a afastar a sua aplicação nessa última hipótese, admitindo-se, via de
consequência, a sua aplicação por analogia” (REsp 1837203/RS, 3ª Turma, rel. Ministra
Nancy Andrighi, DJe 22.11.2019).
Referências
CASTANHO, Renata O. Pires; CANELA, Carina. Passivos ambientais do imóvel dado
em garantia e a responsabilização ambiental de instituições financeiras. Alienação
fiduciária de bens imóveis e outras garantias. Tatiana Bonatti Peres, Marcelo Terra e
José Marcelo Gregori Siqueira Dias (coords.). Indaiatuba: Foco Jurídico, 2020.

CHALHUB, Menim Namen. Alienação fiduciária, incorporação imobiliária e mercado


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CHALHUB, Melhim Namem. Negócio fiduciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. 11. ed. Curso de direito civil:
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GRAMSTRUP, Erik Frederico; PEREIRA DE BARROS, Paula Cristina Lippi.


Alienação fiduciária de imóvel: aporias na contratação. Revista direito e liberdade, v.
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Curitiba: Prismas, 2016

MICHELAZZO, Da busca e apreensão na alienação fiduciária. São Paulo: Lawbook,


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MOFFAT, Graham. Trust law: text and materials. Cambridge: Cambridge University
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MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense,
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PEDROTTI, Irineu Antonio. Arrendamento mercantil (leasing) e alienação fiduciária.


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PINTO, Marcos Mello Ferreira. Sistema financeiro imobiliário brasileiro: contratos e a


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PINTO E SILVA, Fábio Rocha. Garantia imobiliárias em contratos empresariais:


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RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. 11. ed. São Paulo: Revista dos
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SCHONBLUM, Paulo Maximilian W. Mendlowicz. Contratos bancários. 4. ed. Rio de


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TERRA, Marcelo. Alienação fiduciária de imóvel em garantia. Porto Alegre: Sergio


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TOMAZETE, Marlon. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de
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TURNER, Chris. BRAY, Judith. Equity and trusts. Oxon-New York: Routledge, 2014.

VAZ, Ubirayr Ferreira. Alienação fiduciária de coisa imóvel: reflexos da lei n. 9.514/97
no registro de imóveis. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1998.

Citação
GRAMSTRUP, Erik Frederico. Alienação fiduciária em garantia. Enciclopédia jurídica
da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz
Freire (coords.). Tomo: Direito Civil. Rogério Donnini, Adriano Ferriani e Erik
Gramstrup (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/471/edicao-
1/alienacao-fiduciaria-em-garantia

Edições
Tomo Direito Civil, Edição 1, Dezembro de 2021 Última publicação, Tomo Direito
Civil, Edição 2, Setembro de 2022

Enciclopédia Jurídica da PUCSP - PUC - Pontifícia Universidade


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1.2. Caracteristicas de alienação nas colonias portuguesas

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79 | 2021
Portugal e Espanha: histórias comparadas
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O estado português, a marinha mercante


e as colónias, 1926-1939
The State, the Merchant Fleet and the Colonies, 1926-1939
L’État, la marine marchande et les colonies, 1926-1939
Yvette Santos
p. 111-133
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.9270
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Resúmenes
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Este artigo pretende analisar de que forma se definiu a relação do governo ditatorial
com as duas companhias portuguesas de navegação (Companhia Nacional de
Navegação e Companhia Colonial de Navegação), no contexto da crise de 1929 e da
Grande Depressão, período de consolidação política e social do novo regime. Ao
decretar a marinha mercante portuguesa como sendo de interesse nacional, o Estado
Novo concebeu e delineou um regime de serviço público para a exploração exclusiva
das ligações com as colónias africanas. A partir deste pressuposto, veremos como é que
se chegou à sua determinação e como é que este sistema se caracterizou.
Identificaremos depois os mecanismos utilizados para garantir a ingerência do estado
ditatorial nas estratégias das empresas portuguesas de navegação, assim como a resposta
dada por estas empresas.

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Entradas del índice


Mots-clés :

dictature portugaise, Grande Dépression, histoire maritime, histoire coloniale, histoire


des entreprises.

Keywords:

Portuguese dictatorship, Great Depression, maritime history, colonial history, business


history

Palavras-chave:

ditadura portuguesa, Grande Depressão, história marítima, história colonial, história


empresarial.
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Plano
1. A marinha mercante nacional e o processo de intervenção do estado ditatorial
2. A viragem com o Ato Colonial
3. O projeto de exploração marítima do tráfego colonial em regime de concessão
4. A reformulação do projeto pela Câmara Corporativa
5. Conclusão
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1Os anos 1930 foram um período-chave para a reorganização do setor marítimo


português. Nesta década delinearam-se os princípios norteadores que determinaram as
bases da política de fomento da marinha mercante, da cultura empresarial e das suas
relações com o estado depois da Segunda Guerra Mundial. É assim que a análise da sua
constituição, enquanto serviço público, se revela indispensável, não só para conhecer as
suas estratégias de exploração nos primeiros anos do Estado Novo, mas também para
perceber os contornos da cultura empresarial e administrativa portuguesa delineada por
um regime ditatorial. A historiografia internacional confirma que existe um consenso
científico de que a intervenção estatal foi uma constante no setor marítimo (Sloan 1998,
91; Sturmey 2009, 159-175; Miller 2012, 287-288; Petersson et al. 2019, 4).

2Por ser um setor fortemente arriscado, ao envolver um investimento de capital


avultado e sujeito a flutuações no rendimento, a intervenção dos estados junto das
companhias de navegação tornou-se cada vez mais participativa e influente no
delineamento das estratégias empresariais. Uma das suas formas de intervenção passou
pela concessão, a entidades privadas, da realização de um serviço público de transporte
marítimo (Hernández Sandoica 1988). Ao delegar esta função, a finalidade tanto podia
ser económica, para reduzir as despesas públicas, como política, de busca de prestígio
internacional e de prossecução de planos de expansão colonial (Berneron-Couvenhes
2007, 667). Nalguns países, a cedência dos serviços públicos permitiu o arranque da
atividade marítima nacional e o alívio ou a proteção das companhias da concorrência
internacional (Valdaliso Gago 1992; Sloan 1998, 91-92; Butel 2012). As dificuldades de
adaptação à situação do mercado internacional, cada vez mais competitivo, podiam
também levar a que o longo monopólio do serviço público e as subvenções concedidas
provocassem uma situação de estabilidade e dependência, a qual desincentivava as
companhias a procurarem alternativas e a manterem uma situação de statu quo.

3Durante a Grande Depressão dos anos 1930, a imposição de uma autarcia económica
nacional levou a que se reformulasse o papel do setor da marinha mercante, tanto em
regimes ditatoriais (Valdaliso Gago 2007; Giulianelli 2016) como democráticos (Palmer
2008, 132-133; Sturmey 2009, 83-115; Miller 2012, 72). A marinha mercante
portuguesa foi considerada como um dos setores económicos estratégicos. A
reformulação do seu papel fez parte integrante das mudanças económicas nacionais
adotadas, incluindo para as colónias. Tendo Portugal um império para defender e
consolidar, além de uma situação administrativa, económica e financeira metropolitana
e colonial em crise para gerir, a via adotada foi a de reavivar o pacto colonial dos finais
do século XIX. Nele se previa a intensificação do esforço de exploração colonial
baseada nas relações comerciais e económicas entre a metrópole e as colónias, a partir
de mecanismos protecionistas que a marinha mercante nacional também usufruía (Telo
1994).

4Dada a posição-chave do transporte marítimo na economia portuguesa, justifica-se


questionar as características e o processo de ingerência do estado na atividade das
companhias portuguesas de navegação desde o século XIX. Como tal, a análise centrar-
se-á nessa intervenção junto da Companhia Nacional de Navegação (CNN) e da
Companhia Colonial de Navegação (CCN), tendo em consideração o peso comercial e
político na marinha mercante, a pertença aos grandes grupos económicos portugueses e
a sua ligação aos interesses metropolitanos e coloniais. Após uma contextualização da
situação da marinha mercante nacional, o artigo analisa as medidas tomadas pelo
governo para responder à crise de 1929 e à Grande Depressão neste setor, dando
particular atenção ao processo de ingerência do governo ditatorial na organização
administrativa e interna, nas estratégias de exploração e na gestão financeira das duas
companhias, quando a marinha mercante passou a ser considerada de interesse geral. A
segunda parte analisa o projeto de exploração do transporte marítimo para as colónias
africanas em regime monopolista e de exclusividade, o qual foi posto à discussão em
Câmara Corporativa em 1939. Este projeto permite-nos observar como um serviço
público foi pensado e concebido pelo regime ditatorial português, dando à exploração
do seu espaço colonial um lugar privilegiado, e avaliar a recetividade e os recursos das
empresas para negociarem esta nova função.

1. A marinha mercante nacional e o


processo de intervenção do estado
ditatorial
5A literatura sobre o Estado Novo tem dado a conhecer os anos 1930 como um
momento-chave para a consolidação do novo regime ditatorial (Rosas 2012). A
cartelização corporativa, o condicionamento industrial, a proteção das pautas ou a
anulação da liberdade sindical e do direito à greve são apontados como ferramentas
utilizadas para assegurar a regulação da vida económica e social nacional (Rosas 2000,
17-62; Garrido 2012, 458-468; Brito 1989). Com projetos económicos nacionais iniciais
ainda pouco claros (Brito 2000, 99), o pragmatismo marcou a intervenção estatal na
regulação das relações económicas, cabendo ao governo evitar ruturas entre os, por
vezes divergentes, interesses económicos metropolitanos e coloniais (Rosas 1996, 118-
121 e 137-148; Clarence-Smith 1990, 153-187; Rosas 2012, 300). Inseridas numa rede
extensiva de contactos, com estruturas financeiras piramidais, com fraca
internacionalização e ligadas ao setor bancário nacional (Fernandes 2013, 312-318;
Silva, Amaral e Neves 2016, 50-51), as empresas cresceram durante os anos 1930 sob a
proteção do estado, apesar da rigidez do sistema limitar a atividade empreendedora e a
capacidade decisória (Silva, Amaral e Neves 2016, 64-65).

 1 Decreto-Lei nº 18570 – Secretaria-Geral (SG) do Ministério das Colónias


(MC). Diário do Governo ( (...)

6No âmbito do projeto de autossuficiência económica e de redefinição de um novo


pacto colonial, legitimado por razões económicas, ideológicas e políticas de afirmação e
de consolidação das posições portuguesas fora da metrópole perante as ameaças
internacionais (Alexandre 1993, 1127-1134), a marinha mercante nacional ficou
incumbida da função de servir o interesse público conducente à consolidação do império
português.1 Os acontecimentos internacionais (Conferência de Berlim, Ultimato
britânico e crise de 1890-1893), a forte competição europeia nos espaços coloniais e o
regresso a um protecionismo no comércio internacional (Stearns et al. 2015, 671; Neal e
Cameron 2016, 271-92) tinham já levado Portugal a redobrar esforços para assegurar a
sua dominação colonial através de múltiplas estratégias (Telo 1994, 199-233). Enquanto
avançava com a ocupação militar, o governo português apelou ao investimento
estrangeiro para sustentar o desenvolvimento das infraestruturas. A situação geopolítica
de Angola e de Moçambique colocava finalmente Portugal numa posição favorável para
negociar, com as restantes potências imperiais (principalmente a Inglaterra), as
condições de exploração e a proteção dos seus territórios coloniais e limitar a
ascendência económica e política estrangeira sobre estes.

7Esta estratégia revela as vulnerabilidades do projeto de dominação colonial português


e da marinha mercante nacional. A literatura tem apontado o desenvolvimento das
infraestruturas, a administração imperial centralizada de toda a rede portuária africana e
o papel das companhias de navegação, enquanto investidores financeiros e garantes das
conexões multiescalares, como fatores imprescindíveis para garantir a dominação
colonial e aumentar a rentabilidade dos navios, a sua modernização e a sua
internacionalização (Castillo Hidalgo 2015; Castillo Hidalgo e Mohammed-Chérif
2017). As companhias de navegação tinham também de dominar os avanços
tecnológicos para consolidarem a presença na exploração das rotas marítimas regionais
e internacionais e de garantir força negocial perante a concorrência externa privada
(Austen e Headrick 1981, 202-222). Portugal mal possuía estes meios, dificultando o
desenvolvimento de infraestruturas e a modernização da frota (para o vapor). Quando
comparada com a de outros impérios (Sturmey 2009, 91), a sua frota caracterizava-se
pela pequena dimensão e pela antiguidade das suas unidades. A estas dificuldades
juntava-se o limitado acesso a carvão para combustível e ao aço para a construção naval
(Moreira 1939).

 2 Companhia Nacional de Navegação. Relatório. Parecer do Conselho Fiscal e


documentos. Gerência de (...)

8A dificuldade portuguesa de afirmação nas rotas marítimas internacionais era


acentuada pela sua exclusão das conferences. Em regime de comércio livre ou
protecionista, as companhias estrangeiras de navegação recorreram a este sistema para
ditarem as condições de exploração das rotas e terem o domínio sobre elas (Olukoju
2001-2002). A exclusão das companhias portuguesas reduzia drasticamente a sua
margem negocial para poderem realizar uma atividade comercial mais competitiva e
lucrativa. Estes fatores obrigaram o governo a pensar, continuamente, em alternativas
para dinamizar o setor marítimo nacional e o proteger da concorrência estrangeira
(Moreira 1939, 33-36), por via da realização de contratos entre o estado e as
companhias portuguesas de navegação e pela sua proteção no comércio entre as
colónias e a metrópole (pautas aduaneiras e subsídios), algo de que as companhias não
podiam beneficiar em rotas marítimas internacionais (norte da Europa, América
Latina).2

 3 Sociedade Agrícola da Ganda, Companhia de Amboim e firma E. Guedes


Limitada da Guiné.

9No fim da Primeira Guerra Mundial, destacava-se a Empresa Nacional de Navegação,


criada em 1882 e que se passou a chamar Companhia Nacional de Navegação (CNN)
em 1918. A CNN, pela sua antiguidade, tamanho da frota, capital social e relação
privilegiada com o governo – contratos públicos – era considerada uma das principais
companhias portuguesas (Moreira 1939, 11-20). De igual forma, a Companhia Colonial
de Navegação (CCN), criada em 1922 por empresas agrícolas e comerciais de Angola e
da Guiné3 e ligada ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) (Fernandes 2013, 317),
também se introduziu na exploração das rotas marítimas a partir das colónias
portuguesas africanas (Angola, Guiné) (Filho et al. 2020, 397). A Grande Guerra gerou
uma reconfiguração geopolítica das forças marítimas internacionais que atuavam,
abrindo o espaço para oportunidades de afirmação de companhias de navegação que
tinham, até então, ficado à margem. Estas oportunidades eram apoiadas pelos novos
planos de fomento, assentes num plano de obras públicas financiado por créditos
nacionais (BNU), e por novas formas de extração mineira e de produção agrícola para a
exportação. Previa-se igualmente a proteção da marinha mercante nacional para garantir
a ligação entre os portos coloniais e a metrópole (Proença 2010, 508-509). Neste
cenário, as companhias portuguesas de navegação puderam desenvolver o seu comércio
(Telo 1994, 233-237), sem demonstrarem, no entanto, aumentos significativos. O
transporte continuava a realizar-se principalmente com unidades antigas e com veleiros
(Clarence-Smith 1990, 122-134).

 4 Arquivo Histórico da Marinha (AHM), Fundo Marinha Mercante (FMM),


1918-1940, cx 1389: Relatório p (...)

10A retração do financiamento bancário interno e externo, assim como as críticas do


poder central português e internacional sobre a gestão das colónias, travou a execução
em curso dos planos coloniais de fomento, acentuando a situação de instabilidade
económica colonial e a paragem das relações comerciais com a metrópole. Mantinha-se
uma gestão administrativa e uma estratégia de exploração da rede portuária deficiente,
acentuada pela situação geopolítica diferenciada das duas colónias. A estes problemas
devemos juntar as guerras de tarifas e as lutas para aumentar as frotas respetivas entre
companhias portuguesas de navegação, que visavam eliminar a concorrência nacional
(Medeiros 1935, 13-14; Clarence-Smith 1990, 133-134). O processo de extinção dos
Transportes Marítimos do Estado (TME) é um dos exemplos, garantindo, ao mesmo
tempo, a disponibilização de navios, apesar de antigos, às companhias restantes.4

 5 Decreto nº 12605 – SG do MC. DG, I Série, nº 248, 5 de novembro de 1926;


Decreto nº 13101 – SG do (...)
 6 AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx 1358-12: Carta do Gabinete do Ministro
das Colónias para o Ministro (...)

11O desafio da absorção e da reparação de navios significava, porém, o investimento de


um capital avultado, pelo que o Ministério das Colónias da Ditadura Militar decidiu
conceder subsídios reembolsáveis a uma taxa de juro de 6% e em 40 prestações.5
Estimulava-se, ao mesmo tempo, a exploração de linhas regulares com a África
portuguesa. A situação das companhias continuou, todavia, a piorar, com os pesados
encargos associados à reparação da frota herdada dos TME (Santos 1939, 7), com a
deterioração da situação económica e financeira nas colónias e com os efeitos da crise
de 1929 sobre o comércio internacional. O pagamento da dívida à Caixa Nacional de
Crédito (CNC) tornou-se um problema espinhoso, alterando a relação do estado com as
companhias de navegação, visto este ser um dos obrigacionistas das companhias. Ao
mesmo tempo, teve de repensar alternativas de reembolso e os apoios públicos
concedidos.6 A dívida iria assim servir, ao longo dos anos 1930, de ferramenta para
legitimar uma maior ingerência do governo na organização administrativa e nas
estratégias empresariais seguidas, dentro do sistema corporativo. Do lado das empresas,
iria favorecer a negociação de uma maior proteção do estado e a eliminação da
concorrência nacional.

2. A viragem com o Ato Colonial


 7 Decreto nº 20700 – Direcção-Geral da Marinha (DGM) e Direcção da Marinha
Mercante (DMM) do Minist (...)
 8   Expressão utilizada no decreto nº 20700. O termo “dicopolista” corresponde
ao termo duopolista q (...)
12Com o Ato Colonial de 1930,7 o governo deu início ao processo de transformação da
relação do estado com as companhias portuguesas de navegação na estrutura e nas
atividades a desenvolver. Ao decretar o serviço da marinha mercante nacional como um
bem de interesse público, o governo concedia especificamente à CNN e à CCN,
principais interessadas no transporte marítimo a partir de Angola e de Moçambique, a
responsabilidade de explorarem as rotas comerciais com a metrópole, numa rutura com
as práticas anteriores. A atividade marítima nacional deveria ser desenvolvida em
regime ‘dicopolista’8 para sustentar a política económica nacional de autossuficiência,
dentro de um espaço económico português alargado. As novas funções e os objetivos a
cumprir pela marinha mercante nacional significavam uma maior intervenção das
instituições estatais na organização interna e na determinação da estratégia empresarial
das companhias de navegação, que tenderiam a estar cada vez mais afastadas duma
lógica puramente económica de exploração das rotas.

 9   AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx 1258-12: Ata nº1 da Comissão


encarregada de estudar a navegação pa (...)
 10 Redução de representantes no conselho de administração a cinco vogais
efetivos e a dois substitut (...)
 11 Decreto nº 21360 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 137, 9 de junho de
1932.

13A nomeação de uma comissão pelos ministérios das Colónias e da Marinha, em 1931,
a fim de estudar as medidas possíveis para um aproveitamento mais racional da frota
mercante, evidencia a preocupação estatal em reforçar a sua ingerência para atingir esta
finalidade. De facto, deviam ser repensadas as funções do estado como coordenador de
todas as atividades económicas e credor das empresas de navegação9 e, por último,
como garante dos apoios necessários para atingir os objetivos determinados (hipoteca,
crédito, exclusivismo da exploração). Já no início de 1931, o governo obrigou à
reorganização financeira e administrativa das empresas de navegação, estabelecendo
restrições nos estatutos e nas condições de votação nos órgãos deliberativos e
decisórios, e impondo a presença de um comissário nomeado pelo governo junto da
empresa.10 A venda dos navios, que tinham beneficiado de fundos públicos, passou a
estar condicionada à autorização da Direção da Marinha Mercante (DMM – Ministério
da Marinha).11

 12 Decreto-Lei nº 20701 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, 31 de dezembro


de 1931 (2 de janeiro de 1932 (...)
 13 Decreto-Lei nº 23432 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 1, 2 de janeiro
de 1934.
 14 Decreto-Lei nº 23676 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 62, 16 de
março de 1934.

14De maneira a arrumar e a disciplinar a concorrência interna (Ministério da Marinha


1966, 326), a criação do conselho arbitral tinha como função fixar, entre as empresas
nacionais de navegação, o preço dos fretes e das passagens e a atividade diária dos
navios, mediante a fiscalização da mesma direção.12 Em 1934, os contornos e as
funções do conselho arbitral mudaram para reduzir ainda mais a concorrência interna e
a intromissão de agentes intermediários.13 Denominado doravante conselho de tarifas, a
sua área de ação generalizou-se a todo o tráfego marítimo (ilhas, norte da Europa,
colónias de África), e sujeitou os armadores portugueses ao registo obrigatório na DMM
para poderem integrar este conselho.14 Sob a ação fiscalizadora da DMM, nele se
negociava a limitação da tonelagem total e dos navios que podiam explorar a rota de
África, as escalas e as datas de saída e de chegada, o valor das tarifas em cada rota
específica e o compromisso de nunca propor tarifas inferiores em portos nacionais às
estabelecidas em conselho de tarifas.

 15 Lei nº 1787 – Repartição do Gabinete do MM. DG, I Série, nº 138, 25 de


junho de 1925. Esta lei fo (...)
 16 Decreto nº 20468 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 254, 3 de
novembro de 1931.
 17 A nacionalidade portuguesa devia também ser confirmada aquando do
controlo das ações pelas autori (...)

15Outro ponto importante – de difícil resolução – relacionava-se com a nacionalidade


das empresas. A obrigatoriedade, desde o Ato de Navegação de 1863, de os
proprietários de navios serem de nacionalidade portuguesa tinha servido de ferramenta
de proteção da frota mercante portuguesa da concorrência estrangeira e como condição
aos apoios governamentais. Após uma fase de flexibilização desta restrição, para
facilitar a introdução de capital estrangeiro durante os anos 1920, esta exigência foi
retomada com o Estado Novo.15 O argumento, mais uma vez utilizado para reanimar
essa condição, relacionava-se com a recusa em conceder subsídios a empresas de
navegação constituídas por capital estrangeiro.16 Esta preocupação inseria-se, aliás, no
projeto de Salazar de redução deste capital na economia portuguesa. A legislação de
1931 e de 1932 considerava como portugueses os sócios, parceiros e acionistas
originários de Portugal ou naturalizados há mais de cinco anos. A condição da
nacionalidade abrangia também o corpo gerente que exercia a fiscalização direta ou por
interposta pessoa. Os diretores, administradores e gerentes de empresas deviam residir
em Portugal. A tripulação devia ser obrigatoriamente de nacionalidade portuguesa,
incluindo os que trabalhavam nas zonas portuárias.17

 18 Decreto-Lei nº 22526 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 106, 15 de


maio de 1933.

16Um dos problemas levantados à definição da nacionalidade relacionava-se com a sua


verificação junto dos acionistas das sociedades anónimas presentes nas assembleias
gerais. Neste sentido, e para facilitar o trabalho de fiscalização, o Ministério da Marinha
decretou a proibição de as sociedades possuírem ações ou serem sócias de empresas de
navegação, exceto para algumas entidades coletivas. O decreto de 1933 determinou,
assim, que a condição da nacionalidade excluía as sociedades ou as parcerias com sedes
em Portugal e definitivamente registadas, a menos que instituições financeiras (Caixa
Geral de Depósitos, CNC), bancos emissores ou pessoas coletivas portuguesas em que o
estado tinha a maioria do capital ou ação deliberativa ou impeditiva por representantes
seus, tivessem representação na empresa. O património ou as ações adquiridas por
herança por uma entidade coletiva/individual estrangeira deviam também ser cedidos a
um cidadão ou a uma pessoa coletiva portuguesa (proprietário ou armador de navios).18

 19 AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx. 1358-12: Ofício da 3ª Repartição


(Fomento Marítimo) da Direção-Ger (...)
 20 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Fundo Companhia
Portuguesa dos Transportes Marítimos ( (...)
 21 Idem, Ibidem.

17A determinação da condição da nacionalidade portuguesa e da sua abrangência


levantaram claras dificuldades a um setor conectado ao capital estrangeiro (Rosas 1996,
64; Clarence-Smith 1990, 181-182). O decreto de 1933 eliminou as sociedades com
ações averbadas, incluindo as casas bancárias, das companhias de navegação. Foi o caso
do Banco Espírito Santo, que se viu forçado a vender as suas ações da CNN.19 As
empresas sediadas e constituídas por capital das colónias portuguesas africanas, ou que
tinham recebido um empréstimo de instituições financeiras, podiam igualmente ser
excluídas de uma representação legal dentro das companhias portuguesas de navegação.
O caso da CCN e da fusão da Companhia Amboim e da Sociedade Agrícola da Ganda
na Companhia Geral de Angola ilustra as dificuldades sentidas para garantir a
representação desta última em assembleia geral, apesar de possuir mais de 15 371 ações
da empresa.20 A posse de obrigações pela CNC e pelo Banco de Fomento Colonial
(BFC), que não foram consideradas como instituições diretas do estado português,
impediu a Companhia Geral de Angola de ser acionista da CCN. O problema colocou-se
sobretudo no estatuto do BFC, que pelo menos até 1938 era considerado como
organismo da colónia de Angola e não do governo português.21

 22 Decreto nº 19306 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 28, 3 de fevereiro


de 1931; Decreto nº 20321 (...)

18Por último, a reformulação da regulamentação sobre as novas imposições marítimas e


portuárias para mercadorias e passageiros, baseada num nacionalismo económico para
responder aos efeitos da crise, ajudou a condicionar o transporte marítimo nacional
dentro do espaço económico nacional e colonial. A revisão dos acordos comerciais,
baseados na igualdade de tratamento, obrigou à concessão dos mesmos direitos a navios
portugueses e estrangeiros. Porém, e no caso das mercadorias importadas e exportadas
nas colónias, concedia-se aos governadores das colónias o poder de aumentar os
impostos em vigor para a navegação dos países com quem Portugal não tinha acordo de
igualdade de tratamento. Na realidade, a política aduaneira tinha de ser pragmática, de
modo a compensar os efeitos negativos da concorrência estrangeira autorizada com os
acordos.22

 23 Companhia Nacional de Navegação. Relatório. Parecer do Conselho Fiscal e


documentos. Gerência de (...)

19O início dos anos 1930 foi uma fase de profunda reformulação da atividade do setor
da marinha mercante nacional desde que foi decretado o serviço de interesse público.
Além da tentativa de resolução financeira das duas companhias, pairava a necessidade
de consolidar a posição portuguesa nas colónias e de se proteger do exterior, dado os
imperativos ditados pela Grande Depressão (como encontrar investimento estrangeiro) e
o incremento das pressões internacionais, que questionavam a capacidade portuguesa de
gestão do espaço colonial (Gonçalves 2021). As iniciativas legais recentraram a
exploração do transporte marítimo entre as colónias e a metrópole na CCN e na CNN
sob proteção estatal, fazendo parte de um projeto de cartelização corporativa em
curso.23 A necessidade de resgatar e de proteger as empresas nacionais de navegação
reforçou a ingerência do estado nas mesmas. Esta intervenção distinguiu-se claramente
da exercida nos períodos monárquico e republicano por não se intrometer diretamente
na estrutura administrativa das empresas.
20Apesar das duas companhias demonstrarem sinais de melhoria em meados dos anos
1930, a situação ainda era considerada insuficiente, o que levou a repensar
constantemente o papel da marinha mercante na economia nacional. A nomeação de
várias comissões desde 1931 para rever a sua situação confirmava a dificuldade em
encontrar formas de compromisso entre os diferentes interesses em jogo. Foi neste
contexto que, a partir de 1934, se concebeu o projeto de exploração das rotas coloniais
para a metrópole em regime de serviço público e de exclusividade e a ser realizado por
uma só companhia. Nesse ano, o estado ditatorial já tinha atingido um grau de
legitimidade tal que lhe permitia propor uma reestruturação mais profunda do setor
empresarial marítimo português através da fusão das duas companhias. Esta proposta
levantou resistências dentro de um espaço permissivo à reformulação da natureza e do
grau de intervenção do estado no setor privado, sem, porém, a eliminar totalmente.

3. O projeto de exploração marítima do


tráfego colonial em regime de concessão
 24 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da
Câmara Corporativa, sup (...)

21Em 1939, o Ministério da Marinha apresentou um projeto de lei à Câmara


Corporativa preparado pela comissão nomeada em 1934 e encabeçada pelo almirante
Artur de Sales Henriques, no qual determinava novas condições de exploração marítima
das colónias portuguesas.24 Esta comissão estudou a situação da marinha mercante
nacional, com o objetivo de conceber um plano que tivesse em consideração as
dificuldades conjunturais e estruturais, nacionais e internacionais, e o grau de
dependência nacional em relação às indústrias estrangeiras. Vários problemas foram
apontados nos relatórios. Ao endividamento e à difícil reorganização interna e
administrativa das empresas juntava-se o problema do envelhecimento dos navios e a
incapacidade de obter o capital necessário para a sua renovação. Outro problema
relacionava-se com o desentendimento, entre as companhias, para a fixação das tarifas e
a tensão para manter preços altos, no contexto caótico de reorganização do sistema
económico nacional entre a metrópole e as colónias e de garantia da concertação
nacional.

22O processo de reorganização da marinha mercante tinha de integrar propósitos


económicos nacionais mais gerais (de contenção social e das despesas públicas, de
proteção à produção nacional, de abastecimento nacional e de equilíbrio da balança de
pagamentos). O grau de intervenção estatal na cartelização corporativa dos setores de
atividade dependeu muito da importância socioeconómica estratégica do setor de
atividade, caracterizada pela agregação ampla dos interesses envolvidos nesta
cartelização. Por exemplo, a reorganização do setor das pescas envolveu subsetores
económicos (comercial, armazenamento, distribuição, transporte marítimo e construção
naval) com interesses por vezes antagónicos e situados em espaços geopolíticos
distintos (metrópole, colónias) (Garrido 2010, 101-220). Articular estes diferentes
subsetores para reforçar a qualidade e a competitividade da marinha mercante e
encontrar consenso era difícil, uma vez que este setor se inseria também no cruzamento
da reorganização de diferentes setores económicos de atividade, que necessitou de
enquadramento superior por instituições do estado através das estruturas corporativas
(organismos de coordenação económica e grémios).

23O plano determinado pela comissão de 1934 previa a inclusão de medidas que
garantissem, simultaneamente, a redução das despesas associadas à atividade da
marinha mercante e aos custos de transformação de natureza administrativa e o aumento
do capital e sustentação da renovação da frota num prazo de 25 anos. Reconhecendo a
impossibilidade de estar em todas as frentes, e de acordo com as prioridades políticas, a
comissão priorizava as rotas consideradas de interesse nacional, ainda que algumas não
tivessem sustentabilidade económica. As rotas marítimas, que ligavam a metrópole às
colónias portuguesas africanas e orientais, eram consideradas imprescindíveis,
colocando-se, em segundo plano, rotas de interesse político nacional reconhecido mas
não imediato (Brasil, rota oriental). Para rematar, as conclusões da comissão apelavam
ao fim da concorrência nacional mediante a fusão entre CNN e a CCN, como única
forma de viabilizar a exploração das colónias, o que supunha pôr fim ao sistema
duopolista que então vigorava, para passar a um regime de monopólio.

 25 Tanto Bernardino Corrêa como o comissário junto da CCN tentaram uma


intervenção direta junto de S (...)
 26 ANTT, Fundo CPTM, NT 3535: Parecer do advogado José do Vale Matos
Cid, 9 de agosto de 1938; e ofí (...)

24Dos resultados da comissão apresentados, o governo apostou na solução da fusão, e


nomeou uma comissão para a concretizar. Mas a negociação com as companhias não foi
pacífica, por se oporem a este projeto de fusão. Dada a antiguidade do serviço, a
situação financeira mais desafogada (uma vez que só tinha como credor o estado) e a
capacidade de compra de algumas unidades novas durante os anos 1930, e isso apesar
dos escândalos associados à CNN, esta parecia ter maior legitimidade para desempenhar
o exclusivo da exploração, o que fez aumentar as tensões com a CCN.25 Ambas as
companhias enfrentavam problemas financeiros graves. Todavia, a situação da CCN
parecia mais complexa. À dívida com a CNC somavam-se as contraídas junto do BFC
(5 000 000 escudos) e de credores (14 000 281 escudos). A CCN via-se também com
dificuldades no reconhecimento dos seus acionistas sediados nas colónias africanas. A
obrigatoriedade da nacionalidade portuguesa levou a companhia a reduzir o seu capital
social em 15 000 000 de escudos.26

 27 Anexo nº 3: Representação dos organismos económicos do Porto contra o


monopólio proposto, 11 de d (...)
 28 A CCN propunha o aumento do capital para 60 000 000 escudos a partir do
reembolso de créditos do (...)

25Como seria de esperar perante tal situação, a CCN defendeu a manutenção do sistema
duopolista, e fê-lo com a apresentação de relatórios que confirmavam as suas vantagens,
apoiando-se em organizações económicas metropolitanas e coloniais para fazer valer a
sua posição.27 Apesar de a CCN ter avançado com uma proposta, foi a CNN quem, na
realidade, teve maior protagonismo. As suas propostas contemplavam os meios para
constituir o capital da empresa, para liquidar os débitos e para absorver a frota da CCN
e indemnizá-la por cessação de negócio, amortizar a frota e renovar as unidades.28 No
entanto, as duas companhias nunca chegaram a um acordo de fusão. Nenhuma proposta
conseguia igualmente evitar que o estado interviesse para proteger a futura companhia
da concorrência estrangeira e para aliviar a situação das empresas no caso de se verificar
uma diminuição significativa da rentabilidade das rotas marítimas. A lógica de
exploração, assente na ideia de um serviço público que não seguia uma finalidade de
rentabilidade económica, mas política, permitiu às companhias legitimar a proteção
estatal, vista como indispensável.

 29 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da


Câmara Corporativa, sup (...)

26Apesar dos falhanços nas negociações, o ministro da Marinha decidiu então submeter
um projeto de exploração à apreciação da Câmara Corporativa. Rejeitando o sistema
duopolista ou de livre concorrência, esta proposta afastava-se de uma nacionalização da
empresa de navegação. Uma empresa privada, escolhida mediante concurso público,
deveria realizar, em regime de concessão e sem concorrência nacional, um serviço
“normal e eficiente”, com pretensão “para ver satisfeitas por modo regular as exigências
da soberania e as necessidades do público”.29 As bases do projeto de lei previam a
exploração do tráfego entre a metrópole e as colónias africanas (Angola, Moçambique)
de longo curso e de cabotagem, de mercadorias (exceto o transporte de produtos
petrolíferos e derivados) e de passageiros.

27O transporte de carga e de passageiros entre a metrópole e Guiné e Cabo Verde era
recusado, por ser realizado sob regime de exclusividade, salvo situação excecional. Esta
exclusividade derivou de uma disputa entre as três companhias sobre as pretensões da
Sociedade Geral de Indústria, Comércio e Transporte (SGICT) em afretar os seus navios
nas rotas angolanas e moçambicanas em 1933-1934, barrada pela pressão e pela
influência exercida pela CNN e CCN no conselho de tarifas e no Ministério da Marinha.
A SGICT nunca pôde interferir nessas rotas, mas acabou por assegurar a exclusividade
da exploração das suas rotas e ficar responsável pelo desenvolvimento da construção
naval em Portugal (estaleiro naval de Lisboa), a fim de garantir a construção e a
renovação da frota nacional. O projeto, concedido por Salazar, virá, no entanto, a
demonstrar as suas fragilidades, devido ao custo elevado de construção e de renovação e
às rivalidades persistentes entre as companhias de navegação (Faria 2009, 300-312). Por
último, a nova sociedade tinha de garantir o transporte de passageiros da Guiné e de
Cabo Verde para Angola e Moçambique. Os restantes destinos, assim como as zonas de
livre tráfego, mantinham-se em regime de livre concorrência, através de acordos
bilaterais. O concurso seria aberto a todas as entidades individuais ou coletivas de
nacionalidade portuguesa que depositassem um capital mínimo de 2 000 000 escudos na
CGD, em dinheiro ou em títulos da dívida pública portuguesa, como garantia das
obrigações. A nova sociedade deveria ser constituída por 60% de ações nominativas e
averbadas a pessoas singulares ou coletivas – incluindo instituições de crédito – de
nacionalidade portuguesa.

28Independentemente de a nova sociedade ser ou não criada a partir de uma das


companhias de navegação existentes, ou a partir da fusão das duas companhias, quando
criada autonomamente, receberia, mediante acordo, todo o material e as instalações das
duas companhias de navegação. Em vez de optar pela indemnização, o estado propunha
disponibilizar os meios necessários para proceder à liquidação do património de ambas
as companhias, de acordo com o valor que lhe era alocado. Em contrapartida, as antigas
companhias receberiam ações representativas de capital em regime especial, distintas
das ordinárias. As dívidas da CCN e da CNN para com o estado teriam representação no
capital em ações ordinárias. No prazo de cinco anos, a nova sociedade comprometer-se-
ia a assegurar a renovação da frota a partir do capital social, junto com o capital
obrigacionista tomado pela CGD, com uma taxa de juro mínima de 4,5% e da hipoteca
da frota. A sua amortização serviria para pagar a dívida, de cuja execução dependia a
redistribuição dos dividendos. Na falta de acordo, uma comissão de avaliação deveria
procurar chegar a ele e, em caso de insucesso, o governo português tomaria a
responsabilidade de requisitar o material necessário e útil às empresas para o
funcionamento do serviço.

29A nova sociedade continuaria ainda sujeita a restrições nos órgãos decisórios. O
conselho de administração seria limitado a cinco membros, sendo dois deles nomeados
pelo governo, que teriam, ao mesmo tempo, a função de fiscalizar a sua atividade. Este,
por seu lado, seria ainda completado por um organismo do estado ainda por definir. A
fixação e a alteração das tarifas deveriam ser feitas por uma entidade oficial da qual a
nova sociedade anónima seria dependente. Ser-lhe-ia imputada também a
obrigatoriedade de transportar gratuitamente o correio e os colonos (máximo 10% da
lotação disponível) em terceira classe, de acordo com os projetos públicos de
colonização. A absorção do património das atuais companhias de navegação obrigava à
resolução da questão dos seus trabalhadores. A nova sociedade deveria dar preferência
ao seu recrutamento, cabendo ao governo a resolução da situação dos trabalhadores
desempregados. Por último, previam-se as condições de cessação do contrato. A
rescisão podia ser feita a qualquer altura do contrato, em caso de não cumprimento dos
objetivos pela companhia de navegação. Nesse caso, se tivesse assegurado o reembolso
do capital obrigacionista, a concessionária perderia o fundo de renovação da marinha
mercante. Caso contrário, este serviria para a liquidação da empresa. O resgate, após
dez anos de exploração em regime de concorrência, ficaria sob a responsabilidade do
estado, que pagaria a anuidade do capital obrigacionista e o dividendo, no valor máximo
correspondente a 5%, até acabar a concessão.

4. A reformulação do projeto pela


Câmara Corporativa
30O parecer da Câmara Corporativa não condenou o projeto apresentado, uma vez que
estava consolidada, pelos procuradores, a ideia de que o serviço de transporte marítimo
só se poderia realizar em regime de serviço público. As fragilidades do sistema da livre
concorrência, a incapacidade financeira para oferecer transportes suficientes e o medo
dos efeitos perturbadores sobre o serviço público de uma multiplicação de concorrentes
foram as razões apontadas para excluir a sua realização dentro do regime de livre
concorrência. De facto, dos 13 procuradores presentes, Alfredo da Silva e Francisco
Gonçalves Velhinho Correia foram os únicos a oporem-se ao sistema de monopólio
exclusivo ou duopolista, sendo que o protesto de Alfredo da Silva se deve à sua
tentativa de se introduzir nas rotas angolanas e moçambicanas acima referidas. Apesar
da pressão que exerceu junto do Ministério da Marinha, do conselho de tarifas e junto
de Salazar para garantir um lugar no mercado comercial colonial africano, esta tentativa
foi constantemente barrada pela CNN e pela CCN que, com a influência que possuíam
no meio político (Faria 2009, 252-282), justificaram a sua posição pela necessidade de
controlar o excesso da concorrência prejudicial à rentabilidade do negócio e,
consequentemente, ao reembolso da dívida pública.
 30 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da
Câmara Corporativa, sup (...)

31Contrariamente ao projeto, o parecer da Câmara Corporativa considerava que a


concessão deveria ser entregue a uma empresa, a Companhia Nacional da África
Portuguesa (CNAP), criada a partir da fusão entre a CCN e a CNN. Esta posição
justificava-se pela necessidade de evitar a entrada de capital estrangeiro, a dispersão das
funções e da frota e a divisão dos lucros entre as duas empresas,30 mas também pelo
imperativo de salvaguardar as redes de conhecimento e o savoir-faire de ambas as
companhias. A fusão deveria ser realizada de forma equitativa, para evitar um processo
moroso de incorporação e de gestão de litígios, já que, tal como foi referido, convinha
adotar um sistema que tivesse em consideração a complexidade da realidade marítima
nacional. A Câmara Corporativa não descartava a introdução de capital novo a partir da
participação da SGICT enquanto simples acionista da futura empresa.

 31 Subsídios, garantias de juro, coparticipação do estado no capital da empresa.

32Porém, o principal acionário devia ser a antiga CNN, com 60% das ações
nominativas e com acionistas de nacionalidade portuguesa. Com três princípios
norteadores – assegurar a renovação da frota com o capital das duas empresas, com
capital novo e com crédito do estado; cumprir o reembolso dos créditos do estado; e
garantir a continuidade da exploração –, a discussão centrava-se nas modalidades de
realização deste monopólio e na determinação das responsabilidades que caberiam a
cada um, ao estado e à nova companhia. Uma vez que o projeto de serviço público não
contemplava a realização de lucro, mas previa prioritariamente asseverar a perenidade
da sua manutenção, considerava-se não haver formas de evitar uma compensação pela
parte do estado nas rotas exploradas em situação de deficit.31

33A Câmara Corporativa via nas condições de acesso das ações e nas prerrogativas
associadas ao projeto do Ministério da Marinha uma porta aberta à introdução de mais
capital estrangeiro. As modalidades de fiscalização da empresa foram igualmente
contestadas, ao afirmarem não caber esta função aos membros do conselho de
administração escolhidos pelo estado, mas sim a entidades coletivas/individuais
externas já existentes – DMM, comissário do governo – ou a criar. Nas reuniões do
conselho de administração e da comissão executiva, o comissário pelo governo não
poderia ter direito de voto, mas poderia impor um veto às decisões, caso não fosse
respeitada a lei, os estatutos da empresa ou o bem público. A decisão ficava em
suspenso, até validação ministerial. As formas de liquidação das dívidas pela CNAP
foram igualmente levantadas, e a Câmara Corporativa não via outra solução a não ser a
de as juntar e de realizar o pagamento mediante uma taxa de juro baixa (menos de 3%)
em 24 prestações, uma vez que a marinha mercante era uma entidade de interesse
nacional. A nova dívida seria assegurada com a hipoteca dos navios, das instalações e
de outros materiais, sendo possível reforçá-la com o penhor da totalidade ou de parte
das ações conferidas às antigas CNN e CCN.

 32 Para portos estrangeiros, portos nacionais desde que não servidos de forma
regular, entre a metró (...)

34O governo poderia exigir que, ao pagamento do seu crédito, fossem aplicados os
dividendos das mesmas ações. Estas ações seriam retidas na CNC até 1952, e libertadas
à medida que a dívida fosse sendo paga. Caso a CNAP decidisse vender um navio e o
dinheiro da venda não fosse utilizado totalmente para a amortização da dívida, o
governo podia exigir uma segunda hipoteca sobre os navios adquiridos pela CNAP. Ao
mesmo tempo, e para assegurar a renovação da frota nos próximos cinco anos, a Câmara
sugeria que a CNC tivesse representação em obrigações, amortizadas em 25 anos e a
uma taxa de juro inferior a 3%, sem que os acionistas pudessem receber dividendos. A
hipoteca dos navios realizar-se-ia somente quando a empresa atingisse o capital social
de 60 000 000 escudos. Perante a eventual perda de lucros reivindicada pelas empresas
de navegação, a Câmara Corporativa opôs-se à imposição de transporte gratuito de
cargas e de passageiros por conta do estado. Quis igualmente assegurar a possibilidade
de realizar outras carreiras sem autorização do governo,32 desde que não prejudicassem
a exploração das carreiras obrigatórias. Aceitando a exclusão da exploração pela CNAP
da carreira do Oriente, a Câmara Corporativa considerava, no entanto, que esta
companhia deveria ser preterida se o governo decidisse realizá-la, e na condição de ser
subsidiada. A CNAP teria a responsabilidade de apresentar, num prazo de seis meses
após a sua constituição, um programa de exploração das rotas obrigatórias e de
renovação da frota, de maneira a que, ao perfazer os cinco anos, não tivesse em serviço
nenhum navio com mais de 20 anos de construção. Qualquer alteração ao programa ou
alienação de navios deveriam ser aprovadas pelo governo.

35Outro problema sensível, e que dificultava as relações entre o estado e as companhias


de navegação, relacionava-se com a modalidade de fixação das tarifas. De acordo com o
princípio de serviço público, o preço de venda não podia ter como base o custo de
produção, e esta fixação devia ser feita com ajustamentos globais sucessivos. O
princípio seria fixar os preços de acordo com as empresas, e posteriormente, se
necessário, realizar o reajustamento após ter passado um período de exploração das
rotas. A Câmara Corporativa propôs, então, uma forma de estabelecer a tabela dos
preços que considerava adequada e não imposta arbitrariamente. Contrariamente ao
conselho de tarifas, que limitava a representação dos interesses económicos às
companhias de navegação, o projeto da Câmara Corporativa previa a representação das
associações comerciais metropolitanas e coloniais (Associação dos Armadores,
Associação Comercial de Lisboa – Secção do Comércio Colonial, Comércio de Angola
e S. Tomé, Moçambique, Guiné e Cabo Verde). A CNAP teria a liberdade de
determinar tarifas especiais de transporte para quaisquer mercadorias, com preços
inferiores ao estabelecido nas tabelas, desde que fosse aprovado pelo governo por
intermédio do conselho de tarifas. A tabela fixada em 1939 deveria manter-se até 1944,
com a possibilidade, porém, de aumentar ou de diminuir as tarifas inicialmente
determinadas com ou sem autorização do governo.

36A proposta também estabelecia condições compensatórias (subsídios) em caso de


diminuição dos preços decidida pelo governo, de falta de rentabilidade e de
impossibilidade de pagar os encargos normais. A incorporação da mão de obra
excedentária derivada da fusão ficaria sob responsabilidade estatal, que regularia as
condições de despedimento. Restava avaliar as condições de resgate do exclusivo da
concessão. A questão principal estava na determinação das condições de transferência
do material e das instalações para a CNAP, assim como das indemnizações previstas
conceder a esta companhia de navegação. Neste caso, a empresa ficava impossibilitada
de explorar os seus navios, mesmo que desejasse fazê-lo nas rotas da África ou noutras,
colocando nas mãos do estado a obrigação de comprar o material. Em caso de remição,
a situação era mais complexa, porque o estado, através das obrigações dos empréstimos
para a compra de navios, deveria garantir a segurança e o rendimento dos capitais da
empresa, assim como a permanência das garantias. A posição da Câmara Corporativa
refletiu uma aceitação do projeto da Ministério da Marinha no seu cômputo geral, na
condição de uma proteção estatal adequada. Ao escrutinar os diferentes aspetos
abordados, verifica-se a procura de uma maior flexibilidade e autonomia perante as
obrigações da empresa a constituir, na concessão dos créditos e no reembolso da dívida,
na determinação das tarifas e no alargamento da representatividade dos interesses; na
presença do estado dentro da empresa e nos seus meios de fiscalização.

5. Conclusão
37A relação das companhias portuguesas de navegação com o estado teceu-se desde
cedo, pelo que a conceção das estratégias empresariais nacionais e das formas de
rentabilidade da exploração das rotas marítimas tiveram como base o enquadramento
oficial e, desde o pacto colonial do século XIX, estiveram associadas à estratégia de
dominação colonial. As vulnerabilidades eram várias e percorreram o período em
análise. Ao problema ligado ao investimento, às deficiências estruturais e ao tipo de
exploração colonial adotado para garantir a rentabilidade no comércio, importa também
juntar o peso político e económico das potências imperiais estrangeiras e dos seus
agentes económicos privados, dos quais Portugal era dependente. A declaração de
interesse público constituiu uma viragem importante no papel do estado na marinha
mercante nacional, mas também naquele que foi concedido às empresas de navegação
nas colónias.

38Os impactos das crises económicas e políticas dos anos 1920 e da Grande Depressão
obrigaram o estado a reconfigurar o papel da marinha mercante nacional e das colónias
na política económica e externa portuguesa. A partir desse momento, a relação entre os
protagonistas estreitou-se, também porque as empresas de navegação consideraram
imprescindível a intervenção do estado para regular e proteger a marinha mercante.
Assim, durante os anos 1930, o governo iniciou a reconversão das companhias de
navegação, agindo progressivamente e energicamente para regular o setor. A análise da
cartelização corporativa na marinha mercante demonstrou as várias etapas,
caracterizadas pela maior ingerência do estado na regulação das atividades do comércio
nacional e das companhias portuguesas de navegação em particular (organização interna
administrativa e financeira, acesso aos capitais, modalidades da renovação da frota,
definição das tarifas e das rotas a explorar).

39A dependência da proteção do estado permitiu-lhe avançar com medidas sobre a


organização das companhias, nomeadamente quando se procurou a fusão entre a CNN e
a CCN para resolver definitivamente o problema da concorrência interna. Porém, as
empresas de navegação tiveram margem de manobra para negociar e delinear os
contornos da sua intervenção, revelando a sua força negocial. O projeto de uma nova
sociedade visava sobretudo resolver os problemas da gestão dos interesses entre as duas
companhias e dos custos de exploração para assegurar o saneamento da situação
financeira e simultaneamente garantir a exploração das rotas marítimas coloniais a partir
da construção de um bloco marítimo unido. A alternativa encontrada foi a proposta de
criação de uma sociedade que obrigava à fusão das duas empresas. Nela, o estado foi
mais longe, não se limitando a determinar as condições de exploração da concessão,
mas também condicionando esta exploração à integração obrigatória do património das
duas empresas dentro da nova sociedade. As críticas ao excesso de intervenção estatal
ficaram expressas quando se procurou limitar a sua intromissão nos órgãos decisórios e
a sua participação no capital social da nova empresa a constituir. O parecer da Câmara
Corporativa apontou também para a importância de regular o sistema das tarifas, que
constituía um assunto de desentendimento grave entre as companhias e de difícil
resolução, uma vez que tinha impacto nos restantes setores económicos de atividade.
Apesar de ter sido aceite o sistema em vigor, a rigidez e o carácter arbitrário da
intervenção estatal na imposição das tarifas era regularmente referido, pelo que os
procuradores da Câmara Corporativa apelaram a uma maior flexibilidade na sua
determinação.

 33 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da


Câmara Corporativa, sup (...)

40Assinado em 2 de outubro de 1939, no contexto do início da Segunda Guerra


Mundial, o parecer da Câmara Corporativa acabou por servir somente de documento
informativo ao governo, na eventualidade de uma execução futura do projeto. Para os
redatores, “as soluções propostas, os valores e as datas indicadas no parecer já não se
adaptavam às novas condições criadas pela guerra; menos ainda, às condições futuras,
desconhecidas e imprevisíveis”.33 Os imperativos do conflito mundial conduziram a
atenção estatal para outros caminhos, marcado pela criação da Junta Nacional da
Marinha Mercante em 9 de outubro de 1939 que, ao recuperar as funções do conselho
de tarifas e do conselho superior da Marinha Mercante (Marinha 1966, 333-334), passou
a organizar o serviço de transporte marítimo através da racionalização e da
maximização dos meios disponíveis (Brázia 2010, 38). A sua criação foi mais um passo
determinante na regulação económica deste setor de atividade, que passou pela criação
de um órgão de coordenação económica estreitamente controlado pelo estado.

 34 Despacho nº100/1945, de 10 de agosto. In Renovação e expansão da frota


mercante nacional. Despach (...)

41Nunca mais chegou a ser repensado um projeto que cedesse a uma única companhia
de navegação a exploração do transporte marítimo com as colónias portuguesas. Após o
conflito, as principais companhias mantiveram-se. O despacho nº 100, que estabeleceu,
pela primeira vez, um plano geral de fomento da marinha mercante nacional, confirma-
o. A cada companhia portuguesa de navegação foi incumbida a tarefa de explorar rotas
marítimas determinadas pelo governo português.34 A adoção do regime de serviço
público na exploração das rotas marítimas coloniais, a responsabilidade concedida ao
estado na determinação da estratégia a adotar e nos modos de financiamento das
empresas consolidaram a ideia de haver uma maior proteção estatal a partir da
cartelização corporativa, a fim de evitar situações de instabilidade económica ou efeitos
negativos da concorrência estrangeira e nacional. Esta posição manter-se-ia ao longo
dos anos 1950 e 1960, marcando as estratégias económicas e comerciais internacionais
e coloniais. Foi finalmente no esforço de reorganização do setor marítimo nacional, e na
persistência da estreita relação entre o estado e as empresas de navegação tecida nos
anos 1930, que se construiu uma cultura empresarial que normalizou a proteção à
concorrência e a sua cartelização.

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Notas
1 Decreto-Lei nº 18570 – Secretaria-Geral (SG) do Ministério das Colónias (MC).
Diário do Governo (doravante DG), I Série, nº 156, 8 de julho de 1930.

2 Companhia Nacional de Navegação. Relatório. Parecer do Conselho Fiscal e


documentos. Gerência de 1931, Lisboa: Tip. Cristóvão A. Rodrigues, 1932, pp. 5-9;
Gerência de 1932, Lisboa: Tip. Cristóvão A. Rodrigues, 1933, pp. 5-11. Companhia
Colonial de Navegação, Relatórios e contas da Companhia Colonial de Navegação.
Exercícios de 1931, 1932, 1933, 1934 e 1935, Lisboa: s. ed., 1936, p. 4.

3 Sociedade Agrícola da Ganda, Companhia de Amboim e firma E. Guedes Limitada da


Guiné.

4 Arquivo Histórico da Marinha (AHM), Fundo Marinha Mercante (FMM), 1918-1940,


cx 1389: Relatório para o Ministro da Marinha sobre os cinco anos de atividade dos
TME, 20 de fevereiro de 1922.

5 Decreto nº 12605 – SG do MC. DG, I Série, nº 248, 5 de novembro de 1926; Decreto


nº 13101 – SG do MC, DG, I Série, nº 24, 29 de janeiro de 1927; Decreto nº 12348 –
SG do MC. DG, I Série, nº 223, 7 de outubro de 1927.

6 AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx 1358-12: Carta do Gabinete do Ministro das


Colónias para o Ministro da Marinha, nº 547, s.d.

7 Decreto nº 20700 – Direcção-Geral da Marinha (DGM) e Direcção da Marinha


Mercante (DMM) do Ministério da Marinha (MM). DG, I Série, nº 1, 31 de dezembro
de 1931 (2 de janeiro de 1932).

8   Expressão utilizada no decreto nº 20700. O termo “dicopolista” corresponde ao


termo duopolista que, doravante, será utilizado ao longo do texto.

9   AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx 1258-12: Ata nº1 da Comissão encarregada de


estudar a navegação para as colónias (relativa à portaria de 24 de fevereiro de 1931,
DG, II Série, nº 47, 27 de fevereiro de 1931).

10 Redução de representantes no conselho de administração a cinco vogais efetivos e a


dois substitutos; votação limitada na assembleia geral aos 20 principais acionistas.
11 Decreto nº 21360 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 137, 9 de junho de 1932.

12 Decreto-Lei nº 20701 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, 31 de dezembro de 1931


(2 de janeiro de 1932).

13 Decreto-Lei nº 23432 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 1, 2 de janeiro de


1934.

14 Decreto-Lei nº 23676 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 62, 16 de março de


1934.

15 Lei nº 1787 – Repartição do Gabinete do MM. DG, I Série, nº 138, 25 de junho de


1925. Esta lei foi revogada pelo Decreto-Lei nº 12358 – SG do MC. DG, I Série, nº 211,
22 de setembro de 1926.

16 Decreto nº 20468 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 254, 3 de novembro de


1931.

17 A nacionalidade portuguesa devia também ser confirmada aquando do controlo das


ações pelas autoridades marítimas e pelo comissário do governo junto das empresas no
momento das assembleias gerais. Decreto nº 21721 – DGM e DMM do MM. DG, I
Série, nº 239, 12 de outubro de 1932.

18 Decreto-Lei nº 22526 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 106, 15 de maio de


1933.

19 AHM, Fundo CNN, 1918-1949, cx. 1358-12: Ofício da 3ª Repartição (Fomento


Marítimo) da Direção-Geral da Marinha Mercante para o Ministério da Marinha, proc.
31 (17)1, TC/IS, 23 de outubro de 1936. Ver também o caso do principal acionista, a
firma Augustine, Reis e C.ª, sociedade comercial que possuía mais de 5 000 ações na
CNN. Carta para o Ministro da Marinha, sem remetente.

20 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Fundo Companhia Portuguesa dos


Transportes Marítimos (CPTM), NT3535: “Cópia – Parecer” do Comissariado do
Governo, s.d.

21 Idem, Ibidem.

22 Decreto nº 19306 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 28, 3 de fevereiro de


1931; Decreto nº 20321 – DGM e DMM do MM. DG, I Série, nº 216, 18 de setembro
de 1931; Decreto-Lei nº 24115 – Direção-Geral das Alfândegas do Ministério das
Finanças. DG, I Série, nº 151, 29 de junho de 1934; Decreto nº 26725 do Ministério das
Colónias. DG, I Série, nº 148, 26 de junho de 1936; Decreto nº 26807 – Gabinete do
Ministro do MC. DG, I Série, nº 167, 18 de julho 1936.

23 Companhia Nacional de Navegação. Relatório. Parecer do Conselho Fiscal e


documentos. Gerência de 1932. Lisboa: Tip. Cristóvão A. Rodrigues, 1933, pp. 5-11.

24 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura.
25 Tanto Bernardino Corrêa como o comissário junto da CCN tentaram uma
intervenção direta junto de Salazar para travar o projeto de fusão. Em ANTT, Arquivo
Oliveira Salazar, AOS/CO/MA-3, PT11: Carta de Bernardino Corrêa, diretor da CCN,
para o presidente do conselho Oliveira Salazar, Lisboa, 24 de fevereiro de 1939; e carta
para Oliveira Salazar, 1 de fevereiro de 1939.

26 ANTT, Fundo CPTM, NT 3535: Parecer do advogado José do Vale Matos Cid, 9 de
agosto de 1938; e ofício do Comissário do governo junto da CCN para o Ministro das
Finanças, 27 de agosto do mesmo ano.

27 Anexo nº 3: Representação dos organismos económicos do Porto contra o monopólio


proposto, 11 de dezembro de 1936. Publicada no Jornal do Comércio e das Colónias,
em 23 de janeiro de 1937 (Moreira 1939).

28 A CCN propunha o aumento do capital para 60 000 000 escudos a partir do


reembolso de créditos do Estado e das indemnizações da CCN pela cessação dos
negócios. As dívidas das duas companhias seriam convertidas em obrigações de 4%
amortizáveis em 24 anos. Também se previa a emissão de 20 000 000 escudos em
obrigações a partir da hipoteca dos navios destinados à CNC.

29 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura, p. 1.

30 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II Legislatura, p. 46.

31 Subsídios, garantias de juro, coparticipação do estado no capital da empresa.

32 Para portos estrangeiros, portos nacionais desde que não servidos de forma regular,
entre a metrópole e a África Oriental pelo canal de Suez, viagens de cruzeiro, de
tramping e de transporte de carvão, óleos e outras mercadorias para consumo próprio.

33 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura, p. 52.

34 Despacho nº100/1945, de 10 de agosto. In Renovação e expansão da frota mercante


nacional. Despachos do ministro da Marinha Almirante Américo Thomaz. Lisboa:
1958, pp. 7-15.

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Para citar este artículo


Referencia en papel

Yvette Santos, «O estado português, a marinha mercante e as colónias, 1926-


1939», Ler História, 79 | 2021, 111-133.

Referencia electrónica
Yvette Santos, «O estado português, a marinha mercante e as colónias, 1926-
1939», Ler História [En línea], 79 | 2021, Puesto en línea el 20 diciembre 2021,
consultado el 11 abril 2023. URL: http://journals.openedition.org/lerhistoria/9270; DOI:
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.9270

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Autor
Yvette Santos

Instituto de História Contemporânea, NOVA FCSH, Portugal

ivetesantos@fcsh.unl.pt

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1.3.Alienação na literatura Mocambicana


1.4.As marcas da alienação na literatura Mocambicana

Capitulo II. As marcas de alienação em canto dos guerrilheiros, de Sergio Viera

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Sérgio Vieira
Poeta e político moçambicano, Sérgio Vieira nasceu em 1941, em Tete (Moçambique).
Licenciado em Ciências Políticas, desde jovem se tornou ativista político. Durante os
estudos universitários, em Lisboa, esteve estreitamente associado às atividades culturais
da Casa dos Estudantes do Império (CEI) e, depois, exilado em Dar-es-Salam
(Tanzânia), dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da FRELIMO. Após a
independência do seu país, exerceu o cargo de Governador do Banco de Moçambique e
o de Ministro da Administração Interna.
Quanto à sua atividade literária, colaborou em alguns jornais e revistas, como o Jornal
de Angola e a Mensagem (CEI), publicou Também Memória do Povo (1983) e está
incluído em várias antologias de poesia, tal como Poetas Moçambicanos (1962), Breve
Antologia da Poesia de Moçambique (1967), Poesia de Combate (1977), No Ritmo dos
Tantãs (1991).
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SÉRGIO VIEIRA 
Poeta e político moçambicano, Sérgio Vieira nasceu em 1941, em Tete (Moçambique).Licenciado em
Ciências Políticas, desde jovem se tornou activista político. Durante os estudos universitários, em Lisboa,
esteve estreitamente associado às actividades culturais da Casa dos Estudantes do Império (CEI) e, depois,
exilado em Dar-es-Salam (Tanzânia), dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da FRELIMO. Após a
independência do seu país, exerceu o cargo de Governador do Banco de Moçambique e o de Ministro da
Administração Interna.

Quanto à sua actividade literária, colaborou em alguns jornais e revistas, como o Jornal de Angola e a
Mensagem (CEI), publicou também Memória do Povo (1983) e está incluído em várias antologias de poesia,
tal como Poetas Moçambicanos (1962), Breve Antologia da Poesia de Moçambique (1967), Poesia de
Combate (1977), No Ritmo dos Tantãs (1991).

 In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2008.

Disponível em: http://www.infopedia.pt/$sergio-vieira>.

TEXTO EM PORTUGUÊS   /  TEXTO EN ESPAÑOL

ALV ORADA

(um canto de confiança)

Sobre ti,
com o sangue

         e a tristeza que nasceu em nós,

desce a luz do dia que se faz.

Como morre na terra a vida,

         para que outras vidas germinem ao sol,

como se entrega crepitando ao fogo

         o ramo forte da árvore,

assim,

vida e calor,

grito novo de esperança,

chegas tu, no mistério do luto.

E ainda doloridas

         te oferecemos as nossas mãos trabalhadoras,

         vermelhos e tristes

         te entregaremos os nossos olhos vigilantes,

e as nossas vidas de combatentes

mil vezes serão tuas,

no grito novo e enorme

         como o flutuar da bandeira que içaste:

                   A luta continua

e sobre ti,

         com a tristeza de manhã de Fevereiro,

com a esperança do Sol que nasce,

com a força imensa da vida

que cresce no ventre da mulher,


sobre ti,

         desce a confiança do partido e do povo.

 A ti,

         reivindicamos a purificação e vingança

         que o nosso sentido de justiça exige,

         queremos um fogo ainda maior

         que ao marulhar das ondas do Índico

         respondam os canhões da esperança,

         que o limpopo transporte convulsivas

         as carcaças de pontes,

         que o Zambebe se transforme em Rovuma de Maputo

e a tua mensagem

         faça de nós ciclone devastando o inimigo.

E queremos

         no amor que te damos,

         na fé em que te envolvemos,

que nos transportes ao futuro

e faças da esperança das buganvílias

         grite alegria na pátria

         e o sangue se torne apenas recordação.

À Pátria que ele nos deixou

         deves acrescentar a revolução que a bomba

         deixou incompleta

e de nosso grito

         Independência ou morte

queremos construída
         a realidade do

                   Venceremos 

PORQUE SÃO COMO FLORES CAMARADAS

Porque são como flores camaradas


          as crianças que na Revolução
          descobrem o mundo.
Sobre o matope* pestilento
          da sociedade antiga
afirma-se
          frágil ainda
a planta nova de amanhã.
É no espaço duro e coletivo
          da enxada devorando a mata
que nasce a unidade
e na inteligência mobilizada
          no interesse comum        
          forja-se a consciência nova
                    camarada.
Como raízes dolorosamente
          penetrando por entre as pedras
buscando a água
          assim somos camarada
          aprendendo por cima das asperezas dos
                                       nossos erros
compreendendo
          na secura algébrica das fórmulas
 assimilando
          a seiva popular que nos faz crescer fortes.
E a ideia nova
                         camarada
como a semente
realiza se na terra.
E não são milagres
                       de deuses e espíritos
o que acontece,
apenas homens
                    pedra por pedra
levantando a represa
e na alegria da horta
          que se oferece
ecoam os cânticos da enxada.
Assim camaradas cresce a revolução
          revolucionários educando
          futuros revolucionários,
da guerra
          nascendo o homem que vence a guerra
na cooperativa
          gerando-se a indústria de amanhã
da FRELIMO
          vindo as gerações
                    do socialismo construído.

--------------------------------------------------------------------------------------------- 

TEXTO EN ESPAÑOL

Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA 

ALBORADA

(um canto de confianza)

Sobre tí,

         con la sangre

         y la tristeza que nació en nosotros,

desciende la luz del día que se hace.

Como muere en la tierra la vida,

         para que nuevas vidas germinen al sol,

como se entrega crepitando al fuego

         la rama fuerte del arbol,

si,
                   vida y calor,

         grito nuevo de esperanza,

llegas tu, en el mistério del dolor.

Y aú doloridas

te ofreceremos nuestras manos trabajadoras,

rojos y trites

         te entregaremos nuestros ojos vigilantes,

mil veces serán tuyas,

en el grito nuevo y colosal

         como el hondear de la bandera que izaste:

                  La lucha continúa

y sobre ti,

con la tristeza de la maña de Febrero,

         con la esperanza del Sol naciente,

         con la fuerza inmensa de la vida

         que cresce em el vientre de la mujer,

sobre ti,

         desciende la confianza del partido y del pueblo.

A ti,

         reinvidicamos la purificación y venganza

         que nuestro sentido de justicia exige,

         queremos un fuego aún mayor

         que al agitarse las olas del Índico

         respondan los cañones de la esperanza,

         que el Limpopo transporte convulsivas


         las carcasas de puentes,

         que el Zanzebe se transforme em Rovuma del Maputo

y tu mensaje

         haga de nosotros ciclón devastador del enemigo.

Y queremos

         en el amor que te damos,

         en la fe en que te envolvemos,

que nos transportes al futuro

y hagas de la esperanza realidad.

Es necesario que el rojo de las plantas

         grite alegría en la patria

         y la sangre se convierta solo en recuerdo.

A la Patria que él nos dejó

         debes añadir la revolución que la bomba

         dejó incompleta

y de nuestro grito

         Independencia o muerte

queremos construí

         la realidad del

         Venceremos. 

Poemas publicados originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar
cedido para la Biblioteca Nacional de Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la debida anuência del
traductor.

Página publicada em março de 2008            Poesia moçambicana

 
 

 
 
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2.1. Biografia de Sergio Viera

2.2 Apresentacao do texto em estudo

2.3. As marcas da alienação em canto dos guerrilheiros (indicar o tipo de aliencao e citar os
exemplos do texto correspontentes)

 INGRESSO.COM
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 PAGSEGURO
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3. Capital, Trabalho e Alienação, segundo Karl Marx

Capital, Trabalho e Alienação, segundo


Karl Marx
Segundo Marx, a relação capital, trabalho e alienação promovem a coisificação ou
reificação do mundo, tornando-o objetivo, sendo que suas regras devem ser seguidas
passivamente pelos seus componentes.

Segundo Marx, a relação capital, trabalho e alienação promovem a coisificação ou reificação


do mundo

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De acordo com Marx, capital e trabalho apresentam um movimento


constituído de três momentos fundamentais:

Primeiro, “a unidade imediata e mediata de ambos”; significa que num


primeiro momento estão unidos, separam-se depois e tornam-se estranhos um
ao outro, mas sustentando-se reciprocamente e promovendo-se um ao outro
como condições positivas;
Em segundo lugar, “a oposição de ambos”, já que se excluem reciprocamente
e o operário conhece o capitalista como a negação da sua existência e vice-
versa;

Em terceiro e último lugar, “a oposição de cada um contra si mesmo”, já que o


capital é simultaneamente ele próprio e o seu oposto contraditório, sendo
trabalho (acumulado); e o trabalho, por sua vez, é ele próprio e o seu oposto
contraditório, sendo mercadoria, isto é, capital.

Já a alienação ou estranhamento é descrita por Marx sob quatro aspectos:

1. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence a


outro. Isto tem como consequência que o produto se consolida, perante o
trabalhador, como um “poder independente”, e que, “quanto mais o
operário se esgota no trabalho, tanto mais poderoso se torna o mundo
estranho, objetivo, que ele cria perante si, mais ele se torna pobre e
menos o mundo interior lhe pertence”;

2. A alienação do trabalhador relativamente ao produto da sua atividade


surge, ao mesmo tempo, vista do lado da atividade do trabalhador, como
alienação da atividade produtiva. Esta deixa de ser uma manifestação
essencial do homem, para ser um “trabalho forçado”, não voluntário,
mas determinado pela necessidade externa. Por isso, o trabalho deixa de
ser a “satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para
satisfazer necessidades externas a ele”. O trabalho não é uma feliz
confirmação de si e desenvolvimento de uma livre energia física e
espiritual, mas antes sacrifício de si e mortificação. A consequência é
uma profunda degeneração dos modos do comportamento humano;

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3. Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se


também do gênero humano. A perversão que separa as funções animais
do resto da atividade humana e faz delas a finalidade da vida, implica a
perda completa da humanidade. A livre atividade consciente é o caráter
específico do homem; a vida produtiva é vida “genérica”. Mas a própria
vida surge no trabalho alienado apenas como meio de vida. Além disso,
a vantagem do homem sobre o animal – isto é, o fato de o homem poder
fazer de toda natureza extra-humana o seu “corpo inorgânico” –
transforma-se, devido a esta alienação, numa desvantagem, uma vez que
escapa cada vez mais ao homem, ao operário, o seu “corpo inorgânico”,
quer como alimento do trabalho, quer como alimento imediato, físico;

4. A consequência imediata desta alienação do trabalhador da vida


genérica, da humanidade, é a alienação do homem pelo homem. “Em
geral, a proposição de que o homem se tornou estranho ao seu ser,
enquanto pertencente a um gênero, significa que um homem permaneceu
estranho a outro homem e que, igualmente, cada um deles se tornou
estranho ao ser do homem”. Esta alienação recíproca dos homens tem a
manifestação mais tangível na relação operário-capitalista.

É dessa forma, portanto, que se relacionam capital, trabalho e alienação,


promovendo a coisificação ou reificação do mundo, isto é, tornando-o
objetivo, sendo que suas regras devem ser seguidas passivamente pelos seus
componentes. A tomada de consciência de classe e a revolução são as únicas
formas para a transformação social.

Por João Francisco P. Cabral


Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CABRAL, João Francisco Pereira. "Capital, Trabalho e Alienação, segundo Karl


Marx"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/capital-
trabalho-alienacao-segundo-karl-marx.htm. Acesso em 11 de abril de 2023.

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2. Filosofia

O que é a Alienação do Trabalho para


Marx?

Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação
A alienação (do latim, alienatio) significa estar fora de algo, estar alheio a algo. No caso
da alienação do trabalho, ela é o efeito do trabalhador não ter acesso aos bens que ele
mesmo produz.

O conceito de alienação do trabalho é um dos principais conceitos desenvolvidos por


Karl Marx ao longo de sua obra.

Numa linha de produção, por exemplo, o trabalhador faz apenas parte do processo,
estando completamente alheio ao produto final e, por consequência, do valor agregado
ao bem a partir de seu trabalho.

Entretanto, é pelo trabalho que, ao longo da história, o indivíduo se humaniza, domina e


transforma a natureza a favor de suas necessidades.

Marx, em sua obra principal, O Capital, argumenta sobre a construção da humanidade


ao longo da história. Através da história compreende-se que o desenvolvimento do ser
humano, desde seu início até os dias atuais, ocorreu por meio da luta de classes.

A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes. (Marx &
Engels, em O Manifesto do Partido Comunista)

Deste modo, o trabalho quando não dedicado ao interesse da humanidade, e sim de um


grupo específico, torna-se trabalho alienado. O indivíduo perde sua liberdade e
humanidade, torna-se apenas força de trabalho e é transformado em coisa.

Humanização pelo Trabalho


Para Marx, o trabalho é a forma como o ser humano constrói sua identidade ao superar
obstáculos comuns do dia a dia, através de sua imaginação e capacidade de produção. O
desenvolvimento da cultura fundamentou-se na produção, ou seja, no trabalho.

Deste modo, o ser humano diferenciou-se dos outros seres da natureza pela construção
de artefatos que visavam melhorar a vida de todos. A função do trabalho é
compreendida como a capacidade produzir coisas para suprir suas necessidades. No
caso do trabalho como forma de humanização, o resultado obtido é o bem-estar geral.

Veja também: Divisão Social do Trabalho

Trabalho Alienado
Ao longo da história, a humanidade se desenvolveu a partir de uma relação antagônica
entre dominadores e dominados (luta de classes), a produção passou a ter o objetivo de
suprir as necessidades da classe dominante.

A classe trabalhadora, também chamada de proletariado, perde o seu lugar de destaque e


deixa de ser o objetivo final de sua própria produção. Isso se dá a partir do momento em
que há uma transição no modo de produção.
Anteriormente, na manufatura e no artesanato, um trabalhador era dono dos meios de
produção e participava de todo o processo, desde a aquisição da matéria-prima até a
venda do produto final.

Deste modo, tinha total consciência sobre valor agregado por seu trabalho, que
corresponde ao valor do produto final subtraindo o valor dos custos de produção.

Na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica, ele é um


servo da máquina. (Marx, em O Capital)

A partir da revolução industrial, o trabalhador é alienado dos meios de produção, que


passam a ser propriedade de um pequeno grupo (a burguesia). Por conseguinte, essa
burguesia é, também, dona do produto final. Resta ao trabalhador, apenas, a posse de si
mesmo, entendida como força de trabalho.

O trabalhador passa a ser precificado e compreendido como mais um custo dentro do


processo produtivo, um análogo às máquinas e ferramentas. Esse pensamento, é
responsável pela desumanização do trabalhador e a origem do trabalho alienado.

Veja também: Alienação na Sociologia e Filosofia

Mais-valia e Lucro na Alienação do Trabalho


O trabalho deixa de ter como objetivo o suprir as necessidades comuns e o bem-estar,
para se transformar em um modo de obtenção de lucro a para a manutenção dos
privilégios da burguesia.

Desse modo, a exploração do trabalho é o ponto fundamental que sustenta o


capitalismo. O trabalhador é alienado de todo o processo produtivo e passa a ser dono,
apenas, de sua força de trabalho.

Sendo assim, o proletariado vende seu único bem, que é a força de trabalho, e essa passa
a ser posse do capitalista. O capitalista é o dono da matéria-prima, do maquinário, da
força de trabalho (do trabalhador), do produto final e, por conseguinte, do lucro.

O lucro é obtido pelo trabalho realizado na transformação da matéria-prima em bem de


consumo. Isso ocorre a partir da prática da mais-valia.

A mais-valia é a base do lucro e da dominação da classe trabalhadora pela burguesia.


Ela é o resultado da diferença entre o valor produzido e o valor pago ao trabalhador em
função de seu trabalho (salário).

Essa é uma das principais teses do marxismo, é sobre a ideia da mais-valia que diversos
teóricos desenvolvem a ideia da exploração da classe trabalhadora pela classe burguesa.

O objetivo da burguesia é sempre o de maximizar os seus lucros, o trabalhador, então, é


coagido a trabalhar mais, pelo mesmo preço. E, quem precifica, ou seja, diz quanto vale
o trabalho, não é o trabalhador, mas o capitalista.
O trabalho alienado faz com que o indivíduo não tenha uma real noção de seu valor.
Isso, aliado à necessidade de ocupar um posto de trabalho, faz com que esse indivíduo
tenha de se sujeitar às regras impostas pelo seu empregador. Do contrário, há um grupo
de desempregados que desejam ocupar esses postos de trabalho.

Marx chama a atenção para a função do desemprego como forma de manutenção dos
baixos salários e das péssimas condições de trabalho. A esse grupo de pessoas a espera
lugar em um posto de trabalho, Marx dá o nome de "exército de reserva".

A partir do momento em que um trabalhador ou trabalhadora toma consciência de sua


condição de exploração e exige melhores condições de trabalho, pode, facilmente, ser
substituído por um membro do exército de reserva.

Esse indivíduo, desumanizado, é compreendido como uma peça defeituosa de uma


máquina na linha de montagem, que necessita de reparo ou substituição.

O trabalhador só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se


sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho forçado.
(Marx, em Manuscritos Econômico-Filosóficos)

Veja também: A Mais Valia de Karl Marx

Processo de Reificação e o Fetichismo da Mercadoria


O indivíduo torna-se um análogo às máquinas. Vive sua vida em função de seu posto de
trabalho, desumanizado, perde a posse sobre si mesmo e compreende-se como coisa.

A reificação (do latim res, que significa "coisa"), ou coisificação, da classe trabalhadora
é gerada pela perda de consciência de si como individuo, como humano. Essa condição
gera uma perda essencial, acarretando em um vazio existencial.

Com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização


do mundo dos homens.

(Marx, em Manuscritos Econômico-Filosóficos)

Por outro lado, o vazio existencial, causado pela alienação, é conduzido a ser
preenchido através do consumo. O "feitiço" (fetiche) gerado pela mercadoria dá a
impressão de devolver ao indivíduo sua humanidade perdida.

Os produtos passam a assumir características humanas, relacionando um modo de vida e


de comportamento a um padrão de consumo.

Em um duplo movimento, os trabalhadores tornam-se coisa, enquanto os produtos


tornam-se revestidos de uma aura de humanidade. As pessoas passam a se identificar
através dos produtos que consomem.

O curta-metragem O Emprego (El Empleo), de 2011, é uma obra do diretor Santiago


Bou Grasso (da opusBOU), que conta com mais de cem prêmios em festivais de cinema
por todo o mundo.
No curta, o autor faz uma reflexão sobre o trabalho e a analogia existente entre os
indivíduos e as coisas:

Veja também: Modernidade Líquida

Interessou? O Toda Matéria tem outros textos que podem te ajudar:

 Comunismo
 Socialismo
 Materialismo Histórico
 Diferenças entre Capitalismo e Socialismo
 Modo de produção capitalista
 Questões sobre Karl Marx

Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
Veja também

 A Mais Valia de Karl Marx


 Alienação na Sociologia e Filosofia
 Questões sobre Karl Marx
 Capitalismo
 Karl Marx
 Solidariedade mecânica e orgânica
 Existencialismo
 Materialismo Histórico

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Referencias bibliográficas

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