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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema: “O Vínculo da liberdade com a verdade e a lei natural”.

Nome do estudante: Alfândega Ricardo Tendecai.

Código: 708210064

Docente: Ir. Luísa Santos

Curso: Licenciatura em Ensino da

Língua Portuguesa

Disciplina: Ética Social

Ano de Frequência: 3º Ano

Tete, Maio de 2023

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(indicação clara dos 1,0
problema
Introdução • Descrição dos 1,0
objectivos
• Metodologia
adequada ao objecto 2,0
do trabalho
• Articulação e
domínio da discurso
académico 2,0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada/coesão
textual
Analise e
• Revisão
discursão bibliográfica
nacional e 2,0
internacionais
relevantes na área de
estudo
• Exploração dos 2,0
dados
Aspectos Conclusão • Contributo teóricos
gerais práticos 2,0
Formatação • Paginação, tipo e
tamanho de letra, 1,0
paragrafo
espaçamento entre
linhas
Referências Normas APA • Rigor e coerência
bibliográficas 6ª edição em das citações/ 4,0
citações referências
bibliográficas bibliográficas

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Índice

Capítulo I ................................................................................................................................... 4

1.1. Introdução ....................................................................................................................... 4

1.1. 1. Objectivos .................................................................................................................. 4

1.2. Metodologias................................................................................................................... 4

Capítulo II .................................................................................................................................. 6

2.1. Desenvolvimento do tema................................................................................................... 6

2.1.1. Conceito da liberdade ...................................................................................................... 6

2.2. Importância da liberdade..................................................................................................... 7

2.3. Limites da liberdade ............................................................................................................ 8

2.4. Diferença entre liberdade e libertinagem .......................................................................... 10

2.5. Como é entendida a liberdade nos dias de hoje? .............................................................. 11

2.6.1. Em que consiste a lei natural? ........................................................................................ 12

2.7. A dignidade da pessoa humana ......................................................................................... 13

2.7.1. Conceito da dignidade.................................................................................................... 14

Capítulo III ............................................................................................................................... 15

3.1. Conclusão .......................................................................................................................... 15

3.2 Referências bibliográficas………………………………………………………………..16

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Capítulo I

1.1. Introdução
O trabalho é atinente à cadeira da Ética Social, o qual, nos traz o tema: “O vínculo da liberdade
com a verdade e a lei natural”. Diante desta temática, debruçaremos vários assuntos
relacionados à temática, assuntos que relatam sobre a liberdade.
Dizer que a questão da liberdade se impõe constantemente ao homem. É um tema de amplitude
inesgotável. Quem o aborda sempre tem um ponto de partida e uma finalidade. É uma palavra
chave no contexto contemporâneo e no Direito. Essa actualidade será ainda mais marcante se
considerarmos a liberdade não apenas em si mesma, como valor ético, mas também nos
fixarmos na sua significação histórica e dinâmica de libertação. Ser livre é da natureza humana.
E, quando se trata de examinar as funções sociais do Direito, necessariamente temos que
abordar este tema. Liberdade e Justiça são temas correlatos.
Estruturalmente, o trabalho compões da Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e por fim a
bibliografia como sustento deste trabalho.

1.1.1. Objectivos
1.1.2. Geral:
✓ Compreender até que ponto a liberdade se vincula com a verdade e a lei natural.

1.1.3. Específicos:
✓ Definir o termo “liberdade”;
✓ Indicar a importância da liberdade e seus limites;
✓ Diferenciar termos “liberdade” e “libertinagem”;
✓ Descrever a relação entre liberdade e verdade tendo em conta a lei natural;
✓ Realçar sobre a dignidade da pessoa humana.

1.2. Metodologias
Com o intuito de atender aos objectivos propostos neste estudo e com base no desenvolvimento
do trabalho, apresentamos a metodologia que tornou viável a investigação deste trabalho.

1.2.1. Natureza da pesquisa

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Tendo em consideração o estudo e o desenvolvimento do trabalho, trata-se de um estudo
exploratório que, segundo Cooper e Schindler (2003), possibilita o desenvolvimento claro de
conceitos e definições.
À semelhança do que acontece na maioria das pesquisas exploratórias, a nossa pesquisa assume
a forma de pesquisa bibliográfica.
Conforme escreve Gil (1996), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído de livros e artigos científicos”, (p.48).

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Capítulo II
2.1. Desenvolvimento do tema

2.1.1. Conceito da liberdade


O conceito de liberdade vem do termo grego eleuthería e designa, com efeito, o homem livre
(Mora, 2001; Gobri, 2007).
Em latim, a etimologia da palavra liberdade está relacionada ao adjectivo liber (deriva de
liberto), o qual se aplica ao “homem em que o espírito de procriação encontrase naturalmente
activo” (Mora, 2001).
Assim, a concepção de liberdade, em latim (libertas), pode ser definida como a condição
daquele que é livre, a capacidade de agir por si mesmo, a autodeterminação, a independência
ou a autonomia (Japiassu & Marcondes, 2006).
Segundo Mora (2001), nessa concepção latina, o homem livre é, então, o não submetido, e
desse significado derivam os subsequentes como, por exemplo, o de ser capaz de fazer algo
por si mesmo.
Percebese, assim, que tanto para os gregos quanto para os latinos a liberdade se apresenta como
um estado de ser.
Para os gregos, o homem livre é diferente do escravo, enquanto que para os latinos ele assume
uma responsabilidade perante a comunidade e também consigo mesmo (Bueno, 2007).
A noção de liberdade não só inclui a possibilidade de decidir, mas também a de
autodeterminação, a ideia de responsabilidade para consigo mesmo e também para com a
comunidade, uma vez que ser livre implica assunção de algumas obrigações (Mora, 2001).
Mora (2001), ressalta que a noção de liberdade sempre envolve três modos básicos de
entendêla: uma liberdade que pode chamarse “natural”, uma liberdade que pode chamar-se
“social” (política) e uma liberdade que pode chamar-se “pessoal” (concebida como autonomia
ou independência).
Nesse sentido, a noção de liberdade permeia uma abordagem ontológica, na qual o homem só
é livre enquanto ser racional e disposto a agir como ser racional, (Mora, 2001); uma abordagem
política, em que a liberdade ou autonomia, numa comunidade determinada, consiste na
possibilidade de reger seus próprios destinos, sem interferência de outras comunidades; e uma
abordagem ética, eventualmente baseada na ideia de que há no indivíduo uma realidade que
não é, em termos estritos, “social”, mas plenamente “pessoal” (Mora, 2001; Japiassú &
Marcondes, 2006).

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Nessa mesma perspectiva, Japiassu e Marcondes (2006), lembram que o termo liberdade,
também, pode ser analisado segundo três acepções ou sentidos diferentes: em um sentido
político, a liberdade civil ou individual é o exercício, por um indivíduo, de sua cidadania dentro
dos limites da lei e respeitando os direitos dos outros; em um sentido ético, trata-se do direito
de escolha pelo indivíduo de seu modo de agir, independentemente de qualquer determinação
externa; e liberdade de pensamento, que em seu sentido estrito, é inalienável. Esses sentidos
podem oscilar entre as várias dimensões ou tipos de liberdade, apontadas por Mondin (2014),
como liberdade física, moral, psicológica, política e social.
Abbagnano (2007), assevera, também, que o termo liberdade tem três significados
fundamentais, correspondentes a três concepções que se sobrepuseram ao longo de sua história
e que podem ser caracterizadas da seguinte maneira: (1) liberdade como autodeterminação ou
autocausalidade, segundo a qual ela é ausência de condições e de limites; (2) liberdade como
necessidade, que se baseia no mesmo conceito da precedente, a autodeterminação, mas
atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence (Mundo, Substância, Estado); (3) liberdade
como possibilidade ou escolha, segundo a qual ela é limitada e condicionada, isto é, finita.
Mora (2001), relembra que o conceito de liberdade foi entendido e usado de maneiras muito
diversas e em contextos muito diferentes, desde os gregos até aos tempos actuais.

2.2. Importância da liberdade


Segundo Vasquez (1996), “o conhecimento e a liberdade é que permitem legitimar a
responsabilidade moral, caso contrário, se há falta de liberdade e conhecimento, o indivíduo
não possui responsabilidade moral”, (p. 91).
Pois, quem não possui consciência para agir, não pode ser responsável pelos seus actos.
É fundamental para que o indivíduo seja responsável por seus actos que ele não sofra nenhuma
coação externa, isto é, que a acção praticada provenha de dentro da própria pessoa e não de
fora. Pois, quando o indivíduo encontra-se sob coação ou pressão, perde o controle de seus
actos. O indivíduo é isento de responsabilidade moral quando não teve possibilidade de agir de
outra maneira.
A condição primordial da acção é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de
escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e
se responsabiliza por elas assumindo seus riscos. Escolhe roupas, amigos, amores, filmes,
músicas, profissões... A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção
não existe escolha nem liberdade.

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As escolhas nem sempre são fáceis e simples. Escolher é optar por uma alternativa e renunciar
à outra ou às outras.
Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravizada que se ache uma pessoa, sempre lhe
sobra algum poder de escolha. Também não há liberdade infinita, ninguém pode escolher tudo.
O acto livre é, necessariamente, um acto pelo qual se deve responder e responsabilizar-se.
Porque sou livre tenho que assumir as conseqüências de minhas acções e omissões.
Os animais irracionais não são livres, não são responsáveis pelo que fazem ou deixam de fazer.
Ninguém pode condenar um cavalo que lhe deu um coice. O animal não faz o que quer e sim
o que precisa ou o que se encontra determinado pelo instinto de sobrevivência para que
continue existindo.
A reflexão acerca da liberdade encontra-se inclusa no Projecto da Modernidade, onde os termos
autonomia, emancipação e liberdade estão relacionados entre si, e também são bases de tais
reflexões. Pensar a liberdade não é possível sem fazer alusão a esse Projecto, no qual os três
termos distintos determinam o mesmo sentido, a maioridade do homem.

“A liberdade é um pressuposto básico para que o homem seja responsável por seus actos e suas
escolhas”, (Vasquez, 1996, p. 92).
É dentro da Modernidade que o homem busca emancipar-se, ser autônomo e livre. O período
moderno é chamado também de período antropocêntrico, onde o homem é capaz de fazer suas
escolhas e praticar suas acções, e é dentro da Modernidade que lhe é oferecido a possibilidade
de emancipar-se e ser autônomo, enfim, conquistar sua liberdade.

2.3. Limites da liberdade


Para este trabalho, optamos em falar dos limites da liberdade de expressão na ordem
constitucional. Muitos grupos e indivíduos sentem-se confortáveis em expor pontos de vista
considerados por muitos como discurso de ódio, além de ataques directos e indirectos à honra
de pessoas físicas e jurídicas públicas ou privadas, disseminando mentiras ou distorções de
factos, utilizando-se do amplo, rápido e eficiente mecanismo de propagação de dados através
da rede.
Para além da lesão a outros direitos fundamentais, as acções que visam combater a
desinformação não se limitam a protecção de quem quer que possa ser ofendido em sua honra
por uma mentira perpetrada num post, ela atinge o próprio acto de propagar a desinformação.
A luta, portanto, é contra a desinformação, considerada um mal em si, pelo seu alcance e pelo
suposto iminente mal maior que cause a sociedade.

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Ocorre que actuar contra a propagação de desinformação influi em actuar para embaraçar o
exercício de um direito fundamental: a livre manifestação do pensamento. Isso porque propaga-
se desinformação sobre todo tipo de assunto e, nas acções dos indivíduos que se denunciam
tais actos de propagação das chamadas fake news, há grande carga de ideologia política. Ora,
em um cenário de disputa ideológica, uma informação falsa pode ser mais útil que a verdadeira,
independente do lado do espectro político que se esteja falando.
A grande questão da desinformação é saber se podemos impedir que as pessoas a propaguem
sob o argumento de sabermos ser ela falsa e prejudicial. Mas quem é o juiz desta verdade? E a
informação ou opinião falsa por si só constitui fundamento para silenciá-la? O público em geral
não possui, além do direito de pensar e expressar, o direito também de ouvir qualquer outra
opinião, ainda que falsa?
Para Mill (2018), um dos filósofos mais influentes e precursores do liberalismo político, o
problema do combate às expressões de pensamento deve ser enfrentado sob dois pontos de
vista: o da verdade e o da utilidade.
No primeiro, estabelece que nunca se pode com certeza determinar que uma opinião é falsa,
principalmente devido a subjectividade do julgamento humano.
No segundo, estabelece que a utilidade de uma ideia não pode ser definida sem que se possa,
através do livre debate, saber a utilidade de uma dada proposição, independente se, porventura,
puder ser esclarecida falsa, (Mill, 2018).
Mill (2018), ensina que a possiblidade de abertura para confrontar opiniões diversas é que
permite que a opinião ou fato falso seja esclarecido e assim fortaleça a versão mais correcta
possível para o momento em questão, porque ninguém pode, em nenhum momento e por sua
própria subjectividade, determinar o que seja a verdade, ao que Mill (2018, passim), chama de
"pressuposição de infalibilidade".

Tal raciocino não cabe apenas a indivíduos, mas também às instituições e seus membros, já
que a capacidade destes de suprimir a liberdade de pensamento é devastadora.

A nosso ver, a doutrina de Mill (2018), sobre a liberdade de expressão, aplicada ao nosso
tempo, leva a proposta de que o provedor de aplicação de rede social não deve, por exemplo,
derrubar uma postagem com fake news publicada em sua plataforma, mas sim indexá-la a uma
nota explicativa ou propor um link para uma “postagem-resposta” àquela suposta enganosa,
para propor o confronto das ideias e permitir que o público, munido de todas as versões,
identifique a mais condizente para si e por ventura a mais condizente com que a razão humana
geral processe.

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Este último recurso é possível já que, como alertou Pariser (2012), é do tipo de modelo de
negócio dos provedores de mídias sociais e serviços de busca e agregadores descobrir, explorar
e instigar comportamentos de seus usuários.
Em um estado democrático de direito absorto em uma nova realidade de provisão de ideias que
se faz digital, interconectada e pulverizada — na qual indivíduos comuns, antes invisíveis, mas
que através das aplicações digitais podem se tornar relevantes, sendo criadores de seu próprio
conteúdo de informação e de disseminação de comunicação — nada mais desejável que os
grandes actores económicos que dão vida a esta realidade ajam para colaborar para a liberdade
de pensamento e provisão de ideias múltiplas.
Nesse cenário, ao poder público não caberia impor qualquer tipo de censura prévia ou posterior
a uma determinada fake news, seja por meio de acções executivas, legislativas ou judiciárias,
mas sim de agir como um actor idóneo nos debates, fomentando as informações que se
considere de interesse público por meios que lhe cabem na administração pública exercida em
meio digital, promovendo o combate à desinformação por meio de informação e não de
censura.

2.4. Diferença entre liberdade e libertinagem

2.4.1. Liberdade
A liberdade é o direito de ir e vir, porém, com certo limite, assim como tudo no universo. Algo
sem limites é destrutivo em qualquer lugar, e por isso, uma sociedade não foge da regra. Assim,
para nossa sociedade e o convívio terem o mínimo de “harmonia”, temos que nos limitar
baseando-nos em regras morais, éticas, nas leis, etc. Essas regras podem mudar de um lugar
para outro; de um país para outro, de um grupo social para outro, enfim. Em tudo há limite,
alguns dizem que esses limites são a prova viva que não existe liberdade de facto, o que não é
verdade. Muitos se confundem, e poucos sabem que liberdade sem limites, é libertinagem.
Esses limites da liberdade são naturais e foram se aprimorando com o tempo, assim como a
tecnologia, a forma de se construir casas (ou prédios), enfim. Quando se via uma falha e esta
fosse prejudicial às pessoas (e/ou sociedade), essas coisas eram moldadas, modificadas. Ou
dependendo do ponto de vista, evoluídas.

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Sempre haverá pessoas que não concordem com uma regra, conduta, sobre uma lei ou falta de
uma, enfim. Sendo as regras (limites) naturais, elas vão se moldando de acordo com o pensar
da sociedade, e se existem, é para o bem da sociedade.
Podemos também dizer que "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do
outro”. Isso diz com clareza, e passa a ideia de que, se não respeitar o direito de liberdade do
outro, usando sua liberdade para isso, ele poderá fazer o mesmo com você. Essa mesma ideia
está expressa nesse ditado popular: “não faça aos outros o que não quer que façam a você”.
Há as leis, com punição directa (privamento da liberdade, seja sendo preso ou tendo que pagar
uma multa, serviço comunitário, etc.) e a moral/ética com “punição” (consequência) directa e
indirecta. Directa pode ser, por exemplo, fazer coisas imorais em certa ocasião e ser reprimido.
Indirecta pode ser fazer sexo com diversas pessoas, podendo contrair doenças, assim como
nadar num rio sujo e ficar doente.

2.4.2. Libertinagem
A libertinagem nada mais é do que a liberdade sem limites, sem consciência, sem
responsabilidade, sem pensar nos danos (directos e/ou indirectos) à si e ao outros. Ela é
destrutiva à pessoa que a pratica e à sociedade, pois, como já havia dito, os limites da liberdade
são naturais e foram “criados” para ter-se harmonia, bem-estar, etc. Foram criados para o bem
das pessoas. Um exemplo de transgressão da liberdade (libertinagem) é usar da sua liberdade
para assaltar alguém (privando a liberdade da pessoa de possuir algo), para oprimir alguém por
motivos fúteis, como a roupa ou gênero (privando a liberdade de uma pessoa viver a vida como
é melhor para ela).
A libertinagem é a prática da liberdade sem consciência, respeito; é transgredir o direito alheio
e criar mal a si mesmo (assim como aos outros), pois transgredindo o direito alheio, o libertino
abre margem para ter seus direitos (sua liberdade) transgredida, privada, enfim.

2.5. Como é entendida a liberdade nos dias de hoje?


Nos dias de hoje a liberdade individual, é entendida como a verdadeira liberdade actual. A
liberdade política é a sua garantia e, portanto, indispensável. Por exemplo, na realidade
moçambicana, vejamos nos parlamentos em que diversos partidos políticos discutem a matéria
em pró do desenvolvimento do País onde os deputados tem a liberdade de expressão consoante
aquilo que acha melhor para o País. Indo para a área cultural, os músicos e cantores, expõem
as revindicações sobre a má governação no País por meio de músicas, poesias, entre outros.

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Socialmente, Moçambique é um país onde cada dia a sociedade se preocupa no auto-emprego
para sustentabilidade da família, portanto, é esta liberdade que cada um é livre de fazer por
escolhas. (Fonte: adaptado pelo autor).

2.6. Relação entre liberdade e a verdade tendo em conta a lei natural


Neste subtema, temos a intenção de compreender a relação entre a verdade e a liberdade em
Michel Foucault. Para o autor, a verdade é sempre de carácter ficcional, ou seja, uma
construção.
A produção de verdades está ligada a sistemas de poder, uma vez que instituições com
interesses políticos e económicos se apropriam do estabelecimento do "verdadeiro" para
influenciar no comportamento de indivíduos (Foucault, 2007).
Em uma entrevista intitulada A ética do cuidado de si como prática da liberdade, Foucault
(2004), defende que cumes de liberdade podem ser experimentados através do conhecimento e
cuidado de si.
Trata-se de reflectir sobre si, para agir não em submissão às normas sociais, mas em
conciliação entre seus desejos e as prescrições. Dessa forma, entendemos que, se por um lado,
a construção de discursos "verdadeiros" busca unificar a conduta dos homens, por outro, a
prática do cuidado de si, possibilita uma existência singular, que não se submete ao modelo
social imposto.

2.6.1. Em que consiste a lei natural?


A exposição da lei natural é precedida por explicações acerca da lei eterna.
Em suma, Tomás compreende que “as leis estão hierarquicamente organizadas, sendo a lei
eterna como a lei superior, uma vez que ela corresponde ao ordenamento racional presente na
mente divina para tudo o que é criado”, (Santos, 2003, p. 17).
Na filosofia do doutor Angélico, “Deus é concebido como artífice, o qual conserva na sua
mente a ordem para a finalidade dos objectos criados”, (Santos, 2003, p. 17).
Assim, será através da lei eterna que a mente divina regulará e ordenará todas as criaturas.

Porém, elas não estão ordenadas da mesma forma, enquanto algumas


estão cegamente submetidas aos instintos naturais, o homem, por seu
turno, não é impelido a agir necessariamente pelo impulso natural. Isso
ocorre devido às sua faculdades (intelecto e a vontade), que o permite
agir livremente e, portanto, ser responsabilizado moralmente pelos
seus actos, (Míssio, 2002).

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Aqui surge uma dificuldade: o homem, enquanto criatura imperfeita perante a perfeição do
Criador, não consegue apreender racionalmente a totalidade da lei eterna. Tem-se então um
pequeno impasse, pois: a razão divina tem uma ordem na qual o homem está inserido, porém
ele não tem acesso a ela. Como seguir uma lei que não é acessível? A resposta de Tomás virá
a partir de uma sútil distinção. Segundo ele, há duas maneiras de uma lei ordenar: a primeira
se dá enquanto princípio ordenador; e a segunda ocorre enquanto é regulado. O homem não
tem acesso à lei eterna enquanto criador da regra ordenadora porque não tem acesso directo à
razão divina.
Porém, “o homem pode participar dela na medida em que descobre, que busca, através do
exercício do intelecto prático, preceitos básicos na sua própria razão”, (Honnefelder, 2010, p.
324).
Nas palavras de Tomás:
inter cetera autem rationalis creatura excellentiori quodam modo
divinae providentiae subiacet, inquantum et ipsa fit providentiae
particeps, sibi ipsi et aliis providens. Unde et in ipsa participatur ratio
aeterna, per quam habet naturalem inclinationem ad debitum actum
et finem, (Aquino, 1995).

Dito de outro modo, a razão prática garante a participação do homem na lei eterna, na medida
em que o homem discerne certas tendências e necessidades fundamentais de sua própria
natureza e aplica em suas acções, (Aquino, 1995).

2.7. A dignidade da pessoa humana


A dignidade da pessoa humana é uma qualidade intrínseca, inseparável de todo e qualquer ser
humano, é característica que o define como tal. Concepção de que em razão, tão somente, de
sua condição humana e independentemente de qualquer outra particularidade, o ser humano é
titular de direitos que devem ser respeitados pelo Estado e por seus semelhantes.
É, pois, “um predicado tido como inerente a todos os seres humanose configura-se como um
valor próprio que o identifica”, (Sarlet, 2005, p. 22).
Pode-se trazer à baila a visão antropológica de Leonardo Boff, quando do ultraje da dignidade:
Nada mais violento que impedir o ser humano de se relacionar com a
natureza, com seus semelhantes, com os mais próximos e queridos,
consigo mesmo e com Deus. Significa reduzí-lo a um objecto
inanimado e morto. Pela participação, ele se torna responsável pelo
outro e con-cria continuamente o mundo, como um jogo de relações,
como permanente dialogação, (Oliveira, 2005).

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Rocha (2004), ao comentar o Art. 1º da Declaração dos Direitos Humanos, o festejado
dispositivo que decreta a igualdade de todos os seres humanos em dignidade e direitos, faz as
seguintes considerações:

Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um a sua diferença.
Gente não muda. Muda o invólucro. O miolo, igual. Gente quer ser
feliz, tem medos, esperanças e esperas. Que cada qual vive a seu modo.
Lida com as agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é
sofrido igual. A alegria, sente-se igual, (p. 13).

2.7.1. Conceito da dignidade


Na concepção de Luís Roberto Barroso (2013):

a dignidade humana identifica 1. O valor intrínseco de todos os seres


humanos; assim como 2. A autonomia de cada indivíduo; e 3. Limitada
por algumas restrições legítimas impostas a ela em nome de valores
sociais ou interesses estatais (valor comunitário) (Barroso, 2013,
p.72).

Para o autor, cada um dos elementos possui um significado, sendo que o valor intrínseco
representa as características próprias dos seres humanos, inerentes a sua natureza, o que os
diferencia de outras espécies. Ainda, de acordo com o seu entendimento, é esta a característica
que dá origem a vários direitos fundamentais garantidos no direito, o principal deles o direito
à vida; já a autonomia, nada mais é do que o direito do indivíduo de fazer as suas próprias
escolhas, que no campo jurídico é pautado pela autonomia privada e autonomia pública, o autor
faz o alerta de que este elemento não pode simplesmente levar em consideração as necessidades
pessoais; por último, o valor comunitário representa o papel do Estado no estabelecimento de
metas a serem cumpridas de forma colectiva, bem como, as restrições impostas aos indivíduos
em nome de um bem maior.
Conforme se observa, outra grande dificuldade no que tange à dignidade humana, além de sua
conceituação, é a sua abrangência, ou seja, quais direitos tal princípio poderia abarcar e até
mesmo mitigar, em razão da sua importância que foi adquirida nos últimos anos nos
ordenamentos jurídicos, em diversas áreas do direito.

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Capítulo III

3.1. Conclusão
Chegado aqui, pomos o término o nosso trabalho, o qual versou sobre “O vínculo da liberdade
com a verdade e a lei natural”; foram abordados por meio desta temática, diversos conteúdos
no contexto social, político, cultural, religioso, entre outros. Falamos ao longo do estudo sobre
a liberdade no sentido diversificado. Portanto, os homens necessitados não são livres. Nesse
sentido, a luta pela liberdade real e concreta abrange a luta contra a miséria, o desemprego e
condições de trabalho desumanas muito semelhantes à escravidão, o subdesenvolvimento e as
grandes desigualdades na repartição dos bens e encargos sociais. Percebemos ainda que a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, da ONU, é o ponto alto da liberdade humana
no Art. 1º em que afirma: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
O Art. 2º afirma: “Todo o homem tem capacidade para gozar dos direitos e liberdades
estabelecidos nesta Declaração...” O Art. 3º afirma: “Todo o homem tem direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal.”
É do conhecimento que vivemos num mundo extremamente pluralista. Isso significa que toda
a realidade, que, à primeira vista, parece ser uma, homogénea, é, na realidade, altamente plural.
E para acompanhar esta realidade pluralista, o direito, na sua liberdade de normatizar e interagir
com os vários segmentos da sociedade, se faz plural, renascendo na multiplicidade de direitos,
qual árvore que joga seus ramos para abarcar essa mesma realidade.
A autonomia e a independência que as gerações gritam em comportamento, slogans, gírias,
músicas e literatura aparecem-nos em tensão com os valores culturais.

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3.2. Referências bibliográficas

Abbagnano, N. (2007). Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes.


Aquino, S.T. (1995). Escritos políticos de Santo Tomás de Aquino. Trad: Francisco Benjamin
de Souza Neto – Petrópolis, RJ: Vozes.
Barroso, L. R. (2013). A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional
Contemporâneo: A Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jurisprudência
Mundial. tradução Humberto Laport de Mello. 2 reimpressão. Belo Horizonte: Fórum.
Foucault, M. (2004). A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: Ditos & Escritos
V - Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Foucault, M. (2007). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Editora Graal.
Gobri, I. (2007). Vocabulário grego da filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
Honnefelder, L. A. (2010). Lei Natural de Tomás de Aquino como Princípio da RazãoPrática
e a Segunda Escolástica. Tradução de Roberto Hofmeister Pich. In: Teocomunicação,
Porto Alegre, v. 40, n. 3, p.324-337, set/dez.
Japiassú, H.; Marcondes, D. (2006). Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar.
Mill, J. S. (2018). Sobre a Liberdade. 2. ed. Lisboa: Grupo Almedina (Portugal), E-book.
Míssio, E. R. (2002). A concepção de lei natural em Tomás de Aquino. Dissertação de
Mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP.
Mora, J. F. (2001). Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes.
Oliveira, P. A. R. (2005). Fé e Política: fundamentos. São Paulo: Idéias e Letras.
Rocha, C. L. A. (2004). Direito de Todos e para Todos. Belo Horizonte: Editora Fórum.
Santos, B. S. (2003). “A lei natural em S. Tomás de Aquino: introdução, tradução e notas da
questão 94 da Summa Theologicae IaIIae”, In: Agora Filosófica, UNICAP, 2.
Vázquez, A. S. (1996). Ética. 16. ed. Trad. João Dell’ Anna. Rio de janeiro: Civilização
brasileira.

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