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1. Introdução.................................................................................................................................2
1.2. Objectivos.............................................................................................................................3
1.2.1. Geral..................................................................................................................................3
1.2.2. Especificos........................................................................................................................3
1.3. Metodologia..........................................................................................................................4
2.1. Bilingüismo...........................................................................................................................6
2.5. Um olhar sobre a situação atual da educação bilingue no ensino básico moçambicano......9
3. Conclusão...............................................................................................................................14
4. Referências Bibliográficas.....................................................................................................15
1. Introdução
A educação é uma instituição social que desempenha um papel importante no desenvolvimento
de qualquer país ou nação. Na definição de Witt (2016, p. 168), a educação é uma instituição
social dedicada ao processo formal de transmissão da cultura dos (por meio de) professores para
os alunos. Como qualquer outra instituição social, a educação, tem vários campos e variáveis que
podem ser analisados por várias ciências em função do interesse de cada especialista tais como
sala de aulas, alunos, professores, políticas de educação, métodos de ensino, currículo, políticas
de formação de professores, desempenho escolar, reprovações, desistências escolares, motivação
na salas de aulas, participação dos alunos, entre outras. Estas variáveis podem ser apreendidas
por várias ciências sociais e humanas, tais como, sociologia, antropologia, psicologia, pedagogia,
filosofia, entre outras. O trabalho tem como tema: “O Ensino Bilíngue em Moçambique: uma
caso de estudo na Escola Primária Completa de Nensa- Marromeu”.
De referir que o ensino bilingue em Moçambique é introduzido em 2004 com dois principais
objectivos: por um lado, para facilitar a aprendizagem dos alunos por ser uma língua que eles
conhecem, e por outro lado, como forma de se preservar e valorizar as línguas maternas
moçambicanas enquanto um direito de todos os moçambicanos. Este modelo de ensino foi
concebido para ser aplicado em zonas rurais, consideradas linguisticamente homogéneas,
enquanto nas cidades, zonas consideradas linguisticamente heterogéneas, continuaria a aplicação
do ensino monolingue (com recurso à língua portuguesa) com a finalidade de reforçar a unidade
nacional. Em outras palavras, constatou-se que nas zonas rurais o português é menos frequente e
por isso, alunos que lá vivem, devem ser instruídos na sua língua materna para que possam
aprender rápido, ao mesmo tempo que passam a valorizar a sua língua materna por tê-la como
língua de ensino.
1.2. Objectivos
1.2.1. Geral
Analisar o ensino Bilingue em Moçambique em Particular na Escola Primaria Completa de
Nensa.
1.2.2. Especificos
Definir o Bilinguismo;
Identificar os modelos do ensino Bilingue;
Descrever o ensino Bilingue na Escola Primaria Completa de Nensa- Marromeu.
1.3. Metodologia
O segundo tipo de modelo de ensino bilingue contempla uma perspetiva aditiva ao invés da
subtrativa anterior, isto é, a L1 das crianças é sempre o meio de instrução privilegiado enquanto a
língua oficial pode ser meio de instrução alternativo ou apenas uma disciplina curricular nos
primeiros anos de escolaridade (Wolff 2011: 114). A língua oficial nunca é usada durante mais
do que 50% do tempo letivo, dado que o objetivo deste método é levar as crianças a atingirem
um nível de proficiência e de literacia elevado nas suas L1s. Ambas as línguas coexistem até ao
final do ensino secundário com resultados vantajosos tanto ao nível da literacia em ambas as
línguas como em áreas científicas como a matemática (ver Alidou et al. 2006 ou Brock-Utne &
Alidou 2011).
Esta perspetiva não exclui o sucesso que outros programas bilingues menos longos podem
alcançar noutros meios com menos limitações socioeconómicas do que o contexto africano. De
facto, em Moçambique, como noutros países da África sub-saariana, o entorno socioeconómico
de que provém a maioria das crianças pode não compensar possíveis obstáculos inerentes à
introdução de uma L2 como meio de instrução, como pode acontecer em sociedades onde a
família forne um apoio mais sólido ao processo de aprendizagem e de desenvolvimento
cognitivo da criança. Interessa, assim, ter presente o contexto africano, e moçambicano em
particular, no desenvolvimento e implementação de metodologias de ensino bilingue ou de outro
cariz. Para além da óbvia importância da centralidade das necessidades da criança, Bamgbose
(2011) defende que seria vantajoso que se implementassem programas de alfabetização e
literacia de adultos. Ao mesmo tempo, o investimento no estudo das línguas bantu, como tem
vindo a ser feito, e o seu desenvolvimento através da sua utilização em meios de comunicação,
como rádios locais, pode contribuir para a eliminação do estigma tribal associado a estas línguas
e para a construção de uma perspetiva mais positiva acerca do seu uso por parte dos falantes
(Alidou & Brock-Utne 2011).
Quem se interessa pela aquisição/aprendizagem da linguagem pela criança que vive num espaço
multilingue por excelência como é a África não pode de forma alguma ficar indiferente ao modo
cuidado como se encontra desenhado o programa de ensino bilingue em Moçambique
(INDE/MINED 2003) e ao interesse patente no Plano Estratégico da Educação 2012-2016
(PEE), (MINED 2012) em implementar de forma abrangente e por diferentes vias um nível de
ensino prévio à entrada no mundo da escrita.
Não surpreende que Pflepsen et al. (2015) sublinhem a importância de serem considerados os
diferentes contextos nacionais africanos quando avaliam a implementação de um programa de
educação bilingue no ensino básico. Não se revela, porém, um empreendimento simples, ao
impor exigências de diferentes teores.
Para o efeito, chamam estas autoras a atenção para a necessidade de avançar na pesquisa
científica, sobretudo nas áreas da psicolinguística, da pedagogia da criança, da linguística e da
sociolinguística. Atribuem, ainda, um destaque particular a aspetos como a pesquisa nos campos
da aprendizagem e da linguagem, com um enfoque especial no estudo das capacidades
interlinguísticas suscetíveis de transferência da L1 para a L2.
Apesar do INDE não fazer directamente as monitorias/supervisões, a nível nacional, existe uma
comissão da Direcção Nacional do Ensino Primário, do Departamento de Orientações
Pedagógicas, que faz as supervisões do ensino bilingue a nível nacional. Entretanto, este sector
reconhece o facto de não puder fazer as supervisões em todas escolas bilingue do país.
Uma das constatações que a Professora de Português avança, é que nos intervalos fora da sala de
aulas, ambos os alunos (do bilingue e monolingue) interagem com recurso a língua materna
Cisena. Poucos alunos conversam em Português. A predominância das interações na língua
materna nos intervalos ao nível da EPC de Nensa, é na opinião da Professora dessa disciplina, o
reflexo da língua que domina nos círculos de convivência das crianças, ou seja, do ambiente
familiar. Os alunos têm poucas horas na escola e muito tempo na comunidade onde a língua de
comunicação é materna.
A língua e cultura da socialização primária” é uma das variáveis com uma notável influência no
desempenho escolar dos alunos. Como defende Bourdieu (1992), a escola passa a valorizar o
conhecimento, formas de expressão e uma cultura de ser e estar que apenas os filhos das classes
dominantes, que devido ao seu processo de socialização familiar, podem exibir. Os alunos de
origens sociais desfavorecidas, nas quais, a língua de socialização, a cultura, formas de lidar com
o saber, modos de expressão, e os valores morais são contrários aos exigidos pela escola (os
valores das classes dominantes) estariam em condições mais desfavoráveis para responderem às
exigências do sistema escolar.
Com esta conclusão, a autora parece ter-se esquecido que esses alunos são das zonas rurais onde
o português quase que não se fala na comunidade. Mais do que isso, dizer que os alunos
“preferem falar nas suas línguas maternas” em detrimento da língua portuguesa, só pode ser um
argumento válido se os próprios alunos tiverem o domínio ou capacidade de se comunicar
fluentemente em ambas línguas (a materna e a portuguesa). Ai, sim, pode-se dizer que eles
“preferem” falar a língua materna, do mesmo jeito que têm domínio igual da língua portuguesa.
Mas numa situação em que há problemas tanto na escrita, como na fala do português dos alunos
da EPC de Nensa (o que ela constata no seu próprio estudo), isso significa que eles não dominam
a língua portuguesa. Não podem falar uma língua que eles não sabem e tão pouco seus pais
falam. Logo, estamos diante não de uma questão de “preferência”, mas de opção única para se
comunicar e ser compreendido pelos outros.
Portanto, o conjunto desses factores similares em ambos alunos (bilingue e monolingue) cria
condições para que ambos apresentem quase a mesma tendência de desempenho escolar nas
disciplinas de Português e Matemática, apesar dos alunos do ensino monolingue estarem na linha
frente em termos de aproveitamento escolar em relação os seus pares do ensino bilingue. Com
isso, pretende-se dizer que há uma relação de afinidade entre o impacto desses três factores
comuns aos alunos do bilingue e monolingue, e a tendência de aproveitamento escolar de ambos
os alunos, pois, apesar de que os alunos do monolingue apresentam melhor aproveitamento
escolar em Matemática e Português, as diferenças não são abismais.
3. Conclusão
O ensino bilingue em Moçambique é introduzido em 2004 com dois principais objectivos: por
um lado, para facilitar a aprendizagem dos alunos por ser uma língua que eles conhecem, e por
outro lado, como forma de se preservar e valorizar as línguas maternas moçambicanas enquanto
um direito de todos os moçambicanos. Este modelo de ensino foi concebido para ser aplicado em
zonas rurais, consideradas linguisticamente homogéneas, enquanto nas cidades, zonas
consideradas linguisticamente heterogéneas, continuaria a aplicação do ensino monolingue (com
recurso à língua portuguesa) com a finalidade de reforçar a unidade nacional.
A distância entre a língua, cultura e valores exigidos pela escola e a língua, cultura e valores de
socialização primária dos alunos é maior para ambos os alunos, e muito mais grande para os
alunos bilingue em relação os do monolingue, pelo facto dos segundos terem mais contacto
formal (na escola) e informal (no ambiente familiar) com a língua e cultura exigidos pela escola
em relação os primeiros, o que acaba confirmando a hipótese do trabalho.
4. Referências Bibliográficas
Benson, C. (2004). The Importance Of Mother Tongue-Besad Schooling For Educational
Quality. Stockholm: Crbsu.
Chimbutane, F.; Benson, C. 2012. Expanded Spaces for Mozambican Languages in
Primary Education: Where Bottom-Up Meets Top-Down. International Multilingual
Research Journal. 6 (1): 8-21.
INDE/MINED 2003. Plano curricular do ensino básico: Objetivos, política, estrutura,
plano de estudos e estratégias de implementação. Maputo: INDE/ MINED.
Menezes, L. J. (2016). O Ensino Bilingue Em Moçambique: Entre A Casa E A Escola - A
Questão Da Interferência Das Línguas Bantu No Português. Maputo: Novas Edições
Acadêmicas.
Mined. (2003). Plano Curricular Do Ensino Básico. Maputo: Inde-Mined.