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Cap[itulo I . Alienacao
1.1.Definicao de aliencao
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Introdução
O presente trabalho que tem como tema “Alienação da Herança” ira debruçar de
forma muita clara e sintética em relação vários aspectos a respeito do mesmo tema a
destacar, em primeiro lugar, ira apresentar conceitos de base nomeadamente o conceito
de alienação, e herança de modo a facilitar ao leitor a perceção do tema acima descrito,
e logo de seguida ira apresentar uma ideia geral em relação a alienação da herança,
diversos modos de alienação da herança sob ponto de vista de Luís filipe sacramento e
amaral, como autor de referencia e também subsidiando-se do código civil como um
meio para efetivação do mesmo que parte dos artigo 2124 e seguintes do dispositivo a
cima retro mencionado que tratam do tema, e porque toda relação jurídica pressupõe a
existência de um objecto também ira debruçar em torno do objecto da alienação da
herança, forma de alienação da herança, os efeitos da alienação da herança e por fim ira
culminar em realçar acerca do direito de preferência o prazo para efetivação do mesmo
direito tudo isto com base no código civil em vigor na republica de Moçambique.
Metodologia
Como ganhar coisas DE GRAÇA no AliExpress?
Objetivos:
Objectivos gerais
Compreender de forma clara os efeitos da alienação da herança no contesto da
lei moçambicana.
Estabecer uma analise clara e concisa em relação ao tema
Objectivos específicos
1.ALIENAÇÃO DÀ HERANÇA
1.1.1. Conceitos de base
De acordo com FILIPE (1997, p. 223), logo após ter se verificado o chamamento, e
tendo o sucessível respondido aquele afirmativamente, aceitando a herança, pelo menos
virtualmente o herdeiro passa a deter um direito de propriedade em abstrato, sobre a
globalidade da herança ou sobre a quota parte que lhe pertencera.
Dai, que se possa admitir a possibilidade de poder transmitir a terceiro o seu direito a
herança ou ao quinhão, quer a titulo oneroso, quer a titulo gratuito, transmissão essa que
se inscrevera no âmbito do direito de disposição que a lei confere a qualquer
proprietário.
É assim que nos termos do artigo 2124 do código de processo civil, “ alienação da
herança ou o quinhão hereditário esta sujeita as disposições reguladoras do negocio
jurídico que lhe der causa, salvo o preceituado nos artigos seguintes.
Ainda para FILIPE (1997, p. 223), somente se pode proceder a alienação da herança,
verificados que hajam dois pressupostos a saber:
Em primeiro lugar, é necessário que se ache aberta a sucessão, pois como já se sabe o
artigo 2028 do código civil proíbe a disposição de sucessão de outrem ainda não aberta.
Em segundo lugar, é necessário que o herdeiro tenha aceite a herança, na medida em
que so então terá adquirido a plenitude do direito sobre aquela, nos termos do disposto
pelo artigo 2050 do código civil.
E por ultimo, deve ter em atenção que a possibilidade de alienação da herança cessa por
impossibilidade do objecto, conforme dispõe o artigo 280 do código civil, ou seja,
quando deixe de haver a herança, quota de herança ou quinhão hereditário.
Ensina FILIPE (1997, p. 224), esta situação a cima referenciada, pode ocorrer quer,
quando desapareçam, ou seja, se tenham destruído os bens que deveriam integrar o
património hereditário, quer quando, coo resultado dos encargos da herança, nada tenha
restado, primeiro caso pode acontecer quando os bens tenham sido consumidos por um
incendio, sendo eles o único património que o decujus possuía.
Para FILIPE(1997, p. 224), o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação
da herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem
causa, indica-nos que ela (herança)pode ter origem em negócios jurídicos de diversa
natureza.
Porem ainda para este autor, de facto, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos
onerosos, designadamente a compra e venda( artigo 874 do código civil), a adoção em
pagamento (artigo 837 do código civil), a troca ou outras formas onerosas de
alienação( artigo 939 do código civil).
Mas, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos gratuitos, como seja, a
doação(artigo 940 do código civil). deve se terem em conta que o regime jurídico da
alienação da herança dependera e estará moldado pelo negocio jurídico que lhe esta
subjacente. É isso mesmo que se tem de concluir necessariamente do disposto no artigo
2124 do código civil.
Assim, tendo em conta o tipo de negocio jurídico que esteve na origem da alienação dos
bens, que integram a massa hereditária, ela terá de obedecer as regras próprias do
respectivo negocio negocio jurídico causal. É isso mesmo que dispõe o artigo 2124 do
código civil.
para FILIPE(1997, p. 225), a alienação pode abranger, tanto a herança no seu todo,
como uma quota parte da herança já partilhada, bem como o direito a um quinhão
hereditário, em herança ainda indivisa. Convém, agora saber quais são os direitos e
obrigações que, de facto, são susceptiveis de se integrar no acto alienação. Esta é
questão que se encontra tratada no artigo 2125 do código civil, o que estabelece três
presunções , e que são:
Uma vês que o artigo 2125 do código civil nos apresenta meras presunções, há que
reconhecer que as partes, podem no negocio jurídico pelo qual se proceda a alienação,
dispor de forma diversa dentro do principio da livre disposição de vontade, que neste
caso tem inteira aplicação.
De acordo com FILIPE (1997, p. 226), o preceito legal a cima referenciado, impõe que
devera alienar por escritura publica a herança, sempre que ela se contenham bens, cuja
transmissão tenha de obedecer aquela forma de documento, ou seja, estabelece um
regime que terá de ser completado pelas normas reguladoras dos actos notariais.
Ainda para o autor acima referenciado, quando a alienação esta sujeita a forma especial,
o seu não cumprimento determina a aplicação da sansão prevista no artigo 220 do
código civil, ou seja, a nulidade do respectivo negocio jurídico, por quanto se trata de
um requisito essencial da sua validade.
[...]
Jaquissone Domingos
Índice
Introdução..........................................................................................................................3
Metodologia.......................................................................................................................3
Objetivos............................................................................................................................3
1.ALIENAÇÃO DÀ HERANÇA.....................................................................................4
Conclusão........................................................................................................................10
Bibliografia......................................................................................................................11
Introdução
O presente trabalho que tem como tema “Alienação da Herança” ira debruçar de
forma muita clara e sintética em relação vários aspectos a respeito do mesmo tema a
destacar, em primeiro lugar, ira apresentar conceitos de base nomeadamente o conceito
de alienação, e herança de modo a facilitar ao leitor a perceção do tema acima descrito,
e logo de seguida ira apresentar uma ideia geral em relação a alienação da herança,
diversos modos de alienação da herança sob ponto de vista de Luís filipe sacramento e
amaral, como autor de referencia e também subsidiando-se do código civil como um
meio para efetivação do mesmo que parte dos artigo 2124 e seguintes do dispositivo a
cima retro mencionado que tratam do tema, e porque toda relação jurídica pressupõe a
existência de um objecto também ira debruçar em torno do objecto da alienação da
herança, forma de alienação da herança, os efeitos da alienação da herança e por fim ira
culminar em realçar acerca do direito de preferência o prazo para efetivação do mesmo
direito tudo isto com base no código civil em vigor na republica de Moçambique.
Metodologia
Objetivos:
Objectivos gerais
Objectivos específicos
Com esse tipo de negócio, o herdeiro cedente evita a sua intervenção na futura partilha
dessa herança, em cujos bens não está interessado. A forma mais usual de titular este
negócio jurídico é a escritura notarial.
De acordo com FILIPE (1997, p. 223), logo após ter se verificado o chamamento, e
tendo o sucessível respondido aquele afirmativamente, aceitando a herança, pelo menos
virtualmente o herdeiro passa a deter um direito de propriedade em abstrato, sobre a
globalidade da herança ou sobre a quota parte que lhe pertencera.
Dai, que se possa admitir a possibilidade de poder transmitir a terceiro o seu direito a
herança ou ao quinhão, quer a titulo oneroso, quer a titulo gratuito, transmissão essa que
se inscrevera no âmbito do direito de disposição que a lei confere a qualquer
proprietário.
É assim que nos termos do artigo 2124 do código de processo civil, “ alienação da
herança ou o quinhão hereditário esta sujeita as disposições reguladoras do negocio
jurídico que lhe der causa, salvo o preceituado nos artigos seguintes.
Ainda para FILIPE (1997, p. 223), somente se pode proceder a alienação da herança,
verificados que hajam dois pressupostos a saber:
Em primeiro lugar, é necessário que se ache aberta a sucessão, pois como já se sabe o
artigo 2028 do código civil proíbe a disposição de sucessão de outrem ainda não aberta.
E por ultimo, deve ter em atenção que a possibilidade de alienação da herança cessa por
impossibilidade do objecto, conforme dispõe o artigo 280 do código civil, ou seja,
quando deixe de haver a herança, quota de herança ou quinhão hereditário.
Ensina FILIPE (1997, p. 224), esta situação a cima referenciada, pode ocorrer quer,
quando desapareçam, ou seja, se tenham destruído os bens que deveriam integrar o
património hereditário, quer quando, coo resultado dos encargos da herança, nada tenha
restado, primeiro caso pode acontecer quando os bens tenham sido consumidos por um
incendio, sendo eles o único património que o decujus possuía.
Para FILIPE(1997, p. 224), o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação
da herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem
causa, indica-nos que ela (herança)pode ter origem em negócios jurídicos de diversa
natureza.
Porem ainda para este autor, de facto, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos
onerosos, designadamente a compra e venda( artigo 874 do código civil), a adoção em
pagamento (artigo 837 do código civil), a troca ou outras formas onerosas de
alienação( artigo 939 do código civil).
Mas, a alienação pode ter por causa negócios jurídicos gratuitos, como seja, a
doação(artigo 940 do código civil). deve se terem em conta que o regime jurídico da
alienação da herança dependera e estará moldado pelo negocio jurídico que lhe esta
subjacente. É isso mesmo que se tem de concluir necessariamente do disposto no artigo
2124 do código civil.
Assim, tendo em conta o tipo de negocio jurídico que esteve na origem da alienação dos
bens, que integram a massa hereditária, ela terá de obedecer as regras próprias do
respectivo negocio negocio jurídico causal. É isso mesmo que dispõe o artigo 2124 do
código civil.
para FILIPE(1997, p. 225), a alienação pode abranger, tanto a herança no seu todo,
como uma quota parte da herança já partilhada, bem como o direito a um quinhão
hereditário, em herança ainda indivisa. Convém, agora saber quais são os direitos e
obrigações que, de facto, são susceptiveis de se integrar no acto alienação. Esta é
questão que se encontra tratada no artigo 2125 do código civil, o que estabelece três
presunções , e que são:
Uma vês que o artigo 2125 do código civil nos apresenta meras presunções, há que
reconhecer que as partes, podem no negocio jurídico pelo qual se proceda a alienação,
dispor de forma diversa dentro do principio da livre disposição de vontade, que neste
caso tem inteira aplicação.
De acordo com FILIPE (1997, p. 226), o preceito legal a cima referenciado, impõe que
devera alienar por escritura publica a herança, sempre que ela se contenham bens, cuja
transmissão tenha de obedecer aquela forma de documento, ou seja, estabelece um
regime que terá de ser completado pelas normas reguladoras dos actos notariais.
Ainda para o autor acima referenciado, quando a alienação esta sujeita a forma especial,
o seu não cumprimento determina a aplicação da sansão prevista no artigo 220 do
código civil, ou seja, a nulidade do respectivo negocio jurídico, por quanto se trata de
um requisito essencial da sua validade.
Para FILIPE, pondo de parte as regras especificas agora descrita, tomando por base o
referido a este propósito pode afirma-se que, como efeito da alienação, se transmitem os
direitos consagrados nos artigos 2091, 2092, e 2101, todos do código civil.
O artigo 2091, diz respeito a regras relativas ao exercício de direitos inerentes a herança
e estabelece que aqueles tem de ser exercidos em conjunto, por todos os herdeiros ou
tem de ser opostos contra todos eles. Assim sendo, porque o adquirente passa a assumir
a posição do herdeiro alienante, ele terá de participar no exercício de tal direitos
conjuntamente com os outros co-herdeiros.
Ainda para FILIPE (1997, p. 227), no que tem a ver com com o direito de exigir a
partilha referido no artigo 2101 do código civil, do mesmo modo e pelas mesmas razoes
o adquirente passa a deter tal direito em relação aos restantes herdeiros, quando se tratar
de bem indiviso.
Ainda para este autor, Consequentemente e face ao disposto no numero 1 do artigo 2130
do código civil, importa reter o principio de que os co-herdeiros só gozam do direito de
preferência, quando seja alienado um quinhão hereditário, a titulo oneroso ou dado em
cumprimento a terceiros, estranhos a herança.
Chegado a este ponto do presente trabalho que tem como tema acima do trabalho
mencionado, importa realçar que alienação é o acto pelo qual se transfere a titularidade
de uma propriedade a outrem, ou seja, acontece quando um dos herdeiros cede o seu
quinhão ou a sua herança a alguém, Com esse tipo de acto que é considerado um
negocio jurídico, o herdeiro cedente evita a sua intervenção na futura partilha dessa
herança, em cujos bens não está interessado. A forma mais usual de titular este negócio
jurídico é a escritura notarial. Também realçar que existem diversos modos de alienação
da herança, isto é, o artigo 2124 do código civil ao estabelecer que a alienação da
herança esta sujeita as normas reguladoras dos negócios jurídicos que lhe derem causa,
indica-nos que a herançapode ter origem em negócios jurídicos de diversa natureza.
No entanto a alienação pode ter por causa negócios jurídicos onerosos, designadamente
a compra e venda, artigo 874 do código civil, a adoção em pagamento, artigo 837 do
código civil, a troca ou outras formas onerosas de alienação, artigo 939 do código civil.
Porem, e porque toda relação jurídica tem um objecto conforme descrito na introdução
do presente trabalho, o objecto de alienação da herança esta previsto no artigo 2125 do
código civil
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Este verbete trata da alienação fiduciária em garantia, negócio jurídico que dá origem a
um direito real de garantia sobre coisa própria, a propriedade fiduciária. Por meio desse
contrato, o alienante, normalmente o devedor fiduciante, atribui ao adquirente, o credor
fiduciário a propriedade temporária de um bem dado em garantia de obrigação. O
contrato surgiu, no direito privado brasileiro e na década de 1960, com o propósito de
facilitar o financiamento de bens de consumo. Hoje, essa causa econômico-social foi
muito ampliada pela legislação extravagante e o instituto foi unificado pelo Código
Civil, que o trata no âmbito dos direitos reais como propriedade fiduciária. As diversas
modalidades de alienação fiduciária em garantia e de propriedade fiduciária com
idêntico fim serão tratadas, neste texto, como espécies de um gênero único, que obedece
a princípios comuns e pode ser reconhecido por atributos também comuns. Não é a
abordagem mais comum na literatura pátria, que prefere abordar cada tipo específico de
alienação fiduciária em garantia com as peculiaridades próprias de seu ramo
especializado. Cremos, no entanto, que os tempos já estejam maduros para uma
sistematização, favorável, inclusive, a que o credor civil passe a fazer uso mais
frequente de um contrato e de garantia sobre coisa própria extremamente útil, porém
pouco empregado fora do âmbito das instituições financeiras. Com esse propósito em
vista, trataremos da alienação de coisa móvel (fungível e infungível) e da alienação
fiduciária de imóveis dentro e fora do Sistema Financeiro Imobiliário, com ênfase nos
aspectos conceituais comuns, mas sem descurar de suas particularidades.
2.3. Alienação fiduciária de coisa móvel: deveres do devedor fiduciante
3.7. Alienação fiduciária de imóvel: outros aspectos da cobrança extrajudicial
No final da década de 1990, a alienação fiduciária foi estendida aos bens imóveis. A Lei
9.514, de 1997 organizou o Sistema Financeiro Imobiliário e passou a admitir que fosse
conferida, como garantia, não apenas a propriedade resolúvel sobre os imóveis em
sentido estrito (isto é, o solo e suas acessões), mas também sobre direitos reais
imobiliários, como a enfiteuse, a superfície, o direito real de uso e o uso especial para
fim de moradia, limitados, nas hipóteses do uso e da superfície, pelo prazo determinado
no seu título constitutivo. O Sistema Financeiro Imobiliário veio tomar o lugar do
antigo Sistema Financeiro da Habitação, que se valia basicamente da garantia
hipotecária9. Por essa e outras razões, que apontaremos no devido tempo, a hipoteca
entrou em franca decadência no Brasil. Uma outra observação deve ser destacada: em
que pese a alienação fiduciária de imóveis haver sido tratada no âmbito de uma lei
setorial, ela não é restrita às instituições financeiras10 e sequer se limita pela finalidade
de financiar a aquisição do bem de raiz. A garantia pode ser contratada por qualquer um
e pode ser conferida como acessório de qualquer espécie de mútuo ou de financiamento
atípico. No primeiro caso (aquisição financiada), o mercado costuma referir-se à
“propriedade retida”, porque o bem financiado é atribuído em caráter resolúvel ao
credor fiduciário e assim fica até o pagamento e, no segundo, à “propriedade
transmitida”, porque se tratava de mútuo ou financiamento garantido por bem já de
titularidade do devedor fiduciante e, naturalmente, transferido em caráter resolúvel ao
credor fiduciário. Também seria possível figurar um financiamento não aquisitivo, cuja
garantia fosse conferida por terceiro.
O Código Civil de 2002 chegou, neste instituto como em outros, um tanto tardiamente,
fixando normas gerais sobre a propriedade fiduciária. Isso explica por que menciona,
inicialmente, a alienação fiduciária de coisa móvel infungível (art. 1.361)11, para depois
corrigir-se (em dispositivo reformulado em 2014, o art. 1.36712), acrescentando os bens
imóveis. Não se refere à cessão fiduciária de direitos, mas, como vimos, essa
possibilidade está amplamente prevista pela legislação extravagante.
A posse direta pode e deve ser defendia contra terceiros, inclusive pelos interditos, para
os quais o devedor fiduciante está legitimado.
(a) pelo pagamento, pois a garantia extingue-se com a obrigação garantida. Portanto,
têm o mesmo efeito as formas de pagamento indireto (dação, consignação em
pagamento) e as demais formas de extinção das obrigações (como a compensação, a
remissão e a confusão). Se houver extinção parcial, a garantia subiste íntegra, por força
do princípio da indivisibilidade, salvo convenção em contrário;
(b) pela renúncia do credor, sendo aqui necessário distinguir a renúncia à garantia do
perdão à obrigação garantida. Ambos têm o mesmo efeito de pôr fim à garantia, mas a
primeira jamais faz presumir o segundo;
(c) pela execução da garantia, mas deve-se obtemperar que, se o apurado não for
suficiente para atender à obrigação e seus acréscimos, poderá ser cobrado o saldo
(diferentemente do que sucede com a alienação fiduciária de coisa imóvel).
O contrato de alienação fiduciária de coisa móvel extingue-se nos casos (a) e (b). O caso
(c), em termos contratuais, significa resolução por inadimplemento.
Finalmente, nada impede que o contrato de alienação fiduciária de coisa móvel seja
resolvido por onerosidade excessiva, se não for possível a sua revisão judicial ou
negocial.
Se o bem não for encontrado, a ação de busca e apreensão pode ser convertida em
execução. E o credor pode, desde logo, preferir o ajuizamento da execução da dívida,
sendo a busca e apreensão uma simples faculdade.
A contrario sensu do que até agora dissemos, ao credor civil de obrigação garantida por
alienação fiduciária de coisa móvel resta a excussão judicial da garantia, conquanto
dentre as modalidades contemporâneas também se admita a alienação a título particular,
mesmo no Código de Processo Civil. O bem será judicialmente apreendido por ocasião
da excussão judicial, mas convém frisar que o credor civil poderia se valer da
reintegração de posse por ocasião da caracterização da mora. A mora é ex re, porque
essa é a regra do ordenamento civil brasileiro e se consubstancia com o simples
vencimento da obrigação. À semelhança do caso já estudado (instituições financeiras),
eventual notificação do devedor serve apenas ad probationem. Não constitui em mora,
mas fornece prova inconteste dela. Para deferir eventual liminar de reintegração de
posse, essa prova é muito relevante, dando a certeza de que o devedor não cumpriu e
que a posse direta perdeu sua razão de ser, dando azo a que o credor se reintegre na
posse plena do bem – como preparação para futura excussão judicial do bem30.
Também o credor comum (que não seja instituição financeira) pode simplesmente
intentar a execução, mesmo que não seja antecedida da reintegração de posse. E terá de
restituir ao devedor eventual sobejo, podendo, por outra parte, prosseguir por saldo não
coberto depois da alienação do bem. De novo, frisemos o contraste com a alienação
fiduciária de coisa imóvel, quanto a esse ponto.
O imóvel (ou o direito real em questão) há de ser alienável, mas não necessariamente
penhorável. Assim, o bem de família conceituado pela Lei 8.009/1990 pode ser objeto
de propriedade fiduciária, pois aquela lei apenas determina a sua impenhorabilidade (e a
venda da garantia a terceiros não depende de penhora prévia)36. Já o bem de família
instituído na forma do Código Civil não pode ser alienado fiduciariamente, pela simples
e óbvia razão de que seu regime é o da inalienabilidade.
Como já apontamos, o direito aquisitivo do devedor pode ser penhorado, mas não se o
objeto se constituir como bem de família da Lei 8.009, pois a impenhorabilidade
também abrange a propriedade em fase de aquisição. Por outro lado, a propriedade
fiduciária em si não pode ser penhorada por conta de dívidas do devedor fiduciante para
com terceiros, pois o credor fiduciário, de regra, não é responsável por elas37.
3.3. Alienação fiduciária de imóvel: a pessoa jurídica estrangeira como proprietário fiduciário
A lei que determina restrições à aquisição de imóvel rural por pessoa jurídica
estrangeira delimita, dentre outras balizas, certas finalidades.38 Desse modo, é
questionável se o credor estrangeiro-pessoa moral poderia adquirir propriedade
fiduciária para fins de garantia. Em nosso modo de sentir, a exclusão do estrangeiro não
tem razão de ser. A lei estabelece limitações para a aquisição de propriedade no sentido
comum e ordinário do termo, a bem da soberania nacional. Essa soberania não é
ameaçada pela propriedade fiduciária que, ademais de temporária, é teleologicamente
limitada quanto aos poderes e faculdades do titular. No entanto, há quem aponte, com
argúcia, que a adjudicação do imóvel pelo credor estrangeiro não seria possível, por
contrariar a lei de regência (Lei 5.709/1971)39.
A mora do devedor é ex re; dá-se pela ausência de pagamento no vencimento. Mas para
maior segurança e proteção do devedor, ela é comprovada por meio de um
procedimento previsto na Lei 9.514/1997. O credor fiduciário deve notificar o devedor
por intermédio do Cartório de Registro de Imóveis para purgar a mora em 15 dias. Dita
notificação não deve ser confundida com a notificação do leilão. Se o devedor purgar a
mora – até aqui, as parcelas em atraso, juros, atualização e multa de mora – no prazo
previsto, o contrato “convalesce”, isto é, não é rompido – e o devedor poderá retomar o
pagamento das prestações nos termos contratuais originalmente previstos. Se o devedor
falhar na purgação, o contrato se resolverá, com o vencimento antecipado do saldo
devedor, correndo ainda encargos e despesas. E o credor consolidará a propriedade em
seu nome, mas não poderá ficar com a coisa para si. Explicá-lo-emos adiante.
O procedimento descrito não faz com que a mora seja considerada ex persona. Isso
porque ele não diz respeito à conformação da mora (a mora se dá com o vencimento da
parcela inadimplida), mas à sua comprovação e convolação em inadimplemento
definitivo. Caracterização da mora e comprovação da mora são fatos jurídicos diferentes
. Pelo menos, esse é o espírito da lei, ao qual a jurisprudência nem sempre é fiel. A
comprovação formal da mora e da sua conversão em inadimplemento é um requisito
para que o credor tenha acesso ao procedimento de alienação extrajudicial da garantia.
Mas a mora, propriamente dita, irradia seus efeitos desde o vencimento – portanto, é
mora ex re. Tais efeitos são ilididos pela purgação tempestiva, mas isso é elementar.
O costume judicial contra legem não tem origem apenas na psicologia dos julgadores ou
na má compreensão do que seja a função social do contrato. Ele também nasce de
confusão conceitual entre as categorias da mora, do inadimplemento definitivo e de
aplicação retrospectiva do Direito: aplica-se – indevidamente - à propriedade fiduciária
da Lei 9.714/97 o regime da execução hipotecária do Decreto-Lei 70/1966. Nessa
execução hipotecária, sim, era possível a purgação da mora até a assinatura do auto de
arrematação. Essa regra foi equivocadamente transposta para a propriedade fiduciária.
Hoje, há expressa proibição de que as regras procedimentais da execução extrajudicial
do velho DL 70 sejam estendidas para a execução extrajudicial de imóvel alienado
fiduciariamente44.
(a) Purgar as parcelas de dívida vencidas, mais despesas, em cartório e dentro dos
quinze dias legais;
(d) Nas operações compreendidas pelo programa social instituído pela Lei
11.977/2009 – e somente nessas – o devedor conta com um prazo maior para purgar a
mora. Além dos 15 dias em Cartório, o credor deve aguardar 30 dias para consolidar a
propriedade em seu nome e, nesse interregno, tolera-se que o devedor pague as parcelas
vencidas e despesas. Essa exceção, aliás, confirma que outra é a regra.
Esse é o sistema legal, bem azeitado e equilibrado. Insistimos nisso porque é frequente,
como acontece com todo sistema complexo, que seja mal compreendido, atribuindo-se
elasticidade aos prazos aludidos e oportunidades inexistentes para a purgação, em
flagrante prejuízo do correto funcionamento. Falta agora explicar por que persistimos
em dizer que ele é bem equilibrado. As razões são abaixo elencadas:
(a) A sistemática legal foi erigida para que houvesse certeza jurídica em torno da
caracterização da mora e, também, da sua convolação em inadimplemento, de sorte que
a máquina de cobrança extrajudicial só possa ser colocada em movimento se, por
procedimento formal, foi apurado que o devedor está em atraso e deixou de purgar a
mora em cartório. Secundariamente, o sistema visa a poupar o Poder Judiciário,
constantemente acossado com demandas que objetivam elidir os prazos legais ou,
simplesmente, deixar o imóvel com um devedor que não tem a menor intenção de pagar,
procrastinando indefinidamente a cobrança;
(b) O sistema oferece um benefício final ao devedor que não pagou, não deu o
imóvel em pagamento, não transigiu, não purgou a mora e não exerceu o direito de
preferência. Não há cobrança de saldo em aberto, uma vez que tenha sido encetada a
cobrança extrajudicial. O credor deve promover a realização dos dois leilões previstos e,
mesmo que não sejam bem-sucedidos, o saldo é considerado extinto, não podendo ser
cobrado sequer como crédito quirografário. Em outras palavras, o pior dos cenários,
para o devedor, é a perda do imóvel dado em garantia e não mais que isso; daí que, por
outro lado, os prazos e formas legais para purgação da mora devam ser respeitados.
Anote-se a diferença com o credor e a hipoteca, no âmbito das quais o saldo pode ser
cobrado como um crédito comum, sem privilégio;
(c) Não há razão para dar outros benefícios ao devedor inadimplente, com uma
única exceção, a do adimplemento substancial, já comentada. Isso não quer dizer,
evidentemente, que o controle judicial não possa ser exercido se o credor violou as
regras legais para a caracterização da mora, para sua transformação em inadimplemento
ou mesmo as procedimentais.
A consolidação da propriedade não significa que o credor possa ficar com a coisa para
si. Ela tem os efeitos acima descritos, mas ainda é teleologicamente orientada pela
função social de garantia. E não é da tradição de nosso Direito que o credor possa ficar
com a garantia para si. Há de aliená-la, seja pelos leilões previstos em lei, seja, na
hipótese de fracasso da cobrança extrajudicial, pela venda particular48.
O devedor fiduciante responde, enquanto estiver com o bem, pelas despesas ligadas à
posse direta e ao uso, por exemplo, as condominiais. Responde também pelas despesas
necessárias à eventual cobrança da dívida50. Mas há situações que exigem um
comentário mais apropriado às suas nuances:
A propriedade fiduciária é garantia sobre coisa própria e, dada sua natureza, oponível
contra todos. O mesmo já não se diz com tanta firmeza da hipoteca, pois, segundo a
jurisprudência, ela não é oponível ao terceiro adquirente de unidade autônoma, se
formalizada entre a instituição financeira e o incorporador. Assim reza o enunciado 308
da Súmula de jurisprudência dominante do STJ58. Essa é outra razão para a relativa
decadência da hipoteca. Mencionamos o assunto aqui não apenas para efeito
comparativo, mas também porque a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem
dado indicações no sentido de estender esse entendimento para a propriedade
fiduciária59, o que lhe retiraria parte do interesse prático, pelo menos nas incorporações
imobiliárias.
(b) pela renúncia à garantia que, como já dissemos, não se confunde com o perdão. A
remissão do crédito está incluída no item anteriormente tratado. A transação, hoje
tratada pelo direito civil como um contrato pode envolver a extinção da garantia
fiduciária, se assim dispuserem as partes, fazendo uso de sua autonomia privada;
O contrato de alienação fiduciária sobre coisa imóvel também se extingue nos casos (a)
e (b), podendo-se ainda mencionar a extinção por resolução, no caso de inadimplemento
do devedor fiduciante, caracterizado pela não-purgação da mora na forma da lei. Pode
ainda extinguir-se por distrato (resilição bilateral) e, judicialmente, se forem
preenchidos os requisitos da resolução por onerosidade excessiva, não sendo viável a
sua revisão judicial ou negocial.
Notas
1
“Desse modo, o proprietário fiduciário não dispõe de todos os poderes inerentes ao
domínio, notadamente os direitos de usar e de fruir, pois a consolidação da propriedade
em favor do credor fiduciário se dá exclusivamente com o propósito de satisfazer o
débito.” (AgInt nos EDcl no REsp 1.378.468/SP, 3ª Turma, rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, DJe 21.05.2018)
2
CHALHUB, Melhim Namem. Negócio fiduciário, p. 32.
3
Essa garantia, por sua vez, pode ser constituída pelo próprio bem financiado ou por
conta de outra obrigação. Por exemplo, neste precedente: “A lei não exige que o
contrato de alienação fiduciária de imóvel se vincule ao financiamento do próprio bem,
sendo legítima a sua formalização como garantia de toda e qualquer obrigação
pecuniária.” (AgInt no AREsp 829.403/PR, 3ª Turma, rel. Ministro Moura Ribeiro, DJe
31.10.2017.)
4
O negócio jurídico de cessão fiduciária, a seu turno, pode ter por objeto direitos de
crédito.
5
No Brasil, a Lei 8.668/1993 instituiu uma espécie de propriedade fiduciária com fito de
investimento. Os bens e direitos integrantes do fundo de investimento imobiliário, seus
imóveis, frutos e rendimentos não se comunicam com o patrimônio da instituição
financeira (embora sob propriedade fiduciária desta), formando, portanto, um
patrimônio separado (PEDROTTI, Irineu Antonio. Arrendamento mercantil (leasing) e
alienação fiduciária, pp. 93-94).
6
TURNER, Chris; BRAY, Judith. Equity and trusts, pp. 8-11.
7
MOFFAT, Graham. Trust law: text and materials, p. 3.
8
É tradição, no direito brasileiro, chamar de “cessão”, onerosa ou gratuita, o negócio
jurídico transmissivo que tenha como objeto bens imateriais. Conforme Chalhub, “por
meio da cessão, o cessionário é investido da condição de credor, com todos os poderes
inerentes a este, inclusive o de valer-se de todas as ações e execuções a que o credor
está legitimado, mas, recebendo o crédito, não pode apropriar-se da totalidade do
produto, mas apenas do quantum correspondente ao seu crédito, ou retendo o produto
recebido até que o devedor-cedente pague sua dívida” (CHALHUB, Melhim Namen.
Negócio fiduciário, p. 51).
9
O Diploma básico é o Decreto-Lei 70/1966, que regulamenta a execução extrajudicial
hipotecária e já foi invocado, por simetria, em matéria de alienação fiduciária de
imóveis. Hoje, a lei proíbe expressamente essa aplicação analógica.
10
O art. 22, § 1o, da Lei 9.514/1997 é expresso nesse sentido.
11
A propriedade fiduciária de coisa móvel infungível era a hipótese cediça quando da
formulação do anteprojeto de Código Civil; as demais advieram durante sua longa
tramitação. Isso explica as inconsistências do texto vigente.
12
Art. 1.367 do Código Civil, com a redação da Lei 13.043/2014: “A propriedade
fiduciária em garantia de bens móveis ou imóveis sujeita-se às disposições do Capítulo I
do Título X do Livro III da Parte Especial deste Código e, no que for específico, à
legislação especial pertinente, não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade
plena de que trata o art. 1.231.” (grifo nosso)
15
Como consequência prática, aponta-se que a busca e apreensão do Decreto-lei
911/1969 não prevalece contra terceiros de boa-fé, se não houver o devido registro. Do
mesmo modo, não pode ser empreendida contra o veículo automotor em mãos de
terceiro, se não foi anotada no certificado de registro (Cf. MICHELAZZO. Da busca e
apreensão na alienação fiduciária, p. 23).
posse direta do bem. Nesse sentido, a hipoteca (pignus obligatum) foi também um
avanço em relação ao penhor (pignus datum). Assim, o arrendatário da terra não
precisaria desfazer-se de seus instrumentos de trabalho (invecta et illata), conquanto
dados em garantia (Cf. MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano, p. 365).
Art 66-B § 4o, da Lei 4.728/1965, combinado com art. 18 da Lei 9.514/1997.
25
Isso não exclui que, ajuizada a demanda, os juros sejam computados a medida que se
26
forem vencendo.
opções: (a) alienação da coisa, se foi entregue pelo devedor; (b) ação de busca e
apreensão do bem alienado fiduciariamente; (c) ação de depósito se o bem não foi
encontrado; e (d) ação executória autônoma (Cf. SCHONBLUM, Paulo Maximilian W.
Mendlowicz. Contratos bancários, p. 223).
exposta, por parecer a mais compatível com o ordenamento vigente. Há projeto, porém,
no sentido de tornar as execuções por quantia certa extrajudiciais. Em tal ambiente, se e
quando venha a se confirmar, não restaria mais base para negar ao credor civil a
excussão extrajudicial do bem dado em garantia fiduciariamente.
31
Estamos adotando a terminologia predominante. No entanto, alguns autores advertem
que há uma diferença entre a resolução como conditio iuris (decorrente do regime
jurídico) e a resolução decorrente de cláusula acidental, isto é, da vontade das partes
aposta como condição em negócio jurídico. O primeiro seria o caso da propriedade
fiduciária, diferente, portanto, do caso da propriedade resolúvel meramente em razão de
contrato. Dessarte, admitida essa diferença, “a propriedade fiduciária, resolúvel em
decorrência da conditio iuris, tem peculiaridades próprias, distintas da propriedade
resolúvel, cuja resolução depende da condição resolutiva do art. 119 do Código Civil”
(VAZ, Ubirayr Ferreira. Alienação fiduciária de coisa imóvel: reflexos da lei n.
9.514/97 no registro de imóveis, p. 41).
32
Dada a importância dessa questão, anoto o seguinte excerto: “No ordenamento jurídico
brasileiro, coexiste um duplo regime jurídico da propriedade fiduciária: a) o regime
jurídico geral do Código Civil, que disciplina a propriedade fiduciária sobre coisas
móveis infungíveis, sendo o credor fiduciário qualquer pessoa natural ou jurídica; b) o
regime jurídico especial, formado por um conjunto de normas extravagantes, dentre as
quais a Lei n. 9.514/1997, que trata da propriedade fiduciária sobre bens imóveis.
Quanto à propriedade fiduciária de bem imóvel, regida pela Lei n. 9.514/1997, verifica-
se que a garantia somente se constitui com o registro do contrato que lhe serve de título
no registro imobiliário do local onde o bem se situa. Dessa maneira, sem o registro do
contrato no competente Registro de Imóveis, há simples crédito,situado no âmbito
obrigacional, sem qualquer garantia real nem propriedade resolúvel transferida ao
credor. Assim, na ausência de registro do contrato, não é exigível do adquirente que se
submeta ao procedimento de venda extrajudicial do bem para só então receber eventuais
diferenças do vendedor.” (EAREsp 1.835.598-SP, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi,
por maioria, DJe 17.02.2021, in Informativo STJ 685, 22.02.2021). É de notar que o
Tribunal sujeitou a propriedade fiduciária sobre imóvel, no plano da existência, ao
registro. Outro ponto a se destacar: a decisão aparentemente passa por alto da menção
que o Código Civil faz aos bens móveis e imóveis no art. 1.367, com a redação que
recebeu a partir da Lei 13.043/2014.
constar, sob pena de não produzir os efeitos que a alienação fiduciária prescreve”
(HOFFMANN, Dirceu. Alienação fiduciária em garantia de bens imóveis no Brasil, p.
113).
Art. 24, parágrafo único, da Lei 9.514/1997 – redação atribuída pela Lei 13.465/2017.
34
Art. 5º da Lei 5.709/1971: “As pessoas jurídicas estrangeiras referidas no art. 1º desta
38
Dita regra tem em mira contratos de compra e venda ou compromissos de venda pagos
41
Estamos seguindo a posição majoritária. Mas faz sentido dizer que a notificação via RI
42
decidiu que “a alteração introduzida pela Lei nº 13.465/2017 ao art. 39, II, da Lei
9.514/97 tem aplicação restrita aos contratos celebrados sob a sua vigência, não
incidindo sobre os contratos firmados antes da sua entrada em vigor, ainda que
constituída a mora ou consolidada a propriedade, em momento posterior ao seu início de
vigência” (TJSP, Tema 26, Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 2166423-
86.2018.8.26.0000, j. 25.11.2019). Desse modo, o sistema da Lei 13.465 só se aplicaria
aos contratos firmados depois de 12/07/2017. E, nos contratos firmados anteriormente
ao precitado termo, seria possível a purga da mora até a assinatura do auto de
arrematação. Até a uniformização, havia correntes que propugnavam (a) pela aplicação
imediata da Lei 9.514 a todos os contratos; (b) pela aplicação aos procedimentos
expropriatórios iniciados sob a égide da nova lei; e (c) pela aplicação apenas aos
contratos celebrados após a vigência da nova lei, corrente, essa, que se saiu vencedora
no âmbito tribunal paulista.
o direito à posse do imóvel.” (REsp 1.155.716-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 13.03.2012).
48
Essencialmente, é o que também se sustenta a seguir: “(...) a sistemática da nova lei
não contraria o princípio da proibição do pacto comissório, eis que o credor (fiduciário)
tem o dever legal de realizar o leilão com objetivo declarado de vender o imóvel para
que utilize o lance vencedor para se cobrar, restituindo eventual diferença ao devedor
(TERRA, Marcelo. Alienação fiduciária de imóvel em garantia, p. 55).
O mesmo raciocínio se aplica, e pelas razões que serão deduzidas, ao art. 1.368-B do
53
complementar, posição hoje ocupada pelo Código Tributário de 1966. De nada adianta o
Código Civil disciplinar o assunto, exceto quanto ao aspecto obrigacional e privado.
deixando de conhecer dos recursos especiais interpostos: “1. A controvérsia versa sobre
a legitimidade passiva da Caixa Econômica Federal, como credora fiduciária, em
execução fiscal de IPTU.2. A apreciação sobre a possibilidade de lei ordinária
determinar quem é o contribuinte do IPTU refere-se a questão constitucional, prevista
no artigo 146 da CF. Conforme dispõe o art. 105 da CF, a competência do Superior
Tribunal de Justiça restringe-se à interpretação e uniformização do direito
infraconstitucional federal, restando a impossibilidade de exame de eventual violação a
dispositivos e princípios constitucionais, sob pena de usurpação da competência
atribuída ao STF.” (REsp 1670295/SP, 2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
13/09/2017)
domínio de bens móveis ou imóveis não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial
(Lei 11.101/2005, art. 49, § 3º), ressalvados os casos em que os bens gravados por
garantia de alienação fiduciária cumprem função essencial à atividade produtiva da
sociedade recuperanda.” (AgInt no AgInt no AgInt no CC 149.561/MT, 2ª Turma, rel.
Min. Luis Felipe Salomão, DJe 24.08.2018.)
CHALHUB, Melhim Namem. Negócio fiduciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.
FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. 11. ed. Curso de direito civil:
obrigações. Salvador: Podium, 2017.
MOFFAT, Graham. Trust law: text and materials. Cambridge: Cambridge University
Press, 2009.
MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2014.
RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. 11. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.
TURNER, Chris. BRAY, Judith. Equity and trusts. Oxon-New York: Routledge, 2014.
VAZ, Ubirayr Ferreira. Alienação fiduciária de coisa imóvel: reflexos da lei n. 9.514/97
no registro de imóveis. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1998.
Citação
GRAMSTRUP, Erik Frederico. Alienação fiduciária em garantia. Enciclopédia jurídica
da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz
Freire (coords.). Tomo: Direito Civil. Rogério Donnini, Adriano Ferriani e Erik
Gramstrup (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/471/edicao-
1/alienacao-fiduciaria-em-garantia
Edições
Tomo Direito Civil, Edição 1, Dezembro de 2021 Última publicação, Tomo Direito
Civil, Edição 2, Setembro de 2022
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Este artigo pretende analisar de que forma se definiu a relação do governo ditatorial
com as duas companhias portuguesas de navegação (Companhia Nacional de
Navegação e Companhia Colonial de Navegação), no contexto da crise de 1929 e da
Grande Depressão, período de consolidação política e social do novo regime. Ao
decretar a marinha mercante portuguesa como sendo de interesse nacional, o Estado
Novo concebeu e delineou um regime de serviço público para a exploração exclusiva
das ligações com as colónias africanas. A partir deste pressuposto, veremos como é que
se chegou à sua determinação e como é que este sistema se caracterizou.
Identificaremos depois os mecanismos utilizados para garantir a ingerência do estado
ditatorial nas estratégias das empresas portuguesas de navegação, assim como a resposta
dada por estas empresas.
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Keywords:
Palavras-chave:
Plano
1. A marinha mercante nacional e o processo de intervenção do estado ditatorial
2. A viragem com o Ato Colonial
3. O projeto de exploração marítima do tráfego colonial em regime de concessão
4. A reformulação do projeto pela Câmara Corporativa
5. Conclusão
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3Durante a Grande Depressão dos anos 1930, a imposição de uma autarcia económica
nacional levou a que se reformulasse o papel do setor da marinha mercante, tanto em
regimes ditatoriais (Valdaliso Gago 2007; Giulianelli 2016) como democráticos (Palmer
2008, 132-133; Sturmey 2009, 83-115; Miller 2012, 72). A marinha mercante
portuguesa foi considerada como um dos setores económicos estratégicos. A
reformulação do seu papel fez parte integrante das mudanças económicas nacionais
adotadas, incluindo para as colónias. Tendo Portugal um império para defender e
consolidar, além de uma situação administrativa, económica e financeira metropolitana
e colonial em crise para gerir, a via adotada foi a de reavivar o pacto colonial dos finais
do século XIX. Nele se previa a intensificação do esforço de exploração colonial
baseada nas relações comerciais e económicas entre a metrópole e as colónias, a partir
de mecanismos protecionistas que a marinha mercante nacional também usufruía (Telo
1994).
13A nomeação de uma comissão pelos ministérios das Colónias e da Marinha, em 1931,
a fim de estudar as medidas possíveis para um aproveitamento mais racional da frota
mercante, evidencia a preocupação estatal em reforçar a sua ingerência para atingir esta
finalidade. De facto, deviam ser repensadas as funções do estado como coordenador de
todas as atividades económicas e credor das empresas de navegação9 e, por último,
como garante dos apoios necessários para atingir os objetivos determinados (hipoteca,
crédito, exclusivismo da exploração). Já no início de 1931, o governo obrigou à
reorganização financeira e administrativa das empresas de navegação, estabelecendo
restrições nos estatutos e nas condições de votação nos órgãos deliberativos e
decisórios, e impondo a presença de um comissário nomeado pelo governo junto da
empresa.10 A venda dos navios, que tinham beneficiado de fundos públicos, passou a
estar condicionada à autorização da Direção da Marinha Mercante (DMM – Ministério
da Marinha).11
19O início dos anos 1930 foi uma fase de profunda reformulação da atividade do setor
da marinha mercante nacional desde que foi decretado o serviço de interesse público.
Além da tentativa de resolução financeira das duas companhias, pairava a necessidade
de consolidar a posição portuguesa nas colónias e de se proteger do exterior, dado os
imperativos ditados pela Grande Depressão (como encontrar investimento estrangeiro) e
o incremento das pressões internacionais, que questionavam a capacidade portuguesa de
gestão do espaço colonial (Gonçalves 2021). As iniciativas legais recentraram a
exploração do transporte marítimo entre as colónias e a metrópole na CCN e na CNN
sob proteção estatal, fazendo parte de um projeto de cartelização corporativa em
curso.23 A necessidade de resgatar e de proteger as empresas nacionais de navegação
reforçou a ingerência do estado nas mesmas. Esta intervenção distinguiu-se claramente
da exercida nos períodos monárquico e republicano por não se intrometer diretamente
na estrutura administrativa das empresas.
20Apesar das duas companhias demonstrarem sinais de melhoria em meados dos anos
1930, a situação ainda era considerada insuficiente, o que levou a repensar
constantemente o papel da marinha mercante na economia nacional. A nomeação de
várias comissões desde 1931 para rever a sua situação confirmava a dificuldade em
encontrar formas de compromisso entre os diferentes interesses em jogo. Foi neste
contexto que, a partir de 1934, se concebeu o projeto de exploração das rotas coloniais
para a metrópole em regime de serviço público e de exclusividade e a ser realizado por
uma só companhia. Nesse ano, o estado ditatorial já tinha atingido um grau de
legitimidade tal que lhe permitia propor uma reestruturação mais profunda do setor
empresarial marítimo português através da fusão das duas companhias. Esta proposta
levantou resistências dentro de um espaço permissivo à reformulação da natureza e do
grau de intervenção do estado no setor privado, sem, porém, a eliminar totalmente.
23O plano determinado pela comissão de 1934 previa a inclusão de medidas que
garantissem, simultaneamente, a redução das despesas associadas à atividade da
marinha mercante e aos custos de transformação de natureza administrativa e o aumento
do capital e sustentação da renovação da frota num prazo de 25 anos. Reconhecendo a
impossibilidade de estar em todas as frentes, e de acordo com as prioridades políticas, a
comissão priorizava as rotas consideradas de interesse nacional, ainda que algumas não
tivessem sustentabilidade económica. As rotas marítimas, que ligavam a metrópole às
colónias portuguesas africanas e orientais, eram consideradas imprescindíveis,
colocando-se, em segundo plano, rotas de interesse político nacional reconhecido mas
não imediato (Brasil, rota oriental). Para rematar, as conclusões da comissão apelavam
ao fim da concorrência nacional mediante a fusão entre CNN e a CCN, como única
forma de viabilizar a exploração das colónias, o que supunha pôr fim ao sistema
duopolista que então vigorava, para passar a um regime de monopólio.
25Como seria de esperar perante tal situação, a CCN defendeu a manutenção do sistema
duopolista, e fê-lo com a apresentação de relatórios que confirmavam as suas vantagens,
apoiando-se em organizações económicas metropolitanas e coloniais para fazer valer a
sua posição.27 Apesar de a CCN ter avançado com uma proposta, foi a CNN quem, na
realidade, teve maior protagonismo. As suas propostas contemplavam os meios para
constituir o capital da empresa, para liquidar os débitos e para absorver a frota da CCN
e indemnizá-la por cessação de negócio, amortizar a frota e renovar as unidades.28 No
entanto, as duas companhias nunca chegaram a um acordo de fusão. Nenhuma proposta
conseguia igualmente evitar que o estado interviesse para proteger a futura companhia
da concorrência estrangeira e para aliviar a situação das empresas no caso de se verificar
uma diminuição significativa da rentabilidade das rotas marítimas. A lógica de
exploração, assente na ideia de um serviço público que não seguia uma finalidade de
rentabilidade económica, mas política, permitiu às companhias legitimar a proteção
estatal, vista como indispensável.
26Apesar dos falhanços nas negociações, o ministro da Marinha decidiu então submeter
um projeto de exploração à apreciação da Câmara Corporativa. Rejeitando o sistema
duopolista ou de livre concorrência, esta proposta afastava-se de uma nacionalização da
empresa de navegação. Uma empresa privada, escolhida mediante concurso público,
deveria realizar, em regime de concessão e sem concorrência nacional, um serviço
“normal e eficiente”, com pretensão “para ver satisfeitas por modo regular as exigências
da soberania e as necessidades do público”.29 As bases do projeto de lei previam a
exploração do tráfego entre a metrópole e as colónias africanas (Angola, Moçambique)
de longo curso e de cabotagem, de mercadorias (exceto o transporte de produtos
petrolíferos e derivados) e de passageiros.
27O transporte de carga e de passageiros entre a metrópole e Guiné e Cabo Verde era
recusado, por ser realizado sob regime de exclusividade, salvo situação excecional. Esta
exclusividade derivou de uma disputa entre as três companhias sobre as pretensões da
Sociedade Geral de Indústria, Comércio e Transporte (SGICT) em afretar os seus navios
nas rotas angolanas e moçambicanas em 1933-1934, barrada pela pressão e pela
influência exercida pela CNN e CCN no conselho de tarifas e no Ministério da Marinha.
A SGICT nunca pôde interferir nessas rotas, mas acabou por assegurar a exclusividade
da exploração das suas rotas e ficar responsável pelo desenvolvimento da construção
naval em Portugal (estaleiro naval de Lisboa), a fim de garantir a construção e a
renovação da frota nacional. O projeto, concedido por Salazar, virá, no entanto, a
demonstrar as suas fragilidades, devido ao custo elevado de construção e de renovação e
às rivalidades persistentes entre as companhias de navegação (Faria 2009, 300-312). Por
último, a nova sociedade tinha de garantir o transporte de passageiros da Guiné e de
Cabo Verde para Angola e Moçambique. Os restantes destinos, assim como as zonas de
livre tráfego, mantinham-se em regime de livre concorrência, através de acordos
bilaterais. O concurso seria aberto a todas as entidades individuais ou coletivas de
nacionalidade portuguesa que depositassem um capital mínimo de 2 000 000 escudos na
CGD, em dinheiro ou em títulos da dívida pública portuguesa, como garantia das
obrigações. A nova sociedade deveria ser constituída por 60% de ações nominativas e
averbadas a pessoas singulares ou coletivas – incluindo instituições de crédito – de
nacionalidade portuguesa.
29A nova sociedade continuaria ainda sujeita a restrições nos órgãos decisórios. O
conselho de administração seria limitado a cinco membros, sendo dois deles nomeados
pelo governo, que teriam, ao mesmo tempo, a função de fiscalizar a sua atividade. Este,
por seu lado, seria ainda completado por um organismo do estado ainda por definir. A
fixação e a alteração das tarifas deveriam ser feitas por uma entidade oficial da qual a
nova sociedade anónima seria dependente. Ser-lhe-ia imputada também a
obrigatoriedade de transportar gratuitamente o correio e os colonos (máximo 10% da
lotação disponível) em terceira classe, de acordo com os projetos públicos de
colonização. A absorção do património das atuais companhias de navegação obrigava à
resolução da questão dos seus trabalhadores. A nova sociedade deveria dar preferência
ao seu recrutamento, cabendo ao governo a resolução da situação dos trabalhadores
desempregados. Por último, previam-se as condições de cessação do contrato. A
rescisão podia ser feita a qualquer altura do contrato, em caso de não cumprimento dos
objetivos pela companhia de navegação. Nesse caso, se tivesse assegurado o reembolso
do capital obrigacionista, a concessionária perderia o fundo de renovação da marinha
mercante. Caso contrário, este serviria para a liquidação da empresa. O resgate, após
dez anos de exploração em regime de concorrência, ficaria sob a responsabilidade do
estado, que pagaria a anuidade do capital obrigacionista e o dividendo, no valor máximo
correspondente a 5%, até acabar a concessão.
32Porém, o principal acionário devia ser a antiga CNN, com 60% das ações
nominativas e com acionistas de nacionalidade portuguesa. Com três princípios
norteadores – assegurar a renovação da frota com o capital das duas empresas, com
capital novo e com crédito do estado; cumprir o reembolso dos créditos do estado; e
garantir a continuidade da exploração –, a discussão centrava-se nas modalidades de
realização deste monopólio e na determinação das responsabilidades que caberiam a
cada um, ao estado e à nova companhia. Uma vez que o projeto de serviço público não
contemplava a realização de lucro, mas previa prioritariamente asseverar a perenidade
da sua manutenção, considerava-se não haver formas de evitar uma compensação pela
parte do estado nas rotas exploradas em situação de deficit.31
33A Câmara Corporativa via nas condições de acesso das ações e nas prerrogativas
associadas ao projeto do Ministério da Marinha uma porta aberta à introdução de mais
capital estrangeiro. As modalidades de fiscalização da empresa foram igualmente
contestadas, ao afirmarem não caber esta função aos membros do conselho de
administração escolhidos pelo estado, mas sim a entidades coletivas/individuais
externas já existentes – DMM, comissário do governo – ou a criar. Nas reuniões do
conselho de administração e da comissão executiva, o comissário pelo governo não
poderia ter direito de voto, mas poderia impor um veto às decisões, caso não fosse
respeitada a lei, os estatutos da empresa ou o bem público. A decisão ficava em
suspenso, até validação ministerial. As formas de liquidação das dívidas pela CNAP
foram igualmente levantadas, e a Câmara Corporativa não via outra solução a não ser a
de as juntar e de realizar o pagamento mediante uma taxa de juro baixa (menos de 3%)
em 24 prestações, uma vez que a marinha mercante era uma entidade de interesse
nacional. A nova dívida seria assegurada com a hipoteca dos navios, das instalações e
de outros materiais, sendo possível reforçá-la com o penhor da totalidade ou de parte
das ações conferidas às antigas CNN e CCN.
32 Para portos estrangeiros, portos nacionais desde que não servidos de forma
regular, entre a metró (...)
34O governo poderia exigir que, ao pagamento do seu crédito, fossem aplicados os
dividendos das mesmas ações. Estas ações seriam retidas na CNC até 1952, e libertadas
à medida que a dívida fosse sendo paga. Caso a CNAP decidisse vender um navio e o
dinheiro da venda não fosse utilizado totalmente para a amortização da dívida, o
governo podia exigir uma segunda hipoteca sobre os navios adquiridos pela CNAP. Ao
mesmo tempo, e para assegurar a renovação da frota nos próximos cinco anos, a Câmara
sugeria que a CNC tivesse representação em obrigações, amortizadas em 25 anos e a
uma taxa de juro inferior a 3%, sem que os acionistas pudessem receber dividendos. A
hipoteca dos navios realizar-se-ia somente quando a empresa atingisse o capital social
de 60 000 000 escudos. Perante a eventual perda de lucros reivindicada pelas empresas
de navegação, a Câmara Corporativa opôs-se à imposição de transporte gratuito de
cargas e de passageiros por conta do estado. Quis igualmente assegurar a possibilidade
de realizar outras carreiras sem autorização do governo,32 desde que não prejudicassem
a exploração das carreiras obrigatórias. Aceitando a exclusão da exploração pela CNAP
da carreira do Oriente, a Câmara Corporativa considerava, no entanto, que esta
companhia deveria ser preterida se o governo decidisse realizá-la, e na condição de ser
subsidiada. A CNAP teria a responsabilidade de apresentar, num prazo de seis meses
após a sua constituição, um programa de exploração das rotas obrigatórias e de
renovação da frota, de maneira a que, ao perfazer os cinco anos, não tivesse em serviço
nenhum navio com mais de 20 anos de construção. Qualquer alteração ao programa ou
alienação de navios deveriam ser aprovadas pelo governo.
5. Conclusão
37A relação das companhias portuguesas de navegação com o estado teceu-se desde
cedo, pelo que a conceção das estratégias empresariais nacionais e das formas de
rentabilidade da exploração das rotas marítimas tiveram como base o enquadramento
oficial e, desde o pacto colonial do século XIX, estiveram associadas à estratégia de
dominação colonial. As vulnerabilidades eram várias e percorreram o período em
análise. Ao problema ligado ao investimento, às deficiências estruturais e ao tipo de
exploração colonial adotado para garantir a rentabilidade no comércio, importa também
juntar o peso político e económico das potências imperiais estrangeiras e dos seus
agentes económicos privados, dos quais Portugal era dependente. A declaração de
interesse público constituiu uma viragem importante no papel do estado na marinha
mercante nacional, mas também naquele que foi concedido às empresas de navegação
nas colónias.
38Os impactos das crises económicas e políticas dos anos 1920 e da Grande Depressão
obrigaram o estado a reconfigurar o papel da marinha mercante nacional e das colónias
na política económica e externa portuguesa. A partir desse momento, a relação entre os
protagonistas estreitou-se, também porque as empresas de navegação consideraram
imprescindível a intervenção do estado para regular e proteger a marinha mercante.
Assim, durante os anos 1930, o governo iniciou a reconversão das companhias de
navegação, agindo progressivamente e energicamente para regular o setor. A análise da
cartelização corporativa na marinha mercante demonstrou as várias etapas,
caracterizadas pela maior ingerência do estado na regulação das atividades do comércio
nacional e das companhias portuguesas de navegação em particular (organização interna
administrativa e financeira, acesso aos capitais, modalidades da renovação da frota,
definição das tarifas e das rotas a explorar).
41Nunca mais chegou a ser repensado um projeto que cedesse a uma única companhia
de navegação a exploração do transporte marítimo com as colónias portuguesas. Após o
conflito, as principais companhias mantiveram-se. O despacho nº 100, que estabeleceu,
pela primeira vez, um plano geral de fomento da marinha mercante nacional, confirma-
o. A cada companhia portuguesa de navegação foi incumbida a tarefa de explorar rotas
marítimas determinadas pelo governo português.34 A adoção do regime de serviço
público na exploração das rotas marítimas coloniais, a responsabilidade concedida ao
estado na determinação da estratégia a adotar e nos modos de financiamento das
empresas consolidaram a ideia de haver uma maior proteção estatal a partir da
cartelização corporativa, a fim de evitar situações de instabilidade económica ou efeitos
negativos da concorrência estrangeira e nacional. Esta posição manter-se-ia ao longo
dos anos 1950 e 1960, marcando as estratégias económicas e comerciais internacionais
e coloniais. Foi finalmente no esforço de reorganização do setor marítimo nacional, e na
persistência da estreita relação entre o estado e as empresas de navegação tecida nos
anos 1930, que se construiu uma cultura empresarial que normalizou a proteção à
concorrência e a sua cartelização.
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Notas
1 Decreto-Lei nº 18570 – Secretaria-Geral (SG) do Ministério das Colónias (MC).
Diário do Governo (doravante DG), I Série, nº 156, 8 de julho de 1930.
21 Idem, Ibidem.
24 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura.
25 Tanto Bernardino Corrêa como o comissário junto da CCN tentaram uma
intervenção direta junto de Salazar para travar o projeto de fusão. Em ANTT, Arquivo
Oliveira Salazar, AOS/CO/MA-3, PT11: Carta de Bernardino Corrêa, diretor da CCN,
para o presidente do conselho Oliveira Salazar, Lisboa, 24 de fevereiro de 1939; e carta
para Oliveira Salazar, 1 de fevereiro de 1939.
26 ANTT, Fundo CPTM, NT 3535: Parecer do advogado José do Vale Matos Cid, 9 de
agosto de 1938; e ofício do Comissário do governo junto da CCN para o Ministro das
Finanças, 27 de agosto do mesmo ano.
29 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura, p. 1.
30 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II Legislatura, p. 46.
32 Para portos estrangeiros, portos nacionais desde que não servidos de forma regular,
entre a metrópole e a África Oriental pelo canal de Suez, viagens de cruzeiro, de
tramping e de transporte de carvão, óleos e outras mercadorias para consumo próprio.
33 “Proposta de lei sobre navegação para as colónias”. Diário das Sessões da Câmara
Corporativa, suplemento ao nº 47, 18 de novembro de 1939, II legislatura, p. 52.
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Referencia electrónica
Yvette Santos, «O estado português, a marinha mercante e as colónias, 1926-
1939», Ler História [En línea], 79 | 2021, Puesto en línea el 20 diciembre 2021,
consultado el 11 abril 2023. URL: http://journals.openedition.org/lerhistoria/9270; DOI:
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.9270
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Autor
Yvette Santos
ivetesantos@fcsh.unl.pt
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https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/
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Sérgio Vieira
Poeta e político moçambicano, Sérgio Vieira nasceu em 1941, em Tete (Moçambique).
Licenciado em Ciências Políticas, desde jovem se tornou ativista político. Durante os
estudos universitários, em Lisboa, esteve estreitamente associado às atividades culturais
da Casa dos Estudantes do Império (CEI) e, depois, exilado em Dar-es-Salam
(Tanzânia), dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da FRELIMO. Após a
independência do seu país, exerceu o cargo de Governador do Banco de Moçambique e
o de Ministro da Administração Interna.
Quanto à sua atividade literária, colaborou em alguns jornais e revistas, como o Jornal
de Angola e a Mensagem (CEI), publicou Também Memória do Povo (1983) e está
incluído em várias antologias de poesia, tal como Poetas Moçambicanos (1962), Breve
Antologia da Poesia de Moçambique (1967), Poesia de Combate (1977), No Ritmo dos
Tantãs (1991).
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Como referenciar
Porto Editora – Sérgio Vieira na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult.
2023-04-11 13:53:41]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$sergio-vieira
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SÉRGIO VIEIRA
Poeta e político moçambicano, Sérgio Vieira nasceu em 1941, em Tete (Moçambique).Licenciado em
Ciências Políticas, desde jovem se tornou activista político. Durante os estudos universitários, em Lisboa,
esteve estreitamente associado às actividades culturais da Casa dos Estudantes do Império (CEI) e, depois,
exilado em Dar-es-Salam (Tanzânia), dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da FRELIMO. Após a
independência do seu país, exerceu o cargo de Governador do Banco de Moçambique e o de Ministro da
Administração Interna.
Quanto à sua actividade literária, colaborou em alguns jornais e revistas, como o Jornal de Angola e a
Mensagem (CEI), publicou também Memória do Povo (1983) e está incluído em várias antologias de poesia,
tal como Poetas Moçambicanos (1962), Breve Antologia da Poesia de Moçambique (1967), Poesia de
Combate (1977), No Ritmo dos Tantãs (1991).
ALV ORADA
Sobre ti,
com o sangue
assim,
vida e calor,
E ainda doloridas
e sobre ti,
A ti,
e a tua mensagem
E queremos
e de nosso grito
queremos construída
a realidade do
Venceremos
---------------------------------------------------------------------------------------------
TEXTO EN ESPAÑOL
ALBORADA
Sobre tí,
si,
vida y calor,
Y aú doloridas
rojos y trites
y sobre ti,
sobre ti,
A ti,
y tu mensaje
Y queremos
y de nuestro grito
queremos construí
Venceremos.
Poemas publicados originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar
cedido para la Biblioteca Nacional de Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la debida anuência del
traductor.
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2.3. As marcas da alienação em canto dos guerrilheiros (indicar o tipo de aliencao e citar os
exemplos do texto correspontentes)
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2. Filosofia
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação
A alienação (do latim, alienatio) significa estar fora de algo, estar alheio a algo. No caso
da alienação do trabalho, ela é o efeito do trabalhador não ter acesso aos bens que ele
mesmo produz.
Numa linha de produção, por exemplo, o trabalhador faz apenas parte do processo,
estando completamente alheio ao produto final e, por consequência, do valor agregado
ao bem a partir de seu trabalho.
A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes. (Marx &
Engels, em O Manifesto do Partido Comunista)
Deste modo, o ser humano diferenciou-se dos outros seres da natureza pela construção
de artefatos que visavam melhorar a vida de todos. A função do trabalho é
compreendida como a capacidade produzir coisas para suprir suas necessidades. No
caso do trabalho como forma de humanização, o resultado obtido é o bem-estar geral.
Trabalho Alienado
Ao longo da história, a humanidade se desenvolveu a partir de uma relação antagônica
entre dominadores e dominados (luta de classes), a produção passou a ter o objetivo de
suprir as necessidades da classe dominante.
Deste modo, tinha total consciência sobre valor agregado por seu trabalho, que
corresponde ao valor do produto final subtraindo o valor dos custos de produção.
Sendo assim, o proletariado vende seu único bem, que é a força de trabalho, e essa passa
a ser posse do capitalista. O capitalista é o dono da matéria-prima, do maquinário, da
força de trabalho (do trabalhador), do produto final e, por conseguinte, do lucro.
Essa é uma das principais teses do marxismo, é sobre a ideia da mais-valia que diversos
teóricos desenvolvem a ideia da exploração da classe trabalhadora pela classe burguesa.
Marx chama a atenção para a função do desemprego como forma de manutenção dos
baixos salários e das péssimas condições de trabalho. A esse grupo de pessoas a espera
lugar em um posto de trabalho, Marx dá o nome de "exército de reserva".
A reificação (do latim res, que significa "coisa"), ou coisificação, da classe trabalhadora
é gerada pela perda de consciência de si como individuo, como humano. Essa condição
gera uma perda essencial, acarretando em um vazio existencial.
Por outro lado, o vazio existencial, causado pela alienação, é conduzido a ser
preenchido através do consumo. O "feitiço" (fetiche) gerado pela mercadoria dá a
impressão de devolver ao indivíduo sua humanidade perdida.
Comunismo
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Materialismo Histórico
Diferenças entre Capitalismo e Socialismo
Modo de produção capitalista
Questões sobre Karl Marx
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
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