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COMPÊNDIO HISTÓRICO DO PENSAMENTO HUMANO

1 – INTRODUÇÃO A FILOSOFIA

1.1 – Saberes Importantes Na Vida Do Ser Humano:

a) Porque é importante estudar filosofia?

A Filosofia é uma ciência que contempla o ser humano dando-lhe uma nova visão de
mundo sobre os seus conhecimentos científicos.

O estudo de filosofia é tão importante aprender porque não se pode pensar em nenhum
homem que seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou
deveria ter) uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política, e deveria
atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de pensar e agir do seu tempo.

A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o


desenvolvimento da consciência crítica, pela qual a experiência vivida é transformada
em experiência compreendida, isto é, em um saber a respeito dessa experiência.

Entendemos que a iniciação filosófica não só é importante e necessária, como também,


deveria ser obrigatória partindo do ponto de vista pedagógico, por ser muito importante
na formação integral de todos os alunos, iniciando-se com o currículo das escolas de 2º
Grau e nas séries iniciais do 3º Grau.

Porque, ao estimular a elaboração do pensamento abstrato, a filosofia ajuda a promover


a passagem do mundo infantil ao mundo adulto. Se a condição do amadurecimento está
na conquista da autonomia no pensar e no agir, muitos adultos permanecem
infantilizados quando não exercitam desde cedo o olhar críticos sobre si mesmos e sobre
o mundo.

b – Porque O Estudo Da Filosofia Foi Retirado Dos Ambientes Escolares?

Sabemos que uma das características dos Estados Autoritários é impedir o ensino da
filosofia e silenciar a crítica dos pensadores, a fim de garantir a obediência passiva dos
cidadãos. Isso já acontece no Brasil desde 1971, o ensino de filosofia desapareceu das
escolas de 2º Grau durante treze anos e os cursos de filosofia do 3º Grau se esvaziaram a
ponto de algumas faculdades terem cogitado a sua extinção.

Por isso, qualquer que seja a atividade profissional futura ou projeto de vida, enquanto
pessoa e cidadão, o aluno precisa da reflexão filosófica para o alargamento da
consciência crítica, para o exercício da capacidade humana de se interrogar e para a
participação mais ativa na comunidade em que vive.
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c – O Que É Filosofia?

Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa “Aurélio”, nos diz que é o estudo que
visa ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na
sua inteireza; pensamento de filósofo (s); ou obra que contém razão; sabedoria.

Segundo Marilena Chauí, a filosofia é a busca dos fundamentos e do sentido da


realidade em suas múltiplas formas, pois ela se encontra inserida na história e tem
consciência de que possui uma história.

d – Atitude Filosófica o que é?

Entre os antigos gregos, predominava inicialmente a consciência mítica cuja maior


expressão se encontra nos poemas de Homero e Hesíodo.

Quando se dá a passagem da consciência mítica para o racional, aparecem os primeiros


sábios, “Sophos, como se diz em grego”. Um deles chamado “Pitágoras” (Séc. VI a.
C.), que também era matemático, usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos-
sophia), que significa “amor à sabedoria”. É bom observar que a própria etimologia
mostra que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da
verdade.

e – O Que É Trabalho Filosófico?

É todo o serviço essencialmente teórico. Mas isso não significa que a filosofia esteja à
margem do mundo, nem que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado,
com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de
uma vez por todas.

Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de


onde deriva a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da
verdade, mas como sua busca.

Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, “não há filosofia que se possa aprender;
só se pode aprender a filosofar”. Isso significa que a filosofia é, sobretudo, uma
atitude, um pensar permanente. É um conhecimento constituinte, no sentido de que
questiona o saber instituído.

Portanto, a teoria do filósofo não constitui um saber abstrato. O próprio tecido de o seu
pensar é a trama dos acontecimentos, é o cotidiano. Por isso, a filosofia se encontra no
seio mesmo da história. No entanto, está mergulhada no mundo e fora dele: eis o
paradoxo enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a caminhada a
partir dos problemas da existência, mas precisa se afastar deles para melhor
compreendê-los, retornando depois a fim de dar subsídios para as mudanças.
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(*) Filosofar = raciocinar sobre assuntos filosóficos; tirando induções, meditar,


argumentar, discutir com sutileza;

(*) Paradoxo = conceito que é ou parece contrário ao senso comum. Afirmação que vai
de encontro a sistemas ou pressupostos que se impuseram como incontestáveis ao
pensamento – paradoxal.

f – Qual É A “Utilidade” Da Filosofia?

Em primeiro lugar, para responder essa pergunta, precisamos compreender o que é


utilidade, como primeiro impasse.

Vivemos num mundo em que a visão das pessoas está marcada pela busca dos
resultados imediatos do conhecimento. “Então, é considerada importante a pesquisa do
biólogo na busca da cura do câncer; ou o estudo de matemática no 2º grau entra no
vestibular; e constantemente o estudante se pergunta:” para que vou estudar isto, se não
usarei na minha profissão?

Segundo, seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente “inútil”: não
serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste ponto, ela é
semelhante à arte. Se perguntarmos qual a finalidade de uma obra de arte, veremos que
ela tem um fim em si mesmo e, nesse sentido, é “inútil”. Entretanto, não ter utilidade
imediata não significa ser desnecessário. A filosofia é necessária.

g – Onde Está A Necessidade Da Filosofia?

Estão no fato de que, por meio da reflexão (aquele desdobrar-se, lembra-se?) a filosofia
permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no
qual o “homem prático” se encontra mergulhada.

É a filosofia que o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos
e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o
constrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la.

Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade


que só o homem tem de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência,
o homem surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino.

O distanciamento é justamente o que provoca a aproximação maior do homem com a


vida. Whitehead, lógico e matemático britânico contemporâneo, disse “a função da
razão é promover a arte da vida”. A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo
das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação.

h – Qual A Relação Inicial Da Ciência Com A Filosofia?

No início, a ciência estava ligada à filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre
todos os setores da indagação humana. Nesse sentido, os filósofos Tales e Pitágoras
eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e astronomia.
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Na ordem do saber estipulada por Platão, o homem começa a conhecer pela forma
imperfeita da opinião (doxa), depois passa ao grau mais avançado da ciência (epistema),
para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico.

i – Quando Se Dá A Separação Entre Elas?

A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a


autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco a pouco, desse período
até o século XX, aparecem às chamadas ciências particulares: física, astronomia,
química, biologia, psicologia, sociologia etc. – delimitando um campo específico de
pesquisa.

j – Quais As Principais Diferenças Entre Ciências e Filosofia?

A filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas as


ciências se especializam e observam “recortes” do real. Enquanto a filosofia jamais
renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade.

A visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de


modo parcial, mas sempre sob perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com
os outros do contexto em que estão inseridos.

Se a ciência tende cada vez mais pra a especialização, a filosofia, no sentido inverso,
quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua
integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso, a filosofia tem uma
função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e
agir.

A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos
os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a
respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Por exemplo: se a física ou
química se denominam ciências e usam determinado método, não é da alçada do próprio
físico ou químico saber o que é ciência, o que distingue esse conhecimento de outros, o
que é método, qual a validade, e assim por diante. Eles até podem dedicar-se a esses
assuntos, mas, quando o fazem, passam a se colocar questões filosóficas. O mesmo
acontece com o psicólogo ao usar, por exemplo, o conceito de homem livre. Indagar
sobre o que é a liberdade é fazer filosofia.

Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor.

O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem,


repetindo sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é,
mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela.
Filosofar é dar sentido à experiência.
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k – O Que É Filosofia De Vida?

Costumamos chamar de filosofia de vida, o filosofar do homem comum. Por sermos


seres racionais e sensíveis, estamos sempre dando sentido às coisas. Quando agimos na
escolha de nossas ações pelo conhecimento adquiridos do senso comum, optamos pelas
melhores, ou seja, as boas. O bom senso são as escolhas que fazemos para as
experiências de nossas vidas cotidianas. A isto chamamos de “filosofia de vida”. O
homem comum faz sua própria filosofia de vida, o filósofo propriamente dito é um
especialista.

Segundo Gramsci, “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também
filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é do próprio homem como tal”.
Isso significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós.

l – Qual É A Relação Da Filosofia Com O Poder?

O Historiador da Filosofia, François Châtelet, afirma: “Desde que há Estado – da cidade


grega às burocracias contemporâneas – a idéia de verdade sempre se voltou, finalmente,
para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles, como testemunha, por exemplo, a
evolução do pensamento francês do século XVIII ao século XIX).

A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento


que visa à manutenção de privilégios. Atentando para a verdade, do grego (a-létheia =
desnudar), vemos que a verdade é por a nua aquilo que estava escondido, e aí reside a
vocação da filosofia: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo
convencional e pelo poder. A filosofia exige coragem. Por isso, o Filosofar não é um
exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as
formas estagnadas do poder que tentam manter o Status Quo, é aceitar o desafio de
mudanças. Saber para transformar.

m – O Que Caracteriza A Reflexão Filosófica Propriamente Dita?

Examinando a palavra reflexão, vemos que nossa imagem refletida no espelho, há um


“desdobramento”, pois estamos aqui e estamos lá; no reflexo da luz, ela vai até o
espelho e retorna; (“reflectere”, em latim), significa “fazer retroceder à”, “voltar atrás”.
Portanto, para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. A filosofia
propriamente dita tem condições, de surgir no momento em que o pensar é posto em
causa, tornando-se objeto de reflexão. Segundo o professor Dermeval

Saviani, a reflexão filosófica é radical, rigorosa e de conjunto.

n – Onde E Como Surgiu A Filosofia?

Surgiu na Grécia clássica, um mosaico de pequenas comunidades independentes que se


espalhava junto ao Mediterrâneo – da Jônia, na Ásia Menor, até o sul da Itália, origina-
se e desenvolve uma nova maneira de pensar e de conceber o mundo. Ali tomou corpo,
no século VI a.C., as primeiras idéias sobre as quais vai erigir o pensamento ocidental.
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Apesar de geograficamente dispersa a Grécia Antiga tem uma vida cultural


relativamente homogênea, que se expressa na língua comum, em formas de organização
política, em crenças religiosas semelhantes. Essa unidade – a civilização helênica –
resultou da fusão e da difusão das diversas culturas trazidas por povos variados, que
sucessivamente invadiram a Grécia, misturando-se aos habitantes mais antigos.

O – Quem São Eles?

Pouco se sabe a respeito dos pioneiros do pensamento Ocidental. De seus textos


restaram apenas fragmentos. Suas idéias chegaram a nós por intermédio das versões
apresentadas pelos pensadores que vieram depois, e que os apresentam como “primeiros
filósofos”. Não fosse isso, eles talvez ficassem conhecidos como escritores com
pretensões vagamente científicos, com suas investigações peculiares sobre a natureza.

Esses pioneiros surgiram na Jônia, colônia fundada na costa asiática da Grécia por
antigos micênicos, que ali se refugiaram das invasões dóricas. Enquanto a maior parte
dos gregos mergulhava na “Idade das Trevas”, os jônios desenvolveram intensas
atividades artesanais e comerciais, que favoreceriam o surgimento de novos valores
sociais, baseados menos na tradição, mais na iniciativa dos indivíduos. A vida cultural
floresceu, e disso a obra de Homero é testemunha. A astronomia e a matemática
desenvolveram-se, sob a influência de contatos com os povos do Oriente. Em meio a
esse fervilhar, a cidade de Mileto foi se impondo como principal centro da Jônia.

p – Como Eles Surgiram?

A grande aventura intelectual dos gregos não começa propriamente na Grécia


continental, mas nas colônias: na Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia Menor) e
na Magna Grécia (sul da península itálica e Sicília). Os primeiros filósofos viveram por
volta do século VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos (a
divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates) e agrupados em diversas
escolas. Por exemplo:

Escola Jônica (Talles, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles); Escola


Itálica (Pitágoras); Escola Eleática (Xenófones, Parmênides, Zenão); Escola da
Pluralidade (Leucipo e Demócrito). Os escritos dos filósofos pré-socráticos
desapareceram com o tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências feitas
por filósofos posteriores. Sabemos que geralmente escrevia em prosa, abandonando a
forma poética característica das epopeias, dos relatos míticos.

q – Quais São Suas Ideias?

É interessante notar que, enquanto Hesíodo, ao relatar o princípio do mundo


(cosmogonia) e dos deuses (teogonia), referem-se a sua gênese ou origem, as
preocupações dos primeiros pensadores levam à elaboração de uma cosmologia, pois
procuram a racionalidade do universo. Isso significa que, ao perguntarem como seria
possível emergir do Caos um “cosmos” – ou seja, como da confusão inicial surgiu o
mundo ordenado – os pré-socráticos procuram o princípio (a arché) de todas as coisas,
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entendido este não como o que antecede no tempo, mas enquanto fundamento do ser.
Buscar a arché e explicar qual é o elemento constitutivo de todas as coisas.

As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas são as mais variadas.
Cada um descobre a arché, a unidade que pode explicar a multiplicidade: para Talles é a
água; para Anaxímenes é o ar; para Demócrito é o átomo; para Empédocles, os
famosos quatro elementos: terra, água, ar e fogo, teoria aceita até o século XVIII,
quando foi criticada por Lavoisier.

Talles, Anaximandro e Anaxímenes – que receberam o nome de pré-socráticos por ter


surgido antes de Sócrates, o grande marco da filosofia Ocidental – os primeiros
filósofos, formam a chamada Escola de Mileto. Apesar das diferentes idéias que
elaboraram, une-os o fato de ter inaugurado a filosofia com a mesma pergunta: o que é
physis? Por esse motivo, Aristóteles, mais tarde, iria denominá-los physiologoi,
“filósofos”, isto é, estudiosos da physis.

ESCOLA JÕNICA: Mileto era a cidade mais importante da Jônia. A filosofia desta
escola era naturalista, científica e monista. Esses filósofos estavam ocupados com a
natureza física do mundo. No seu entender, todas as coisas provêm de um elemento
primordial. Uma matéria primordial seria a fonte para o surgimento das estrelas, dos
animais, das plantas e dos seres humanos. No final, tudo convergirá para esta matéria
original. Essa matéria única possuiria uma força ativa imanente. A partir desse princípio
unitário de todas as coisas teriam surgido a variedade, a multiplicidade e a sucessão dos
fenômenos. É a doutrina do hilozoísmo, ou seja, a matéria animada.

Em Mileto, os pensadores querem desvendar o princípio constitutivo das coisas.

Talles de Mileto – (624-547 a.C.) é considerado o primeiro dos sete sábios da Grécia.
Talles percebeu que todos os organismos contêm umidade. Por isso, acreditava que a
água é a substância universal, que se encontra em todos os organismos. Tudo contém
água.

Se hoje observamos os átomos de hidrogênio, veremos que Talles estava bem próximo
da verdade. Pois o átomo de hidrogênio, principal constituinte da água (H²O), é o átomo
mais simples a partir do qual todos os corpos são constituídos. Talles viajou ao Egito e à
Mesopotâmia, onde estudou astronomia. Com base em seus conhecimentos, previu o
eclipse do sol a 28 de maio de 575 a.C. Elaborou uma teoria para explicar as inundações
do rio Nilo. Talles também solucionou problemas geométricos, sendo conhecido nos
dias de hoje entre os estudiosos de Matemática.

No entender de Talles, a água contém um princípio de movimento, pois pode se dilatar e


se contrair, assumindo as formas líquida, sólida e gasosa. Talles imaginava então que a
água fosse um organismo vivo e possuísse uma alma. Dizia que a Terra flutua sobre a
água.

“E alguns sustentam que a alma está misturada com o universo; talvez por isto chegasse
Talles à opinião de que todas as coisas estão cheias de deuses” (Aristóteles).
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“Outros julgavam que a Terra repousa sobre a água. Esta é a mais antiga doutrina por
nós conhecida e teria sido defendida por Talles de Mileto” (Aristóteles).

“Talles e sua escola: o cosmos é um” (Aetius).

“A inteligência do cosmos é Deus” (Aetius).

Não se conhece fragmento de algum escrito de Talles. Talles teve participação ativa na
vida política e militar de Mileto.

Anaximandro – (610 – 547 a.C.) também era de Mileto. Viveu neste período, foi
discípulo e sucessor de Talles. Escrevem em prosa. Empregou o termo arché, que
significa principio, fundamento, origem. O principio de todas as coisas é o ilimitado
(apeíron) – o indeterminado, que não impressiona os sentidos e só é conhecido pela
razão. Todas as coisas são limitadas e um elemento particular não pode ser a origem de
toda a realidade. O limitado não pode ser a origem das coisas. Deve haver um principio
que seja anterior e que permita compreender o surgimento de tudo o que é limitado. A
partir do ilimitado compreende-se a origem das coisas e o estabelecimento da
multiplicidade.

A origem das coisas é explicada através da separação dos contrários: quente e frio, seco
e úmido. Existe um movimento eterno e cíclico: o que está separado volta a integrar-se à
unidade primordial. O ciclo destina-se a restabelecer a justiça.

Fragmentos de Anaximandro.

Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois
pagam umas às outras, castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do
tempo.

O ilimitado é eterno. O ilimitado é imortal e indissolúvel.

A água continuou sendo um elemento importante na reflexão de Anaximandro, mas ele


enfatizou a importância do ilimitado na origem das coisas limitadas, corrigindo e
ampliando o ensinamento de Talles. Anaximandro declarou que, no início, a água cobria
toda a Terra, que os seres vivos surgiram do mar e o ser humano procede dos peixes.

Os gregos constataram que os sentidos não nos proporcionam a verdade; eles nos
induzem à ilusão. A verdade é alcançada mediante o uso da razão.

O apeíron é como o éter, sendo único, infinito e capaz de movimento. Declarou que essa
substancia não gerada e imperecível contém e dirige todas as coisas. O ilimitado não
tem inicio.

Viajou à Babilônia e de lá trouxe o relógio do sol. Determinou a distancia e a grandeza


de vários astros. Influenciado pelas doutrinas hindus sobre a evolução do Universo e a
respeito da Alma Universal (substancia única), formulou uma tese evolucionista. No
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seu entender, todos os animais, inclusive o homem, foram inicialmente aquáticos. O


Universo inteiro obedece a uma mudança rítmica: há uma criação e uma decomposição
contínuas.

“Anaximandro de Mileto diz que o princípio dos seres é o infinito, porque dele os seres
vêm e a ele retornam pela morte. Desta forma se produzem mundos indeterminados e de
novo se destroem, retornando ao princípio de que são constituídos. Diz-se, portanto, que
o infinito serve para que nunca cesse a produção” (Plutarco, As Opiniões dos Filósofos).

“Ou tudo é principio ou procede de um principio; ora, não há principio do ilimitado,


pois se tivesse seria limitado. [...] E é a Divindade: imortal e imperecível, como o
querem Anaximandro e a maioria dos fisiólogos” (Aristóteles).

Anaxímenes (585-525 a.C.) também era de Mileto. Viveu entre 588 e 524 a.C.
Constatou que o ar é a substancia universal. Identificou o ar com a alma. Afirmou que é
o ar que anima tanto o nosso corpo quanto o mundo inteiro.

Foi discípulo de Anaximandro. Ao adotar o ar como elemento primordial, Anaxímenes


constatou que ele é a substancia básica contida nos organismos, tornando-os diferentes.
O ar rarefeito transforma-se em fogo. O ar condensado transforma-se sucessivamente
em vento, vapor, nuvens, água, terra e pedra. Sua interpretação quantitativa do Universo
ajudou a preparar o caminho para a concepção atômica da matéria. Foi o primeiro a
afirmar que a Lua é iluminada pelo sol.

Fragmento de Anaxímenes:

Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar
abraçam todos os cosmos.

“Resolvi considerar o ar como principio de todos os seres, porque do ar tudo se forma, e


tudo volve a ele, por dissolução. Nossa própria alma, que é ar, nos mantém sob seu
poder, assim como todo o universo tem sopro e ar para envolvê-lo” (Plutarco).

Exerceu influencia sobre Anaxágoras.

Além de sua investigação racional, os milésimos enfatizaram duas idéias que já eram
difundidas no Egito: a eternidade do Universo e a Indestrutibilidade da matéria.

ESCOLA ITÁLICA: Também é conhecida por Pitagórica. Seus principais pensadores


foram: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento e Alcmeão de
Crotona.

Pitágoras: nasceu na ilha de Samos, na Jônia, viveu entre 571 e 497 a.C. viajou ao
Egito e Babilônia, e aprofundou-se em astronomia e geometria. Conheceu as idéias dos
brâmanes sobre a alma do mundo. Formulou o teorema de Pitágoras. Há indícios de que
o teorema tenha sido provado por outra pessoa que fazia parte da fraternidade filosófica.
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Pitágoras explica a realidade através da matemática, e declara: Todas as coisas são


números.

Pitágoras observou que todas as partes do Universo estão unidas entre si e expressam-se
em números. Todas as coisas obedecem à lei do número. O Universo evolui
harmoniosamente.

Os Pitagóricos atribuem ao número uma importância tal que este se torna a própria
essência das coisas. Os diversos corpos só diferem entre si por seu número de unidades.
Tudo é uma questão de proporções.

A alma individual é uma parte da alma universal, que é imortal.

Os Pitagóricos admitiam a esfericidade da Terra.

Os elementos do número são o par e o impar. Um é determinado e o outro e


indeterminado.

Assim como as ciências físicas e naturais procedem dos milésimos, a matemática e a


física procedem dos Pitagóricos.

Com Pitágoras, a filosofia grega passou a ter uma orientação metafísica. Passou-se
a dar maior atenção a estas questões: a natureza do ser, o sentido da verdade, a função
do divino.

Pitágoras descobriu a relação que existe entre a harmonia dos sons e a longitude das
cordas vibrantes.

Pitágoras instalou-se em Crotona, no sul da Itália. Fundou uma escola que também era
uma seita religiosa e política. Os Pitagóricos ensinavam que a vida especulativa é o
mais alto bem. O homem deve purificar-se dos seus apetites e de suas paixões. A
doutrina era mais religiosa que filosófica.

Pitágoras elaborou uma constituição aristocrática. Seu ensino era secreto, e os iniciados
não tinham o direito de divulgá-lo. O rigor do regime começou a desagradar. Houve
revoltas populares e Pitágoras morreu no decorrer de uma delas.

Assim se expressou Aristóteles em seu livro de Metafísica: “Chamam-se Pitagóricos os


que primeiro se aplicaram às matemáticas e as fizeram progredir. Alimentados com
mais estudos, pensaram que os princípios das matérias são os princípios dos seres.”

Os Pitagóricos estabeleceram uma distinção nítida entre espírito e matéria, entre


harmonia e discordância, entre o bem e o mal. Introduziram o dualismo no
pensamento grego.

Pitágoras não deixou obra escrita. O ponto central de sua doutrina religiosa é a crença
na transmigração das almas. Praticava-se a ascese. A doutrina era secreta. Hípaso não
guardou o segredo e foi excomungado. A doutrina da escola compreendia três pontos
básicos:
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Primeiro – o número é o primeiro principio. O numero e suas harmonias são os


elementos de toda a realidade;
Segundo – a forma dualista da teoria dos opostos;
Terceiro – a descoberta de verdades de ordem matemática (como o famoso teorema).
Aquilo que já aconteceu uma vez torna a acontecer. Nada é absolutamente novo.
O movimento dos astros produz uma harmonia.

O fogo ocupa o lugar central. A Terra se move em torno do centro, produzindo noite e
dia.

Filolau: nascido em Crotona, o mais importante centro pitagórico, expôs em um livro a


doutrina pitagórica. O livro influenciou o pensamento de Platão.

“O pitagórico Filolau afirma o limitado e o ilimitado como princípio” (Aetius).

1.2 – Pensamentos e Ideias do ser humano que contribuiram para a


formação da história, e que trouxeram o progresso para o
desenvolvimento das sociedades.

2 – ABOLICIONISMO
Veja tópicos sobre:40 - Escravismo, 61 - Iluminismo, 89 - Revolução Francesa.

1 – Introdução:

O minidicionário Larousse define “abolicionismo” como: doutrina que defende a


abolição, que significa ato ou efeito de abolir, revogação (de lei, direito); abolição de
direito. Extinção da Escravatura.

Além da definição dos dicionários, o termo remete a acontecimentos históricos


principalmente os que ocorreram na França durante o século XVIII.

Pode-se dizer que o conjunto de ideias e ações que tem por objetivo a extinção da
escravidão é chamado de “abolicionismo”. As propostas contra a utilização de escravos
para qualquer tipo de serviço ganharam força na época da Revolução Francesa, mas
antes disso, já tinha diversos defensores no continente europeu. No anto de 1788, na
cidade de Paris, foi criada a Sociedade dos Amigos Negros, grupo que foi presidido
por Condorcet, filósofo, matemático e cientista político francês que possuía ideias
relevantes entre os intelectuais do Iluminismo.

a) Histórico:
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A ideia do abolicionismo ganhou ainda mais relevância com a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, que foi proclamada em 1789, levando o pensamento contra a
escravidão até as terras colonizadas pelos franceses naquela época. Com isso,
começaram a surgir algumas leis que abrandaram a escravidão, chegando a extingui-la
em certas regiões. Porém, apenas em 1848 este tipo de regime de trabalho seria
completamente suprimido em terras francesas.

No continente americano, o abolicionismo veio por meio de leis de emancipação que


ocorreram em país como a Colômbia, a Argentina e o México. As nações localizadas na
América mantiveram a escravidão durante o século XIX foram os Estados Unidos,
Brasil e Cuba. No caso dos EUA, a escravidão perdeu força primeiramente no Norte do
país, pois naquela época, era uma região que se encontrava em pleno desenvolvimento
econômico e optava pela mão-de-obra livre. Enquanto isso, no Sul da nação a
escravidão mantinha-se, ligada às grandes propriedades. Segundo alguns historiadores,
a diferença ideológica entre as duas regiões, somada aos feitos do revolucionário John
Brown, são os maiores motivos da Guerra de Secessão, que opôs Norte e Sul.

Na América Latina, o último país a abolir o regime de escravidão foi o Brasil. Os


motivos para esse atraso costumam ser relacionados com o imperador D. Pedro II, a
divisão do território em fazendas, sesmarias e capitanias, além do poder econômico
concentrado em alguns pequenos grupos. No contexto histórico do país, uma
personalidade de destaque na luta contra a escravidão foi Joaquim Nabuco, um
diplomata, político e historiador brasileiro que simbolizou com ênfase as ideias
antiescravistas. Após a luta de diversos grupos e criação de medidas que, aos poucos,
iam atenuando a servidão não remunerada, chegou-se à lei 3.353, de 1888, que aboliu a
escravidão no país.

b) Abolição da Escravatura:

A escravidão negra, iniciada nos primeiros tempos da colonização, século XVI, teve
uma duração de mais de três séculos, com milhares de africanos utilizados como mão-
de-obra na agricultura, mineração e nos serviços domésticos. Ainda no Segundo
Império, a escravidão continuava, sendo rendoso negócio, onde eram investidos
elevados capitais.

Em vários movimentos revolucionários no final do século XVIII e início do Século


XIX, se cogitou da abolição da escravidão, surgindo várias ideias, que não se
concretizaram. Somente no final do século XIX é que as ideias abolicionistas puderam
se propagar porque surgiram condições econômicas, sociais e políticas favoráveis.

A extinção do tráfico negreiro deveu-se às pressões que a Inglaterra exerceu sobre o


governo brasileiro, em decorrência do estágio industrial em que se encontrava no século
XIX.

Em 1807, a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias e defendia sua extinção em


todo o mundo. Era necessário que os trabalhadores fossem assalariados, visto que
13

escravo nada comprava. Também o dinheiro empregado em escravos poderia passar a


compara produtos ingleses.

Em 1810, pelos Tratados de Comércio, Portugal só poderia fazer tráfico negreiro de


suas colônias africanas;

Em 1815, no congresso de Viena, foi assinada uma convenção luso-inglesa que abolia o
tráfico ao norte do Equador.

Em 1817, a Inglaterra tinha o direito de vistoriar navios suspeitos de tráficos;

Em 1825, para o reconhecimento da nossa Independência, a Inglaterra exigiu a abolição


do tráfico, o que não foi respeitado pelo Brasil.

Em 1833, Feijó proibiu o tráfico e seriam considerados livres os escravos que entrassem
no país após esta lei que, entretanto não foi cumprida;

Em 1845, através do Bill Aberdeen, repressão violenta contra o tráfico negreiro foi
efetuada pelos ingleses, o que, entretanto provoca o aumento de entrada de escravos no
Brasil.

Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, que aboliu o tráfico negreiro no Brasil, trouxe
como consequências: crise de mão-de-obra, gerando a transferência de escravos do
Norte para a cafeicultura sulina, intensificação da imigração estrangeira e o capital
liberado da compra de escravos foram aplicados na indústria.

Em 1854, a Lei Nabuco de Araújo impôs rígida fiscalização policial e severas


penalidades aos traficantes. Relação dos escravos importados pelo Brasil:

Ano Escravos
1842 17.435
1843 19.095
1844 22.849
1845 19.453
1846 50.324
1847 56.172
1848 60.000
1849 54.000
1850 23.000
1851 3.387
1852 700

c) Campanha Abolicionista

Com a Lei Eusébio de Queirós, a campanha abolicionista é intensificada, sofrendo uma


estagnação durante a Guerra do Paraguai, mas, ao seu término, volta a ressurgir.
14

Destacaram-se na campanha pele abolição da escravidão negra nomes importantes da


vida intelectual e política como:

Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Luís Gama, André Rebouças,
Castro Alves e Hipólito José da Costa.

Pela Lei do Ventre Livre ou Lei Visconde do Rio Branco, em 1871, foram declarados
livres os filhos de mãe-escrava, nascidos a partir da promulgação da lei, mas ficariam
sob a tutela do proprietário da mãe até atingir 8 anos, com opção de mantê-los a seu
serviço até os 21 anos ou receber a indenização de 600 mil réis em títulos do governo,
pela tutela. Também os escravos da Coroa foram libertos.

Liderada por José do Patrocínio, em 1883, surge a “Confederação Abolicionista”,


que passou a coordenar todas as associações que se ramificaram pelo país. Procuravam
mostrar que a escravidão era um entrave ao desenvolvimento do país, além de
corromper o trabalho e a família.

No Ceará, o jangadeiro Francisco Nascimento liderou um movimento contra o


embarque de escravos para o sul.

Particularmente, voluntariamente, alforriavam seus escravos. Festas eram organizadas


para obterem recursos para comprar alforrias de escravos. Em recepções expressivas,
entregavam-se cartas de alforria, como na organizada em homenagem pelo regresso de
Carlos Gomes, músico brasileiro, vitorioso na Europa. Apoio do clube dos advogados.
O apoio do Exército se torna presente na recusa em capturar negros fugitivos.
Intelectuais produziam poemas, panfletos, peças de teatro, criticando a escravidão.

Em 1884, os governos do Ceará e do Amazonas resolveram, num gesto pioneiro,


abolir a escravidão nestas províncias.

A Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe, 1885, concedia a liberdade aos


escravos com mais de 65 nos, tendo que trabalhar mais 3 anos para o senhor,
gratuitamente, como indenização. A lei foi proposta pelo Gabinete Saraiva, e aprovada
pelo Gabinete presidido pelo barão de Cotegipe. Foi mais um paliativo, porque poucos
negros atingiam a idade prevista na lei, e seria preciso um longo processo até se
extinguir a escravidão.

A “LEI AUREA”, em 13 de maio de 1888, promoveu a extinção definitiva da


escravidão no Brasil. Foi assinada pela princesa Isabel, que se encontrava no trono
do Brasil como regente. A escravidão já não era o esteio indispensável à economia e as
pressões surgidas das campanhas abolicionistas, da imprensa e dos vários setores da
opinião pública, fazem da Lei Áurea o complemento de um processo irreversível.

3 – ABSOLUTISMO

1 – Introdução:
15

 O que é o Absolutismo?

É um regime de governo em que o poder se concentra na vontade de uma só pessoa ou


modernamente, na de um grupo econômico ou militar. Esse regime exclui a
interferência da vontade popular em assuntos de governança.

A palavra “governo” deriva do latim “gubernator”, que significa timoneiro. Bem antes
da civilização romana, sociedades primitivas já haviam começado a desenvolver
instituições especiais destinadas a cuidar de seu bem-estar comum e tomar decisões
sobre assuntos que afetassem o povo e o estado como todo. Governo eficiente é aquele
capaz de encontrar um equilíbrio entre pressões conflitantes e de conduzir o estado na
direção dos objetivos da comunidade.

As ideias renovadoras do século XVIII originaram grandes movimentos populares,


cujas consequências mais notáveis foram: A Independência dos Estados Unidos, em
1776; A Revolução Francesa, em 1789. Os líderes desses movimentos renovadores
encarnavam O Absolutismo no conjunto de monarcas europeus da época. As mesmas
idéias, difundidas na América do Sul, provocaram a libertação de várias colônias
espanholas; na América Latina, os Revolucionários apontaram como exemplos de
monarcas absolutos a Fernando VII, da Espanha e D. João VI, de Portugal.

O absolutismo foi um sistema político caracterizado pela concentração de todos os


poderes nas mãos do rei. No governo absolutista, a vontade do rei é a lei. Justificavam-
se com duas teorias diferentes:

1ª. ) Teoria do direito divino, de Bossuet, segundo a qual o rei representa Deus na terra.
Logo, somente a ele se devia prestar contas;

2ª. ) Teoria de Thomas Hobbes, que diz: “os homens viviam em guerra; por isso
entregaram todos os seus direitos a um governo, por necessidade de segurança e
proteção”. Tal teoria está exposta no seu livro O Leviatã.

2 – Causas Do Absolutismo:

Esta forma de governo foi uma decorrência dos seguintes fatores:

1. Desenvolvimento do comércio;
2. Formação da Burguesia;
3. Aliança entre o rei e a Burguesia.

a) Absolutismo No Brasil

O governo Brasileiro foi absolutista até que jurou a Constituição de 25 de março de


1824. Apesar de juras de lealdade à Constituição Portuguesa e à Espanhola; já em 1821,
entretanto, tinham sido editados os bandos (veja), proclamando a adoção do regime
16

constitucional. Encorajados pela província Cisplatina, muitos movimentos se fizeram


para anular o regime constitucional e voltar ao absolutismo.

Em maio de 1824, aquela província – atualmente, Uruguai – jurou a Constituição


Brasileira e inteira obediência a D. Pedro I; ela foi incorporada ao Império e foi
representada junto ao Parlamento por dois deputados e um senador e teve a dirigi-la um
governador provincial.

Em dezembro de 1824, porém, discordando de muitos pontos da Constituição, o cabido


de Montevidéu enviou delegação ao rio para pedir o restabelecimento do absolutismo,
mas sua tentativa malogrou.

Em 1825, as vilas de Taubaté, São Luiz do Paraitinga e Pindamonhangaba, na província


de São Paulo, pediram o restabelecimento do absolutismo, o que também lhes foi
negado; esse movimento prosseguiu sem sucesso nenhum até 1830, quando seus
integrantes preparam um golpe para dissolução da Assembleia Geral, que também
vingou.

Essa tradição constitucionalista e democrática prosseguiu, no Brasil, durante toda a fase


do segundo Império, e da chamada República Velha, até 1930. Dessa época para cá,
houve alguns movimentos de tendência absolutistas, como a Revolução de 30, que
provocou a Revolução Constitucionalista em São Paulo em 1932; em 1937 foi instituído
o Estado Novo, com a Ditadura Vargas, que ficou no governo até 1945, quando foi
deposto. Depois de vários governos eleitos pelo povo, houve em 1964 a Revolução de
Março, pela qual o Presidente e os Governadores são eleitos pelo Congresso e pelas
Assembléias Estaduais, respectivamente, e que dá ao presidente da república plenos
poderes, através da edição dos (AI), atos institucionais.

b) Absolutismo Na França

A França foi implicada territorialmente, depois da Guerra dos 100 anos. A luta pela
centralização do poder real foi feita por Carlos VII e Luiz XI.

Este último, através da intriga e do suborno, conseguiu dominar a nobreza. Com as


guerras religiosas do século XVI, a crise econômica assolou a França, e o poder real se
enfraqueceu.

O governo absolutista surgiu no século XVI com a dinastia dos BOURBONS, depois
das guerras religiosas entre CATÓLICOS E PROTESTANTES. O protestante Henrique
de Bourbon, casado com a filha de Catarina de Médicis, herdou o trono Francês.
Derrotou Felipe II da Espanha, que havia apoiado os católicos para impedir sua
ascensão ao poder, abjurou o CALVINISMO e foi coroado rei de França com o nome
de Henrique IV.

Em 1598, Henrique IV assinou o edito de Nantes, outorgando liberdade religiosa e


política a católicos e Hunguenotes. A França foi assim o primeiro país em que vigorou a
17

liberdade de culto. Henrique IV ainda restabeleceu a economia francesa, depois da


guerra, incentivando a agricultura, o comércio e a indústria.

Foi o rei mais popular que teve a França na idade moderna. Seu ministro, Sully,
protegeu especialmente os camponeses. Entretanto, em 1610 um fanático católico, de
nome Ravailac, assassinou o rei.

Luis XIII: era filho de Henrique IV. Durante sua menoridade, sua mãe Maria de Médicis
foi regente, deixando-se dominar por um casal de aventureiros italianos. A nobreza
francesa revoltou-se contra o governo dos estrangeiros, tornando-se bastante agitado
esse período. Quando Luis XIII assumiu o poder, admitiu como ministro o Cardeal
Richelieu. Os objetivos de Richelieu no governo foram:

1. Fortalecer o poder real, para o que diminuiu o poder da nobreza e combateu os


protestantes, que formavam um partido político muito forte. O cardeal lhes tirou
esse direito;

2. Abalar o poderio da Casa de Habsburgo – fez entrar a França na guerra dos


trinta anos, ao lado dos protestantes, para enfraquecer os habsburgos. Sua
participação, indireta no início, tornou-se direta depois da morte de Gustavo
Adolfo, da Suécia. Além de ser um hábil político, Richelieu incentivou a cultura,
criando a Academia Francesa de Letras.

Luis XIV – menoridade de Luiz XIV e o cardeal Mazarino: durante a menoridade do


rei, ficou como regente do trona sua mãe, Ana D’Austria. O cardeal Mazarino havia
sido nomeado por Luis VIII para substituir Richelieu no cargo de primeiro ministro.
Continuou a política do seu antecessor, mas teve de enfrentar uma difícil situação
econômica, depois da guerra dos trinta anos. Criou novos impostos e fez empréstimos
forçados.

3. Mazarino e Fronda: a Fronda foi uma guerra civil que durou 4 anos (1648 –
1652). Recebeu este nome porque é comparada a um jogo de crianças que
consiste em lançar pedras com fundas.
O parlamento revoltou-se por não ser consultado e recebeu o apoio do povo de
Paris. Esta foi a “Fronda Parlamentar”, que durou somente três meses. Foi
seguida pela revolta dos príncipes, que contou com o apoio do parlamento.
Mazarino conseguiu derrotá-los. O povo, cansado de guerras, recebeu
esperançoso o jovem rei Luis XIV, já na maioridade;

4. O governo Absoluto de Luis XIV: o absolutismo atingiu o apogeu com este rei,
que se considerou representante de Deus. A ele, é atribuída a frase: ”o estado sou
eu”. Seu emblema foi o sol. Instalou-se no palácio de Versalhes, que mandara
construir e teve a corte mais luxuosa da Europa.
Depois da morte de Mazarino, fez um governo pessoal. Trabalhava diariamente
com seus ministros, mas todas as decisões importantes eram tomadas por ele
18

próprio. Dentre os seus ministros se destacaram Colbert, que administrou as


finanças: Louvois, o exército; e Vauban, a defesa;

5. Colbert e o Mercantilismo: Para aumentar as reservas de metal precioso no país,


Colbert tomou várias medidas, aplicando a política mercantilista:
a) Protegeu e regulamentou a indústria;
b) Organizou a marinha e melhorou os pontos para enfrentar os holandeses;
c) Criou companhias de comércio;

Louvois e Vauban se encarregaram da defesa do país.

6. O século Francês: o “rei sol” protegeu a cultura. Grandes escritores e artistas


viveram em sua corte. Na literatura destacaram-se: corneille, Racine, Moliére,
La Fontaine. Nas artes plásticas celebrizou-se.

7. Revogação do Edito de Nantes: Em 1685, Luis XIV anulou o Edito de Nantes,


que dera liberdade religiosa a sua terra, o que forçou numerosos protestantes a
saírem da França, e repercutiu também na Indústria e no comércio, que sofreram
um grande golpe.

8. Guerras: para enfrentar a família do Habsburgos, Luis XIV entrou em várias


guerras:

a) Guerra pela conquista de Flandes, que pertencia à Espanha;


b) Guerra contra a Holanda, que tomara o partido de Flandes;
c) Guerra contra a liga de Augsburgo, ou aliança defensiva de vários países contra
a França;
d) Guerra da Sucessão na Espanha, pela qual defendeu o trono espanhol para seu
neto Felipe de Anjou, que seria mais tarde Felipe V.

Saiu vitorioso em todas estas lutas, mas em consequência o tesouro francês sofreu um
enorme desgaste, que seu sucessor não conseguiu superar.

Luís XV: neto de Luís XIV, este rei abandonou o governo nas mãos de seus ministros e
raramente presidia o conselho. Dedicava-se à caça e às festas da corte. Durante o seu
reinado os filósofos liberais começaram a atacar o absolutismo. Dois acontecimentos
desastrosos agravaram a crise francesa:

1. O sistema Law: Law era um economista escocês. Obteve do governo a emissão


de papel-moeda a fim de incentivar a formação de companhias de comércio. O
dinheiro desvalorizou-se provocando elevação do custo de vida e gerando crise
social. Aumentou a reação contra a monarquia.
19

2. Guerra dos sete anos, 1756 – 1763: esta guerra foi provocada pela disputa
comercial e colonialista entre a França e a Inglaterra. A nação francesa foi
derrotada e perdeu para a Inglaterra, o Canadá e a Índia.

Luís XVI: neto de Luís XV, este monarca encontrou a França em crise. Teve bons
administradores financeiros, mas que não conseguiram debelar a crise, em grande parte
devida à oposição do clero e da nobreza.

Em 1789 começou a Revolução Francesa, durante a qual o rei foi deposto e condenado à
morte.

c) Absolutismo Na Inglaterra

Os reis absolutistas da Inglaterra pertenceram às dinastias “Tudor e Stuard”

1 – Dinastia Tudor – Henrique VII tomou o poder depois da guerra das duas rosas e
iniciou a unificação do país com a ajuda da burguesia e parte da nobreza, interessada no
comércio da lã.

Henrique VIII, filho do precedente, manteve aberto o Parlamento, mas o manobrou à


sua vontade. Quando fez a reforma religiosa, criando a Igreja Anglicana, obrigou o
Parlamento a assinar a Ata da Supremacia, que outorgava ao rei a autoridade suprema
sobra a Igreja da Inglaterra.

Elizabeth I, filha de Henrique VIII, fortaleceu economicamente o país, aplicando a


política mercantilista:

1 Estimulou a produção;
2 Organizou a marinha;
3 Iniciou a conquista da América Inglesa; durante o seu reinado Walter Raleigh
conquistou a Virgínia, e Drake fez uma viagem de circunavegação.

Derrotou Felipe II, da Espanha, enfraquecendo o seu poderio naval e criou uma nova
Igreja Anglicana que era um misto de catolicismo e calvinismo.

Elizabeht I substituída por seu primo Jaime VI, da Escócia, filho de Maria stuard.

2 – Dinastia Stuard: Jaime I (Jaime VI da Escócia) estabeleceu a monarquia do direito


divino, perseguiu católico e aumentou impostos. Durante o seu reinado foi que muitos
dos puritanos vieram para América do Norte, na expedição do “Mayflower”. Quando
morreu, foi substituído por seu filho Carlos I.

Carlos I continuou a política do pai. Em 1628 o Parlamento Inglês o obrigou assinar a


“Petição de Direitos”, que proibia ao rei lançar impostos sem consultar o parlamento.
Carlos I não o respeitou, continuou a criar novos impostos e a forçar empréstimos.
Obrigou as cidades do interior a pagarem uma taxa naval “ship Money”, que antes era
cobrada somente às cidades costeiras, em época de guerra.
20

Em 1640 estourou uma Revolução dos presbiterianos da Escócia porque o rei tentara
impor uma liturgia anglicana ao país. Carlos I convocou o Parlamento, que ficou
reunido durante 15 anos e chamado o “Longo Parlamento”.

O Parlamento mandou prender os ministros do rei e proibiu-o de organizar o seu


exército sem o consentimento do mesmo parlamento. O rei invadiu a Câmara dos
Comuns para prender alguns deputados, mas nesta altura o povo apoiou o Parlamento,
eclodindo a guerra civil.

Guerra Civil: eram os “cavaleiros”, partidários do rei, contra os “Cabeças Redondas”,


favoráveis ao Parlamento. Os cavaleiros foram derrotados. Dentre os vencedores, a
maioria queria criar uma monarquia limitada, ficando o rei apenas com o poder
executivo. A maioria, liderada por Oliver Cromwell, puritano fanático e deputado à
Câmara dos Comuns, continuou resistindo ao rei que acabou sendo deposto e
condenado à morte.

3 – República de Cromwell:

Cromwell dissolveu o Parlamento e fez um governo ditatorial. Recebeu o título de


“Lorde Protetor da Inglaterra” e governou durante dez anos.

Durante esse período Cromwell sufocou uma revolta dos católicos da Irlanda. Os
proprietários irlandeses foram transformados em arrendatários ou empregados ingleses.
Sufocou uma revolta realista na Escócia, país que reconhecera Carlos II como rei. Em
1651 assinou a Ata da Navegação e Comércio, que proibia aos navios de países
estrangeiros, a não ser de país produtores, tocar portos ingleses ou de suas colônias.

Esta Ata obrigou os ingleses a irem buscar com os seus navios produtos de que
necessitavam para o que foram obrigados a desenvolver a sua marinha. Abalou-se o
domínio holandês nos mares, isto foi a causa de uma guerra entre a Holanda e a
Inglaterra.

4 – Restauração dos Stuarts:

Carlos II tinha propensão para o Catolicismo, mas foi obrigado pelo Parlamento, a
respeitar o anglicanismo. Durante o seu reinado surgiram dois partidos políticos no
Parlamento: Tory e Whig, sendo o primeiro conservador e favorável à preponderância
do rei, ao passo que o segundo era liberal e favorável à soberania do Parlamento.

5 – A Revolução Gloriosa:
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Jaime II (VII, da Escócia), que sucedeu a Carlos II, era declaradamente católico, mas as
suas filhas tinham sido educadas no protestantismo. Por isso, o Parlamento o tolerou
para impedir nova guerra civil. Mas, antes que o filho de sua segunda esposa que era
católica, o sucedeu, o Parlamento o depôs, com a chamada “Revolução Gloriosa”, de
sentido duplamente liberal.

O Parlamento assumiu o poder e chamou Guilherme de Orange (rei da Holanda) e


Maria II, filha de Jaime II, para ocuparem o trono inglês. Os novos reis foram obrigados
a assinar a Declaração dos Direitos, documento que, segundo já foi mencionado,
limitava o poder real, impedindo o lançamento de impostos, anulação de leis e
organização de exército permanente, sem consulta ao parlamento.

Consequências: esta revolução aboliu definitivamente o Absolutismo na Inglaterra e


influenciou as revoluções americanas e francesas.

d) Absolutismo Na Europa Central

Desde o século XVIII os Estados da Europa Central passaram a ser chamados de


Áustria.

1. Áustria: o governo absolutista foi exercido pela família dos Habsburgos.

Maria Teresa organizou um exército nacional e dedicou um cuidado especial à


educação. Perdeu a silésio para Frederico II, mas conquistou parte da Polônia, país
dividido entre Áustria, Russia e Prussia.

2. Prussia: foi formada pelo ducado de Brandenburgo, governado pela família


Hohenzolern, desde o século XV e pelos bens da ordem teutônica, que Alberto
de Brandenburgo, na época da Reforma Protestante (veja Reforma),
transformara em ducado hereditário: o ducado da Prussia.
Da união entre Brandenburgo e Prussia surgiu no século XVII o Estado da
Prussia, governado pela família Hohenzolern.
Frederico Guilherme I, no século XVIII, fez um governo bem rigoroso.
Disciplinou o povo e organizou um exercito perfeito. Criou os gigantes de
Potsdam, regimento formado por homens altos e fortes, que nas guerras
formavam as primeiras fileiras para impressionar o inimigo. Frederico ficou
conhecido como “o rei sargento”.

3. Rússia: o absolutismo foi o regime político que vigorou na Rússia durante


grande parte de sua história.
No século XVII a família Romanoff tomou o poder. Pedro, o grande
ocidentalizou o país, que até o século XVII fora uma nação oriental. Este rei
tomou as seguintes medidas:
 Adotou a moda e os costumes europeus;
 Ordenou a igreja e a nobreza;
 Fundou a capital em são Petersburgo;
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 Lutou contra a Suécia pela conquista do mar Báltico, o qual facilitaria as


comunicações com a Europa.

4 – ABSTRACIONISMO

Definição:

Tendências de vanguarda das artes plásticas do início do século XX. As obras


abandonam a representação do real, o figurativismo, para concentrar-se em formas e
cores. Há dois tipos de abstracionismo: o informal (ou subjetivo), que privilegia as
formas livres; e o geométrico (ou objetivo), de técnica mais rigorosa. Entre os ícones da
tendência estão o russo Wassily Kandinsky e o holandês Piet Mondrin.

5 – ADVENTISMO

1 – Introdução:

O Adventismo é um movimento religioso cristão iniciado no século XX, dentro do


contexto do Segundo Grande Reavivamento dos Estados Unidos.

O nome refere-se à crença na iminente segunda vinda de Jesus a terra. O movimento


começou com Guilherme Miller, cujos seguidores ficaram conhecidos como Mileritas.

O Adventismo surgiu após a interpretação Bíblica de Guilherme Miller, de que Jesus


voltaria na década de 1840. Miller interpretou a profecia de Daniel 8.14: “Até duas mil
e trezentas tardes e manhãs; e o Santuário será purificado seria feita com fogo por
ocasião da vinda de Cristo”. Hoje, a maior igreja dentro do movimento é a Igreja
Adventista do Sétimo Dia.

A Família de Igrejas Adventistas é considerada como protestantes conservadoras.


Embora, tenham muito em comum, como uma hermenêutica voltada à Escatologia, a
Teologia dela difere em vários aspectos como o estado inconsciente dos mortos, ao
castigo no fim dos tempos dos ímpios, a sua aniquilação como um grande fogo quando
os ímpios se levantarão para cercar a Nova Jerusalém, natureza da imortalidade,
regulação dietárias, guarda do sábado, a ressurreição dos ímpios e a divergência do
Santuário de Daniel 8 se refere ao que está no céu e na terra.

2 – Indice:

2.1 – Origens;
2.2 – Doutrinas;
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3 – Classificação de Grupos:

3.1 – Adventistas Dominicais;

3.2 – Adventistas Sabatistas (Igrejas).

2 – História:

2.1 – Origens:

A fundação do Adventismo está associada a um período de efervescência religiosa nos


Estados Unidos no final do século XVIII e primeira metade do século XX, no Nordeste
dos Estados Unidos.

Deste modo, o surgimento das sociedades bíblicas, o não conformismo com o sistema
religioso estebelecido, reuniões de reavivamento (revivals), o estilo evangelístico e
proselitista da religião permitiram o surgimento do movimento baseado na
interpretação das profecias do Livro de Daniel 7 e 8 por Guilherme Miller, membro
da Igreja Batista, e outros líderes religiosos estatelando o fim do mundo e o retorno de
Jesus Cristo para o ano de 1843 e depois para 1844.

Pessoas de várias denominações religiosas aderiram a este movimento religioso, embora


o mesmo não tivesse uma organização eclesiástica formal, e tivesse pessoas das mais
diferentes vertentes protestantes. Após o que ficou conhecido como O Grande
Desapontamento, o grupo se dispersou em outros menores. Alguns destes grupos
permaneceram marcando datas posteriores para o retorno de Cristo. Outros não
demonstraram interesse algum por religião instituída. Alguns voltaram para suas
denominações de origens e se desculparam com os líderes, que em muitos casos, os
haviam expulsado um pouco antes.

Depois de uma reavaliação dos estudos de Miller, alguns desses grupos menores
persistiram no estudo das profecias, mas, com uma nova interpretação ao retorno de
Cristo, surgindo grupos como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Igrejas de Deus
Adventistas e a Igreja Cristã do Advento. Em comuns retiveram o seno da iminência da
volta de Jesus Cristo.

2.2 – Doutrina:

Apoiando-se em textos bíblicos, esse grupo de pessoas defende que o retorno glorioso
de Jesus Cristo que se dará de maneira iminente. Sua atuação missionária tem por base a
ordem de Cristo dado no mesmo evangelho de Mateus 28.19: “Portanto ide, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação do séculos.”

Há diversos grupos adventistas e com consequentes variações em certos pontos


doutrinários peculiares, alguns creem no sono da alma entre a morte e a ressurreição,
24

outros incluem a guarda do sábado, regulação dietária, juízo investigativo, aniquilação


da alma dos pecadores e outras doutrinas baseadas na hermenêutica da Bíblia.

3 – Classificação dos Grupos:

3.1 – Adventistas Dominicais.

 Igreja Evangélica Adventista (Evangelical Adventist Church) – organizada em


1859, é a instituição herdeira da Associação Milenial Americana. Acredita na
consciência da alma após a morte e que os justos ressuscitarão primeiro, depois
haverá um julgamento dos ímpios e a condenação desses no fogo eterno.
Virtualmente extinguiu-se nos Estados Unidos depois de 1916.

 Igreja Cristã do Advento (Advent Christian Church) – acredita na imortalidade


condicional da alma e na aniquilação dos ímpios.

 União do Advento e Vida (Life Advent Union) – fundada por Geoge Storrs em
1863, uniu-se com a Igreja Crista do Advento em 1964.

3.2 – Adventistas Sabatistas (Igrejas).

 Igreja Adventista do Sétimo Dia;


 Igreja Adventista da Promessa (Pentecostal);
 Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento de Reforma;
 Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento do Advento;
 Igreja Adventista Brasileira;
 Igreja Cristã Adventista (Unitariana) Este grupo não acredita na Trindade;
 Igreja de Deus;
 Conferência Geral da Igreja de Deus;
 Igreja de Deus do Sétimo Dia;
 Beth B’nei Tsion – Templo Judaico Adventista (Sinagoga Adventista).

6 – AGNOSTICISMO

1 – Introdução:

Sistema filosófico, segundo o qual o absoluto é inacessível ao espírito; atitude mental de


renúncia ao conhecimento das razões últimas de tudo.

a) Conceito;
25

b) Teses agnósticas;
c) Indiferença Religiosa.

Conceito:

(a-gnose, “não-conhecimento”) Doutrina segundo a qual o fundo das coisas é


incognoscível, não podendo ser conhecido pelo espírito humano.

2 – Teses Agnósticas

São duas as teses agnósticas: a) restrição do poder da razão ao âmbito da ciência; b)


negação da transcendência (Deus) e do mundo do espírito (alma). Ainda que, nas
intenções de Kant, o agnosticismo tivesse como objetivo tutelar os valores maiores e
religiosos dos ataques da razão, de fato, porém, com a eliminação da metafísica e com a
eliminação das bases racionais da religião, ele desembocou inevitavelmente no “eclipse
do sagrado”, na “morte de Deus”, no ateísmo. Ao mesmo tempo, o destronamento da
razão a mera razão instrumental provocou o “eclipse da razão” (Horkheimer), ou
melhor, sua “destruição” (Adorno). Assim, a destruição da razão causou, além da
“morte de Deus”, também a “morte do homem” (Foucault).

Enquanto o ateísmo é, quase sempre, indicador de uma atitude de soberba (a


reivindicação de títulos divinos, por parte do homem), aparentemente o agnosticismo
configura-se como um ato de humildade. Porém, se prestar atenção, o agnosticismo não
é uma profissão de humildade, destina a manter a razão dentro dos seus confins, mas
sim um ato de velada soberba, que prefere ignorar as múltiplas exigências do mundo do
espírito (do mundo da própria alma e das profundezas do universo), a prestar atenção ao
seu significado.

A resposta ao agnosticismo não deve ser buscada na religião e na fé (como prefere fazer
hoje tanta gente, caindo assim nas armadilhas do fideísmo), e assim, na filosofia, porque
de fato aí se trata, antes de tudo, de uma posição filosófica.

O agnosticismo é uma das doutrinas sobre o valor do conhecimento; por isso, o terreno
sobre o qual devemos combatê-lo é o da epistemologia. Aqui não nos é possível tratar
do assunto amplamente, limitar-nos-emos a indicar uma pista para escapar do
agnosticismo.

Para sair desse erro é preciso, antes de tudo, efetuar um acurado exame fenomenológico
do conhecimento: deve ficar estabelecido, através da intencionalidade, que o nosso
conhecimento tem valor objetivo: tende ao e entende o ser, e não apenas sua aparência;
visa às coisas, e não só aos fenômenos.

Essa intencionalidade objetiva vale também para a experiência religiosa: seu objetivo
não são os desejos, sentimentos, ilusões, utopias, mas hierofanias, as manifestações do
sagrado na natureza e na história.
26

Em segundo lugar, para escapar do agnosticismo deve-se apurar, mediante a crítica do


conhecimento, que a razão possui o poder de alcançar a verdade: não só procura as
coisas, mas de fato alcança, apropria-se delas, abraça-as, compreende-as intimamente.
Pode-se realizar a conquista da certeza da verdade com vários procedimentos: o
aristotélico da incontestabilidade de dos primeiros princípios (em particular do principio
de não-contradição), o agostiniano, do “si fallor sum” (se me engano, existo), o
cartesiano, do “cogito ergo sum” (penso, logo existo).

Nesta altura, conquistado o terreno do realismo, mediante a fenomenologia, e tomando


de assalto o castelo da verdade com as armas da crítica do conhecimento, de si o
agnosticismo foi derrotado e posto em fuga. Agora, a via que leva à fortaleza da religião
(Deus) está completamente desimpedida. Mas, se de fato, a razão humana está em
condição de se apossar do tesouro escondido no SANCTA SANTORUM de Deus
(adquirindo algum conhecimento verídico de Deus), é algo que ainda precisa ser
provado.

Segundo T.H.Huxley, que introduziu o termo agnosticismo, este indica uma posição de
impotência da razão em face de determinadas realidades, em particular de Deus e da
alma, das quais ela não seria capaz de ter nenhum conhecimento seguro.

No campo filosófico chama-se de agnóstica, por exemplo, a posição de Kant, que


restringe os poderes do conhecimento humano ao âmbito dos fenômenos, nada de certo
podendo saber a respeito de Deus e da alma, realidade pertencente ao âmbito do
numinoso (coisa em si). Substancialmente agnóstica é também a posição dos ofensores
do “pensamento frágil”, os quais sustentam que a filosofia não está em condição de
compreender nenhuma verdade absoluta, seja do ponto de vista metafísico ou moral.

Segundo os “fragilistas”, tais verdades estão fora do alcance da razão. Esta deve
limitar-se a descrever a realidade, a atenção, os fenômenos, os eventos, aquilo que
acontece momento a momento, sem bancar suas razões e o sentido transcendente de
cada acontecimento. A respeito dos “últimos porquês”, não só é impossível ter uma
resposta para eles, como até mesmo inoportuno propor essas questões. Em teologia, é
agnóstica a posição de Maimônides, para que de Deus a mente humana só pode ter
conceitos negativos.

7 - ANARQUISMO

1 – Introdução:

“Qualquer pessoa que tenha lida a história da humanidade aprendeu que a


desobediência é a virtude original do homem”. (Oscar Wilde).
27

Eu aceito com entusiasmo o lema que afirma: “o melhor governo é aquele que menos
governa”; e gostaria de vê-lo posto em prática de forma sistemática. Uma vez posto em
prática, ele acabaria resultando em algo que também acredito: “o melhor governo é
aquele que não governa”; e quando os homens estiverem preparados, será exatamente
este tipo de governo que irão ter.

Conceito:

Sistema (de governo) Político que defende a Anarquia; ação ou movimento anarquista;

Anarquia: Negação do principio da autoridade; falta de governo ou de chefe; sociedade


política constituída sem governo; desordem, confusão, barafunda e desmoralização (do
grego. Anchia).

Anarquista: sequitário do anarquismo; desordeiro; aquele que anarquiza ou


anarquizador; por em estdo anárquico; excitar à anarquia, sublevar, desorganizar e
desmoralizar.

Proudhon (1809 – 1865) e Bakunin (1814 – 1876), contemporâneo de Marx, com ele
partilham as críticas ao sistema capitalista, à propriedade privada dos meios de
produção e a exploração da classe proletária pela burguesia. Concordam também que as
revoluções Francesas e Americana foram mais políticas que sociais, pois elas teriam
renovado os padrões de autoridade, dando poderes às novas classes, mas não
modificaram basicamente a estrutura social e econômica da França e dos Estados
Unidos.

A relação de amizade e admiração de Proudhon e Bakunin com Marx rompeu-se,


porém, a partir de divergências que se tornaram cada vez mais agudas. O nó do
desentendimento encontra-se na teoria Marxista da ditadura do proletariado. Como
vimos, Marx preconizava um degrau necessário antes do advento do Comunismo,
quando a força do proletariado, exercida através do partido, evitaria a contrarrevolução
da classe deposta. Só depois o poder se dissolveria rumo à sociedade sem Estado.

Bakunin acusa Marx de otimista, não considerando ser possível evitar a rígida
oligarquia de funcionários públicos e tecnocratas que tenderiam a se perpetuar no poder.

2 – Principais Ideias:

É comum às pessoas identificarem anarquismo com “casos”, “bagunça”. Etc. na


verdade, não se trata disso. Etimologicamente, a palavra é formada pelo sufixo “archon”
que significa em grego “governante”; e “an” que significa “sem”. Ou seja, “sem
governante”.

O principio que rege o anarquismo está na declaração de que o Estado é nocivo e


desnecessário, pois, há formas alternativas de organização voluntária.
28

Se a religião, o Estado e a propriedade contribuíram em determinado momento histórico


para o desenvolvimento do homem, passam a ser restrições a sua emancipação.

No entanto, a tese anarquista da negação do Estado não deve levar as pessoas a


pensarem que se trata de uma proposta individualista, pois a organização não coercitiva
se funda na cooperação e na aceitação da comunidade. O homem é um ser naturalmente
capaz de viver em paz com seus semelhantes, mas as instituições autoritárias deformam
e atrofiam suas tendências cooperativas. Surge, então, um aparente paradoxo, ou seja, a
realização da ordem na anarquia; essa ordem na anarquia é uma ordem natural.

A sociedade estatal possui uma estrutura cuja construção é artificial, pois cria uma
pirâmide em que a ordem é imposta de cima para baixo. A sociedade anarquista seria
não uma estrutura, mas um organismo que cresce de acordo com as leis da natureza, e a
ordem natural se expressa pela autodisciplina e cooperação voluntária e não pela
decisão hierárquica.

Por isso, os anarquistas repudiam até a formação de partidos, já que estes prejudicam a
responsabilidade de ação, tendem a se burocratizar e a exercer forma de poder. Também
temem as estruturas teóricas, porque podem tornar-se um corpo dogmático. Daí o
anarquismo ser o mais conhecido como movimento vivo e não tanto como doutrina. A
ausência de controle e de poder torna o movimento anarquista oscilante, sempre frágil e
flexível, podendo ficar inativo por muito tempo para surgir espontaneamente quando
necessário.

A crítica à existência do Estado leva à tentativa de inversão da pirâmide de poder que o


Estado representa; a organização social que deriva dessa inversão rege-se pelo principio
da descentralização, procurando estabelecer a forma mais direta de relação, ou seja, a do
contrato “cara a cara”. A responsabilidade começa a partir dos núcleos vitais da vida
social, onde também são tomadas as decisões: o local de trabalho, os bairros. Quando
isso não é possível por envolver outros segmentos, formam-se federações. O
importante, porém, é manter a participação, a colaboração, a consulta direta entre as
pessoas envolvidas.

Os anarquistas criticam a forma tradicional de democracia parlamentar, pois a


representação contém o risco de alçar ao poder um demagogo. Quando a decisão
envolve áreas mais amplas, havendo necessidade de convocação de assembléia, a
proposta é de escolha de delegados por tempo limitado e sujeitos à revogação de seu
mandato.

Além da crítica feita ao Estado, os anarquistas preveem que a supressão da propriedade


privada dos meios de produção deve dar lugar a formas de organização que estimulem
as ações dos indivíduos livres no corpo coletivo, o que poderia se tornar possível na
comuna livre e em empresas dirigidas coletivamente.

3 – Representantes:
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O mais brilhante anarquista foi Bakunin, filho de ricos aristocratas russos. Tornou-se
revolucionário graças à influência de Proudhon. Participou das rebeliões que ocorreram
em Paris, Praga e Dresden em 1848 – 1848, tendo sido preso por vários anos e depois
exilado na Sibéria. De volta à agitação, em 1870 tomou parte nas revoltas de Lyon e
Bolonha. Feitas cerradas críticas a Marx, tendo sido expulso da Primeira Internacional
em 1872. Com outros companheiros fundou a Internacional Saint-Imier. Sua obra
vigorosa e apaixonada, mas mal organizada, pois dificilmente Bakunin terminava o que
começava, era, sobretudo um ativista.

Kropótkin (1842 – 1912), ao contrário de Bakunin, defende a ação não-violenta e luta


pelo respeito à vida humana, condenando a pena de morte, a tortura e qualquer forma de
castigo imposta ao homem pelo homem.

O romancista Leo Tolstói (1823-1910), embora se intitulasse um “pacifista Cristão”,


tinha opiniões sobre o governo e a autoridade que o aproximam dos ideais anarquistas.
A pregação de resistência não violenta influenciou Gandhi na estratégia da
desobediência civil durante a luta pela Independência da Índia.

Entre defensores e simpatizantes, o anarquismo conta com artistas, jornalistas e


intelectuais em geral, como Oscar Wilde, George Orwell, Aldons, Huxley, Picasso,
Alex Comford, Herbert Read, Emma Goldman, Malatesta e George Woodecock.

4 – Movimentos

No final do século XIX, o movimento sindical deu ampla força ao anarquismo, gerando
o movimento chamado anarco-sindicalismo, pelo qual os sindicatos não deveriam se
preocupar apenas em conseguir melhores salários, mas em se tornar agentes de
transformação da sociedade.

Segundo o espírito anarquista, os sindicatos não têm poder centralizado, mas se


organizam em pequenos grupos de fabrica e a ampliação dos contatos em nível estadual
e nacional deve sempre preservar a participação direta do trabalhador.

Foi na Espanha que o movimento atingiu maior expressividade, até quando não pôde
mais resistir à ação dos exércitos do ditador Franco. Do mesmo modo, o advento do
Fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha significou o enfraquecimento do
movimento naqueles países.

O anarquismo ressurgiu timidamente depois da Segunda Guerra Mundial e


recrudesceu na década de 60, com o Movimento Estudantil Ativismo de Jovens de
vários países da Europa e da América, culminando com o de 1968 em Paris.

O Anarquismo No Brasil

Como a abolição da escravatura no final do século XIX, a necessidade de mão-de-obra


livre favoreceu a imigração de europeus, sobretudo, italianos, que vieram inicialmente
30

para as fazendas de café. Data do início da República Velha a vinda de um grupo de


italianos que, autorizados pelo então imperador Pedro II, instalou-se no interior do
Paraná fundando a colônia Cecília nos moldes de uma comunidade anarquista.
Experiência efêmera e cheia de dificuldades, não conseguiu florescer.

No começo do século XIX, com a urbanização decorrente da industrialização,


organizou-se o anarco-sindicalismo, visando à atuação mais eficaz da luta contra a
opressão patronal. Era um movimento atuante não só na preparação das greves, mas na
difusão do ideal anarquista por meio de escolas e jornais.

Merece destaque a atuação de José Oiticica (1882 – 1957), que, além de teórico
divulgador das ideias anarquistas, foi ativista e por isso exilado. Professor universitário
e também do colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, tentava aplicar em aulas os princípios
anarquistas. Homem erudito, foi autor de várias obras: além dos textos políticos,
escreveram poesias, contos, teatros e desenvolveu trabalhos linguístico-filosóficos de
primeira linha.

8 – ANGLICANISMO
(veja tópicos sobre: Reforma Luteranismo, Pentecostalismo etc.)

1 – Definição:

De acordo com o Minidicionário da Língua Portuguesa Larousse afirma que:


anglicanismo é a religião oficial da Inglaterra desde o reinado de Elizabeth I, que tem
como base princípios luterano (protestantes), mas mantém características dos ritos
católicos.

Anglicano é o indivíduo que professa o anglicanismo. Algo relativo ou pertencente ao


anglicanismo.

2 – A Igreja Anglicana:

Igreja oficial da Inglaterra, criada pelo rei Henrique VIII, que em 1534 rompe com a
Igreja Católica. Com a nova religião, Henrique VIII fortalece a autoridade secular da
monarquia sobre bens, tribos e questões eclesiásticas. A Igreja Anglicana difunde-se
para as colônias inglesas, especialmente a América do Norte. Chega ao Brasil em 1818,
pelo Rio de Janeiro. A vinda de missionários norte-americanos impulsiona a fundação,
em 1890, em Porto Alegre (RS), da Igreja Anglicana episcopal do Brasil.
31

3 – Histórico:

É a designação de uma tradição dentro do Cristianismo que inclui a Igreja da Inglaterra


e outras igrejas historicamente ligadas àquela ou que têm crenças, práticas e estruturas
semelhantes.

O termo Anglicanismo tem origem em ecclesia anglicana, uma expressão medieval


latina datada de, pelo menos, 1246, e que significa Igreja Inglesa. Os adeptos do
Anglicanismo são designados por Anglicanos. A grande maioria dos Anglicanos são
membro de igrejas que fazem partes da comunhão anglicana, que se consideram
também Anglicanos, em particular aqueles que se designam por Igrejas do Movimento
Anglicano Contínuo.

A fé dos Anglicanos tem por base as Escrituras, as Tradições da Igreja Apostólica, e


da Sucessão Apostólica (“episcopado Histórico”) e dos pais da Igreja iniciais.

O Anglicanismo é um dos ramos do Cristianismo Ocidental; declarou a sua


independência do Pontificado Romano no período da Regulamentação religiosa de
Isabel I, o qual é designado por monástico britânico. Muitos dos formulários anglicanos
de meados do século XVI são semelhantes àqueles do Protestantismo Reformado
Contemporâneo. Estas reformas na Igreja de Inglaterra foram vistas pelo Arcebispo da
Cantuária, Thomas Cranmer, como um meio termo entre duas Tradições Protestantes
emergentes, nomeadamente o Luteranismo e Calvinismo. No final do século, a
manutenção do Anglicanismo de muitas formas litúrgicas tradicionais, e o episcopado,
eram vistos como inaceitaveis por aqueles que divulgavam os princípios do
Protestantismo.

Na primeira metade do século XVII, a Igreja de Inglaterra e outras Igrejas episcopais


associadas na Irlanda e nas Colônias Inglesas na América, foram apresentadas por
teólogos Anglicanos, como tendo uma Tradição Cristã diferente, com teologias,
estruturas e formas de oração que representavam um meio termo diferente, ou via
média, entre a Reforma Protestante e o Cristianismo Romano – uma perspectiva que se
tornaria muito influente nas teorias da identidade Anglicana, e foi expressa na descrição
“Catholic And Reformed”. No seguimento da Revolução Anglicana, as congregações
Anglicanas nos Estados Unidos e no Canadá foram ambas reorganizadas em igrejas
autónomas com os seus próprios bispos e estruturas autónomas; estas, com a expansão
do Império Britânico e a atividade das Missões Cristãs, foram adaptadas como modelo a
muitas recém-criadas igrejas, em particular em África, Austrália e nas região do
Pacífico. No século XIX, o termo Anglicanismo era utilizado para descrever a tradição
religiosa comum destas igrejas; a Igreja Episcopal Escocesa, embora com origem na
Igreja da Escócia, acabou por ser reconhecida com também partilhando da mesma
identidade comum.

O grau de distinção entre as tendências reformista e o catolicismo ocidental dentro da


tradição Anglicana e, habitualmente, uma matéria de debate tanto no seio das igrejas
anglicanas, como na comunhão anglicana. Único no Anglicanismo é o Book of
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Commom Prayer, um livro de preces utilizado na maioria das Igrejas anglicanas, há


séculos. Embora tenha passado por várias revisões e as igrejas anglicanas, em diversos
países, tenham elaborado outros livros de preces, o Prayer Book continua a ser
reconhecido como um elo na comunhão anglicana. Não existe uma única Igreja
Anglicana com autoridade jurídica universal, pois cada igreja nacional ou regional, tem
autonomia total. Como o nome sugere, as igrejas da comunhão anglicana estão ligadas
por laços afetivos e o por liberdade. Estão em comunhão total com a Sé da Cantuária e,
deste modo, com o Arcebispo da Cantuária, pessoalmente, é um ponto de convergência
da unidade anglicana. Com um total estimado 90 milhões de membros, a comunhão
anglicana é a terceira maior comunhão Cristã no mundo, atrás da Igreja Católica
Apostólica Romana e da Igreja Ortodoxa. O Anglicanismo apresenta uma fusão de
elementos católicos com elementos calvinistas.

9 – ANIMISMO

1 – Introdução:

Crença que tudo o que existe tem alma. O termo foi cunhado no século XIX, pelo
antropólogo inglês Edward Tylor, a partir do termo anima (alma, em latim). Tribos na
África Subsaariana, nas Américas, no sul da Ásia e na Oceania são consideradas
animistas. Entre suas características comuns estariam o culto aos espíritos dos ancestrais
e a prática da magia, do curandeirismo e de sacrifícios de animais oferecidos às
divindades.

2 – Conhecendo o Animismo:

O jardim do Éden era, sem dúvida, um lugar magnífico. As árvores, as plantas e os


arbustos brotavam com toda a glória e um vapor subia e regava o jardim. Deus andava
nele, olhava-o e dizia: “É bom”. Mas Deus não poderia ter comunhão com as árvores, os
riachos e os animais. Tais coisas não tinham sido feitas “à imagem de Deus”. Foi
somente depois de ele ter criado o homem que passou a haver interação entre Deus e a
sua Criação. Deus criou o homem à sua imagem (Gn 1.27). Talvez não saibamos tudo
quanto isto envolvia, mas sabemos que o homem foi feito alma vivente. “E formou o
Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o
homem foi feito alma vivente”. (Gn 2.7).

2.1 – Definição do Animismo:

Animismo deriva-se da palavra latina “anima”, que significa “alma”. Pode ser descrito
como uma crença que atribui vida espiritual ou uma alma, às coisas inanimadas, e isto
inclui a crença que atribui vida aos mortos. Os animistas dizem que depois da morte, a
33

alma humana continuava a viver num estado espiritual. Ela fica na redondeza por onde a
pessoa passou em sua vida terrestre. No seu modo de ver, existe um poder sobrenatural,
mas não é um Deus pessoal. Os espíritos ficam bem mais perto das pessoas. Esses
espíritos habitam as colinas, as pedras, as árvores, o ar em redor das pessoas, e o céu
acima delas. Os animistas acreditam que a totalidade da natureza está possessa de seres
espirituais.

2.2 – Localização Geográfica:

De todas as religiões antigas, o animismo foi a que mais se propagou.

 As raças negroides e bantos da África são animistas;


 O animismo acha-se no sudeste da Ásia e nas Ilhas do Pacífico, entre aqueles
que não são muçulmanos, nem budistas;
 Há animistas entre os povos primitivos do Norte da Índia, da China e dos grupos
tribais da Sibéria;
 A maioria dos aborígenes da Austrália é animista;
 Os animistas são encontrados em grandes áreas da América do Sul e entre os
índios da América do Norte;
 Podemos concluir que onde a religião não é monoteísta, se desenvolveu o
politeísmo.

2.3 – Origens do Animismo:

Muitas pessoas levantam a questão de como o animismo teve a sua origem.


Examinaremos três teorias básicas a respeito da origem dessa crença.

a) A evolução. O animismo foi descrito pela primeira vez por Edward B. Tylor
numa obra intitulada Primitive culture (1871). Propôs a teoria de que o
animismo é o fundamento de todas as religiões. Baseando sua teoria em relatos a
respeito de tribos remotas que não tinham religião nenhuma, achava que a
religião se envolvia desde aquele estado pré-religioso para as formas mais
avançadas. Havia, porém falhas. Na realidade, nunca foi achada nenhuma tribo
sem uma centelha de religião, e não se levou em conta o relato bíblico da
criação.

b) Mana. Outra origem sugerida para o animismo é a crença numa força chamada
mana. A palavra mana provém das ilhas da Melanésia, no Sul do Pacífico. O
Bispo Codrington da Melanésia (1871-1877) foi informado que o mana era uma
força misteriosa e pavorosa que habitava toda a criação, e que levava o homem e
a natureza a agir de determinadas maneiras. Não era boa nem má, e não era
pessoal. As pessoas podiam falar com espíritos, mas não com mana. Mesmo
assim, almas ou espíritos podem ser mana operante.

O mana é conhecido pelos seus feitos. A correnteza mais veloz, o trovão mais
estrondoso, a madeira que queima melhor, o pai de mais filhos, todos eles,
34

segundo se diz, têm mais mana. As árvores que crescem mais altas, os animais
mais ferozes, os pássaros que levantam voo mais alto, todos eles têm mana
maior. Depois, à medida que as pessoas comem dessas coisas superiores, elas
também recebem mais mana. Acreditam que o mana sempre está presente nelas.
Somente quando a pessoa deixa de respirar é que o mana vai embora, e a pessoa
morre.

O poder para destruir também faz parte do mana. Para evitar o infortúnio ou a
doença proveniente do mana destrutivo, os melanésios usam tabus. Trata-se de
proibições ou de coisas que não se faz. Por exemplo, um casamento entre irmão
e irmã é tabu, porque semelhante casamento pode ter efeitos danosos.

c) A Bíblia. O que diz a Bíblia a respeito da origem do animismo? Conforme


mencionamos anteriormente no relato da criação em Gênesis 1 e 2 nos informa
que a primeira religião era monoteísta, mas que a partir da queda, as crenças e
praxes religiosas tornaram-se corruptas. À medida que os três filhos de Noé
(Sem,Cão e Jafé) e seus descendentes se espalharam pela terra, levaram consigo
suas crenças e práticas. No decurso dos séculos, no entanto, os níveis da
moralidade se rebaixaram, e o animismo e o monoteísmo seguiram dois
caminhos diferentes. Paulo conta a respeito disso em Romanos l.18-32. A glória
da adoração ao criador foi transformada na adoração às criaturas. É isto que é o
animismo.

3 – Crenças do Animismo:

Ao pensarmos no homem pré-literário poderíamos ser tentados a acreditar que a vida


dele era bem simples. A verdade é bem oposta: era muito complexa a sua vida. Até os
mais primitivos, tais como os aborígenes australianos, têm cerimônias muito
complicadas. Os pajés na África passam muitos anos estudando a vida das plantas e
aprendendo a ouvir mensagens dos espíritos. Para realizar uma cura, o ritual que
cumprem é bastante prolongado. Ele joga ossos, sacode cabaças, e repete as fórmulas.
Há tanta complexidade como no caso do médico moderno para receitar à altura da
necessidade do paciente.

a) O Reconhecimento do Sobrenatural

A crença universal num ser supremo que criou a terra e tudo quanto nela há, sempre tem
existido. Até mesmo os povos remotos tais como os pigmeus da África e os boximanes
da Austrália sempre sustentavam essa crença. Considerava-se que Deus era uma pessoa,
mas pelo que sabemos, os animistas não faziam imagens dEle. A crença em Deus que
eles têm é semelhante a do deísmo: Deus está distante, mas demonstra a sua existência
através daquilo que Ele faz. Acreditam que Deus pode ser ofendido, aplacado ou até
mesmo censurado!

Segundo algumas tradições animistas, Deus originalmente habitava na terra, em perfeita


harmonia com o homem. Por causa do comportamento estulto do homem, porém, Deus
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se retirou para o céu. De lá, Ele observa as atividades dos homens e, ás vezes, castiga as
suas más ações. O raio é a sua arma, e o trovão é o seu rugir, mas Ele mesmo nunca é
visto. Certa lenda animista diz que o céu, a morada de Deus, ficava perto da terra, e que
quase a tocava. Quando certa mulher esmagava grãos, levantou tão alta a mão do pilão
que bateu em Deus, e Ele, irado, levantou-se e foi embora. Outra versão diz que as
pessoas sempre enxugavam suas mãos sujas no céu azul, de maneira que Deus partiu,
enjoado.

Alguns animistas entendem que Deus é um juiz. Isto significa que há uma lei quanto ao
certo e ao errado, e uma fonte originária da moralidade. Deus pode operar através dos
espíritos para castigar os malfeitores, mas é da parte dEle que o juízo realmente provém.
Quando a pessoa quebra a lei de Deus, ela sofre o castigo divino. Aí surge a tarefa do
sacerdote ou médium: interpretar a vontade de Deus. Instruir a pessoa quanto à maneira
de aplacar um Deus irado.

Os animistas sustentam que os espíritos têm uma natureza humana. Isto quer dizer que
são antropomórficos. Têm mente, sentimentos, vontade ou propósito. O homem pode
raciocinar com eles quando os espíritos estão com boa disposição. Gostam de serem
alvos de devoção e de bajulação, mas podem ser grosseiros quando ficam zangados ou
ofendidos. O homem deve sempre estar alerta para gozar da boa graça deles. Não se
pode confiar neles.

b) A Veneração dos Espíritos:

Perguntamos, certa vez, a um homem: “Por que o seu povo adora os espíritos dos
ancestrais?”. O homem respondeu: “Oh, não os adoramos”... Nós os honramos e os
respeitamos, mas não se trata de adoração. “Se eu os respeitar, meus filhos, por sua vez,
me honrarão depois da minha morte”. Os animistas preferem dizer que “veneram” os
ancestrais. Mesmo assim, vários povos animísticos existentes pelo mundo afora não
somente veneram os ancestrais, como também as pedras, as árvores e os animais.

A veneração às pedras remonta aos tempos pré-históricos. Na ilha da Páscoa, estátuas


enormes de pedra fazia parte dos ritos religiosos. Eram esculpidas segundo a forma
humana, só a metade superior do corpo, numa altura de quase cinco metros, em
memória de algumas pessoas importantes. Stonehenge, na Inglaterra (cerca de 1400
a.C.), tem colunas e arcadas enormes de granito, que pesam até 45.000 kg. Cada uma, e
são colocadas num formato circular. Foram dispostas numa posição especial em relação
ao sol do verão. Por isso, os historiadores acreditam que os povos daqueles tempos
praticavam o culto ao sol.

Em alguns lugares, o povo reverencia as árvores. As sequoias gigantes nos Estados


Unidos são algumas das árvores maiores e mais antigas do mundo inteiro, e eram muito
reverenciadas pelos índios primitivos. A árvore enfeitada do natal, embora já não seja
hoje considerado objeto venerável, talvez seja, em algumas culturas, uma tradição
proveniente dos tempos antigos. Na mente dos animistas, as árvores são o símbolo da
frutificação e possuem a força da natureza para o crescimento. Ajudam as safras a
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desenvolverem-se, os rebanhos e as manadas a multiplicarem-se, e tornam férteis as


mulheres.

Veneração aos animais também faz parte da religião tradicional. Os animistas em


algumas áreas acreditam que o homem tem parentesco com os animais, e que pode
compartilhar da força, da visão e da astúcia destes. São contados estórias e mitos a
respeito de personagens tais como homens-ave e criaturas que são metade homem, e
metade animal. Talvez você saiba que animais ainda são honrados em vários países e
regiões, como por exemplo, o leão na África, o tigre na Malásia, a águia e o urso na
América do Norte, o touro na Grécia, a Vaca e o búfalo na Índia e o canguru na
Austrália.

Se você mora num país animísticos, você talvez tenha ouvido falar na crença de que os
espíritos humanos podem entrar nos animais. O propósito desse evento pode ser ajudar
ou danificar e a obra é feita pela bruxaria. Certa noite, depois de ter saído à caça, para
termos carne, chegamos a uma aldeia. Através do luar, vimos o contorno de uma hiena
perto de uma cabana africana. Sabendo que as hienas são perigosas para os homens e os
animais, levantamos o fuzil para abatê-la. De repente, nosso companheiro agarrou-nos
pelo braço e sussurrou: “não atire, Bwana, talvez se trate de uma pessoa!” passou, então
a descrever um incidente assim: Um homem atirou num hiena de noite; ao chegar ao
lugar, nada se via senão gotas de sangue. Seguiu as marcas do sangue até chegar a uma
cabana. Ao entrar, achou um homem que morrera ferido à bala. Para a mentalidade
africana, era mais uma prova de que o homem pode transformar-se em animal.

c) A Fusão dos Conceitos:

Algumas pessoas fazem uma nítida distinção entre o certo e o errado, entre o verdadeiro
e o falso, entre Deus e o homem. Os povos pré-literários, porém, tendem a fundir vários
conceitos. Há uma fusão entre as áreas sagradas e seculares ou espirituais e materiais da
vida. O animista não pode ser separado da sua religião. Ele é sua religião, pois ela faz
parte dele desde antes do seu nascimento até muito tempo depois da sua morte. O
nascimento, a puberdade, a iniciação, o casamento, a construção da casa própria, todas
essas coisas devem ser honradas através de ritos especiais. O agricultor leva a religião
dele ao campo, o estudante leva-a para a sala de aula. O político leva-a ao Congresso
Nacional; o sacerdote leva-a ao seu templo. A vida é uma fusão entre coisas sagradas e
seculares.

a’ – A Pessoa e a Comunidade. Um exemplo comum da fusão é a identificação entre


indivíduo e a sua comunidade. Ser uma pessoa humana significa fazer parte da
comunidade e suas crenças, rituais e festas. A religião do grupo é a sua segurança e a
base dos seus parentescos. Ficar sem religião é desligar-se da vida da sociedade. O
animista acha que cessaria de existir se assim fizesse. Não sabe como existir sem a
comunidade.

Você pode perceber, portanto, que a vida na cidade impõe tensões severas no animista
proveniente da área rural. A educação geralmente resulta na urbanização, mas quando
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muda um homem para uma cidade, frequentemente acha que está num vácuo. Suas
bases, sua segurança e suas tradições são deixadas para trás. A indústria e o comércio
modernos não possuem profundidade para ele. Se a sociedade, a igreja ou os grêmios da
cidade não preenchem esse vácuo, procurará a satisfação nas bebidas, nas festas, no
sexo ou no crime. Em alguns casos, sofre danos mentais de culto. Por essa razão, uma
igreja formal, trancada durante seis dias e aberta apenas uma ou duas vezes por semana,
não basta. E esse é o motivo por que alguns cristãos abandonam a igreja e voltam-se às
crenças e praxes do passado. Os cristãos que antes eram animistas necessitam que a
totalidade do seu tempo e dos seus pensamentos fique preenchida com relevância
religiosa e uma experiência vital em Cristo. Somente então se sentirão seguros.

b’ – O Presente e o Passado.

Os animistas também fazem uma fusão entre o tempo presente e o passado. O Dr. John
S. Mbiti, do Quênia, um autor respeitado sobre a religião tradicional da África, descreve
o conceito africano do tempo. Diz o africano tem um passado longo, um presente, mas
um futuro limitado.

O tempo, para o africano, é orientado pelos eventos; isto quer dizer, relaciona-se com
aquilo que acontece. O passado pode ser conhecido somente quando é comparado com
aquilo que acontece no presente. A mesma coisa acontece no caso do futuro. Mas visto
que o futuro ainda não aconteceu, ele não existe na mente africana. A maioria dos
idiomas africanos não tem nenhuma palavra para um futuro, pois ele ainda não
aconteceu, ele não existe na mente africana. a maioria dos idiomas africanos não tem
nenhuma palavra para um futuro além de poucos anos. Dizem: “em frente”, ou “logo
adiante”. Por essa razão, na religião tradicional, não há esperança messiânica, nem visão
do céu. O “aqui e agora”, em alguns idiomas, é derivado da palavra “aqui”. Em Malaui,
tsopanop, que significa “agora”, literalmente significa “neste lugar”.

c’ – O Objeto e o Símbolo.

Outra fusão que acontece é entre o objeto e o seu símbolo. Talvez você já tenha ouvido
falar na “magia imitativa, associativa ou simpática”. Assim é chamada, porque se baseia
na ideia de que “cada qual geral o seu igual”. O que você quer que aconteça pode ser
forçado a acontecer mediante o uso de um objeto semelhante a ele. Uma coisa
conhecida cria uma coisa desconhecida. Por exemplo, o mágico forma uma nuvem de
fumaça para trazer uma nuvem de chuva. Depois, enche a boca de água e aspira no
chão, como símbolo da chuva que cai. Por isso, é chamado o “Manda-Chuva”.

Um animista africano estava passando por um caminho na floresta. De repente, pulou


para o lado e exclamou: “Ai! Alguém quer me amaldiçoar” quando lhe perguntaram por
que, respondeu: “estão vendo aquele moço de folhas na rua? Representa uma parte do
corpo de uma pessoa. Se alguém pisar nele, terá dores fortes de estômago e morrerá”. O
homem achava que o símbolo exercia efeito sobre o objeto.
38

A crença que a pessoa tem no símbolo é uma coisa importante. Essa crença pode ser tão
forte que a pessoa fica literalmente doente – é uma reação psicossomática. Um
jardineiro pendura um maço de galhos secos na entrada do seu jardim. Se um ladrão
procurasse furtar legumes, “seus ossos seriam quebrados”. Ou uma cabaça com
aplicações de chumaços de algodão branco pode levar um ladrão a pegar varíola.
Semelhante crença de causa e efeito baseia-se na semelhança, não na lógica. A mente
ocidental não pode entender tal coisa, mas o animista não se preocupa com isso. Ele
continua crendo assim, imperturbavelmente, e assim pratica.

d) A Propiciação Pelo Pecado:

a’ – O Pecado e a Lei. O que você pensa que é o pecado? Geralmente dizemos que é a
violação das leis conhecidas. Quais eram as leis dos animistas? É difícil saber com
certeza, porque os animistas, em muitas partes do mundo, não possuíam a arte da
escrita. Por isso, a única lei era uma lei oral, transmitida pelos anciãos do clã. As leis
possivelmente desenvolveram-se a partir do raciocínio baseado na causa e no efeito.
Suponhamos que algum infortúnio desabe sobre uma aldeia, como no caso de uma seca,
de um incêndio ou de uma enfermidade. Os animistas diriam: “É a ira dos espíritos”.
Para eles uma calamidade significa que a natureza está fora de equilíbrio. Alguém,
portanto, tinha pecado. É necessário achar o culpado, para ser feita a propiciação.

A partir daí, podemos reconstituir algumas das leis orais dos animistas:

 As tradições e os costumes da comunidade tinham que ser sustentadas;


 Havia pouco conteúdo ético oral. Por exemplo, a lei oral não dizia: “não
cobiçarás”. A inveja, o ciúme, o ódio e o orgulho eram condenados somente
quando causavam desequilíbrio na natureza ou na tradição.
 A linhagem do clã deve continuar. Para terem garantia do cumprimento dessa
lei, as famílias desejavam muitos filhos. Se algum deles morresse, sobraria um
numero suficiente para haver certeza de que o nome da família continuaria.
 Os espíritos dos ancestrais devem ser mantidos num estado de felicidade. Um
bom espírito talvez seja um ancestral amável. O espírito mal poderia ser um
ancestral maligno ou um inimigo. Tinha que ser aplacado
 O bem-estar humano tinha a primazia. A vontade dos homens era considerada
mais importante do que a vontade de Deus. O animista, frequentemente,
procurava meios de controlar o poder supremo. Para impor sua própria vontade,
até mesmo ralhava com Deus e ameaçava os espíritos.

b’ – O Pecado e o Sacrifício. Certa vez, perguntaram a um animista: “Quando


começaram os sacrifícios?” Ele respondeu que sempre tinham existido, desde o
princípio. É notável como os sacrifícios dos animistas assemelham-se ao padrão do
Antigo Testamento. Todo sacrifício oferecido tinha que ser valioso. Os animistas
podiam oferecer animais, farinha ou os produtos da terra.

Alguns povos primitivos até mesmo ofereciam sacrifícios humanos aos seus deuses.
Cada objeto oferecido tinha que estar sem mancha nem mácula. O sacrifício era
39

oferecido num lugar especial e conforme determinado padrão. Trata-se de outra praxe
que o cristão pode usar como ponte para demonstrar ao animista o sacrifício perfeito de
Jesus na cruz.

Ora, qual é o resultado quando as pessoas se apartam da adoração ao Deus verdadeiro?


Adoram o sacrifício. Aquilo que deve ser dado a Deus fica sendo o substituto do lugar
de Deus. Conforme escreveu Paulo aos Romanos: “E mudaram a gloria do Deus
incorruptível em semelhança à imagem de homem corruptível, e de aves, e de
quadrúpedes e de répteis”. (Rm 1.23). Entre os deuses do Egito antigo, havia a vaca.
Quando os filhos de Israel viraram as costas para Deus no Sinal, fizeram uma imagem
de ouro que representava um bezerro. Aarão disse: “Estes são teus deuses, ó Israel, que
te tiraram da terra do Egito” (Êx 32.4).

O animista continua reverenciando esse mesmo tipo de substituto, embora talvez não
tenha consciência do seu significado. Certa vez, alguém mostrou-nos um pequeno
santuário com teto de palha, dedicado aos espíritos dos ancestrais. Lá dentro, havia um
montinho de barro na forma de um cone, com a cabeça e os chifres de uma vaca no
ápice. Sacrifícios de farinha eram colocados diante dele. Quando perguntamos qual o
significado da imagem, recebemos a resposta: “A vaca é um símbolo de fertilidade para
o povo e as safras. Mas Deus está tão longe que preferimos oferecer sacrifícios aos
ancestrais e invoca-los para nos ajudar”.

d) A Meditação das Pessoas Sagradas:

Todas as religiões têm pessoas sagradas para serem mediadores entre sua deidade ou
poder supremo, e o povo. Fazem as suas orações e interpretam a mente ou a vontade da
deidade. Nas religiões animísticas, podem ser sacerdotes, pajés, médiuns, adivinhos,
xamãs, exorcistas, feiticeiros e assim por diante. Algumas pessoas imaginam que o pajé
é aquele que invoca maldições sobre os outros. Na realidade, porém, funciona como um
herbanário em primeiro lugar, e como adivinho. Como herbanário, fornece remédios
feitos de raízes, folhas e brotos de várias árvores. Mas se uma doença persistir por um
tempo mais prolongado, o pajé age como adivinho ou caçador de bruxas. Talvez passe,
então, a usar a bruxaria, a fim de descobrir a causa de um problema e de neutralizar os
poderes malignos da magia; mas não é um malfeitor. É o feiticeiro quem pratica a magia
negra. Poucos animistas acham que a doença é causada por bactérias, por água
contaminada, por uma picada de inseto ou por problemas orgânicos. O primeiro
pensamento deles é que uma pessoa a causou mediante a bruxaria ou um espírito
maligno. Seguem-se outras definições:

 O feiticeiro usa a magia para lesar ou destruir. A magia opera contra o sistema
social e as leis da comunidade. A magia negra é usada para danificar, ao passo
que a magia branca é usada para ajudar;

 O mágico é aquele que usa recitações monótonas, encantamentos e sortilégios


para levar a efeito a sua magia. Não é sacerdote, nem xamã;
40

 O xamã é um sacerdote-médico que emprega a magia para curar os enfermos ou


para adivinhar aquilo que está oculto. É um médium que é notável pelo uso que
faz do êxtase. O xamanismo é uma religião animística que se acha na Ásia
Setentrional, na Europa, e entre alguns índios da América do Norte;

 O médium é uma pessoa através de quem outras pessoas procuram comunicar-se


com os espíritos dos mortos. Na África Central, acredita-se que o médium está
encarnado no espírito de um ancestral;

 O sacerdote é aquele que está autorizado a realizar os deveres sagrados de uma


religião. É considerado um tipo de mediador entre o povo e Deus.

e) A Ideia Que o Animista Tem do Futuro.

Você fica pensando, as vezes, a respeito daquilo que acontecerá depois da morte? A
maioria das pessoas começa a ter suas perguntas a respeito da morte, quando tem uma
doença ruim. O animista é assim, também. Acredita que a vida no mundo do porvir é
uma continuação da vida aqui na terra. Mesmo assim, a qualidade da vida no porvir
depende de quão bom ou mau ele tem sido nesta vida. Seu desejo é ser um bom espírito,
a fim de que possa abençoar seus filhos e netos. Como é importante levá-lo à esperança
de ficar com Cristo!

4 – Comunicações Com o Mundo:

a) A Evidência dos Artefatos:

Você pode imaginar como seria a vida sem um sistema de escrita? Você não estaria
lendo essa lição se não tivesse sido estabelecido um sistema de escrita válido para
muitas pessoas comum. Os animistas, diferentemente dos seguidores de muitas
outras religiões, não escreviam livros sacros. As únicas comunicações diretas que os
povos primitivos nos deixaram, acha-se em suas pinturas nas rochas, nas suas
ferramentas de agricultura e nas armas de caça, tais como os numerosos artefatos
que foram escavados pelos arqueólogos. A pessoa que descobre um artefato
frequentemente impõe sua própria interpretação da idade e do significado dele. Por
isso, a mensagem do animista depende, em boa parte, da imaginação e de
conjecturas cultas.

b) A Comunicação Oral:

Boa parte dos nossos conhecimentos dos povos pré-literários deve advir das suas
tradições. Estas são transmitidas de uma geração para outra pelos anciãos da
comunidade. Talvez seja por isso que os poderes da memória dos povos animísticos
são tão notáveis. Na ilha de Malaita, no Sul do Pacífico, os sacerdotes gastam horas
41

por dia nos seus templos, recitando os nomes dos ancestrais. Desta maneira,
esperam conservar com vida do poder e a influencia destes.

c) A Evidência dos Escritos Modernos:

Recentemente, os historiadores e os missionários acharam registros antigos de raças


primitivas e escreveram livros a respeito dos seus estudos. Infelizmente, porém, “a
história está no olho de quem a contempla”. Os escritores da história geralmente
escrevem segundo seu próprio ponto de vista e, frequentemente, discordam entre.
Devemos analisá-lo, selecionar aquilo que é bom e rejeitar aquilo que é
questionável. Uma lista de livros recomendáveis é fornecida na Bibliografia.

5 – Desenvolvimento em Tempos Recentes:

a) Mudanças Lentas e Rápidas:

Em seus estudos, você talvez tenha aprendido como os povos ocidentais passaram por
grandes mudanças no decurso dos séculos. Entre os povos pré-literários, no entanto, as
mudanças ocorriam lentamente. Os Maasai da África Oriental têm sido aqueles que
mais resistiram as mudanças. Ainda usam roupas tradicionais e enfeites de contas. As
mulheres raspam a cabeça, mas os jovens deixam os cabelos ficarem compridos e
usando barro entrelaçam-nos em longas tranças que descem pelas costas. Acreditam que
qualquer mudança diminuiria o valor da sua tradição herdada.

b) Mistura Entre Cristãos e Animistas

No período da igreja das missões modernas, ocorreu outro tipo de desenvolvimento


chamado sincretismo. O sincretismo é a mistura de várias crenças. No caso dos
animistas, é a mistura entre a doutrina bíblica, crenças e rituais animistas. Até mesmo
depois de um animista ter aceitado Jesus como seu salvador pessoal, frequentemente
será tentado a fundir sua nova fé a seu antigo comportamento animísticos ou a uma
forma nova, porém antibíblica de Cristianismo. Externamente esses membros das
igrejas talvez tenham semelhança com o Cristianismo, mas interiormente, estão
seguindo velhos ensinamentos animísticos ou até mesmo falsas doutrinas. Em alguns
casos, é difícil discernir a distinção entre o acréscimo do animismo ao Cristianismo e o
desmascaramento do animismo; talvez tenha ficado adormecido debaixo de uma
aceitação parcial do Cristianismo. Depois, passa a revelar-se conforme disse alguém:
“Se você arranhar um cristão verá um animista”.

No continente africado as crenças e costumes tradicionais frequentemente voltam à tona


entre povos tribais recém-convertidos e os membros da igreja que se levantam contra a
fé. O resultado é a deserção da filiação à igreja e a formação de um meio-ambiente
independente de culto. O sincretismo não é apenas a apostasia de algumas poucas
42

pessoas infelizes. Às vezes envolve congregações inteiras. Os cristãos nas áreas onde
ocorre o sincretismo precisam levar a sério a situação

 O Profetismo. Muitos profetas nomeados por si mesmos, que procuram


poder e altas posições, têm atraídos os membros das igrejas.

 Reivindicações Messiânicas. Outros homens alegam que receberam uma


revelação da parte de Deus segundo a qual cada um assevera que é um
messias. Isto lembra-nos como Eva interpretou a tentação de Satanás:
“Sereis como Deus” (Gn 3.5).

 Dons Especiais de Curas. Ainda outros líderes têm reivindicado a


possessão de grandes dons de curas. Em algumas áreas, milhares de
pessoas já abandonaram sua fé cristã bíblica para seguirem tais pessoas.
Frequentemente, formam novas comunidades nas áreas rurais e,
constroem cabanas ou abrigos de ramos para suas reuniões.

 Ataques aos Costumes Tradicionais. Alguns dos primeiros missionários


achavam que a tarefa que Deus lhes dera era destruir os deuses e os
fetiches dos pagãos. Ao condenarem tais fetiches e deuses, no entanto,
frequentemente subvertiam o sistema de segurança do povo ou seu
equilíbrio social. Considere, por exemplo, a prática da poligamia, que era
permitida segundo as leis tradicionais de algumas comunidades. Na
realidade, ter um grande número de esposas frequentemente era um sinal
de riqueza e de prestígio. Os primeiros missionários, no entanto,
condenavam fortemente a poligamia e desfizeram muitas famílias. A
poligamia tinha aceitação cultural, de modo que essas pessoas que a
praticavam nem sequer procuravam justificar as suas práticas baseadas
em textos bíblicos tais como “o pecado não é imputado, não havendo lei”
(Rm 5.13). Sendo que a poligamia estava profundamente arraigada à
cultura, sem violar as normas sociais, os povos tribais não acreditavam
que fosse necessário desfazer famílias e abalar a sociedade, a fim de
acomodar as exigências missionárias. O resultado foi que muitos se
rebelaram contra a missão e se separaram, a fim de estabelecerem um
sistema religioso compatível com suas próprias crenças culturais.

 O Sistema Educacional. Poucas pessoas pensariam que a educação das


tribos primitivas fosse outra coisa senão uma benção. Antes de serem
abertas escolas, poucas pessoas deixavam a igreja; quando, no entanto, a
educação foi posta ao alcance de todos e a alfabetização foi melhorada,
surgiram movimentos de independência. Por causa do melhor nível
educacional, algumas pessoas ambiciosas liam a Bíblia no seu próprio
43

idioma e a distorciam a fim de encaixarem nela suas crenças animísticas


ou outras crenças falsas.

Esses cinco fatores representam apenas algumas poucas razões por que as pessoas
podem desviar-se do Cristianismo ou incorporarem suas velhas crenças animísticas á
sua nova mentalidade cristã. Ao assim fizerem, anulam os efeitos da sua conversão e
enfraquecem o testemunho daqueles que continuam sendo fiéis a Jesus Cristo. Os
missionários e líderes cristãos nas áreas onde ocorre o sincretismo devem estar em
constante estado de prontidão contra ele.

6 – Avaliação em Termos Cristãos:

Nossa avaliação do animismo é do ponto de vista cristão. Por isso, devemos examinar
os elementos tanto negativos quanto positivos do animismo. Quais são os fardos, que
precisam ser aliviados, e que os animistas carregam? Depois, precisamos perceber que
algumas crenças são pontes para a salvação e a vida abundante em Cristo.

a) Pontos Positivos do Animismo.

Alguns pontos positivos daqueles que creem no animismo são:

 Acreditam no ser supremo, embora vagamente;


 Observam a prática do sacrifício para a expiação;
 Respeitam os idosos;
 Tem sensibilidade para com as coisas espirituais;
 Recomendam união na comunidade.

b) Pontos Negativos do Animismo.

Alguns pontos negativos do animismo são que o animista:

 Acredita que Deus está muito distante da necessidade do indivíduo;


 Acredita que os mortos ainda estejam em redor;
 Tem medo de espírito danoso;
 Depende dos fetiches e da magia;
 Tem pouca esperança na eternidade com Deus;
 Depende das obras para a salvação;
 Não tem consciência do pecado, devido à falta da lei;
 Não tem nenhum ajudador presente nas provações da vida.
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10 – ANTROPOCENTRISMO

1 – Introdução:

A ciência na idade moderna, a Revolução Científica do século XVII, quando se deu a


substituição da teoria geocêntrica, aceita durante mais de vinte séculos. A nova teoria
heliocêntrica não retirou apenas a terra do centro do universo, mas também esfacelou
uma construção estética que ordenava os espaços e hierarquizava o “mundo superior dos
céus” e o mundo inferior e corruptível da terra.

Galileu Galilei geometrizou o universo, igualmente todos os espaços. Ao descobrir a


Via Láctea, contrapôs, a um mundo fechado e finito, a ideia da infinidade do céu. Por
isso, faz sentido a frase de Pascal: “o silencio desses espaços infinitos me apavora...”.
A questão, no entanto, não é apenas científica. Se fosse, Galileu não teria sido recolhido
à prisão domiciliar. Há algo mais que se quebra, além da ordem cósmica, e cujas causas
são anteriores a esse período.

O modo de produção escravista determina uma concepção de ciência puramente


contemplativa e desligada das preocupações técnica. Isto se explica pela desvalorização
do trabalho manual, ofícios de escravos. Também na idade média a situação não é muito
diferente, pois as classes antagônicas são constituídas pelos senhores e servos da gleba:
nobres guerreiros e servos laboriosos.

Ora, a situação se altera com o advento de nova classe comerciante emergente, a


burguesia, saída dos burgos formados nos arrabaldes das cidades por antigos servos que,
com seu trabalho, comprovam a liberdade de suas cidades, desobrigando-se da
obediência aos senhores feudais.

Então, o valor do novo homem que surge se encontra não mais na família ou linhagem,
mas no prestígio resultante do seu esforço e capacidade de trabalho. O modo de
produção que começa a vigorar é o capitalista, e com ele se dá a superação dos valores
medievais. À classe ociosa, opõe-se o valor do trabalho; à riqueza baseada em terras,
opõe-se ao valor da moeda, dos metais preciosos, da produção manufatureira em
crescimento, da procura de outras terras e mercados.

O Renascimento Científico deve ser compreendido, portanto como expressão da nova


ordem burguesa. Os inventos e descobertas são inseparáveis da ciência, já que, para o
desenvolvimento da indústria, a burguesia necessita de uma ciência que investigasse as
forças da natureza para, dominando-as, usá-las em seu benefício. A ciência não é mais a
serva da teologia, deixa de ser um saber contemplativo, formal e finalista, para que,
indissoluvelmente ligado à técnica, possa servir à nova classe.
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Reconhecido o terreno onde germinam as novas ideias, podemos compreender melhor o


impacto que elas causaram, já que é a expressão do esfacelamento do mundo feudal.

2 – Características do Pensamento Moderno:

2.3 – Racionalismo (veja Racionalismo – tópico 37).

Desde o Renascimento, a religião suporte do saber vinha sofrendo diversos abalos com
o questionamento da autoridade papal, o advento do protestantismo e a consequente
destruição da unidade religiosa. Ao critério da fé da revelação, o homem moderno opõe
ao poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar. Ao dogmatismo, se
opõe a possibilidade da dúvida. Desenvolvendo a mentalidade crítica, questiona a
autoridade da igreja e o saber Aristotélico. Assume uma atitude polêmica perante a
tradição. Só a razão é capaz de conhecer.

2.4 – Antropocentrismo (veja Antropocentrismo – tópico 06).

Enquanto o pensamento medieval é predominantemente teocêntrico (centrado na figura


de Deus), o homem moderno coloca a si próprio no centro dos interesses e decisões. A
laicização do saber, da moral, da política é estimulada pela capacidade de livre exame.
Da mesma forma que em ciência se aprende a ver com os próprios olhos, até na religião
os adeptos da reforma defendem o acesso direto ao texto bíblico, cada um tendo o
direito de interpretá-lo.

Além disso, o homem moderno descobre sua subjetividade. Enquanto o pensamento


antigo e medieval parte da realidade inquestionada do objeto e da capacidade do homem
de conhecer, surge na idade moderna a preocupação com a “consciência da
consciência”. O problema central é o problema do sujeito que conhece, não mais do
objeto conhecido. Antes se perguntava: “existe alguma coisa?”. “Isto que existe, o que
é?”.

Agora o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos eventualmente
conhecer qualquer coisa. Das questões epistemológicas, isto é, relativos ao
conhecimento, deriva a ênfase que marcará a filosofia daí por diante.

2.5 – Saber Ativo.

Em oposição ao saber contemplativo dos antigos surge uma nova postura diante do
mundo. O conhecimento não parte apenas de noções de princípios, mas da própria
realidade observada e submetida a experimentações. Da mesma forma, o saber deve
retornar ao mundo para transformá-lo. Dá-se a aliança da ciência com a técnica.
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Além da participação de Galileu, Kepler e Newton, outros cientistas se mostraram


fecundos: William Gilberti estuda os fenômenos elétricos e descobre as propriedades do
ímã; Mariotle estuda a elasticidade do gás; Von Guericke inventa a máquina pneumática
e a máquina elétrica; Pascal e Torricelli criam o barômetro e revelam a existência da
pressão atmosférica; Huygens desenvolve a teoria ondulatória da luz. Na matemática
surge a geometria analítica com Fermat e Descartes. O cálculo diferencial com Newton
e Leibniz; o cálculo das probabilidades com Pascal; o cálculo infinitesimal com Leibniz
e Bemoulli.

A anatomia, desde o século XVI, tivera a contribuição de Vesálio, que, desafiando a


proibição religiosa de dessecação de cadáveres, consegue desenvolver um estudo mais
objetivo da anatomia humana. Servet e Harvey explicam a circulação sanguínea, Hooke
descreve a estrutura celular das plantas. Nunca antes na história da humanidade o saber
fora tão fecundo nem desenvolvera semelhante capacidade de transformação da
realidade pela técnica.

11 – APRIORISMO

Nem todos os filósofos aderiram ao Racionalismo ou ao Empirismo. Alguns buscaram


um meio-termo para essas visões tão opostas. É o caso do apriorismo kantiano,
formulado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804).

Kant afirmava que todo conhecimento começa com a experiência, mas que a
experiência sozinha não nos dá o conhecimento. Ou seja, é preciso um trabalho do
sujeito para organizar os dados da experiência. Assim, o filósofo buscou saber como é o
sujeito a priori, isto é, o sujeito antes de qualquer experiência, e concluiu que o ser
humano possui certas faculdades ou estruturas (as quais ele denomina formas da
sensibilidade e do entendimento) que possibilitam a experiência e determinam o
conhecimento.

Para Kant, portanto, a experiência forneceria a matéria do conhecimento (os seres do


mundo), enquanto a razão organizaria essa matéria de acordo com suas formas próprias,
com as estruturas existentes a priori no pensamento – daí o nome apriorismo.
(veja tópico sobre empirismo e iluminismo).
47

12 – ARCADISMO

1 – Introdução:

O permanente desenvolvimento econômico, financeiro e industrial, que caracteriza o


século XVIII, provocou o fortalecimento da burguesia, especialmente na Inglaterra e na
França. As cidades cresciam, o progresso impunha um ritmo agitado à vida urbano, o
conhecimento científico se difundia e a liberdade de opinião e de credo religioso
passava a vigorar nesses novos tempos. Essas transformações sociais relacionadas
diretamente a dois movimentos: Iluminismo e o Enciclopedismo.

Nesse panorama de reformas, nobres e ricos burgueses se queixavam da agitação da


vida urbana e passavam a cultivar um espírito saudosista dos tempos em que se podia
conviver em contato com a natureza e desfrutar dos ares tranquilos e amenos dos
campos. Esse desejo de recuperar espaços distantes da cidade foi expresso
principalmente pela literatura do Arcadismo ou Neoclassicismo. Para cantarem o ideal
de vida simples, de liberdade e possibilidade de experimentar prazeres, os escritores
árcades buscaram inspiração na cultura greco-romana e restauraram diversos
pensamentos de filósofos e poetas da Antiguidade.

A literatura do Arcadismo revelou perfeita sintonia com o ideal clássico de


comedimento, de harmonia e de equilíbrio racional. Cantando, sobretudo os encontros
de amantes e os galanteios amorosos na paz dos campos.

13 – ARIANISMO

1 – Introdução:

O que é o Arianismo?

O minidicionário da Língua Portuguesa Larousse assim descreve: 1 – s.m. doutrina


preconizada por Hitler, que está associada à pureza da raça. 2 – doutrina do bispo Àrio,
de Alexandria, no Egito, que negava a natureza divina de Cristo e foi condenada pela
Igreja Medieval.

a) O Arianismo, originalmente, era um pensamento filosófico que não considerava


Jesus Cristo e Deus como uma só pessoa. Esta ideia surgiu nos primeiros séculos
do Cristianismo, afirmando que só poderia existir um único Deus e Jesus era
apenas o seu filho. Mesmo sendo considerado um ser superior ao o homem,
Jesus não era um deus para os seguidores do Arianismo.
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b) Etimologicamente, a palavra arianismo teria surgido a partir do nome Ário, um


padre cristão de Alexandria que teria criado esta nova doutrina. O pensamento
ariano é considerado uma heresia para a Igreja Católica, sendo o principal
combatente desta doutrina o Santo Atanásio de Alexandria.

2 – Arianismo no Nazismo

O Arianismo ou raça ariana foi uma das bases do pensamento nazista, durante a
Segunda Guerra Mundial. O conceito de raça, pregada por Adolf Hitler, dizia os
alemães descendiam da mais pura linhagem de seres humanos, formados por pessoas
altas, fortes, brancas e inteligentes.

Neste contexto, a palavra “ariana” surgiu a partir do termo Sânscrito Arya, que significa
“nobre”. Atualmente, a ideia de raça ariana é completamente desacreditada e até
considerada um crime.

3 – Arianismo e Monofisismo

O Arianismo, como uma doutrina religiosa, defendia a ideia de que Jesus Cristo não era
um ser divino, mas sim apenas filho de Deus. No entanto, o Monofisismo, um
pensamento cristológico, defende que Jesus tinha apenas uma natureza: a divina. De
acordo com a doutrina pregada por Eutíquio, no século V, a natureza humana sempre é
absorvida pela divina.

14 – ATEÍSMO

1 – Introdução:

Como diz a própria palavra (a-theos=sem Deus), significa a negação de Deus; por isso,
“o ateu é quem afirma que Deus não existe”. A negação de Deus é um fenômeno raro na
história da humanidade. Em todas as épocas encontramos, de vez em quando,
indivíduos que fizeram, mais ou menos abertamente, profissão de ateísmo. Tanto Platão
como Fílon denunciam o ateísmo que atinge, sobretudo a juventude, e o condenam
como “tal gravíssimo”. No entanto, como fenômeno cultural de massa, o ateísmo é
típico da época moderna e precisamente daquele período histórico em que o homem
moderno, através de um longo processo de secularização, depois de progressivamente
ter excluído Deus de muitas atividades e aspectos da vida humana, afinal chegou à
conclusão de que Deus não existe, de que “Deus Morreu”.

A crítica da religião, depois de ter eliminado a revelação sobrenatural (o cristianismo) e


em seguida também a revelação natural (a religião natural), quase que automaticamente
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desembocou na negação mesma da realidade do sagrado subsistente, absoluto,


transcendente. O advento do ateísmo coincide, como vimos com a retração do Idealismo
e a sua transformação em materialismo (histórico e dialético). Autor dessa reviravolta
histórica foi o filósofo alemão P. Feuerbach. Logo, porém, outros filósofos do século
XIX alinharam-se com ele (Marx, Engels, Comte Ardigi, Shopenhaeur, Nietzsche e
outros), e mais tarde, aderiram ao credo ateu de muitos pensadores do século XX
(Freud, Canap, Sartre, Camus, Russell, Ayer, Lenin, Marcuse, Adorno Harkheimer,
Bloch e outros).

Dada a importância e a gravidade do fenômeno, e chegando o momento de fazê-lo,


estaremos pesquisando e abordando, antes de tudo, o conceito de ateísmo; depois,
estudaremos suas figuras mais representativas e finalmente, procuraremos captar as
razões profundas da negação de Deus.

2 – Conceitos de: Ateísmo, Agnosticismo, indiferença religiosa e impiedade.

2.1 – Ateísmo:

O conceito de Ateísmo, dado que se trata de um termo negativo, deve ser definido em
relação a Deus, do qual é direta ou indiretamente a negativa. Para que haja o ateísmo é
necessário, como diz Gilson, que na negação de Deus esteja incluída também a negação
dos seguintes elementos:

1. Deus deve ser um Ser Transcendente, isto é, um ser que existe


independentemente de mim e do mundo;
2. Deve ser também um ser necessário, e que depois de ter sido encontrado não
seja preciso buscar sua causa;
3. Deve ser a causa de tudo o mais.

É, pois, a negação tanto da existência de Deus quanto daqueles atributos (inteligência,


vontade, livre criação do universo, providência) que permitem ao homem assumir, em
relação a Deus uma atitude de respeito, devoção, adoração.

O ateísmo pode assumir várias formas. As principais são três: especulativa, prática e
militante.

a) O Ateísmo Especulativo, também é chamado de teorético ou filosófico. É uma


cosmovisão (um sistema filosófico) que, explícita ou implicitamente, exclui a
realidade de Deus. Por exemplo, pertencem ao tipo teorético explícito os
ateísmos de Nietzsche, Freud, Sartre, Russell, Bloch; são do tipo implícito todos
os sistemas ligados ao materialismo, ao historicismo, ao positivismo, ao
evolucionismo, ao existencialismo e ao vitalismo.

b) O Ateísmo Prático é a atitude daqueles que dizem crer, mas na realidade como
se não cressem, vivem numa plena indiferença religiosa e numa vida
50

completamente materialista, desprovida de qualquer compromisso com a


transcendência.

c) O Ateísmo Militante é o ateísmo ativo, até mesmo agressivo, que declara guerra
intelectual contra Deus e procura construir uma verdadeira anti-religião e uma
aberta anti-teologia. Exemplo típico de ateísmo militante era o praticado pelo
Estado Soviético e pelos Chineses.

Os objetivos do ateísmo militante são assim expressos num dicionário filosófico


publicado na Ex-URSS: “O ateísmo procura esclarecer as fontes e as causas do
nascimento e da existência das religiões, critica as doutrinas religiosas do ponto de vista
de uma visão científica do mundo, explica o papel da religião na sociedade e estuda as
formas de superação dos preconceitos religiosos [...]”.

“O ateísmo Marxista é militante. Ele critica a religião sob todos os pontos de vista em
todas as épocas históricas, indicando as vias e os meios para derrotá-la definitivamente.
O ateísmo marxista demonstrou que derrota total da religião só se tornou possível
depois da destruição das raízes sociais desta, no curso da construção comunista”.

O ateísmo teorético, além das duas formas indicadas – explícita e implícita – pode
distinguir outras três. Assim, há um ateísmo teorético negativo (limita-se a negar a
realidade de Deus) e um ateísmo teorético positivo (reivindica para o homem os poderes
e os atributos que alienara de si ao criar a figura de Deus). Há também outra importante
subdivisão entre o ateísmo prometêico (que pretende fazer do homem o ser supremo) e
ateísmo nülista (que mergulha o homem no nada: depois de ter destruído Deus, destrói
também o homem).

O ateísmo positivo “prometêico” pode introduzir outras subdivisões. As mais


importantes são as destacadas por H.Künger: “ateísmo humanista” (motivado pela
defesa da grandeza da pessoa individual); “ateísmo político” (que visa a defesa dos
direitos da sociedade, especificamente das classes mais fracas). “Ateísmo científico”
(pela defesa dos direitos da razão e da ciência).

Atitudes que apresentam muitas afinidades e, frequentemente, terminou por coincidir


com o ateísmo são: o agnosticismo e a indiferença religiosa.

2.2 – A Indiferença Religiosa:

É a atitude de quem não se decide por nenhuma forma religiosa ou atribui a todas as
religiões o mesmo valor. No primeiro caso, tem-se a indiferença “negativa”; no
segundo, a indiferença “positiva”.

Segundo J. Goblot, “a indiferença em matéria religiosa ou filosófica é o estado de uma


mente que não se pronuncia que não afirma e não nega, seja por negligência, seja por
ceticismo”.
51

A indiferença religiosa pode ser “prática” (quando não se pratica nenhuma religião) e
“teórica”; esta, por sua vez, se subdivide em relativa e absoluta.

A indiferença religiosa limita-se a duvidar do valor de uma determinada religião, ao


passo que a indiferença absoluta considera como falsas e inúteis ou más todas as
religiões (embora, não excluindo a existência de Deus, pois então teríamos o ateísmo).
O indiferentismo prático é, geral, banhado pela indiferença teorética absoluta e por isso
não aceita deveres religiosas de nenhum tipo e considera a religião pelo menos
irrelevante, se não nociva.

A indiferença religiosa sempre foi julgada negativamente, sendo de fato uma atitude que
indica profunda pobreza espiritual, um deserto interior, falta de compromisso moral,
coerência de vigor especulativa. Pascal considerava monstruosa a indiferença em
relação do destino do homem. “é algo monstruoso ver, no mesmo coração e ao mesmo
tempo, a sensibilidade pelas coisas maiores”. As únicas duas atitudes que Pascal
considerava razoáveis são a de servir a Deus de todo o coração, depois de tê-lo
conhecido, ou então procurá-lo com todas as forças, se ainda não é conhecido. Não
menos categóricas e severas são as palavras de Lamennais, no célebre “Essais Sur
l’indifference em matière de Religion” (Ensaio sobre a diferença em matéria de
religião): “Os indiferentes reais – escreve Lamennais – não negam nem afirmam nada; a
deles não é uma dúvida, porque dúvida é suspensão entre duas possibilidades contrárias
e supõe um exame prévio; a indiferença é uma ignorância sistemática, um sono
voluntário da alma que a priva de vigor para resistir aos próprios pensamentos e para
lutar contra lembranças inoportunas, um embrutecimento universal das faculdades
morais, uma privação absoluta de ideias sobre aquilo que mais importa ao homem
conhecer”.

Substancialmente, a indiferença religiosa coincide com o agnosticismo e inclusive com


o ateísmo prático. É exatamente a essa situação de indiferentismo – que parece próxima
do ateísmo – que se refere Lotz, quando escreve: “até agora consideramos o ateísmo,
que nega o Deus e, apesar disso, está mais distante de Deus do que aquele que o nega. A
negação desaparece, porque esses ateus não se preocupam mais com Deus, não mais se
interessam por ele. Parecem homens que não se sentem mais tocados por Deus, neles
não ecoam mais o chamado silencioso de Deus. Parecem que Deus não mais se
manifesta a eles; deixaram de sofrer com a perda de Deus. Nietsche sofre terrivelmente
com a sua negação de Deus, não poucos contemporâneos, porém, vivem sem Deus e
não sente que lhes faltam algo de importância capital, são quase cegos em relação a
Deus, estão como que privados dos órgãos que os levaria a encontrá-lo. É um fato muito
grave esse ateísmo consistente na insensibilidade para Deus”.

Dentro do horizonte semântico do ateísmo inclui-se também a impiedade. O ímpio, tal


como o ateu, opõe-se a Deus, mas não simplesmente negando-o (como faz o ateu), e sim
como quem o contesta, blasfema contra ele, odeia-o, condena-o, tem aversão por ele.
52

À adoração, à devoção, ao obséquio, o ímpio contrapõe a aversão, a blasfêmia, o


desprezo. Sua profissão de fé é a do “teólogo que despreza Deus”. Os blasfemadores são
muitos. Poucos, porém, fazem publicamente a apologia da blasfêmia.

Entre essas raras exceções encontraram Manlis Sgalambro, com seu trattado Dell’
empietà. Nesse escrito, que é simplesmente uma coleção de declarações desarticuladas,
ele dá vazão ao seu “ódio para com Deus”. Ele ataca Deus com uma virulência incrível,
raramente encontrável na literatura ateia, nem mesmo no ateísmo militante marxista.

Sequer Zaratustra, de Nietzsche, pronuncia discursos tão insensatos como os produzidos


por Sgalambro. Seu ensaio é – segundo as próprias palavras do autor – “um ácido
sentimento contra Deus ligado ao mais rigoroso recursos técnico-formais. Lá onde foi
cancelado o sentimento predominante da superioridade e entronizado o sentimento mais
baixo, do vil, do horrível, aí se introduziu a verdadeira impiedade. Diferentemente do
ateísmo, que é mera opinião, a impiedade é uma forma. Como uma estrutura a priori,
latente, que num dado momento desperta, ela dispõe da teologia, que sem religião é
vazia, mas sem a impiedade é vazia e cega”.

A impiedade, qualquer homem de bom senso responde apenas como se responde à


blasfêmia vulgar e imunda: tampando os ouvidos; é o único jeito de não ser atingido por
uma imbecilidade tão grande. Pode-se, também, repetir em alta voz com o autor do
apocalipse:

“grandes e admiráveis são tuas obras, Senhor Deus todo poderoso, Justos e
verdadeiros são teus caminhos, Rei das nações, Quem não temerá Senhor, E
não glorificará teu nome? Porque só tu és Santo, E todas as nações virão E se
prostrarão diante de ti, Pois teus juízos se tornarão manifestos”.

(Apoc. 15.3 – 4).

Uma resenha mais completa das atitudes que se enquadram na órbita semântica do
ateísmo incluirá também os pseudo-ateus. Estes – segundo a definição dada por J.
Maritain – são aqueles “que creem e que não creem em Deus, mas que na realidade
inconscientemente creem nele, pois o Deus cuja existência nega não é Deus e sim
alguma outra coisa”.

Esses “pseudos-ateus” nega a realidade transcendente porque a veem proposta de uma


maneira que considera inadmissível. “Talvez não contestassem a existência de Deus se a
noção que dele têm fosse menos vulnerável. Se, por um lado, eles são ateus, pois negam
a existência e valor a Deus, por outro lado, não podem ser considerados ateus
autênticos, pois substancialmente rejeitam uma noção que não é digna da divindade”. A
rigor, não se pode acusar de ateísmo quem admite a divindade, mas tem dela uma
concepção não precisa e até atitude existencial de rejeição, na ordem do pensamento e
da práxis, do absoluto-transcendente, concebido de forma pessoal e entendido como
valor supremo, fundamento de todos os valores.
53

3 – As Razões Do Ateísmo

Por que o homem se torna ateu se, como reconhecem os próprios ateus (Feuerbach,
Sartre, Bloch), ele por si é “um animal naturalmente religioso”? Quais são as razões, os
motivos, que o induzem a negar a realidade daquele que, mediante inumeráveis
hierofanias naturais e históricas, dá sinais claros e inconfundíveis da própria existência?
Por que há pessoas que não conseguem ver aquele que foi visto e reconhecido por
muitíssimos outros, desde que o mundo é mundo? Por que não ouvem a voz daquele
que não apenas os primitivos e os analfabetos, mas também os homens mais cultos e
civilizados ouviram claramente, alegremente, confiantemente? E, em segundo lugar, por
que a negação de Deus assumiu proporções tão impotentes na época moderna, que é a
época da “morte de Deus”?

O Concilio Vaticano II, na constituição pastoral Gaudium et Spes, apresenta um quadro


muito amplo e articulado das motivações que podem levar ao ateísmo e a indiferença
religiosa. Em alguns casos, a rejeição de Deus deve-se a preconceitos metodológicos ou
linguísticos:

a) “Enquanto Deus é expressamente negado por uns, outros pensam que o homem
não pode afirmar absolutamente nada sobre ele”.

b) “Alguns, porém, submetem a exame o problema de Deus por tal método, que
parece carecer de sentido”.

c) “Muitos, ultrapassando indevidamente os limites das ciências positivas, ou


sustentam que só por este processo cientifico se explicam todas as coisas, ou, ao
contrário, já não admitem de modo algum nenhuma verdade absoluta”.

d) “Alguns exaltam o homem a tal ponto que a fé em Deus se torna como que
enervada e dão a impressão de estar mais preocupados com a afirmação do
homem que com a negação de Deus”.

e) “Em outros casos, a rejeição de Deus é causada pelas imagens aberrantes


(antropomórficas, mitológicas, supersticiosas) que os homens fazem de Deus,
imagens que provocam um justo protesto”.

f) “Em outros casos”, a negação de Deus é motivada pela presença de tremendos


sofrimentos e injustiças na história da humanidade, que fazem pensar que Deus
não é mesmo Senhor da história; assim, o ateísmo nasce também como “um
protesto violento contra o mal no mundo”.
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g) “Em outros casos, enfim, o ateísmo é causado pelo mau exemplo dos crentes;
então é uma reação crítica contra as religiões e, em algumas regiões, sobretudo
contra a religião cristã. Por esta razão, nesta gênese do ateísmo, grande parte
pode ter os crentes, enquanto, negligenciando a educação da fé, ou por uma
exposição falaz da doutrina, ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se
poderia dizer deles que mais escondem que manifestam a face genuína da Deus
e da religião”.

Segundo Santo Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, reduz a dois os argumentos


que podem induzir a razão a não reconhecer a realidade de Deus e fazer profissão de
ateísmo:

1. O mal: “Se Deus existisse, não deveria haver mal algum”, pois Deus é
infinitamente bom;

2. A lei científica da simplicidade, que determina que se dê preferência às teorias


que postulam o menor número de princípios.

“ora, para explicar aquilo que ocorre neste mundo, bastam às leis da natureza e a
liberdade humana; por isso, não é preciso postular a existência de Deus”. Santo Tomás
viu muito bem: a razão ética do mal e a razão teorética da ciência são, indubitavelmente,
os argumentos que em todas as épocas, tiveram maior peso na negação de Deus.

O argumento “científico” (que está na base de todas as formas de ateísmo científico) é


elemento por todos os estudiosos do ateísmo entre as causas principais da negação de
Deus. De Lubac, que foi um dos mais lúcidos pesquisadores do fenômeno ateu, assim o
resume:

“De três modos, nos dizem, a ciência teria definitivamente enxotado Deus. Em
primeiro lugar, ela constituiu um novo tipo de análise do real que, com seu rigor
único, só teria valor como conhecimento: a objetividade do saber exclui todos os
antigos modos abstratos de raciocínio, todos os procedimentos análogos, todas as
extrapolações ditas metafísicas, que introduzem a mente num mundo irreal,
imaginário, quimérico, um mundo que ela (a mente) chamava de misterioso e
transcendente e no qual se perdia. Além disso, quanto mais a ciência progride em
suas investigações rigorosamente indutivas, seja em relação à história dos homens,
seja em relação aos fenômenos da natureza, tanto mais elimina as ilusões geradas e
alimentadas pelas crenças relativas à divindade: dado que o homem atribui
naturalmente a causas ocultas, a forças naturais e, finalmente, a partir de um
processo de simplificação, de condensação e de abstração, ou, como dizei Engels,
de “destilação” (processo aparentemente racional, mas sem reflexão crítica),
passou a atribuir à causalidade de um único Deus todos os efeitos cujas verdades
causas ele ignorava. Enfim, nascido da ciência, o prodigioso desenvolvimento da
técnica aumenta todo dia o domínio do homem sobre a natureza e sobre si mesmo;
por isso, o homem toma consciência de um poder verdadeiramente criador; ele se
sente cada vez mais ‘o demiurgo da própria história’ e, por consequência, não sente
55

mais a necessidade de imaginar um Deus que seja o remédio universal das suas
fraquezas, como o fora, antes, das suas ignorâncias”.

O argumento “moral” – baseado na incompatibilidade do angustiante fenômeno do mal


com o conceito de um Deus sumamente bom, poderoso e perfeito – são invocados com
frequência e obstinação pelos ateus. Recorrem a ele tanto as pessoas comuns como os
filósofos profissionais e, mais ainda, os literatos. “o absurdo do mundo e do homem,
inscrito no mundo – escreve S. Palumbieri _ torna absurda, por sua vez, a afirmação de
um ser pessoal onipotente e que ama a todos. Malraux, Sartre, Camus – tão diferentes
entre si em relação à impostação do problema e ao estilo – concordam em rejeitar um
sistema no qual teriam sido colocados por uma vontade amorosa, pois veem
incompatibilidade entre a estrutura do sistema e o absoluto moral que o homem porta
em si. A consciência moral, sensível ao absoluto de bem e aprisiona numa condição que
a contradiz, percebe, na solidão da própria subjetividade, a impossibilidade de um Ente
Perfeito. Este, de fato, hipoteticamente sem mancha, assumiria com a sua existência a
responsabilidade pelo mal e a sua justificação. Não seria mais, então, o Bem absoluto.
Ter-se-ia manchado também com a injúria radical. Não seria mais o santo, o Imaculado.
Deixaria de ser Deus”.

Para A. Camus, um dos escritores que mais explorou o argumento do mal na


contestação da existência de Deus, uma criação em que morrem crianças é um supremo
libelo de acusação contra Deus. “Como a ordem do mundo é regulada pela morte, talvez
seja melhor para Deus que não se creia nele e que se lute com todas as forças contra a
morte, sem se elevar os olhos para o céu, onde ele silencia”. Contra o terrível mal da
peste, que ceifava impiedosamente tantas criaturas inocentes, “era preciso lutar de todas
as maneiras possíveis, e não colocar-se de joelhos. Toda a questão era impedir, ao
máximo possível, que aumentasse o número de mortos, dos que iriam para a separação
definitiva. E, para tanto, só havia um meio: a luta contra a peste. Essa verdade não era
digna de admiração, apenas lógica”.

Existem, porém, muitos outros argumentos ao alcance dos ateus para justificar a
negação de Deus; recordemos alguns deles:

 Em primeiro lugar, o argumento da incompatibilidade entre liberdade humana


e existência de Deus. O dilema “ou Deus existe, e então o homem não pode ser
livre; ou o homem é livre, e então Deus não existe” aparece com muita
frequência na literatura ateia, a partir de Nietzsche, que declara: “Devia morrer
esse curioso. [...] Eu queria vingar-me dessa testemunha, ou então morrer”.
Bakunin também recorre a esse argumento para negar Deus: “Se Deus é
necessariamente o senhor eterno, supremo e absoluto, e se esse senhor existe,
o homem só pode ser escravo”.

 Outro argumento invocado muitas vezes para apoiar o ateísmo é o “mau


exemplo” dos crentes. Assim, são citadas as cruzadas, a inquisição, o processo
contra Galileu, as fogueiras para as bruxas e hereges, o holocausto dos judeus
56

etc. Trata-se de um argumento ad hominem, ao qual é fácil replicar com outros


argumentos ad hominem (por exemplo, todas as obras humanitárias criadas
pela Igreja e pelos seus santos etc.). Todavia, é um argumento que goza de
prestígio, sobretudo, entre os que assumem a práxis, como critério supremo de
verdade. E, indubitavelmente, o péssimo testemunho que certos crentes – e, às
vezes, a própria Igreja e suas instituições – dão de Deus pode se tornar um
convite a não crença.

15 – ATOMISMO

1 – Introdução:

a) Atomicidade – número de átomos contidos em uma molécula de determinado


elemento.

b) Atômico – relativo ou pertencente ao átomo; que procede do átomo; bomba


atômica; bomba cuja força explosiva reside na deflagração nuclear dos átomos
de um elemento químico simples nela contido.

c) Atomismo= sistema filosófico que pretende explicar a constituição do universo


pela combinação dos átomos.

d) Atomista= sectário do atomismo.

e) Átomo – menor partícula de matéria que pode entrar em combinação;


corpúsculo pequeníssimo.

A Natureza Do Universo

Átomos e Partículas subatômicas: Dentre as forças fundamentais da natureza, a


gravidade é a força dominante a nível cósmico, pois rege as órbitas dos planetas e dos
outros corpos celestiais. Entretanto, quando se estuda o microcosmo do universo
atômico, as forças que impedem sobre os átomos e partículas subatômicas são
eletromagnéticas, a força forte (que mantém o núcleo do átomo unido) é a fraca
(relacionada com o decaimento radioativo).

1 – Modelo de Rutherford para a estrutura atômica. Elétrons negativamente carregados


circulam em torno de núcleos de carga positiva.

2 – Modelo de Rutherford-Bohr para a estrutura atômica. O número de elétrons girando


em torno do núcleo é igual ao número de prótons positivamente carregados contidos no
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núcleo. O numero de elétrons em cada camada também é limitado não mais de 2 na


primeira, 8 na segunda, 18 na terceira, e assim por diante.

3 – Níveis de energia do átomo. Cada camada atômica ou órbita está associada a um


determinado nível de energia. Ao se moverem entre as camadas, os elétrons ganham ou
perdem energia. No segundo caso, a energia perdida é emitida como fóton (partícula de
luz ou outra radiação eletromagnética).

A palavra átomo designa partículas de matéria que, de tão pequenas, são indivisíveis.
Em sua teoria atômica de 1803, o químico britânico John Dalton (1766-1844) definiu-o
como a menor partícula capaz de conservar as propriedades químicas de um dado
elemento. Vários fenômenos puderam ser explicados com o auxílio desta hipótese,
ainda válida.

2 - Estrutura do Átomo

Até a descoberta do elétron em 1897, pelo físico britânico J.J. Thompson (1856-1940),
não havia descrição física do átomo. O átomo nuclear foi proposto pelo físico inglês
Ernest Ruthford (1871-1937) em 1911. Seu modelo consiste de um núcleo central
pequeno, porém denso, de carga positiva, envolto por elétrons carregados
negativamente. Ele sugeriu que os elétrons orbitavam ao redor do núcleo e que a força
de sua velocidade angular em suas órbitas seria suficiente para compensar a força de
atração exercida pelo núcleo de carga oposta. O núcleo contém mais de 99,9% da massa
do átomo, mas seu diâmetro é de dez elevados a menos quinze m (conforme ao tamanho
do átomo de cerca de dez elevados a menos dez m.).

Uma objeção ao modelo de Rutherford foi formulada pelo físico dinamarquês Neels
Bohr (1885-1962). Bohr observou que, ao se mover em órbita circular, o elétron sofre
aceleração contínua e que uma carga acelerada deveria irradiar energia sob forma de
ondas eletromagnéticas. Se o elétron emitisse energia continuamente, poderia energia e
colidiria com o núcleo; assim, não poderia existir órbita permanente.

Bohr propôs que os elétrons só se moviam ao redor do núcleo em determinadas órbitas


ou camadas permitidas, cada qual com o seu próprio nível de energia e, que enquanto
permanecessem nestas órbitas não emitiriam radiação. Radiação como a luz só seria
emitida se um elétron saltasse de um nível permitido para outro de energia inferior.
Assim, os elétrons não perderiam energia continuamente, mas apenas em fótons ou
quantas (quantidade discretas) equivalentes à diferença de energia entre as órbitas
permitidas. Aprofundando-se na teoria da dualidade da onda-partícula, o físico austríaco
Erwim Schrödinger (1887-1961) aperfeiçoou o modelo de Bohr, sugerindo que as
órbitas permitidas teriam uma circunferência que seriam um múltiplo do comprimento
de onda do elétron.
58

3 – Estrutura Do Núcleo

Com exceção do átomo de hidrogênio, que contém apenas um próton, os núcleos dos
átomos encerram uma mistura de prótons e nêutrons – os núcleos. O próton tem carga
positiva, de valor igual à carga negativa do elétron; o nêutron, de tamanho similar ao
próton e eletricamente neutro. Os dois tem massa equivalente a cerca de 1836 vezes a
do elétron, cuja massa em repouso é de 9,11x10 elevado a potência de (- 31) Kg. Os
prótons e nêutrons do núcleo atômico são mantidos unidos por meio da força nuclear
forte, que supera a força eletromagnética de repulsão (bem mais fraca) exercida pelos
prótons positivamente carregados.

É possível que átomos do mesmo elemento com tenham números iguais de prótons, mas
números diferentes de nêutrons em seus núcleos – chamamos de isótopos. Isótopo de
um mesmo elemento contém a mesma carga nuclear e suas propriedades químicas são
idênticas, mas com propriedades físicas diferentes. Um isótopo pode ser representado de
várias maneiras: Urânio-235; U-235 ou U.

4 – Radioatividade

A radiação – tanto sob forma de emissão espontânea de partículas quanto como onda
eletromagnética ocorre a partir da desintegração de certas substâncias. Trata-se de
radioatividade, que pode ser de três tipos: decaimento alfa, beta e gama.

No Decaimento Alfa (α), são produzidos núcleos de hélio com dois nêutrons e dois
prótons – partículas alfa formados pelo decaimento espontâneo de seus núcleos-
precursores. Assim, o Urânio-238 decai para Tório-234 com emissão de uma partícula
alfa (α).

No decaimento Beta (β), as partículas emitidas são ou elétrons ou pósitrons (idênticos


ao elétron, mas de carga positiva). O núcleo precursor conserva o mesmo número de
núcleos, mas sua carga varia para mais ou menos (1) um. Nestes mesmos processos,
outra espécie de partícula - um neutrino não possui carga e sua massa, descoberta no
início de 1995, é quase nula.

No decaimento gama (γ), o processo radioativo produz fótons de alta energia quando o
núcleo resultante salta de um estado excitado de energia para outro de energia baixa.

A velocidade com que a desintegração radioativa ocorre depende apenas do número de


núcleos radioativos presentes. A meia-vida, ou o tempo que metade de um dado número
de núcleos radioativos leva para se desintegrar-se, é constante para cada elemento. O
isótopo de Carbono-14 possui meia-vida, de 5.730 anos e a medida de seu decaimento é
usado no cálculo de idade de materiais orgânicos. O decaimento pode resultar na
produção de uma série de novos elementos que, por sua vez, podem decair até alcançar
um estado de estabilidade.
59

5 – Partículas Nucleares

Mais de 200 partículas-elementos são conhecidas, sendo divididas em dois tipos:


Hádrons e Léptons. Os Hádrons são partículas pesadas afetadas pela força forte e os
Léptons são partículas leves, como os elétrons e neutrinos, que não estão sujeitos à
força forte. Outra distinção é feita entre férmions, que têm existência permanente, e
bósons, que podem ser produzidos e destruídos livremente. Os Léptons são férmions.

Acredita-se que todas as partículas possuam uma anti-partícula e ela associa – de


mesma massa, mas oposta em outras características, como a carga. O pósitron, portanto,
de carga positiva, é a anti-partícula do elétron de carga negativa. Algumas partículas,
como o fóton, podem ser suas próprias anti-partículas.

Presume-se que os Léptons sejam partículas fundamentais e que os Hádrons sejam


constituídos de quarks, que podem ter carga elétrica fracionária. É provável que não
existam quarks. Quando três quarks se combinam, o Hádron resultante é o bárion; a
combinação de um quark com um antiquark chama-se méson. Um méson é um bóson-
partícula de vida curta que salta entre prótons e nêutrons, mantendo-os unidos. Pode-se
formar um padrão de Hádrons (via octupla) através da combinação de diversos quarks,
tendo sido possível preverem a existência de partículas posteriormente descobertas.
Acredita-se que existam seis tipos de quark: “UP”, “DOWM”, “CHAMED”,
“STRANGE”, “TOP” E “BOTLOM”.

Os Quarks transportam, além da carga elétrica, outro tipo de carga chamada “cor”. A
força associada à carga de cor liga os quarks entre si e é tida como a fonte da força forte
que matem os Hádrons unidos. Assim, a força de cor é a mais fundamental. A força
fraca está associada ao decaimento radioativo beta de alguns núcleos. A teoria da força
eletrofraca demonstrou que as forças eletromagnéticas e as fracas estão vinculadas entre
si e previu a existência das partículas W e Z; subsequentemente descobertas.

6 – Fissão e Fusão

A energia nuclear origina-se a partir de dois processos – fissão e fusão, ambas, formas
de reação nuclear. No processo de fissão, um núcleo grande, como o Urânio – 235
(235U) divide-se formando dois núcleos menores que possuem energias de ligação
maiores que a do Urânio original. Assim, a energia é cedida no processo. A fissão é
usada em reatores nucleares e em armas atômicas. Além do Urânio 235, existem outros
isótopos, como o plutônio-239, que dão origem à fissão.

No processo de fusão, dois núcleos leves se fundem, dando origem a duas partículas,
uma maior e outra menor que os núcleos originais. Geralmente, um deles possui energia
de ligação suficiente alta para liberar grande quantidade de energia. A fusão do
hidrogênio para formar hélio é a fonte de energia de estrelas como o sol. Embora o
processo de fusão solar defira em detalhes do processo simplificado aqui descrito. A
60

fusão nuclear é à base da bomba de hidrogênio e as pesquisas prosseguem no sentido de


tornar possível o uso da fusão para gerar energia.

Fissão Nuclear: um nêutron bombardeia o núcleo de Urânio-235, fazendo com que se


divida e libere energia quando a força nuclear forte é rompido. Formando-se então dois
núcleos mais leves, que também são radioativos. Os nêutrons liberados podem
bombardear e dividir outros núcleos – outras fissões podem ocorrer. Estabelece-se
assim uma reação em cadeia, caso a massa do Urânio-235 esteja acima de certo nível –
a massa crítica.

Fusão Nuclear: dois núcleos pequenos se chocam e se combinam, rompendo a força


nuclear fraca, liberando energia. A reação acima envolve núcleos de deutério e trítico
(isótopos do hidrogênio) que se combinam produzindo hélio (p um subproduto) e um
neutro, liberando energia. Tal reação libera muito mais energia do que a fissão para uma
determinada massa de matéria. Contudo, os nêutrons liberados devem ser contidos ou
controlados.

7 – Aceleradores Nucleares

Aceleradores são máquinas grandes que aceleram feixes de partículas a velocidades


altíssimas, possibilitando a pesquisa da física de partículas. Para acelerar as partículas,
tanto em linha reta (acelerador linear) quanto em círculo (cíclotron, sincroton ou
sincrociclotron), são empregados campos elétricos e poderosos campos magnéticos são
usados para guiar os feixes. As partículas chegam a adquirir níveis de energia
equivalentes a várias centenas de giga elétron-volts. Um elétron-volt (eV) corresponde
ao aumento em energia que um elétron sofre quando seu potencial aumenta em 1 volt: 1
eV = 1,6x10 (elevado a menos (-19), joules (J)). Os aceleradores nucleares têm
fornecido provas experimentais da existência de numerosas partículas subatômicas
previstas em teoria.

16 – AUTORITARISMO

1 – Introdução:

Autoritarismo = qualidade de autoritário; sistema autoritário de governo; despotismo.

Autoritário = que se impõe pela autoridade que tem ou julga ter; impositivo; arrogante;
arbitrário; despótico.

Déspota = aquele que exerce poder absoluto e arbitrário; o que denomina tiranicamente;
tirano; opressor.
61

Despotismo = tirania, poder absoluto e arbitrário; sistema de governo que se


fundamenta no poder absoluto.

2 – Governos e Povos

Os governos, originalmente, tinham por finalidade proteger o povo contra agressores


externos e fornecer um conjunto de leis que organizasse o dia-a-dia das pessoas. A
partir do século XIX, as atribuições dos governos vêm aumentando, passando a
abranger as áreas de educação, saúde e previdência (o Estado voltado para o bem-estar
comum). Há quem ache que os governos atuais assumem responsabilidades em
demasia.

A antiga cidade-estado de Atenas é muitas vezes tida como modelo básico de


democracia. Apesar de mais avançadas do que tudo que precedeu, segundo os padrões
atuais, a democracia ateniense era bastante limitada em virtude da condição de
inferioridade de suas mulheres, do regime de escravidão em que se sustentava e da
divisão desigual de poder entre os cidadãos do sexo masculino. O sistema republicano
romano presenciou um maior controle por parte do povo sobre seus governantes,
baseando-se na ideia de que o poder pertence mais ao povo como um todo do que a um
pequeno grupo de pessoas.

No período medieval, o governo dividia-se entre Estado e Igreja, cada qual


reivindicando seus direitos próprios. A visão medieval predominante era a de que a
autoridade para governar provinha de Deus – o chamado “direito divino dos reis”. O
teórico político italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) rejeitou esta concepção em
favor de uma visão secular do Estado, defendendo uma forma popular de governo que
considerava ter existido na República Romana.

3 – O Contrato Social

O surgimento da ideia de contrato social no século XVI reintroduziu a noção de governo


fundamentando no consentimento do povo. Em Leviatã (1651), o filósofo inglês
Thomas Hobbes (1588-1679) descreveu o caos político em que, segundo ele, o povo
vivia quando não dispunha de governo adequado. Sua doutrina afirmava que os homens
só poderiam viver juntos em paz caso se dispusessem a obedecer a um soberano
absoluto. A este acordo Hobbes deu o nome de “contrato social”. A preocupação do
filósofo com o que acontecia durante uma situação de desgoverno, que ele havia
presenciado durante a Guerra Civil Inglesa, levou-o a sugerir que uma quantidade
considerável de poder deveria ser colocada nas mãos do soberano. Em seus dois tratados
de governo (1690), o filósofo Inglês John Locke (1632-1704) também propôs a idéia de
um contrato social. Locke, contudo, opunha-se ao absolutismo e via no livre
consentimento dos governos a base do governo legítimo. A obediência pressupõe que os
governos visem o bem-estar dos governados, que têm o direito de se rebelar caso sejam
62

oprimidos. Esta ideia é bastante aceitável nos dias de hoje, mas para a época soava
radical – tendo sida adotada, por exemplo, pelos revolucionários americanos de 1776.

O Filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) abordou a questão que havia


preocupado todos os teóricos do contrato social após o declínio da ideia de autoridade
investido por Deus. Se as leis eram feitas por alguns cidadãos precisam viver dentro de
um sistema de leis, mas os cidadãos só podem subordinar-se a elas se participarem de
sua elaboração. Em contrato social (1762) Rousseau definiu a democracia ideal como
tendo por base a soberania popular. O exercício do poder; argumentava ele, deve estar
de acordo com a “vontade geral” e ter o consentimento de todas as pessoas.

4 – Tipos de Governo e Suas Obrigações

Ao desenvolver a ideia de separação dos poderes, o filósofo iluminista francês


Montesquieu (1689-1755) mostrou o caminho para a visão moderna de governo
dividido em três poderes. O poder legislativo, o executivo e o judiciário.

O Poder Legislativo tem sob sua responsabilidade a elaboração e o aprimoramento das


leis, o poder executivo deve colocar as leis em prática e o poder judiciário é responsável
pela administração da justiça. Esta separação dos poderes facilita o controle por parte do
povo e cada um deles fiscaliza o outro, num sistema de “freios e contrapesos”. Por
exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta instancia do judiciário no
Brasil, pode julgar se o governo (Executivo) infringiu a lei. As democracias liberais ou
ocidentais assumem diversas formas, mas têm em comuns eleições regulares dos
governos por meio da livre escolha entre partidos concorrentes. Países como Brasil e
Estados Unidos possuem sistemas presidencialistas, em que o poder executivo é
atribuído ao presidente eleito. O poder do presidente é geralmente limitado, até certo
ponto, pelo congresso, responsável pelo funcionamento do governo dia-a-dia. No
sistema parlamentarista, o primeiro ministro (geralmente o líder do partido com a
maioria do congresso) chefia o poder executivo. Na monarquia constitucionalista, caso
da Grã-Bretanha, o primeiro ministro é subordinado a um soberano que, no entanto,
possui apenas poderes protocolares.

Os Estados Comunistas, como a União Soviética até 1990-91, eram governados por um
único partido, o Comunista. Por volta de 1989-91, o poder do partido comunista nos
países da Europa Oriental se desintegrou e eles passaram a adotar sistemas mais
democráticos. Muitos países, principalmente no terceiro mundo, possuem governos
militares. A partir dos anos 70, todavia, tem havido uma tendência de substituição de
regimes militares por democracias, inicialmente no sul da Europa, depois na América
Latina e, mais recentemente, na África.

Na Alemanha, um sistema federal divide o poder entre um governo central e vários


governos regionais. Um sistema unitário concentra a autoridade do Executivo nas mãos
do governo central.
63

5 – Participação Política

A democracia moderna desenvolveu-se como um sistema em que o povo pode participar


das tomadas de decisão do governo. A forma mais elementar de participação política é a
votação para eleger representantes do povo, direto ou indiretamente. No sistema de
eleição indireta adotada pelos Estados Unidos, o povo escolhe um corpo de eleitores –
um colegiado eleitoral – que elege o presidente. Alguns países, como a Grã-Bretanha,
possuem um sistema eleitoral distrital majoritário, em que o candidato com maior
número de votos de um distrito eleitoral (ou seja, de uma determinada área) é eleito.
Assim como o Brasil, a França usa um sistema de votação em dois turnos, ao passo que
a maioria dos outros países europeus adota sistema de representação proporcional que
procuram garantir que os partidos sejam representados de acordo com o número de
votos que receberam do eleitorado.

Alguns países, como a Suíça, utilizam plebiscitos para permitir que o eleitorado opine
diretamente sobre questões de seu interesse.

6 – A Administração

O Sociólogo alemão Max Weber considerava a burocracia uma forma de administração


mais eficiente que o sistema anterior, exercido por membros de uma corte monárquica.
No entanto, a eficiência da burocracia e a estabilidade dos funcionários públicos
levantam sérias questões acerca de suas responsabilidades para com o seu povo.

7 – O Autoritarismo

O país latino-americano tem longa tradição de governos ditatoriais. As obras literárias


de Gabriel Garcia Márquez, Manoel Scorza, J.J. Verga registra os sucessivos golpes de
Estado que colocaram esses países à mercê dos caudilhos.

Os regimes chamados autoritários não devem ser confundidos com os totalitários,


conforme foram descritos no capítulo sobre Totalitarismo.

Ambos ceceiam as liberdades individuais em nome da seguram nacional, usam formas


de propaganda política, exercem a censura e têm um aparelho repressivo.

Nos regimes autoritários, contudo, não há uma ideologia de base que sirva “para a
construção de nova sociedade” e não há mobilização popular que lhes dê suporte. Ao
contrário, em vez da doutrinação política e do incentivo ao engajamento ativista (ainda
que dirigido), há a despolitização que leva à apatia política. O clima de repressão
violenta gera o medo, que desestimula a ação política atuante. Permanece, sempre que
possível, a aparência de democracia: pode haver vários partidos, e mesmo que a
oposição efetiva desapareça, ela existe como oposição formal. O partido do governo é
um mero apêndice do poder executivo.
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O governo autoritário pode também utilizar os militares na burocracia estatal, e a elite


econômica tem, nos postos chaves, oficiais das forças armadas. Os militares saem da
caserna para se tornarem a instituição política mais importante da nação. Foi o que
aconteceu por ocasião do golpe militar de 1964 que impôs durante duas décadas o
regime autoritário no Brasil.

17 – BAHAISMO

1 – Introdução:

Religião fundada em Acre, na Palestina, por um nobre exilado persa, nascido em 1817 e
descendente dos reis Sassânidas, de nome Mirzá Husayn ‘Ali Nuri, hoje conhecido pelo
nome de Baha Allah (glória de Deus) e instituída pelo seu filho, Sir Addul-Bahá Bahai
ou “servo da Gloria de Deus” (1894-1921). Essa seita declara ter mais de um milhão de
adeptos e diz que metade da América é Baha’i.

2 – Histórico:

Considera-se o Said’Ali Muhammad, de Chiraz, o precursor desse movimento religioso.


Cognominado o “Bab” (porta), Ali Muhammad foi tido como o meio pelo qual se pode
passar ao conhecimento pleno da verdade divina, de onde vem a expressão a ele
associada, Bab el-Din “porta da fé”.

Influenciado por contatos com fontes gnósticas, sufitas e xiitas, o Bab, que fora
reconhecido por dirigentes da seita islâmica xiita como o sucessor de Maomé, anunciou
modificações que se deveriam fazer no corão, o que revoltou os ortodoxos islamitas.

Depois de grandes e bárbaras perseguições aos adeptos dessa seita, sobretudo porque o
Bab se dizia sucessor de Moisés, Cristo e Maomé, o Bab foi morto em 1850, em Tabriz.
Após sua execução, foram expatriados muitos seguidores da seita, inclusive Baha Allah,
que após alguns anos chegou a Acre, na Palestina, onde se proclemou o novo profeta.
Quanto à Ali Muhammad, Baha Allah dizia que ele teria sido uma espécie de João
Batista, que veio com a missão de preparar o caminho para o verdadeiro profeta.

O centro administrativo do bahaísmo está em Haifa, Israel. Os dois principais templos


encontram-se na Rússia (em Isqabad) e nos EUA. (Wilmette, Illinois). Existem mais de
quinhentas comunidades dessa religião no Irã, cerca de noventa nos EUA, e outras
tantas espalhadas por mais de cem países do mundo. Publicam além de relatórios
bienais, a revista mensal “World Order Magazine”.
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3 – Baha Allah:

Segundo ensinava, a periódica revelação de Deus aos homens por meio de um profeta
especial como Moisés, Jesus, Maomé, não terminara, como ensinara o fundador do
islamismo, na revelação de Meca e Medina. Agora Deus falava de novo por intermédio
dele.

Sua missão consistia em anunciar a nova era, que se caracterizariam pela união de todos
os homens, culturas, línguas, religiões, sob a bandeira do Bahaísmo, o qual não
pretendia ser outra coisa senão a comunhão de todas as religiões...

Por determinação testamentária, o filho mais velho do fundador, Abdul-Bahá, seria


universalmente considerado o verdadeiro intérprete da religião. Da mesma forma,
passou a chefia do movimento, depois da morte deste, ao neto do fundador, Shoghi
Effendi.

4 – Doutrinas:

Jesus – foi um profeta como Moisés, Maomé, e Baha Allah. É uma manifestação de
Deus, sendo que o Baha Allah é uma manifestação mais recente. Veja as palavras de
Jesus:

“e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28.20).

Religião Universal – o Bahaísmo é uma seita fabricada para atender a todos. Embora
tenha cunho islâmico, tenta atrair a hindus, cristãos e judeus. Admite outros profetas de
outras religiões e diz que todas as religiões são essencialmente iguais.

Panteísmo – se aceita a todas as religiões e aos seus profetas, consequentemente aceita


seus deuses. Logo, é uma religião panteísta que também crê na evolução do homem até
que ele alcance o nível da divindade.

Espiritismo – o Bahaísmo adota quase todas as doutrinas espíritas. Nesse caso, as


referencias bíblicas usadas para aquela religião se enquadram bem.

Religião Vaga – como o movimento admite a união de todas as religiões sem que estas
tenha que abandonar seus preceitos e doutrinas, evidentemente, não pode discorrer
sobre certos ensinamentos. Não pode ter dogmas doutrinários e não ensina nada que
venha a ferir diretamente as outras religiões.

Alguns princípios do Bahaísmo, são ideias fundamentais que embora bem elaboradas
para atenderem a todos, chocam-se seriamente com alguns princípios cristãos:

 Um só Deus e uma só religião. 1 Co 6.9,10;


 Uma só humanidade. 2 Co 6.14,15;
 Livre busca da verdade. Jo 14.6;
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 Abandono de preconceitos. 2 Tm 3.14;


 Paz internacional. Jo 14.27;
 Idioma internacional. 1 Co 13.1;
 Igualdade social e sexual. Mt 26.11, Ap 22.15;
 Abolição da riqueza e pobreza. Mt 26.11;
 Santidade pessoal. 1Pd 1.16.

Haverá um dia em que alguns desses princípios serão estabelecidos na terra, porém
nunca da maneira como pensam os bahaístas. Somente debaixo da mão poderosa de
Jesus Cristo poderá a humanidade dobrar-se.

18 - BOLIVARIANISMO

1 – Introdução:

Bolívar é a unidade monetária da Bolívia. Uma palavra da moda no Brasil é usada por
muita gente que não faz ideia de seu significado. Entenda o que é bolivarianismo e por
que ele nada tem a ver com “Ditadura Comunista”.

2 – Histórico:

Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termo originado
do sobrenome do libertador Simón Bolivar aterrissou no debate político brasileiro. São
frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o governo federal
petista. Lula e Dilma estariam “transformando o Brasil em uma Venezuela”. Mas o que
é o tal Bolivarianismo de que tanto falam? Bolivarianismo é sinônimo de ditadura
comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, leia as respostas
abaixo:

a) O que é bolivarianismo? O termo provém do nome general venezuelano do


século XIX, Simón Bolivar, que liderou os movimentos de independência da
Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se,
no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina
que questionam o Neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina
macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

b) Bolivarianismo e Ditadura Comunista são a mesma coisa? Não. Mesmo


considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que se convencionou
chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As
realidades de países que se dizem bolivariano, como a Venezuela e Equador, são
bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o
regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos
do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável
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pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o


faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag
soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia.
Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras
conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado.
Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há
total liberdade de expressão, de impressa e de oposição ao governo.

c) Foi Chávez que inventou o bolivarianismo? Não. O que então presidente


venezuelano Hugo Chávez fez foi declarar seu país uma “República
Bolivariana". A mesma retórica foi utilizada pelos presidentes Rafael Correa
(Equador) e Evo Morales (Bolívia). A associação entre Bolivarianismo e
Socialismo, no entanto, é questionável segundo a própria biografia de Bolívar, a
jornalista peruana Marie Alana, editora literária do Jornal americano The
Washington Post. De acordo com ela, esse “bolivarianismo” instituído por
Chávez na Venezuela foi inspirado nos ideais de Bolívar, tais como o Combate a
injustiças e a defesa do esclarecimento popular e da liberdade. Mas, segundo a
biografia, a apropriação de seu nome por Chávez e outros mandatários latinos é
inapropriada e errada historicamente: “Ele não era socialista de forma alguma.
Em certos momentos, foi um ditador de direita”.

d) O que se tornou o bolivarianismo na Venezuela? Quando assumiu a presidência


da República em 1999, Chávez declarou-se seguidor das ideias de Bolívar. Em
seu governo uma assembleia alterou a Constituição da Venezuela de 1961 para a
chamada Constituição Bolivariana de 1999. O nome do país também mudou: era
Estado Venezuelano e tornou-se República Bolivariana da Venezuela. Foram
criadas ainda instituições de ensino com o adjetivo, como as escolas bolivarianas
e as universidades Bolivarianas da Venezuela.

e) Mas esse regime que Chávez chamava de bolivarianismo era comunista? Não.
Apesar de o ex-presidente Venezuelano ter o termo “Revolução Bolivariana”
para referir-se ao seu governo. A ideia era promover mudanças políticas,
econômicas e sociais como a universalização à educação e à saúde, além de
medidas de caráter econômico, como a nacionalização de indústrias ou serviços.
Chávez falava em “Socialismo do século XXI”, Mas o governo venezuelano
continua no país, assim como a parceria com empresas privadas nacionais e
estrangeiras. Empreiteiras brasileiras, chinesas e bielo-russas, por exemplo,
constroem moradias para o maior programa habitacional do país, o gran mission
vivenda Venezuela, inspirado no brasileiro minha casa minha vida.
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f) O Brasil “virou uma Venezuela”? Esta afirmação não faz sentido. O Brasil é
parceiro econômico e estratégico da Venezuela, mas as diretrizes do governo
Dilma e do governo de Nicolás Maduro são bastante distintos, tanto na retórica
quanto na prática.

g) Os Conselhos Populares são bolivarianos? Não, e aqui o engano vai além do uso
equivocado do adjetivo. Parte da Política Nacional de Participação Social, os
Conselhos Populares seriam a base de um complexo sistema de participação
social, com finalidade de aprofundar o debate sobre políticas públicas com
representantes da sociedade civil. Ao contrário do alegado por opositores, os
conselhos de participação popular não são uma afronta à democracia
representativa. Conforme observou o ex-ministro e fundador do PSDB Luiz
Carlos Bresser Pereira, os conselhos estabeleceriam “um mecanismo mais
formal por meio do qual o governo poderá ouvir melhor as demandas e
propostas (da população)”.

19 – BRAMANISMO

(Uma Fé A Rigor)

1 – Introdução:

510 milhões de habitantes da União Indiana professam uma fé complexa e exigente.


Uns chamam de hinduísmo, referindo-se à sua localização geográfica; outros de
bramanismo, referindo-se a Brama, seu deus impessoal e único, ente supremo do
universo, do qual tudo emana e para o qual tudo volta. Com qualquer dos nomes, é mais
um sistema filosófico, moral e social do que uma religião no sentido habitual. Nem
sequer os sacerdotes – os poderosos brâmes – têm o mesmo papel normalmente
atribuído aos sacerdotes das religiões ocidentais. A evolução dessa fé – hinduísmo ou
bramanismo – marcou profundamente a história de um país que ainda não conseguiu
realizar seus anseios de progresso: a Índia.

2 – Os Livros da Fé:

Mistura de várias crenças, o bramanismo inclui o culto totemista dos drávidas,


primeiros habitantes da Índia, bem como diferentes vestígios de culturas arianas do vale
do rio Índus. Os árias – ou arianos –, que invadiram o país cerca de 1500 anos antes de
Cristo, tinha deuses representativos das forças da natureza: Varuna (vida), Indra (céu),
Agni (fogo). Os preceitos religiosos escritos em sua língua, o sânscrito, formam os
fundamentos do sistema bramânico: “Vedas” e “Upanishades”.
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Os “Vedas” são quatro coleções de cantos sacros e fórmulas de oferendas. A primeira


(“Rig-Veda”), por exemplo, consta de 1000 hinos; o de número 129 narra a criação do
mundo, que teria ocorrido 12000 anos antes. Meditando sobre as origens do homem, os
filósofos hindus reuniram suas reflexões nos “Upanishades”, que datam de 800 a.C. e
ensinam que a base do mundo é a consciência individual e só o conhecimento liberta o
espírito.

A vida constitui-se de uma série de existências e a posição do homem é determinada por


seu karma, isto é, pelos feitos das vidas anteriores. A meta almejada por todo indivíduo
é a libertação do ciclo de reencarnações (metempsicose). No século VI a.C. surgiram
outros sistemas religiosos e filosóficos (budismo e jainismo), que condenavam,
sobretudo, as castas, bem como o monopólio religioso dos brâmanes (sacerdotes).
Modificado pelo budismo, o bramanismo passou a constituir o hinduísmo, diversificado
em numerosas seitas. Seu fundo comum é a tendência monoteísta da adoração de Brama
e a aspiração de integrar-se em sua natureza, apesar dos milhares de deuses e demônios
que projetam sua sombra em todas as atividades.

3 – Os Degraus da Desigualdade:

Se no budismo os homens são todos iguais, no bramanismo eles se separam em quatro


castas, geradas do corpo de Brama no dia da criação. De sua boca saíram os sacerdotes
(brâmanes); dos braços, os guerreiros (xátrias); das pernas, os agricultores e mercadores
(vaícias); e dos pés, a plebe destinada à servidão (sudras ou párias). A esta última
pertencia pessoas de tal modo desprezadas que os membros das castas superiores não
podiam nem tocá-las. Com o tempo, esse sistema se tornou tão complexo, que em 1901
foram contadas 2300 castas e subcastas. Em 1949, o Parlamento da Índia estendeu aos
párias os mesmos direitos básicos dos outros indivíduos, mas várias restrições até hoje
são sentidas. Regidas por um conjunto rigoroso de permissões e proibições, as castas
formam um sistema muito conservador, que se choca com o Direito, impede a ascensão
social e dificulta o progresso.

4 – Os Caminhos da Pureza:

A justificação do bramanismo para tal sistema está no karma. Assim, se alguém nasceu
num casta inferior, é porque houve má conduta na sua vida anterior; em compensação, a
conduta virtuosa hoje conduz a casta mais elevada amanhã. É que a fé hinduísta se
baseia na teoria da reencarnação: após a morte, a alma renasce num novo corpo, e uma
próxima vida será mais feliz se praticarmos boas ações, pois, segundo uma lei do karma,
“só colhemos aquilo que semeamos”. A série de renascimento tem por meta final a
moksha (libertação espiritual ou iluminação), que integra o crente na natureza de
Brama. O mesmo fim pode ser atingido por diferentes caminhos: a ação, o amor, o
70

conhecimento, e a ascese da yoga (união com o divino), que somente se obtém através
de uma profunda concentração mental.

5 – Os Avatares de Vishnu:

Dois cultos predominam entre numerosas seitas do hinduísmo: os de Siva e Vishnu, que
formam com Brama a trindade suprema denominada Trimuriti. Por meio dessas duas
divindades, Brama intervém para destruir, conservar ou criar. Graças a Siva, a
fecundidade da terra e dos homens é consumida em ciclos de vida e de morte. Por ser o
perpétuo destruidor, Siva permite também a constante procriação e transformação de
tudo quanto existe. As antigas seitas dos seguidores de Siva celebravam cultos orgíacos,
cujos remanescentes ainda subsistem, Vishnu é o deus do amor e da fé, e manifesta-se
de formas diversas. Essas manifestações chamam-se Avatares, que são encarnações
divinas, principalmente em corpos humanos. Entre os Avatares de Vishnu, Rama e
Krishna – humanos de maior valor – realizaram façanhas incríveis, descritas em
epopeias hindus. Quando missionários católicos foram pregar na Índia a doutrina de
Cristo, tiveram a surpresa de ver Jesus tomado por mais um dos avatares de Vishnu.

6 – Os Desânimos de Arjuna:

Em 250 mil versos, a epopeia Mahabhârata (“Grande Índia”) descreveu a guerra entre
os kurus e o pândavas para a conquista de Hastinapura, importante centro da civilização
ariana. Num episódio que resume a mensagem do bramanismo (o Bhagavad Gitâ ou
“Sublime Canção”), dialogam Krishna e o príncipe pândava Arjuna. O homem,
representado por Arjuna, acha-se rodeado de ilusões que pertencem à sua natureza
mortal e inferior. Como se identificou com elas, falta-lhe ânimo para vencê-las. O
divino Krishna ensina então, como conhecer o caminho da libertação e da imortalidade.
E Arjuna enfrentará sem medo a batalha.

7 – Os Rituais da Vida:

O hinduísmo obriga seus fiéis aos rituais durante toda a vida, o primeiro dos quais é o
do nascimento e equivale ao batismo: à criança é dado mel misturado com manteiga
numa colherinha de ouro. A primeira saída de casa (4 meses), o primeiro alimento
sólido (6 meses) e o primeiro corte de cabelo (3 meses) também são comemorados.

Há quatro fases na vida ideal de um homem. Numa idade que varia entre os 8 a 24 anos,
conforme a casta, dá-se a “iniciação”, que simboliza o nascimento espiritual do
bramachin (estudante). O jovem é confiado a um mestre religioso para servi-lo e
aprender os “Vedas”. Pelo casamento, celebrado junto ao fogo sagrado do templo hindu
se torna griasta (chefe de família) e passa a presidir os ritos domésticos. Aproximando-
71

se da velhice, o homem entra no terceiro estado, o de vanapastra (anacoreta), quando se


retira para a floresta levando o fogo do sacrifício que deve manter sempre aceso.
Observa a castidade, alimenta-se pouco, dorme sobre a terra e medita os textos
sagrados. Alcança a posição mais elevada e honrada da vida terrena, que é a de asceta
mendicante.

Para os grandes ritos, porém, é indispensável a presença dos brâmanes, que conhecem
como ninguém o segredo dessa complicadas e exigentes cerimônias. Daí vem seu poder.
As seitas hinduístas incluem numerosos cultos populares, nos quais são venerados
alguns animais como a serpente e a vaca. Todos evitam causar-lhes a morte, pois a
serpente é consagrada a Vishnu e a vaca pertence a Siva e tem imagens nos templos.
Isso significa que os fiéis não podem usar carne de vaca na alimentação. Embora
situadas no extremo oposto dos párias, as vacas da Índia também são intocáveis, mas
com privilégios que os homens párias não têm.

A cidade santa dos hindus é Benares, localizada no Nordeste do país, às margens do rio
Ganges, onde, segundo a tradição, Siva teria morado durante sua vida terrena. Milhões
de peregrinos para lá afluem a fim de se banharem no rio sagrado e purificarem a alma.
Nas águas desse rio também são espalhadas as cinzas dos mortos, pois é praticada a
cremação. Apenas os ascetas e as crianças com menos de dois anos não são cremados,
enterram-se os seus corpos.

8 – Os Cultos Hoje:

Entre os 600 milhões de habitantes existentes na Índia (população em 1976), o número


de adeptos das principais religiões é o seguinte:

O hinduísmo abrange a esmagadora maioria da população: 510 milhões de seguidores,


correspondendo a 85% do total; islamismo: 60 milhões, com 10%; cristianismo: 15
milhões, com 2,5%; siquismo: 9 milhões, com 1,5 %; budismo: 3 milhões, com 0,5%;
outras religiões: 3 milhões, com 0,5%. O budismo, que nasceu na Índia, declinou a
partir do ano 800 d.C.

20 – BUDISMO

1 – Introdução:

Em outras religiões há um reconhecimento total ou parcial de um deus ou de muitos


deuses. O budismo, porém é uma religião que não reconhece, de modo algum, a
existência de um deus. Buda, na realidade, achava que seria presunçoso sugerir a
hipotética existência de um deus. Isto porque um deus estaria além dos limites do
entendimento humano.
72

Podemos perguntar, com razão: “uma crença que não reconhece a existência de nenhum
deus pode ser considerada uma religião? Não se trata apenas de um sistema de ética ou
de uma filosofia oriental?”.

Nem por isso, o budismo deixa de ser uma religião. Realmente, com mais de duzentos e
cinquenta milhões de seguidores, é uma das religiões mais importantes do mundo.

No jardim das religiões do mundo, há uma seção reservada ao budismo. É uma das
maiores seções e orgulha-se de que tudo o que nela há é bom e belo. Nenhuma vida
deve sofrer. Todas as pessoas são bondosas umas com as outras. A flor predileta do
Budismo é a lótus, porque retrata a posição que o homem deve adotar na meditação
profunda. Nesta condição, pode tornar-se um santo, e um ajudador ou salvador da
humanidade.

2 – Conhecendo o Budismo:

Na sua história, que já conta com vinte e cinco séculos, o budismo tem sido uma das
maiores forças civilizadoras que o Extremo Oriente já conheceu. Trouxe ideias
profundas à cultura da China na Dinastia Tang dos séculos VII ate X d.C. Criou as
maiores mudanças e influência espiritual de todas as religiões do Japão, da Birmânia, da
Tailândia, do Tibet, do Laos da Camboja e do Sri Lanka. Qual é esta religião? Por que
tem uma influência tão ampla no Extremo Oriente e um domínio forte sobre seus
seguidores? São estas algumas das questões que analisaremos.

2.1– A Definição do Budismo:

A palavra Budha é um termo em Sânscrito que significa “iluminação” ou


“despertamento”. Deriva-se de Bodhati, que significa “ele desperta-se ou compreende”.
O budismo é o ensino que teve sua origem em Gautama Buda. Sustenta que o
sofrimento é o destino que todos os seres humanos têm em comum, e que podemos
escapar dele, mediante a autopurificação, até chegarmos a um estado de nirvana. É tanto
uma religião quanto uma filosofia, que ocupa um lugar importante na vida espiritual,
cultural e social do mundo oriental. Como outras religiões orientais, o budismo tem suas
raízes no hinduísmo, mas vicejou nos países não hindus, mais do que no seu país de
origem.

2.2– O Fundador do Budismo:

Siddharta Gautama, o fundador do budismo, nasceu em Kapilavastu no vale do Ganges,


no Nepal, parte da Índia, cerca de 563 a.C. Sessenta quilômetros ao norte, subiam os
grandes picos as Himalaias. Nascido numa tribo ariana, filho de um rajá da casta
Kshatriya ou guerreiro, era de descendência real. Uma semana depois do seu
nascimento, morreu sua mãe e ele foi criado pela irmã dela, outra esposa de seu pai.
73

O jovem Gautama foi criado no luxo, no esplendor principesco e no prazer físico. Tinha
três palácios: um para a estação fria, um para a estação quente, e um para a estação das
chuvas. Com outros rapazes ricos dos seus tempos, sobrepujava nos esportes. Certa vez,
num concurso de arqueiros, conquistou a mão de uma bela moça, filha de um rajá.
Casaram-se e tiveram um filho. O pai Gautama, não querendo que este se tornasse um
líder religioso, não deixou que visse o lado escuro da vida. Procurou impedi-lo de ver
quatro coisas: um cadáver, um idoso, um doente e um monge ascético. Mesmo assim,
seu filho acabou tendo experiência das coisas proibidas. Viu um cadáver putrefato, uma
mulher idosa encurvada, um homem com uma infecção horripilante e um monge cheio
de paz, que renunciara o mundo e escolhera o ascetismo. Então Gautama percebeu que a
vida que a maioria das pessoas vive é de sofrimento e de dor, e ficou profundamente
perturbado.

O problema do sofrimento perturbou tanto o jovem príncipe, que não podia continuar
morando num palácio de vida fácil e de fartura. Certa noite, aos vinte e nove anos de
idade, resolveu deixar a sua casa e buscar uma resposta. Partiu no seu carro puxado a
cavalos, noite adentro. Depois de certa distância, cortou os cabelos e a barba e mandou-
os de volta com o cocheiro. Trocou de roupas com um mendigo e continuou a pé.

Gautama procurou primeiramente suas respostas na filosofia e foi discípulo de um guru.


Mas, não tendo achado satisfação, experimentou a vida ascética com cinco outros
monges, a qual durou seis anos. Procurava todas as coisas dolorosas e desagradaveis,
esperando achar a libertação. Às vezes, dormia numa cama de espinhos, deixava de
lavar-se e comia um único grão de arroz por dia. Usava vestes grosseiras que
provocavam cócegas e ficava sentado em posições dolorosas durante horas. Deixava a
sujeita e os insetos nocivos acumularem-se em seu corpo e ficou muito magro. Ele disse
certa feita que se procurasse tocar o seu estômago, apalparia a espinha dorsal. Mas, a
despeito de todos os seus esforços ascéticos, não conseguiu chegar à resposta procurada.

Certo dia desmaiou e caiu num córrego, mas a água fria o reanimou. Pensou na sua
situação e reconheceu que o caminho do asceticismo não satisfaria. Ficou em pé, lavou-
se entrou numa taberna e tomou uma boa refeição. Quando os amigos o viram comer,
chamaram-no de traidor e o abandonaram. Depois sua refeição, foi andando em direção
ao rio Nairajara e ficou sentado à sombra de uma árvore bodhi (que significa
“conhecimento”) para meditar. Declara-se que ficou ali durante 49 dias, meditando em
suas experiências. Finalmente, raiou na sua mente uma verdade que o satisfez. Chamou-
a de sua iluminação. A partir de então, passou a ser chamado Buddha ou “o iluminado”.
A árvore tornou-se sagrada para os budistas, quase tão significante quanto a cruz para os
cristãos.

Gautama chegou a uma conclusão básica. O sofrimento era o problema básico da


humanidade e a causa básica do sofrimento era o desejo. As pessoas ficam atadas ao
ciclo do nascimento e do renascimento por causa da tanha, o “anseio” pelo prazer
sensual. Quando cessou de desejar, foi iluminado, e pronto para nirvana, que significa
“extinção”. O primeiro passo depois da iluminação era encontrar seus cinco amigos
74

ascéticos que o tinham desprezado. Pregou a eles, no parque das gazelas em Benares, a
respeito das Quatro Verdades Nobres. Os amigos, vendo a transformação em Gautama,
aceitaram seus ensinos, e formou o Sangha, a ordem monástica budista.

Durante os quarenta e cinco anos que se seguiram, perambulava espalhando sua


mensagem e reunindo discípulos. Quando ele ensinava que as pessoas de qualquer casta
ou sexo podiam achar a salvação, algumas mulheres queriam filiar-se. Sua própria
esposa estava entre as primeiras. Depois de algum tempo, deixou as mulheres formarem
uma ordem de monjas. Os monges rapavam as cabeças, usavam roupas grosseiras
amarelas, e levavam tigelas para esmolarem comida.

O Buda morreu aos oitenta anos de idade, ao comer cogumelos estragados. Suas últimas
palavras foram: “Esforcem-se sinceramente para operarem sua própria salvação”. Seus
seguidores acreditam que ao morrer, o Buda entrou em nirvana o ponto final de todos os
desejos.

2.3– Localização Geográfica:

O budismo espalhou-se rapidamente em todas as partes da Índia depois da morte do


Buda, mas foi absolvido pelo hinduísmo nos séculos que se seguiram. Tornou-se mais
forte em Sri Lanka, e conseguiu entrada firme na Birmânia, na Tailândia e no Camboja.
Foi levado até a China, onde se tornou uma das três religiões principais. Hoje, existe na
Mongólia, no Tibet, na China, na Coréia e no Japão.

2.4– Divisões Históricas:

Depois da morte de Gautama, o budismo dividiu-se em duas escolas gerais de


pensamento. Cada uma delas chamava-se yana ou “jangada”, para carregar os homens
através do mar da vida até a praia da iluminação. O grupo norte foi chamado Mahayana,
“jangada Grande”. E alegava ser o veículo maior. Maha significa “grande”, como no
nome de Mahatama Gandhi, aquele da alma grande.

A escola do sul era chamada Hinayana, que significa o “veiculo menor”. Seus
seguidores, no entanto, preferiam chamarem-se os budistas Theravada, ou seja: “o
caminho dos antigos”. São os mais conservadores entre os seguidores das suas escolas,
e alegam que seguem os ensinamentos originais do próprio Buda. Os mahayanistas
opõem-se a esta reivindicação, e enfatizam a vida do Buda mais do que seus
ensinamentos. As localizações principais do budismo theravada hoje são Sri Lanka,
Birmânia e o Sudeste asiático.
75

3 – Crenças do Budismo:

De início a doutrina de Gautama era mais um sistema de ética do que uma religião. Mas,
à medida que se expandiu para outros países, houve definição de doutrinas e
desenvolveu-se um sistema de crenças.

3.1– Crenças Herdadas:

Aquilo que Gautama aprendeu na sua meditação debaixo da árvore bodhi, deve ser
estudado dentro do contexto dele. Seu ensino era uma revolta contra o hinduísmo
ortodoxo, mas mantinha certo número das crenças deste. Uma delas era a reencarnação,
a crença de que toda a vida passa por ciclos incontestáveis de nascimento, de morte e de
renascimento. Mantinha, também, a doutrina do karma, mediante a qual a boa conduta é
premiada e a má conduta é castigada na vida futura. Opunha-se ao sistema das castas,
no entanto, acreditava que todos os homens eram iguais.

3.2– O Ser Supremo:

Deus não existe de modo algum, de conformidade com os budistas, porque semelhante
ser estaria além do entendimento humano. Dizem que o homem está encarregado do seu
próprio destino. Uma das ironias da história é que Buda, que negava um ser supremo, é
adorado com mais imagens do que qualquer outra pessoa na história universal! Muitos
títulos divinos são dados a ele. Os escritos budistas o chamam: “Um rei de reis
universais, um vencedor. Deuses e homens o adorarão como o Grande que transcende o
tempo. No mundo dos deuses, não há nenhum que é igual a ele. Quando ele nasceu, os
cegos recobraram a sua vista, como se estivessem desejosos de ver a sua glória. Os
surdos recuperaram a audição. Os mudos falaram. Os presos foram libertos das suas
cadeias e correntes”. Mesmo assim, os budistas dizem que não oram ao Buda. As suas
milhares de estátuas têm a finalidade de expressar a calma, a sabedoria e a iluminação.

3.3– Instituições Sagradas:

O budista não tem nenhuma autoridade suprema, nenhum papa e nenhuma cerimônia
para a conversão. Não exige a obediência a um conjunto de regras legalistas, tais como
aquelas que o judaísmo impõe, nem um ato de submissão, como no caso do Islamismo.
A pessoa pode tornar-se budista mediante a prática do caminho Óctuplo e dos seus
princípios. Assim, espera-se chegar a um estado de ausência do ego.

a) Monges. Visto que o budismo exige a separação do tumulto da vida cotidiana, é


chamado de religião de monges. Os budistas verdadeiros vivem na solidão ou em
mosteiros, que existem espalhados nos lugares mais longínquos. Em países tais como a
Tailândia e a Birmânia, todos os homens passam algumas semanas como monges, como
parte da sua educação. Em Tibet, onde a religião é chamada lamaísmo, os monges são
uma terça parte da população. Formam uma ordem sacerdotal que governa o estado
politicamente.
76

Os monges realizam enterros, cerimônias nos templos e a educação religiosa da


juventude. Mas sua função principal é indicar o caminho budista da vida até chegar a
nirvana. Vivem com simplicidade, e passam muito tempo em meditação. Obtêm sua
comida através de esmolas. Possui uma manta amarela, uma tigela de esmolas, uma
agulha, um fio de 108 contas (para contarem as qualidades do Buda). Têm uma navalha
para rapar a cabeça e um filtro para coar os insetos da água de beber, a fim de não
provocar sofrimento às criaturas vivas. Quando o monge recebe alimentos, ele confere
mérito à pessoa que os oferece e o ofertante deve dizer “obrigado”. Se o ofertante for
uma mulher, o monge não deve falar com ela, nem notar a sua presença.

b) Arahat. O Arahat é um homem santificado, um santo budista, que consegue a


iluminação para si mesmo exclusivamente. Através da meditação exclusivamente,
aspira por alcançar um alvo de paz pura, além dos sentidos. Um Arahat não é uma alma
salva, porque Gautama negava a existência da alma. Conseguiram a sabedoria e as seis
perfeições. Venceram os três inebriantes e a sede pelo renascimento. Ele diz: “Não
desejo a morte, não desejo a vida”. Neste estado, aguarda o “apagar da lâmpada da
vida” ou nirvana.

c) Bodhisativa. O budista ideal é um bodhisativa, um “Buda em formação”. É um


homem santo cuja vida inteira é de amor sacrificial. Jura que não entra no nirvana até
que a raça humana inteira tenha conseguido a salvação juntamente com ele. Qualquer
pessoa pode tornar-se um Buda fazendo o voto. Acredita-se que havia seis Budas antes
de Gautama. Outro chamado Maitreya aguarda o tempo apropriado para vir a terra, onde
fará, em prol dos homens da sua era, aquilo que Gautama já fez. O bodhisativa é,
portanto um tipo de salvador ou redentor para a pessoa que busca a salvação.

d) Sangha a “Congregação”. O Buda organizou seus convertidos numa ordem


monástica chamada a Sangha. Era realizada uma cerimônia para os iniciantes da
Sangha, durante a qual citavam um credo: “Refugio-me no Buda; refugio-me na dharma
(na lei); e refugio-me na Sangha”. De modo semelhante a uma igreja, reúne-se para
recitar as palavras do Buda e para confessarem. Há 227 regras para a assembleia.

3.4– A Ética do Budismo:

O âmago do ensino do Buda acha-se em duas declarações. Estas são chamadas de as


Quatro Verdades Nobres e o Nobre Caminho Óctuplo. Para ele, o grande problema na
ética era o do sofrimento. Ele disse que toda a humanidade o tinha em comum, mas
achava que tinha a resposta nas Quatro Verdades Nobres.

a) As Quatro Verdades Nobre

 A primeira Verdade Nobre é: A vida é dukka, “o sofrimento ou a angústia”. “o


nascimento, a doença e a morte são sofrimento. A presença de objetos que
odiamos é sofrimento. A separação dos objetos que amamos é sofrimento. Não
obter aquilo que desejamos é sofrimento”. Apegar-se à existência mediante as
cinco skandas é “sofrimento”. Declara-se que os cincos kandas são os “estados
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mutáveis ou a soma total do ser humano”. Noutras palavras, a vida é dolorosa. É


como um eixo que está fora do centro da sua roda ou um osso que está fora do
seu lugar.

 A segunda Verdade Nobre é que tanha ou “desejo” é a causa do sofrimento. É o


desejo do prazer egoísta. Buda disse que ao invés de unirmos a nossa fé e o
amor, nós “os atamos aos jumentos do nosso próprio eu separado. Por prezarmos
demais o nosso ego, nós nos trancamos dentro dele”. O homem tem um dever
para com o seu próximo: perceber os outros como partes ou extensões de si
mesmo.

 A terceira Verdade Nobre diz respeito ao término do sofrimento. Buda


acreditava que a causa da deslocação da vida é o desejo egoísta, sua cura acha-se
no abandono daquele anseio. Ele disse:

“Ele cessa com a destruição completa de todo o desejo”. A libertação


provém quando a pessoa é liberta do ciclo interminável do renascimento
(samsara) e entra no estado bem-aventurado de nirvana.

 A quarta Verdade Nobre é o modo de eliminar a cobiça. Trata-se de seguir o


caminho do meio-termo. Buda chamava-o de “O Nobre Caminho Óctuplo”. Se a
pessoa praticar estas regras, provavelmente verá o fim do sofrimento.
Examinemos detalhadamente esses oito temas. Você deve decorá-los.

b) O Nobre Caminho Óctuplo

1. A Crença ou a Compreensão Certa. Isto significa que devemos ter certas convicções,
tais como as Quatro Verdades Nobres. Devemos crer que o sofrimento abunda e que é
causado pelo desejo de uma existência e realização separada. Devemos crer que pode
ser curado e que o meio para a cura é o Caminho Óctuplo.

2. O Propósito ou as Intenções Certas. Trata-se de resolver que venceremos os


sentimentos e desejos sensuais. Inclui a boa vontade, a paz, o amor ao próximo e o fim
de toda a malícia. Este propósito inclui a doutrina da ahimsa, que é ser “inofensivo”,
evitar danos a qualquer forma de vida.

3. A Fala Certa. A linguagem revela o caráter e é uma alavanca para alterá-lo. A pessoa
deve tomar a resolução no sentido de nada falar, senão a verdade. Buda disse que o
logro reduz o caráter. O motivo existente por detrás das defesas da pessoa é o medo de
revelar aquilo que realmente é. A fala certa é evitar a tagarelice vã, os mexericos, e as
ofensas verbais.
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4. O Comportamento ou Conduta Certa. É descrito nos Preceitos do Budismo que são


semelhantes aos Dez Mandamentos de Moisés. O assassínio, o furto e o adultério são
errados.

5. A Ocupação Certa. Envolve a maneira de a pessoa ganhar a vida, o seu trabalho, e


exige o uso certo do tempo e da energia da pessoa. A maneira de a pessoa obter seu
sustento não deve ser danosa a outras pessoas.

6. O Esforço ou a Diligência Certa. O Buda exigia os pensamentos, as palavras e as


ações mais nobres. Dizia:

Siga o caminho de um boi marchando pela lama profunda, puxando uma


carga pesada. Está cansado, mas seu olhar firme nunca se relaxará até
sair do lamaçal. A paixão e o pecado são mais imundos do que a lama.
Você pode fugir deles, somente por pensar firmemente no caminho.
Opere com diligência a sua própria salvação.

7. A Consciência ou Autodisciplina Certa. Os hábitos do pensamento devem ser


formados mediante horas de atenção em temas úteis. O texto budista mais querido, o
Dhammapada, começa dizendo: “Tudo quanto somos é o resultado daquilo que temos
pensado”.

8. A Meditação ou Concentração Certa. Este é o clímax. Buda dizia que através da


meditação a pessoa chega ao arhat final. O karma é completado e as reencarnações
terminam para sempre. A meditação e a iluminação são ajudadas, supostamente, por
meio da pessoa se sentar na “posição do lótus”. Deve ficar sentada com as pernas
cruzadas, tendo cada pé na coxa oposta.

3.5 – A Alma:

No budismo, anatta tem significado de “nenhuma alma”. O Buda diz que existe um ego,
mas nenhuma alma. Para ele, a alma é uma ilusão, à qual foi dado um nome. Ao invés
disto, fala a respeito de karma. A próxima encarnação da pessoa é determinada segundo
o caráter desta. Buda prefere a palavra consciência. Esta é passada adiante como uma
série de pontos e não como um rio que corre. O Buda emprega o exemplo de uma
chama. “A chama no final de vela não é a mesma que a chama original. Da mesma
maneira, nossa conexão com outra pessoa não é de substância, mas de influência”. O
egoísmo anuvia toda boa intenção. É como pisar nas cinzas que encobrem o fogo; o pé
fica queimado.

3.6 – A Salvação:

Para os budistas, a salvação significa um estado de paz e alegria perfeita. É uma


libertação, conseguida pela própria pessoa, de todos os tipos de tristeza. Para atingi-la, a
literatura budista alista muitas coisas a serem evitados, desejos a serem abandonados e
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laços a serem rompidos. Há, por exemplo, três inebriantes: a cobiça, o ódio e a
ignorância. Há cinco impedimentos: o prazer sensual, a má-vontade, a preguiça, a
dúvida e o desassossego. Dez correntes ou vícios negativos atam a pessoa à roda da
existência. Os budistas Theravada acreditam que, quando um monge vence as cinco
primeiras corrente, galgará nirvana e será um arahat.

3.7– Nirvana:

A crença em nirvana é parte importante do budismo. É um termo negativo, e significa


literalmente “o apagar” da chama do desejo e do sofrimento. Os budistas não dizem que
é um lugar, mas um estado de existência, que é realizado pela extinção dos laços.
Nirvana também é chamada libertação, rendição, renúncia e a tranquilidade da ausência
de ego. Declara-se que era uma antiga doutrina ariana que os hindus adotaram.

4 – Escritos do Budismo:

De início, os ensinos budistas tinham a forma falada. Foi somente no século I a.C., na
ilha de Sri Lanka, que os primeiros budistas foram registrados. O primeiro escrito
sagrado é o Cânon Pali, que contém as crenças principais dos budistas Theravad. O
Cânon Pali é chamado Tripitaka ou “três Cestos”, porque tem três partes. Estas foram
originalmente escritas em folhas de palmeira e conservadas em cestos.

A primeira parte é chamada Vinaya Pitaka, o “cesto da ordem”. Descreve parte da vida
de Buda e algumas regras de disciplina para os monges. A segunda parte é chamada
Sutta Pitaka. É o “cesto de ensino”, ou livro de instruções, e contêm os discursos do
Buda, bem como 547 lendas a respeito de existência anteriores do Buda. A terceira
seção é Abhidhamma Pitaka. É um cesto acadêmico e metafísico, e contêm a teologia
budista, que não é para o povo comum.

O tamanho total desses três escritos tem cerca de onze vezes o tamanho da Bíblia. Ao
serem traduzidos e impressos nas línguas europeias, ocupa cerca de quatro vezes o
volume das nossas Bíblias. O Sutta Pitaka é o mais importante, porque contém as
palavras do próprio Buda. É subdividido em quatro nikayas ou ensinos. O último, o
khuddka nikaya, é um grupo de quinze obras, compostas depois da morte de Buda.
Inclui o tratado moral importante, o Dhammapada, que significa “Vesículos da Lei”.

 Muitos padrões éticos nos escritos budistas são de alta qualidade e fazem nos
lembrar da Bíblia Sagrada:

O ódio não cessa através do ódio, em ocasião alguma; o ódio cessa através do amor. Se
alguém o amaldiçoar, você deve reprimir todo o ressentimento. Faça a decisão firma:
“Minha mente não ficará perturbada, nenhuma palavra irada escapará dos meus lábios,
permanecerei bondoso e amigo, com pensamentos amorosos e sem nenhum rancor
oculto”. Se, pois, você for atacado com punhos, com pedras, com paus ou com espadas,
você deve continuar reprimido todo o ressentimento e conservar uma mente amorosa.
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Se um discípulo desejar converter-se, já não passível de ser reencarnado num estado de


sofrimento e ter a certeza da salvação final – que cumpra toda a justiça; que se dedique
àquela quietude de coração que brota de dentro; que não repudie o êxtase da
contemplação; que veja por dentro de todas as coisas; que passe muito tempo sozinho...
Que fique vagueando sozinho como o rinoceronte.

Se um homem estultamente me fizer injustiça, eu lhe pagarei com a proteção do meu


amor que nada lhe sonegará; quanto mais maldade provier da parte dele, tanto mais
amor surgirá da minha parte.

5 – Desenvolvimento do Budismo:

O budismo era e é uma religião missionária. Espalhou-se por toda a Ásia Oriental. A
tradição budista conta que em 60 d.C. um imperador chinês sonhou que uma imagem
dourada do Buda apareceu do ocidente. Enviou mensageiros para além das montanhas
Himalaias para descobrir a origem do sonho. Foi o início do budismo na China. A
Tailândia seguiu os mesmo passos no século II d.C.

a. – Movimento de Expansão:

O budismo maha yana foi grandemente promovido pela conversão ao budismo do rei
Asoka da Índia (270-232 a.C.). Asoka foi para o budismo aquilo que Constantino foi
para o Cristianismo. Fez do budismo uma grande religião mundial, e sua roda da lei
tremula hoje na bandeira da Índia. Escreveu verdades budistas nas rochas em muitas
partes do país e enviou missionários a lugares distantes tais como a Macedônia, a Síria e
o Egito. Nomeou um ministro de Assuntos Religiosos e fundou hospitais. Mediante os
seus esforços, o budismo tornou-se a religião mais forte em Sri Lanka e alguns dos
grandes estudiosos budistas tiveram sua origem naquele país.

Dois outros se tornaram tão famosos como Marco Polo nos livros de viagens. Um foi
Fa-Hsien, que deixou a China em 399 d.C., passou quinze anos na Índia, procurando os
santuários nos lugares onde Gautama tinha habitado e compilou um relato como
testemunha ocular daquilo que descobriu. O outro, Hsuan-Tsang, foi para a Índia em
629 d.C. e passou dezesseis anos ali. Voltou com livros que traduziu para o chinês. Há
mais de mil volumes atribuídos a ele e aos seus alunos. A corte da Dinastia Tang,
durante a qual vivia, ficou cheia de convertidos ao budismo. As artes desenvolveram-se
grandemente no período, e alguns dos artistas tornaram-se famosos pelas suas obras.
Nas ruas da capital da Dinastia, estudiosos budistas achavam-se debatendo doutrinas
com confucionistas, taoístas e até mesmo com cristãos.

No século VI d.C., missionários da China foram para o Japão, onde o budismo


rapidamente tornou-se, juntamente com o xintoísmo, a religião principal. Enquanto no
século I d.C. o budismo espalhava-se nos países do extremo Oriente, no Ocidente estava
morrendo, pois subiam ao trono imperadores que eram mais hindus do que budista e a
fé hindu paulatinamente conquistava o povo de volta.
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b. – As Seitas Intuitivas – O Budismo Zen:

Um grupo chamado os Budistas Intuitivos foi fundado por um monge chamado


Bodhidharma no século VI d.C. a seita acreditava que a inspiração vinha somente
através de um raio de entendimento depois de um período de imitação, como aconteceu
com Buda. O Budismo Intuitivo entrou na China vindo da parte da Índia e da China foi
levado para a Coréia e o Japão. No Japão, aonde chegou ao seu auge, era chamado
Budismo Zen. Bodhidharma ensinou ao imperador que suas boas ações, seus escritos, e
seus mosteiros não lhe seriam de nenhum proveito. A verdade podia ser achada somente
através da meditação e da iluminação repentina. Depois, retirou-se para uma caverna na
montanha, onde passou dez anos em meditação, contemplando um muro. Como
resultados disso, suas pernas ficaram atrofiados.

Os budistas zens acreditavam que a salvação é uma questão individual. As coisas


externas, tais como os rituais, os escritos sagrados, e os templos são inúteis. A pessoa
pode ficar iluminada em qualquer lugar; enquanto está sentada debaixo de uma árvore
ou varrendo o chão. Os budistas zens dizem que não se pode confira na razão ou
procurar a iluminação, de modo que empregam enigmas que têm a intenção de
confundir a razão. Enquanto a pessoa medita nas frases que não fazem sentido, um raio
de iluminação supostamente a levará à verdade.

O princípio zen têm tocado em muitas áreas da vida japonesa. Uma delas é o conceito
do “acidente controlado”, que significa que aquilo que não é planejado é mais valioso
do que aquilo que é planejado. É usado na pintura, na arquitetura, na cerâmica, nos
arranjos florais, na música e na poesia. Por exemplo, o desenho feito no papel poroso
não pode ter emendas e, portanto, é mais belo do que aquele que foi cuidadosamente
planejado e trabalhado.

c. – A Conquista Comunista:

Uma antiga profecia budista dizia que, depois de 2,500 anos, o budismo murcharia ou
gozaria de um reavivamento. A data-chave, segundo os historiadores budistas, seria 24
de maio de 1956. O teste real do budismo, no entanto, surgiu em 1949 quando a China
foi derrotada pelo comunismo. Calcula-se que duzentos milhões de budistas mahayana
caíram diante do comunismo. Os budistas, sendo seguidores de uma religião mansa, não
resistiram. O próprio Gautama repreendeu seus discípulos por causa da ira deles pelo
ataque a um santo. Disse: “Aquele que fere leva vergonha, mas maior vergonha leva
aquele que, ferido, revida ferido”.

Os comunistas confiscaram as terras e as tendas dos mosteiros, forçaram os monges


velhos a trabalharem nos campos e nas fábricas. Os monges jovens foram enviados para
a guerra na Coréia. As monjas foram obrigadas a casarem-se, mas muitas se afogaram
para não terem que cumprir a ordem. Mao Tse-Tung finalmente interrompeu a
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destruição dos templos chineses para preserva-los, não como santuários religiosos, mas
como monumentos nacionais.

Os comunistas eram persistentes e sagazes. Conquistaram para a causa deles alguns


monges através do ensino das semelhanças entre o marxismo e o budismo. Buda não
pregava uma sociedade sem classes, e não era esse o alvo do marxismo? Mas as duas
ideologias são contraditórias entre si. No budismo, o homem não é uma criatura
materialista; seu propósito é espiritual. A guerra, baseada na cobiça e na violência é
errada. A vida virtuosa deve ser atingida somente mediante o ato do livre arbítrio e da
razão.

O que acabará vencendo – a atitude passiva budista ou a liberdade do pensamento


budista? Talvez a resposta seja encontrada nas palavras do Buda:

“Não creiam, ó monges, em nada que seu professor lhes ensine, por mero
respeito a ele. Mas tudo quanto vocês, mediante a análise, descobrirem
ser vantajoso para o bem-estar de todos os seres, creiam naquele ensino,
apeguem-se a ele, e tomem-no como seu orientador.”

6 – Avaliação do Budismo:

6.1 – Pontos Positivos do Budismo:

 Enfatiza altos padrões morais e éticos;


 Reconhece que o egoísmo e o orgulho são males;
 Seu fundador foi notável pela sua vida de abnegação;
 Enfatiza a atitude interior da pessoa;
 Ensina a negação de si mesmo como uma parte importante da salvação;
 Opõe-se ao sistema das castas;
 Seu sistema de justiça sugere que a pessoa ceifa aquilo que semeia.

6.2 – Pontos Negativos do Budismo:

 Não reconhece um ser supremo;


 Seus fiéis tendem a adorar os fundadores;
 Despreza como indignos o corpo humano e as suas emoções;
 Não reconhece nenhum pecado contra um ser supremo;
 Tende à vida monástica e ascética;
 Não tem sistema nem método de melhoria social;
 Sustenta uma atitude geralmente negativa e passiva para com a vida;
 Sustenta a crença no karma e na transmigração;
 É uma religião de auto redenção, a salvação é mediante métodos negativos e
supressivos;
83

 Não oferece esperança nenhuma de vida de alegria no céu, depois da morte.

21 – CALVINISMO

1 – Introdução:

O Calvinismo (também chamado de Tradição Reformada, Fé Reformada ou Teologia


Reformada) é tanto um movimento religioso protestante quanto um sistema bíblico com
raízes na Reforma Protestante, iniciado por João Calvino em Genebra no século XVI. A
Tradição Reformada foi desenvolvida, ainda, por diversos outros teólogos como Martin
Bucer, Heinrich Bullinger, Pietro Martire Vermigli e Ulrico Zuínglio.

Apesar disso, a Fé Reformada costumava levar o nome de Calvino, por ter sido ele seu
grande expoente. Atualmente, o termo também se refere às doutrinas e práticas das
Igrejas Reformadas. O Sistema costuma ser sumarizado através dos cinco pontos do
Calvinismo.

2 – Desenvolvimento:

Os calvinistas romperam com a Igreja Católica Romana, mas diferiam dos Luteranos na
doutrina sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, princípio regular do culto, e o uso
da lei de Deus para os crentes, entre outras coisas.

O termo Calvinismo pode ser enganoso, pois a Tradição Religiosa que por ele é
identificada sempre foi diversificada, com uma vasta gama de influências, em vez de
um único fundador. O movimento foi chamado pela primeira vez calvinismo pelos
Luteranos que se opunham a ele, e muitos dentro da Tradição preferem usar o termo
Reformado para descrevê-lo.

A maior associação reformada no mundo é a Comunhão Mundial das Igrejas


Reformadas com mais de 80 milhões de membros em 220 denominações de membros
em todo o mundo. Outras organizações reformadas internacionais são a Fraternidade
Reformada Mundial e a Conferência Internacional das Igrejas Reformadas.

3 – História:

3.1 – A Influencia de João Calvino.


João Calvino exerceu uma influência internacional no desenvolvimento da doutrina da
Reforma Protestante, à qual se dedicou com a idade de 30 anos, quando começou a
escrever a Instituição da Religião Cristã em 1534 (publicado em 1536). Esta obra, que
foi revista várias vezes ao longo da sua vida, em conjunto com a sua obra pastoral e uma
84

coleção maciça de comentários sobre a Bíblia, são a fonte da influência permanente da


vida de João Calvino no Protestantismo.

Para Bernadye Cotitretwo, Biógrafo de Calvino, o Calvinismo é o legado de Calvino e


torna-se uma forma de disciplina, de ascese, que raramente é levada ao extremo da
teimosia. O Calvinista é, pois no extremo um profundo conhecedor da Bíblia, que
pondera todas as suas ações pela sua relação individual com a moral cristã. O
Calvinismo é também o resultado de uma evolução independente das ideias protestantes
no espaço europeu de língua francesa, surgindo sob a influência do exemplo que na
Alemanha a figura de Martinho Lutero tinha exercido. O termo “Calvinismo” foi
aparentemente usado pela primeira vez em 1552, numa carta do pastor Luterano
Joachim Westphal, de Hamburgo.

3.2 – A Difusão da Fé Reformada.


O Calvinismo marca a segunda fase da Reforma Protestante, quando as Igrejas
Protestantes começaram a ser formar, na sequencia da excomunhão de Martinho Lutero
da Igreja Católica Romana. Nesse sentido o Calvinismo foi originalmente um
movimento luterano. O próprio Calvino assinou a confissão luterana de Augsburg de
1540.
Por outro lado, a influência de Calvino começou a fazer sentir-se na Reforma Suíça, que
não foi luterana, tendo seguido a orientação conferida por Ulrico Zuínglio. Tornou-se
evidente que a doutrina das Igrejas Reformadas tomava uma direção independente da de
Lutero, graças à influência de numerosos escritores e reformadores, entre os quais
Ulrico Zuínglio, João Calvino, Martin Bucer, William Farel, Heinrich Bullinger, Pietro
Martire Vermigli, Teodoro de Beza e John Knox.

Uma vez que tem múltiplos fundadores, o nome “Calvino” induz ligeiramente ao
equívoco, ao pressupor que todas as doutrinas das Igrejas Calvinistas se revejam nos
escritos de João Calvino. O nome aplica-se geralmente às doutrinas protestantes que não
são luteranas, e que têm uma base comum nos conceitos calvinistas, sendo normalmente
ligadas a igrejas nacionais de países protestantes, conhecidas com Igreja Reformadas,
ou a Movimentos Minoritários de Reforma Protestante.

Nos Países Baixos, os calvinistas estabeleceram a Igreja Reformada Neerlandesa. Na


Escócia, através da zelosa liderança do ex-sacerdote católico John Knox, a Igreja da
Escócia foi estabelecida segundo os princípios calvinistas. Na Inglaterra, o Calvinismo
também desempenhou um papel na Reforma, e, de lá, seguiu com os puritanos para a
América do Norte. Na França, os Calvinistas, chamados de Huguenotes, foram
perseguidos, combatidos e muitas vezes obrigados ao exílio. Em Portugal, na Espanha
ou na Itália, estas doutrinas tiveram pouca divulgação e foram ativamente combatidas
pelas forças da Contrarreforma, com a ação dos Jesuítas e da Inquisição.
85

O Sistema Teológico e as Praticas da Igreja, da família ou na vida política, todas elas


algo ambiguamente chamadas de “Calvinismo”, são o resultado de uma consciência
religiosa fundamental centrada na “sobrevivência de Deus”.

O Calvinismo pressupõe que o poder de Deus tem um alcance total de atividade e


resulta da convicção de que Deus trabalha em todos os domínios existência, incluindo o
espiritual, físico, intelectual, quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou
na terra. De acordo com este ponto de vista, qual quer ocorrência é o resultado do plano
de Deus, que é o criador, preservador, e governador de todas as coisas, sem exceção, e
que a causa última de tudo. As atividades seculares não são colocadas abaixo da prática
religiosa. Pelo contrário, Deus está tão presente no trabalho de cavar a terra como na
prática de ir ao culto. Para o cristão calvinista, toda a sua vida é um culto a Deus.

De acordo com o princípio da predestinação, por causa de seus pecados, o homem


perdeu as regalias que possuía e distanciou-se de Deus. O homem é considerado
“Morto” para as coisas de Deus e é dominado por uma inspiração para servir a Deus.

Só havia, então, uma maneira de resolver esse problema: o próprio Deus reatando os
laços. Deus então segundo a doutrina da predestinação escolheu alguns dos seres
humano caído para salvar da pecaminosidade e restaurar para a comunhão com ele.
Deus teria tomado esta decisão antes da criação do universo. Mas é claro que não é por
causa de quaisquer boas ações que eles foram escolhidos: “porque pela graça sois
salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós; é dom de Deus; não vem de Obras, para
que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8,9).

Os cinco pontos do Calvinismo (conhecidos pelo acróstico TULIP, referente às iniciais


dos pontos em inglês) são doutrinas básicas sobre a salvação, definidas pelo Sínodo de
Dorf. São eles:

 Depravação Total – graça soberana necessitada;


 Eleição Condicional – sua graça soberana Específica;
 Expiação limitada – limitada soberana Meritória;
 Vocação Eficaz – Graça Soberana Eficaz.
 Perseverança dos santos – Graça Soberana Perseverante.

O Calvinismo também defende uma teologia, aliança e os sacramentos como meio de


graça, santa ceia e batismo, incluindo o Batismo infantil. Calvino na sua principal obra,
as Institutas diz: “Eis aqui porque Satanás se esforça tanto em privar nossas caricaturas
dos Benefícios do Batismo, sua finalidade e que se esquecermos da testificar que o
senhor tem ordenado para confirmar as graças que ele quer nos conceder pouco a pouco
vamos nos esquecendo das promessas que nos fez a respeito disto. De onde não só
nasceria uma ímpia ingratidão para com a misericórdia de Deus, mas também a
negligência de ensinarmos nossos filhos no temor do Senhor, e na disciplina da Lei e no
conhecimento do evangelho. Porque não é pequeno estímulo sabermos que educa-los
na verdadeira piedade e obediência a Deus. E saber que desde sem nascimento foram
recebidos no Senhor e em seu povo, fazendo-os membros de sua Igreja” (Calvino, 1999,
86

p. 1069). O calvinismo deveria ser austero e disciplinado, ou seja: as pessoas não


tinham direito a excessos de luxo, e conforto, se esbanjamento matriana.

4 – Doutrina

4.1 – Revelação e as Escrituras:

Teólogos reformados acreditam que Deus comunica o conhecimento de si mesmo para


as pessoas através da Palavra de Deus. As pessoas não são capazes de saber nada sobre
Deus, exceto através desta auto-revelação. A especulação sobre qualquer coisa que
Deus não revelou através de sua Palavra e não se justificou. Todavia, os calvinistas
ententeu que Deus é inifito e as pessoas finitas são incapazes de compreender um ser
inifinito. Enquanto o conhecimento revelado por Deus nunca está incorreto, ele também
nunca é completo.

De acordo com teólogos reformados, a auto-revelação de Deus é sempre através de seu


Filho Jesus Cristo, porque Cristo é o único mediador entre Deus e as pessoas. A
revelação de Deus através de Cristo vem através de dois canais básicos: primeiro é a
criação e providência, que é criar e continuar a trabalhar no mundo de Deus. Esta ação
de Deus dá a todos o conhecimento sobre Ele, mas esse conhecimento só é suficiente
para fazer ciente a todos os seres humanos, que são culpados por seus pecados, porque
ele não inclui conhecimento do evangelho. O segundo canal através do qual Deus se
revela é a redenção, que é o evangelho da salvação e da condenação, que é o castigo
pelo pecado.

Na teologia reformada, a Palavra de Deus assume diversas formas. O próprio Jesu


Cristo é o Vervo Encarnado. As profecias sobre ele dito ser encontrada no Antigo
Testamento e do ministério dos apóstolos que o viram e comunicado a sua mensagem
também são a Palavra de Deus. Além disso, a pregação dos ministros sobre Deus é a
própria Palavra de Deus, porque Deus é considerado falando através deles.

Deus fala também através de escritores humanos na Bíblia, que é composto de textos
separado por Deus para a auto-revelação. Teólogos reformados enfatizam a Bíblia como
um meio excepcionalmente importantes pelos quais Deus se comunica com as pessoas.
As pessoas ganham conhecimento de Deus pela Bíblia (que é a forma escrita), e não
pode ser adquirida em qualquer outra forma.

Teólogos reformados afirmam que a Bíblia é verdadeira, mas as diferenças surgem entre
eles sobre o significado e a extensão de sua veracidade. Seguidores da escola
conservadora dos teólogos de Princeton,tais como a Igreja Presbiteriana do Brasil,
Igreja Presbiteriana Nacional no México e Igreja Presbiteriana na América,
consideram que a Bíblia é verdadeira e infalível, ou incapaz de erro ou falsidade, em
todos os lugares. Este ponto de vista é muito semelhante ao do Catolicismo Ortodoxo,
bem como o Moderno Evangelicalismo.
87

Um outro ponto de vista, influenciada pelo ensino de Karl Barth e a Neo-Ortodoxia é


encontrada na confissão de 1967, da Igreja Presbiteriana (EUA). Aqueles que tomam
este ponto de vista acreditam que a Bíblia é a principal fonte de nosso conhecimento de
Deus. Nesse ponto de vista, Cristo é a revelação de Deus, e as Escrituras testemunhar a
esta revelação ao invés de ser a própria revelação. A opinião conservadora tem
prevalecido nas últimas décadas, na medida em que as igrejas que adotam a segunda
visão, em declínio.

4.2 – Pacto

Teólogos usam o conceito de aliança para descrever a maneira como Deus entra em
comunha com as pessoas na história. O conceito de aliança é tão proeminente na
teologia reformada que ela é como um todo e às vezes, é chamada “Teologia da
Aliança". No entanto, teólogos dos séculos XVI e XVII desenvolveram um sistema
teológico particular chamado “Teologia da Aliança” ou “Teologia Federal” que muitas
igrejas reformadas conservadoras continuam a afirmar nos dias de hoje. Esse sistema
estabelece uma divisão sobre a relação de Deus com as pessoas, principalmente em dois
aspectos: o pacto de obras e o pacto da graça.

O pacto das obras é feito com Adão e Eva no jardim do éden, onde Deus proveria uma
vida abençoada no jardim com a condição de que Adão e Eva obedecessem à Lei
Divina perfeitamente. Como Adão e Eva quebraram o pacto ao comer o fruto proíbido,
eles ficaram sujeitos à morte, foram banidos do Jardim e o pecado foi transmitido a toda
a humanidade. Teólogos Federais geralmente inferem que Adão e Eva teriam ganho a
imortalidade caso tivessem obedecido perfeitamente.

Segundo pacto, chamado pacto da graça, é dito ter sido feito imediatamente após o
pecado de Adão e Eva. Nele, Deus graciosamente oferece a Salvação e da Morte, sob
condição de fé em Deus. Este pacto é administrado em formas diferentes em todo o
Antigo e Novo Testamento, mas mantém a substância de ser livre de uma exigência de
perfeita obediência.

4.3 – Deus

Para a maior parte da Tradição Reformada não houve modificação do Conselho


Medieval sobre a Doutrina de Deus. O caráter de Deus é descrito usando principalmente
três adjetivos: Eterno, Infinito e Imutável. Teólogos Reformados como Shirley Guthrie
propuseram que em vez de conceber a Deus em termos de seus atributos e liberdade
para fazer o que quiser, a doutrina de Deus deve ser baseada no trabalho de Deus na
história e sua liberdade para viver com e capacitar as pessoas.

Tradicionalmente, teólogos reformados também seguiram a tradição medieval que


remonta aos Conselhos da Igreja Primitiva de Nicéia e Calcedônia na doutrina da
Trindade. Deus é afirmado a ser um Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O
Filho (Cristo) é detido para ser eternamente gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede
88

eternamente do Pai e do Filho. No entanto, os teólogos contemporâneos têm sido


críticos de aspectos de ponto de vista ocidentais.

Com base na tradição cristã oriental, estes teólogos reformados propuseram uma
“Trindade Social”, onde as pessoas da trindade só existem em sua vida juntos como
pessoas-em-relação. Confissão reformadas contemporâneos como a Confissão de
Barmen e as Declarações da Igreja Presbiterana (EUA) tem evitado a linguagem sobre
os atributos de Deus e têm enfatizados seu trabalho de reconciliação e de capacitação
das pessoas. O teólogo reformado Michael Horton, no entanto, argumentou que o
Trinitarianismo Social é insustentável porque abandona a unidade essencial de Deus
em favor de uma comunidade de seres separados em comunidade.

4.4 – Criação e Expiação

Teólogos Reformados afirmam a crença cristã histórica de que Cristo é eternamente


uma pessoa com uma natureza divina e uma natureza humana. Reformadores cristãos
especialmente enfatizam que Cristo verdadeiramente se tornou humano para que as
pessoas pudessem ser salvas. A natureza humana de Cristo tem sido um ponto de
discórdia entre a cristologia reformada e luterana. De acordo com a crença de que os
seres humanos finitos não podem compreender a Divindade Infinita, teólogos
reformados seguram que o corpo humano de Cristo não pode estar em vários locais ao
mesmo tempo. Porque luteranos creem que Cristo é corpo presente na Eucaristia, eles
sustentam que Cristo é corpo presente em muitos locais simultaneamente. Para os
cristãos reformados, tal crença nega que Cristo realmente tornou-se humano.

João Calvino e muitos teólogos reformados que o seguiram descrevem a Obra da


Redenção de Cristo, em termos de três ofícios: Profeta, Sacerdote e Rei. O Cristo é dito
ser um profeta em que ele ensina a doutrina perfeita; Sacerdote em que ele intercede ao
Pai em favor dos crentes e se ofereceu como sacrifício pelo pecado, e um Rei em que
ele governa a igreja e luta pelos crentes. O ofício tríplice vincula a obra de Cristo para a
obra de Deus no antigo Israel.

Os cristãos acreditam que a morte de Jesus e ressurreição torna possível para os crentes
alcançar o perdão dos pecados e reconciliação com Deus por meio da expiação chamado
Expiação Substituta, o que explica a morte de Cristo como um pagamento de sacrifício
pelo pecado. Acredita-se que Cristo ter morrido no lugar do crente, que é considerado
justo, como resultado desse pagamento sacrificial.

4.5 - Pecado

Na teologia cristã, as pessoas são criadas boas e na imagem de Deus, mas se tornaram
corropidas pelo pecado, o que faz com que sejam imperfeitas e excessivamente auto-
interessadas. Cristãos reformados, seguindo a tradição de Agostinho de Hipona,
acreditam que esta corrupção da natureza humana foi causada por ocorrência do
primeiro pecado de Adão e Eva, uma doutrina chamada Pecado Original. Teólogos
reformados enfatizam que este pecado afeta toda natureza de uma pessoa, incluindo sua
89

vontade. Sob esta visão o pecado domina as pessoas de forma que são incapazes de
evitar o pecado, tem sido chamado de “Depravação Total”.

Em português, o termo “Depravação Total”, pode ser facilmente mal interpretado para
significar que as pessoas estão ausentes de qualquer bondade ou incapazes para fazer
qualquer bem. No entanto, o ensino reformado na verdade é que, enquanto as pessoas
continuava a suportar a imagem de Deus, podem fazer coisas que são exteriormente
boas, mas suas intenções pecaminosas afetam toda a sua natureza e pelo que eles não
são totalmente agradáveis a Deus.

5 – Interpretação Sociológica

Sociólogos como Marx Weber e Ernest Gellner analisaram a teoria e as consequencias


práticas desta doutrina e chegaram à conclusão de que os resultados são paradoxais. Em
parte explicam o precoce desenvolvimento do Capitalismo nos países onde o
Calvinismo foi popular (Holanda, Escócia, Estados Unidos, sobretudo).

O calvinista acredita que Deus é soberano em todas as coisas e portanto, o homem não
tem participação alguma na própria salvação, logo, Deus predestinou os seus
escolhidos para a salvação, uma vez que, a humanidade após o pecado não teria
condições de voltar ao criador por estarem mortos em seus pecados e delitos. O
calvinista não tem dúvidas de sua salvação, e nem por isso se acham um grupo seleto,
pelo contrário, o calvinismo atuou de forma forte na Reforma Protestante levando o
evangelho para todas as pessoas. cabe apenas a Deus o saber de todas as coisas e de
quem são seus eleitos. Os calvinistas seguem as Escrituras e prega a todos e seguem o
mandamento do Senhor Jesus de pregar o Evangelho. Sendo um bom cristão,
trabalhando muito, seguindo sempre todos os princípios bíblicos, o calvinista faz tudo
pela glória de Deus. Com essa cosmovisão, por meio do trabalho a sociedade se
desenvolveu economicamente fazendo com que houvesse uma ligação com o
Capitalismo.

Os holandeses, os escoceses e os americanos ganharam, então, a fama de serem sovinas,


pouco generosas, interessados apenas no dinheiro. Estas características são na vida
moderna quase um dado adquirido em qualquer cultura, mas nos tempos da Reforma
Protestante, o calvinismo teria instituído uma nova e revolucionária forma de revelação
com a riqueza.

Ocorre que o uso das ideias calvinistas para alavancar da sociedade capitalista é
equivocadamente relacionado as ideias capitalistas intrínsecas ao calvinismo. Calvino
em sua obra afirma que a riqueza não tem razão de ser se não para ajudar aos que
necessitam, e critica a avareza ao dize que o fruto do trabalho só é digno se útil ao
próximo:

“Da mão de Deus tens tu o que possuis. Tu porém, deverias usar de humanidade para com
aqueles que padecem necessidades. És rico? Isso não é para tem bel prazer. Deve a caridade
90

faltar por isso? Deve ela diminuir? Não está ela acima de todas as questões do mundo? Não
é ela o vínculo da perfeição?”

“Condena o profeta a estes ladrões e assaltantes que lhe parecia deterem o poder de oprimir
a gente pobre e o pequeno trabalhador, uma vez que eram eles que tinham grande
abundância de trigo e grãos.... e o mesmo como se cortar sem a garganta dos pobres,
quando os fazem assim sofre fome.”

Mas o calvinismo se espalhou pelos países que estavam passando pelo processo da
Expansão Comercial. Entre eles os países eram: França, Holanda, Inglaterra e
Escócia. Isto atraíra vários comerciantes e banqueiros.

6 – Demografia

Um relatório de 2011 do Pew Forum On Religius e Vida Pública estima que os


membros de Igrejas Reformadas e Presbiterianas (dois maiores ramos do Calvinismo)
representam 7% dos cerca de 801 milhões de protestantes no mundo, ou cerca de 56
milhões de pessoas. embora, a fé reformada amplamente definido é muito omaior, uma
vez que, constitui congregacionais (0,5%), a maioria das Igrejas Unidas (Sindicatos de
diferentes denominações), (7,2%) e, provavelmente, algumas das outras denominações
protestantes (38,2%). Todos as três categorias distintas de Presbiterianos Reformados
(7%) neste relatório.

A família reformada de Igrejas é uma das maiores denominações cristãs. De acordo com
adherents, com os reformados/presbiterianos/congregacionais/igrejas Unidas
representam 75 milhões de crentes no mundo.

7 – Denominações Calvinistas

O calvinismo é uma doutrina de diversas denominações protestantes, dentre elas


destacamos:

a) Igreja Cristã de Nova Vida;


b) Igreja Reformada Suíça (religião oficial da maioria dos Cantões da Suíça;
c) Igreja Reformada Neerlandesa e Protestante Evangélica Holandesa recentemente
unificada, não é mais a religião oficial dos países baixo;
d) Igreja Reformada Francesa – a Igreja dos Huguenotes;
e) Igreja Reformada Hungara;
f) Igreja da Escócia;
g) Igreja Presbiteriana do Brasil;
h) Igreja Presbiteriana Unida do Brasil;
i) Igreja Presbiteriana Independente do Brasil;
j) Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil;
91

k) Igreja Presbiteriana da Reforma no Brasil;


l) Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal;
m) Igreja Congregacional – concentrada na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos,
hoje parte da Igreja Unida de Cristo;
n) Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil;
o) União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil;
p) Igreja Anglicana Reformada no Brasil.

8 – Calvinismo no Brasil

A presença do Calvinismo no Brasil remonta ao século XVI. Ministros religiosos,


enviados a partir da recomendação do próprio João Calvino, chegaram ao país durante
a tentativa de colonização francesa conhecida como França Antartica. No século
seguinte, durante a invasão Holandesa, uma Igreja Reformada chegou a ser organizada
(com vários presbíteros) no Nordeste brasileiro. Por fim, a partir do século XIX, os
calvinistas instalaram-se definitivamente no território brasileiro, seja por meio da
imigração européia (e estadunidense), seja por meio da atuação missionária.

Atualmente, os calvinistas somam mais de um milhão de fiéis em todo Brasil


(considerando, nesta soma, os membros de toas as denominações de origem calvinistas
do país). Seu impacto pode ser observado não apenas no aspecto puramente religiosos,
mas também no campo educacional, com suas várias escolas e faculdades (como a
Faculdade de Gammon, FTIPI (Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana
Independente e a Universidade Mackenzie)).

8.1 – Calvinismo na Invasão Francesa

a) França Antártica

A França Antártica foi uma tentativa de colonização francesa no território brasileiro (na
região do atual estado do Rio de Janeiro). Empreendido pelo vice-almirante Nicolas
Durand Villegaignon, o projeto iniciou-se com a chegada das naus francesas em 1555 e
durou até a expulsão definitiva em 1567. “Esse empreendimento contou com o apoio do
almirante Gaspar II de Coligny (faleceu em 24 Ago 1572), influente estadista e futuro
líder dos calvinistas franceses, os huguenotes”.

Em dado momento, em virtude de problemas morais e religiosos na tropa, Villegaignon


escreveu cartas a Gaspar II de Coligny e ao reformador francês João Calvino “para que
enviassem profissionais e religiosos para a nova colônia francesa”. Calvino, por meio da
Igreja Reformada de Genebra, respondeu afirmativamente, enviando um grupo de
calvinistas franceses (conhecidos como huguenotes) sob a liderança dos pastores Pierre
Richier e Guilherme Chartier.
92

Villegaignon encaminha outra carta então, agradecendo o pronto atendimento: “acredito


que não seja possível exprimir com palavras quanto me alegram suas cartas e os irmãos
que com elas vieram”.

A expedição, com a presença dos huguenotes, chegou à Baia da Guanabara em 7 de


março de 1557. Três dias depois, em 10 de março, foi realizado o primeiro culto
protestante nas Américas, oficializado pelo Rev. Pierre Richier. No domingo, 21 de
março, houve a primeira celebração da “Ceia do Senhor”, sob-rito calvinista.

Havia cultos em todos os dias da semana. Aos domingos, especialmente, as celebrações


acontecia pela manhã e à tarde. Em outros momentos da semana, havia reuniões de
oração. Esta quantidade de serviços religiosos aponta para a importância da delegação
calvinista em meio à tropa.

Conforme se estruturava o serviço religioso no Forte Coligny, os pastores huguenotes se


sentiam à vontade para exercer um trabalho missionário, alcançando os índios do
continente. “Realizaram várias visitas às Tabas litorâneas dos índios Tamoios em
cotina, ocarantim, entre outros. Os missionários, muitas vezes, permaneciam semanas
inteiras percorrendo os aldeamentos e lhes falando do cristianismo por meio de
intérpretes”.

Tanto nas solicitações encaminhadas a Coligny e Calvino quanto na própria recepção


aos huguenotes, às reações de Villegaignon sempre foram às positivas possíveis.
Segundo o colono Jean de Léry, testemunha ocular, ao chegarem os huguenotes,
Villegaignon “os recebeu todo risonho, abraçando a todos”. Quando da primeira
celebração eucarísticas, ele foi o primeiro a comungar, confessando, assim, diante de
todos, a sua fé reformada. Osvaldo Rack apresenta uma viva descrição, com base no
texto de Léry, da participação de Villegaignon num dos cultos:

Este espírito de paz e tolerância, no entanto, não durou muito. Em virtude de questões
teológicas (que reproduziam as guerras religiosas que grassavam na Europa),
Villegaignon passou a perseguir os colonos huguenotes. Um personagem importante
desta mudança de atitude foi o ex-frade dominicano Jean de Cointac. Para ele “a
participação sacramental da ceia não devia obrigar a pessoa a ser cristã de confissão
calvinista e, por outro lado, dizia ele que o sacramento do batismo devia seguir o rito
católico romano”. Grupos de opiniões passaram, então, a se confrontar. Villegaignon
deixara de lado suas novas convicções calvinistas, pois numa carta à Igreja Reformada
de Genebra, assim se refere às doutrinas dos huguenotes: “esses delírios [a doutrina de
Charlier] nos agitavam turbos enormes e quanto mais cuidadosamente se discutia, mais
aparecia a vacuidade da doutrina”. A consequência foi primeira, a proibição dos cultos
dos Calvinistas, depois suas reuniões de oração e, por fim, a sua expulsão do Forte
Coligny.

Em virtude da expulsão, os calvinistas franceses entraram em contato direto com os


Tupinambás. Entre os expulsos estava o sapateiro Jean Léry, que, mais tarde,
93

descreveria suas experiências em seu livro história d’um Voyage faict em la terre du
Brésil (1578).

“Ajoelhado num coxim de veludo, o governador do Forte, em voz alta,


proferiu longas orações, rendendo graças a Deus por ter sido chamado dos
negócios mundanos, entre os quais vivia por apetite e ambição, para a obra
de preparar um lugar e morada pacifica para aqueles que estavam privados
de invocar publicamente o nome de Deus em espírito e verdade. Rogou a
Deus para que o sítio de Coligny e país da França Antártica se tornasse um
inexpugnável refúgio daqueles que, com boa consciência e sem hipocrisia,
ali se abrigasse para se dedicar à exaltação da glória de Deus. Ainda
suplicou a Deus o afastamento do espírito de vingança e que ficasse livre
dos apóstolos da religião.”

Com a passagem de um navio que seguiria para a França (o Les Jacques), os colonos
expulsos resolveram retornar a seu país. “mesmo não se opondo ao embarque,
Villegaignon enviou instruções secretas para serem entregues ao primeiro juiz em
França, dizendo para que se executassem os huguenotes como traidores e hereges”.

Como os colonos reformados recusaram-se a abjurar suas convicções religiosas,


Villegaignon os condenou a morte. “Bourdel, Verneuil e Bourdon foram estrangulados
e lançados ao mar. André Lafon, sendo o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada
sob a condição de que não divulgasse as suas ideias religiosas.” O único que conseguiu
fugir foi Jacques Le Balleur.

No entanto, estas instruções acabaram não servindo diretamente para alguns colonos,
pois ao perceber o risco de naufrágio, cinco deles – Jean du Bourdel, Martthieu
Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques Le Bolleur – voltaram à terra firme.
Villegaignon os aprisionou imediatamente e exigiu uma resposta, por escrito, em doze
horas, uma série de questionamento teológico. Os huguenotes presos ofereceram a
resposta por meio da redação de um documento conhecido como Confissão de Fé da
Guanabara.

Le Baleur chegou a São Vicente, onde pregou a fé cristã a partir do ponto de vista
calvinista. Foi detido, por insistência dos jesuítas, e levado a Salvador, então capital da
Colônia, ficando preso entre os anos de 1559 e 1567. Por fim, foi levado para o recém-
fundado Rio de Janeiro e, sob as ordens do governador Geral Mem de Sá, condenado à
forca. O carrasco, no entanto, recusou-se a executá-lo. Diante disso, o Padre Jesuíta José
de Anchieta e teria estrangulado com suas próprias mãos.

b) França Equinocial

A França Equinocial foi o esforço francês de colonização no que hoje é o estado


brasileiro do Maranhão. Muito curto, o empreendimento se deu entre 1612 e 1615
(apesar de novas tentativas de invasão francesa nos anos seguintes). Pode-se dizer que a
94

“França Equinocial fora um empreendimento Católico que teve como principal chefe
um protestante: La Ravardière”.

De maneira semelhante ao que havia acontecido na tentativa anterior, também na França


Equinocial “os huguenotes participaram ativamente na evangelização dos índios locais”.
No entanto, não grandes registros desta atividade calvinista no nordeste brasileiro.
Segundo historiadores eclesiásticos, após o fim da invasão francesa, alguns dos
huguenotes que permaneceram se converteram à Igreja Católica Romana.

9 – Calvinismo no Brasil Holandês

A colonização holandesa no Nordeste brasileiro se concentrou na primeira metade do


século XVII (primeira fase, entre 1624 e 1625; segunda fase, entre 1630 e 1654). A
segunda fase desta colonização, marcadamente nas cidades de Olinda e Recife, teve
presença significativa da Igreja Reformada Neerlandesa.

9.1- Primeira Fase (1624-25)

Em 1621, os holandeses criaram a companhia das Índias Ocidentais, com o objetivo de


conquistar e colonizar territórios economicamente lucrativos nas Américas. Com
consequências disto, uma expedição foi enviada à Bahia, em 1624.

Como os holandeses eram calvinistas, a Igreja Reformada se estabeleceu junto à


colônia. O primeiro culto reformado na cidade de Salvador aconteceu em 11 de maio de
1624 e a vida da Igreja Reformada da Bahia foi efêmera, existindo por apenas um ano.
Com a expansão dos holandeses, ainda houve um breve estabelecimento na Paraíba. O
estudioso holandês (e professor no Brasil) reverendo Frans Leonardo Schalkwijk
oferece um relato sobre o início e o fim deste estabelecimento: “Quando o reforço da
frota holandesa chegou à Bahia, o seu comandante Baudewvin Hendricksz percebeu que
havia chegado tarde demais, e regressou ao Norte. Para reabastecer, aportaram na Bahia
da Traição no Norte da Paraíba (...). Ali os holandeses ficaram durante seis semanas,
tratando bem os índios locais, que se tornaram seus amigos. Quando estes, porém,
notaram que os navios se preparavam para deixar o Brasil, procuraram embarcar
também, temendo a vingança portuguesa. Apenas seis jovens conseguiram embarcar
para a Holanda. Ali aprenderam falar holandês, foram alfabetizados, passaram nas ruas
de Leiden, onde morava o diretor De Laet, e se tornaram cristãos reformados. Um deles
era o índio Pedro Poti, que posteriormente se tornaria importante no trabalho
missionário da Igreja Reformada no Nordeste brasileiro”.

9.2 – Segunda Fase (1630-54)

A segunda fase das invasões holandesas foi uma colonização em todos os sentidos do
termo. Espalhando-se por grande parte do território nordestino, o Cristianismo
calvinista era a religião oficial durante o domínio holandês. No entanto, havia liberdade
95

religiosa (especialmente sob o governo de Mauricio de Nassau) para os católicos e


judeus.

O primeiro culto reformado nas imediações de Pernambuco foi realizado a bordo do


Navio do almirante Hendrick, em 14 de fevereiro de 1630. O culto foi oficializado pelo
Rev. Johannes Boers, e marca o reino das atividades da Igreja Reformada em território
Brasileiro. A força da Igreja Reformada no Brasil se demonstra em sua organização no
período. “Foram criadas 22 igrejas locais e congregações, dois presbitérios
(Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um Sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-46)”. Mais
de cinquenta pastores (também chamados de “predicantes”) calvinistas serviram nas
paróquias organizadas.

9.3 – Organização

As Igrejas Reformadas seguiam o modelo de organização clássico calvinista. Cada


igreja local era administrada por um “Conselho” ou “Consistório”, composto por
pastores e presbíteros eleitos pela paróquia. Algumas igrejas eram consideradas
congregações ou igrejas em formação. “além das igrejas locais dirigidas” pelos seus
respectivos “Consistórios” organizaram-se a partir de 1636 uma convenção, ‘classe’ ou
“presbitério” reunindo todas as igrejas no território ocupado, agrupando-as a nível
nacional, com o nome oficial de “classe do Brasil da Igreja Cristã Reformada”.

O presbitério e a estrutura mais importante da eclesiologia calvinista, pois é o elo entre a


Igreja Nacional e as Igrejas locais. Seis anos depois da criação do Presbitério do Brasil,
com o crescimento do número de Igrejas, decidiu-se desdobrar o Concílio, fazendo
nascer duas novas classes; o presbitério de Pernambuco e o da Paraíba, que juntos,
formaram o Sínodo do Brasil (o Sínodo é o órgão eclesial superior ao Presbitério,
servindo como Concílio de apelação).

As igrejas na Holanda não concordaram com o projeto de criação do Sínodo Brasileiro.


No entanto, “apesar da desaprovação da Holanda, o Sínodo do Brasil funcionou durante
quatro anos, e muitas vezes a contento”.

(*) Ata da Reunião do Presbitério


Reformada de Pernambuco, de Dezembro de
1636.

9.4 – Templos e Liturgia

Quando chegaram ao Brasil, os calvinistas holandeses não se preocuparam com a


construção de novos templos, pois eles poderiam usar os templos católico-romanos que
já existiam. No entanto, a “exemplo da Holanda, removeremos as imagens, não as
tolerando, em acordo com o catecismo de Heidelberg. Semelhantemente se desfizeram
do altar e dos paramentos sacerdotais. Em seguida, colocaram no centro do Santuário a
Bíblia em um púlpito alto, e logo abaixo a Pia Batismal e a Mesa para a Santa Ceia”.
96

Os cultos eram simples, segundo o modelo litúrgico reformado. Dois serviços eram
realizados nos domingos: um culto às nove horas da manhã e uma celebração de
catequese no período da tarde. Frans Schaldwijk também apresenta um resumo da
liturgia calvinista no Brasil Holondês:

“O pastor iniciava o culto com o ‘votum’: “O nosso socorro vem do Senhor que fez o
céu e a terra”, saudando em seguida a igreja com “graça e paz a vós outros por parte de
Deus Pai e do nosso Senhor Jesus Cristo na Comunhão do Espírito Santo”. Em seguida
a igreja cantava alguns salmos de Davi e confessava seus pecados numa oração dirigida
pelo pastor. Logo após, a promessa de ‘perdão’, vinha a leitura dos dez mandamentos,
como norma para a vida de gratidão. Em seguida a outro cântico congregacional de um
salmo, vinha a pregação, que durava quase uma hora. (...). O culto se encerrava com
cântico, oração, benção apostólica e uma coleta para a diaconia”.

A celebração eucarística não era dominical. A exemplo do que acontecia na Igreja


Cristã Reformada da Holanda, a Santa Ceia só era ministrada quatro vezes ao ano, o que
demandava uma série de cuidades especiais, com visitas aos fiéis e preparação espiritual
dos ministros.

10 – Missão Junto Aos Índios

Segundo Schalkwijk, pode-se dividir a história da Missão Reformada junto aos ídios do
Nordeste do Brasil em três etapas: a preparação (1630-36), a expansão (1637-44) e a
conservação (1645-54).

Alguns dos que haviam embarcado para a Holanda após o fim da invasão na Bahia
retornaram para servirem como intérpretes dos missionários juntos aos nativos do
Nordeste Brasileiros. Passado cinco anos na Europa, e após aprenderem a ler e escrever,
estes índios (entre eles, Pedro Poti) foram os primeiros missionários protestantes
Brasileiros.

O trabalho missionário envolvia a evangelização propriamente dita e a educação dos


indígenas (chamados pelos holandeses de “brasilianos). Uma escola foi organizada
próximo à aldeia de Nassau e dois “basilianos”, educados pelos holandeses, tornaram-se
professores: João Gonsalves e Melchior Francisco. O próprio governo holandês pagava
o salário de 12 (doze) florins mensais aos professores-índios, o correspondente ao soldo
de um cabo do exército.

Com a expulsão definitiva dos holandeses, no entanto, a influência calvinista


desapareceu aos poucos. O padre Antonio Vieira, numa visita à Serra da Ibiapaba,
qualificou a região pejorativamente como “a Genebra de todos os Sertões do Brasil”. “A
influência do ensino religioso havia sido mais profunda do que se imaginava à primeira
vista. Os padres ficaram atônitos diante do traje fino dos indígenas, da arte de ler e
escrever e especialmente do lado religioso, porque “muitos deles eram tão calvinistas e
luteranos como se houvessem nascido na Inglaterra ou Alemanha”, considerando a
97

Igreja romana uma “igreja de Moanga” uma igreja falsa. Poucos anos depois, entretanto,
não restava nada da Genebra Brasileira.

11 – Protestantismo de Imigração

Com o decreto de abertura dos Portos, promulgado por Dom João VI em 1808, um
número grande de estrangeiros afluiu ao Brasil. Dentre estes, muitos eram protestantes
(em especial, os ingleses, anglianos em sua maioria). Outros tratados (como o de
Aliança e Amizade e o de comércio de navegação) traziam artigos que concediam
liberdade religiosa aos estrangeiros que aqui chegassem.

Além disso, após a independencia, a liberdade religosa passou a ser preconceito


constitucional. Assim rezava o artigo 5°. Da Constituição de 1824.

“ A religião Católica apostólica Romana continuará a ser a religião do Império.


Todas as outras religiões serão permitda com seu culto doméstico ou particular, em
casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.

Somando-se estes fatores ao incentivo real à uma geração europeia, houve uma nova
chegada – depois de um século e meio – de protestantes em solo brasileiro. A esta
influência de protestantes, seja em razão do comércio, seja por colonização imigratória,
chama-se protestantismo de imigração.

Em junho de 1827, foi fundada a “Comunidade Protestante Alemã-Francesa do Rio de


Janeiro”, por iniciativa do Consul da Prussia Wilhelm Von Theremin. Esta paróquia
era composta por imigrantes luteranos e calvinista, sendo seu primeiro pastor o Rev.
Ludwig Neumann. No entanto, com o passar do tempo, a comunidade tornou-se
totalmente luterana.

A presença calvinista pode ser vista, também, no serviço de capelania dos marinheiros
estadunidenses ancorados no Brasil. Em 1851 e 1854, este posto foi ocupado pelo pastor
presbiteriano Rev. James Cooley Fetcher. Mesmo após abandonado o posto de
capelão, Fletcher continuou no Brasil, ocupando posição importante no processo de
inserção do protestantismo no país.

11.1- Missão Calvinista no Século XIX

Pelas mesmas razões aludidas acima (que o resultaram na tolerância ao protestantismo


em território Brasileiro), vários missionários protestantes chegaram ao Brasil com o
objetivo expresso de evangelizar os brasileiros, numa tentativa de organizar um
protestantismo genuinamente nacional. A este movimento missionário protestante com
o objetivo de organizar igrejas compostas por fiéis brasileiros chama-se Protestantismo
de Missão.

Quase todos os primeiros missionários protestantes no Brasil eram calvinistas. O citado


Rev. James Fletcher, por exemplo, teria ficado “obcecado por uma única ideia:
98

converter o Brasil ao protestantismo e não ao progresso”. Apesar disso, Fletcher não


chegou a organizar uma igreja calvinista no Brasil e nem batizar nenhum brasileiro.

O primeiro missionário calvinista a organizar uma igreja formada por brasileiros foi o
médio e pastor escocês Ver. Robert Reid Kalley. Ele já havia servido como missionário
na Ilha da Madeira entre 1838 e 1846, aprendendo, por conta disso, a língua portuguesa.
Kalley e sua esposa Sarah chegaram ao Brasil em maio de 1855 e, no mesmo ano,
organizaram a primeira escola dominical em território Brasileiro. “Em 11 de julho de
1858, Kalley fundou a Igreja Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863),
cujo primeiro membro brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade”. A Igreja Evangélica
Fluminense (uma Igreja Congregacional, de doutrina calvinista) é a primeira Igreja
Protestante, fruto do trabalho missionário, brasileiro.

Muitas reuniões foram realizadas, também, em Petrópolis. Em virtude da frequência de


brasileiros a tais reuniões, Kalley chegou a ser intimado à Delegacia e proibido de
exercer suas atividades, como médico. O missionário encaminhou uma carta de defesa à
representação Diplomática Britânica. “Junto à sua carta de Contestação, Kalley
apresentou a Stuart a opinião legal de três, dos mais notáveis jurisconsultos brasileiros
da época: Caetano Alberto Soares, José Tomás Nabuco de Araújo e Urbano
Sabrico Pessoa de Melo”. Tais respostas apontavam para uma nova interpretação da
Constituição, permitindo-se, então, que é a fé protestante fosse pregada aos brasileiros.
O relacionamento do casal Kalley com o Imperador Dom Pedro II (que visitou sua casa
algumas vezes) serviu também, para dar credibilidade ao seu trabalho.

O calvinismo só se estabeleceu oficialmente, no entanto, com a chegada dos


missionários presbiterianos enviados pelo Presbiteriam Church in the United States of
America. O trabalho missionário presbiteriano começou com a chegada do Rev. Ashbel
Green Simonton ao Brasil, em 12 de agosto de 1859.

Estabelecendo-se no Rio de Janeiro, Simonton inicia os seus trabalhos como capelão de


marinheiros ingleses ancorados no Brasil. Após aprender a língua portuguesa, iniciou
seus cultos com a presença de portugueses e brasileiros. O resultado disso foi a
organização em 12 de janeiro de 1862, da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (a
primeira Igreja Presbiteriana do Brasil). O próprio Simonton relata a organização desta
Igreja, pela recepção de seus dois primeiros membros.

“No sábado, celebramos a Santa Ceia, e recebi por profissão de fé a Henry E. Milford
e a Cardoso Camilo de Jesus. Foi uma obra de gozo íntimo. Antes mesmo do que eu
esperava, Deus me deu os primeiros frutos de nossa missão. Sinto-me grato, mas julgo
que devia estar mais ainda. O culto de comunhão foi dirigido por Schneider e por mim,
em inglês e português. O Sr. Cardoso, o seu próprio pedido e de acordo com o que nós
mesmos, depois de muito pensar e hesitar tinha achado melhor, foi batizado. Seu exame
foi julgado mais do que satisfatório por Schneider e por mim, e não nos deixou dúvida
com respeito à realidade de sua conversão”.
99

Além disso, é de Simonton, também, a iniciativa de criar o jornal imprensa evangélica


(1864), primeiro periódico protestante de língua portuguesa a circular no Brasil.
Como consequência de sua missão, organiza-se o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e
procede-se à ordenação do primeiro pastor protestante latino americano, o brasileiro
Jose Manoel da Conceição.

Os nomes de dois outros missionários presbiterianos estão vinculados à presença


calvinistas no estado de São Paulo. São eles: o Rev. Alexander Latimer Blackford e o
Rev. George Whitehill Chamberlain. Este último foi o criador da Escola Americana,
em 1870, dando origem ao que é hoje a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Com o
trabalho destes missionários, o calvinismo implantou-se definitivamente no país.

12 – Indigenização

O calvinismo interiorizou-se, com pregações de congregacionais no Nordeste, na Zona


da Mata Mineira e Região Serrana Fluminense. O presbiterianismo também fixou
missões em áreas rurais do Sudeste, em cidades como Bratas, muito pela ação de
missionários leigos brasileiros e das viagens do padre José Manoel da Conceição.

Na virada do século XX, os conflitos inerentes à adaptação do calvinismo ao Brasil


levaram ao cisma entre os presbiterianos formando a Igreja Presbiteriana Independente.

A existência de uma corrente iluminista, na expressão do historiador Emile G. Leonard,


levou a várias cisões no calvinismo brasileiro por manifestações carismáticas. A
primeira foi a Igreja Evangélica Brasileira, depois veio o pentecostalismo através da
Congregação Cristã no Brasil, mais tarde os Movimentos de Renovação com a Igreja
Presbiteriana Renovada e a Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil e
Movimento de Avivamento como na Igreja Cristã Maranata.

22 – CAPITALISMO

1 – Introdução:

É um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são propriedade


privada e com fins lucrativos. Decisões sobre ofertas, demandas, preços, distribuições e
investimentos que são feitos pelo governo e os lucros são distribuídos para os
proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas
empresas.

O capitalismo é dominante no mundo ocidental desde o final do Feudalismo. O


capitalismo é o sistema socioeconômico baseado no reconhecimento dos direitos
individuais, em que toda propriedade é privada e o governo existe para banir a iniciação
100

de violência humana. Em uma sociedade capitalista, o governo tem três órgãos: a


polícia, o exército e as cortes de lei.

Na lógica do capitalista está o aumento de rendimentos. Estes tanto podem ser


concentrados como distribuídos, sem que isso nada tenha a ver com a essência do
sistema. Concentração e distribuição dos rendimentos capitalistas dependem muito mais
das condições particulares de cada sociedade.

O capitalismo só pode funcionar quando há meios tecnológicos e sociais para garantir o


consumo e acumular capitais. Quando assim sucede, tem conservado e até aumenta a
capacidade econômica de produzir riqueza.

Dentro do capitalismo existem diversos tipos, como capitalismo financeiro, que


corresponde a um tipo de economia capitalista em que o grande comércio e a grande
indústria são controlados pelo poderio econômico dos bancos comerciais e outras
instituições financeiras.

a) Capitalismo Industrial e Informacional:

Juntamente com o capitalismo financeiro, surgiu o capitalismo industrial, que é quando


as empresas evoluíram de manufatureiras para mecanizadas. Outro tipo foi o
capitalismo informacional, que tem a tecnologia de informação como o paradigma das
mudanças sociais que reestruturaram o modo de produção capitalista.

b) Capitalismo e Globalização:

Um dos fenômenos do capitalismo é a globalização, que é um dos processos de


aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, impulsionado pelo
barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do
século XX. A globalização é gerada pela necessidade da dinâmica do capitalismo de
formar uma ideia global que permita maiores mercados para os países centrais.

2 – Expansão do Capitalismo:

Sabemos que, de acordo com a periodização tradicional, considera-se a Revolução


Francesa (1789-1799) o marco inicial da época contemporânea. Junto com ela,
propagram-se os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Conforme pesquisa feita anteriormente, esse movimento político-social foi em grande


parte liderado por grupos burgueses que, após obterem certa ascensão econômica,
reivindicaram participação no poder político e na construção de um novo modelo de
sociedade. No plano econômico, a partir de meados do século XVIII, o capitalismo foi
se consolidando em diversos países da Europa ocidental e, mais tarde, em outras regiões
do mundo.

a) Progresso Versus Desumanização:


101

Esse processo de transformações, ao qual está vinculada a Revolução Industrial,


atingiu amplos setores da economia – produção de manufaturas, agricultura, comércio,
transportes etc. – com grande impacto na sociedade. Configurou-se, assim, um quadro
geral que pode ser sintetizado em duas tendências contraditórias.

 Avanço técnico e científico.

Como tendência geral, as antigas oficinas dos artesãos foram sendo substituídas pelas
fábricas, e novas máquinas tomaram o lugar de muitas ferramentas. Em lugar das
tradicionais fontes de energia – como água, vento e força muscular – passou-se a utilizar
também o carvão, a eletricidade e o petróleo.

Todas essas inovações tecnológicas somaram-se muitas outras, ao longo do século XIX,
como a utilização em larga escala do aço, a invenção da locomotiva elétrica, do motor a
gasolina, do automóvel, do motor a diesel, do avião, do telégrafo, do telefone, da
fotografia, do cinema e do rádio etc. o impacto dessas transformações ainda ecoa em
nossos dias.

Esses avanços reforçaram a confiança no poder da razão, gerada nos séculos anteriores,
levando cada vez mais ao entusiasmo com a ideia de progresso da humanidade e à
apologia da ciência como principal condutora no caminho para um mundo melhor.

 Exploração do trabalho humano.

Paralelamente, a expansão e a consolidação do capitalismo foi um processo que trouxe


consigo novas formas de exploração do trabalho humano. Com isso, alterou-se o
cenário das questões sociais, pois – além dos anseios próprios das burguesias – as
repercusões da Revolução Francesa estimulvam as aspirações dos trabalhadores
urbanos e rurais por melhores condições de vida. Em várias sociedades ocidentais, os
ideiais de liberdade, igualdade e fraternidade conduziam à esperança de que o progresso
beneficiaria a todos. Mas não era bem assim o que estava acontecendo. O operariado
vivia de forma miserável, sem garantias e direitos, sem liberdades.

A exploração do trabalho no contexto do capitalismo industrial gerou uma série de


conflitos entre dois grandes grupos sociais e seus diversos segmentos: de um lado, a
burguesia empresarial (da indústria, do comércio, das finanças etc.); de outro, os
trabalhadores das cidades e dos campos.

3 – Conceito de “Modo de Produção” em Karl Marx:

Por “modo de produção”, devemos entender a maneira como se origina o processo pelo
qual o homem age sobre a natureza material para satisfazer as suas necessidades.
102

“Produzir é (...) trabalhar”, pondo “em movimento forças” que ajam sobre a natureza.
Estas forças variam com a história e com a sociedade. O trabalho é assim, não só “um
processo (...) entre um homem e a natureza”, mas “supõe uma força de sociedade”
realizando-se em certas “condições sociais”, as “relações sociais de produção”:

 Relações de Produção: (Capitalista)

Ao modo de produção capitalista corresponde essencialmente uma relação social “entre


duas classes”. Destas, uma [a burguesia], por ter o “monopólio dos meios de produção e
do dinheiro”, explora a outra [a classe trabalhadora], que não é proprietária de nada,
exceto a sua “força de trabalho” que se vê forçada a vender. O “objetivo da produção” é
aqui o objetivo da burguesia: a criação de mais-valia para a acumulação privada de
capital, não satisfação das necessidades da maioria dos membros da sociedade.

Segundo Karl Marx, “...na produção social da sua vida, os homens entram em
determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção
que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças
produtivas materiais”.

Quaisquer que elas sejam, as relações de produção assumem três funções seguintes:

 Determinar a forma social do acesso às fontes e ao controle dos meios de


produção;
 Redistribuir a força de trabalho social entre os diversos processos de trabalho
que produzem a vida material organizam e descrevem esse processo;
 Determinar a forma social de divisão, redistribuição dos produtos do trabalho
individual e coletiva e, por essa era, as formas de circulação ou não circulação
desses produtos.

4 – Meios de Produção:

 Os meios de trabalho incluem os “instrumentos de produção” (“máquinas,


ferramentas”, as instalações (edifícios, armazéns, silos etc.), as fontes de energia,
utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de
transportes).

 Mais-valia – Marx chamou de mais-valia a diferença entre o valor adicionado


pelos trabalhadores (incorporado às mercadorias produzidas) e o salário que
recebem.
A mais-valia definida desta maneira é em tudo semelhante ao trabalho gratuito
que escravos ou servos entregavam a seus senhores. É uma forma disfarçada de
transferência de um excedente para a classe dominante.
103

A mais-valia é a base para os lucros, os juros das aplicações financeiras e para


todas as formas de rendimentos vinculados à propriedade. A apropriação da
mais-valia é o fundamento da divisão das classes sociais no capitalismo.

5 – Alienação:

O homem através da alienação torna-se estranho a ele mesmo; não se reconhece a si


mesmo; o trabalho o tornou estranho; aquilo que produz lhe é estranho; a atividade
tornou-se massificante, penosa, desgostosa por que ela tornou-se exclusivamente um
meio de subsistência. A alienação, segundo Marx, “é situação resultante dos fatores
materiais dominantes da sociedade, e por ele caracterizadas, sobretudo no setor
capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo a produzir coisas que
imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem as produziu, para se
transformarem indistintamente em mercadores”.

6 – A Crítica de Marx ao Sistema Capitalista:

O capitalismo, segundo Marx, se configurou plenamente a partir do século XVIII


(apesar da sua origem ser anterior), quando ocorre a Revolução Industrial. Iniciada na
Inglaterra, dali se propagou para outros países. Sua essência era a busca do capital, pelo
qual a burguesia, a classe social dominante concentra o poder. Nessa busca, esse sistema
econômico não vês nenhum impedimento político, moral ou ético para expropriar o
trabalho de todos os atributos humanos.

Marx afirma que no processo de produção capitalista, o homem se aliena, tornando-se


mera peça de engrenagem produtiva. Ele não é mais donos dos seus instrumentos de
trabalho, o ritmo de produção não é imposto por ele e tampouco domina o processo
produtivo, ou seja, a divisão do trabalho. A principal consequência desse processo é que
o trabalhador não se reconhece no produto que fez, e assim perde a sua identidade
enquanto sujeito.

A alienação do produto do trabalho conduz à alienação do homem. As relações


interpessoais em geral passam a serem medidas pelas mercadorias e pelo dinheiro, até
os próprios proletários adquirem caráter de mercadoria, pelo fato de sua força de
trabalho ser comercializada no mercado. O trabalhador torna-se um ser privado de sua
essência humana.

Entretanto, ao contrário de uma visão fatalista da história, em que essa situação ser
repetiria initerruptamente, Marx faz uso do Materialismo Dialético para demonstrar
como se daria a ruptura da ordem capitalista. O trabalhador, mesmo vivendo
individualmente essa dominação, enquanto integrante de uma classe social, poderia
tomar consciência dessa situação de opressão.
104

A parte daí se mobiliza enquanto classe para promover a sua verdadeira libertação,
através de uma revolução. Portanto, era da própria situação de exploração que nasceria a
força de classe operária. Para além da alienação econômica, há também a alienação
religiosa.

Influenciado por Feuerbach, Marx afirma que é preciso destruir a religião para que o
homem se recupere a si próprio, pois o único Deus do homem é o próprio homem. A
alienação religiosa faz com que o ser humano deixe de lutar pela melhoria da sua
condição social, acreditando estar em deus à justificativa para a desigualdade do mundo
capitalista. Assim sendo, é Deus quem decide quem é pobre ou rico, esvaziando de
sentido de luta contra a desigualdade.

Marx mencionou ainda a alienação filosófica, que se expressa na forma de encarar a


filosofia como contemplação da realidade, que o filósofo designa por metafísica. Mas,
para ele, a principal tarefa de toda e qualquer pessoa e, portanto, também dos filósofos,
é transformar o mundo de forma a pôr fim à alienação social e política, ou seja, agir
para erradicar a submissão da classe operária pelo Estado burguês.

Marx considera essa a principal das tarefas do movimento socialista, para se atingir o
comunismo; (...) comunismo com superação positiva da propriedade privada, enquanto
auto alienação do homem, ou seja, como apropriação real da essência humana por meio
de e para homem. Por isso, considera-o como regresso perfeito, consciente e dentro da
riqueza total do desenvolvimento atual do homem para si mesmo enquanto homem
social vale dizer, humano.

Comunismo é a verdadeira dissolução do antagonismo entre o homem e a natureza e


entre o homem e o homem. A verdadeira solução do conflito entre liberdade e
necessidade. Ele é o enigma decifrado da história, a verdadeira realização da essência
do homem. A própria sociedade capitalista criaria as condições para a sua
autodestruição e o surgimento da sociedade comunista, que se caracteriza com a
abolição das classes pela justiça, pois a sociedade exigira de cada indivíduo um esforço
proporcional às suas forças e o retribuirá de acordo com suas necessidades.

A partir desse momento histórico, o processo dialético continuará infinitamente, mas a


luta de classes terá continuidade na luta do ser humano contra a natureza. Outro aspecto
relevante do pensamento de Marx e o conceito de ideologia. Dentro da visão marxista, a
matéria é um dado primário que alimenta a consciência e esta última é considerado
apenas um dado secundário, pois é reflexo da matéria. Assim, as ideias que são
expressas na arte, na filosofia, na literatura e na moral estão estritamente relacionadas
ao modo de produção econômicas.

No entanto, Marx afirmou a existência de certa inversão na apreensão desse processo,


ou seja, o que muitas vezes se afirma é que são as ideias e valores que contribuem para
que as pessoas definam certa visão do mundo. Desse pressuposto decorre a afirmação
do filósofo de que a ideologia é uma falsa consciência do mundo. Revelar a ideologia
105

burguesa era equivalente a desvendar toda a lógica sobre o mundo burguês e, portanto,
contribuir para a revolução proletária.

23 – CATOLICISMO ROMANO

1 – Introdução:

A Igreja Católica afirma ser a única e verdadeira igreja de Cristo, alegando sua
existência desde o início do cristianismo, considerando inclusive se a Igreja que Jesus
Cristo fundou, tendo em Pedro, um dos seus discípulos, o seu primeiro papa.

O Catolicismo Romano pode ser encarado como uma religião tão falsa como as outras.
Infelizmente, nos últimos tempos, a Igreja Católica está usando uma estratégia que está
enganando a muitas pessoas. Trata-se do Ecumenismo que tem como principal
finalidade enredar todos os credos na teia católica e que tem sido aceito até mesmo por
alguns evangélicos despercebidos.

1.1 – Igreja Católica:

É o maior ramo do cristianismo e o mais antigo como Igreja organizada. Com sede no
Vaticano, a Igreja Católica (do grego Katholikos, universal) estrutura-se em dioceses,
dirigidas por bispos subordinados ao papa, considerado sucessor do apóstolo Pedro. O
atual papa, Francisco, é o argentino Jorge Mario Bergoglio (1936), que assume o posto
em 2013 depois da renúncia de Bento XVI.

A principal cerimônia é a missa. Seu ponto culminante é a eucaristia, um dos sete


sacramentos (ritos sagrados) da Igreja, no qual, de acordo com a crença, Jesus Cristo se
encontra presente com seu corpo, sangue, alma e divindade, na forma de pão e vinho.
Os demais sacramentos são o batismo, a crisma, a confissão, o casamento, a ordenação e
a unção dos enfermos. Os católicos reverenciam a Virgem Maria, a mais importante
intermediária entre os fiéis e seu filho, Jesus Cristo, e os santos, mediadores entre o
homem e Deus.

No Brasil, para onde foi trazida pelos colonizadores portugueses, a Igreja Católica
permanece unida ao Estado até 1890. O país tem o maior número absoluto de católicos
no mundo: 123,2 milhões, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE.

2 – Histórico:

Depois do Pentecostes, os cristãos passaram a pregar o Evangelho em larga escala.


Após grande esforço entre os judeus, por cerca de dois anos, as missões cristãs,
coadjuvadas pelos que estiveram presentes no dia de Pentecostes, passaram a
106

evangelizar os gentios com grande ardor missionário. Um exemplo disso está na própria
igreja de Antioquia que enviou a Barnabé e a Paulo.

Até aí, as igrejas eram autônomas e não tinha nenhuma forma de governo eclesiástico.
Admitiam serem guiadas e orientadas pelo Espirito Santo, o Consolador prometido por
Jesus. Respeitavam as orientações dos apóstolos e não reconheciam líder algum sobre
eles que tivesse a incumbência de representar a Cristo quer espiritualmente, quer
administrativamente, papel atribuído ao próprio Espírito Santo.

Muitas perseguições vieram de encontro aos cristãos, começando com Nero (54 a 68
A.D.), Imperador Romano, até o ano 311, quando apareceu o Édito de tolerância,
publicado por Galério, Imperador Romano no oriente, reconhecendo a insânia da
perseguição aos cristãos.

Em 323, Constantino passou a dominar todo o Império Romano, uma vez que o império
do ocidente havia caído. Esse imperador revolucionou a posição do cristianismo em
todos os aspectos. Primeiramente, proporcionou igualdade de direitos a todas as
religiões, e depois, passou a fazer ofertas valiosas ao cristianismo, construindo igrejas,
isentando-o dos impostos e até mesmo sustentando clérigos.

Podemos colocar aí, o início do Catolicismo Romano! Nessa condição, o cristianismo


veio a ser praticamente a religião oficial do império. Isso resultou da entrada de muita
gente para a igreja, somente porque era a religião apoiada pelo governo.

Os verdadeiros cristãos foram na realidade, marginalizados por não concordarem com


tal situação, formando grupos à parte que sempre marcharam paralelos com a igreja
favorecida e entremeada de pessoas que buscavam interesses políticos e sociais. Esses
cristãos, por não aceitarem tal situação, no decurso da história, eram agora perseguidos
pelos outros “cristãos” e muitos dos seus líderes eram queimados na fogueira em praça
pública, de heréticos.

2.1 – O Concílio de Nicéia:

O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor (325 AD), presidido por Constantino, bem como
os outros que lhe sucederam, eram compostos de todos os bispos, alguns nomeados pelo
Imperador, outros que se autonomeavam e outros que eram nomeados por líderes
religiosos das diversas comunidades.

Com o decorrer do tempo, o bispo de Roma passou a exercer autoridade sobre os


demais; isso é lógico, pelo fato de pertencer ele à antiga capital do mundo. A palavra
papa, que era usada para todos os bispos, passou a ser reservada para o bispo de Roma.

2.2 – O Concílio de Constantinopla:

O Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) consagrou oficialmente a designação


“católica” aplicada à igreja organizada por Constantino – “creio na Igreja una, santa,
107

católica e apostólica” – daí por diante inserida no símbolo dessa fé. A Igreja ortodoxa e
as igrejas reformadas também admitem essa qualificação.

2.3 – O Primeiro Papa:

Roma teve muitos bispos, entretanto o primeiro a sustentar e defender sua autoridade,
exercendo o direito de impor suas ordens aos bispos de toda a parte, foi Leão I (440-
461) que pode ser considerado o primeiro papa do Catolicismo Romano.

2.4 – O Paganismo Católico:

Depois de Constantino, o cristianismo passou a assimilar práticas pagãs; isso porque


muitos pagãos entraram na igreja sem conversão, passando a exercer grande influência
no culto. O culto aos santos e a veneração aos mártires e a outros homens e mulheres
famosos, passaram a ter plena aceitação. Foram criados rituais que eram um misto de
cerimônias pagãs, herdadas de diversas religiões, com as cerimônias sacerdotais do
Antigo Testamento.

Os santos passaram a ser considerados como pequenas divindades, cuja intercessão era
valiosa diante de Deus. Surgiu a veneração de relíquias e até mesmo de lugares. Antes
do ano 500 o culto da virgem Maria já estava vitorioso. O paganismo romano teve
grande influencia na formação do culto católico; daí dizer-se católico-romano.

3 – Diferenças Entre a Igreja Católica e a Igreja Evangélica:

São tantas as diferenças entre a Igreja Católica e a Igreja Evangélica, que precisaríamos
escrever alguns volumes para estabelecê-las. Apresentaremos resumidamente alguns
conceitos da fé católica, comparando-os com o conceito da fé protestante, de acordo
com a Bíblia, mostrando a falsidade dos ensinamentos católico-romanos.

3.1 – Sobre a Bíblia:

a) Igreja Católica

 Não aconselha o uso da Bíblia a todos os fiéis;

 Ensina que sua leitura é perigosa aos indoutos;

 Diz que ninguém deve atrever-se a interpretar a Bíblia de maneira contrária a


interpretação católica ou sem o consentimento dos padres;

 Aceita como canônicos (inspirados) livros que não constam do cânon hebreu;

 Venera e aceita outros escritos além da Bíblia:


108

- as tradições;
- os escritos dos “pais da igreja”;
- os ensinos da própria Igreja Católica;
- os ditames infalíveis do papa.

b) Igreja Evangélica

 Recomenda a todos a leitura da Bíblia;

 Reconhece que não se necessita sabedoria intelectual para entender as verdades


fundamentais da fé cristã;

 Aceita Deuteronômio 6.6-9;


“Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando
pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”.
Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os
teus olhos.
“E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.”

 Tem a Bíblia como única regra de fé e prática da vida cristã.

3.2 – Sobre a Igreja:

a) Igreja Católica

 Diz que é a única e verdadeira igreja e que fora dela não há salvação;
 Diz que foi fundada sobre Pedro, a rocha;
 Diz que é a única que tem os sinais da verdadeira igreja: que é santa, uma,
católica, apostólica e romana.

b) Igreja Evangélica

 Baseia-se somente na Palavra de Deus;

 Compõe-se de todos os que estão unidos em Cristo por uma fé viva nele como o
Filho de Deus e Salvador do homem, sem outros intermediários;

 Acredita-se que Jesus é o fundamento e o cabeça da Igreja;

 Crê que Jesus é o único salvador e o único mediador entre Deus e o homem;
109

 Não está disposta a aceitar as ideias católicas e nem tampouco reclama algum
título para si.

3.3 – Sobre As Doutrinas

a) Igreja Católica

 Diz ser apostólica, fundada por Pedro e prega suas doutrinas baseando-se no fato
de ter sido fundada por Pedro e outros apóstolos;
 Aceita doutrinas baseadas em interpretações daqueles que chama “pais da
igreja”, ou dos papas.

b) Igreja Evangélica

 As doutrinas cristãs e apostólicas são as da Bíblia. O que os apóstolos ensinaram


para doutrina da Igreja consta da Palavra de Deus.

4 – Doutrinas e Dogmas, que foram Criados ou modificados pela a Igreja Católica.

 A doutrina do purgatório – 600 d.C.;


 O começo do papado – 380 a 600 d.C.;
 A veneração de relíquias – 400 d.C.;
 A canonização dos santos – 1000 d.C.;
 O sacrifício da missa – 1100 d.C.;
 Os sente sacramentos – 1215 d.C.;
 A transubstanciação – 1215 d.C.;
 A confissão auricular – 1216 d.C.;
 A tradição – 1546 d.C.;
 A infalibilidade do papa – 1870 d.C.;
 A autorização dos livros apócrifos na Biblia – 1547 d.C.;
 A venda de indulgência – 1563 d.C.;
 O Credo do papa Pio IV que introduziu novas doutrinas – 1560 d.C.;
 A Imaculada conceição de Maria – 1950 d.C.;

24 – CETICISMO

1 – Definição:

A Possibilidade do Conhecimento
110

Uma das discussões em torno do problema do conhecimento diz respeito à possibilidade


ou não de o espírito humano atingir a certeza. Distinguiremos inicialmente duas
tendências principais: O Ceticismo e o Dogmatismo.

a) Ceticismo:

Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; “concedido
que algo exista e que podemos conhecer não o podemos comunicar aos outros. Essas
três proposições, atribuídas a Górgias (sec. IV, a.C.), um dos representantes da sofística,
exemplificam a postura conhecida como ceticismo.

Naquele mesmo século, outro grego chamado Pirro, acompanhando Alexandre Magno
em suas expedições de conquista, conheceu muitos povos com valores e crenças
diferentes. Como geralmente fazem os céticos, deve ter confrontado a diversidade das
convicções que animam os homens, bem como as diferentes filosofias tão
contraditórias, abstendo-se no final de abrir a qualquer certeza.

Pelo menos semelhante no gosto pelas viagens, o filósofo renascentista Montagne


retoma o tema do ceticismo. Contrapõe-se às certezas da escolástica decadente e à
intolerância de um período de lutas religiosas, analisando nos ensaios a influência de
fatores pessoais, sociais e culturais na formação das opiniões.

Skeqtikós, em grego, significa “que observa”, “que considera”. O cético tanto observa
quanto considera que conclui, nos casos mais radicais, pela impossibilidade; e nas
tendências moderadas, pela suspensão provisória de qualquer juízo.

Portanto, há gradações no ceticismo. Os céticos moderados admitem uma forma


relativa de conhecimento (relativismo), reconhecendo os limites para a apreensão da
verdade. Para outros moderados, mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não
se deve abandonar a busca. Mas para o ceticismo radical, como o “Pirronismo”, se a
certeza é impossível, é melhor renunciar ao conhecimento, o que traz como
consequência prática, a indiferença absoluta em relação a tudo.

O ceticismo radical se contradiz ao se afirmar, pois concluir que “toda certeza é


impossível e a verdade é inacessível” não deixa de ser uma certeza, e tem valor de
verdade.

25 – CINISMO

1 – Introdução:

A palavra cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”; cínico, do grego kynicos,
significa “como um cão”. Assim, o termo cinismo designa a corrente dos filósofos que
se propuseram viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto.
111

Levavam ao extremo a tese socrática de que o ser humano deve procurar conhecer a si
mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso, Diógenes de Sínope (413-327
a.C.), o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”,
ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as convenções sociais de forma
radical e procurava levar uma vida estritamente conforme os princípios que considerava
moralmente corretos.

Vivendo em uma época em que as conquistas de Alexandre promoveram o helenismo,


que mesclou culturas e populações, Diógenes também não tinha apreço pela diferença
entre grego e estrangeiro. Conta-se que, quando lhe perguntaram qual era sua cidadania,
teria respondido: “Sou cosmopolita” (palavra de origem grega que significa “cidadão do
mundo”).

Há muitas histórias de sabedoria e humor sobre Diógenes. Uma delas conta que ele
morava em um barril e que, certa vez, Alexandre Magno foi visitá-lo. De pé em frente à
“casa”, Alexandre perguntou-lhe se havia algo que ele, como imperador, poderia fazer
em seu benefício. Diógenes respondeu prontamente: “Sim, podes sair da frente do meu
sol”. Diz a lenda que Alexandre, impressionado com o desprezo do filósofo pelos bens
materiais, teria comentado: Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes”.

26 – CLASSICISMO

1 – Introdução:

É o período da escola literária do Renascimento, período compreendido entre o final do


século XV e o século XVI, quando a cultura das civilizações greco-romanas foi
revalorizada e provocou ampla revolução no pensamento do homem europeu. Trata-se
de um período caracterizado pelas pesquisas científicas e pelo interesse de cientistas e
artistas em analisarem racionalmente os mecanismos que regem o universo e
compreender, sob todos os pontos de vista, o homem e a natureza. O ideal clássico
privilegiou o racionalismo como forma de atingir a serenidade, o equilíbrio, a harmonia,
o senso de proporção, o rigor das formas e as verdades universais.

A literatura clássica sofreu profunda influencias das ideias do filosofo grego Platão, que
incentivava o homem a se afastar do universo restrito dos sentidos e tentar alcançar as
formas puras, elevadas, verdadeiras, que somente a razão poderia oferecer.

Em Portugal, o Classicismo iniciou-se em 1527, quando o poeta Sá de Miranda levou


para Portugal as sofisticadas novidades do Renascimento italiano (o soneto, o verso
decassílabo), e terminou em 1580, com a morte de D. Sebastião e o consequente
domínio espanhol sobre os lusitanos.
112

1 – Século XVI – Classicismo.

No teatro, William Shakespeare destaca-se na Inglaterra, com uma extensa e refinada


produção de dramas e comédias. Molière, na França, é reconhecido como um mestre da
comédia satírica. Salientam-se também os franceses François Rabelais e Michel de
Cervantes faz uma sátira das novelas de cavalaria e funda o romance moderno com o
fidalgo de Dom Quixote de La Mancha.

2 – autores e poetas:

O mais importante poeta do classicismo português é Luís de Camões, autor de Os


Lusíadas. Uma das principais epopeias da história, o livro segue o modelo das obras da
Antiguidade clássica para narrar a viagem de Vasco da Gama às Índias.

No território brasileiro, os primeiros registros de atividades escrita são texto


informativos sobre a “nova terra”. São crônicas como a Carta ao Rei Dom Manuel, de
Pero Vaz de Caminha, o Diálogo sobre a Conversão do Gentio, do Padre Manuel da
Nóbrega, e os tratados históricos de Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de
Sousa e Fernão Cardim.

27 – COMUNISMO

1 – Introdução:

É a Organização Política e Econômica que torna comuns os bens de produção. Segundo


Marx, o comunismo é a fase posterior ao socialismo, quando seria possível instaurar a
sociedade sem Estado.

Socialismo e Comunismo.

Pela Lei da dialética, a contradição entre a burguesia e o proletariado será superada no


socialismo e no comunismo.

O Estado burguês deve ser destruído e a propriedade privada dos meios de produção
deverá ser suprimida. Deve ser instaurada a ditadura do proletariado, para evitar a
contrarrevolução. Esta primeira fase é o socialismo, cujo lema é: “De cada um,
segundo sua capacidade, a cada um segundo seu trabalho”.

Na fase segunda, o comunismo se definirá pela supressão da luta de classes. O Estado


desaparecerá. E será suprimida a divisão do trabalho. Não haverá contrastes entre cidade
e campo, entre indústria e agricultura. O principio do comunismo é: “De cada um,
segundo sua capacidade, a cada um, segundo suas necessidades”.
113

O movimento da história continua, pois haverá luta entre a vanguarda e os elementos


que impedem as mudanças.

2 – A Revolução Russa

Na virada do século XX, a Rússia ainda era um Estado feudal. O Czar Nicolau II
governava, assim como fizeram seus ancestrais, como um monarca autocrático,
sustentando-se em uma burocracia ampla e ineficiente. Sua vontade era imposta pela
polícia do Estado. E pelo Exército e seus oficiais controlavam a educação e censuravam
a imprensa. Dissensões eram impiedosamente abafadas. A situação era bastante
favorável para uma revolução.

A maioria dos súditos russos era de camponeses pobres, controlados por latifundiários
nomeados pelo governo. Apesar da abolição da servidão (sujeição dos camponeses às
classes proprietárias) em 1861, os camponeses ligavam-se fortemente à terra por um
sistema comunal de arrendamento.

Contudo, cada vez mais camponeses migravam para as cidades, pois a Rússia iniciara
um rápido processo de industrialização na primeira década do século XX auxiliado por
capital ocidental, especialmente francês. A vida para cerca de 15 milhões de operários
era dura. A moradia e as condições de trabalho nas fábricas eram ruins, propiciando o
aparecimento de partidos radicais e revolucionários. Os dois mais importantes era o
Partido Social Revolucionário (PSR) e o Partido Social Democrata (PSD). O líder deste
último era Vladimir Slitch Ulianov, mais conhecido como Lênin (1870-1924).

3 – As Raízes da Revolução

Em 1904-5, a Rússia entrou em guerra com o Japão e foi derrotada. Antes disso, a
inquietação social já crescia nas áreas urbanas e rurais. A derrota para os japonês
precipitou a revolução. No domingo sangrento (22 de janeiro de 1905), tropas abriram
fogo contra uma manifestação pacífica próxima ao palácio de inverno do Czar em São
Petersburgo. Cerca de 1000 pessoas – incluindo mulheres e crianças – morreram.
Seguram-se, então, uma greve geral, revoltas camponeses nas áreas rurais, tumultos,
assassinatos, motins do exército. Em outubro de 1905, o Czar permitiu a eleição de uma
Duma, o parlamento, o que trouxe os reformadores políticos moderados para o lado do
governo, conseguindo suprimir a revolta.

As primeiras duas dumas foram radicais na opinião do Czar e, em 1907, uma Duma
conservadora foi eleita após mudanças eleitorais. Algumas reformas ocorreram no
governo dos principais ministros Petr Arckadievich Stolypin (1863-1911), que tolheu o
poder dos latifundiários e criou uma pequena classe de camponeses proprietários de
terra. Contudo, Stolypin era malquisto tanto pela esquerda quanto pela direita e
terminou sendo assassinado.
114

A I Guerra Mundial colocou a sociedade russa sob enorme pressão. Após três anos de
guerra, o exército havia sofrido oito milhões de baixas e mais de um milhão de homens
haviam desertado. A inflação estava galopante e os camponeses passaram a não mandar
seus produtos para as cidades, o que levou à escassez de alimentos. O respeito pelo
governo imperial – dominado pelo corrupto e libertino monge Grigori Efimovich
Rasputin (c. 1872-1916) – havia desaparecido e a propaganda política revolucionária
espalhou-se entre soldados e trabalhadores.

A 8 de março de 1907, a Revolução estourou em Petrogrado (São Petersburgo até


1914). Sovietes (conselhos) de soldados, trabalhadores e camponeses foram formados
por toda a Rússia. A 15 de março o Czar abdicou e se estabeleceu um governo
provisório moderado. No verão de 1917, Alexsander Fiodorovich Kerenski (1881-1970)
tornou-se principal ministro, mas o poderoso soviete de Petrogrado era controlado pelos
bolcheviques de Lênin. A 7- 8 de novembro (25-26 de outubro no calendário russo),
Kerenski foi expulso em um golpe liderado por Lênin.

4 – Lênin e os Bolcheviques

Lênin estudara as idéias de Karl Marc e tentava substituir o capitalismo por um Estado
operário comunista. Decidiu que o povo russo precisava da liderança de uma elite
educada e dedicada. Seus adversários, no partido social democrata, que queriam um
partido para as massas, foram chamados de Mencheviques (ou a minoria), embora na
verdade os seguidores de Lênin, os bolcheviques (ou a maioria), formassem o menor
grupo.

Quando a revolução de março começou, Lênin estava exilado na Suíça, mas, em abril de
1917, os alemães auxiliaram sua volta à Rússia em um trem lacrado. Passou a planejar a
queda do governo provisório, que decidira continuar a guerra contra a Alemanha e
estava sendo lento na introdução da reforma agrária. A promessa de Lênin de “Pão, Paz
e Terra” conquista muitos para a causa bolchevique. Depois de tomar o poder em
novembro de 1917, Lênin passou a atacar grupos socialistas rivais usando o cheka
(polícia secreta) como arma e executou o Czar deposto e sua família.

Os bolcheviques foram forçados a aceitar uma dura paz com os alemães em Brest-
Litovsk em março de 1918, mas isso os permitiu concentrar esforços na guerra civil que
começara na Rússia. Os “vermelhos” opunham-se aos “Brancos” – uma coalização de
democratas, socialistas e racionários unidos só pela oposição a Lênin – e aos exércitos
enviados pela Grã-Bretanha, França, Japão e Estados Unidos.

Contudo, as diversas facções brancas não conseguiram coordenar sua estratégia e foram
paulatinamente derrotadas pelo exército vermelho criado por Leo Trotsky (1879-1940).
Em meados dos anos 20, ficou claro que os bolcheviques haviam triunfado. A Rússia
foi, então, atacada pela Polônia, que tinha objetivo de tomar territórios da parte
ocidental. O exército vermelho resistiu e conseguiu avançar ate Varsóvia antes de sofrer
115

uma derrota no rio Vístula. Durante a guerra civil, o exercito vermelho reconquistou
também várias áreas não-russas do ex-império czarista que haviam formado suas
próprias repúblicas em 1918. A união das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi
formalmente criada em 1922.

5 – Problemas Econômicos e a NPE

Em novembro de 1917, o novo governo bolchevique enfrentou muitos problemas


econômicos. O governo dividiu os antigos estados dando terra aos camponeses, o que
conquistou considerável apoio. Em junho de 1918, Lênin foi forçado a introduzir o
“Comunismo de Guerra”, através do qual houve uma nacionalização generalizada e
controle estatal da agricultura. Isso levou ao colapso da produção industrial e grave
escassez de alimentos. Em março de 1921, após um sério motim naval em Kronstadt, a
Nova Política Econômica (NPE), foi introduzida. Desenvolveu pequenos negócios à
propriedade privada e permitiu a fazendeiros vender suas colheitas, o que criou uma
classe de Kulak (ricos camponeses fazendeiros), pois antes o excedente era
simplesmente entregue ao Estado. A NPE melhorou tanto a produção industrial quanto a
agrícola.

A morte de Lênin em 1924 iniciou uma batalha pelo poder entre seus sucessores. Em
1929, Joseph Stalin emergiu vitorioso, permanecendo líder absoluto até sua morte, em
1953. Seu maior rival, Trotsky, defendera a expansão da revolução por toda a Europa.
Em meados dos anos 20, Trotsky saíra do poder, sendo exilado no México, onde foi
morto em 1940 por um comunista espanhol, talvez a mando de Stalin.

A política de Stalin de “Socialismo em um país” era obviamente mais realista, dada a


fragilidade da URSS. Stalin pretendia alcançar o nível das potencias ocidentais através
de um programa intensivo de industrialização e coletivização agrícola. Essa política
traria sofrimentos indescritíveis para o povo soviético.

Em 1928, Stalin ordenou que as terras fossem tomadas de seus proprietários


camponeses e transformadas em fazendas coletivas tidas como mais eficientes e
igualitárias. Nesse processo, a classe kulak foi destruída, com cerca de 10 milhões de
mortes em 10 anos. A destruição causada pelo programa de coletivização levou à fome.

O primeiro dos planos quinquenais para melhoria da indústria pesada soviética também
começou em 1928. Geralmente, os alvos eram ambiciosos demais; contudo, a indústria
soviética começou a alcançar o ocidente.

Como nos dias pré-revolucionários, um crescimento industrial tão rápido causou muitas
dificuldades. O padrão de vida caiu e a força de trabalho industrial dobrou para 6
milhões; os oficiais soviéticos não hesitaram em punir a subprodução com o
aprisionamento em campos de trabalho.
116

6 – URSS e a Europa

Embora os governos europeus temessem que a URSS espalhassem a revolução por seus
países, os soviéticos desempenharam um papel relativamente pequeno nos assuntos
europeus nesse período. O tratado de Rapall de 1922 uniu a URSS à Alemanha, mas,
com ascensão de Hitler, os soviéticos começaram uma dura guerra de propaganda
política contra os nazistas.

A partir de 1934, Stalin se aproximou da Grâ-Bretanha e da França. Contudo,


desiludido pelas políticas de apaziguamento e preocupado com a perspectiva de
isolamento soviético, Stalin assinou um pacto de agressor com Hitler em 1939,
concordando em dividir a Polônia entre dois países. Isso trouxe aos soviéticos certo
alívio, o qual, entretanto, duraria apenas até junho de 1941, quando Hitler invadiu a
URSS.

28 – CONCEPTISMO

Definição:

Corrente literária barroca, mais associada à prosa, que valoriza a apreensão do conceito
(sinônimo Cultismo).

29 - CONCRETISMO

Conceito:

Prevalência do que é concreto. Corrente artística do início do século XX, caracterizada


pela linguagem geométrica adotada em seus trabalhos.

Movimento literário de meados do século XX que explorou os aspectos visuais e


materiais do poema.

Movimento na música erudita e nas artes plásticas que surge na Europa nos anos 1950.
Prega a elaboração formal precisa, com foco na racionalidade, em obras que
ambicionam acabar com a distinção entre forma e conteúdo.

Os precursores são o suíço Max bill, nas artes plásticas, e, na música, o francês Pierre
schaeffer. Na literatura, a primeira manifestação ocorre no Brasil, com o grupo
noigandres, formado pelos poetas augusto de campos, Haroldo de campos e Décio
Pignatari.
117

30 – CONSTRUTIVISMO

1 – Introdução:

Construtivismo. S.m. Ação Construtiva (Política, Social, Literária), o estilo da arte


cênica do teatro soviético. Construtivo, adjetivo que serve para construir (constructivo).

Escola das artes plásticas, do cinema e do teatro que ocorre basicamente na Rússia logo
após a revolução russa, em 1917. Defende a arte funcional, que deve atender as
necessidades do povo e divulgar os ideais revolucionários. Nas artes plásticas, o
pioneiro é o pintor vladimir tatlin. No cinema, o grande nome é o cineasta russo serguei
eisenstein.

2 – Arte Moderna

A primeira metade do século XX testemunhou uma revolução na arte. A convenção de


que a arte deveria ser uma representante fiel do mundo foi desafiada pelo Fauvismo e
destruída pelo Cubismo. A ênfase sobre cores e formas levou ao abstracionismo puro.

Os escritos de Darwin, Mark e Freud, aliados aos horrores da I Guerra Mundial –


incitaram uma revolta contra os valores tradicionais. O Dadaísmo e o Surrealismo foram
dois dos movimentos criados por essa atmosfera. Eram deliberadamente provocativos
ao rejeitarem a ordem social e artística estabelecida. Desde então, várias outras
abordagens à arte continuaram a chocar, embora alguns artistas tenham voltado a
trabalhar em estilos mais tradicionais.

3 – Método Construtivista

Método de aprendizagem baseado na teoria desenvolvida pelo psicólogo suíço Jean


Piaget (1896-1980). No construtivismo, o aluno está no centro do processo de
aprendizagem. Cabe ao docente pôr os alunos diante de situações variadas de modo que
eles próprios busquem soluções e construam o conhecimento com base em suas
experiências pessoais. O professor deve estimular nos estudantes a curiosidade rumo à
descoberta de novos conceitos, respeitando o desenvolvimento e o amadurecimento de
cada.

Seguidora de Piaget, a psicóloga argentina Emília Ferreiro (1936) analisou o processo


de alfabetização construtivista. Emília deslocou a importância do ensino para do
aprender. Percebeu, por exemplo, que toda criança passa pelos mesmos estágios de
aprendizagem, superando suas limitações e familiarizando-se com as normas da língua
aos poucos. A alfabetização leva em conta as representações que o próprio estudante dá
à escrita.
118

31 – CRIACIONISMO
(veja tópico 46 sobre evolucionismo)

Conceito:

O criacionismo é uma teoria que tenta explicar a criação do homem. Embora, ela não
possa ser comprovada em laboratório, a coincidência para por aí, pois na abordagem
que se faz ela possui características próprias. A Bíblia, especificamente no livro de
Gênesis, narra a história da origem de tudo que há ao nosso redor, como o sol, as
estrelas e os seres vivos. O primeiro versículo da Bíblia diz: “No princípio criou Deus
os céus e a terra”. E essa é a ideia central do Criacionismo: Deus criou todas as coisas,
inclusive o homem.

É importante desvincular o Criacionismo do Cristianismo, pois a teoria criacionista


prega que todas as coisas fora criadas substancialmente por um criador onipotente, não
sendo, necessariamente o Deus dos cristãos. O Islamismo, por exemplo, também prega
uma visão baseada no cristianismo, porém com a figura de Aláh.

A questão sobre as Origens do homem remete um amplo debate, no qual a filosofia,


religião e ciencia entram em cena para construir diferentes concepções sobre a
existencia da vida humana e, implicitamente, porquê somos o único espécie dotado de
características que nos diferenciam do restante dos animais.

Desde as primeiras manifestações mítico-religiosas o homem busca resposta para essa


questão. Neste âmbito, a teoria criacionista é a que tem a maior aceitação. Ao mesmo
tempo, ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram
uma versão própria da teoria criacionista.

A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu.
Epimeteu teria criados os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de
barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para
dadr vida à raça humana. Já a mitologia Chinesa atribui a criação da raça humana à
solidão da deusa Nu Wa, que ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu
criar seres à sua semelhança.

O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criaçao do homem.


Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou os céus e a
terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus
assoprou o folego da vida em suas narinas.

Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações bastante


semelhantes. Sendo um tema polemico e inacabado, a origem do homem ainda será uma
delicada questão capaz de se desdobrar em outros debates.
119

Desta forma, caba a cada julgar e adotar, por meios de critérios pessoais, a corrente
explicativa que lhe pareça mais plausível.

32 – CRISTIANISMO

1 – Introdução:

O Cristianismo é uma religião que tem raízes no Judaísmo, mas que se estendeu muito
além daqueles limites, pois abrange muitas culturas e nações e é de maneira ampla a
maior crença do mundo inteiro. Onde tem penetrado, tem elevado os padrões sociais e
educacionais. Quase uma em cada três pessoas identifica-se de alguma maneira com o
Cristianismo. Assim como o Judaísmo e o Islamismo, o Cristianismo teve sua origem
no Oriente Médio. Apesar disso, seu desenvolvimento histórico e sua influência têm
sido principalmente no Ocidente e dele os povos ocidentais derivam seus ideais da
justiça, da liberdade e da oportunidade.

O fundador desta crença foi um homem de baixa condição social. Durante sua vida, era
desconhecido fora do cantinho do Império Romano onde viveu e morreu. Nunca
possuiu um lar, nem teve família. Tinha poucos bens terrestres e pouquíssimo dinheiro.
Usava roupas singelas, andava por estradas poeirentas, pescava com barco emprestado e
usou o lanche de um menino para alimentar uma multidão. Tirou uma moeda da boca de
um peixe para pagar o imposto do templo. Dava vida e esperança àqueles que entravam
em contato com ele. Não edificou nenhum templo, nem escreveu livro algum. Não fez
nada de mau, não quebrou nenhuma lei, mas morreu em uma cruz como criminoso e foi
sepultado em túmulo emprestado. Mas agora, a maior parte do mundo data as moedas,
os calendários e a correspondência segundo a data de seu nascimento. Quem é ele? É
Jesus Cristo, o filho de Deus.

1.1 – Cristianismo:

O Cristianismo é a religião que conta com o maior número de fiéis no mundo. Com
origem na doutrina judaica, tem início com as pregações de Jesus Cristo, no século I, na
região da Palestina. Após sua morte, seus apóstolos (enviados, em grego) difundem a
doutrina nas regiões do Mediterrâneo. O credo ganha força no século IV, quando o
Império Romano faz dele sua religião oficial. A partir do século XV, as grandes
navegações europeias disseminam a fé cristã pelo planeta.

O cristianismo tem por livro sagrado a Bíblia e professa que o Deus criador envia a terra
seu filho, como Messias (Cristo, em grego), o salvador. Após morrer na cruz, em favor
dos homens, que haviam perdido a graça divina no início da criação do mundo, Cristo
ressuscita e oferece a salvação e a vida eterna aos que se reaproximarem de Deus e
seguirem seus preceitos.
120

O cristianismo divide-se em três correntes principais – Igreja Católica, Protestantismo e


Igreja Ortodoxa – além de outras linhas como a Igreja Anglicana e os credos chamados
de cristianismo de Fronteira, grupos que estão na intersecção entre o cristianismo e
outras doutrinas. O Cristianismo de Fronteira toma a Bíblia como referencia, mas
também se valem de fontes de revelação, verdades próprias, como livros ou visões. As
principais denominações são os Mórmons e as Testemunhas de Jeová.

2 – Histórico do Cristianismo

a) Conhecendo o Cristianismo;
O Cristianismo é a religião de Jesus Cristo. Cristo é a versão grega da palavra
judaica Messias ou “ungido”, e o nome dado a Jesus pelos seus discípulos. O nome
Jesus é a forma grega da palavra hebraica Joshua ou da palavra aramaica Yeshua.

Condições Históricas:

A Palestina, na ocasião do nascimento de Jesus, fazia parte do Império Romano, e


usava a língua e a cultura deste. No reinado do imperador Augusto Cesar, as legiões
romanas tinham conquistado as terras do Mediterrâneo e a totalidade do Oriente
Médio. Os administradores e engenheiros romanos construíram cidades e estradas
que permaneceram famosas durante muitos séculos. O ditado comum era: “Todas
as estradas levam a Roma”. Sob a Pax Romana (“Paz de Roma”) as viagens por
terra ou por mar nunca eram muito seguras. Havia algumas revoltas locais, mas não
havia grandes guerras internacionais naquele tempo. Sendo assim, o Cristianismo
começou num período de relativa calma.
Num âmbito religioso, as nações do Império Romano tinham licença de praticar
suas próprias religiões nacionais. Os gregos e os romanos tinham seus panteões,
seus mitos e suas filosofias. Os cultos dos mistérios e a astrologia floresciam, e os
iniciadores eram até mesmo batizados nestas instituições. No Judaísmo, os rabinos,
os fariseus e os saduceus seguiam uma religião forma de obras mortas. Grupos tais
como os essênios aguardavam o Messias e o fim do mundo, e foram até o deserto
perto do mar Morto para esperarem a vinda do Senhor. Foi num mundo assim que
Jesus nasceu.

a’) A Vida de Jesus


Jesus nasceu no reinado de Herodes Magno, rei da Palestina, quando Augusto
Cesar era imperador de Roma. Antes do seu nascimento, a história universal é
classificada como a.C. (antes de Cristo) e, depois do seu nascimento, como d.C.
(depois de Cristo).
O nascimento de Jesus foi misterioso, segundo as Escrituras dos evangelistas,
milagroso. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, sendo sua mãe ainda virgem.
Na pessoa de Jesus Cristo, Deus tornou-se Emmanuel (“Deus conosco”), e o
nascimento virginal tornou-se uma doutrina cardinal da igreja. Na ocasião do
121

seu nascimento, houve um censo romano, e Jose e Maria precisava ir a Belém


registrar-se. A cidadezinha ficou superlotada, e a família foi obrigada a pernoitar
num estábulo. Mas os eventos daquela noite formam uma das narrativas mais
conhecidas do mundo inteiro. Os anjos, naquela noite, anunciaram seu
nascimento aos pastores que estavam nas colinas da Judéia, dizendo a frase
famosa: “Gloria a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os
homens”.

Bem pouca coisa é conhecida a respeito da infância de Jesus. A mãe dele era
esposa de um carpinteiro em Nazaré, e Jesus foi treinado na mesma profissão até
chegar aos trinta anos de idade. João Batista, seu primo, tinha começado a pregar
que o reino de Deus estava próximo e batizava as pessoas como sinal deste fato.
Jesus foi para o rio Jordão para ser batizado por João e, enquanto Ele saía da
água, uma voz do céu declarou que ele era o filho de Deus. Então, o Espírito
levou Jesus para o deserto onde ele jejuou durante quarenta dias e neste período,
foi tentado por satanás. Foi uma tentação tríplice:

1. Usar sua divindade para satisfazer sua necessidade física do pão;


2. Iniciar um reino político terrestre;
3. Demonstrar seu poder divino diante das pessoas no templo.

Jesus resistiu a cada uma dessas tentações e saiu vitorioso com um conceito nítido da
sua missão e do seu messianismo. A partir de então, começou a pregar as “Boas Novas”
às pessoas. Tratava-se delas arrependerem-se dos seus pecados e crerem nele. Desta
maneira, podiam ter a vida eterna.

Segundo apurou-se, o ministério de Jesus duraram três anos, porque o Evangelho


segundo João menciona três Páscoas (2.13; 6.4; e 11.55). Os três anos, às vezes, são
chamados “anos de preparativos, o ano da popularidade, e o ano da oposição”. Os
pormenores são registrados nos Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.

Os eventos do primeiro ano do ministério de Jesus incluem seu batismo e sua tentação,
a chamada dos seus primeiros discípulos, a transformação da água em vinho, a
purificação do templo, o ministério na Judéia, o encontro com Nicodemos, e a prisão de
João Batista.

O segundo ano do ministério foi passado principalmente na Galileia. Inclui um sermão


na sinagoga de Nazaré; seu ministério de pregação, de cura e de ensino, a chamada dos
doze apóstolos; o sermão da Montanha, a morte de João Batista; a multiplicação dos
pães para cinco mil pessoas; e a recusa de ser proclamado rei.

O terceiro ano do ministério de Jesus começou na Galileia. Depois, ele foi para o sul,
em direção a Jerusalém, onde passou três meses. Durante algum período de tempo, ele
ficou fora da Galileia – em Tiro e Sidom, na Peréia e em Cesaréia de Felipe – antes da
viagem final até Jerusalém. Alguns eventos importantes foram: a confissão de fé pelos
122

discípulos, a transfiguração de Jesus, a ressurreição de Lázaro dentre os mortos, a


profecia da destruição do templo, a Última Ceia, a morte e a ressurreição de Cristo.

b’) Conflitos

Jesus era uma ameaça aos líderes estabelecidos pela religião judaica. Ele não
considerava as barreiras sociais, convivia com os publicanos, com os pecadores
e tinha as mulheres em alta estima. Inverteu os padrões geralmente aceitos, com
ditados tais como: “os primeiros serão os últimos, e os últimos, os primeiros”.
Não desprezava os vizinhos samaritanos, um povo minoritário, não
considerando, de sangue misto. Na realidade, o herói de uma das histórias mais
famosas de Jesus foi um samaritano, ao passo que os “vilões” vieram dos líderes
religiosos judaicos. Jesus louvava a fé demonstrada por certos gentios, em
contraste com os judeus.

Jesus frequentemente estava em conflito com os líderes judaicos na questão da


observância do sábado e dos aspectos externos da lei judaica. Ele ressaltava uma
finalidade interna à lei, bem mais exigente. Incorreu na ira dos saduceus, a classe
dominante dos sacerdotes, ao pregar o juízo contra a nação judaica e até mesmo a
destruição do templo, o centro da religião deles. Frequentemente perturbava o equilíbrio
delicado da paz entre os judeus e os romanos, por casa da sua popularidade com o povo
comum. Para este povo, ele era o libertador dos judeus, a quem esperavam. Em certa
ocasião queriam proclamá-lo rei e incitar uma rebelião contra Roma. Mas quando ele
deixou claro que seu reino não era político, muitas pessoas o deixaram.

O ponto culminante da vida e do ministério de Jesus veio por ocasião da páscoa em


Jerusalém. Foi preso em Jerusalém pelos líderes judaicos, e acusado de blasfêmia contra
a lei judaica, porque declarava ser o filho de Deus. Segundo o conceito deles, a
blasfêmia exigia a pena de morte, mas somente uma condenação pelos romanos poderia
conseguir a execução da sentença. Os judeus inventaram uma acusação de sedição
contra Roma e levaram-na com insistência diante do governador romano. A acusação
baseava-se, de modo paradoxal, na declaração de que ele dizia-se rei dos judeus. O
governador romano, tendo medo de provocar uma rebelião judaica por ocasião da
páscoa, passou a sentença de morte para Jesus. Jesus já perdera o apoio do povo por
recusar-se a dirigir um levante armado contra Roma. Apesar disso, ele foi executado em
Roma como “Rei dos Judeus”.

Jesus foi crucificado numa colina pequena fora de Jerusalém, chamada Calvário, uma
palavra em Latim que significa “caveira”, ou em aramaico “Gólgota, com o mesmo
significado”. A crucificação era o método romano de executar escravos e rebeldes.
Quando Jesus morreu, houve segundo diz Lucas 23.44, trevas sobre a terra desde o
meio-dia até às quinze horas. Mateus diz que o véu do templo foi rasgado de cima a
baixo, houve um terremoto e alguns sepulcros foram abertos. Antes do pôr do sol,
momento em que o sábado começaria, um rico ancião dos judeus forneceu um sepulcro
novo para sepultar o corpo de Jesus. E assim ele foi sepultado num sepulcro
emprestado.
123

Mas ao terceiro dia, Jesus ressuscitou dentre os mortos, apareceu a Maria Madalena,
depois aos discípulos e, posteriormente a quinhentas pessoas (1 Co 15.3-8). Jesus
permaneceu com os discípulos durante quarenta dias no seu estado ressurreto e
explicou-lhes o significado da sua vida, da sua morte e da sua missão. Depois, ele os
deixou e foi elevado numa nuvem para voltar ao Pai (At. 1.1-11). Os discípulos
reuniram-se num cenáculo, a fim de orarem pela vinda do Espírito Santo, que Jesus lhes
prometera. Depois de dez dias, o Espírito Santo desceu e batizou-os na sua plenitude,
dando-lhes poder e capacitando-os para sua grande tarefa de evangelização. Este
grandioso evento a vinda do Espírito Santo, é chamado O Dia de Pentecoste.
Começaram, então a pregar que Jesus ressuscitou e que era Senhor e Salvador. A
ressurreição de Jesus ainda é o enfoque da pregação cristã.

c’) Os Seguidores de Jesus

Os seguidores de Jesus foram chamados de “cristãos” pela primeira vez em


Antioquia (At. 11.26). Os discípulos de Jesus levaram a mensagem de Cristo
primeiramente aos judeus que estavam espalhados por muitas cidades do Oriente
Médio. Depois disso, o apóstolo Paulo, dirigido pelo Espírito Santo, começou a
pregar aos gentios o evangelho de Cristo. Em primeiro lugar, sempre entrava em
contato com os tementes a Deus através das sinagogas das cidades da Ásia e da
Grécia e, finalmente em Roma. Mas esta abordagem tornava-se difícil por causa
da oposição judaica, de modo que era forçado a trabalhar fora das sinagogas. A
tradição declara que Paulo e Pedro foram martirizados em Roma, cerca de 64
d.C.

Paulo referia-se aos cristãos como a ecclesia, os que foram “chamados para
fora”. Também os chamava o “Corpo de Cristo”. A palavra ecclesia é usada na
tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta (LXX). Significa
“assembleia, congregação” ou “povo de Deus”. No Novo Testamento refere-se à
assembleia total ou a um grupo local de cristãos, como por exemplo: “a igreja
em Antioquia” (At. 13.1). Refere-se a um corpo que tem muitos membros e não
ao edifício da igreja (1 Co 12.13-27; Ef. 4.16). Já no fim do século I d.C., grupos
de cristãos estavam espalhados ao redor do Mediterrâneo inteiro. No século II,
estenderam-se para o Egito, a África do Norte e a Gália.

b) Crenças do Cristianismo

Os elementos da teologia cristã foram dados em forma breve por Jesus, porque
conforme ele explicou seus seguidores não conseguiram aprender mais do que isso.
Estes temas, porém foram expandidos por apóstolos tais como Paulo, Pedro e João, e
estão registrados nas Epístolas do Novo Testamento. Muitos dos ensinamentos de Jesus
são éticos, ao passo que boa parte da doutrina de Paulo é teológica. Jesus fez muito uso
124

de um expediente didático chamado de parábola, uma história breve que contém


personagens e eventos da vida humana. Suas parábolas são os ensinos mais lembrados e
mais citados de todas as religiões do mundo inteiro.

a’) O Reino de Deus

O tema de muitas parábolas era o reino de Deus (Mt 13), como entrar nele (Jo
3.5) e como mantê-lo firme no coração (Lc 8.1-15). A mensagem primária de
Jesus era que o reino de Deus estava próximo ou perto (Mc 1.15). Os
Evangelhos apresentam Jesus como o rei enviado por Deus (Lc 1.32-33). Por
exemplo, ele entrou em Jerusalém como Rei da Paz, montado num jumento, um
símbolo da paz (Mt 21.4,5). Seu desejo é ser rei nos corações das pessoas. O rei
ensinava as pessoas a amarem-se mutuamente (Jo 13.34). Ele voltará, em poder,
no fim desta era e estabelecerá seu reino visível na terra (Mc 9.1; Lc 21.27).

Jesus confirmou os dez mandamentos e resumiu-os em duas divisões grandes:


Amar a Deus com todo o coração e amar o próximo como a si mesmo. Forneceu
pormenores no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7) e em outros ensinamentos.

Podem ser chamados os Princípios do Reino:

 Bem-aventurado os mansos, os justos, os misericordiosos, os puros, os


pacificadores, os perseguidos;
 O ódio é igual ao assassinato; a concupiscência no coração é igual ao adultério;
 Vire a outra face para quem lhe ferir; vá à segunda milha; ame os seus inimigos;
perdoe seu próximo;
 Não finja ter piedade; os hipócritas não entrarão no céu;
 Você não pode servir a Deus e ao dinheiro; onde estiver seu tesouro, ali estará
seu coração também;
 A vida é mais importante do que o alimento e as roupas; procure em primeiro
lugar o reino de Deus e tudo quanto você necessita lhe será dado;
 Não julgue para não ser julgado;
 Peça, e ser-lhe-á dado, busque e achará, bata e a porta ser-lhe-á aberta;
 Aquilo que você quer que os outros lhe façam, faça-o também a eles;
 Você conhecerá as pessoas pelos seus frutos;
 Não tema aqueles que matam o corpo, mas aquele que pode destruir tanto o
corpo quanto a alma no inferno;
 Para seguirmos a Cristo, devemos negar-nos a nós mesmos e carregarmos a sua
cruz;
 O filho do homem é senhor do sábado;
 Da abundancia do coração fala a boca;
 Aquele que perder a sua vida achá-la-á;
 A fé é como um grão de mostarda e pode mover montanhas;
 O filho do homem voltará para julgar o mundo.
125

b’) O Ser Supremo:

O Cristianismo baseia sua teologia no conceito judaico de Deus do Antigo


Testamento e todos os atributos inerentes a Deus são aceitos pela igreja. Os
cristãos, porém, acreditam que Ele se revelou no homem Cristo Jesus. Olhando
para Ele, podemos saber como Deus é (Jo 14.9). No Antigo Testamento Jesus é
como o botão de uma flor; no Novo Testamento, Ele desabrochou totalmente.
No Antigo, Ele está oculto; no Novo, Ele é revelado. No Antigo, Ele está
vendado; no Novo, Ele está desvendado.

a) O Messias
A palavra Messias provém do Hebraico, que significa “Ungido”. Os hebreus
ungiam três tipos de pessoas: rei (1 Sm 10.1), sacerdotes (Lv 4.3; 8,30) e
profetas (Sl 105.15). A promessa do Messias estava vinculada ao Filho de Davi,
cujo reino duraria para sempre (2 Sm 7.12-16). Jesus não ensinava diretamente
que Ele era o Messias, mas aceitou as palavras que André dirigiu a Pedro:
“Achamos o Messias” (Jo 1.41). Quando a mulher samaritana disse que o
Messias havia de vir, Jesus lhe disse: “Eu o sou, eu que falo contigo” (Jo 4.26).
Quando o sumo sacerdote lhe perguntou se Ele era o Cristo, Ele respondeu: “Eu
o sou” (Mc 14.61,62).

b) O Filho de Deus
Nenhum outro fundador de uma religião declarou ser o Filho de Deus, nem
sequer um ser divino, mas os cristãos acreditam que Jesus é Deus exatamente
como Ele disse. Ele é declarado Deus na carne por: aquilo que fazia e aquilo que
dizia, e aquilo que era. “Andou fazendo o bem” (At 10.38). “Nunca homem
algum falou assim como este homem” (Jo 7.46). “Vimos a sua glória” (Jo 1.14).
Perto do fim do seu ministério, Jesus perguntou aos seus companheiros mais
íntimos quem o povo acreditava que Ele era. Jesus louvou Pedro pela sua
resposta, e declarou que lhe tinha sido revelado por Deus, e esta confissão tem
sido a pedra fundamental da igreja cristã: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”
(Mt 16.16).

c) A Trindade

Antes de Jesus deixar a terra, prometeu o Espírito Santo, outro consolador, que
tomaria as coisas de Deus e as revelaria aos discípulos. Disse que o Espírito
convenceria o mundo do pecado, que levaria o povo de Deus para toda a
verdade, e dar-lhe-ia poder para testemunhar em todo o mundo (Jo 14.16-18, 26;
15.26; 16.7-14). O Espírito Santo é Deus, o agente de Cristo no mundo hoje. O
Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas em uma só. Cada pessoa
demonstra as qualidades da personalidade e da deidade em igualdade perfeita, e
é manifestada sem confusão, a perfeita unidade na trindade. Isto é um mistério
para nossas mentes finitas, mas a trindade representa a manifestação do Deus
126

infinito, cremos e confiamos nesta revelação mesmo quando não conseguimos


compreender plenamente tudo quanto significa.

d) Os Credos da Igreja
A teologia da igreja já foi sujeita a muitas disputas no decurso dos séculos, e os
líderes eclesiásticos têm procurado formular credos que expressam a crença dos
cristãos. O Credo dos Apóstolos foi um dos primeiros a serem propostos. Cerca
de 185 d.C. Irineu, bispo de Leão na Galileia, publicou um livro no qual
defendeu a fidelidade à doutrina dos apóstolos nos Evangelhos e nas Epístolas.
A Igreja em Roma adotou o credo para defender a fé contra os gnósticos e
Marcião, que estavam ativos naquele período. Na sua forma primitiva, o credo
dizia:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso; e em Jesus Cristo seu único
Filho, nosso Senhor, o qual nasceu da virgem Maria, padeceu sob o
poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à mão
direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os
vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja, na
remissão dos pecados, e na ressurreição do corpo.

O credo de Nicéia foi adotado por Constantino, o imperador romano, em 325


d.C., para refutar os controvertidos arianos. A questão era se Jesus era eterno ou
finito. Ário insistia que Jesus foi criado, que Ele teve um início e não poderia ser
eterno, nem da mesma natureza que Deus. O Credo declarou que Jesus nasceu e
não foi criado, e que Ele era da mesma substancia que o Pai. Outro credo, o
Credo da Calcedônia em 451 d.C., declarava que Jesus podia ter duas natureza e
ainda ser Deus. Ele é uma só pessoa, o Verbo Divino, mas Ele é tanto divino
quanto humano.

c’) A Condição Humana

a) O Homem e o Pecado
Os cristãos acreditam que o homem foi criado inocente, mas porque Adão, o
cabeça da raça caiu, o pecado entrou no mundo. Agora, todas as pessoas nascem
numa condição pecaminosa, e porque todas nascem no pecado – têm a natureza
pecaminosa – cometem o pecado. Por isso, toda pessoa será julgada pelo seu
próprio pecado, e não aquele de Adão (Rm 3.12,23; 5.17-19). O pecado é a falta
de conformidade com a lei de Deus ou a rebelião contra esta lei (1 Jo 3.4), é a
injustiça (1 Jo5.17). E a falta de fé (Rm 14.23), e é conhecer o bem, mas não
praticá-lo (Tg 4.17). os atos de pecados que as pessoas cometem são expressões
das suas naturezas pecaminosas, que fazem separação entre elas e Deus. A
penalidade ulterior pelo pecado é a morte. O homem estará eternamente
separado de Deus, se não pagar a penalidade pelo pecado.
127

b) A Salvação
Deus, porém, proveu uma maneira de vencer a separação entre Ele e o homem.
É a chamada “expiação”, que nos une de novo com Deus. Mediante o sacrifício
de Cristo como o Cordeiro da Páscoa, Ele forneceu a redenção, o resgate da
escravidão e a salvação. Sendo que o salário do pecado é a morte, o homem
merece morrer pelos seus pecados. Mas Jesus, como substituto do homem,
tomou sobre si o castigo pelo pecado, e satisfez as exigências justas de Deus. Ele
pagou a penalidade pelo pecado (Is 53.5; 2 Co 5.21), sua morte e ressurreição
pagaram o preço integral. “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou
para nossa justificação” (Rm 4.25).

Como, pois, o homem recebe para si esta salvação? Paulo disse: “Porque, se pela
ofensa de um só [Adão], a morte reinou por este, muito mais os que recebem a
abundancia da graça... reinarão em vida por um só – Jesus Cristo” (Rm 5.17).
Lemos, também, em João 1.12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus”. A resposta, portanto, é recebermos o
Senhor Jesus Cristo em nosso coração. Em outros trechos, somos informados
que deve haver confissão e rejeição do pecado, e a decisão de andar no caminho
de Cristo (1 Jo 1.9; Rm 10.9,10). Aqueles que confessam os seus pecados e
aceitarem a Jesus, não somente recebem a salvação, como também serão
ressuscitados para uma nova vida quando Jesus voltar.

c) A Cruz
A cruz veio a ser o símbolo do Cristianismo, porque a morte de Jesus é o
enfoque central da salvação. Se Jesus não tivesse morrido, o pecado não teria
sido removido, e Jesus teria sido mero homem, como qualquer outro fundador
de uma religião. “Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as
primícias dos que dormem... Porque, assim como todos morrem em Adão, assim
também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo
as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” (1 Co 15.20-23).

d) A Escatologia
Na escatologia cristã, ou doutrina das últimas coisas, existe a crença na volta
pessoal do Senhor Jesus Cristo. Há muitas interpretações do cronograma e dos
eventos envolvidos nesta volta. Mesmo assim, a maioria crê que Ele virá para
reinar sobre o mundo, para julgá-lo, e para criar novos céus e nova terra. Com a
sua vinda, a oração dos cristãos durante quase dois mil anos: “Venha o teu
reino” será respondida no seu sentido integral.

Os eventos dos tempos do fim não estão declarados na Bíblia numa sequencia
rigorosa. Muitos cristãos evangélicos acreditam, no entanto, que a vinda de
Cristo é dividida em duas fases: o arrebatamento (ou trasladação para o céu) do
corpo (1 Ts 4.17), e a revelação de Jesus Cristo em poder e em glória (Mt
24.29,30). Entre os dois eventos há um período de perseguição, a Grande
128

Tribulação. Depois da revelação de Cristo, Satanás será amarrado, e Cristo


estabelecerá seu reino na terra durante mil anos. As condições que existiam no
Jardim do Éden, após a Criação serão restauradas (Ap 20.1-3, 7.14). Depois
disto, o diabo será lançado do inferno, e Jesus julgará os ímpios no Grande
Trono Branco, e introduzirá os novos céus e a nova terra.

Embora talvez não concordemos quanto a sequencia dos eventos do fim dos
tempos, nem entendamos exatamente quando e como ocorrerá, nossa
responsabilidade é levar as boas novas da salvação ao mundo inteiro e fazer os
preparativos para a eternidade. Devemos ter consciência de que, visto que Jesus
vem de novo, é nossa responsabilidade estarmos prontos para o encontro com
Ele (Mt 24.42-44; 1 Jo 3.3).

d’) Lugares, Pessoas e Práticas Sagradas

a) Lugares Sagrados
Conforme dissemos anteriormente, a palavra igreja era empregada orginalmente
para as pessoas que seguiam a Cristo. No decorrer do tempo, porém, a palavra
veio a referir-se menos às pessoas e mais aos templos, onde estas se reuniam. Os
primeiros cristãos, sendo judeus, reuniam-se nas sinagogas judaicas. À medida
que o evangelho passou a serem extensivos aos gentios, os crentes começaram a
reunir-se nos lares. Séculos mais tarda, igrejas e catedrais magníficas foram
construídas. No século XX, a tendência é construir templos enormes com mais
capacidade de acomodação para as pessoas, mas com menos ornamentações que
as catedrais antigas. Existe também, uma distinção entre as plantas e os
propósitos dos católicos e dos evangélicos. Os católicos têm igrejas com
enfoque de atenção no altar e no sacramento da comunhão, ao passo que as
igrejas evangélicas enfatizam a posição do púlpito, para focalizar a pregação da
Palavra de Deus.

b) Pessoas Sagradas
No Cristianismo, Deus forneceu condições para o crescimento e a maturidade
dos crentes, à medida que servissem a Ele. O meio é através das pessoas que Ele
chamou e capacitou para as funções especiais de liderança. A igreja reconhece
os dons e a vocação dessas pessoas. Paulo alistou as pessoas existentes na igreja,
com seus respectivos propósitos (Ef 4.11-16). Indicou também a existência de
outros ofícios de liderança na igreja, com suas qualificações e deveres, nas suas
cartas a Timóteo e Tito.

c) Práticas Sagradas
Tornamo-nos parte do corpo de Cristo, a Igreja, ao confessarmos Jesus como
Senhor. Como testemunho diante do mundo, quanto a esta experiência espiritual,
o crente é batizado na água. Este batismo simboliza a morte da velha natureza e
129

a novidade da vida em Cristo. É um dos dois atos sagrados ou sacramentos,


ordenados nas Escrituras (Rm 6.1-4; At 2.38).

Outro ato sagrado é a Ceia do Senhor, em que os elementos pão e vinho são
símbolos do corpo partido e do sangue derramado de Cristo (1 Co 11.17-29).

d) Dias Festivos
As festas cristãs são celebrações da obra de Deus em Cristo que são relembradas
pelos cristãos todos os anos. Muitos grupos de igrejas celebram três eventos
principais todos os anos:
a) O Natal. Celebrado no dia 25 de dezembro, o natal representa o aniversário
de Cristo. Os cristãos reconhecem que não se sabe com exatidão a data do
nascimento de Cristo; mas o fato real é mais importante do que a data;
b) Domingo de Páscoa. Os cristãos também celebram o domingo de Páscoa,
que representa o dia em que Jesus ressuscitou dentre os mortos. É o evento
mais importante da cristandade. É um retrato de quando Jesus passa a viver
no coração da pessoa;
c) Domingo de Pentecoste. O terceiro dia que os cristãos celebram é o domingo
da Pentecoste, que relembra a vinda do Espírito Santo sobre a igreja.

e’) Escritos do Cristianismo

a Bíblia cristão é composta do Antigo Testamento e do Novo Testamento. O Antigo é


completado pelo Novo. O Antigo tem uma riqueza de tipologia e de símbolos, muitos
dos quais são cumpridos em Jesus Cristo. Os sacrifícios do Antigo Testamento foram
substituídos pelo sacrifício perfeito de Cristo, o Cordeiro de Deus, na cruz. Os
princípios do comportamento são novos. O Antigo concerto dizia: “Olho por olho, e
dente por dente”. Mas o novo concerto disse: “Vire a outra face”.

Assim como no caso do Antigo Testamento, o Novo Testamento não foi escrito pelo
fundador. Jesus, na realidade, não deixou nenhum registro escrito, e somo informados a
respeito de uma só ocasião em que Ele escreveu – na areia. Há cerca de sete autores do
Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago e Judas. Todos estes
escritos foram completados antes do ano 100 d.C. Como, pois, sabemos que a Bíblia é a
inspirada Palavra de Deus? A resposta acha-se na palavra “cânon”. Provém da palavra
grega kanon que é “uma vara ou regra para medição”. A palavra “cânon” refere-se ao
padrão segundo o qual os livros são aceitos como Escrituras. O padrão do Novo
Testamento foi reconhecido pela igreja sob a orientação do Espírito Santo. Dois dos
critérios principais usados para testar a canonicidade eram inspiração divina e
características sobrenaturais. Atanásio (295-373 d.C.), o “pai da ortodoxia” que se
opôs a Ário no Concílio de Nicéia, foi o primeiro que alistou todos os vinte e sete livros
como o Cânon do Novo Testamento, a “fonte da salvação”. Foram escritos outros
130

livros, chamados os Apócrifos (“livros ocultos”), mas não satisfizeram o padrão da


canonicidade, de modo que são rejeitados pela igreja evangélica.

O Novo Testamento é disposto na ordem dos temas. Em primeiro lugar aparecem os


livros históricos: Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos; depois, as vinte e uma epístolas
ou livros de doutrina; e finalmente, um livro de profecia, o Apocalipse, formando um
total de vinte e sete livros. O Novo Testamento foi dividido em capítulos pelo Cardeal
Hugo em 1240. Foi escrito originalmente em grego, traduzido em Latim no ano 405 por
Jerônimo, e impresso em inglês em 1525 (o Novo Testamento de Tyndale). Muitas
outras versões da Bíblia foram surgindo, à medida que foram sendo descobertos mais
manuscritos. Foi traduzida para muitas línguas e, desde o início tem sido o livro mais
vendido no mundo inteiro.

A razão primária por que os cristãos chamam a Bíblia de Palavra de Deus é sua
inspiração divina, que é confirmada por vários fatos. O primeiro é sua evidência interna;
ou seja, a Bíblia reivindica esta inspiração. Um versículo que assim declara, e que você
deve decorar, é o seguinte: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,
para repreensão, para correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3.16). Deus inspirou
os escritores de tal maneira que, enquanto escreviam, eram “inspirados pelo Espírito
Santo” (2 Pe 1.21). Desta maneira, Deus fez com que fosse escrito aquilo que Ele queria
que fosse registrado.

Outras provas da inspiração da Bíblia são:

a) Sua unidade na diversidade. Tem muitos assuntos, mas uma só mensagem. Foi
escrita por cerca de quarenta escritores no decurso de uns quinze séculos, mas
tem um só autor – que é Deus;
b) Sua autoridade. Predisse muitas coisas a respeito de Cristo e dos eventos
mundiais, muitos dos quais têm sido cumpridos de modo notável;
c) Sua evidência interna. O Novo Testamento cita o Antigo Testamento como sua
origem documentária, e o Novo cumpriram muitas profecias do Antigo;
d) Sua exatidão arqueológica. Os arqueólogos confirmaram a exatidão da Bíblia
nas descobertas, tais como os rolos do mar Morto em 1947;
e) Sua obra milagrosa. A Bíblia tem sido o meio da salvação, da vida, da coragem
e da esperança eterna nos corações de milhões de pessoas.

f’) Desenvolvimento do Cristianismo

A igreja primitiva tinha uma organização não muito rígida, e geralmente, reunia-
se nos lares dos crentes. O dia de culto foi alterado do sábado judaico para o
domingo, o dia em que Jesus ressuscitou dentre os mortos. Os líderes
sustentavam-se com suas respectivas profissões e apenas, ocasionalmente
recebiam ofertas. Quando Jerusalém foi destruída por Roma em 70 d.C., os
cristãos foram espalhados, e tornou-se urgente contar a história da vida de Jesus
antes que morressem todos quantos o haviam conhecido. Parece que foi Marcos
131

o primeiro que escreveu o relato. À medida que crenças diferentes começavam


se desenvolver, Paulo percebeu rapidamente os perigos dos ensinos errôneos,
pregava e escrevia cartas que se tornaram padrões doutrinários para a igreja.
Inicialmente, seus oponentes principais eram judaizantes, aqueles que
procuravam impor exigências legais aos crentes em Cristo. O gnosticismo
também surgiu como ameaça à fé cristã, perto do fim do século I. As epístolas de
João dirigiam-se, especificamente contra esta heresia. Várias heresias acabaram
levando a igreja a formular os seus credos.

a) Período das Perseguições (60 até 300);


A perseguição da igreja começou nos tempos de Nero (54-68 d.C.), e Pedro foi
crucificado por ele cerca de 68 d.C. Durante dois séculos, houve períodos
alternados de paz e de perseguições, mas a perseguição generalizou-se no
governo de Diocleciano (303-310). Milhares de cristãos foram cruelmente
martirizados durante este período.

b) Período da Igreja Imperial (300 até 500);

Constantino tornou-se imperador em 312 d.C. Imediatamente antes de uma


batalha contra Maxênio para decidir quem seria o imperador, Constantino,
segundo declarou, teve um sonho. Disse que viu uma cruz no céu, com os
dizeres: In Hoc signo vinces (“vença com esse sinal”) e comprometeu-se a
tornar-se cristão se ganhasse a batalha. Obteve uma vitória completa e
proclamou tolerância religiosa para o império. No reinado de Constantino foi
formulado o Credo de Nicéia, mas a probabilidade é que seu motivo era manter
unido o seu império. Em 330, transferiu sua capital para Constantinopla no
Oriente, mas isto deu aos bispos poder sobre Roma, e levou à dissolução do
Império Romano.

No século IV um movimento de ascéticos desenvolveu um impulso que afetou


grandemente a igreja. Entendendo literalmente as palavras de Cristo, negavam a
si mesmos os confortos físicos e os contatos sociais. Chamados monges,
tomavam votos de pobreza, de castidade, de obediência, e viviam em mosteiros,
dedicando seu tempo à meditação. Neste período do monasticismo nasceu
Jerônimo (342 d.C.), que traduziu a Bíblia para o Latim. Sua tradução, a Vulgata
em Latim, ficou sendo a Bíblia-padrão para a Igreja Católica Romana.

Um dos grandes teólogos daqueles tempos foi Agostinho (354-430 d.C.) da


África do Norte. Era notável pelos seus conceitos sobre as doutrinas do pecado
original, da queda do homem e da predestinação. O poder dos bispos cresceu
dentro do sistema imperial até haver dúvida quanto a quem governava o
império: eles ou os imperadores. Com a invasão das tribos bárbaras do norte, os
bispos fizeram concessões a elas e o Império Romano caiu em 476. Depois desta
132

queda, o Santo Império romano tomou seu partido, apoiando o papado contra
seus inimigos, dando-lhes as terras que dominava como possessão temporal.

c) A Era das Trevas (500 até 950).

Com a queda do império Romano, a igreja avançou para o norte da Europa e


para a Grã-Bretanha. Depois, houve invasões pelos muçulmanos, mas foram
detidos na França, e mantidos fora de Constantinopla durante alguns séculos. Os
historiadores chamam este período de “Era das Trevas” porque foi uma era de
pouco ou de nenhum progresso nos estudos clássicos. Muitos sacerdotes, que
formavam a classe culta, retiraram-se para os mosteiros, a fim de escaparem do
mundanismo e da secularização que entrava na igreja. Nos séculos VIII e IX,
certas questões provocaram uma divisão de vulto entre a igreja de Roma e a
igreja Oriental em Constantinopla. Os cristãos do Oriente concentravam-se na
teologia e enfatizavam a natureza divina de Cristo, mas o Ocidente ressaltava
sua humanidade. O Oriente ficou sendo a Igreja Ortodoxa, e seus bispos eram
chamados “patriarcas”. À Igreja em Roma deu-se o nome de igreja Católica ou
“universal”. A igreja oriental adotava pinturas de Jesus, Maria e dos apóstolos,
ao passo que a divisão ocidental usava estátuas. O Oriente insistia que Jesus
enviara o Espírito Santo, mas o Ocidente sustentava que tanto o Pai quanto o
Filho enviaram o Espírito Santo. O Oriente oferecia tanto o pão, quanto o vinho
na Comunhão, mas o Ocidente oferecia somente o pão. O Oriente permitia o
casamento dos clérigos e usava o Grego como idioma do culto. O Ocidente
exigia o celibato dos clérigos e usava o Latim nos cultos.

d) Período da Igreja Medieval (950 até 1500);

Nos cem anos depois de 950, o Cristianismo expandiu-se grandemente na


Europa. A Igreja Romana enviou missionários até lugares bem distantes, como a
Índia e a China. Houve um período do Cristianismo militante, quando os
cruzados cristãos procuraram reconquistar os países dominados pelo Islamismo.
Em 1054 o papa Leão IX excomungou o patriarca de Constantinopla, e esta ação
provocou um rompimento permanente entre o Oriente e o Ocidente. Em 1204,
os cruzados cristãos, a caminho da Terra Santa, fizeram uma pausa em
Constantinopla para saquear a cidade. Mais de dois séculos depois, a cidade foi
conquistada pelos mulçumanos (1453 d.C.), e a igreja famosa de Santa Sofia foi
transformada em mesquita. No Ocidente, havia muitos conflitos entre
imperadores e papas, sendo que um lado excomungava e destronava o outro. No
fim do século XV, porém, o papado voltou a ser estabelecido em Roma.

e) Movimento da Reforma da Igreja (1500 até 1700);

No século XVI uma revolução sacudia a Igreja Romana até os seus alicerces.
Trata-se da Reforma, que produziu a Igreja Protestante. Além das péssimas
133

condições da Igreja Romana, outros fatores contribuíram para a Reforma. João


Wyclif, da Inglaterra (cerca de 1328-1384 d.C.), traduziu a Bíblia da vulgata
Latina para o Inglês em 1382, para ajudar o povo comum a ler a Bíblia. Foi
condenado pela Igreja Romana e forçado a recolher-se à sua reitoria, mas suas
ideias espalharam-se por toda a Inglaterra. João Huss, da Boêmia (1374-1415),
que foi influenciado pelos escritos de Wyclif, foi o líder do movimento na
Boêmia em prol da reforma da igreja. Suas ideias foram registradas no seu livro
A Ecclesia. Sendo que estas ideias criavam um desafio grave contra a igreja em
Roma, Huss foi condenado e queimado à estaca.

a) Martinho Lutero
A pessoa de destaque na Reforma foi Martinho Lutero (1483-1546). Entrou
no ministério católico, prestou os votos de monge, foi professor na
Universidade de Witemberg, e fez seu doutorado no campo da teologia. Ao
dar preleções sobre Romanos e Gálatas, ficou impressionado com a
expressão: “O justo viverá pela fé”. Raciocinava: “se os justos vivem pela fé,
por que estamos procurando merecer a salvação mediante as boas obras?”
Percebeu que a Bíblia, e não o Papa, era a derradeira autoridade para os
cristãos e que as pessoas eram salvas somente pela fé. Assim, sentiu-se
levado a escrever um panfleto sobre o sacerdócio de todos os crentes. Depois
disto, escreveu um documento no qual alistou noventa e cinco abusos
cometidos pelo sistema de indulgências. (As indulgências eram documentos
que a pessoa podia comprar, para livrar-se das penas impostas pela igreja por
seus pecados. Posteriormente, estas indulgências foram aumentadas para
incluir a remoção das penas daqueles que estavam no purgatório). Lutero
pregou esta lista na porta da Igreja em Witemberg em 31 de outubro de
1517. Causou uma rendição, a ponto de Carlos V, Santo Imperador Romano,
convoca-lo para a Dieta de Worms em abril de 1521 e ali foi excomungado e
ordenado a cessar a impressão dos seus livros.
Lutero foi esconder-se das visitas públicas por um período, durante o qual
traduziu a Bíblia para o Alemão. Na Alemanha, uma Igreja Reformada
desenvolveu-se desse protesto. Baseava-se na doutrina da justificação pela fé
e a igreja protestante foi inaugurada. Continuou escrevendo livros, hinos, e
instituindo outras reformas. Encorajava os sacerdotes e as freiras a casarem-
se, e ele mesmo tinha esposa. Morreu em 1546, mas a reforma arraigou-se, e
espalhou-se para muitos outros países, especialmente para as nações
escandinavas.

b) João Calvino
Outra pessoa de influência na Reforma foi João Calvino (1509-1564) d.C.).
Quando estava com cerca de 24 anos de idade, Calvino entrou em contato
com o movimento protestante. Este envolvimento levou-o a deixar a Igreja
Romana. Aos 26 anos de idade, escreveu As Instituas da Religião Cristã, que
ficou sendo uma obra clássica da teologia protestante. Sua doutrina foi
134

influenciada pela teologia de Agostinho no tocante à soberania de Deus. Em


Genebra, estabeleceu uma forma de governo eclesiástico que é conhecida
como o sistema presbiteriano, que assumiu um lugar de destaque na história.

c) A Contra Reforma
Percebendo que os protestantes não iriam parar, a Igreja Romana convocou
seus bispos em 1545 d.C. para o Concílio de Trento. Ali, insistiram que a
igreja tinha autoridade igual àquela das Escrituras, e que era a única
intérprete delas. O Concílio reafirmou os sete sacramentos tradicionais e
sustentou a veneração dos santos e das imagens. A Igreja Romana passou
então a mobilizar seus recursos e dispôs-se a reconquistar pela força aquilo
que perdera. Sua reação militante ficou conhecida pelo nome de
Contrarreforma. Como resultado, milhares de pessoas morreram na Europa,
e era tão eficaz que, até 1572, a Reforma foi completamente eliminada da
Itália. Mas em regiões da Inglaterra e na Europa do norte, os protestantes
aumentaram em grande número.

f) Período da Igreja Moderna (1700 até o Século XX)


A liberdade dos crentes, que acabara de ser proclamada pela Reforma
Protestante, levou a uma diversidade de crenças e de movimentos. A Igreja da
Inglaterra era protestante, mas manteve boa parte da forma católica no culto.
Grupos separatistas incluíram a Igreja Congregacional; e depois, os anabatistas,
que batizavam de novo os adultos, por não reconhecerem o batismo de crianças.
No século XVIII, João Wesley deu início ao metodismo, e nos fins do mesmo
século começou o esforço missionário moderno. No século XX houve uma
renovação espiritual com uma nova ênfase pentecostal que levou a uma explosão
de evangelismo com mais expansão missionária.

A despeito das revoluções, do materialismo, dos contra-ataques por outras


religiões e do ateísmo, os cristãos tornaram-se cada vez mais conscientes de
pertencerem uns aos outros. À medida que uma igreja unida enfrenta um mundo
em mudança, adapta-se a novas necessidades. Conseguiu sucessos, mas enfrenta
uma tarefa que ainda está para ser completada. A igreja deve levar o evangelho
ao mundo todo.

g’) Avaliação do Cristianismo

Ao avaliarmos os pontos positivos e negativos do Cristianismo, temos a


desvantagem de não possuirmos um padrão mais elevado, com o qual
pudéssemos compará-lo. Mesmo assim, tendo examinado outras religiões,
chegamos a algumas conclusões no tocante aos valores e critérios importantes e
básicos.
135

a) Pontos Positivos do Cristianismo;


 Seu conceito de Deus como Ser Supremo e Pai amoroso;
 O caráter irrepreensível do seu Fundador;
 Os ensinamentos são da mais alta qualidade moral e social;
 Suas escrituras sagradas têm origem divina;
 Trouxe a civilização por onde quer que penetre;
 Tem forte ênfase missionária que tem melhorado o padrão da vida em
nações pelo mundo afora;
 Oferece a salvação e a comunhão com Deus agora;
 O Espírito Santo está presente por toda a vida do crente;
 Oferece uma esperança fulgurosa para um futuro eterno com Deus.

b) Pontos Negativos do Cristianismo.


Visto que o Cristianismo é o critério de avaliação neste curso, não achamos nele
falha alguma. Reconhecemos, no entanto, que há falhas nos seus adeptos. Não
estamos desculpando ações errôneas, mas realmente queremos pedir que as
pessoas não julgassem o Fundador segundo os erros dos seus seguidores. A
analogia da corrente não pode ser aplicada ao Cristianismo. A igreja não é tão
fraca como seu elo mais fraco; é tão forte como seu Criador. Devemos julgar o
Cristianismo segundo o padrão de Cristo, e não segundo alguém que não vive à
altura do seu padrão. Seguem-se algumas fraquezas que os cristãos
frequentemente revelam na sua vida diária.

33 – CRITICISMO

1 – Introdução:

Exercício da crítica; espírito crítico; sistema filosófico que procura determinar os limites
da razão humana.

2 – A filosofia de Kant (1724 – 1804)

As ciências naturais suplantaram a Escolástica e o Iluminismo tornou-se soberano.


Despontou na Inglaterra e por intermédio de Voltaire, veio para Europa Continental.

Os contextos filosóficos do pensamento Kantiano são: o Racionalismo, o Empirismo e o


apogeu da Matemática. O expediente maior do Empirismo Inglês foi David Hume. A
física e a matemática foram enunciadas por Isaac Newton.

O contexto histórico do pensamento de Kant foi o governo de Frederico, o grande, na


Alemanha, a Independência dos EUA e a Revolução Francesa.

Lucke e o Empirismo: todo conhecimento é advém da experiência.


136

Hume e o Sensualismo: o conhecimento é fornecido pelos sentidos.

Wolff e o Racionalismo: o conhecimento e proporcionado unicamente pela razão.

Kant estudava Leibniz na versão racionalista de Wolff. No entender de Kant, a teoria do


conhecimento significa a teoria da física e da matemática de Newton. Ele abandonou
este posicionamento por causa de duas influências: a de Rousseau e Hume. Este
despertou Kant de sua “sonolência dogmática”.

Rousseau mostrou a superioridade dos sentimentos sobre o intelecto.

Em sua obra principal, a crítica da razão pra, Kant se ocupa com o fundamento do
conhecer e também com a possibilidade da metafísica.

Nosso conhecimento começa com a experiência, mas não se limita à experiência. Até
então, os filósofos se ocuparem com a realidade, mas não estudaram suficientemente a
razão.

A revolução empreendida por Kant foi a Copernicana. No centro deve estar à razão e
não a realidade objetiva. Nosso conhecimento não é o reflexo do objeto. Os objetos
precisam se orientar pelo nosso conhecimento, e este vem do sujeito para os objetos.

3 – O Criticismo Kantiano.

Immanuel Kant (1724 – 1804) nasceu na Alemanha. Interessado desde o início pela
ciência Newtoniana, já constituída plenamente no seu tempo, e preocupado com a
confusão conceitual a respeito do debate sobre a natureza do nosso conhecimento, Kant
questiona, na sua obra Crítica da Razão Pura, se é possível uma “razão pura”,
independente da experiência. Daí seu método ser conhecido como Criticismo.

Diante da questão “qual é o verdadeiro valor dos nossos conhecimentos e o que é


conhecimento?” Kant coloca a razão num tribunal para julgar o que pode ser conhecido
legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso, pretende
superar a dicotomia racionalista-empírica.

O Empirismo

Os empiristas condenam (tudo o que vem dos sentidos) e, da mesma forma, não
concorda com os racionalistas (é errado julgar que tudo quanto pensamos vem de nós):
o conhecimento deve constar de juízos universais, da mesma maneira que deriva da
experiência sensível.

Para superar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é constituído de


matéria e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas e a forma
somos nós mesmos.
137

Exemplificando: para conhecer as coisas, precisamos ter delas uma experiência


sensível; mas essa experiência não será nada se não for organizada por formas da nossa
sensibilidade, as quais são a priori, ou seja, anteriores a qualquer experiência (e
condição da própria experiência...). Assim, para conhecer as coisas, temos de organizá-
las a partir da forma priori do tempo e do espação. Para Kant, o tempo e o espaço não
existem como realidade externa, são antes formas que o sujeito põe nas coisas.

Outro exemplo: quando observamos a natureza e afirmamos que uma coisa “é isto”, ou
“tal coisa é causa de outro”, ou “isto existe”, temos, de um lado, coisa que percebemos
pelos sentidos, mas, de outro, algo escapa aos sentidos, isto é, as categorias de
substancias, de casualidade, de existência (entre outras). Essas categorias não são dadas
pela experiência, mas são postas pelo próprio sujeito cognoscente.

Portanto, “o nosso conhecimento experimental é um composto do que recebemos por


impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasião
de tais impressões”.

Kant também conclui que não é possível conhecer as coisas tais como são em si, ou
seja, “o nou menon” (coisa-em-si) é inacessível ao conhecimento. Apenas podemos
conhecer os fenômenos; esta palavra, etimologicamente, significa “o que aparece”. A
inovação de Kant consiste em afirmar que a realidade não é um dado anterior ao qual o
intelecto deve se conformar, mas, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na
medida em que “aparece” para nós e, portanto, de certa forma participamos da sua
construção.

Prosseguindo a análise da possibilidade do conhecimento, Kant se depara com


dificuldades insolúveis ao questionar sobre as realidades da metafísica, tais como a
existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade, a finitude do universo. Se você
conseguiu nosso raciocínio, lembrará que todo conhecimento, para Kant, é constituído
pela forma a priori do espírito e pela matéria fornecida pela experiência sensível. Ora,
os seres da metafísica não podem preencher essa segunda exigência: não temos
experiência sensível de Deus, por exemplo. Portanto, o conhecimento metafísico é
impossível, e devemos nos abster de afirmar ou negar qualquer coisa a esse respeito
dessas realidades. Trata-se de um agnosticismo (etimologicamente, a “não”, e gnosis,
“conhecimento”). Somos agnósticos quando consideramos a razão incapaz de afirmar a
existência de Deus.

Entretanto, em outra obra, Crítica da Razão Prática, Kant tenta recuperar a realidade
metafísica que destruíra no processo anterior. Não pretendemos aqui acompanhar seu
raciocínio, mas apenas apontar as conclusões: pela análise da moralidade, Kant deduz a
liberdade humana, a imortalidade da alma e a existência de Deus.

O pensamento Kantiano é conhecido como idealismo transcendental. A expressão


transcendental em Kant significa aquilo que é anterior a toda experiência: “chamo
transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos”. Mesmo fazendo a
crítica do racionalismo e do empirismo, Kant segue um processo que redunda em
138

idealismo, pois, ainda que reconheça a experiência como fornecedora da matéria do


conhecimento, é o nosso espírito, graças às estruturas a priori, que constrói a ordem do
universo.

Tal como Copérnico dissera que não é o sol que gira em torno daquele, também Kant
afirma que o conhecimento não é o reflexo do objeto exterior: é o próprio espírito que
constrói o objeto do seu saber. Nesse sentido, dizemos que Kant realizou uma revolução
Copernicana.

4 – O que é a razão

É uma estrutura vazia, universal, necessária, inata e a priori. É um órgão ativo, que
coordena as sensações e processa o conteúdo do conhecimento. Sua função é regular e
controlar as impressões fornecidas pela existência.

A razão transforma os dados da experiência ordenada unidades do pensamento. Kant


vislumbrou duas novas funções da razão:

- fazer com que as ideias metafísicas, que são “as ideias regulativas”, venham a avaliar
o progresso da experiência;

- Negar o caráter contrário das ideias cosmológicas, que então podem ser aplicadas às
práticas morais.

a) Processo do Conhecimento

Como se processa o conhecimento?

As fontes do conhecimento são duas: a sensibilidade e o entendimento. Através da


sensibilidade, os objetos nos são dados. E através do entendimento, os objetos são
pensados. A experiência do rela só é possível através da conjugação das formas de
sensibilidade e de entendimento.

O conhecimento é constituído de matéria e forma, a experiência fornece a matéria do


conhecimento. A razão fornece a forma do conhecimento. A matéria do conhecimento
vem depois e, por isso, é a posterior. Só há conhecimento quando a experiência fornece
conteúdos à razão. A estrutura da razão é inata e universal. Os conteúdos da razão são
empíricos e podem variar no tempo e no espaço. Para haver conhecimento, precisamos
ter uma experiência sensível. Mas, a experiência precisa ser organizada em formas de
sensibilidade, ou seja, a razão ordena os objetos de acordo com o tempo e o espaço.

O espaço e tempo não são conceitos pensados, mas são instituições sensíveis. E são a
priori, pois não podem ser adquiridos pela experiência. Kant desenvolve quatro provas
para sustentar esta argumentação. As duas primeiras, comprovam que o espaço e o
tempo são a priori, as duas últimas o seu caráter intuitivo.
139

As formas de sensibilidade são denominadas de formas de intuição, ou intuições puras.


O tempo é a forma de sensibilidade interna. O espaço é a forma de sensibilidade
externa. Estas formas de sensibilidade são a priori. Existem condições a priori do
conhecimento. O estudo destas condições foi denominado transcendental. Trata-se das
condições que contribuem de parte do sujeito, para a efetivação da experiência.

No entender de Kant, o transcendental é o conhecimento de que a priori abre a


possibilidade para outros conhecimentos. E o estudo das condições a priori – de parte do
sujeito – que contribuem para a possibilidade da experiência.

34 – CUBISMO

Definição:

Tendências das artes plásticas, sobretudo da pintura, que a partir do início do século xx
rompe com as perspectivas adotadas anteriormente. No cubismo, os artistas decompõem
as figuras /vivas ou inanimadas/em formas geométricos, como cubos e cilindros,
rompendo definitivamente com o ideal de retratar a realidade de forma fiel. As obras
trazem os objetos achatados e elimina a ilusão de tridimensionalidade / a perspectiva /.
Seu expoente é o pintor espanhol Pablo Picasso.

35 – CULTISMO

(Veja Tópico Sobre Conceptismo)

36 – DADAÍSMO

Definição:

Surgido na Europa, em 1916, tem teor anárquico e provocativo e caracteriza-se pelo


desejo de destruir as formas de arte institucionalizadas. Objetos do cotidiano são
retirados de contexto e elevado a categoria de arte. Um exemplo é a obra fonte,
provocação criada pelo francês Marcel duchamp, que expos um mictório comum
assinado. Destacam-se no movimento o poeta romeno Tristan tzara e o escultor francês
Hans arp.
140

37 – DETERMINISMO

1 – Introdução:

É o conjunto das condições necessárias de um fenômeno. Princípio da ciência


experimental segundo o qual que tudo existe tem uma causa, isto é, as leis científicas
são as relações constantes e necessárias entre os fenômenos. Na moral, teoria segundo a
qual tudo é determinado, isto é, tem uma causa, inclusive as decições da vontade, não
havendo, portanto, liberdade humana.

2 – A Liberdade

“não há determinismo ou escolha absoluta: jamais sou coisa, jamais sou consciência
nua”. Merleau Ponty.

a) O que é Liberdade?

Segundo o minidicionário da Língua Portuguesa diz que: é a faculdade de cada um se


decidir ou agir segundo a própria determinação; estado ou condição de homem livre;
confiança; intimidade.

Para explicar como se dá a liberdade humana, vejam a parte histórica do homem. Dentre
a epistemologia mitológica temos a seguinte:

As moiras, divindades da mitologia grega, são três irmãs que dirigem o movimento das
esferas celestes, a harmonia do mundo e a sorte dos mortais.

Elas presidem o destino (moira, em grego) e dividem entre si as diversas funções: cloto;
que significa “fiar”, tece os fios dos destinos humanos; Láqueas, que significa “sorte”,
põe o fio no fuso; Átropos, ou seja, “inflexível”, corta impiedosamente o fio que mede a
vida de cada mortal.

Está implícita nesse mito a ideia de que a ação humana se acha ligada aos desígnios
divinos. Os relatos de Homero e Hesíodo revelam como os heróis até se orgulham de
ser escolhidos por certos deuses, que os fazem seus protegidos, defendendo-os da ação
malévola de outros deuses.

Vamos reler agora a citação do psicólogo americano Watson feita sobre o


comportamento. “Deem-me doze crianças sadias, de boa constituição, e a liberdade de
poder cria-las à minha maneira”. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao
acaso, e puder educa-la, convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de
especialista que eu queira – médico, advogado, artista, grande comerciante, e até mesmo
em mendigo e ladrão – independente dos talentos, propensões, tendências, aptidões,
vocações e da raça de seus ascendentes.
141

Prosseguindo nesse ideal de controle do comportamento, Skinner, outros psicólogos


experimental, imagina uma utopia no romance Wadem II, onde todos os atos humanos
seriam cientificamente planejados e controlados. Aí as pessoas são felizes, pois os
técnicos e cientistas cuidam para que elas queiram fazer precisamente as coisas que são
melhores para eles e para a comunidade. Nesse mundo, as questões sobre o
determinismo e liberdade são reduzidas a pseudo-questões de origens linguísticas...

O mito relatado sobre as moiras perde-se no tempo da história da Grécia Antiga.


Homero talvez tenha vivido no século IX a.C. e sabe-se que ele apenas recolheu as
histórias transmitidas desde longo tempo pela tradição oral.

Já os americanos Watson e Skinner, psicólogos da corrente comportamentalista, são


nossos contemporâneos.

O que distingue essas duas posições tão distantes no tempo e que a primeira é mística e
a segunda, científica. O que as aproxima é que, em ambos os casos inexiste a liberdade
humana, por que no mito o homem se acha submetido ao destino inexorável, e no
discurso científico daqueles psicólogos o homem está sujeito ao determinismo.

Tentaremos colocar a questão da liberdade sob um ponto de vista diferente, examinando


inicialmente duas posições antagônicas – o determinismo e a liberdade incondicional -,
para em seguida apresentar a superação dessa dicotomia.

b) O que é Determinismo?

Segundo o determinismo científico, tudo que existe tem uma causa. O mundo explicado
pelo princípio do determinismo é o mundo da necessidade, e não o da liberdade.
Necessário significa tudo àquilo que tem de ser e não pode deixar de ser. Nesse sentido,
a necessidade é o oposto de contingencia, que significa “o que pode ser de um jeito ou
de outro”.

Exemplificando: se aqueço uma barra de ferro, ela se dilata; a dilatação é necessária, no


sentido de que é um efeito inevitável, que não pode deixar de ocorrer. No entanto, é
contingente que nesse momento eu esteja usando roupa vermelha ou amarela.

Ora, se a ciência não partisse do pressuposto do determinismo, seria impossível


estabelecer qualquer lei. A física, a química, a biologia se constituiu em ciências ao
longo dos três últimos séculos procurando descobrir as relações constantes e necessárias
entre os fenômenos. Não haveria conhecimento científico se tudo fosse contingente, isto
é, pudesse acontecer ora de uma forma, ora de outra.

Já no século XVIII, os materialistas franceses D’holbach e La Mettrie explicam os atos


humanos como simples elos de uma cadeia causal universal. O físico Laplace resumiu
assim esse determinismo “um calculador divino, que conhecesse a velocidade e a
posição de cada partícula do universo num dado momento, poderia predizer todo curso
futuro dos acontecimentos na infinidade do tempo”.
142

No século XIX, o positivismo, na ânsia de aplicar o mesmo método das ciências da


natureza às ciências humanas, estende a estas o determinismo, considerando a escolha
livre uma mera ilusão. A psicologia de Watson e Skinner reflete, no século XV, a
influência da visão positivista nas ciências humanas.

Um dos discípulos de Comte, Taine (1828 – 1893), tornou-se conhecido, sobretudo,


pelas leis da sociologia, segundo as quais toda vida humana social se explicaria por três
fatores:

1) A raça, que é a grande força biológica dos caracteres hereditários determinantes


do comportamento do indivíduo;
2) O meio, pelo qual o indivíduo se acha submetido aos fatores geográficos (como
o clima, por exemplo), bem como o ambiente sociocultural e às ocupações
cotidianas da vida;
3) O momento, pela qual o indivíduo é fruto da época em que vive, estando
subordinado a uma determinada maneira de pensar característica do seu tempo.

O pressuposto do pensamento de Taíne é o determinismo, pois o ato humano não é


livre, já que é causado por esses fatores e deles não pode escapar.

Vamos encontrar o reflexo dessa visão determinista na clássica teoria de Lombroso,


jurista que pretendia pela análise das características físicas dos indivíduos, identificar o
criminoso “nato”.

Também a literatura foi influenciada pelo determinismo positivista: a estética naturalista


oferece inúmeros exemplos da tentativa de explicar o comportamento humano como
decorrente de fatores deterministas sem nenhuma possibilidade de transcendência.
Emile Zola, romancista francês, afirmou: “o romance experimental é uma consequência
da evolução científica do século; ele substitui o estudo do homem abstrato, do homem
metafísico, pelo estudo do homem natural, submetido às leis físico-químicas e
determinado pelas influencias do meio”.

c) A Teoria da Liberdade Incondicional

Contrapondo-se ao determinismo, há teorias que enfatizam a possibilidade da liberdade


humana absoluta, do livre-arbítrio, segundo o qual o homem tem o poder de escolher
um ato ou não, independentemente das forças que constrangem.

Segundo essa perspectiva, ser livre é decidir e agir como se quer, sem qualquer
determinação causal, quer seja exterior (ambiente em que se vive), quer seja interior
(desejos, vontade e caráter). Mesmo admitindo que tais forças existam, o ato livre
pertence a uma esfera independente em que se perfaz a liberdade humana. Ser livre é,
portanto, ser influenciado por causa externa.

Bossuet (Século XVII), no tratado sobre o livre-arbítrio, diz o seguinte: “por mais que
eu procure em mim a razão que me determina, mas sinto que eu não tenho nenhuma
senão apenas a minha vontade: sinto aí claramente minha liberdade, que consiste
143

unicamente em tal escolha. É isto que me faz compreender que sou feito à imagem de
Deus”.

d) A Separação da Dicotomia: Determinismo e Liberdade

Afinal “o homem é livre ou é determinado? ”

A questão assim colocada gera um falso problema. Na verdade, o homem é


determinado, mas também é livre. É preciso considerar os dois polos contraditórios,
superando o materialismo mecanicista, segundo o qual o homem é determinado bem
como a tese da liberdade incondicional. Segundo a concepção dialética, embora os polos
determinismo X liberdade, se oponham, na verdade estão ligados:

- O homem é realmente determinado, pois se encontra situado em um tempo e espaço e


é herdeiro de certa cultura;

- Mas o homem é também um ser consciente, capaz de conhecer esses determinismos;


tal conhecimento permitira a ação transformadora que, a partir da consciência das
causas (e não à revelia delas), pode construir um projeto de ação. Portanto, só a
consciência do determinismo não é suficiente, pois a liberdade se torna verdadeira
quando acarreta um poder, um domínio do homem sobre a natureza e sobre a sua
própria natureza.

A consciência que o homem tem das causas se transforma, por sua vez, em outra causa,
capaz de alterar a ordem das coisas. Com isso, não se rompe o nexo causal, mas
introduz-se outra causa – a consciência do determinismo – que transforma o homem em
ser atuante, e não simples efeito passivo das causas que agem sobre ele.

Vejamos o exemplo da ação do vírus da tuberculose no corpo humano. Pela ordem


natural da ação das causas, a morte é inevitável. Pelo menos era assim no século
passado, e a despeito da aura romântica que envolvia os jovens poetas tuberculosos, a
doença era implacável. Quando Koch descobre o nexo causal da doença, pela ação do
bacilo, o conhecimento das causas possibilita a ação efetiva: remédios, alimentação,
clima, repouso etc., e eis o fantasma da doença letal deixando de assombrar as pessoas.

O filósofo personalista Mounier diz: “enquanto se desconheceram as leis da


aerodinâmica, os homens sonhavam voar; quando o seu sonho se inseriu num feixe de
necessidades, voaram.” Lembremos aqui o significado do conceito de necessidade.
Descobrir o feixe de necessidades é conhecer as leis da aerodinâmica, ou seja, saber o
que faz voar um corpo mais pesado do que o ar. Não há magica: há conhecimento dos
determinismos. O sonho se concretiza no trabalho do homem como ser consciente e
prático.

Do ponto de vista psicológico, ocorre o mesmo processo. Suponhamos que alguém


tenha um temperamento agressivo. Se ele se reconhece assim, cuida para não ser levado
pelo impulso, para saber usar a agressividade conforme a ocasião e conveniência. Aliás,
144

uma das grandes contribuições de Freud é ter mostrado que o neurótico não é livre, pois
se acha dominado por forças inconscientes que mascaram suas ações.

A atitude obsessiva compulsiva, como a de lavar as mãos seguidamente, por considera-


las sempre sujas ou cheias de micróbios, não representa o ato livre de alguém
preocupado com a higiene. Trata-se de um sintoma e, portanto tem significado latente,
oculto, que pode ser investigado. A interpretação é sempre relativa a cada caso concreto,
mas, para fins de exemplificação, vamos supor que o significado fosse a culpa resultante
de desejos sexuais reprimidos e considerados “sujos” pelo paciente. A cura da neurose
estaria em trazer à consciência a causa escondida, ajudando o paciente a lidar com o seu
próprio desejo.

3 – A Liberdade Situada

O que observamos na posição que pretende superar a antinomia determinismo-liberdade


é que a discussão sobre liberdade não se faz no plano teórico, a partir do conceito da
liberdade abstrata. Ao contrário, trata-se da liberdade do homem situado, do homem
enquanto ser de relação.

Na linguagem da fenomenologia, traduzimos esses dois polos como sendo a facticidade


(ou imanência) e a transcendência humanas. Polos antitéticos (ou seja, contraditórios,
relativos à tese e a antítese), mas indissoluvelmente ligados.

A facticidade é a dimensão de “coisa” que todo homem tem, é o conjunto das suas
determinações. São “os fatos” (donde facticidade) que estão aí, tais como são e sem
possibilidade de ser de outra forma. O fenomenológico Luypen diz: “refletindo sobre
sua existência, o homem se encontra, com efeito, como já imerso em determinado corpo
e já envolvido em determinado mundo. Acha-se como holandês, judeus, inteligente,
aleijado, operário, emocional, doente, rico, gordo, ou outra coisa qualquer. Tudo isto
constitui o que ele já é, a saber, seu passado. Esse já é também chamado a determinação
do homem”.

A transcendência é a ação pela qual o homem executa o movimento de se ultrapassar a


si mesmo. É a sua dimensão de liberdade.

A liberdade não é uma dádiva, algo que é dado, nem é um ponto de partida, mas é o
resultado de uma árdua tarefa, alguma coisa que o homem deve conquistar.

A liberdade não é uma ausência de obstáculos, mas o desenvolvimento da capacidade de


denomina-los e superá-los. O filósofo francês Gusdorf conta que “um grande pintor
tendo feito em algumas sessões o retrato de um freguês, teve que ouvir deste a objeção
que o preço exigido era muito alto por algumas horas de trabalho. Algumas horas,
respondeu o artista, mas toda a vida”. Isso significa que a aparente simplicidade do
trabalho executado naquele curto espaço de tempo na verdade era o resultado de muita
disciplina e domínio das dificuldades enfrentadas durante longo período de aprendizado.
145

A juventude é a fase em que se torna mais forte a reivindicação de liberdade. Mas


também é o período em que se inicia o exercício desse poder. Por isso, ainda segundo
Gusdorf, “a liberdade adolescente é uma adolescência da liberdade, uma liberdade de
aspiração (...). A juventude é o tempo de aprendizado da liberdade”.

a) A Estrutura do Homem

Como se dá o entrelaçamento de responsabilidade, liberdade e necessidade?

É preciso examinar a estrutura do homem, e para tal usaremos o esquema utilizado pelo
filósofo Van Riet como ponto de partida para sua teoria do conhecimento. Embora
originalmente o ponto de referência para o filósofo tenha sido o homem enquanto
sujeito que conhece, vamos fazer a adaptação à questão da liberdade, isto é, o homem
enquanto ser livre.

Segundo Van Riet, o homem possui uma estrutura formada por aspectos distintos, mas
ligados entre si: empírico (ou corpóreo), pessoal (ou voluntário) e a perceptivo (ou
intelectual).

- aspecto empírico:

Chama-se empírico o aspecto da estrutura humana referente aos fenômenos que podem
ser constados pela experiência.

O homem é um corpo e, como tal, está sujeito às leis da física (ocupa lugar no espaço,
está sujeito à lei da queda dos corpos etc.).

O homem é um corpo biológico, um organismo vivo, e responde às influencias do


mundo de forma coordenada: busca ar e alimentos, se reproduz, herda e transmite
caracteres segundo leis conhecidas pela genética.

O homem é um ser psicológico e, como tal, percebe o mundo, reage emocionalmente a


ele e elabora as próprias vivências. Por exemplo, o processo de aprendizagem se faz a
partir de funções específicas que se desenvolvem gradativamente: não adianta querer
ensinar álgebra a uma criança que ainda não aprendeu aritmética elementar. Isso sem
falar na existência de caracteres patológicos que podem influenciar o comportamento
das pessoas.

O homem é um ser cultural, vive no meio humanizado, transformado por sua própria
ação. Ao nascer, já recebe língua, costumes, moral, religião, organização econômica e
política, uma história, enfim. É a isso que chamamos historicidade, ou seja, o homem se
encontra sempre situado em determinada época, numa certa cultura.

O aspecto empírico refere-se à facticidade humana. Se considerássemos apenas o


aspecto empírico do homem, concluiríamos que ele é determinado e não livre.
146

- Aspecto Pessoal:

O aspecto empírico não é, entretanto, determinante de forma absoluta. Podemos


constatar que, diante dos determinismos, o homem tem uma relação pessoal.

O aspecto pessoal é também chamado voluntário, pois não se explica só pelo fato de o
homem estar situado na sua facticidade, mas por ser capaz de transcender, decidir,
escolher, e, consequentemente, de ser responsável por seus atos, comprometido neles,
engajado numa ação.

Exemplo interessante é o da linguagem, que faz parte do aspecto empírico, já que se


trata de fato da cultura herdada. No entanto, as mesmas palavras usadas por todos
podem ser organizadas de modo original, de tal forma que é possível reconhecer o estilo
inconfundível de cada um. Isso decorre da originalidade e criatividade humanas.

Nossa própria experiência pode ser retomada em vários sentidos diferentes: nunca
lemos o mesmo livro da mesma forma, nossas lembranças são reelaboradas nos
contextos vividos; descobrimos coisas novas a cada vez que ouvimos a mesma música.

Mas aí, surge um problema: se o aspecto pessoal justifica a liberdade do homem, e essa
liberdade é pessoal e intransferível, caba a cada homem decidir-se sobre o que é melhor
para si; querer determinar o que é melhor para todos seria violar a liberdade de cada.

Entretanto, o resultado de tal postura sem dúvida individualista é o relativismo moral e


o solipsismo (o homem voltado para si mesmo e incapaz de comunicar-se com o outo).

Tal posição é muito comum hoje em dia, principalmente quando as pessoas “justificam”
o individualismo dos seus atos: “estou na minha”... permanecer nesse estágio pessoal
resulta em empobrecimento da moral, pois o indivíduo não é capaz de descentrar-se de
si próprio.

- Aspecto Aperceptivo

O terceiro aspecto da estrutura do homem chama-se a perceptivo, porque se procura


fazer uma abordagem além da percepção e, portanto seja alerta, conceitual, intelectual.

Nesse aspecto as afirmações subjetivas aspiram à objetividade, permitindo ao sujeito a


superação das contingências da própria experiência e colocando-se do ponto de vista
dos outros. A descentralização do sujeito em busca da relação intersubjetiva (isto é,
entre os sujeitos) possibilita a comunicação e retira o indivíduo do seu universo
fechado.

Retomemos o exemplo da linguagem: pelo aspecto empírico, ela é um determinismo,


pois a recebemos como herança cultural; pelo aspecto pessoal, transcendemos o
determinismo pela elaboração original de um discurso criador e pessoal; pelo aspecto a
perceptivo, por mais original que seja nosso discurso, nós nos fazemos entender, pois
existe na linguagem o sentido intersubjetivo que supera o pessoal.
147

Conclusão:

Fizemos a exposição dos três aspectos da estrutura do homem em determinada


sequência, o que não deve ser entendido como três momentos isolados que surgem
nessa ordem de experiência. A moral é tecida na trama dos três aspectos que, embora
contraditórias, se acham indissoluvelmente ligados.

Prender-se ao aspecto empírico é mergulhar na heteronomia, é regular-se por leis


externas, é sucumbir ao determinismo. Privilegiar o aspecto pessoal é negar a dimensão
intersubjetiva da moral. Ater-se exclusivamente ao aspecto a perceptivo é tornar a moral
e a liberdade, conceito abstrato e descarnado.

A relação que se estabelece entre os três aspectos é dialética, pois supõe a reciprocidade
de influencias, em que a atuação de um aspecto, mesmo “negando” o outro, de certa
forma o “conserva”.

Só assim será possível superar a heteronomia, indo em direção à autonomia: a


realização do ato moral livre.

38 – DOCETISMO

1 – Introdução:

O que é docetismo?

A palavra procede do grego (‘dokein’) que significa aparentar que é uma heresia do
final do século I que afirmava que Jesus apenas aparentava ser humano.

Docetismo é a afirmação de que o corpo humano de Cristo era um fantasma e de que


seus sofrimentos e morte foram meras aparências. “se sofreu, não era Deus; ser era Deus
não sofreu”.

Negavam a humanidade de Cristo, afirmavam a divindade. O docetismo já estava


presente no final da época do Novo Testamento, como é evidente pela exortação de
João, o apóstolo, sobre aqueles que negam “que Jesus Cristo veio em carne” (1 João
4.2; Ef. cf. 2 Jo. 7.

2 – Jesus era completamente humano.

 Ele tinha ancestrais humanos (Mt. 1.20-25; Lc. 2.1 – 7);


 Ele Teve concepção Humana (Lc. 2.4 – 7);
 “ “ infância Humana (Lc. 2);
 “ “ fome (Jejuou 40 dias);
148

 “ “ sede (Jo. 4.6,7);


 “ “ cansaço ((Jo. 4.6);
 Ele teve emoções humanas (Jo. 11.35);
 “ “ Senso de humor humeno (jo. 2.15);
 “ “ Tentação (Mt. 3; 26.38-42),
 “ “ corpo humano (hb. 2.14);
 “ “ dor física (Mt. 27.34);
 “ “ Morte física (Mt 16.21, Rm.5.8, 1 Co. 15.3, Ef. 2.13);

3 – Uma Resposta Teológica

A negação da humanidade de Cristo é um erro tão grave quanto negar sua própria
divindade; se Jesus não é Deus e humano, não pode mediar entre Deus e humanos (1
Tm. 2.5). A Salvação envolve a reconciliação dos seres humanos com Deus (2 Co.
5.18,19). Isso só é possível se Deus se tornar humano. Negar a verdadeira humanidade
de Cristo é negar a base de nossa reconciliação com Deus. É por isso que a Igreja
primitiva condenou o docetismo.

4 – A Humanidade de Cristo Negada

Vejamos as heresias que negavam a humanidade de Cristo:

“No final do primeiro século, Marcião e os gnósticos ensinaram que Cristo apenas
parecia ser homem (no grego, dokeo, parecer ou aparentar). O apóstolo João referiu-se a
esse falso ensinamento em I João 4.1-3. Essa heresia desafia não apenas a realidade da
encarnação, mas também a validade do sacrifício e da ressurreição corpórea.”

“Para todos os docetas [...] Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois a matéria
é intrinsecamente má. As epístolas de Colossenses e João argumentam contra esta noção
pré-gnóstica. Esta posição tem reaparecido atualmente no ensino dos evangelistas da
prosperidade.”

“Elementos deste erro já tinham surgido nos dias do Novo Testamento (1 Jo 4.1-3; 2 Jo
7; Cl 2.8,9). Em certas formas, sustenta que Jesus escapou da infâmia da morte por
crucificação, quando Judas Iscariotes ou Simão Cirineu trocaram de lugar com Ele na
cruz. Os muçulmanos aceitam uma forma deste erro (ver Sura 4.187). entre o
proponentes deste erro estavam Cerinto (c. 100 d.C.) e Serapião, bispo de Antioquia
(190-203).”

“O docetismo afirmava que o corpo de Cristo não passava de um fantasma; que seus
sofrimentos e morte eram meras aparências. [...]. Acreditava que o sofrimento e a morte
de Jesus eram incompatíveis com a divindade.”
149

39 – DOGMATISMO

1 – Introdução:

O termo “Dogmatikós” é de origem grega e significa “que se funda em princípios” ou


“relativos a uma doutrina”.

Dogmatismo é uma doutrina segundo a qual o homem pode atingir a certeza.


Filosoficamente é a atitude que consiste em admitir que a razão humana tenha a
possibilidade de conhecer a realidade.

Do ponto de vista religioso, chamamos dogma a uma verdade fundamental e


indiscutível da doutrina. Na religião cristã, especificamente no catolicismo, por
exemplo, há dogma da “Santíssima Trindade, segundo o qual as três pessoas (pai, filho
e espírito santo) não são três deuses, mas apenas um”. Deus é trino. Não importa se a
razão não consegue entender, já que é um princípio aceito pela fé e o seu fundamento é
a revelação divina.

Quando transpomos a ideia de dogma para o campo não religioso, ela passa a designar
as verdades não questionadas e inquestionáveis. Só que, nesse caso, não se estando mais
no domínio da fé religiosa, o dogmatismo torna-se prejudicial, já que o homem, de
posse da verdade, fixa-se nela e abdica de continuar a busca.

O mundo muda, os conhecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece


petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas.

Disse Nietzsche que “as convicções são prisões”. Refratário ao diálogo, o homem
dogmático teme o novo e não raro se torna intransigente e prepotente. Quando resolve
agir, o fanatismo é inevitável, e com ele, a justificação da violência.

Também chamamos dogmáticos os seguidores de “escolas” e tendências quando se


recusa a discutir suas verdades, permanecendo refratários às mudanças.

Quando o dogmatismo atinge a política, assume um caráter ideológico que nega o


pluralismo e abre caminho para a imposição da doutrina oficial do Estado e do partido
único, com todas as infelizes decorrências, como censura e repreensão. Em nome do
dogma da raça ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus e ciganos nos campos
de concentração.

Além dos significados comuns do conceito de dogmatismo, é preciso ressaltar outro,


denunciado por Kant na crítica da razão pura. Como se propôs a fazer a avaliação das
reais condições dos limites da razão para conhecer, Kant chama de dogmáticos todos os
filósofos anteriores, inclusive Descartes, por não terem colocado a questão da crítica do
conhecer como discussão primeira. Ou seja, aqueles filósofos “não acordaram do sono
dogmático”, no sentido de ainda terem uma confiança não questionada no poder da
razão em conhecer.
150

40 – DUALISMO
(veja tópicos sobre: materialismo, modernismo, idealismo, monismo).

1 – Introdução:

Metafísicas da Modernidade: Debates entre materialistas e idealistas.

Após o resumo histórico sobre distintas concepções de mundo – desde os mitos até o
surgimento da ciência moderna, passando brevemente pelas metafísicas da Antiguidade,
podemos avançar para o estudo das metafísicas da modernidade. Antes, porém,
precisamos conhecer alguns conceitos para poder fazer determinadas distinções.

2 - histórico

Boa parte das explicações sobre o real (filosóficas e não filosóficas) pode ser
enquadrada nestas duas tendências ou correntes de interpretação:

 Materialismo (ou fisicalismo) – é materialista qualquer concepção ou doutrina


que tem, implícita ou explicitamente, a matéria (ou algum princípio físico, como
o átomo ou a energia) como a realidade primeira e fundamental de tudo o que
existe. Uma pessoa estritamente materialista (no sentido filosófico), por
exemplo, é aquela que tende a acreditar que é possível explicar, a partir da
matéria, todos os fenômenos naturais e mentais, até mesmo sociais. O
materialismo moderno serve-se com frequência do mecanicismo, isto é, da
noção de que os fenômenos se explicam por um conjunto de causas mecânicas,
como uma engrenagem. Existem vários tipos de materialismo.

 Idealismo – é idealista qualquer doutrina que concebe, implícita ou


explicitamente, que o pensamento, a ideia ou algum princípio imaterial (isto é,
de outra ordem que não a da matéria) constitui a realidade primeira e
fundamental de tudo o que existe ou uma realidade independente e distinta da
matéria, mas tendo procedência (anteriorioridade e maior importância) sobre
esta. Essa concepção também pode ser qualificada como espiritualista ou
imaterialista, conforme o caso. Há vários tipos de idealismo. Por outro lado,
como nem todas as concepções ou teorias sobre o mundo advogam a existência
de apenas um princípio fundamental, elas também podem ser classificadas em
três categorias distintas:

1. Monismo – qualquer concepção ou doutrina que considera que tudo o


que existe pode ser reduzido (convertido, simplificado) a um princípio
fundamental (a palavra monismo deriva do grego menos, que significa
151

“único, isolado”). Por exemplo: se é a matéria, temos um monismo


materialista; se é a mente ou espírito, temos um monismo idealista ou
espiritualista. As explicações monistas tendem a compor grandes
sistemas, em que todas as esferas da existência estariam interligadas pelo
princípio fundamental;

2. Dualismo – qualquer concepção ou doutrina que defende a existência de


dois princípios primeiros (ou substancias fundamentais) no universo,
irredutíveis entre si (isto é, um não pode ser convertido ou fundamentado
no outro). Existem vários tipos de dualismo, mas geralmente o termo
refere-se à contraposição mente-corpo, espírito-matéria;

3. Pluralismo – qualquer concepção ou doutrina que entende que o universo


está composto de uma multiplicidade de entidades ou elementos
individuais e independentes. Opondo-se principalmente à ideia de uma
realidade fundamental e única, as explicações pluralistas tendem a
compor cenários mais abertos, incompletos ou indeterminados que os do
monismo.

As teorias dos primeiros pensadores pré-socráticos são exemplos claros de monismo,


pois propõem a existência de um princípio fundamental para tudo o que existe: água, ar,
fogo etc.

Platão costuma ser considerado um dualista por conceber duas realidades distintas e
separadas (o mundo sensível e o mundo inteligível).

O mesmo se pode dizer de Aristóteles, mas seu dualismo seria “moderado”, tendo em
conta que supôs dois princípios inseparáveis (matéria e forma), constituindo a unidade
do real. Por último, como exemplo claro de pluralismo, temos as concepções de
Empédocles (dos quatro elementos) e de Demócrito (a multiplicidade dos átomos).

3 – Observação:

Tenha sempre em mente que não existem classificações rígidas. Elas são pautas que nos
ajudam a fazer certas distinções, e sua determinação depende do aspecto doutrinário que
se quer abordar, podendo às vezes variar até para um mesmo autor.

A metafísica de Platão, por exemplo, embora seja tradicionalmente considerada


dualista, também costuma ser classificada como idealista (portanto, monista), já que as
ideias são, para ele, o ser verdadeiro e essencial de todas as coisas.
152

a) Dualismo Cartesiano:

Vejamos agora algumas das principais teorias da realidade que contribuíram para a
matriz de valores e concepções de mundo da modernidade. Comecemos pela doutrina
dualista de René Descartes. Durante o século XVII – época do chamado grande
racionalismo, esse pensador concebeu uma metafísica de muita influencia até nossos
dias. Trata-se da concepção de mundo que separa radicalmente matéria e espirito ou
corpo e mente conhecida como dualismo cartesiano.

Como vimos anteriormente, o filósofo francês estava decidido a romper com a herança
cultural do passado (aristotélico-tomista) e a começar tudo novamente desde os
fundamentos, com o propósito de estabelecer “algo de firme e de constante nas
ciências”. Para alcançar esse objetivo, empregou o método da dúvida e chegou a
questionar até mesmo o que parecia mais indubitável: a existência do mundo e de si
mesmo. Desse modo, ele buscava chegar a uma primeira certeza, que atuaria como um
novo centro ou ponto fixo a partir do qual construiria toda a sua filosofia.

Você deve lembrar que a primeira certeza que Descartes alcançou em sua dúvida
metódica foi o Cogito, isto é, o “Penso, logo existo”. Portanto, ele sabia que existia
como “coisa pensante”. A partir daí, tratou de alcançar outras certezas. Primeiro,
precisou provar a existência de Deus, para depois demonstrar como se podia conhecer o
mundo exterior. Nessa tarefa, foi construindo sua teoria da realidade, que ficou
estruturada em três classes de substancias ou coisas (que em latim se diz res):

 Substancia infinita (res infinita) – cuja propriedade essencial é a infinitude; trata-


se de Deus, ser que criou todas as coisas;

 Substância pensante (res cogitans) – ativa, cuja propriedade essencial é o


entendimento; corresponde à esfera do eu (ou consciência), entendido como
sujeito de toda a atividade do intelecto;

 Substância extensa (res extensa) – passiva, cuja propriedade essencial é a


extensão no espaço (comprimento, largura e profundidade), com formas e
movimento; trata-se do mundo corpóreo, material.

No entanto, concordando com a doutrina católica, Descartes concebia que Deus é um


ser transcendente, isto é, encontra-se fora, separado de sua criação.

Desse modo, no mundo em que vivemos existiriam apenas as duas substâncias finitas
(res cogitans e res extensa), que seriam essencialmente distintas e separadas. Daí o
conhecido dualismo da metafísica cartesiana.
153

b) Dualismo Platônico:

Como grande parte dos pensadores de sua época, Platão também enfrentou o impasse
criado pelos pensadores de Parmênides e Heráclito, ou seja, sobre o problema da
permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade.

Em sua doutrina, conhecida como teoria das ideias, Platão procurou resolver esse
impasse propondo uma ontologia dualista. Assim, para ele existiriam duas realidades
diametralmente opostas:

 Mundo sensível (kósmos horatós, em grego) – corresponde à matéria e compõe-


se das coisas como as percebemos na vida cotidiana (isto é, pelas sensações), as
quais surgem e desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo
sensível são temporadas, mutáveis e corruptíveis (o mundo de Heráclito);

 Mundo inteligível (kósmos noetós, em grego) – corresponde às ideias, que são


sempre as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem
experimentar a dimensão do eterno, do imutável, do perfeito (o mundo de
Parmênides). Todas as ideias derivariam da ideia do bem.

Observe que a concepção dualista de Platão – também conhecida como teoria das ideias
– opera uma mudança radical em relação aos pensadores anteriores ao situar o ser
verdadeiro fora ou separado do mundo sensível. Isso não ocorria nos filósofos pré-
socráticos, que buscavam a arché das coisas nas próprias coisas, nem em Sócrates, para
quem a essência ou o ser verdadeiro também se encontrava nas coisas. Isso significa que
para esses filósofos o ser verdadeiro é imanente, isto é, encontra-se neste mundo ou se
confunde com ele, enquanto para Platão é transcendente, ou seja, encontra-se separado
dele.

c) Demiurgo e o Mundo:

Apesar de seu dualismo, Platão supôs a existência de uma terceira realidade, a qual
teria operado apenas a criação do mundo. Como argumenta o filósofo no diálogo Timeu,
tudo o que foi gerado deve ter tido um princípio gerador, uma causa.

Portanto, o universo (o mundo sensível) teria surgido por obra de um demiurgo –


palavra de origem grega que significa “aquele que faz, constrói”.

De acordo com essa doutrina, para construir o universo o demiurgo agiu como
“artesão”: buscou as ideias eternas do mundo inteligível como modelo e, com elas, deu
forma à matéria indeterminada, criando assim o mundo sensível. Isso quer dizer que
as ideias e a matéria já existiam antes, compondo, junto com o demiurgo, as três
realidades fundamentais do cosmo gênese platônicas.
154

41 – EBIONISMO

1 – Introdução:

O que é o Ebionismo?

É uma palavra de origem hebraica, (Evyonim, que significam “pobres”). É o nome de


uma das ramificações do Cristianismo primitivo, que pregava que Jesus de Nazaré não
teria vindo abolir a Torá, e que considerava Paulo de Tarso um apóstata. Desta forma,
pregavam que tanto judeus como gentios convertidos deveriam seguir os mandamentos
da Torá, o que levou a um choque com outras ramificações do Cristianismo e do
judaísmo.

As informações sobre os ebionitas ficaram registradas nos escritos da igreja. Pelas


informações que constam naqueles escritos, vemos que os ebionitas criam que é
necessário obedecer a todos os mandamentos da Lei de Moisés, inclusive ao
mandamento de fazer a circuncisão; que os gentios que se convertem a Deus devem
fazer a circuncisão e devem obedecer a todos os mandamentos da Lei; que Jesus Cristo
é o Messias, mas não é Deus; que Ele não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado
por José;

Que Paulo de Tarso foi um apóstata da Lei e não foi um verdadeiro apóstolo de Jesus
Cristo; que as Escrituras Sagradas são somente o Antigo Testamento, e que eles usavam
um único evangelho (chamado de Evangelho dos Ebionitas), escrito em hebraico e que
era considerado como sendo o Evangelho segundo Mateus, um pouco menor do que o
Evangelho segundo Mateus, escrito em grego e era canônico, o qual é usado pelos
cristãos.

2 – Origem dos Ebionitas

Sua origem ainda é obscura. Acreditava-se como apenas o cristianismo original, ou um


das ramificações primitivas deste. Em oposição à doutrina Paulina, acreditava-se que o
Ebionismo deveria ter surgido entre os seguidores de Jesus e Tiago, o Justo, que
buscavam conciliar a crença messiânica com o cumprimento das leis da Torá.

O choque entre os dois grupos: judaizantes e antijudaizantes já são aparentes no livro de


Atos dos Apóstolos, onde a discussão entre os dois grupos obriga à convocação da
assembleia dos apóstolos (Atos 15), e em Atos 21.17-26, onde consta que havia na
Terra de Israel dezenas de milhares de judeus que criam em Jesus Cristo e eram zelosos
observadores da Lei (Atos 21.20), e que houve uma situação de confronto entre eles e
Paulo, considerado por eles como apóstata, pois haviam sido informados de que Paulo
pregava a desobediência aos mandamentos da Lei.
155

Embora os judeus cristãos mencionados em Atos 15.1 e Atos 21.20 não fossem ainda
chamados ebionitas, pois esta denominação somente começou a serem usados mais
tarde, eles eram em essência ebionitas, pois sua crença e prática eram iguais à dos
ebionitas.

O confronto entre os judaizantes e os antijudaizantes aparece também em Gálatas 2.11-


21, onde consta que Cefas (Pedro), seguindo orientação de Tiago, obrigava os gentios a
se judaizarem, e Paulo não concordava com isso.

O movimento ebionitas enfatizaria a natureza humana de Jesus, como filho carnal de


Maria e José, que se teria tornado Filho de Deus quando de seu batismo, e sendo
descendente de David, se tornaria o Rei do povo de Israel e seu último grande profeta.

Desprezado por cristãos e judeus, o Ebionismo constituiu uma ramificação separada e


organizou sua própria literatura religiosa.

3 – Literatura Ebionitas

a) Evangelho dos Ebionitas:

Consta nos escritos dos Pais da Igreja que os ebionitas usavam somente um Evangelho,
escrito em hebraico, e era considerado com sendo o “Evangelho de Mateus”, mas era
menor do que o verdadeiro Evangelho de Mateus em grego, chamado de “Evangelho
dos Hebreus” (Eusebio de Cesareia, História Eclesiastica e Epifânio de Salamina).

No entanto, é necessário distinguir entre o Evangelho dos Hebreus usado pelos ebionitas
e o Evangelho dos Hebreus usado pelos nazarenos, pois, embora ambos fossem
considerados como sendo o Evangelho de Mateus em Hebraico, o evangelho utilizado
pelos nazarenos era uma versão um pouco mais extensa, que continha todos os trechos
encontrados no Evangelho de Mateus em grego utilizado pelos cristãos, com alguns
trechos a mais, enquanto que o usado pelos ebionitas, ao contrário, era mais curto que a
versão canônica (Epifânio, Panarion, 30.13:2);

b) Evangelho dos Hebreus.

O Evangelho dos Hebreus usados pelos nazarenos é citado várias vezes por Jerônimo.
Segundo o entendimento ebionitas, o Evangelho de Mateus continha a sua doutrina,
principalmente em Mateus 5. 17-19, onde consta que Jesus Cristo disse que não veio
abolir a Lei nem os profetas, mas sim cumprir, e que a Lei nunca será abolida; e
também que devemos obedecer a todos os mandamentos da Lei. Também em Mateus
7.21-23, onde consta que Jesus Cristo disse que nem todos os que creem nele entrarão
no Reino de Deus, mas sim somente aqueles que fazem a vontade de Deus. Esse
entendimento contrastava-se com a hermenêutica ortodoxa do texto que aceita a ideia de
Jesus Cristo ter vindo cumprir no sentido de “encerrar”, ou seja, de todas as normas e
regras da lei mosaica se cumprirem nele, o único em toda a história capaz de conseguir
156

cumprir todas as regras previstas na Lei mosaica. A partir daí, ele mesmo, Jesus, viria
estabelecer uma nova aliança, ou novo concerto, e isso está perfeitamente claro e
explicado na Carta aos Hebreus, claramente escrita na época a fim de combater as ideias
ebionitas. Já na questão de todos os mandamentos de Jeová ser obedecidos, o próprio
Jesus os aglutinou em apenas dois: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo. Quem assim fizesse com dedicação e de coração, automaticamente
estaria obedecendo a todos os demais mandamentos de forma natural. Já a crença de
Mateus 7.21-23 é ponto passivo, irrelevante para o confronto doutrinário.

4 – As Duas Seitas

Na época dos pais da igreja, segundo relada Orígenes e Eusébio de Cesareia, existiam
dois grupos de ebionitas. Estes dois grupos diferenciavam-se um do outro devido a
determinadas práticas e em função de sua aparição. A palavra ebionitas significa
literalmente “pobres”, do hebraico evion, e conforme já mencionado, aparece pela
primeira vez nos escritos dos pais da igreja. Conforme a informação encontrada nos
escritos destes, este nome designava ao grupo de judeus que tinha reconhecimento de
Jesus (Yeshua há Netzaret) como figura messiânica do judaísmo, e que não acreditavam
na divindade de Jesus. Desta forma, os pais da igreja diziam que estes tinham
pensamentos “pobres” a respeito de Cristo, e possivelmente surgiu desta palavra
hebraica evion (pobres), que estes judeus passaram a serem chamados de ebionitas.

No decorrer dos tempos parte dos ebionitas criaram a seita dos “ebionitas-gnósticos”,
que consistia em aderir ao Ebionismo ensinamentos dos elchasitas, discípulos de Elshai
(Elchasai). Os elchasitas, que possuíam ensinamentos vegetarianos, assim como os
essênios, tinham a sua religião como um mistura de ensinamentos dos gentios, cristãos e
de judeus.

O surgimento dos chamados “ebionitas-gnósticos” era paralelo com a outra seito


ebionitas que não aderia a estes ensinamentos. A seita dos ebionitas-gnósticos também
poderia ser chamada de “Ebionitas-Elchasitas” visto ter tido sua aparição sob influência
do já mencionado Elshai (Elchasai).

Há atualmente diversos movimentos religiosos que em maior ou menor grau


compartilham a visão ebionitas. Dentre eles, podemos mencionar o movimento criado
por Shemayah Phillips, que em 1985 fundou o movimento conhecido como a Ebionite
Jewish Community.

Esta comunidade, estritamente monoteísta, reconhece Jesus como um profeta justo, e


defende uma interpretação judaica do Tanakh e que tal sirva como meio de união entre
judeus e gentios para implantação de uma sociedade justa.
157

42 – ECUMENISMO
(Veja pluralismo Religioso, Reformas).

1 – Introdução:

O minidicionário da Língua Portuguesa Aurélio define “ecumenismo” como:


movimento que visa à unificação das igrejas cristãs (católicas, protestantes e ortodoxas).

Há vários tipos de ecumenismo. Por isto, iremos descrever alguns para que possamos
conhecer e entender seus objetivos comuns na pratica desses movimentos. Vamos
analisar apenas três que são: o ecumenismo religioso, o cristão e o evangélico.

2 – Desenvolvimento

a) Ecumenismo Religioso:

É a tentativa de aproximar as grandes e diferentes religiões do mundo. Essa


aproximação vai desde cooperação em missões e ação social e política, até união e fusão
de credos. A iniciativa tem sido principalmente de órgãos protestantes. O maior deles é
o Concílio Mundial de Igrejas (CMI).

A filosofia que permite o CMI fazer esta tentativa é o pluralismo. Como o nome já
indica, essa filosofia defende a pluralidade da verdade, ou seja, que não existe uma
verdade absoluta, mas sim verdade diferente para cada pessoa. Esse conceito é ambíguo,
mas definitivamente já fez parte integrante da nossa cultura presente. Ele acredita que
seja possível o relacionamento de pessoas com crenças e ideologias diferentes, sem que
um tenha de sujeitar suas convicções ao domínio do outro.

A ideia de converter alguém às suas próprias convicções é politicamente incorreta. A


chave está na valorização da negociação e da cooperação em algum lugar de se tentar
provar que se este certo ou errado.

Pluralismo Religioso, por sua vez, prega o abandono da “arrogância” teológica do


Cristianismo, nega que exista verdade religiosa absoluta, e exalta a experiência religiosa
individual como critério último para cada. A ideia de cristão tentar converter pessoas de
outra fé ao cristianismo é absurda. O tema da salvação em outras religiões foi discutido
recentemente na Assembleia Geral do Concílio Mundial de Igrejas. O relatório
apresentado trouxe debate considerável. As conversas se arrastam sem produzir
qualquer progresso claro.

Uma consulta teológica sobre a salvação na Suíça patrocinada pelo CMI, composta por
25 teólogos, trouxe as seguintes conclusões:
158

1) Através da história, pessoas têm encontrado a Deus no contexto de várias


religiões e culturas diferentes;

2) Todas as tradições religiosas são ambíguas (inclusive o cristianismo), isto é, uma


combinação do que é bom e do que ruim;

3) É necessário progredir além de uma teologia que confina a salvação a um


compromisso pessoal explícito com Jesus Cristo.

Em algumas denominações o pluralismo tem sido como filosofia oficial, como na Igreja
Metodista Unida, nos Estados Unidos.

No momento, o ecumenismo religioso não vai indo bem. No último encontro do CMI, o
assunto progrediu quase nada. O que agora estão pensando é cooperação em áreas
sociais apenas, enquanto que cada religião mantém sua individualidade. Parece que o
sonho de uma religião mundial única esta acabando.

b) Ecumenismo Cristão:

Este tipo de ecumenismo tenta aproximação entre os grandes ramos da cristandade, ou


seja, a Igreja Católica, a Igreja Protestante e a Igreja Ortodoxa e, entre os diversos
ramos protestantes entre si. Algum progresso existe. A liderança da Igreja Episcopal e
da Igreja Luterana Evangélica na América concordou, depois de duas décadas de
negociar, darem comunhão entre si, reconhecer os cleros e ordenar bispos em conjunto.
Cada grupo retém sua autonomia. A liderança de oito denominações protestantes
alcançou acordo preliminar sobre as suas igrejas, formando uma “comunhão de
convenção” na qual cada denominação iria, embora ainda autônoma, aceitar os
ministros e sacramentos dos outros.

Os católicos romanos continuam dialogando bilateralmente com luterano, líderes da


Igreja Anglicana e Ortodoxos em um esforço para achar solo teológico comum. Até
mesmo algumas Igrejas Pentecostais, que tendem a ser antiecumênico parecem
propensas para relações mais abertas. A Igreja Cristã (os discípulos de Cristo,
denominação americana com mais de Um milhão) entrou para a história ecumênica de
protestantes e católicos em sua Assembleia Geral em agosto elegendo Monsenhor Philip
Morris, padre católico romano, como membro votante da sua comissão.

c) Ecumenismo Evangélico:

É a tentativa de aproximação entre igrejas evangélicas, em nível de cooperação em


atividades evangelísticas e sócio-políticas, e mesmo fusão organizacional. Por exemplo,
a cooperação interdenominacional de Igrejas e Ministros, muitos dos quais não estariam
interessados no ecumenismo cristão ou religioso – que unem para patrocinar uma
cruzada de Billy Graham. Vale lembrar que o número de denominações diferentes
159

chegou a 22.000 em 1985 e continua crescendo a uma taxa de cinco novas todas as
semanas.

Muitas igrejas conservadoras permanecem opostas a esforços ecumênicos por causa da


teologia liberal e da agenda de trabalho político dos conselhos nacionais e mundiais que
geralmente estão por detrás destes esforços. E uma razão ainda maior, é porque a
verdade não deve ser sacrificada no altar da unidade eclesiástica.

3 – Pontos relevantes do Ecumenismo

Pontos Relevantes a ser considerados no ecumenismo segundo o pensamento cristão.


Para o pastor da Igreja Batista Livre, de Sud Mennucci, São Paulo, Waldir Ferro afirma:
este estudo sobre o ecumenismo nasce da preocupação de que isoladas umas das outras,
nossas igrejas possam entrar na corrente geral influenciada por agentes deste grande
mal. Ele não é novidade, mas vem sendo introduzido lentamente e suas estratégias
adaptadas às novas situações encontradas através dos anos. Isto pode fazer com que não
reconheçamos. É como um menino que cresce longe de nós e por isso não o reconheceu
ao vê-lo tempo depois, por sua aparência mudada.

Para Waldir Ferro, o significado do termo “ecumênico” é curioso e importante para que
saiba com que lidamos. Segundo os dicionários, ecumênico é “mundial, geral ou
universal”, tendo sua raiz etimológica no grego “oikoumene” (oikomene), termo este
que na Bíblia traduzido por J.F. de Almeida por “mundo”, expressando todo o “universo
de pessoas conhecidas” ou “conjunto de todas as coisas existentes”. (veja Mt 24.14; Lc
4.5; At 17.31).

a) Sua Origem e Seu Promotor:

Sem duvida, espiritualmente falando, sua origem e promoção residem em Satanás. O


“Pai da Mentira”, pois o Ecumenismo depende da mentira para existir. Mas, que esta
sendo usado para introduzi-lo e difundi-lo no mundo? Quem são os mordomos de
Satanás que cuidam de seus interesses com relação a esse assunto?

Para chegarmos à resposta a isto, precisamos antes, desmistificar a ideia de que existe
mais de um tipo de ecumenismo ou lado “bom” e “lado ruim”. Ele é todo ruim. Ele não
nasceu com este nome e é difícil datar seu nascimento. No entanto, fica claro,
historicamente, que desde a Grande Reforma Protestante de 1520, não faltaram episódio
que demonstrassem interesses em uma aproximação entre catolicismo e seus
discindentes diretos (anglicanismo, luteranismo e ortodoxos). Entre os evangélicos em
1846 surgiu em Londres, um movimento chamado Aliança Evangélica. Já no nosso
século em 1906, varias igrejas protestantes tentaram uma aproximação em torno de uma
organização com fins sociais, abrindo mão de posições doutrinárias. Organizaram,
então, o Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América (CFICA). Com o clima
sombrio que antecedia a primeira Guerra Mundial, esta organização uniu-se a igrejas
160

protestantes europeias, fundando assim em agosto de 1914, a Aliança Mundial para


promover a Amizade Internacional através das igrejas.

Após a Guerra, em 1919, esta organização internacional voltou a se reunir e mudou seu
nome para Confederação Mundial Cristã de Vida e Ação. Já em 1937, quando
voltaram a se reunir em Oxford, na Inglaterra, participavam dela a igreja anglicana e
ortodoxa (católicos discindentes). Outro movimento surgido em 1910 na Escócia, o Fé e
Constituição, que visava unidade doutrinaria, uniu-se, em 1938 à Vida e Ação e, em
1948 deram origem ao Concílio Mundial de Igrejas com sede em Amsterdã na Holanda.
Antes mesmo que se reunissem em sua III Assembleia em Nova Delhi na Índia (1961),
ao observar a facilidade e rapidez com que se uniram igrejas em um ideal unicionista, o
Vaticano adotou a ideia e, em junho de 1959 o papa João XXIII (58-63) na sua encíclica
“Ad Petri Cathedram”, lançou as bases do movimento ecumênico, convidando todos os
“irmãos separados” a unirem-se a “Igreja Mãe”. Durante seu reinado, o papa Paulo VI
(63-78) visou amplamente este ideal fortemente demonstrado no Concílio Ecumênico
Vaticano II, em seu decreto “Unitatis Redintegratio” cujo, 1º. Capítulo intitula-se “Os
princípios Católicos do Ecumenismo”.

b) A Razão de Ser do Ecumenismo:

Uma igreja acostumada a prevalecer, não pela razão, mas pela imposição de uma
religião estatal, desde o tempo de Constantino em 313, nunca pode ver com bons olhos
a perda da influencia e de poder, o que a levou a terríveis perseguições como a “Santa
Inquisição” na Idade Média (ou a “idade das trevas” como melhor lhe convém), onde
quem não era Católico Apostólico Romano não era cristão, quem não era cristão deveria
ser morto e ainda, que os matasse, receberia recompensa em indulgências, perdão de
pecados.

No século XX principalmente após os horrores da II Guerra Mundial, era preciso outra


reforma que não pela força, para conter e constar a constate perda de adeptos. Eram
anos de forte impulso missionário por parte das igrejas evangélicas e o próprio
movimento Anabatista (ou Batista) retomava grande força após terem sido expulsos da
Europa catolicizada e revigorados na América do Norte de onde partiam muitas
missões.

O movimento Unionista tornou-se o melhor meio de enfraquecer e derrubar o inimigo


ou trazer de volta para si, os católicos que por motivos não dogmáticos, havia-se
separado. Não se pode dizer que o movimento foi um sucesso completo, pois trouxe
apenas parte dos resultados ambicionados. O enfraquecimento dos batistas e de algumas
outras denominações tradicionais é um fato inquestionável e a desaceleração da perda
de adeptos e o retorno dos discindentes protestantes. O papa João Paulo II está
propiciando uma sequencia ao Concilio Vaticano II com um excelente trabalho, a ponto
de ser chamado por alguns como resposta de Deus ao Vaticano I. Apesar de ser tido
como conservador, ele está permitindo uma abertura e liberdade de ação para o clero, de
forma que a “multifacetada Igreja Uma” possa atuar da maneira que mais se aproxima
do povo com grupos de linhas muito diferentes como os da Teologia da Libertação, os
161

Carismáticos, os Tradicionais etc. Com isto consegue-se manter o católico tradicional, o


católico que entende que a igreja precisa atuar mais nas áreas sociais e na política e os
que querem uma modernização da missa, chegando mais perto do que o povo tem
buscado naqueles que mais tem proselitado o povo católico que são os pentecostais e
neo-pentecostais.

c) Seus Métodos:

Nos anos que se seguiram ao Concílio Ecumênico Vaticano II, o padre Aníbal Pereira
dos Reis, converteu-se ao evangelho, desvinculando-se definitivamente da igreja
romana em 1965 e, em exame criterioso e imparcial, sem influencias externas,
pessoalmente encontrou na Igreja Batista, aquela que defendia e praticava os
ensinamentos neo-testamentários e, nela pediu batismo e serviu até o fim de seus dias.
Porém, antes de abandonar a batina, este padre teve a oportunidade de ser “treinado”,
sobre como agir em suas relações com outras denominações e pode ver mudanças
dentro das estratégias de trabalho da igreja, visando entender as diretrizes do Vaticano
II. Num brado de alerta, o irmão Aníbal desnudou estas coisas em alguns de seus livros
(o Ecumenismo; o Ecumenismo e os Batistas e o Papa escravizará os Cristãos?). Vamos
resumi-los como segue:

 Antigamente o Vaticano muito investia em escolas, por serem elas formadoras


de pensamentos, podendo assim, influenciar fortemente a sociedade na base da
formação de jovens. No entanto, a tendência mundial (e no Brasil, não foi
diferente) de o Estado assumir o ensino e, ainda a consolidação dos meios de
comunicação de massa (jornal, rádio e TV) fizeram com que se fechassem a
maioria das escolas e se investisse em emissoras de rádio e TV e também
jornais e revistas para ter acesso direto à sociedade e poder vender seu peixe.

 A atitude de oposição e conflito com os evangélicos e seus líderes, antigamente


uma regra, foi mudada por orientação de Roma. A partir do treinamento dado
aos padres nos anos 60, a atitude passou a ser de afabilidade, para conquistar a
simpatia do povo e do pastor (inclusive batistas). Com essa mudança,
conseguiu-se confundir a cabeça de muitos... Afinal, o “seu padre” agora é
“amigo” do pastor!??!

 Os clérigos foram também orientados a cativar especialmente os pastores,


pessoas geralmente simples, prestigiando-os na sociedade e, se possível, até
com cargos em entidades sociais, para o que os padres poderiam indica-los. Isto
surtiria grandes efeitos, especialmente nas pequenas cidades do interior.

 Com um terreno devidamente preparado, seria muito conveniente, buscar


ocasiões para trabalhos em conjunto na sociedade e, principalmente, com
ajuntamentos de cunho religioso, o que configurou os cultos ecumênicos, que
hoje vemos, não raramente. Um detalhe que constava nas orientações e no
162

treinamento, é o que, embora devesse dar-se a palavra a cada um dos lideres


religiosos presentes, que o representante católico se colocasse de forma a
transparecer sua superioridade sobre os demais, como o representante da “igreja
mãe”.

 A pregação da ideia de que todos os cristãos são irmãos, filhos de um mesmo


Deus, e que apenas estavam alguns separados da igreja mãe (Católica Romana)
por divergências a respeito de pontos de menos importância deveria levar a
intimidar aqueles que, antes eram combativos. Tornou-se então, ultrapassado,
fora de moda, feio mesmo, resistir a um Unionismo (o outro nome do
ecumenismo). Criou-se a ideia de que não se deve dividir, polarizar, separar,
combater, contestar, mas sim, unir, ajuntar, misturar, acomodar, evitar os pontos
de discórdia. “TUDO PELO AMOR” – que mentira.

 A tática ecumenista sabia que, nem todos aceitariam facilmente e abertamente


este ajuntamento. Mas, existem bons disfarces e meios-termos que poderiam
satisfazer quebrando o gelo para passos maiores no futuro. Se, por exemplo, o
Batista não aceitasse uma atividade conjunto com o Católico, talvez com o
Presbiteriano ele o fizesse. (já que “são muito parecidos”). Como o
Presbiteriano se mostrasse mais aberto ao diálogo ecumênico, (veja apêndice)
com o tempo, por meio deste intermediário, menos radical, alcançar-se-ia o
objetivo final. As reuniões interdenominacionais são uma abertura que funciona
como intermediações do Ecumenismo Pleno.

d) Os Tipos de Prática Ecumenista:

Basicamente encontramos dois tipos de prática.

a) Ampla, geral e irrestrita;


b) Interdenominacional (“ás vezes restrita só a um grupo como “tradicionais”,
pentecostais, carismáticos”).

Mesmo que restrita a sua prática entre um destes grupos, ou mesmo entre
“evangélicos” em geral, entende-se que quando se mistura povos de doutrinas
diferentes, isto é uma generalização ou universalização. O que vem a ser
Ecumenismo. Muitos pensam que quando os evangélicos se reúnem, mostram sua
força “contra” o catolicismo. Isto não é verdade, porque estão abrindo mão de suas
posições doutrinárias e, embora se mostrem com pujança no tamanho número e
muitas vezes no “barulho”, mostram também fraqueza em conteúdo. Abrem-se mão
de suas crenças para se ajuntar entre si, até quando não abrirão mão delas para
juntar-se ao Romaníssimo? Aliás, se o fazem com um, por que não com outros.
163

4 – Ecumenismo e Novo Testamento:

Existe uma forma bastante padronizada de abordar o Novo Testamento no que se refere
ao diálogo e a pratica. O Novo Testamento tem sido interpretado não só como um
exemplo de convivências ecumênico perfeito entre os cristãos do primeiro século, como
também tem oferecido aos que promovem o ecumenismo o seu “mito fundante”: no
Novo Testamento teríamos o fundamento da igreja e da sua fé. O modelo bíblico desta
leitura é Atos 2.42-45:

“eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão


fraterna, à fração do pão e às orações. O temor do Senhor se apossava de
todos os espíritos, porque numerosos eram os prodígios e sinais realizados
pelos apóstolos. Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as
suas propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as
necessidades de cada um”.

Diante de tal quadro os cristãos latino-americanos do final do século 20 não teriam outra
coisa a fazer senão buscar inspiração e modelos de ação – se bem que, com uma grande
dose de frustração.

Assim é que nos deparamos com a grande tese da interpretação ecumênica que se faz do
Novo Testamento: ele apresenta como modelo o exemplo de vivencia ecumênico que,
serviria sem nenhuma mediação de paradigma para as comunidades latino-americanas.
Este enunciado se baseia nos seguintes pressupostos:

 Ecumenismo no Novo Testamento – é sinônimo de convivência harmoniosa


entre as comunidades e é possível a partir de pontos comuns da fé apostólica
(por exemplo, da cristologia), da prática libertadora (tendo o pobre como
centro), da vivencia e das expressões da fé (liturgia e diaconia);

 A igreja nasce uma. Todas as divisões e diferenças de teologia e prática seriam


decadentes em relação à unidade que reinava no princípio. Portanto, a
interpretação do Novo Testamento fornece o modelo e a referencia para a nossa
prática ecumênica. A este modelo teríamos que nos ajustar.

Quero questionar neste artigo estes pressupostos hermenêuticos e lançar algumas


teses para discussão sobre o caráter ecumênico do Novo Testamento e da forma
como ele pode nos desafiar a uma leitura crítica da nossa própria prática. A seguir
faço algumas experiências com o texto bíblico. Que as imperfeições desta leitura –
demasiado hipotética e incompleta – sejam compensadas pela despretenciosidade da
mesma. Ela pretende ser apenas pretexto para a reflexão.
164

5 – Interpretação Ecumênica do Novo Testamento

 O Novo Testamento é um paradigma, no entanto, não de uma solução


ecumênica, mas de uma situação desafiadora para o ecumenismo. O
problema da vivencia ecumênica se apresenta de forma exemplar no Novo
Testamento. Enquanto solução ou proposta de solução, o texto bíblico
apresenta sucessos e fracassos.

 O surgimento de uma igreja cristã no final do primeiro e começo do segundo


século é indício de um fracasso no diálogo dos seguidores de Jesus de
Nazaré com a sua comunidade de referencia: a sinagoga judaica. Este é o
primeiro fracasso ecumênico documentado no Novo Testamento.

 A própria existência de um corpo limitado de escritos religiosos (no caso o


Novo Testamento) já é sintoma de certo fracasso de convivência ecumênica.
Obviamente a produção literária dos primeiros cristãos não se limitou a vinte
e sete escritos. Estes escritos que temos em nossas bíblias constituem uma
seleção de textos considerados autorizados, que se definem como tais em
contraste com escritos considerados desautorizados. Se por trás dos tetos
supomos que havia comunidades, constatamos que a expressão religiosa de
alguns grupos não era considerada com referencial.

 No Novo Testamento não encontramos consenso sobre o essencial acerca de


Cristo, da Vida comunitária, dos temas e posturas políticas. Existem temas,
interesses, e até tendências comuns, mas a produção está muito voltada para
as necessidades de todas as comunidades de cada comunidade no seu
contexto específico.

 Além de não termos consenso na teologia e na prática, encontramos


reflexões e práticas divergentes e, em alguns casos, concorrentes. Esta
divergência também se dá entre diversas comunidades cristãs e, obviamente,
frente ao judaísmo, no qual o cristianismo ainda estava inserido.

 A concorrência ou a divergência entre diversas comunidades cristãs, entre


elas mesmas ou com o judaísmo, se articulava em disputa por um espaço
maior no campo religioso. É na luta por espaço de atuação (no caso missão),
representatividade e legitimidade que emergem os vários temas e conflito
entre estes grupos:

a) Político – comunidades pro-roma x comunidades anti-roma; (Tm e Tg).


165

b) Econômico – interesses de cristãos bem situados na sociedade x


interesses de escravos empobrecidos e estrangeiros; (1Co 11).

c) Geopolíticos – cristãos de Jerusalém x palestinos; (Gl 2.38).

d) Cultural – gentios x judeus ou helenistas x palestinos; (At 6).

e) De gênero – carisma “feminino” x cargos “masculino”; emancipação da


mulher na casa x submissão da mulher ao pater famílias; (1Co 10).

f) Hermeneuticamente o Novo Testamento nos oferece modelos e contra


modelos, que devem ser analisados nas suas condicionantes históricas.
(Fp 2, Hb).

Isto significa que o pluralismo (existente desde o início) tem que ser encarado sem
rubor. O pluralismo das comunidades foi o motor de toda a produção literária que
chamamos de Novo Testamento. Este surgiu como resposta criativa aos
questionamentos e discussões de cristãos em situação de crise.

43 – EMPIRISMO

Teoria do Conhecimento na Idade Moderna e Contemporânea


(veja tópicos 12 sobre Criticismo e 41, sobre Racionalismo).

1 – Introdução:

O século XVII representa, na história do homem, a culminação de um processo em que


se submeteu a imagem que ele tinha de si próprio e do mundo.

A emergência da nova classe dos burgueses determina a produção de uma nova


realidade cultural, a ciência física, que se exprime matematicamente. A atividade
filosófica, a partir daí, reinicia um novo trajeto: ela se desdobra como uma reflexão
cujo pano de fundo é a existência dessa ciência.

A revolução científica determinou a quebra do modelo de inteligibilidade apresentado


pelo “aristotelismo”, o que provocou os novos pensadores receia de enganar-se
novamente.

A procura da maneira de evitar o erro faz surgir à principal característica do pensamento


moderno: A questão do Método.
166

Essa preocupação centraliza as reflexões não apenas no conhecimento do ser


(metafísica), mas, sobretudo, no problema do conhecimento (Teoria do Conhecimento
Epistemológico).

2 - Teoria do Conhecimento:

Podemos dizer que até então, a filosofia tem uma atitude realista, no sentido de não
colocar em questão a existência do objeto, a realidade do mundo. A Idade Moderna
inverte o polo de atenção, centralizada no sujeito a questão do conhecimento.

Como já vimos, se o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o objeto,
dá-se o conhecimento. Mas qual é o critério para se tiver certeza de que o pensamento
concorda com o objeto? “Um dos problemas que a teoria do conhecimento terá que
propor ou solucionar é aquele de saber quais são os critérios, as maneiras, os métodos
de que se pode valer o homem para ver se um conhecimento é ou não verdadeiro”. As
soluções apresentadas a essas questões vão originar duas correntes: O Racionalismo e
O Empirismo.

2.1 – O Empirismo.

Afirma que o conhecimento humano advém da experiência sensível. Também os


princípios racionais do conhecimento resultam da experiência.

O Empirismo formula as leis da natureza a partir da experiência sensível, estabelecendo


assim princípios gerais que as regem. A experiência é o ponto de partida do
conhecimento humano. Os empiristas não veem necessidade de elaborar hipóteses
prévias. É o método “a posteriori”. A corrente empirista tornou-se adversária de
Descartes.

2.2 – O Empirismo Inglês

A palavra empirismo vem do grego “empeiria” que significa “experiência”. O


empirismo, ao contrário do racionalismo, enfatiza o papel da experiência sensível no
processo do conhecimento. Os representantes do empirismo são: Locke, Berkley e
Hume.

No século XVII, o ponto de partida da reflexão filosófica não é mais o problema do ser,
mas o do conhecer.

Os filósofos da Europa Continental (Descartes, Espinosa, Leibniz) estabeleciam os


critérios de conhecimento a partir das ciências exatas: a matemática e a geometria. O
conhecimento da realidade deveria ser racional.
167

Os filósofos Ingleses encontravam-se num ambiente cultural diferente. Na Inglaterra


floresceram mais as ciências experimentais, como a botânica, a química, a astronomia e
a mecânica. Eles buscavam um método de investigação que correspondesse a essas
ciências.

O progresso das ciências da natureza fez com que se formasse uma imagem materialista
do universo. O materialismo se impôs e foi se desenvolvendo a ponto de não haver mais
filosofia capaz de lhe oferecer resistência.

As ciências experimentais partem da constatação de eventos particulares, da experiência


de fatos observáveis. A partir dessas experiências, serão possíveis descobertas futuras.

Os ingleses perguntavam: como é possível partir da experiência demonstrável para


chegar às leis universais?

Os empiristas ingleses diziam que todo conhecimento procede da experiência (empeiria


= conhecimento prático). Eles concluem que também as ideias abstratas e as leis
científicas conservam a mesma incerteza e particularidade do conhecimento sensível.

A partir desse ponto de vista, a metafísica tornou-se impossível. Nada se pode saber a
respeito da existência e natureza de Deus, sobre a origem primeira e destino final da
vida humana. Essas questões suscitam argumentos que não podem ser demonstrados.
Nem no âmbito moral podem-se estabelecer normas absolutas; bom ou mal é aquilo que
a sociedade aprova ou desaprova.

O empirismo é a filosofia característica do povo inglês. Todos os grandes pensadores


empiristas escreveram bem e com clareza. Eles aceitaram o mecanismo e
estabeleceram-no até ao âmbito do espírito. Associaram o mecanismo ao subjetivismo e
ao nominacionalismo radical.

44 – ENCICLOPEDISMO

1 – Introdução:

É o movimento liderado por Diderot, d’Alembert, Voltaire, Rousseau e Condorcet, que


resultou na Encyclopédie de 33 volumes, publicada em Paris no período ente 1751 e
1766. Para a elaboração da Enciclopédia, estes pensadores contaram com mais de uma
centena de colaboradores.

A Enciclopédia destinava-se a combater os abusos do sistema monárquico, a religião


institucionalizada, e as restrições autoritárias impostas ao pensamento científico. A obra
foi várias vezes interditada.

A obra foi escrita para determinados leitores: a burguesia esclarecida, pequenos


comerciantes e artesãos. Além de abranger um saber universal, a Enciclopédia apresenta
168

um balanço geral de todo saber existente. Os postulados filosóficos da obra eram o


deísmo, o antropocentrismo, ideias morais do livre exame. A atividade intelectual dos
enciclopedistas preparou a eclosão da Revolução Francesa.

As tendências iluministas e liberais expressam ideias de tolerância religiosa, de


otimismo em relação ao futuro da humanidade, de entusiasmo pelo progresso, de
confiança no poder da razão e de oposição a todo autoritarismo.

2 - Século XVI (1751-1780):

Elaborada pelos filósofos franceses Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond


D’Alembert (1717-1783), a Enciclopédia surge no auge do Iluminismo e torna-se uma
das bases da Revolução Francesa. Obra de referência em 35 volumes visa reunir o
conhecimento sobre artes, ciências, filosofia e religião.

c) Voltaire:

Voltaire foi o maior expoente do Iluminismo francês. Defendia o uso da razão, a


tolerância e os direitos do homem. Atacou o regime autoritário de Luís XV e a
intolerância da Igreja Católica. Termina suas cartas com esta expressão: “Amai-me e
destruí a infame (a Igreja).” Seus adversários passaram a considerá-lo ateu. O próprio
Voltaire se considerava deísta. Professava o deísmo e combatia o fanatismo das
religiões organizadas.

O deísmo no estilo dos pensadores ingleses é uma religião da razão. Com a física
clássica passou-se a entender o Universo como uma máquina, onde os fenômenos
acontecem com necessária regularidade e com um nexo causal. O Deus do mecanicismo
criou o Universo, e este equipamento agora se sustém por si mesmo – sem interrupções
nem irregularidades. Desse modo a ciência moderna passou a entender Deus. Não se
admitia mais a possibilidade de Deus intervir no mundo. Em todos os âmbitos (também
no religioso) passou-se a admitir somente aquilo que era acessível ao conhecimento
natural. A religião da razão era considerada a verdadeira; tudo o mais era superstição.
Desse modo o deísmo estava suprimindo a metafísica.

Depois de preso na França, Voltaire exilou-se na Inglaterra. Retornou à França trazendo


as ideias de Locke e de Newton, que se tornaram a base da filosofia francesa do século
XVIII. Promoveu a cosmologia de Newton na França. Foi na França que o Iluminismo
encontrou sua maior expressão.

Voltaire batalhou pela liberdade de espírito e por um governo esclarecido pela razão.
Condenou a irracionalidade das guerras. Acreditava no caráter universal da moral.
Ironizou Leibniz – com sua ideia de que estamos no melhor mundo possível.
169

d) Rousseau:

O filósofo iluminista suíço Jean Jacques Rousseau (1712-1778) dá um novo significado


à expressão, que, em seu entendimento, é exclusivamente de “sociedade civilizada”, em
oposição ao estado selvagem. Para Rousseau, cujas ideias influenciaram diretamente a
Revolução Francesa (1789), a sociedade civil é palco de conflitos permanentes, de
usurpações e de exploração; ainda não é uma “sociedade política” – que para ele surge
com um “contrato social”, ou seja, um contrato em que os indivíduos renunciam à
liberdade natural e concordam em transferir a um terceiro, o soberano, o poder para
aplicar as leis.

A ideia de sociedade civil como um espaço distinto da esfera do Estado se desenvolve


com os filósofos do século XIX e os do XX. Em seu uso moderno, sociedade civil
significa a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos entre classes sociais que se
desenvolve por fora das relações de Estado. Assim, a ideia de sociedade civil expressa a
evolução do corpo social, que produz as demandas e os problemas que o Estado é
chamado a resolver.

e) Condorcet:

45 – EPICURISMO

1 – Conceito:

Doutrina de Epicúrio, filósofo grego. Epicureu (sectário do Epicurismo), homem


sensual. Epicurista (pessoa partidária do Epicurismo); do indivíduo dado aos prazeres
do amor e da mesa.

Epicúrio nasceu em 341 a.C., na ilha de Samos. Seus primeiros estudos, sob Nausifanes,
um discípulo de Demócrito, ensinaram-no a considerar o mundo como resultado do
movimento e combinação ao acaso de partículas atômicas. Durante algum tempo viveu
no exílio e na pobreza. Gradualmente foi reunindo ao seu redor um circulo de amigos, e
começou a ensinar suas doutrinas distintivas.

Em 306 a.C, estabeleceu-se em Atenas, no famoso jardim que se tornou sede de sua
escola. Morreu em 270 a.C, após grande sofrimento devido algum mal interno, porém,
em tranquilidade mental.

O sistema inteiro tem uma finalidade prática em vista, a realização da felicidade


mediante sereno desprendimento. O Atomismo de Demócrito bania todo o temor de
intervenção divina na vida ou de castigo após a morte; os deuses seguem perfeitamente
170

a vida de sereno desprendimento, e nada têm a ver com a existência humana, enquanto
que a morte provoca a dispersão final de nossos átomos constituintes.

Os epicúrios encontravam contentamento na limitação dos desejos e nas alegrias e


solidões da amizade. A busca de prazeres extravagantes, que dá ao termo “epicurismo”
o seu sentido moderno, foi uma perversão posterior da busca pela felicidade.

2 - Epicúrio e a Medicina da Alma

A ataraxia é também o objetivo moral de Epicúrio (341 – 270 a.C), que reunia seus
discípulos numa escola conhecida como Jardim. Para ele, felicidade e prazer,
basicamente satisfação de desejos físicos. Mas, como a um prazer momentâneo pode-se
seguir desprazer ou dor, convém procurar um tipo de satisfação estável, cometido, mas
constante – algo como sensação que experimenta um homem que não sente sede e, por
isso, não bebe. Esse “prazer em repouso”, como denomina Epicúrio, é precisamente a
ataraxia, um estado de desejo sempre saciado e que se consegue pelo perfeito equilíbrio
entre as partes do organismo.

O autêntico prazer é inseparável da tranquilidade da alma e da realização plena da


autossuficiência. Nessa perspectiva, a amizade é, talvez, a mais importante fonte de
satisfação e de compensações. É certo que ela aumentava a nossa dependência em
relação aos amigos, mas, diante da solidão e da insegurança de nossas vidas, é ainda um
remédio mais eficaz do que os vínculos da vida política.

Se Epicúrio considera o prazer uma realidade física é porque para ele, seguidor da teoria
atomista de Demócrito, não existe nada além das coisas físicas e corpóreas (os átomos)
e a sua ausência (o vazio). Por isso, o conhecimento também só pode ser resultado do
contato do direito entre as coisas e os sentidos. As coisas compostas de átomos emitiram
uma espécie de eflúvio que atingira os órgãos dos sentidos, produzindo as sensações de
uma nova experiência sensível. É por essas antecipações, que rememoram a sensação
anterior, que se pode reconhecer a identidade (ou não) de coisas percebidas em
momentos diferentes. O conhecimento é, assim, o acúmulo das sensações que vão se
classificando como idênticas ou diferentes, de acordo com as antecipações.

O mundo e o próprio conhecimento do mundo são explicados pelo movimento dos


átomos através do vazio. Mas Epicúrio introduz uma modificação na teoria de
Demócrito. Para este, o movimento era inerente aos átomos, sem que houvesse uma
explicação para isso. Epicúrio explica esse movimento pelo peso, uma propriedade do
átomo que inexistia em Demócrito e que é responsável pela queda.

Mas, pela ideia de peso, todos os átomos apenas caíram paralelamente em linha reta e
jamais se chocariam. Por isso, Epicúrio é obrigado a admitir um segundo tipo de
movimento: a inclinação, que faz com que cada átomo se desvie ligeiramente de sua
trajetória retilínea para colidir com outros e, assim, produzir a diversidade das coisas.
Ele não explica, porém, a causa da inclinação. Assim, ao resolver uma dificuldade
171

presente na teoria de Demócrito, Epicúrio acaba por criar outra. Esse “descuido”, no
entanto, tem uma função: a inclinação não se explica porque é a manifestação da
liberdade do átomo. A consequência disso é uma espécie de teoria materialista da
liberdade, de difícil interpretação.

A libertação e a cura, para Epicúrio e seus seguidores, se dão pela filosofia. Assim como
o médico se ocupa das doenças e dos sofrimentos do corpo, ao filósofo cabe cuidar das
doenças e dos sofrimentos da alma. A filosofia é assim a terapia das causas da
infelicidade humana. Num mundo marcado pela pobreza material e pela falta de
solidariedade, por guerras e perseguições políticas – frequentemente interpretadas como
castigos dos deuses aos atos humanos -, o epicurismo defende uma imagem do mundo e
do homem na qual os deuses e a morte deixam de serem ameaçadores.

Tudo na filosofia de Epicúrio – sua concepção física do universo, suas ideias a respeito
do conhecimento e da alma, sua visão da sociedade e da religião – relaciona-se com esse
propósito de libertação. Ele mesmo resume sua doutrina em quatro máximas, ou
medicinas: “não há que temer a Deus”; “morte significa ausência de sensações”; “É
fácil procurar o bem”; “É fácil suportar o mal”.

Aquele que alcançou a ataraxia e tornou-se dono dos seus atos não tem medo da morte,
que não passa da ausência de sensações. Os átomos que uma vez compuseram um corpo
humano apenas se desagregam. O homem nada sente. Por isso, escreve Epicúrio em sua
carte a Meneceu: “Quem compreendeu que nada há de temível no fato de estar morto, a
nada temerá na vida”.

O pensamento epicurista liberta o homem das imposições da necessidade do destino ou


dos deuses. Senhor de si, sem nenhuma espécie de constrangimento, o homem é livre
para perseguir seu objetivo: a felicidade.

46 – ESCOLÁSTICAS
(veja tópico 56 – Patrística)

1 – Introdução:

O que é a Escolástica?

A Escolástica é a filosofia cristã que se desenvolveu desde o século IX, tem o seu
apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando entra em decadência.

Continua a aliança entre a razão e a fé, aquela sempre considerada a “serva da


Teologia”. Com frequência as disputas terminaram com o apelo ao princípio da
172

autoridade, que consiste na recomendação de humildade para se consultar os intérpretes


autorizados pela Igreja.

No entanto, a partir do século XI, com o Renascimento urbano, começou a surgir


ameaças de ruptura da unidade da Igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de
contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras Universidades
aparecem por toda parte na Europa e são indicativos do gosto pelo racional, tornando-se
focos por excelência de fermentação intelectual.

Durante muito tempo predomina na Idade Média a influência da filosofia de Platão,


considerada mais adaptável aos ideais cristãos. O pensamento de Aristóteles era visto
com desconfiança, ainda mais pelo fato de os Árabes terem feito interpretações tidas
como perigosas para a fé.

A partir do século XIII, Santo Tomás de Aquino utiliza as traduções feitas diretamente
do grego e faz a síntese mais fecunda da Escolástica, e que será conhecida como
“Filosofia Aristotélica-Tomista”. Daí, para frente, a influência de Aristóteles se fará
sentir de maneira forte, sobretudo pela ação dos padres dominicanos e mais tarde dos
Jesuítas, que desde o Renascimento, e por vários séculos, mostraram-se empenhados na
formação dos jovens.

Se por um momento a recuperação do Aristotelismo constitui um recurso fecundo para


Santo Tomás, já no período final da Escolástica torna-se um entrave para o
desenvolvimento da ciência. Basta lembrar a Crítica de Descartes e a luta de Galileu
contra o saber petrificado da Escolástica decadente.

2 – Histórico:

2.1 – O Nascimento da Escolástica

A Idade Média é caracterizada como era de “obscurantismo” pela época seguinte, que se
autodenominaria “Renascimento”. O próprio termo “Idade Média”, já traz embutida
essa carga de desprezo: indica que o período, que se estendeu por cerca de mil anos, não
passa de um intervalo entre o esplendor do mundo greco-romano e seu “renascimento”
posterior.

Não que essa imagem tenebrosa não contenha certa verdade. Afinal, na Idade Média
grassam grandes epidemias (como a peste negra), guerras incessantes, retração da
economia, da técnica e da vida urbana, e um profundo sentimento de medo (o temor da
morte era o menor deles).

É impossível, porém, ignorar as realizações culturais dessa época. A própria igreja,


quase sempre acusada como principal culpada pelo retrocesso da cultura, é, também
responsável pela conservação de quase tudo o que se preservou do pensamento clássico
greco-romano.
173

Num mundo em que o cenário predominante é o campo, e a agricultura praticada no


nível da subsistência, os monastérios – esses refúgios rurais onde os religiosos, longe da
vida mundana, buscavam a purificação da alma – representam a sobrevivência da
cultura. Ali, os monges, animados pelo ideal de ora et labora (“reza e trabalha”), de São
Bento (c. 480 – 547), não só se dedicam à religião e à organização do trabalho rural
como também à cópia, à compilação, à tradução para o latim e ao comentário de textos
da antiguidade.

Mas a Idade Média tampouco é simplesmente a preservação dos valores antigos, à


espera de “Renascimento” futuro. Para além do mundo cristianizado, floresce nas
regiões árabes e islâmicas um vigoroso pensamento filosófico e científico. É
principalmente por meio dos filósofos árabes que muito do aristotelismo chega ao
pensamento medieval do Ocidente. Além disso, as realizações científicas e técnicas do
Islã – matemática, astronomia, medicina, engenharia – já prenunciam os estudos sobre
os quais o Renascimento reivindicaria a exclusividade.

No Ocidente cristão, a acumulação gradativa de cópias, traduções e comentários de


textos antigos, vai criando bases para a formulação de um pensamento original. É a
Escolástica, que ganha corpo, sobretudo nas Universidades e irá fornecer alguns dos
temas que nutririam o próprio Renascimento.

O desenvolvimento da Escolástica vale-se, além da Igreja e a sua imposição da


unificação da fé cristã, do emprego do latim, tornando universal, embora restrito a
pequenos círculos de letrados. As mais diversas regiões do mundo cristão passam a se
comunicar, e um representante desse intercâmbio é o monge britânico Alcuíno (c. 730 –
804).

Procedente da cidade britânica de York, Alcuíno chega à França a chamado do rei


Carlos Magno, fundador do Império Carolíngio. Sua missão: organizar o sistema
educacional do Império. Para isso, ele funda escolas – sempre ligadas à instituições
católicas – e unifica o conteúdo do ensino, que compreende à maneira romana, as artes
liberais (isto é, dignas de um homem livre): gramática, retórica e dialética (o trivium), e
geometria, aritmética, astronomia e música (o quadrivium). Nenhuma dessas artes,
porém, justifica-se por si mesma: elas estão a serviço da ciência das ciências, isto é, a
teologia.

Na fase em que a Escolástica lança suas bases institucionais, a teologia, seguindo o


pensamento de Agostinho, bastante marcada pelo platonismo. João Escoto Erigena é o
principal representante dessa tendência teológica. Nascido em Erim (daí Erigena), na
Irlanda, João Escoto (c. 810 – 877) chega à França por volta de 840. Para ele, como para
Agostinho, a teologia se expressa melhor por negações, por aquilo que Deus não é. Isso,
no entanto, não o impede, em da divisão da natureza, de deduzir logicamente uma
sequência hierarquizada dos seres (ou “natureza”, como as denomina): primeiro, a
natureza que não é criada (Deus como princípio); depois, a que é criada e que cria (o
verbo corresponde às ideias de Platão); em seguida, a que é criada e que não cria e não é
criada (Deus, considerado finalidade última). O princípio e o fim estão, assim,
174

interligados por uma cadeia de seres, que começa em Deus e nele termina. Tal sucessão
a história, cuja finalidade, através dos tempos, é a de ser reabsorvida pelo princípio que
a iniciou: Deus.

2.2– Desenvolvimento da Escolástica

A Escolástica é a especulação filosófico-teológica, que se desenvolve do século IX até o


Renascimento. Tem esse nome por ter sido dominante nas escolas que começaram a
surgir durante o Renascimento Carolíngio.

Carlos Magno (séc. VIII), preocupado em incrementar a cultura, funda as escolas


monacais e catedrais (junto aos mosteiros e igrejas), contratando diversos sábios, como
o inglês Alcuino. O ensino aí desenvolvido baseia-se, sobretudo no trivium (gramatica,
retórica e dialética) e no quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia).

A partir do século XI surgem as universidades (de Paris, Bologna, Oxford etc.), que,
espalhadas por toda a Europa, tornam-se locais de fecunda reflexão filosófica.

Já no século XII, aparecem traduções de obras de Arquimedes, Hero de Alexandria,


Euclides, Aristóteles e Ptolomeu. Muitas vezes o pensamento desses autores chegava
deformado à Europa, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe, do
árabe para o hebraico e do hebraico para o latim medieval. Por isso, a Igreja condenou
de início o pensamento aristotélico, que na tradução árabe adquirira contornos
panteístas.

Consultando a tradução feita diretamente do grego, Santo Tomás de Aquino recuperou o


pensamento original de Aristóteles. Mais que isso, fez as devidas adaptações à visão
cristã e escreveu uma obra monumental, a Suma Teológica, onde, uma vez mais, as
questões de fé são abordadas pela “luz da razão” e a filosofia é o instrumento que
auxilia o trabalho da teologia. É com um Aristóteles cristianizado que surge então a
filosofia aristotélico-tomista.

2.2.1 – A Questão dos Universais

Aristóteles não será conhecido da Idade Média a não ser a partir do século XIII, quando
suas obras são traduzidas para o latim.

No entanto, no século VI, Boécio traduzira a Lógica Aristotélica, tecendo um


comentário a respeito da questão da existência real ou não dos Universais. O Universal
é o conceito, ideia, a essência comum a todas as coisas (por exemplo, conceito de
homem). Em outras palavras, pergunta-se se os gêneros e espécies tinham existências
separadas dos objetos sensíveis: as espécies (como o cão) e os gêneros (como os
animais) teriam existência real? Ou seja, seriam realidades ou apenas palavras? Essa
questão é retomada nos séculos XI e XII, alimentando longa polêmica, cujas soluções
principais são: o Realismo, o Conceptualismo e o Nominalismo.
175

Os Realistas, como Santo Anselmo e Guilherme de Champeaux, consideram que o


Universal tem realidade objetiva (são res, ou seja, “coisa”). É evidente a influência
platônica do mundo das ideias.

No século XIII, Santo Tomás de Aquino, já conhecendo Aristóteles, é partidário do


Realismo moderado, segundo o qual os Universais só existem formalmente no espírito,
mas tem fundamento nas coisas.

Para os Nominalistas, como Roscelino, o Universal é apenas um conteúdo da nossa


mente, expressa em um nome. Ou seja, os Universais são apenas palavras, sem
nenhuma realidade específica correspondente. Essa tendência reaparece no século XIV
com Guilherme de Ockam, franciscano que representa a reação à filosofia de Santo
Tomás.

Pedro Abelardo, grande mestre da polêmica, opta pela posição conceptualista,


intermediária entre as duas anteriores. Para eles os universais são conceitos, entidades
mentais.

Podemos analisar o significado dessas oposições a partir das contradições que


estabelecem fissuras na compreensão mística do mundo medieval. Sob esse aspecto, os
realistas são os partidários da tradição, e como tal, valorizam o Universal, a autoridade,
a verdade eterna, representada pela fé. Por outro lado, os Nominalistas consideram que
o individual é mais real, indicando o deslocamento do critério da verdade e da fé e da
autoridade para a razão humana. Naquele momento histórico, essa última posição
representa a emergência do racionalismo burguês em oposição às forças feudais que
deseja superar.

2.2.2 – Nome da Rosa

A preocupação da Escolástica com as palavras é enorme. Se a verdade está contida na


Bíblia, é preciso saber lê-la, distinguindo o que pode ser entendido no sentido literal do
que é apenas simbólico. Por isso, a Escolástica apresenta-se primeiro como estudo da
linguagem (de que trata o trivium), para depois examinar a realidade das coisas
(quadrivium).

Entre as palavras e as coisas, no entanto, que relação pode haver? O “nome da rosa” –
expressão que daria título ao célebre romance de Umberto Eco – coloca o dilema dessa
questão. A rosa, símbolo da perfeição, é também um nome que sobrevive à morte da
própria flor; a palavra fala até de coisas inexistentes. Qual, então, a relação entre o nome
e a coisa, a linguagem e a realidade? Esse problema, que seria conhecido como a
“questão ou querela dos universais”, insistentemente discutido na Idade Média e
ultrapassando os níveis da gramática e da lógica, torna-se tema da metafísica e da
teologia.

A questão tem origem numa tradução latina de Isagogue, obra de porfírio, em que esse
discípulo de Plotino comenta a lógica de Aristóteles. “Não tentarei”, escreve Porfírio,
“enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência,
176

nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem


separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando parte dos mesmos”. Diante
disso, os medievais tomam duas posições básicas, cada uma comportando uma série de
variantes.

O nominalismo, defendido, por exemplo, por Roscelin de Compiegne (c. 1050 – 1120)
considera os universais – termos que designam ideias gerais como “homem” e “animal”
– meras palavras sem existência real. Eles não passariam de resultantes da abstração que
o intelecto faz a partir da percepção de coisas individuais (este homem, este animal).

A isso se opõe o realismo, que sustenta a existência pode ser considerada, à maneira de
Platão, como anterior e separada em relação às coisas, de modo semelhante à noção
aristotélica de forma.

3 – A Filosofia Escolástica

É uma filosofia cristã a serviço da teologia. Essa especulação filosófico-teológica se


desenvolveu nas escolas da Idade Média no período desde Carlos Magno até à
Renascença. Essas escolas foram, a princípio, as catedrais e os conventos e, mais tarde,
as Universidades. Destacamos: Anselmo, Pedro Abelardo, Alberto Magno, Boaventura,
John Duns Scot.

3.1 – Anselmo de Aosta (1033 – 1109) é o fundador da Escolástica. O exemplo de


Agostinho procura compreender as verdades da revelação. Seu lema: “A fé na busca da
compreensão”.

Um dos principais representantes do realismo é Santo Anselmo, arcebispo de Cantuária


(na atual Inglaterra). Seu realismo concentra-se na demonstração racional da existência
de Deus; a palavra “Deus” indica um ser perfeito, o maior de todos; mas, se Deus não
existisse, seria preciso supor algo que fosse ainda maior e que tivesse existência real,
pois existir é uma das perfeições, então a palavra “Deus” só pode indicar um ser
realmente existente. Se, desse modo, Anselmo demonstra logicamente a existência de
Deus, por isso, porém, não significa que para ele, a razão se sobrepõe à fé. Antes, ao
contrário, é porque a fé fornece a verdade divina que se torna possível o uso sem
equívoco da razão.

É necessário primeiro crer e só depois procurar entender. A fé não prejudica; ela é a


condição necessária para a compreensão racional das verdades reveladas.

“Não tento, ó Senhor, penetrar na tua profundidade; de maneira alguma a minha


inteligência se amolda a ela, mas desejo ao menos compreender a tua verdade que o
meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para
compreender. Efetivamente creio, porque se não cresse, não conseguiria compreender”.

Anselmo formulou o argumento ontológico da existência de Deus. A prova ontológica


procura demonstrar a existência de Deus a partir da ideia que temos dele em nossa
mente. O argumento ontológico é a prior, o ponto de partida é antes da causa para então
177

deduzir os efeitos. A ontologia se ocupa dos princípios do ser sem recorrer à


experiência.

Na matemática lida com questões a priori. Os entes primitivos são o ponto, a reta e o
plano. Eles não apresentam definição. São intuitivos.

A definição de “prova ontológica” foi formulada por Kant. O termo “ontologia” havia
sido fixado por Christian Wolff para designar o estudo do ente na condição do ente.

No monologion, Anselmo expõe a razão da fé. Ele quer tomar racionalmente aceitáveis
as verdades e as razões da fé. Procura demonstrar Deus e os seus atributos por
intermédio da razão. Monologion significa monólogo da própria razão consigo mesma.
Ele procura tomar universalmente compreensível o conteúdo da fé.

No Proslogion, Anselmo elabora um argumento definitivo para provar a existência de


Deus. É um argumento que não precisa se apoiar na realidade externa, mas evidencia-se
na interioridade do ser humano. O argumento não necessita de demonstração a
posterior. Proslogion significa colóquio com Deus.

O argumento ontológico deduz a existência de Deus de seu puro ser, existir. Ele é a
priori. O Proslogion parte do pressuposto da revelação de Deus. A graça de Deus
concede o entendimento daquilo que ele já revelou.

 No capítulo 1 contém uma oração de agradecimento a Deus, pela verdade


revelada. O próprio Deus se revela. A fé é pressuposta: “se não crer, não
enterrei”. Anselmo solicita a Deus o entendimento da verdade revelada: “creio
para compreender”.

 No capítulo 2 demonstra a existência de Deus como “ens perfectissismum”.


Deus é o ser perfeitíssimo. Em sua perfeição está incluída a existência.
“Portanto, Senhor, tu que concedes o entendimento da fé, concede-nos
compreender, uma vez que sabes que é útil, que existes como cremos e que é
aquele em que cremos”. O pedido é que Deus conceda a compreensão do
conteúdo da fé. Anselmo quer compreender aquilo que crê.

 No capítulo 3 argumenta que Deus é entendido “ens perfectum”, mas também


como “ens necessarium”. Anselmo entende que a perfeição de Deus implica a
necessidade de sua existência. Deus deve existir necessariamente. Deus é
descrito como “aquele sobre o que não se pode pensar nada de maior” / “aquilo
do qual não se pode pensar nada de maior”. Em Deus coincidem ser e
pensamento, ideia e existência.

 No capítulo 4 mostra que o insensato (descrito nos salmos 14 e 53) pensa em


Deus como não existente. Mas pensa em Deus. No entanto, no momento em que
pensa em Deus, já o pensa como existente. Ele é insensato, porque não pensa
178

verdadeiramente naquilo que pensa. Falta a reflexão. A ideia de Deus não foi
compreendida em seu significado efetivo. O capítulo 4 conclui com um
agradecimento a Deus; “agradeço-te, bom Senhor, agradeço-te, porque naquilo
em que cri pelo teu dom, agora compreendi pela tua iluminação, de tal modo que
mesmo se não quisesse crer que existes, não poderia não o compreender”. Deus
concede a fé e o entendimento da fé. E o intelecto da fé é obtido mediante uma
atitude de confiança. Quanto mais se confia, tanto mais cresce o interesse por
aquilo que se procura: a iluminação da luz inacessível que é Deus. A confiança é
o pressuposto de toda a procura.

 No capítulo 15 Anselmo pensa no ser maior e também na transcendência de


Deus. “Portanto, Senhor, tu és não somente aquilo de que não se pode pensar
nada de maior, mas tu és muito maior de quanto possa ser pensado”. Ser e
pensamento coincidem em Deus. No ser de Deus encontram-se unidos essência
e existência, ideia e realidade. Deus não se reduz a uma identidade lógica, mas
ele transcende a própria identidade de ser e pensamento.

Na reflexão de Anselmo, “Deus é ulterior a quaisquer coisas que possa ser pensada dele
e a qualquer definição e ação possível” (Tomatis, p. 51).

Anselmo não discute uma ideia qualquer, mas pensa no ser perfeitíssimo. Dele não se
pode pensar nada de maior. Sua existência já está concluída na própria ideia. A
argumentação de Anselmo foi desenvolvida mais tarde por Schelling (1775 – 1854).

3.2 – Pedro Abelardo (1079 – 1142). Uma solução intermediária é sustentada por ele.
Celebre por sua paixão por Heloísa, que tanto escandalizou a época. Para ele, os
universais só existem no intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantém relação com as
coisas particulares na medida em que lhes dão significado. Desse modo, é como
significado que os universais subsistem às coisas. Aberlado formula tais considerações
lógicas – sem as vincular às questões teológicas. Por outro lado, porém, fornece à
teologia um modelo de argumentação que marcaria toda a Escolástica: um método que
confronta duas opiniões contraditórias a respeito de cada questão, para, desse confronto,
extrair uma solução satisfatória.

Pedro Abelardo é considerado um dos fundadores da Escolástica, juntamente com


Anselmo. Levou adiante o empenho de Anselmo em explicar racionalmente as verdades
da fé. Sabia manejar com grande habilidade a dialética. E submeteu os dogmas às
exigências críticas da dialética.

A principal obra de Pedro Abelardo é “Sic et non” (sim e não). Coloca em confronto as
posições contraditórias das autoridades eclesiásticas a respeito do questionamento
teológico. Com esse procedimento, ele demonstra que – com base nas autoridades
eclesiásticas – é possível provar tanto uma tese como também a posição contrária.
Diante de questões controvertidas, só resta então a razão com última instancia.
179

Pedro Abelardo mantém o primado da fé e da revelação. Mas, abre espaço para a


especulação e para a pesquisa racional. Bernardo o acusou de não deixar âmbito para a
fé, reivindicando tudo para a razão. Observamos este argumento de Pedro Abelardo, em
sua Obra Diálogo entre um filósofo, um judeu e um cristão.

“Se a fé, de fato, exclui toda discussão racional, se ela não tem mérito senão à custa
disto, de tal sorte que o objeto da fé escapa a todo juízo crítico e que é necessário aceitar
imediatamente tudo o que é ensinado pelos pregadores, apesar dos erros difundidos por
tal pregação, neste caso, de nada serve ser crente: onde não é a razão que dá
assentimentos, tampouco pode ela refutar qualquer coisa. Se um idólatra nos vier dizer
de uma pedra, de um pedaço de madeira ou de qualquer outra cultura: “eis o verdadeiro
Deus, criador do céu e da terra; se ele nos pregar qualquer outra evidente abominação,
quem poderá refutá-lo se, se exclui toda discussão no domínio da fé”?”.

3.3 – Alberto Magno (1200 – 1280) pertenceu à ordem dos Dominicanos, e foi
professor na Alemanha e em Paris. Foi um pensador de saber enciclopédico é, por isso,
recebeu o título de Doctor Universalis. Foi mestre de Tomás de Aquino.

Alberto Magno introduziu e difundiu o pensamento de Aristóteles na tradição Teológica


e Filosófica. Escreveu comentário sobre toda a obra de Aristóteles. Seu pensamento tem
por base Agostinho, Aristóteles, Avicena, Boécio e o neoplatonismo. Divulgou a ciência
dos gregos e dos Islâmicos no Ocidente.

3.3.1 - A Rica Cultura Islâmica

Para os povos árabes, o Islã – que significa “submissão à vontade divina” – é muito
mais do que uma religião. É o que lhes dá identidade cultural e o que, durante muito
tempo, lhes proporcionou unidade política. Segundo o Corão, livro sagrado do
islamismo, a origem do islã está na missão que Mohammed (Maomé, c. 570 – 632) teria
recebido do anjo Gabriel: a de propagar a vontade de Alá, o único Deus verdadeiro e
criador de todas as coisas.

A partir daí, Maomé assume a condição de Profeta e inicia sua pregação, que também é
uma campanha militar: em torno da fé ele unifica as tribos e os clãs em que se dividiam
os árabes. Sofre perseguições que o obrigam a exilar-se – a Hégira –, mas contra-ataca,
subjugando aqueles que não aceitam o Islã. Instala-se em Medina e, dali, inicia uma
série de ofensivas contra Meca, a principal cidade árabe, que capitula definitivamente
em 630.

Maomé morre dois anos depois de sua entrada triunfante em Meca. Seus sucessores –
denominados califas (vigários do profeta) – levam adiante sua obra, construindo um
vasto império que, no século X, abrangia a Espanha e o norte da África, estendendo-se,
a leste, até a região do rio Indo. Essa expansão, no entanto, não se fez sem divergências
internas. Dentro do islamismo surgiram seitas dissidentes, como a dos xiitas. Além
disso, rivalidades de todo tipo provocaram o surgimento de vários Estados árabes
independentes.
180

3.3.2 – O Valioso Conhecimento Árabe

Apesar de motivados à conquista pelo ideal do jihad (guerra santa), os muçulmanos


(praticantes do Islã) foram tolerantes com os povos que dominaram. Admitiram outras
religiões, com exceção das que cultuavam ídolos, e se abriram para as mais variadas
influencias culturais, principalmente do pensamento grego e helenístico. Num primeiro
momento, isso significou traduzir para os árabes, diversas obras escritas em grego e
siríaco, principalmente as de filosofias, matemática e medicina. Mas os estudiosos
árabes não se limitaram a isso. Logo passaram a reelaborar o conteúdo dessas obras e a
realizar suas próprias investigações, de que resultaria um pensamento de alcance
universal.

Na matemática, por exemplo, a limitação dos gregos – que praticamente só conheciam a


geometria – foi superada pelo desenvolvimento da álgebra (palavra de origem árabe)
por Al-kharezme (c. 780 – 850). Foi também por seu intermédio que o Ocidente
conheceu os algarismos arábicos. Além disso, é aos árabes que se devem ao
desenvolvimento da trigonometria, a noção de algoritmo, a invenção do número zero e
muitas outras realizações.

Física, astronomia, química (palavra que tem a mesma raiz árabe do termo “alquimia”),
medicina, biologia, geografia, história: não houve área do conhecimento que os árabes
não tivessem investigado, antecipando muitas das descobertas que o Ocidente, séculos
depois, iria reivindicar como suas.

3.3.3 – O Saber Como Obrigação

“A busca do saber, da ciência, é obrigação de todo mulçumano, homem ou mulher. ” As


palavras do profeta, ao deixar claro que o desenvolvimento do conhecimento por meios
racionais aproxima o homem da sabedoria divina, acabam incentivando a explosão
científica do islã, fase que se estende, aproximadamente, do século X até o final do XII,
sob o califado da dinastia dos abácidas.

Os sábios muçulmanos encontram o pensamento de Aristóteles um instrumento


poderoso. Mas a difusão do aristotelismo no mundo islâmico faz-se de moco curioso.
Os árabes traduzem o conjunto do Corpus Aristolelicum e a estes agregam, como se
fosse do mesmo autor, para de Enéadas de Plotino, bem com textos do neoplatônico
Proclo (c. 410 – 485). Por isso, elaboram uma concepção que mescla o aristotelismo e o
neoplatonismo, em que o Uno concebido por Plotino é identificado, não sem problemas,
a Alá. Resta então investigar a relação entre a inteligência (a segunda hipóstase do
Uno), de um lado, e as coisas e o homem, de outro. Nessa questão, o aristotelismo
fornece a chave.

Al-Kindi (século IX) é o primeiro a formular esse problema: como o intelecto humano
pode apreender a essência das coisas, se pelos sentidos só é possível conhecer que elas
existem? A solução encontra-se na Inteligência, sempre em ato que transcenda o
intelecto humano e que tenha o conhecimento das essências. É ela que torna possível o
181

conhecimento, fornecendo ao intelecto humano as essências (ou formas) e fazendo-o


passar da potência ao ato.

A distinção entre a Inteligência agente, sempre em ato, e o intelecto humano é retomada


por Al-Farabi (872 – 950). Para ele, há uma hierarquia de várias Inteligências agentes: a
primeira emana de Deus, a segunda, da primeira, e assim sucessivamente. A última
situa-se na esfera lunar, e dela provêm as formas que tornam as coisas inteligíveis ao
intelecto humano e que lhes dão existência.

Mas, se a inteligência agente leva as coisas a ser o que são, fazendo-as passar da
potência ao ato, elas podem adquirir ou perder a existência; mas é apenas contingente.
Por isso, a existência das coisas depende de uma causa, aquela em que a essência e a
existência coincidam: Deus.

3.3.4 – Avicena, Médico e Filósofo

Todos esses temas estão presentes no pensamento de Ibn Sina (980 – 1037), que no
Ocidente ficaria conhecido como Avicena. Nascido nas proximidades de Bukhara, e
morto perto de Hamadã (no atual Irã), ele tem seu nome associado à medicina, terreno
em que exerceria uma notável influência. Descreveu a anatomia do olho humano e o
funcionamento das válvulas do coração; analisou uma série de doenças, como a varíola,
sarampo e diabetes; formulou a hipótese de que certas moléstias eram causadas por
pequenos organismos presentes na água e na atmosfera; elaborou vários procedimentos
de diagnóstico. Sua obra Cânon seria leitura obrigatória em qualquer ensino de
medicina na Europa por muitos séculos. Além disso, Avicena, como outros sábios
muçulmanos de seu tempo, foi também matemático, astrônomo, físico, zoólogo,
geólogo, musicólogo e assim por diante, abarcando todas as áreas do conhecimento.

No campo filosófico, Avicena, como Al-Farabi, concebe uma série hierarquizada de


Inteligências agentes, das quais a última dá a forma à materia, fazendo com que as
coisas sejam o que são, e ao intelecto humano, tornando possível o conhecimento.
Também concorda com Al-Farabi quanto à distinção entre essencia e a existencia, mas
acrescenta a essa questão algumas precisões.

Segndo Avicena, há dois modos de ser. Em primeiro lugar, há o ser necessário, isto é,
aquele que por sua essencia são identicas. Há, em segundo lugar, o ser possível, que se
desdobra em dois: o ser possível por essencia é aquele que não pode existir porque a
existencia lhe é causada, enquanto o ser puramente possível é o que pode vir a existir
contanto que a existencia lhe seja causada. Na linguagem aristotélica, o ser necessário é
o ato puro; o ser possível necessário é a potencia que se torna ato, mediante uma causa.
E o ser puramente possível, apenas potencia. Daí se conclui que o ser necessário é o
único que existe por si, sem nenhuma causa, sendo ele próprio a causa de tudo o que
existe: é Deus, o único e eterno criador.
182

3.4 – Boaventura (1217 – 1274) acolhe o argumento de Anselmo e o coloca no contexto


de oração e de fé. Quanto à proximidade e a compreensão de Deus, Boaventura
esclarece a continuidade entre a razão e a fé.

Boaventura foi discípulo de Alexandre de Hales, que lhe transmitiu o contexto do


argumento de Anselmo. Boaventura escreveu questões a respeito da Trindade.
Considera a existência de Deus verdade indubitável, sendo “fundamento de todo
conhecimento certo”. A existência de Deus é verdade indubitável, certa, imediata e
evidente. “Deus também é o fundamento de todo conhecimento fiel”, que provém da fé.

O contexto do argumento de Anselmo é retomado através das três vias:

1) A consciência do mistério de Deus. Ele está oculto e “habita em uma luz


inacessível”;
2) A impossibilidade de duvidar da existência do ser de Deus;
3) O conhecimento da fé no Deus-Trino.

As três vias podem ser percorridas pelo intelecto humano. A primeira é interior. É
impossível duvidar das verdades inatas na alma. A imagem de Deus deseja recordar
Deus. A segunda recorre ao testemunho das criaturas de Deus, que proclamam a
existência do Criador. A terceira eleva o intelecto acima de si mesmo para contemplar a
existência de Deus como verdade evidente e indubitável.

Não podemos pensar nada maior do que Deus. Não se pode pensar que ele não exista.
Deus é verdadeiro e é maior do que aquilo que se possa pensar que não exista. “O ser de
que não pode ser pensado nada de maior é ser de tal natureza que não pode ser pensado”
(Tomatis. P 26).

Se limitarmos Deus com o nosso pensamento, então não pensaremos mais aquilo de que
não se pode pensar nada de maior.

A existência de Deus é verdade “primeira e imediatíssima”, afirma Boaventura. Ele


também escreveu o Itinerário da mente em Deus, no qual apresenta graus sucessivos de
iluminação. Estabelece uma identificação entre Deus e o ser. Pensar o ser na sua pureza
é contemplar a existência imediata de Deus. É a expressão da evidencia imediata da
existência de Deus.

Através do ser nos aproximamos caminhando em nome de Deus. O ápice da mente é o


grau cognitivo da alma, a centelha da inclinação natural para o bem. Cristo é a porta
para Deus, é a passagem arquetípica. Ele se faz caminho para o homem e escada para a
alma. É uma passagem mística que só é conhecida por quem a recebe mediante a graça
de Deus.

3.5 – John Duns Scot (1266 – 1308) estudou no mosteiro dos franciscanos em Dumfries
e em Oxford, e também em Paris. Lecionou Teologia em Oxford e em Paris, sendo
expulso por causa de sua oposição ao rei Felipe IV. Em 1305 recebeu o grau de Doutor
em Paris. Transferiu-se para Colônia, onde faleceu em 1308.
183

Foi um dos maiores pensadores da Escolástica, recebendo o título de Doctor subtilis.


Defendeu a posição de que os conceitos universais são por si mesmos e em si mesmo.
Isto equivale a dizer que os universais têm a seitas, termo latino que expressa uma
afirmação atinente apenas a Deus.

Na formulação de Duns Scot da prova da existência de Deus, o argumento de Anselmo


não está imediatamente evidente. Ele considera o argumento de Anselmo como
momento preliminar e se afasta dessa tradição. Elabora uma demonstração de
possibilidade lógica da não-contraditoriedade.

Duns Scot corrige o argumento de Anselmo subordinando-o ao princípio da não


contradição. “Deus, se pensado em contradição, é aquele de que não se pode pensar
nada de maior sem contradição”.

Aquilo que é contraditório não se pode ser pensado. E aquilo que não é contraditório é
pensável. Deus é aquilo de que, sem contradição, não se pode pensar de maior. É
possível pensar Deus e ele existe. Pensando Deus, evitamos a contradição, pois
evitamos a contradição entre a sua possibilidade e a sua existência. O ente infinito existe
e, portanto, é possível pensa-lo.

Não se trata de uma prova a prior no simples pensamento. Mas, partindo do entre finito
e considerando a possibilidade de Deus como ente infinito – aquilo de que não se pode
pensar nada de maior sem contradição – obtém-se a prova a posterior. Duns Scot passa
do ente finito para o ser infinito a posteriori considerando a efetividade do ente finito e
obter fundamento seguro e necessário para provar a possibilidade do ser incausado,
infinito em ato – a existência de Deus. Ele desenvolve a prova do ser infinito em
diversas etapas e demonstrações. Atenua o argumento de Anselmo. O ponto de partida é
o ente finito sob o aspecto metafísico. Na condição de finito do ente comum, pode-se
atribuir-lhe a efetividade. “A evidência da possibilidade real do ente finito demonstra a
possibilidade da existência do ente finito. Mas, se o ente infinito é possível, ou seja, se é
possível sem contradição, existe necessariamente”. (Tomatis, O argumento Ontológico,
p. 38). O ente efetível não pode auto efetuar. Ele não pode se tornar efetível por si
mesmo. A possibilidade real do ente finito, imediatamente evidente, aponta para a
possibilidade do ente que deve ser causa eficiente primeira – incausada e incausável. A
possível efetividade do ente finito demonstra a possibilidade da existência da causa
suprema incausável, final, do ente perfeitíssimo.

No ente infinito convivem perfeitamente intelecto e vontade, potencia, verdade, bem,


sabedoria e qualquer outra perfeição. A questão dos universais foi muito discutida
durante a escolástica. Discutia-se se as espécies (cão) e os gêneros (os animais) têm
existência real ou são apenas conceitos. Se os universais existem, eles são coisas
materiais ou não? Se eles são conceitos, existem apenas na mente ou também têm
existência de um modo independente? O debate em torno dos universais suscitou o
surgimento de quatro correntes:
184

a) Os realistas platônicos – diziam que os universais são realidades abstratas, que


existem em si mesmas, de um modo independente da mente;

b) Os realistas aristotélicos – afirmam que os universais são as formas que existem


apenas nas substâncias individuais, mas podem ser concebidas separadamente
pela mente;

c) Os conceptualistas – declaram que os universais são conceitos, entidades


mentais;

d) Os nominalistas – ensinavam que os universais são entidades linguísticas, sem


nenhuma realidade específica.

John Duns Scot identificava-se com o posicionamento dos realistas. Ainda hoje, um
pensador pode ser realista em matemática (considerando que os números e as formas
geométricas existem por si mesmos) e ser conceptualista em ética (alegando que os
valores são apenas ideias sem realidade própria).

3.6 – Tomás de Aquino (1221-1274)

Representa o apogeu da escolástica medieval. Conseguiu estabelecer o equilíbrio


nas relações entre fé e a razão, entre a teologia e a filosofia. Estabeleceu uma
distinção entre elas, mas não as separou. Ambas podem tratar do mesmo tema. A
filosofia emprega as luzes da razão natural, e a teologia se vale da luz da revelação
divina.

O pensamento de Tomás de Aquino é caracterizado pela presença marcante da filosofia


de Aristóteles. A integração entre Aristóteles e a fé cristã resultou na Suma Teológica,
sua obra mais importante.

A Igreja Romana e as universidades medievais estavam influenciadas pela tradição


agostiniana, marcada pela filosofia de Platão. Por isso, ofereceram certa resistência
inicial para conciliar a filosofia de Aristóteles com os dogmas da Igreja. Mas, com o
transcorrer do tempo, o pensamento de Tomás de Aquino veio a ser adotado como a
filosofia oficial da Igreja Romana. E a Suma Teológica foi considerada a expressão
mais elevada, promovendo a conciliação entre a fé e a razão.

“Se é correto que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem
por isso os princípios naturalmente inatos à razão podem estar em contradição com esta
verdade sobrenatural.”

As verdades da razão e da revelação são distintas, mas não são opostas. A razão humana
é uma expressão imperfeita da razão divina, ficando-lhe subordinada. O conteúdo das
185

verdades reveladas está acima da capacidade da razão natural, mas nunca pode ser
contrário a ela.

Enquanto Agostinho cristianizou o pensamento de Platão, Tomás de Aquino


empreendeu a cristianização de Aristóteles.

“A tudo isso respondo que foi necessário, para a salvação do homem, uma doutrina
fundada na revelação divina, além das disciplinas filosóficas que são investigadas pela
razão humana. Primeiro, porque o homem está ordenado a Deus como a um fim que
ultrapassa a compreensão da razão”. Conforme afirmou Isaias 64.3: “fora de ti, ó Deus,
o olho não viu o que preparaste para os que te amam.” Ora, o homem deve conhecer o
fim ao qual deve ordenar as suas intenções e ações. Por isso se tornou necessário, para a
salvação dos homens, que lhes fossem dadas a conhecer, por revelação divina,
determinadas verdades que ultrapassam a razão humana.

Tomás de Aquino formulou a doutrina da natureza e da graça. Salientou que a natureza


e a graça não se contradizem. A graça não nega e nem substitui a natureza, mas a
completa. A natureza se realiza na sobrenatureza, que é a graça.

No paraíso, Adão recebeu o domum superadditum, o acréscimo de outro dom aos dons
naturais. Através do dom da graça, Adão podia permanecer unido a Deus. Tomás de
Aquino enunciou a existência de dois graus: o natural e o sobrenatural. Todo seu
pensamento corresponde a um sistema de graus.

O mesmo princípio é aplicado para a relação entre revelação divina e a razão humana. A
revelação não constrói a razão, mas a realiza. A razão é levada para além de si mesma,
mas não é destruída. A razão existe num determinado domínio. E a revelação atua num
outro onde complementa a razão. São duas formas: natureza e sobrenatureza. A Igreja
Católica defende esse supranaturalismo com todo o vigor.

4 – A Decadência da Escolástica

Do século XIV em diante, a escolástica sofre um processo de autoritarismo de nefastas


influencias no pensamento filosófico e científico. Posturas dogmáticas, contrárias à
reflexão, obstruem as pesquisas e a livre investigação. O principio da autoridade, ou
seja, a aceitação cega das afirmações contidas nos textos bíblicos e nos livros dos
grandes pensadores, sobretudo Aristóteles, impede qualquer inovação. É a obscura fase
do magister dixit, que significa “o mestre disse”...

O rigor do controle da Igreja se faz sentir nos julgamentos feitos pelo Santo Oficio
(Inquisição), órgão que examinava o caráter herético ou não das doutrinas.

Conforme o caso, as obras eram colocadas no Index, lista das obras proibidas. Se a
leitura fosse permitida, a obra recebia a chancela Nihil obstat (nada obsta), podendo ser
divulgada. Quando consideravam o caso muito grave, o próprio autor era julgado.
186

Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI), acusado de
panteísmo e queimado vivo por ter defendido com exaltação poética a doutrina da
infinidade do universo e por concebê-lo não como um sistema rígido de seres,
articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se
transforma continuamente.

Foi talvez a lembrança ainda recente desse acontecimento que tenha levado Galileu a
abjurar, temendo o mesmo destino de Bruno.

47 – ESCRAVISMO

1 – Introdução:

A história da escravidão no mundo é tão antiga quanto à própria humanidade. Porém a


forma mais comum de escravidão registrada historicamente tem origem a partir da
relação de forças entre conquistadores e conquistados, com os primeiros impondo
condição servil aos segundos. Povos inteiros eram submetidos à servidão por terem
sucumbido ao poder de um determina conquistador.

2 – História da Escravidão:

Há diversas ocorrências de escravatura sob diferentes formas ao longo da história,


praticada por civilizações distintas. No geral, a forma mais primária de escravatura se
deu na medida em que povos com interesses divergentes guerrearam, resultando em
prisioneiro de guerra. Apesar de na Antiguidade ter havido comércio escravagista, não
era necessariamente esse o fim reservado a esse tipo de espólio de guerra. Ademais,
algumas culturas com um forte senso patriarcal reservavam à mulher uma hierarquia
social semelhante ao do escravo, negando-lhe direitos básicos que constituiriam a noção
de cidadão.

3 – Escravidão no Império Britânico, na América e na Grã-Bretanha.

a) No Império Britânico:

Os escravos emanciparam-se em 1834 devido aos esforços incansaveis de homens como


William Wilbeforce e John Newton. Como ateu, Newton não tinha nenhum fundamento
moral sobre o qual basear sua oposição à escravidão. Ele se tornou um servo de um
navio de escravos e não recebeu tratamento melhor do que os escravos a quem servia.
Ele então tornou-se capitão do seu próprio navio de escravos. Depois de uma
tempestade violenta, John Newton experimentou a graça da fé cristã, levando-o a
repudiar a sua participação no comércio de escravos.
187

William Wilbeforce trabalhou incansavelmente para conseguir a abolição da escravatura


na Grã-Bretanha, desde 1787 até sua morte em 1833. Vários meses antes de sua morte,
ele presenciou a aprovação da Lei da Abolição da Escravatura pelo Parlamento
Britânico. o tráfico britânico de escravos finalmente terminou em grande parte devido à
infatigabilidade de Wilbeforce e Newton. Wilbefore tambem viveu uma vida cristã
ardente, evangélica e protestante, a qual começou apenas dois anos antes de dedicar sua
vida a abolição da escravatura. O filme “Jornada pela Liberdae”, lançado em fevereiro
de 2007, retrata as histórias desses dois homens cristãos.

b) Na América e na Grâ-Bretanha Colonial:

A escravidão na América e Grâ-Bretanha Colonial do século XVIII foi repleta de


racismo e abuso, mas no Israel do Antigo Testamento, o ingresso na escravidão
simplesmente, se tornou uma necessidade para alguns. Ninguém forçava ninguém a ser
escravo. O escravo assinava um contrato concordando em servir à familia do mestre por
um período de sete anos. No final deste tempo, a lei exigia o cancelamento do contrato.
Durante o período de emissão, o escravo gozava de todos os direitos de qualquer
membro da família, exceto do direito da herança. A analogia moderna mais próxima
seria a de uma babá. Um escravo certamente executaria tarefas muito mais árduas do
que leve trabalho doméstico requerido de uma babá, porém semelhantes relações
interpessoais se desenvolveriam.

4 – Escravidão Na Antiguidade:

A escravidão era uma situação aceita e logo se tornou essencial para a economia e para
a sociedade de todas as civilizações antigas, embora fosse um tipo de organização muito
pouco produtivo. A Mesopotâmia, a Índia, a China e os antigos Egípcios e Hebreus
utilizaram escravo. Na civilização Grega o trabalho escravo aconteceu na mais variada
sorte de funções, os escravos podiam ser domésticos, podiam trabalhar no campo, nas
minas, na força policial de arqueiros da cidade, podiam ser ourives, remadores de barco,
artesão etc. Para os gregos, tanto as mulheres como os escravos não possuíam direito de
voto. No entanto, o tipo de escravidão que se deu nas Américas, logo após seu
descobrimento por Cristóvão Colombo, em 1492, era praticamente inédito, baseado no
subjulgamento de uma raça, em razão da cor da pele.

5 – Escravidão Na América Pré-Colombiana:

Nas civilizações pré-colombianas (asteca, inca e maia) os escravos eram empregados na


agricultura e no exército. Entre os incas, os escravos recebiam uma propriedade rural, na
qual plantava para o sustento de suas famílias, reservando ao imperador uma parcela
maior da produção em relação aos cidadãos livres.
188

A Era Pré-colombiana incorpora todas as subdivisões periódicas na história e na pré-


história das Américas, antes do aparecimento dos europeus no continente americano,
abrangendo desde o povoamento original no Paleolítico superior à colonização europeia
durante a Idade Média.

Muitas civilizações nativas ao Continente estabeleceram no período Pré-conquista


características e marcas que incluíam assentamentos permanentes ou urbanos
agricultura, e arquitetura cívica, monumental e complexa hierarquia sociais.

Algumas dessas civilizações já tinham desaparecidas antes da primeira chegada


permanente dos europeus (c. final do século XV e inicio do século XVI), e são
conhecidas apenas através de pesquisas arqueológicas. Outras formas contemporâneas
com este período e também são conhecidos através de relatos históricos da época.
Algumas, como os maias, tinham seus próprios registros escritos. No entanto, a maioria
dos europeus da época viam esses textos como heréticos e muitos foram destruídos em
piras cristãs. Apenas alguns documentos secretos continuam intactos, deixando os
historiadores modernos, com lampejos dessas culturas e conhecimentos antigos.

Embora, tecnicamente referindo-se a era antes de viagens de Cristóvão Colombo em


1492-1504, na prática o termo inclui geralmente a história das culturas indígenas
americanas, até que serem conquistadas ou significativamente influenciadas pelos
europeus, mesmo que isso tenha acontecido décadas ou mesmo século depois do
desembarque inicial de Colombo. O termo Pré-Colombiano é frequentemente utilizado
especialmente no contexto das grandes civilizações indígenas das américas, como as da
Mesoamericanos (os olmecas, os toltecas, os teotihuacanos, os zapotecas, os mixtecas,
os astecas e o maias) e dos Andes (os incas, os moches, os chibchas, os cañaris).

De acordo com contas e documentos dos indígenas americanos e dos europeus, as


civilizações americanas no momento da colonização europeia possuíam muitas
realizações impressionantes. Por exemplo: os astecas construíram uma das cidades mais
impressionantes do mundo, Tenochtitlan, onde hoje está localizada na cidade do
México, com uma população estimada em 200.000 habitantes. Civilizações americanas
também exibiam realizações impressionantes em Astronomia e Matemática. Onde esses
povos persistiram as sociedades e culturas que são descendentes dessas civilizações
agora podem ser substancialmente diferente na forma original. No entanto, muitos
desses povos e seus descendentes ainda mantêm várias tradições e práticas que dizem
respeito aos tempos antigos, mesmo que combinados com culturas que foram mais
recentemente adotadas.

6 – Escravidão No Brasil:

6.1 – Introdução:

A escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e foi uma forma de
exploração da força de trabalho de homens e mulheres africanos, sustentado pelo tráfico
189

negreiro pelo Oceano Atlântico. O processo de apresamento na África, seguido da


travessia do Oceano e a chegada em terras brasileiras foram bastante complexos. O
fluxo de africanos de diversas partes do Continente foi tanto que os escravizados
chegaram a compor 75% da população em lugares como o Recôncavo Baiano, por
exemplo.

a) Motivo da escravidão no Brasil

No Brasil a escravidão começou com os índios, mas como eles não se adaptavam ao
serviço braçal, os colonizadores recorreram aos “negros africanos”, que foram
utilizados nas minas e nas plantações: de dia fazia tarefas costumeiras, a noite
carregavam, trituravam e encaixotavam o açúcar. O comércio de escravo passou a ter
rotas intercontinentais, no momento em que os europeus começaram a colonizar os
outros continentes, no século XVI e, por exemplo, no caso das Américas, em que os
povos locais não se deixaram subjugar, foi necessário importar mão-de-obra,
principalmente da África. Nessa altura, muitos reinos africanos e árabes passaram a
capturar escravos para vender aos europeus. Em alguns territórios brasileiros, o índio
chegou a ser mais fundamental que o negro, como mão-de-obra. Em São Paulo, até o
final do século XVII, quase não se encontrava negros e os documentos da época que
usavam o termo “negro da terra” referiam-se na verdade aos índios.

Com o surgimento do Ideal Liberal e da Ciência Econômica na Europa, a escravatura


passou a ser considerada pouco produtiva e moralmente incorreta.

A escravatura em Portugal Continental foi proibida a 12 de fevereiro de 1761 pelo


Marquês de Pombal. Em 1850 foi feita, no Brasil, a Lei Eusébio de Queirós (2000) que
impunha punição aos traficantes de escravos, assim nenhum escravo mais entrava no
país.

Em 1871 foi feita a Lei do Ventre Livre que declarava livre os filhos de escravos
nascidos a partir daquele ano. Em 1885 a Lei dos Sexagenários, que concedia liberdade
aos maiores de 60 anos.

E mais tarde fez surgir o abolicionismo, em meados do século XIX. Em 1888, quando a
escravidão foi abolida no Brasil, ele era o único país ocidental que ainda mantinha a
escravidão legalizada. A Mauritânia foi, em 1981, o último país a abolir, na letra da lei,
a escravatura. A escravidão é pouco produtiva porque, como o escravo não tem
propriedade sobre sua própria produção, ele não é estimulado a produzir já que isto não
irá resultar em um incremento do bem estar material de si mesmo.

b) Tráfico de Escravo Pelo Atlântico:

Sobreviver foi uma tarefa difícil. As mortes eram constantes e a taxa de natalidade
muito baixa, por conta disso e pela pouca importância dada a reprodução, houve
necessidade constante de importar mão-de-obra, sustentando o tráfico atlântico. Este
figurou como atividade lucrativa para um grupo bastante fluente de traficantes.
190

É com a chegada dos portugueses na costa atlântica ao sul do Saara, no século XV que
as formas de comércio se modificam e o uso da violência passou a ser comum. Cerca de
4,5 milhões de africanos vieram para o Brasil. As plantations e os monopólios eram à
base da agricultura escravista e garantiram a escravidão como um negócio lucrativo.

O processo de escravidão começa no continente africano. O primeiro movimento era o


apresamento pelos traficantes, seguido de uma longa viagem pelo interior até a chegada
a costa atlântica. Esta viagem obrigava os cativos a percorrerem um longo caminho até
a chegada aos portos. Muitos deles não resistiam às doenças ou mesmo ao esforço
físico. Os que chegavam aos portos chegaram a esperar um longo tempo até que os
“navios negreiros” tivessem “carga” suficientemente lucrativa para fazer a travessia do
atlântico.

A travessia nos navios negreiros era marcada pela violência e pelas condições
insalubres. Antes de embarcar os homens e mulheres cativos eram marcados com ferro
– ou nas costas ou no peito – como forma de identificação do traficante a quem
pertenciam. Um único navio carregava cativos de diversos traficantes e locais de
origem. E assim os senhores os preferiam: trabalhadores de etnias e culturas diferentes,
pois dificultava a comunicação e prevenia a formação de rebeliões e motins.

Entre os séculos XVI e XVIII as caravelas portuguesas tinham capacidade de


transportar aproximadamente 500 cativos por viagem. Já os navios a vapor faziam o
transporte de aproximadamente 350 escravos, já no século XIX, quando, aos poucos, a
escravidão foi sendo abolida em diversas nações do mundo, num processo iniciado pela
Inglaterra.

A viagem nos navios tinha como dieta básica o azeite e o milho e, por conta desta
alimentação pobre em vitaminas, especialmente a vitamina C, muitos escravizados
chegavam com “escorbuto”, doença bastante comum neste contexto. O fim da travessia
se dava com a chegada aos portos brasileiros como os de Recife, Salvador, Rio de
Janeiro, Fortaleza, São Luís e Belém. Os principais portos à época eram os de Salvador
e Recife, mas, após a descoberta do ouro na região de Minas Gerais o porto do Rio de
Janeiro ganha destaque e passa a receber um número cada vez maior de cativos.

c) Chegada ao Brasil

A chegada era marcada, inicialmente, pela burocracia. Classificados por sexo e idade,
posteriormente eram enviados para o local onde se faziam os leilões de escravos, que
poderia ser já na alfândega ou nos armazéns próximos à região portuária.

Como chegavam bastante debilitados: doenças, feridas na pele, com vermes e


escorbutos e com pouco peso era preciso valorizar a “mercadoria” e para venda os
cativos eram limpos, tinham os cabelos e barbas cortados, e passavam óleo na sua pele.
Neste momento recebiam uma alimentação mais cuidadosa para melhorar o aspecto. Já
191

para esconder a aparência depressiva – chamada de banzo – causada pela exploração e


imigração forçada os cativos recebiam produtos estimulantes como tabaco.

Além da vendo in loco os homens e mulheres escravizadas eram anunciadas nos jornais.
Ao buscar os periódicos do período este tipo de anúncio é facilmente encontrado. Postos
à venda a partir do seu sexo, idade e etnia a preferência se dava por homens adultos – os
mais caros. A venda envolvia garantias: caso o cativo apresentasse alguma doença ou
debilidade física nos quinze dias sequentes à venda podia ser devolvido.

d) Locais de Aplicação da Mão-de-obra Escrava

Aqui os escravizados foram destinados ao trabalho nos latifúndios de cana de açúcar,


nas minas de ouro e diamantes, nas fazendas de café ou mesmo no trabalho doméstico
ao longo dos séculos XVI ao XIX. O comércio de homens e mulheres africanos
ocasionou na morte e no sofrimento de milhões de pessoas.

Havia distinção entre os cativos domésticos e os do campo. Os destinados às casas


grandes viviam uma vida mais próxima dos senhores, e conheciam a fundo seu
cotidiano. Por isso mesmo houve uma delimitação bastante evidente nas casas entre as
áreas sociais e de serviço, presente até hoje nos elevadores de edifícios separados entre
o social e o de serviço, que servem para demarcar os lugares sociais de patrões e
empregados. Já os escravizados destinados ao trabalho no campo levavam uma vida
mais sacrificada, embora ambas as formas de trabalho fossem forçadas e de exploração.

A escravidão foi um processo de extrema violência. A monocultura necessitava de um


grande número de trabalhadores que eram submetidos a uma rotina de trabalho difícil,
pesada, sem lucros para cativos, força de trabalho da produção latifundiária. O trabalho
era intenso e o próprio cotidiano nos engenhos, nas fazendas ou nas minas, já
representava uma violência impactante.

Os escravizados eram assombrados pela presença dos castigos físicos e das punições
públicas. Várias foram as formas de humilhação. O tronco, o açoite, as humilhações, o
uso de ganchos no pescoço ou as correntes presas no chão representavam a violência a
que eram submetidos os cativos. A escravidão é um sistema que só funciona com a
presença da violência.

Ainda assim é preciso destacar o papel importante das revoltas e das rebeliões, formas
de resistência à exploração imposta, como experiência dos quilombos – como o de
Palmares – e as diversas táticas praticadas para fugir da violência injusta. Homens e
mulheres cativos não foram passivos ao sistema a que foram submetidos reagindo da
mais variadas formas.

7 – Escravidão Na Bíblia

7.1 – Introdução:
192

Uma das razões pela qual você parece desacreditar o Cristianismo é por causa da
existência da escravidão na Bíblia. A escravidão tem existido praticamente por toda a
extensão da história humana. Costumes culturais não têm permanecido estagnados ao
longo dos séculos, e atitudes em relação à escravidão mudaram junto com eles.
Movimentos abolicionistas eram raros antes do século XVIII.

Muitas pessoas ficam chocadas ao descobrir inúmeras passagens no Antigo Testamento


que demonstram a aprovação divina para a prática da escravidão no território de
Israel. O que nós nos esquecemos de constantemente é que a Bíblia não foi escrita no
Brasil, nem em português. Além de ter sido escrita há milênios, ela foi produzida num
outra cultura. Se quisermos ver sentido em alguma de suas práticas, não devemos
compará-la com nossa cultura ocidental, mas sim, com a vida e costumes dos habitantes
do Oriente Médio, na época em que os livros sagrados foram produzidos. Abaixo, você
terá um breve resumo da legislação bíblica sobre a escravidão e uma rápida comparação
de como outros povos via essa prática.

1 – Encontramos a primeiro e mais notável exceção registrada no livro do Êxodo do


Antigo Testamento. As leis do Antigo Testamento ajudaram a determinar o tratamento
humano dos escravos. No entanto, no Egito os israelitas serviram principalmente como
construtores de tijolos e estavam sujeitos às condições severas. Moisés libertou da
escravidão no Egito, cerca de 600.000 mil homens israelitas e suas famílias.

2 – A leitura de Êxodo 21.7-11, leva a crer que “todo homem é livre para vender sua
filha como escrava sexual – embora certas sutilezas se apliquem. Exemplo:

“Se um homem vender a sua filha como escrava, ela não será liberta como os escravos
homens. Se ela não agradar ao seu senhor que a escolheu, ele deverá permitir que ela
seja resgatada. Não poderá vende-la a estrangeiros, pois isso seria deslealdade para com
ela. Se o seu senhor a escolher para seu filho, lhe dará os direitos de uma filha. Se o
senhor tomar uma segunda mulher, não poderá privar a primeira de alimentos, do
roupas e de direitos conjugais. Se não lhe garantir essas três coisas, ela poderá ir embora
sem precisar pagar nada (Ex 21.7-11).

3 – Nos dias do Antigo Testamento, quando um homem vendia sua filha como uma
escrava, ele permitia a sua entrada na aliança matrimonial que ela aprovasse. Um
homem ou sua família normalmente iniciava a sequência de passos que levavam ao
casamento. O costume do Antigo Testamento incluía o novo o marido ou sua família
oferecendo um preço de nova ao pai da noiva. Nem sempre um pagamento monetário,
isto pode ter sido um presente ou algo considerado valioso. A passagem acima não
oferece apenas sutilezas aplicáveis, mas provê leis para proteger as mulheres que entram
no casamento desta forma.

4 – como exemplo de uma família que incluía novas servas, vamos considerar o lar de
Jacó: Jacó teve doze filhos cujos descendentes dera origem às doze tribos de Israel:
Rubem, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Dã, Naftali, Gade, Aser, José e
Benjamim. Jacó se apaixona por Raquel e desejou casar-se com ela. Jacó, em seguida
193

reuniu-se com o pai dela, Labão, e ofereceu tornar-se um escravo durante sete anos a
fim de ganhar a mão de Raquel em casamento. Infelizmente para Jacó, o costume no
país de Labão era que a primogênita deveria casar-se primeira. Depois de sete anos,
Jacó recebe Lia em casamento, ao invés de Raquel, o que muito o irritou. Labão
concordou em permitir que Jacó casasse com Raquel após a semana nupcial de Lia, em
troca de mais sete anos de trabalho. Gravemente apaixonado, Jacó continuou como
escravo de Labão por outros sete anos para ganhar a mão de sua amada Raquel. Então,
Jacó e Raquel também se casaram e expandiram a família que Jacó já tinha começado
com Lia. Tanto Lia como Raquel tiveram servas que também se juntaram à família de
Jacó. Essas servas Zilpa e Bila tornaram-se esposas servas de Jacó por seu acordo
mútuo com Lia e Raquel. Enquanto Lia deu a Jacó seis filhos, cada uma de suas outras
três esposas lhe deram dois filhos. Lia também teve uma filha, Diná.

Encontram este relato em Gênesis 29 e 30. Jacó tratava suas esposas Lia e Raquel, e as
esposas servas Zilpa e Bila, de forma justa e equitativa. Jacó, suas esposas e seus filhos
viveram e viajaram juntos com uma família depois que Jacó terminou o seu contrato
com Labão.

8 – história da Escravidão Bíblica

8.1 – Introdução:

A escravidão foi a primeira lei que Deus deu aos israelitas quando eles saíram do Egito
(cf. Ex. 21.1-11). Na lei mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era
crime punido com pena capital (Ex. 21.16).

Um escravo hebreu deveria trabalhar apenas seis anos para pagar a sua dívida, sendo
libertado ao sétimo ano, sem pagar nada (Ex.21.1). Além disso, ele deveria receber de
seu proprietário alguns animais e alimentos para recomeçar a vida (Dt. 15.13,14).
Durante seu período de serviço, o (a) escravo (a) teria um dia de folga semanal, o
sábado (Ex. 20.10). é interessante notar que na versão dos dez mandamentos de
Deuteronômio 5, é dito que o sábado foi dado para que o servo e a serva “descansem
como tu”, no caso o patrão.

Notou alguma diferença da escravidão bíblica e aquela mantida em nosso país, há


alguns séculos? A diferença também é significativa quando comparamos essas
passagens bíblicas com o código de Hamurabi, rei de Babilônia no décimo oitavo século
a.C. Se algum escravo fugisse, ele deveria ser morto; enquanto isso, em Israel esse
escravo deveria ser protegido (Dt. 23.15,16).

Proteger um escravo fugitivo, em Babilônia, era uma grande ofensa, também punido
com a morte, como evidenciado nas leis 15-20 do referido código. Antes desse rei, que
viveu em torno de 1750 a.C., entre os sumérios, o termo arad (escravo, servo) era
considerado como um objeto e era referido através de um pronome usado para descrever
coisas (p.ex. como o uso do it, em inglês).
194

Alguém pode questionar o motivo pelo qual Deus não aboliu a escravidão entre os
israelitas. Lembre-se de que eles estavam inseridos numa cultura impregnada dessa
prática. Mesmo que Deus abolisse, isso não mudaria a forma como eles pensavam. A
título de ilustração, imagine o árduo processo cultural para tornar a Arábia Saudita em
uma democracia. Mesmo que essa mudança fosse feita, ainda levaria um bom tempo até
que a mentalidade da nação fosse mudada. Deus humanizou essa prática em Israel. Em
lugar algum do antigo Oriente Médio encontraremos escravo e senhor em pé de
igualdade (cf. Jó 3l.13-15).

48 – ESPIRITISMO

1 - Introdução:

Doutrina codificada em 1857m em o Livro dos Espíritos, pelo pedagogo francês Allan
Kardec (1804-1869). Seus adeptos acreditam no retorno do espírito à Terra, em
sucessivas encarnações, até chegar à perfeição, e creem na possibilidade de
comunicação entre vivos e mortos, que pode ocorrer de várias formas, como por
mensagens escritas (psicografadas) ou faladas (psicofônicas). A religião prega a
caridade e o amor ao próximo como meio de atingir a maturidade espiritual. Chega ao
Brasil em meados do século XIX e seu principal nome foi o mediúm Chico Xavier
(1910-2002).

Livro e mais livros têm sido escrito sobre o espiritismo nos seus diversos aspextos. O
povo evangélico brasileiro, particularmente, dispõe de algumas obras significantes
quanto a história, doutrinas e refutações bíblicas no que se refere a essa seita-religião
que de acordo com as denominações que recebe, mostra a manifestação de satanás no
meio do “seu povo”.

A palavra espírito vem do grego, “pneuma” sopro, exaltação, sopro vital, espírito. O
sufixo grego “ismós” indica doutrina filosófica religiosa, daí, espiritismo.

2 – A doutrina espírita universal resume-se em cinco pontos básicos que servem de


ponto de partida para as demais doutrinas:

a) Existência de Deus – Inteligência cósmica responsável pela criação e


manutenção do Universo;

b) Existência do Espírito – ou alma, envolvido pelo perispírito, conservando a


memória mesmo após a morte e assegurando identidade individual a cada
pessoa;
195

c) Lei da Reencarnação – Pela qual, todas as criaturas, sucessivamente, vão


evoluindo ao plano intelectual e moral, enquanto expiam os erros do passado;

d) Lei da Pluralidade de Mundos – A existência de vários planos habitados que


oferecem um âmbito universal para a evolução do espírito;

e) Lei do Carma – ou da casualidade moral, pela qual se interligam as vidas


sucessivas do espírito, dando-lhe destino condizente aos seus atos praticados.

3 – Histórico:

A primeira sessão espírita teve lugar no Éden, onde a serpente serviu de médium,
satanás de guia e Eva de assistente. Até hoje, as sessões espíritas são feitas com esses
elementos: os médiuns, os demônios ou guias e os assistentes.

Desde a queda do homem no Éden, o espiritismo passou a ser praticado. Em


determinadas épocas com mais intensidade do que em outras, porém o diabo nunca
deixou o homem, seu fiel “cavalo”.

É claro, que não podendo comungar com Deus e os anjos, por ter sido lançado do céu,
nem com os homens, por terem estes corpos físicos, o diabo e seus anjos só podem
viver no espaço, entre o céu e a terra, que aliás, Deus não achou bom ao criar, visto estar
reservado para a habitação dos seres decaídos.

Como é impossível a Satanás a comunhão com Deus, o astuto anjo decaído, juntamente
com seus seguidores, procura habitar entre os homens e o faz através de encarnações
mediúnicas, encostos ou usando outros métodos como: “protegendo”, “ajudando” etc.

Querem estes seres, o poder da expressão; daí usarem preferivelmente o homem de que
usam as faculdades para mesmo que disfarçadamente o levar ao afastamento de Deus e
à destruição. São inimigos de Deus, rebeldes e predestinados para o lago de fogo, para
onde não querem ir sozinhos.

Entre os cananeus e os egípcios era comum a prática da feitiçaria. Os gregos tinham o


costume de consultar oráculos. Pitágoras, que viveu de 580 a 500 a.C. cria na
transmigração das almas (metempsicose). Entre outras afirmações de Pitágoras
encontramos a que diz que os astros são deuses.

Entre os romanos era comum a prática de consultar os mortos. As Sibilas, lendárias


sacerdotisas de Apolo, viviam na Sicília e eram médium que adivinhavam ou prediziam
o futuro. O próprio Alexandre, o Magno, consultou uma dessas sacerdotisas, após o quê
partiu para a conquista do mundo.

Na Idade Média houve uma verdadeira praga de feiticeiros, bruxas, endemoniados


famosos etc. a Igreja Católica queimou centenas deles na fogueira da Inquisição.
196

4 – O Espiritismo Moderno:

O espiritismo moderno é o desenvolvimento das práticas espíritas antigas. Franz Anton


Mesmer, médico alemão, uma curiosa mistura de gênio. Pesquisador e charlatão
assombrou a Europa com seus prodígios na prática do espiritismo e hipnotismo. Achava
que os astros eram responsáveis pelas doenças e começou suas experiências em 1774.

Swedemborg, contemporâneo de Mesmer, era um filósofo místico que dizia ter recebido
de Deus poder para explicar as Escrituras (como Allan Kardec) e comunicar-se com o
outro mundo.

As americanas Magie e Katie Fox deram início definitivo ao espiritismo moderno, em


Hydesville no Estado de Nova Iorque em 1848. O espírito de Charles Rosna,
assassinado com a idade de trinta e um anos, começou a se comunicar com essas irmãs
através de estalidos de dedos e pancadas. Porções de esqueleto humano foram realmente
encontradas na adega, o que deu ao fato divulgação tão grande que atraiu pessoas de
todas as camadas sociais. Ao que tudo indica, mais tarde, as irmãs Fox desfizeram as
crenças que havia difundido, contando suas fraudes.

As práticas espíritas eram chamadas antigamente, como podemos notar nas páginas das
Escrituras, de necromancia ou magia. Seus praticantes eram chamados de: magos,
pitonisas, adivinhos, bruxas, feiticeiros etc. os centros, tendas ou terreiros eram
chamados oráculos, cavernas ou antros.

Hoje, dependendo do ramo a que pertencem, os nomes são diversos. Desde o Vodu até
o “alto” espiritismo, a essência é a mesma. Através dos tempos, têm sido redutos do
espiritismo, a china, a índia, o Tibete, o Haiti, a África, o Brasil e os povos indígenas
em geral. O Brasil é hoje o líder mundial do espiritismo que tem seu foco principal no
Estado do Rio de Janeiro. Em uma estatística publicada em uma de nossas revistas,
afirmava-se que 70% dos católicos brasileiros são frequentadores de centros espíritas.

5 – Divisão do Espiritismo:

Podemos, para efeito de estudo, dividir o espiritismo, da seguinte forma: Espiritismo


Comum; Baixo Espiritismo; Espiritismo Científico; Espiritismo Kardecista.

1 – Espiritismo Comum – quiromancia, cartomancia, grafologia (um ramo),


hidromancia, astrologia etc.

2 – Baixo Espiritismo – Espiritismo pagão, inculto, sem disfarce...Encontramos nessa


classificação: vodu, candomblé, Umbanda, Quimbanda, Macumba (sem formas nem
doutrinas), e outras manifestações.

3 – espiritismo científico – também chamado alto espiritismo, espiritismo ortodoxo,


espiritismo profissional ou espiritualismo.
197

Aqui, encontramos inclusive “sociedades” que se dizem filosóficas, teológicas,


científicas ou beneficentes. Satanás coloca nomes bonitos, que apelam na maioria das
vezes para o intelecto. Pura farsa... Normalmente suas doutrinas são diferentes das de
Allan Kardec.

Ecletismo, esoterismo, LBV, teosofismo, Rosacrucianismo e outros “ismos” que fazem


parte de uma lista imensa que poderíamos fazer também se enquadram nessa
classificação.

4 – Kardecista – o espiritismo praticado no Brasil. tem como base as obras de Allan


Kardec, o codificador das crenças espíritas.

Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) tomou o pseudônimo de Allan Kardec,


porque acreditava ser ele a reencarnação de um poeta celta com esse nome. Começou
seu movimento em 30 de abril de 1856, na França, onde depois de abandonar a
medicina e a Igreja católica, passou a escrever as obras que o tornaram a figura principal
do espiritismo moderno. Entro outros livros, escreveu: O Evangelho Segundo o
Espiritismo. O Livro dos Médiuns. O Céu e o Inferno e Gênesis.

De uma ou de outra forma, o espiritismo tem se alastrado em todo o mundo e torna-se


uma ameaça terrível à humanidade. Deus, felizmente, nos últimos tempos, tem
levantado o Seu povo para lutar contra as investidas satânicas.

6 – As Principais Teses do Espiritismo Brasileiro.

 Possibilidade e conveniência de comunicações com entidades espirituais


desencarnadas;

 Crença na reencarnação;

 Crença na “lei da causa e do efeito”. Não podemos escapar às consequências de


nossos atos;

 Crença na pluralidade de mundos habitados. A terra é considerada um planeta de


expiação. Seus habitantes são espíritos exilados de outro planeta, que Francisco
Cândido Xavier chama de Cabra ou Capela;

 Não há distinção entre o natural e o sobrenatural, nem entre religião e ciência.


Não há graça. O progresso relativo dos indivíduos depende exclusivamente do
mérito pessoal acumulado nesta e em encarnações posteriores;
198

 A caridade é a virtude principal – talvez a única – e se aplica tanto aos vivos


como aos mortos (desencarnados);

 Deus, embora existente, é por demais longínquos e se perde na distancia


incomensurável de um ponto espiritual que mal podemos vislumbrar;

 Mais próximos estão os “guias” (espíritos que se incorporam nos médiuns),


importantes no culto espírita, e que nos ajudam por amor. Também existem os
maus e por estes, os vivos é que precisam fazer caridade;

 Jesus Cristo é visto como a grande entidade encarnada – a maior que já apareceu
no mundo. O Evangelho foi reinterpretado, segundo o espiritismo, no famoso
livro de Allan Kardec – o Evangelho Segundo o Espiritismo.

7 – Doutrinas Espíritas.

Algumas:

 A Reencarnação – classificam os espíritos, de um modo geral, em quatro


categorias: imperfeitos, bons, superiores e puros.

 Salvação – creem que se aperfeiçoam pela evolução espiritual através do


sofrimento e pela prática de Boas Obras.

 Existência de diferentes mundos – para habitação dos espíritos em vários


estágios de evolução espiritual. Usam João 14.2, onde Jesus diz que na casa do
Pai há muitas moradas, como base bíblica para essa doutrina.

 Fora da caridade não há salvação.

 Deus existe, mas está longe demais e só se manifesta por meio de intermediários
– os guias.
 Jesus é um homem que alcançou grande desenvolvimento espiritual.

 O espiritismo julga ser, ele próprio, a “terceira revelação”, pretendendo ser o


Espírito Santo prometido por Jesus. Afirma que a primeira revelação veio
através de Moisés, a segunda, através de Jesus, a terceira é o espiritismo, que
complementa a segunda.
199

 Nega a existência do céu, inferno, condenação eterna e, sobretudo do diabo.

 O espiritismo nega todas as doutrinas básicas da fé cristã.

Entre as seitas ou sociedades secretas ligadas ao Espiritismo, bem como certas práticas,
temos ainda: o Ioguismo, o Faquirismo, o Manuseio de Serpentes, o Culto ao Mago
Abramelim, o Culto das Bruxas, o Culto do Pavão, o Culto aos discos voadores, culto
aos duendes e fadas etc.

8 – Cultos Espíritas.

1 – Umbanda:

A umbanda é um misto de espiritismo kardecista, catolicismo, budismo e mediunismo.


Não tem um corpo de doutrinas definido e está se estabelecendo rapidamente no Brasil.
Os terreiros de Umbanda aparecem da noite para o dia, principalmente nos bairros mais
pobres das cidades praticando a feitiçaria e prometendo resolver os problemas dos
necessitados.

A palavra Umbanda quer dizer “do lado de Deus, ou do bem”. Essencialmente é religião
de magia e feitiçaria, politeísta, fetichistas e mitológicas, muito semelhantes ao
candomblé.

A tônica da Umbanda é a adoração e subserviência aos orixás (deuses) que aparecem


sempre como forças divinizadas da natureza que se incorporam no médium “evoluído”
para fazerem o bem. Quanto aos Exus (espíritos opressores ou obsessores), é
representado em sua maioria por forças negativas representativas de tudo o que não é
bom, como por exemplo: adultério, prostituição, pederastia, contendas, morte, maldade
etc. são estes últimos, os frequentadores de encruzilhadas, cemitérios, florestas,
pântanos e coisas desse jaez.

O orixá é adorado, servido e motivo de orgulho para o médium (ou cavalo). A ele se faz
oferendas e para ele, banhos de purificação ou preparação do ambiente (casa ou terreiro)
com incenso ou perfumes.

O exu é evitado. Quando em uma sessão se incorpora, é logo afastado, muitas vezes
depois de ser doutrinado. Em alguns terreiros aconselha-se fazer-lhe oferendas para que
se afaste, em outros essa oferenda é feita para cobrir outra que já lhe foi feita e coloca-lo
assim ao serviço do último ofertante.

Tipos de Reuniões:

a) Linha Branca – muitas vezes se apresenta como Centro de Mesa. O dirigente


fica sentado a uma mesa tendo ao redor os médiuns. Quase sempre usam o nome
de Jesus para dar abertura à reunião. Algumas mesas têm perfumes e flores; em
raros casos também aparecem às velas.
200

Os médiuns concentram-se e sob sons de cânticos os pretos velhos e os caboclos


se manifestam. De uma maneira geral não incorporam orixás para que não se
misturem com os antepassados. Nesse tipo de reunião, podem-se consultar
espíritos de pessoas que morreram recentemente.

b) Terreiro – O Pai ou mãe de santo, normalmente vestido de branco, dirige a


“gira” ao som de palmas e pontos. Todos se vestem de branco ou com a roupa
preferida do seu guia e dançam sob o batuque do “atabaque” (espécie de tambor
sagrado).

À medida que as entidades vão se incorporando, os médiuns vão “prestando a


caridade” aos assistentes. A cada reunião a evolução do médium é observada.
Chegar a Pai de santo ou mãe de santo é o ideal da maioria deles. Dizemos da
maioria, porque muitos estão ali forçados por um problema ou uma doença.
Nesses casos, após uma consulta, lhes foi dito que precisavam desenvolver que o
mal era espiritual etc. Dessa maneira muitos crédulos têm se deixado arrastar
para as teias malignas do Espiritismo.

Explicações, passes e bênçãos são dados aos interesseiros que se dirigem às


reuniões nas horas de dificuldades. O “você precisa desenvolver” é muito
comum, entretanto, depois de resolvido o problema a maioria não volta mais, até
outra necessidade.

2 – Quimbanda:

Umbanda e Quimbanda são semelhantes. É muito comum a realização de


sessões de quimbanda nos terreiros de umbanda. Embora sejam semelhantes não
são iguais; embora usem frequentemente os mesmos pontos e invoquem as
mesmas entidades, há grande rivalidade, pelo menos teóricas entre as duas.
Somente quem já viveu nesse ambiente e participou de suas reuniões pode
compreender exatamente a diferença existente. Na maioria das vezes nem os
próprios “pais ou mães” de santos compreendem perfeitamente o limite entre um
e outro culto.

A dificuldade existe por causa do grande sincronismo que existe entre as duas
formas de espiritismo. Na maioria dos terreiros, vê-se uma mistura dos dois
cultos, entretanto, analisando basicamente cada uma delas, podemos notar as
tendências de cada terreiro.

a) A umbanda dedica-se à prática do bem, embora algumas vezes faça o mal a


alguma pessoa;

b) A quimbanda preocupa-se muito mais em fazer o mal, atendendo


solicitações de seus adeptos ou admiradores;
201

c) Uma das práticas mais comuns na Umbanda, é desfazer o trabalho ruim,


normalmente feito pelos adeptos da quimbanda;

d) Na quimbanda, uma das práticas mais comuns é reforçar ou fazer um


trabalho maior do que foi feito na Umbanda no intuito de agradar mais aos
exus para obter seus favores, para o bem ou para o mal;

e) Na umbanda, as flores, velas, perfumes e enfeites predominam nas


oferendas;

f) Na quimbanda, a predominância está no sangue, no sacrifício de animais;

g) Na umbanda, as cores brancas e azuis são as preferidas;

h) Na quimbanda, o preto e o vermelho predominam;

i) A umbanda se divide em sete linhas (agrupamentos de espíritos que


trabalham nas macumbas), que se divide em sete falanges, que por sua vez se
subdividem em falanges pequenas. Cada falange pequena se divide ainda em
sete grupos etc. cada linha é chefiada por um orixá (caboclos com nomes de
santos. Até o nome de Jesus entra nessa...) e cada falange, por um ogum
(espírito de índios que têm a finalidade de fazerem o trabalho de demanda);

j) A quimbanda tem a mesma divisão sistemática da umbanda, sendo que os


chefes das linhas e falanges são Exus. Exu é uma divindade diabólica na
mitologia africana, o mesmo que diabo ou espírito maligno, que segundo
eles, também fazem o bem...;

k) Frase comum na umbanda: “Deus é pai de todos...”;

l) Frase comum na quimbanda: “Deus é bom, mas o diabo não é mau”.

3 – Candomblé:

Candomblé é um culto fetichista semelhante a quimbanda. Talvez o leitor esteja se


perguntando: mas se a umbanda é semelhante à quimbanda e se a quimbanda é
semelhante ao Candomblé, todos então são semelhantes? Sim, todos são semelhantes,
mas não iguais, conforme já vimos na comparação entre umbanda e quimbanda.
202

3.1 – O Ocultismo

O ocultismo no candomblé é segredo mesmo para aqueles que o praticam. Praticamente


não existem livros sobre o candomblé, suas doutrinas, seus rituais e sua prática. O que
se sabe a seu respeito, são declarações de pessoas que saíram daquele lamaçal e
entregaram suas vidas ao Senhor Jesus Cristo. Acontecem coisas no Candomblé que se
fossem publicadas, a polícia e até mesmo organizações que lutam pelos direitos
humanos tomariam providências a respeito.

Para se tiver uma ideia da diferença entre o candomblé e a umbanda e quimbanda


podem anotar o seguinte:

1. O sangue do candomblé é verde. Seu segredo baseia-se nas folhas e ervas


que usam nos trabalhos. Umas se destinam a fazer as mal, outras o bem.
A maioria delas vem da África, por contrabando.

2. O umbandista, achado o “orixá” poderoso demais para ser facilmente


invocado, chama espíritos desencarnados e espíritos menores para os
representarem. O quimbandista adora ao Exu, ao próprio satanás, a quem
faz oferendas, embora creiam também nos orixás. O candomblecista tem
os orixás como deuses ou espírito bons, suplicados para o cliente
conseguir favores. Fazem-se sacrifícios e oferendas aos exus, mas
somente para afastá-los.

3. O candomblé não invoca “pretos velhos” ou “almas”, pois como já


dissemos, os orixás constituem sua principal veneração.

4. Mistura de ervas com pós, terra de lugares santos, pedras e coisas desse
tipo são feitas para a obtenção de várias finalidades; pó do amor; bebida
para fechar o corpo; pó da sedução; banhos para afastarem mal olhado,
inveja ou para receberem benefícios, são receitados por suas mães de
todos os santos ou babás. É claro que por trás disso tudo existe um
grande comércio de bugigangas na exploração da ingênua fé do povo.

5. O candomblé, em cerimônias como o ossê (purificação) Bori (expiação)


ota (sacrifício) ofertas das primícias, proibições de comer certas comidas
e limpeza do acampamento, é uma manifestação denominada de práticas
do Antigo Testamento para enganar o povo.

6. No candomblé, o âmago dos sacrifícios são as pedras que representam


deuses e que após uma obrigação de sangue são batizadas com nome do
respectivo orixá.
203

7. Por trás dos sacrifícios sangrentos do candomblé, das oferendas de


comida e dos banhos, há um poder maligno que quer controlar e destruir
a vida de seus seguidores.

8. A prática de “fazer cabeça” é uma maneira de se vender a alma ao orixá.


É uma chantagem diabólica que obriga a pessoa a renunciar, enquanto
vive a sua própria salvação. Daí os adeptos do Candomblé julgarem que
nunca mais o poderão deixar. Para estes, é boa essa palavra de Jesus.

4 – Macumba:

O termo é genérico e comumente empregado em relação a umbanda. Quimbanda,


candomblé, vodu, bem como aos seus rituais ou oferendas. É chamado candomblé
(Bahia); tambor-de-mina, tambor-crioulo (Maranhão); xangô (Pernambuco, Alagoas);
babaçuê (Pará); Curimba etc.

Os espíritos praticantes de qualquer dos cultos acima citados, preferem considerar a


macumba como uma forma profana e liberal na pratica do mediunismo.

De modo geral, pode-se considerar como Macumba, o culto fetichista, de origem


africana e de pratica popular, sem normas, formas. Doutrinas ou proibições.

Acontece de tudo nos terreiros de macumba. Há uma mistura de orixás, exus, preto-
velho, almas desencarnadas, espíritos de luz etc. de acordo com cada terreiro, são
aceitos ou rejeitados ou comungam da mesma maneira todos os espíritos.

Quanto aos rituais, assimilam dos demais cultos espíritas as suas práticas, porém sem
nenhum compromisso sério. Fazem de tudo. No rio de Janeiro, principalmente na
Baixada Fluminense e em São Paulo, na chamada Periferia, esses terreiros são muito
comuns. É claro que as tendências de cada terreiro estão de acordo com os princípios do
pai ou mãe de santo que os dirige.

A prática desse culto, como os demais cultos africanos, começou aqui no Brasil com os
escravos africanos. Após a Lei Áurea, continuaram a praticar o culto que foi aos poucos
angariando adeptos, principalmente dentre os pobres e favelados.

Hoje, pode-se ver muita “gente boa” nessas reuniões. Filas de carros se fazem defronte
dos terreiros de macumba, oriundos de todas as partes da cidade. É comum observar-se
com tristeza, dentre os praticantes, inclusive, muitas crianças, às vezes de colo...

 As Sessões de Macumba

As sessões são também chamadas giras ou engiras e de um modo geral seguem a


seguinte ordem:
204

1. Limpeza espiritual do terreiro com defumador. O cambono (auxiliar)


defuma primeiramente médium por médium, depois o terreiro e às vezes
também os assistentes. Chamam a isso de “descarga”.

2. Cumprimentos pelos médiuns aos babalaô (chefe do terreiro) e aos


atabaques (homens que tocam um tambor com esse nome).

3. O ogã (elemento que puxa o ponto) inicia os cânticos de pontos com os


quais saúdam os orixás.

4. Prece de abertura onde oxalá (Jesus) e os orixás dão licença para a


realização da sessão.

5. Ponto para despachar o exu (satanás) e chamada dos guias. Há terreiros


que realizam sessões separadas para caboclos, orixás e exus, estes
últimos normalmente têm sessão às sextas-feiras à meia-noite.

6. Manifestações de guias, danças, passes, consultas, brincadeiras etc.

 Oferendas

Na macumba, o “guia” exige oferendas. Marca dia e hora e local para que ela seja
entregue e costuma se manifestar na hora em que o macumbeiro a coloca no lugar
indicado.

A isto se chama também obrigação, que serve para atender um pedido ou uma paga em
favor de algo recebido. Também faz parte da comunhão entre o médium e seu guia.

Essas oferendas são compostas de elementos de acordo com a vontade de cada “guia”.
Farofa, pipoca, cachaça ou outras bebidas costumam ser comuns.

 Descargas

Os macumbeiros chamam de descarga ao que imaginam ser o afastamento de más


influências. Elas podem ser feitas com defumações, banhos, riscos, ou com a entrega de
oferendas que normalmente são feitas nas matas, no mar, nos rios, em cemitérios ou
encruzilhadas. A pólvora também costuma ser usada para as “descargas mais pesadas”.

 O grande segredo do Espiritismo

O grande segredo do espiritismo, nas suas diversas formas, é abrir a vida às forças do
inferno e ficar escravo dos espíritos, pagando um preço incrível pelos favores que o
diabo presta.
205

 – Kardecismo:

O espiritismo kardecista está apoiado nos princípios de Allan Kardec. Seus praticantes
costumam dizer que são os verdadeiros espíritas, sendo que os demais são espiritistas ou
mediunistas.

Como já afirmamos várias vezes, a essência é a mesma. É certo que existe uma grande
influência dos ensinos de Jesus na doutrina de Kardec. Este, chegou a escreveu o livro
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, afirmando ser este ditado pelo “espírito da
verdade”.

O que é bom deixar claro, entretanto, é que os ensinos de Jesus no citado livro e nos
demais que Kardec e seus asseclas escreveram, encontra-se dramaticamente torcidos e
mutilados. É uma tentativa delirante de procurar equacionar os ensinamentos sublimes
do Senhor Jesus Cristo aos ensinamentos demoníacos e falsos do espiritismo.

 A prática

O Kardecismo, como os demais cultos espíritas, não tem uma doutrina sólida. Os
ortodoxos defendem apenas os ensinos de Kardec, enquanto que a maioria assimila
também os ensinamentos de diversos autores espíritas como, no Brasil, Pastorino, Chico
Xavier, Bezerra de Menezes, Imbassay e outros.

De modo geral usam as seguintes práticas:

a) Comunicação com os mortos: espíritos de pessoas que viveram entre nós e que
ora necessitam de caridade ora são mensageiros celestes;

b) Comunicação com espíritos evoluídos: espíritos de seres que estão em plano


superior no éter. Alguns desses dizem habitar outros planetas;

c) Comunicação com extraterrestres: espíritos que não viveram entre nós; de outra
esfera espiritual; superevoluídos;

d) Caridade espiritual: feita a espíritos errantes, obsessores, em evolução


(conselhos, doutrina, imprecações magnéticas etc.).
e) Doutrinamento: para os adeptos. Palestras baseadas na doutrina kardecista,
palestra feitas por mensageiros do além, estudos nos livros espíritas etc.

f) Cânticos: usam cânticos durante as reuniões: têm corais, conjuntos de jovens etc.

g) Os centros kardecistas têm um mentor espiritual (o pai de santo da umbanda) um


protetor (entidade desencarnada) e organizações sociais que contribuem para
com orfanatos, asilos etc.
206

49 – ESPIRITUALISTAS CRISTÃOS

Histórico:

Henri Bergson (1859 – 1941):

Em 1907 adquiriu fama internacional com a obra Evolução Criadora.

Dirigiu críticas a Herbert Spencer, que entendia como um ajustamento do organismo ao


ambiente.

Bergson detectou a mão morta do mecanismo também na própria atividade do


raciocínio. Como mero desdobramento mecanismo, a evolução nunca poderia
proporcionar novidade real, mas evidenciar somente o que já existe. Salientou que a
intuição é a faculdade com a qual se deve compreender a realidade em permanente
transformação. A razão devia funcionar a partir de uma lógica dedutiva. Bergson passou
a falar em compreensão intuitiva.

O posicionamento de Bergson é uma reação a um pensamento mecanicista e


racionalista. Em contraposição a uma evolução mecânica, Bergson se refere ao Poder
Vital. A evolução é impulsionada por um élan vital, um ímpeto que está sempre fazendo
novos experimentos.

A razão não deve usar conceitos estereotipados. A vida não deve ser entendida apenas a
partir de fórmulas químicas.

Bergson estabelece antíteses para a razão, para o mecanicismo e para a matéria. A


antítese da razão é a intuição; do mecanicismo, o Poder Vital; da matéria, a vida, esta
última antítese merece uma ressalva, pois a própria matéria pode manifestar as
propriedades da vida.

As novas descobertas da biologia obrigaram o vitalismo a um recuo. Além disso, a


intuição não segue um método para se contrapuser aos argumentos e as descobertas da
razão. Muitas vezes, a razão no proporciona um conhecimento parcial, mas este ainda é
melhor que um posicionamento apenas intuitivo. A razão também recorre à intuição,
mas cada hipótese deve ser testada e verificada antes de ser aceita como verdadeira.

Bergson posicionou-se contra o mecanicismo e o determinismo. Salientou que o ser


humano é um animal com opções. E suas escolhas são sempre onerosas, pois a
liberdade é dialética. Uma pessoa é livre quando compreendo o que é o melhor para se
fizer. Nossa avaliação de uma situação complexa influi na nossa escolha.

Bergson soube mostrar as inconveniências de uma razão estática e de uma concepção


mecânica da natureza. A evolução é criadora a produtor a de novidade. Bergson também
salientou a importância da intuição para a obtenção de uma verdade nova. A intuição é
indispensável para o verdadeiro raciocínio.
207

“Vitalidade é o poder que mantém um ser vivo com vida crescendo. Élan Vital é o
impulso criativo da substancia viva em tudo o que vive rumo a novas formas” (Paul
Tillich, Teologia Sistemática, p. 154).

“A vida em sua criatividade dinâmica, em seu Élan Vital (Bergson), está aberta só ao
conhecimento receptivo, à participação intuitiva e à união mística” (Paul Tillich,
Teologia Sistemática, p. 90).

50 – ESTOICISMO

1 – Introdução:

Outra corrente filosófica que introduziu novas perspectivas no caminho da felicidade foi
o estoicismo. Essa palavra deriva do grego stoá, “pórtico” ou “galeria de colunas”.
Trata-se de uma referencia ao local em que reunia os alunos e administrava suas aulas o
primeiro filósofo dessa corrente, Zenão de Cício (c. 335-264 a.C.). Para o estoico, é
feliz aquele que vive de acordo com a ordem cósmica, aceitando e amando o próprio
destino nela inscrito.

2 – Desenvolvimento:

a) Ordem Cósmica:

Para compreender o método estoico para a condução de uma vida boa e feliz, é preciso
entender primeiro um pouco de sua física ou cosmologia. O estoicismo concebe o
universo como “kósmos”, “universo ordenado e harmonioso”, composto de um
princípio passivo (a matéria) e de um princípio ativo, racional, inteligente (o chamado
logos), que permeia, anima e conecta todas as suas partes.

Esse princípio ativo, ou inteligência universal – que os estoicos chamavam de


Providência – regeria toda a realidade, equivalendo ao que se pode denominar Deus. Se
o Deus estoico permeia tudo, isso significa que ele se encontra no mundo e se confunde
com ele, com a natureza (no jargão da filosofia diz-se que Deus é imanente; o contrário
desse termo é transcendente. Isto é, que está separado do mundo e não se confunde
com ele, como é o caso do Deus Cristão).

Em outras palavras, tudo o que existe e que acontece tem um objetivo e uma razão de
ser, pois faz parte da inteligência universal e divina. Assim, tudo é necessário, ou seja,
não pode ser diferente do que é. Nessa ordem cósmica, portanto, todos os eventos já
estariam organicamente predeterminados, inclusive a vida de cada um – estaria seu
destino.
208

Pela mesma razão, tudo o que acontece deve ser bom, pois é animado pelo bem contido
nos princípios racionais que governam o universo (o que se denomina providência). O
importante é a ordem do todo, da totalidade do universo. E o bem do todo deve ser
melhor do que o bem individual.

b) Uso da Vontade:

Com base nessa cosmologia, os estoicos entendiam que é impossível sermos felizes se
acreditarmos que felicidade é ter tudo o que desejamos (como geralmente se pensa).
Basta que fracassemos em alcançar um desejo e nos tornarmos infelizes.

A esse respeito, ensinavam que há coisas que dependem de nós e há outras que não
dependem de nós, ou só de nós. Depende de nós, por exemplo, elaborar um bom
trabalho ou ser bom e generoso; não depende de nós (ou só de nós) ganharmos na
loteria ou conquistar o coração da pessoa amada.

Então, se existe uma ordem cósmica predeterminada e se há coisas que não dependem
de nós, só nos resta aproveitar uma brechinha de liberdade que o estoicismo nos deixa
para garantir nossa felicidade. Trata-se da aplicação de uma faculdade que todos temos:
a vontade. Ela nos permite querer ou não querer as coisas. Veja que nada pode me
obrigar a querer o que não quero, ou a não querer o que quero. Podem me obrigar, por
exemplo, a ir a uma festa, inclusive me levar à força até lá, mas não podem me fazer
querer ir a essa festa.

Portanto, segundo os estoicos, posso construir minha felicidade a partir dessa brechinha,
usando minha vontade para querer apenas aquilo sobre o que tenho poder, que depende
de mim e que me faz verdadeiramente feliz.

c) Domínio Sobre Pensamentos e Paixões:

Com base nesse raciocínio, os estoicos procuraram orientar a conduta das pessoas
estabelecendo a seguinte distinção entre as coisas:

 Boas – são aquelas que dependem de nós e que devemos querer e buscar durante
a vida para sermos felizes. Trata-se das virtudes, como ser prudente, justo,
corajoso;
 Más – são as coisas que dependem de nós, mas que, ao contrário, devemos evitar
durante a vida se queremos ser felizes. Trata-se dos vícios e das paixões, como
ser imprudente, injusto, covarde, guloso, raivoso;
 Indiferentes – são as coisas que não dependem de nós e com as quais não
devemos nos preocupar, sob pena de gerar infelicidade. É o caso da morte, do
poder, da saúde ou doença, da riqueza ou pobreza, entre outras.

A infelicidade ocorre, portanto, segundo os estoicos, quando não conduzimos


corretamente nossos pensamentos e não evitamos as chamadas coisas más. Ou quando
nos preocupamos com as tais coisas indiferentes (algo muito frequente), o que conduz à
209

formulação de juízos errôneos ou opiniões equivocadas sobre os acontecimentos e o


consequente despertar de paixões (isto é, de uma coisa má).

Por esse raciocínio, podemos concluir que a paixão é o resultado do uso inadequado da
razão, enquanto a virtude consiste na ação que se desenvolve conforme a razão (ou seja,
conforme a natureza, pois a natureza, como vimos, é logos, razão).

Assim, dominar as paixões é o objetivo principal da ética estoica. Para isso, o esforço
em controlar os pensamentos será fundamental, pois é o pensamento equivocado que
gera as condições para aflorá-lo das paixões.

d) Amor Fati:

O domínio sobre os pensamentos e as paixões seria, portanto, a via negativa para atingir
a felicidade. Diz-se “negativa” porque se dá pela negação das paixões, pela negação das
causa da infelicidade. Mas há também um percurso positivo, o do amor fati, expressão
latina que significa “amor aos fatos, aos acontecimentos, ao próprio destino”.

Vejamos: se tudo é animado pelos princípios racionais que governam o universo – os


quais visam a ordem e o bem da totalidade – tudo o que acontece e não depende de mim
é necessário e bom. É o caso, por exemplo, da morte de um ente querido, que deve ser
tomada como um acontecimento bom, no sentido de que faz parte da ordem universal.

Por isso, para o estoicismo, uma pessoa não deve revoltar-se por ter nascimento com
uma deficiência física, ou porque é feia, pobre ou escrava. Isso não depende dela. Deve
não apenas aceitar sua condição, mas também querer o que é o que tem ou o que vive.
Deve, enfim, ter amor por seu destino (amor fati), que faz parte da totalidade. Somente
então ela poderá ser feliz.

3 – Amor ao destino (Estoicismo)

Estoicismo: O Dever.

O Estoicismo, fundado a partir das ideias de Zenão de Cício (336-263 a.C.), foi a
corrente filosófica de maior influencia no período helenístico. Como estudamos
anteriormente, os representantes dessa escola eram conhecidos como estoicos e
defendiam a noção de que toda realidade existente é uma realidade racional. Isso
significa que todos os seres, os indivíduos e a natureza fazem parte dessa realidade
racional.

Segundo esses pensadores, o que chamamos de Deus nada mais é do que a fonte dos
princípios racionais que regem a realidade, integrado à natureza, não existe para o ser
humano nenhum outro lugar para ir ou fugir, além do próprio mundo em que vivemos.
Somos deste mundo e, ao morrer, no dissolvemos neste mundo.
210

Portanto, não dispomos de poderes para alterar substancialmente a ordem universal do


mundo, mas por meio da filosofia podemos compreendê-la e viver segundo ela. Assim,
em vez do prazer dos epicuristas, Zenão propõe o dever, vinculado à compreensão da
ordem cósmica, como o melhor caminho para a felicidade. É feliz aquele que vive
segundo sua própria natureza, a qual, por sua vez, integra a natureza do universo.

Os estoicos também defendiam uma atitude de austeridade física e moral, baseada em


virtudes como a resistência ante o sofrimento, a coragem ante o perigo, a indiferença
ante as riquezas materiais. O ideal perseguido era um estado de plena serenidade
(ataraxia) para lidar com os sobressaltos da existência, fundado na aceitação e na
compreensão dos “princípios universais” que regem toda a vida.

51 – ESTRUTURALISMO

1 – Introdução:

O todo pode ser matemático, mineral, mecânico, um corpo vivo, um idioma, um O ser
humano tem procurado fundamentar o seu conhecimento da seguinte maneira:

a) O conhecimento deve ser de acordo com a realidade;


b) O conhecimento deve ser fidedigno;
c) O conhecimento deve ser realmente científico.

Uma dessas procuras para a fundamentação é o Estruturalismo.

“O Estruturalismo não é uma teoria nem um método; é um ponto de vista


epistemológico.” (Joseph Hrabák). Percebemos que o Estruturalismo é uma posição
diante do conhecimento humano. A estrutura é o conjunto de elementos que formam um
sistema; ela é um todo ordenado de acordo com certos princípios fundamentais. Dentro
de um sistema. Todo conceito é determinado pelos demais conceitos. Nenhum conceito
tem significa por si só. Por isso, o conceito “só se torna inequívoco quando integrado no
sistema, na estrutura de que faz parte e onde teu lugar definido” (J. Mattoso Câmara Jr.,
citado por Van Den Bergen).

“A concepção estruturalista veio mostrar que os fatos humanos assumem a forma de


estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos, dando a estes sentido
pela posição e pela função que ocupam no todo. As estruturas são totalidade
organizadas segundo princípios internos que lhes são próprios e que comandam seus
elementos ou partes, seu modo de funcionamento e suas possibilidades de
transformação temporal ou histórica Nelas, o todo não é a soma das partes, nem um
conjunto de relações causais entre elementos isoláveis, mas é um princípio ordenador,
diferenciador e transformador. Uma estrutura é uma totalidade dotada de sentido” (M.
Chauí).
211

No método estrutural, os elementos de uma totalidade não são considerados como


unidades independentes. Os fenômenos são interdependentes e sua existência é derivada
das relações recíprocas. “A própria totalidade é vista a partir das relações entre seus
elementos. ” (Vande den Bergen, Introdução ao Pensamento Filosófico).

Os elementos de uma estrutura só podem ser apreendidos na posição que ocupam no


conjunto. Há certa invariabilidade na estrutura, pois uma modificação nos elementos
não impede a permanência do total.

Os estruturalistas rejeitam o empirismo, e afirmam que um todo “não é apenas o


resultado da combinação de suas partes. Uma estrutura é uma entidade autônoma de
dependências internas”; “estrutura é o modo pelo qual as partes de um todo... se
conectam entre si. ” (discurso ou uma moda.

O método estrutural procura entender a organização das entidades de acordo com suas
relações internas. A estrutura refere-se ao modo como se relaciona um grupo de
elementos. Observa a singularidade do conjunto. E aponta para a unidade e a
comparação.

A organização é uma combinação de elementos; ela não é inteligível por si mesma.

Ferdinand Saussure é o fundador do movimento estruturalista. “Para ele, estrutura é um


sistema ou conjunto de objetos cuja função (ou variações) não é definível
independentemente da função ou variações dos outros. Assim, um ser vivo constitui um
sistema com seu meio ambiente. ” (Fullant, p. 346).

O linguista suíço Ferdinand Saussure (1857 – 1913) é o iniciador do método


estruturalista da investigação científica. Ele elaborou um estruturalismo bem definido na
Linguística, buscando a predominância do sistema sobre os elementos. A estrutura do
sistema é obtida através da análise das relações entre os elementos.

A Linguística não se ocupa tanto com a descrição empírica das línguas, mas com a
análise do sistema abstrato que constitui as relações linguísticas. Um exemplo seria a
análise da Língua Portuguesa.

O estruturalismo afirma a prioridade do universal sobre o individual. Só há ciência


universal.

52 – EUROCOMUNISMOS
(veja tópico 22 sobre o comunismo).

Conceito:
212

O Eurocomunismo é outra face do marxismo. De maneira geral, o marxismo, enquanto


teoria e prática revolucionária têm sofrido inúmeras alterações a partir das situações
históricas do nosso tempo.

A experiência soviética do Totalitarismo Stalinista obrigou os europeus a reavaliarem


vários aspectos importantes, desde a crítica desencadeada pelo processo de
desestabilização levada a efeito por Kruchev.

Na década de 70 surge o Eurocomunismo, pelo qual os partidos comunistas ocidentais


começam a repensar os seus próprios caminhos, independentemente da tutela Soviética.
À semelhança da socialdemocracia alemã, recusam a rigidez da teoria Leninista da
ditadura do proletariado e buscam formas pacíficas e democráticas de transformação da
sociedade.

Na Itália, por exemplo, o Partido Comunista Italiano, liderado por Togliatti, afirma a
ideia de que existem caminhos nacionais para o Socialismo (policentrismo), defende o
pluralismo partidário e preconiza as alianças que o proletariado deve fazer com os
outros grupos que compõem as classes populares, como camponeses, intelectuais e
camadas médias.

O partido Comunista Francês orienta-se na mesma direção, e se em 1970 expulsara de


seus quadros o filósofo Roger Garandy sob a acusação de “revisionismo de direita”, será
essa mesma a acusação dirigida por Moscou ao Partido em 1976, após a atuação de
Georges Marchais no XXII Congresso da PCF.

Entre outras mudanças, é substituído o conceito de “Ditadura do Proletariado pelo


desafio democrático”, segundo o qual seria possível promover a transição pacífica e
progressiva por meio do sistema representativo.

Na Espanha, após a queda do ditador Franco, a atuação de Felipe Gonzalez é feita no


sentido de também dar acentuada importância ao projeto eleitoral e à luta pela
democratização social. Para tanto, são valorizados os pactos entre empresariado e
trabalhadores.

53 – EUTIQUISMO

1 – Introdução:

Eutiques foi um monge de Constantinopla, que fundamentou a heresia do Monofisismo.


Ele negava que Cristo, após a encarnação, tinha duas naturezas perfeitas.

Ele nasceu no ano 378, provavelmente em Constantinopla. Ingressou na vida monástica


em um monastério da capital, onde teve como superior um abade de nome Máximo,
ferrenho adversário do Nestorianismo. Nascia assim, graças à sua formação religiosa,
213

um repúdio intransigente pelas doutrinas que versavam sobre a existência de duas


naturezas em Cristo. Já como sacerdote, Eutiques começou a participar ativamente das
questões doutrinárias.

Pelos idos de 440, ele converteu-se numa figura de grande projeção do Monofisismo em
Constantinopla, quando subiu ao poder, em 441, o eunuco Crisápio, responsável por seu
batismo, Eutiques principiou uma campanha fulminante contra o Nestorianismo,
atacando a todos a quem julgava suspeita. Assim, ele denunciou a Teodoreto de Ciro,
Ibas de Edessa, Domno II de Antioquia (442-449) e até Flaviano de Constantinopla fora
denunciado em uma carta enviada por ele à Sé Romana.

Em 8 de novembro de 448, num sínodo regional em Constantinopla presidido pelo


patriarca Flaviano, Eusébio de Dorileia, um dos primeiros que haviam sido denunciados
por eles com adepto ou simpatizante do Nestorianismo, acusou-o de heresia. O Sínodo,
depois de uma turbulenta onda de acontecimentos políticos, concluiu pela condenação
de Eutiques como herético.

Torna-se muito difícil saber precisamente qual a base fundamental da doutrina


cristológica defendida por Eutiques, seja por que nenhum de seus escritos sobreviveu
até os tempos presentes ou mesmo pela imprecisão ou inconsistência da mesma. pode-se
considera-lo, entretanto, como criador ou inspirador do monofisismo, ou seja, a
consideração de uma única natureza em Cristo, que as duas naturezas se fundiram em
uma única depois da reencarnação e que este não seria humano como nos homens.

2 – Monofisismo Eutiquiano

Em 448, Flaviano de Constantinopla condenou a heresia de Eutiques, mas ele reuniu


com aliados, nas palavras de Alban Batler, todos os maus elementos da Corte Biznatina.

O patriarca de Alexandria Dióscoro I, tido como o primeiro mofofisistas, não contente


com as decisões do Concílio de Constantinopla em 448, que havia condenado Eutiques,
convocou outro Concílio em Éfeso, no ano seguinte, onde se concluiu pela reabilitação
de Eutiques e pela condenação do Patriarca Flaviana.

Presidido por Dióscoro, Eutiques entrou no concílio cercado de sodado romano.


Dióscoro recusou-se a ler a carta doutrinária do Papa Leão I, o tomo ad Flavianus.
Quando Flaviano apelou à fé Romana, Diodoro esqueceu sua missão apostólica e
recorreu á violência: Flaviano apelou à Sé Romana, Diodoro esqueceu sua missão
apostólica e recorreu à violência: Flaviano foi surrado, pisoteado e banido; e morreu
poucos dias depois. Este concílio ficou conhecido como Latrocínio de Éfeso ou “Sínodo
ladrões”.

Com a morte de Teodoro II (408-450), Pulquéria e Marciano (450-457), com apoio de


Leão I, convocaram um novo Concílio, este em Calcedônia (0 4°. Ecumênico) que
214

ocorreu entre os dias 08 a 11 de 451, com a participação de 350 bispos, e no qual se


concluiu, entre outros assuntos pela:

 Condenação da Simonia, de casamentos mistos e ordenações absolutas.

 Deposição e Condenação de Eutiques de Constantinopla (criador do


Maniqueísmo) e Dióscoro I (444-451) de Alexandria.

Entretanto, o monofisismo Eutiquiano não morreria. Ele dividiu e continuaria dividindo


o mundo.

54 – EVOLUCIONISMO
(Veja Tópico 26 Sobre Criacionismo).

1 – Introdução:

Um dos maiores mistérios que sempre intrigou o homem ao longo de sua história é o
conhecimento a respeito de suas próprias origens.

Pode-se dizer que todos os povos da antiguidade tinham teorias que tentavam explicar a
existência do homem e do universo. A maioria delas tinham fundamentos religiosos,
filosóficos ou até mesmo mitológicos. Além dos próprios mistérios existentes na
questão da origem da vida, ainda que, havia outra questão não menos pertinente: Por
que somos tão diferentes dos animais?

O evolucionismo é uma teoria que surgiu a partir do século XIX, afirma que o hoem foi
resultado de uma longa evolução iniciada há cerca de cinco milhões de anos, desde os
Homídeos até o Homos Sapien, espécie correspondente ao homem com suas
características atuais. De fato, a teoria evolucionista surgiu a partir da publicação do
livro de Charles Darwin, “A Origem das Espécies”, em 1859. Darwin, após uma
viagem às Ilhas Galápagos, acabou descobrindo diversas novas espécies de animais,
realidade que o levou a desenvolver a ideia de seleção natural dos seres vivos. Ainda
segundo a teoria, homem e macaco possuiriam a mesma ascendência, da qual as outras
espécies foram desenvolvendo ao longo do tempo.

Assim como o criacionismo é uma teoria que tentam explicar a criação do homem, o
evolucionismo também tenta pelo método da evolução.

2 – Teorias Evolucionistas

Até hoje os cientistas não sabem falar de onde viemos e para onde iremos, temos várias
teorias como a evolução; defendida no princípio pelo cientista francês Jean-Baptiste
215

Lamarck (1744-1829) e logo depois por Charles Robert Darwin (1809-1882). E a


Criação que é defendida pelos religiosos.

2.1 – A teoria evolucionista é fruto de um conjunto de pesquisas, ainda em


desenvolvimento, iniciadas e deixadas pelo cientista inglês Charles Robert Darwin. Em
suas pesquisas, ocorridas no século XIX, ele procurou estabelecer um estudo
comparativo entre espécies aparentadas que viviam em diferentes regiões. Além disso,
ele percebeu a existência de semelhanças entre os animais vivos e em extinção. A partir
daí, ele concluiu que as características biológicas dos seres vivos passam por um
processo dinâmico ondo os fatores de ordem natural seriam responsáveis por modificar
os organismos vivos. Ao mesmo tempo, ele levantou a ideia de que os organismos vivos
estão em constante concorrência e, a partir dela, somente os seres melhores preparados
às condições ambientais impostas poderiam viver.

Contando com as premissas, ele afirmou que o homem e o macaco teriam uma mesma
ascendência a partir da qual as duas espécies se desenvolveram. Contudo, isso não quer
dizer, conforme muitos afirmam que Darwin supôs que o homem é um descendente de
macaco. Em sua obra, a origem das espécies, ele sugere que o homem e o macaco,
devido suas semelhanças biológicas, teriam um mesmo ascendente comum. A partir da
afirmação científica, ao longo dos anos, se lançaram ao desafio de reconstituir todas as
espécies que antecederam o homem contemporâneo.

Entre as diferentes espécies catalogadas, a escola evolutiva do homem se inicia nos


Homídeos, com mais de quatro milhões de anos. O Homo Habilis (2,4-1,5 milhões de
anos) e o Homo Herectus (1,8-300 mil anos) compõe a fase intermediária da evolução
humana. Por fim, o Homo Sapiens neanderthalensis, com cerca de 230 a 30 mil anos
de existência, antecede ao Homo Sapiens, surgido há aproximadamente 120 mil anos,
que corresponde ao homem com suas características atuais. Mesmo ser dada por uma
larga série de indícios materiais sobre as transformações da espécie humana, a teoria
evolucionista não é uma tese comprovada por inteiro. O chamado “Elo Perdido”, capaz
de remontar completamente a trajetória do homem e seu primata original, é uma
incógnita ainda sem resposta.

2.2 – Jean-Baptiste Lamarck

Naturalista francês foi o primeiro cientista a propor uma teoria sistemática da evolução.
Sua teoria foi publicada em 1809, em um livro denominado filosofia zoológica.
Segundo Lamarck, o princípio de evolução estaria baseado em duas leis fundamentais:
lei do uso e desuso: o uso de determinadas partes do corpo do organismo faz com que
estas se desenvolvam, e o desuso faz com que se atrofiem. Lei da transmissão dos
caracteres adquiridos: alterações provocadas em determinadas características do
organismo, pelo uso e desuso, são transmitidas aos descendentes. Lamarck utilizou
vários exemplos, para explicar sua teoria. Segundo ele, as aves aquáticas tornaram´se
pernalta devido ao esforço que faziam no sentido de esticar as pernas para evitarem
216

molhar as penas durante a locomoção na água. A cada geração, esse esforço produzia
aves com pernas mais altas, que transmitiam essas características à geração seguinte.
Após várias gerações, teriam sido originadas as atuais aves pernaltas. A teoria de
Lamarck não é aceita atualmente, pois suas ideias apresentam um erro básico: as
características adquiridas não são hereditárias. Verificou-se que as alterações em células
somáticas dos indivíduos, não alteram as informações genéticas contida nas células
germinativas, não sendo, dessa forma hereditárias.

2.3 – Charles Robert Darwin

As ideias gerais da teoria da evolução das espécies sofreram, aos poucos, alterações e
aperfeiçoamentos. Todavia, as bases do evolucionismo subsistem até hoje e o nome
Darwin ficou ligado a uma das mais notáveis concepções do espírito humano. Charles
Robert Darwin nasceu em Shrewsbury, Shropshire, no Reino Unido, em 12 de fevereiro
de 1809, em uma família próspera e culta. Seu pai, Robert Waring Darwin, foi médico
respeitado. Seu avô paterno Erasmus Darwin, poeta, médico, filósofo, era evolucionista
em potencial, cuja obra mais famosa, a zoonomia (1794-1796), antecipava em muitos
aspectos as teorias de Lamarck. Em 1825, Darwin foi para Edimburgo estudar medicina,
carreira que abandonou por não suportar as dissecções. Todavia, interessou-se pelas
ciencias naturais. Matriculou-se a seguir no Christ’s College, em Cambridge, decidido a
ordenar-se, embora não tivesse vocação religiosa. Ali se tornou amigo do botânico John
Stevens Henslow, que o aconselhou a aperfeiçoar seus conhecimentos em história
natural.

55 – EXISTENCIALISMO
(Veja tópico 50 sobre fenomenologia).

1 – Introdução:

O Existencialismo surge como uma contraposição a Hegel. O eixo da reflexão de Hegel


foi à trajetória da razão universal. Ocupou-se com a explicação, com necessidade, com
objetividade conceptual, com a abstração, com a razão objetiva e com o transcendente.
Seu amplo esquema filosófico apresenta a trajetória do espírito.

O termo existencialismo designa um conjunto de tendências filosóficas que, embora


divergentes em vários aspectos, têm na existência humana o ponto de partida e o objeto
fundamental de suas reflexões. Por isso, podemos designá-los também como filosofias
da existência.

Aos filósofos da existência propriamente ditas surgiram no século XX, mas sofreram
grandes influências do pensamento de alguns filósofos do período anterior, como Arthur
217

Schopenhauer, Sören Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, que são considerados pré-


existencialistas.

Entre os filósofos principais comumente classificados como existencialistas destacam-


se Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, além de Simone de Beauvoir (1908 – 1986) e
Karl Jasper (1883 – 1969), entre outros.

2 – Problema do Existir

O que é existir?

Refletindo sobre a pergunta, os pensadores existencialistas diriam que, existir implica a


relação do Ser Humano consigo mesmo, com outros seres, com objetos culturais e com
a natureza. Suas relações são múltiplas, concretas e dinâmicas. Algumas dessas relações
são determinadas (como aquelas que resultam de leis da física) e indeterminadas (como
aquelas que resultam da nossa liberdade ou do acaso, sendo passíveis ou não de
acontecer).

Sobre esses temas, os filósofos existencialistas elaboraram diversas interpretações, cujos


denominadores comuns são certos visão dramática da condição humana. O filósofo e
escritor francês Albert Camus (1913 – 1960) ilustrava bem essa interpretação quando
dizia que a única questão filosófica séria é o suicídio.

Algumas concepções características do Existencialismo:

 Ser Humano – é entendido como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada,


que foi “lançado” ao mundo e vive sob riscos e ameaças;

 Liberdade Humana – não é plena, pois está condicionada às circunstancias


históricas da existência. Nesse sentido, querer não se identifica com o poder.
Homens e mulheres agem no mundo superando ou não os obstáculos que se lhes
apresentam;

 Vida Humana – não é um caminho seguro em direção ao progresso, ao êxito e


ao crescimento. Ao contrário, é marca por situações de sofrimento, como
doença, dor, injustiças, luta pela sobrevivência, fracassos, velhice e morte.
Assim, não podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a
exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da vida e encará-
los.
218

3 – Influências da Fenomenologia.

Uma doutrina que teve um impacto importante na conformação das filosofias


existencialistas foi a Fenomenologia. Formulada pelo filósofo alemão Edmund
Husserl (1859 – 1938), no início do século XX ela surgiu primeiramente na
atmosfera rarefeita da matemática. Depois se expandiu para a psicologia e a filosofia
e acabou desembocando nas preocupações humanistas dos filósofos existencialistas,
entre outras correntes do pensamento contemporâneo que a utilizaram.

Husserl renovou a reflexão sobre o conhecimento, especialmente sobre a relação


entre o sujeito e o objeto. Para esse filósofo, era preciso purificar essa relação para
recuperar, em um extremo, a realidade das coisas (que haviam ficado
demasiadamente condicionadas ao sujeito) e, no outro, “descoisificar” a consciência.

Isso significa que a consciência não é uma realidade essencial ou substancial, mas
apenas um movimento – um movimento que se realiza na direção das coisas, dos
objetos, pois toda consciência é sempre uma consciência de algo.

O filósofo trouxe também outra novidade, pois observou que, nesse movimento, a
consciência manifesta sempre uma intencionalidade, ou seja, um modo específico de
visar às coisas. Em outras palavras, as coisas são sempre abordadas em função de
alguma intenção do sujeito.

4 – Características Principais do Existencialismo

 A existência é analisada a partir da experiência, e não a partir de princípios


metafísicos;
 A existência humana deve ser o primeiro objeto da reflexão filosófica;
 A existência precede a essência;
 A existência é a obra de nossa liberdade exercida dentro das situações
concretas da condição humanitária;
 Os critérios da ética são extraídos da história;
 O homem só é o que faz de si mesmo e sua existência concreta;
 O ponto de partida é o antropológico;
 O existencialismo valoriza o ser humano como indivíduo singular;
 São abordados os problemas que emergem da própria existência;
 As questões não são à base da racionalidade. É respeitada a subjetividade.

4.1 – Os Principais Filósofos do Existencialismo são:

- Sören Kierkegaard; - Martin Heidegger; - Jean-Paul Sartre; - Karl Jaspers; - Gabriel


Marcel.

4.2 – As Principais Obras do Existencialismo


219

- Ser e Tempo, de Martin Heidegger (1927);


- O Ser e Nada, de Jean-Paul Sartre (1943).

Obs.: Os existencialistas perguntam sobre o valor da existência humana. Eles não se


satisfazem com as abordagens estritamente racionais. Ocupam-se com temas como a
finitude, a angústia, o nada, a preocupação, o fracasso e a morte. Essas questões são
formuladas a partir da ideia que eles fazem a respeito da existência. A própria existência
se constitui um fato, um dado. Ela é o fato fundamental de todos os demais. É um fato
tão originário que sem ele não há outros fatos. Kierkegaard começou a se referir à
existência. Trata-se exclusivamente da existência do ser humano.

4.3 – Estudiosos da Filosofia Apontam como fontes teóricas do Existencialismo as


seguintes correntes:
1 – Pré-Existencialismo: Kierkegaard e Nietzsche;
2 – Fenomenologia: Husserl;
3 – Filosofias de Vida: Dilthey, Simmel e Bergson;
4 – Pragmatismo: Pierce e William James.

5 – Pensamentos dos Filósofos

a) Arthur Schopenhauer

Filho de Heinrich Floris Schopenhauer, comerciante da cidade de Dantzig, na Prussia. O


filósofo Arthur Schopenhauer estava destinado a seguir a profissão do pai. Por isso, a
família nunca se preocupou muito com a sua educação intelectual e, quando contava
apenas doze anos de idade, em 1800, induziu-o a empreender uma série de viagens
importantes para um futuro comerciante. Schopenhauer percorreu a Alemanha, a
França, a Inglaterra, a Holanda, a Suíça, a Silésia e a Áustria. Mas seu interesse não foi
despertado por aquilo que seu pai mais desejava: o que fez de mais importante, durante
essas viagens, foi redigir uma série de considerações melancólicas e pessimistas sobre a
miséria da condição humana.

Em 1805, a família fixou-se em Hamburgo e o obrigou a cursar uma escola comercial.


A morte do pai permitiu-lhe, contudo, abandonar para sempre os estudos comerciais e
voltar-se para uma carreira universitária, como era o seu desejo. Assim, Schopenhaur
passou a dedicar-se aos estudos humanísticos, ingressando no Liceu de Weimar em
1807; dois anos depois, encontrava-se na faculdade de Medicina de Göttingen, onde
aquiriu vastos conhecimentos científicos.

Em 1811, na Universidade de Berlim, assistiu aos cursos dos filósofos Schleiermacher


(1768 – 1834) e Fichte (1762 – 1814); em 1813, doutorou-se pela Universidade de
Berlim com a tese sobre A Quadrupla Raiz do Principio de Razão Suficiente.
220

b) Sören Kierkegaard

O existencialismo é uma corrente filosófica do século XX que tem como precursor o


teólogo e filosofo dinamarquês Sören Kiekegaard (1813 – 1855). A vida dele foi
marcada por angustia pessoal e familiar.

Posicionou contra a religiosidade formal do luteranismo, enfatizando a vivencia da


espiritualidade, salientou também o posicionamento pessoal diante de Deus.

Atacou o Hegelianismo e a metafisica especulativa. Em lugar do abstrato e da reflexão


de abrangência universal, Kierkegaard propôs uma filosofia existencial. “Enquanto o
pensamento abstrato tem por tarefa compreender abstratamento o concreto, o pensador
existencialista, ao contrário, tem por tarefa compreender concretamente o abstrato.”

Kierkegaard salienta que a característica do homem é o desespero, que advém das


contradições de sua existencia e de sua distancia de Deus. Em sua obra “Desespero
Humano”, Kierkegaard escreveu que “o homem é uma síntese de infinito e finito, de
temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade”. Ele também influenciou Martin
Heidegger, Karl Jaspers e o teólogo Karl Barth com sua teologia dialética.

Kierkegaard e Nietzsche refletiram sobre o indivíduo singular. Ocuparam-se com a


existencia, com a liberdade, com a subjetividade, com a esperiência, com a atitude de
crer e com o indivíduo. Tornou-se importante encontrar um sentido para a existencia
humana. O homem não é autosuficiente, mas está aberto ao Ser. A característica do
homem é ter que fazer-se. Mas, essa tarefa é interrompida pela morte.

Ele ainda descreve tres opções existencialistas (níveis de consciencias), que


correspondem às principais etapas da personalidade humana:

1 – Nível Estético – viver o momento prescrito, buscando a felicidade, o que resulta no


desespero, pois a fugacidade leva ao desespero inevitável;

2 – Nível Ético – o homem procura a felicidade através do cumprimento do dever, mas


os erros levam ao arrependimento (diante da culpa);

3 – Nível Religioso – o homem busca a Deus. Depara-se com a fé – como paradoxo e


contradição na angústia da distância de Deus.

c) Jean-Paul Sartre

O Ser e O Nada.

O nome mais conhecido da corrente Existencialista é o filósofo e escritor francês Jean-


Paul Sartre (1905 – 1980), embora isso se deva, em boa parte, às suas peças de teatro e,
romances, dentre os quais se destacam: A Náusea, O Muro, A idade da Razão, O Diabo
e o Bom Deus. Conforme foi constatado, é significativo a influencia da fenomenologia
de Husserl e da filosofia de Heidegger em seu pensamento. Em sua principal obra
221

filosófica: O Ser e o Nada (1943), Sartre ataca duramente a teoria aristotélica da


potencia.

Aristóteles explicava as mudanças do ser pela passagem da potencia ao ato. Para Sartre,
porém, o ser é o que é. Em sua linguagem própria trata-se do ente em si. Esse ente “não
é ativo nem passivo, nem afirmação nem negação, mas simplesmente repousa em si,
maciço e rígido”.

56 – EXPRESSIONISMO

Conceito:

Tendência estética surgida no fim do século xix, caracterizada pela ênfase na


subjetividade. Nas artes plásticas, defende o distanciamento da representação figurativa
e o uso arbitrário de cores e traços fortes, com formas contorcidas e dramáticas. O
grande precursor do movimento é o pintor holandês Vincent van Gogh. O nome de
destaque é o norueguês Edvard munch. O movimento espraia-se no cinema, com os
filmes sombrios, de cenários fantasmagóricos, do alemão Friedrich murnau e do
austríaco Fritz Lang.

57 – FACISMAO

1 – Introdução:

Fascismo – o que é? É um regime autoritário criado na Itália, que deriva da palavra


italiana fascio, que remetia para uma “aliança” ou “federação”.

Originalmente o fascismo foi um movimento político fundado por B. Mussolini, em 23


março de 1919 e no seu início era composto por unidades de combate (fasci di
combattimento).

O fascismo foi apresentado como partido político em 1921. Desde essa altura, a palavra
“fascista” é usada para mencionar uma doutrina política com tendências autoritárias,
anticomunistas e antiparlamentares, que defende a exclusiva autossuficiência do Estado
e suas razões. Trata-se de um movimento antiliberal, que atua contra as liberdades.

2 – Desenvolvimento:

O fascismo é diferenciado das ditaduras militares porque o seu poder está fundamentado
em organizações de massas e tem uma autoridade única. Os seus membros são na sua
222

grande maioria proveniente da classe operária e da pequena burguesia rural e urbana, ou


seja, dos ameaçados pelos fortes intervenientes do grande capital e do sindicalismo
comunista.

Quando o fascismo se estabelece no poder, aceita a presença do capital e se impõe de


forma disciplinadora, impedindo que as organizações operárias defendam a luta de
classes (Sindicatos, partidos políticos).

O fascismo é caracterizado por uma reação contra o movimento democrático que surgiu
graças à Revolução Francesa, assim com pela furiosa oposição às concepções liberais e
socialistas.

O termo fascismo passou a ser usado para englobar tanto os regimes diretamente ligados
ao eixo Roma-Berlim e seus aliados, como os sistemas de autoridade que atribuíam ao
estado funções acima daquelas que as democracias lhe entregavam. É o caso das
referencias ao “fascismo” espanhol, brasileiro, turco, português, entre outros.

Em1945, com a queda dos principais estados fascistas e com a divulgação das
atrocidades cometidas, o movimento fascista perdeu possibilidades de grandes
mobilizações. Apesar disso, alguns grupos minoritários se mantiveram nos antigos
estados fascistas (neofascismo).

3 – Fascismo Na Itália:

O fascismo teve a sua origem na situação de crise gerada a I Guerra Mundial e no


crescimento absorvente do movimento comunista. Revoluções, guerra civis econômicas
conduziram a Itália (e outros países como a Romênia, Turquia, Áustria e Alemanha) á
formação de grupos fascistas.

Na Itália, Mussolini, antigo socialista e militar, ocupou o poder depois da “marcha sobre
Roma” no dia 28 de Outubro de 1922. A Câmara outorgou plenos poderes ao duce e os
fascistas ocuparam, pouco a pouco, os pontos chave do estado. O deputado socialista
Matteoti denunciou a corrupção e violência fascistas, tendo sido assassinado pouco
depois. A oposição abandonou o parlamento e Mussolini aproveitou a crise para
estabelecer, em janeiro de 1925, um estado totalitário, que proibiu os partidos políticos
e os sindicatos não fascistas.

Através do Pacto de Aço (25 de maio de 1939), o duce se aliou à Alemanha nacional-
socialista, levando a Itália a intervir na II Guerra Mundial.

4 – Fascismo e Nazismo:

Apesar de muitas vezes serem vistos como sinônimos, o fascismo e nazismo têm
diferença s. o nazismo é frequentemente contemplado como um forma de fascismo, mas
223

o movimento nazista identificou uma raça superior (raça ariana), e tentou eliminar
outras raças, para criar prosperidade para o Estado.

A semelhança entre estes dois regimes é que obtiveram grande popularidade entre os
elementos da classe operária, porque criavam medidas de apoio para eles, medida que
varias vezes não se concretizava.

58 – FAUVISMO

Conceito:

O que é Fauvismo?

Os franceses Henri Matisse (1869 – 1954) e André Derain (1880 – 1954) fundaram o
Fauvismo, o primeiro movimento moderno do século XX. O movimento foi assim
denominado por um crítico francês que, em 1905, os chamou de fauves (feras
selvagens) ao se referir às suas cores fortes e chocantes.

59 – FENOMENOLOGIA

1 – Introdução:

A fenomenologia surgiu no final do século XIX, com Franz Brentano, cujas principais
ideias foram desenvolvidas por Edmund Husserl (1859 – 1958). Outros representantes
foram: Heidegger, Max Scheler, Hartmann, Binswanger, De Waelhens, Ricoeur,
Merleau Ponty, Jaspers, Sartre.

Seu postulado básico é a noção de intencionalidade, pela qual é tentada a superação das
tendências racionalistas e empiristas surgidas no século XVII. A fenomenologia
pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência no processo de
conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional. Isso significa que,
contrariamente ao que afirmam os racionalistas, não há pura consciência, separada do
mundo, mas toda consciência tende para o mundo; toda consciência é consciência de
alguma coisa. Mas também contrariamente aos empiristas, os fenomenólogos afirmam
que não há objeto em si, já que o objeto só existe para um sujeito que lhe dá significado.

Com o conceito de intencionalidade, a fenomenologia se contrapõe à filosofia


positivista do século XIX, presa demais à visão objetiva do mundo. À crença na
possibilidade de um conhecimento científico cada vez mais neutro, mais despojado de
subjetividade, mais distante do homem, a fenomenologia contrapõe a retomada da
224

“humanização” da ciência, estabelecendo uma nova relação entre sujeito e objeto,


homem e mundo, considerado polos inseparáveis.

2 – Tendência Humanista:

A Crítica ao Positivismo: a fenomenologia

A fenomenologia é a filosofia e o método que têm como precursor Franz Brentano (final
do século XIX), mas foi Edmund Husserl (1858 – 1938) quem formulou as principais
linhas dessa nova abordagem do real, abrindo o caminho para filósofos com Heidegger,
Jaspers, Sartre, Merleau-Ponty.

O esforço filosófico de Husserl se orienta para a discussão da situação gerada pelo


positivismo: a crise da filosofia, a crise das ciências e a crise das ciências humanas.
Tornava-se urgente repensar os fundamentos e a racionalidade dessas disciplinas e
mostrar que tanto a filosofia como as ciências humanas são viáveis. A proposta é o
reinício radical na ordem do saber.

Retomando a clássica questão da relação sujeito-objeto, colocada desde a teoria do


conhecimento cartesiana, vimos que o racionalismo enfatiza o papel atuante do sujeito
que conhece, e o empirismo privilegia a determinação do objeto conhecido. O resultado
dessa dicotomia, em ambos os casos, é a permanência do dualismo psicofísico, da
separação corpo-espírito e homem-mundo.

A fenomenologia propõe a superação da dicotomia, afirmando que toda consciência é


intencional, o que significa que não há pura consciência, separada do mundo, mas toda
consciência tende para o mundo. Da mesma forma, não há objeto em si, independente
da consciência que o percebe. Portanto, o objeto é um fenômeno, ou seja,
etimologicamente, “algo que aparece” para uma consciência. Segundo Husserl, “a
palavra intencionalidade não significa outra coisa senão esta particularidade
fundamental da consciência de ser consciência de alguma coisa”.

Portanto, a primeira oposição que a fenomenologia faz ao positivismo é que não há


fatos com a objetividade pretendida, pois não percebemos o mundo como um dado
bruto, desprovido de significados; o mundo que percebo é um mundo para mim. Daí a
importância dada ao sentido, à rede de significações que envolvem os objetos
percebidos: a consciência “vive” imediatamente como doadora de sentido.

Exemplificando: segundo a terapia lógica da reflexão behaviorista, a reeducação de uma


criança manhosa consiste em recondicionar a resposta manha e substituí-la por outro
comportamento socialmente adequado. Ao contrário, na análise fenomenológica, a
manha não é, ela significa, e é pela emoção que a criança se exprime na totalidade do
seu ser. Ela diz coisas com o choro, e esse choro precisa ser interpretado. Da mesma
forma, a resposta que a criança dá a certos estímulos externos supõe também que os
225

próprios estímulos nunca são idênticos para todas as pessoas, mas exercem influência na
medida em que são percebidos de maneira singular pela consciência que os atinge.

60 – FEUDALISMO

1 – Introdução:

O feudalismo é um sistema de organização econômica, política e social que marca a


Europa na Idade Média. As invasões bárbaras e a desagregação do Império Romano do
Ocidente levam o território europeu a profundas mudanças, com a descentralização do
poder, a diminuição das cidades (com o êxodo para o campo) e o emprego de mão de
obra servil. Com começo e fim graduais, o sistema feudal tem sua origem mais bem
situada nos séculos IX e X. E seu desaparecimento por volta do século XVI.

A base da estrutura social são as relações de dependência pessoal – chamadas de


vassalagem – que vão do rei aos camponeses. Há uma relação direta entre autoridade e
posse da terra. O camponês vassalo oferece ao senhor – ou suserano – fidelidade e
trabalho de proteção e do acesso a terra. Além de produzir para o seu sustento, o
camponês deve obrigações ao suserano, como os impostos e a corveia – trabalho
obrigatório e gratuito três dias por semana. Os senhores feudais formam a nobreza e
vivem em castelos. Os cavaleiros armados garantem a segurança dos feudos.

O feudo caracteriza-se pela autossuficiência econômica e pela ausência quase total de


comércio. A produção é predominantemente agropastoril, e as trocas são feitas com
produtos. A Igreja Católica integra-se ao sistema por meio dos mosteiros, que
reproduzem a estrutura dos feudos. No período final da Idade Média, o processo
gradativo de formação dos estados nacionais e da afirmação do poder dos reis leva ao
fim do sistema feudal.

2 – Características gerais do Ocidente europeu:

A insegurança provocada pelas invasões dos séculos IX e X levou os europeus


ocidentais a buscar proteção. Houve grande migração das cidades para o campo,
caracterizando um processo de ruralização que já se havia iniciado nos séculos
anteriores. Em muitas regiões, construíram-se vilas fortificadas e castelos cercados por
muralhas. Pessoas com menos recursos, que não tinham como se proteger por si,
procuraram a ajuda de nobres e guerreiros; os camponeses que pediam a proteção dos
senhores de terra foram submetidos à servidão.

Analisando as sociedades da Europa Ocidental, sobretudo entre os séculos X e XIII, os


historiadores observaram algumas características comuns entre elas. Elaboraram
226

conceitos para identificá-las, como o de feudalismo. Este termo, entretanto, tem gerado
muitos debates e recebido muitas definições.

Para conceituação desta matéria, vamos analisar o termo feudalismo, de acordo com o
historiador francês Jacques le Goff, especialista em história medieval. Um sistema de
organização economica, social e política baseado nos vinculos de homem a homem, no
qual uma classe de guerreiros especializados – os senhores – subordinados uns aos
outros por uma hierarquia de vinculos de dependencia, domina uma massa campesina
que explora a terra e lhes fornece com que viver.

a) Poder Político:

Durante o predominico do feudalismo, os governos centralizados da Europa Ocidental


enfraqueceram-se. O poder político passou a ser dividido com os senhores feudais,
detentores de grandes extensões de terras que governavam seus domínios exercendo
autoridade administrativa, judicial e militar.

b) Suserania e Vassalagem.

Os vários núcleos de poder político – principados, ducados, condados etc. – estavam


ligados por laços estabelecidos entre membros da nobreza a partir da concessão de
feudos. De modo geral, intitulava-se senhor (ou suserano) o nobre que concedia
feudos a outro nobre, denominado vassalo; este, em troca, devia fidelidade e prestação
de serviços (principalmente militares) ao senhor.

A transmissão do feudo era realizada em um cerimônia solene, constituida de dois atos


principais: a homenagem (juramento de fidelidade do vassalo) e a investidura (ato de
transmissão do feudo ao vassalo).

Suseranos e vassalos tinham direitos e deveres a cumprir estabelecidos entre si.


Vejamos os principais:

 Suserano – devia proteger militarmente seus vassalos e dar-lhes assistencia


jurídica. Tinha direito de reaver o feudo do vassalo que morresse sem deixar
herdeiros, de proibir o casamento do vassalo com pessoa que lhe fosse infiel etc.

 Vassalo – devia prestar serviço militar ao suserano, libertá-lo, caso fosse


aprisionado por inimigos, comparecer ao tribunal presidido pelo suserano toda
vez que fosse convocado etc. recebia proteção militar do suserano.

2 – Origens de Algumas Instituições Feudais:

As instituições feudais originaram-se de elementos romanos e germânicos.


227

1 – elementos romanos:

 Colonato – sistema de trabalho servil que se desenvolveu com a crise do


Império Romano, quando escravos e plebeus empobrecidos passaram a trabalhar
como colonos em terras de um grande senhor. O proprietário oferecida terra e
proteção ao colono, recebendo deste um rendimento do seu trabalho. Nesse
processo, algumas cidades perderam importância enquanto, no campo,
desenvolveram-se vilas (unidades econômicas) com produção agropastoril
destinada ao autoconsumo.

 Fragmentação do poder político – no final do período imperial, a


administração romana não tinha condições de impor sua autoridade em todas as
regiões. Com o enfraquecimento do poder central, os grandes proprietários de
terra foram ampliando seus poderes locais.

2 – elementos germânicos:

 Economia agropastoril – a base da economia germânica era a agricultura e a


criação de animais, sem a preocupação de produzir excedentes para a
comercialização.

 Comitatus – instituição social que estabelecia laços de fidelidade entre o chefe


militar e seus guerreiros.

 Beneficium – os chefes militares germânicos costumavam recompensar seus


guerreiros concedendo-lhes possessões de terra, que foram chamadas mais tarde
de feudos. Em troca, o beneficiado oferecia fidelidade, trabalho e ajuda militar
ao senhor.

Sistema feudal prevaleceu durante longo período na Europa Ocidental. Por abranger
área tão extensa, não foi idêntico em todos os lugares. No entanto, é possível
apontar algumas características comuns:

 Enfraquecimento do poder real, ou central, e fortalecimento dos poderes


locais ou regionais;

 Existência de vínculos pessoais de obediência e proteção entre os mais


poderosos e os mais fracos (suserania e vassalagem);

 Uso generalizado de trabalho servil no campo;

 Declínio das atividades comerciais urbanas e fortalecimento da vida rural.


228

3 – Sociedade Divida:

A sociedade feudal se dividia em três ordens principais: nobres, membros do clero e


servos.

 Nobres (Bellatores, palavra latina que significa “guerreiros”) – ordem dos


detentores de terra, que se dedicavam basicamente às atividades militares. Em
tempos de paz, as atividades favoritas da nobreza eram a caça e os torneios
esportivos, que serviam de treino para a guerra.

 Clero (Orates, palavra latina que significa “rezadores”) – ordem dos membros
da Igreja católica, destacando-se os dirigentes superiores, como bispos, abades e
cardeais. Os dirigentes da igreja administravam suas propriedades e tinham
grandes influencia política e ideológica (isto é, na formação das mentalidades e
das opiniões) sobre toda a sociedade.

 Servos (laboratores, palavra latina que significa “trabalhadores”) –


compreendendo a maioria da população camponesa, os servos realizavam os
trabalhos necessários à subsistência da sociedade. A condição de servo
implicava uma série de restrições à liberdade. Ele podia ser vendido, trocado ou
dado pelo senhor, não podia testemunhar contra homem livre, não podia tornar-
se clérigo, devia diversos encargos. Porém, ao contrário do escravo clássico,
tinha reconhecida sua condição humana, podia ter bens e recebia proteção do
senhor.

Essa organização social, rígida e praticamente sem mobilidade entre as ordens, era
defendida pela elite do clero e da nobreza como uma forma de manter seus
interesses.

4 – Produção Econômica:

Na sociedade feudal predominou a produção de bens agrícolas e pastoris, que tinha


como principal unidade produtora o senhorio (extensão de terra) e como forma de
trabalho, a servidão.

Senhorio

O tamanho médio de um senhorio variava entre 200 e 250 hectares. Cada um tinha uma
produção variada de cereais, carnes, leite, roupas e utensílios domésticos – poucos
produtos (como os metais utilizados na confecção de ferramentas e o sal) vinham de
fora. Eram divididos em três grandes áreas:
229

 Os campos abertos (terras comunais): bosques e pastos de uso comum, em que


os servos podiam recolher madeira, coletar frutos e soltar os animais – mas não
podiam caçar (um direito exclusivo do senhor);

 As reservas senhoriais: terras exclusivas do senhor feudal, cultivadas alguns dias


por semana pelos servos. Tudo o que nelas fosse produzido pertencia ao senhor.

 Os mansos servis: terras utilizadas pelos servos, das quais eles retiravam seu
próprio sustento e os recursos para cumprir as obrigações que deviam aos
senhores.

Servidão

A forma de trabalho predominante no feudalismo foi à servidão.

Os servos não eram proprietários das terras em que trabalhavam apenas as usavam;
produziam para o próprio sustento e para manter as outras duas ordens (os nobres e o
clero).

A relação servil impunha uma série de obrigações do servo para com o senhor feudal,
pagas em forma de trabalho e de bens. Uma delas era a corveia, pela qual o servo,
embora livre, tinha de trabalhar alguns dias da semana gratuitamente nas reservas
senhoriais. Esse trabalho podia ser realizado na agricultura, na criação de animais, na
construção de casas e outros edifícios ou em benfeitorias.

5 – Nobre e Servos: a vida na Europa Ocidental

 Os castelos – até fins do século XI, o castelo feudal era, muitas vezes, um rude
forte de madeira. Mesmo os grandes castelos de pedra construídos
posteriormente eram desconfortáveis. Os quartos eram escuros e úmidos e as
paredes de pedra crua, frias e tristes. Os pisos eram, em geral, recobertos com
esteiras de junco ou palha.

 A alimentação – a alimentação dos nobres e de sua família, embora abundante,


era bastante simples. Os alimentos principais eram carne e peixe, queijo, couve,
nabo, cenoura, cebola, feijão e ervilha. As frutas mais comuns eram maçã e pêra.
Não conheciam o café nem o chá, nem as especiarias do Oriente. O açúcar,
quando foi introduzido, custava muito caro e poucos podiam compra-lo.
230

 A alimentação dos servos era constituída de pão preto ou misto, algumas


verduras, queijo, carne, peixe salgado, pois não tinham direito de desfrutar
daquilo que produziam. Mal alimentados, os servos estavam constantemente
sujeitos a doenças.

 Os modos – nas refeições, todos cortavam a carne com o próprio punhal e


comiam com as mãos. Os ossos e os restos eram jogados ao chão para serem
disputados pelos cães. As mulheres eram tratadas com desprezo e brutalidade.
Naqueles tempos, o mundo pertencia aos homens.

 Moradia do servo – o servo morava, em geral, numa cabana construída de varas


trançadas e recobertas de barro. Um buraco no telhado de palha era a única saída
para a fumaça do fogão. O piso era de terra batida, geralmente fria e encharcada
pela chuva ou pela neve. A cama do servo era uma caixa cheia de palha, e a
cadeira, um banco de três pés sem encosto (mocho).

 O desprezo – os servos não sabiam ler nem escrever e eram totalmente


desprezados pelos nobres e habitantes das cidades. Dizia-se que eram velhacos,
estúpidos, mesquinhos, estrábicos e feios, que tinham nascido do esterco de
burro e que o diabo não os queria no inferno porque cheiravam muito mal.

 Os direitos dos servos – o servo tinha direito à posse usual da terra. Se a terra
fosse vendida, ele conservava o direito de cultivar o seu lote. Quando o servo
ficava muito velho ou fraco para trabalhar, era dever do senhor feudal cuidar
dele até o fim de seus dias.

61 – FUNDAMENTALISMO

1 – Introdução:

O contexto de terrorismo e de guerra que estamos vivendo nos inícios dos séculos XXI
faz circular como moeda corrente o termo “Fundamentalismos”. Esta palavra se tornou
chave explicativa e interpretativa de ações terroristas que ocorrem em diferentes regiões
do mundo, especialmente naquelas onde predomina o islamismo.

Acusa-se o fundamentalismo islâmico de ser o principal responsável pela Terça-Feira


Triste de 11 de Setembro de 2001, com o nefasto atentado aos ícones do poder norte-
americano e da cultura capitalista dominante em Washington em Nova York: o
Pentágono e as duas Torres Gêmeas.
231

Ouviram-se, do lado dos muçulmanos, discursos com todas as características do


fundamentalismo, revidado pelas autoridades civis e militares norte-americanas,
singularmente, pelo Presidente George W. Bush cm igual fundamentalismo.
Inauguramos uma guerra de fundamentalismo.

Na verdade, o termo fundamentalismo tornou-se palavra de acusação. Fundamentalista é


sempre o outro. Para si mesmo prefere-se o termo “radicalismo”, seja religioso, seja
político, seja econômico. Com isso se quer dizer que se procura ir às raízes das questões
para compreendê-las e, a partir daí, ataca-las, o que seria altamente positivo. Segundo
Paulo Freire, é preciso distinguir entre radicalismo – processo de ir à raiz das questões;
e sectarismo, que é a inflação de um setor da realidade ou de um aspecto da
compreensão em detrimento do todo.

2 – O que é Fundamentalismo?

Esses dados já nos ajudam a entender o que seja o fundamentalismo. Não é uma
doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das
doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre
cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e atualizações, exatamente
para manter sua verdade essencial. Fundamentalismo representa a atitude daquele que
confere caráter absoluto ao seu ponto de vista.

Sendo assim, imediatamente surge grave consequência: quem se sente portador de uma
verdade absoluta não pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerância. E a
intolerância gera desprezo do outro, e o desprezo, a agressividade, e a agressividade, a
guerra contra o erro a ser combatido e exterminado. Irrompem conflitos religiosos com
incontáveis vítimas.

3 – Como Surgiram o Fundamentalismo

O nicho do fundamentalismo se encontra no protestantismo norte-americano, surgido


nos meados do século XIX. O termo foi cunhado em 1915, quando professores de
teologia da Universidade de Princeton publicaram uma pequena coleção de doze livros
que vinha sob o título Fundamentals. A Testimony of the Truth (1909-1915). Neles
propunham um cristianismo extremamente rigoroso, ortodoxo, dogmático, como
orientação contra a avalanche de modernização de que era tomada a sociedade norte-
americana.

Não só modernização tecnológica, mas modernização dos espíritos, do liberalismo, da


liberdade das opiniões, contrastando fundamentalmente com a seguridade que a fé cristã
sempre oferecera.
232

4 – Fundamentalismo Protestante

A tese dos fundamentalistas no âmbito religioso é afirmar que a Bíblia constitui o


fundamento básico da fé cristã e deve ser tomada ao pé da letra (o fundamento de tudo
para a fé protestante é a Bíblia).

Cada palavra, cada sílaba e cada vírgula, dizem os fundamentalistas, é inspirada por
Deus. Como Deus não pode errar então tudo na Bíblia é verdadeiro e sem qualquer erro.
Como Deus é imutável, sua Palavra e suas sentenças também o são. Velem para sempre.

Ainda hoje, especialmente nas escolas do sul dos Estados Unidos onde há ensino
religioso, as aulas de história e de biologia podem refletir o mais elevado
evolucionismo, enquanto que as aulas de religião seguem o mais estrito
fundamentalismo.

Em nome desses literalismo, os fiéis opunham-se às interpretações da assim chamada


teologia liberal. Esta usava e usa os métodos histórico-críticos e hermenêuticos para
interpretar textos escritos há dois, três mil anos. Parte-se do princípio de que a história e
as palavras não ficaram congeladas no passado. Elas mudam de sentido ou ganham
novas ressonâncias com a mudança dos contextos históricos. Por isso, precisam ser
interpretadas para que seja resgatado o sentido original. Este procedimento para os
fundamentalistas é ofensivo a Deus, é obra de Satanás.

A Bíblia não precisa ser interpretada, ela é a palavra de Deus, e o espírito Santo ilumina
as pessoas para compreenderem os textos. Por razões semelhantes, eles se opõem aos
avanços contemporâneos da história, das ciências, da geografia e especialmente da
biologia que possam questionar a verdade bíblica.

Para o fundamentalista, a criação se realizou mesmo em sete dias. O ser humano foi
feito literalmente de barro. Eva é tirada da costela física de Adão. O preceito “crescei e
multiplicai-vos, enchei e subjugai a Terra, dominai sobre os peixes do mar, sobre as
aves do céu, sobre tudo o que vive e se move sobre a Terra” (Gênesis 1. 28, 29) deve ser
tomado estritamente ao pé da letra, pouco importando se essa dominação
antropocêntrica venha a pôr em risco a biosfera.

Mais ainda: só Jesus é o caminho, a verdade e a vida, o único e suficiente salvador. Fora
dele há somente perdição. Desse rigorismo se deriva o caráter militante e missionário de
todo fundamentalista. Em face dos demais caminhos espirituais, ele é intolerante, pois
significam simplesmente errância.

Na moral, é especialmente inflexível, particularmente no que concerne à sexualidade e à


família. É contra os homossexuais, o movimento feminista e os processos libertários em
geral. Na economia, é monetarista conservador, e na política sempre exalta a qualquer
custo a ordem, a disciplina e a segurança.

O fundamentalismo protestante ganhou relevância social nos Estados Unidos a partir


dos anos 50 com as “Electronic Church”. Pregadores nacionalmente famosos usaram o
233

rádio e a televisão em cadeia para suas pregações e campanhas conservadoras. Sob o


Presidente Ronald Reagan, essas igrejas eletrônicas significaram um fator político
determinante, ao favorecerem medidas restritivas em muitos campos da vida pública,
particularmente com referência aos imigrados e à assistência aos pobres. Combateram
abertamente o Conselho Mundial de igrejas em Genebra (que reúne mais de duas
centenas de denominações cristãs) e todo tipo de ecumenismo, tidos como invenção do
diabo.

Naturalmente, nem todos os protestantes conservadores são fundamentalistas. A maioria


não é biblicista, pois incorporou avanços na interpretação das Escrituras para torna-la
contemporânea. Lutero já afirmava: a Bíblia toda tem a Deus como autor, mas suas
sentenças devem ser julgadas a partir de Cristo. Ele é a Palavra feita livro. Os católicos,
mesmo os mais ortodoxos, afirmam com o Concílio Vaticano II: a Bíblia é inspirada e
inerrante só com referência às verdades importantes para nossa salvação. Ela não
pretende ser inerrante em campos da história, da geografia e da biologia. Com isso, se
procura evitar a identificação da Bíblia com a Palavra de Deus. Diz-se: na Bíblia está
contida a Palavra de Deus.

5 – Fundamentalismo Católico

O Catolicismo possui também seu tipo de fundamentalismo. Ele vem sob o nome de
Restauração, e Integrismo. Procura-se restaurar a antiga ordem, fundada no casamento
(incestuoso) entre o trono e o altar, vale dizer, entre o poder político e o poder clerical.
Visa-se a uma integração de todos os elementos da sociedade e da história sob a
hegemonia do espiritual representado, interpretado e proposto pela Igreja Católica (pelo
seu corpo hierárquico, encabeçado pelo Papa). O inimigo a combater é a Modernidade,
com suas liberdades e seu processo de secularização.

Há duas vertentes de fundamentalismo católico: o doutrinário e o ético-moral:

a) O fundamentalismo doutrinário – é bem representado no documento Dominus


Jesus do ano 2000, assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da antiga
Inquisição, que aborda a relação de Cristo e da Igreja Católica com as demais
igrejas e religiões. Aí se sustenta que a Igreja católica é a única Igreja de Cristo.
As demais denominações cristãs não são igreja, trata-se de usurpação do título.
Possuem apenas elementos eclesiais.

O catolicismo comparece também como a única religião verdadeira, e os que


não se converterem à Igreja Católica Apostólica Romana correm o risco de
perdição eterna. Cinquenta anos de trabalho ecumênico, de diálogo inter-
religioso, aparentemente se esvaíram, porque as velhas teses medievais da Igreja
como única portadora dos desígnios de Deus, e fora da qual não há salvação,
foram ressuscitadas. Isto provocou um escândalo em toda a Igreja, escândalo
234

que não foi ainda digerido nem por nós católicos, muito menos pelos
protestantes, que estavam se acercando muito próximos da Igreja Católica.

A centralização patriarcal do poder sagrado apenas nas mãos do clero, o


autoritarismo do magistério papal, a discriminação das mulheres com referência
ao sacerdócio e aos cargos de direção na comunidade eclesial, pelo simples fato
de serem mulheres, a infantilização dos leigos, por não serem portadores de
nenhum poder sacramental, são expressões do fundamentalismo católico em sua
forma doutrinária e oficial.

Porém, a forma mais velhista de fundamentalismo foi encarnada pelo arcebispo


suíço Marcel Lefebvre, nos anos 70-80, com seus seguidores no Brasil, Dom
Sigaud, de Diamantina, e Do Castro Meyer, de Campos. Ele fundou sua Igreja
paralela, considerada a única fiel detentora da tradição e da fé verdadeiras,
denunciando a Igreja de Roma, recém-saída do Concílio Vaticano II, como
traidora e infiel.

Características fundamentalistas se encontram também em setores importantes


do pentecostalismo católico, criativo nos símbolos e celebrações, mas
conservador e pobre em termos doutrinais.

b) O fundamentalismo ético-moral
A segunda vertente, é da moral e dos costumes, é a mais perplexidade e até
escândalo provoca. Basta lembrar à doutrina oficial contra os contraceptivos, os
preservativos, a fecundação artificial, a interrupção da gravidez, a
pecaminosidade da masturbação e do homossexualismo, a proibição de segundas
núpcias após um divórcio e o diagnóstico pré-natal ou a eutanásia. Para defender
suas teses nos foros mundiais, como na Conferência sobre a População Mundial
no Cairo, em 1994, e na Conferência Mundial da Mulher em Pequim, em 1995,
os representantes do Vaticano se aliaram às forças mais reacionárias e xiitas do
islamismo e dos estados autoritários do Ocidente.

Já antes o Vaticano foi um dos poucos estados que não referendou a Carta dos
Direitos Humanos da ONU, em 1948, por não constar em sua introdução o nome
de Deus. Pior ainda, sabotou os belíssimos cartões natalinos da UNICEF e
suspendeu sua contribuição para a Obra de Ajuda à Infância da UNESCO por
causa da recomendação desses organismos para que as mulheres refugiadas
usassem preservativos anticoncepcionais.

Um fundamentalismo sem piedade se manifesta na forma como setores oficiais


enfrentam a difícil questão das doenças sexualmente transmissíveis e da AIDS.
Há basicamente duas formas de prevenção: a abstenção completa e o uso de
preservativos que protegem em 90% dos casos, mas deixando 10% sob risco.
Ocorre que o rigorismo oficial católico veta o uso de preservativos até em
235

centros de acolhida de meninos e meninas de rua, que vivem, notoriamente, em


grande promiscuidade. Segundo dados recentes de Daniel Souza, filho de nosso
querido Betinho, no Brasil 40% dos jovens com quinze anos, 60% com até
dezenove anos e 92,3% com até vinte e quatro anos têm vida sexual ativa.

Que quer dizer a esses jovens? Que se abstenham de vida sexual até o
casamento? Que não usem preservativos e se usarem “imoralmente” correm o
risco em 10% de contaminação? Não é irresponsável pregar semelhante moral?
Comenta Daniel Souza com razão: “É mais fácil um camelo passar por um
buraco de agulha do que esses 92,3% de jovens praticarem a abstinência sexual
até o casamento... A meu ver, a Igreja Católica deveria celebrar e preservar o
bem maior que Deus nos deu, a vida, do que receitar a morte”.

Como se depreende, o fundamentalismo nessa dimensão moral cega setores


importantes do cristianismo para o óbvio e para a mensagem central do
cristianismo que é trazer vida em abundância. A vida é sacrificada em nome de
normas e doutrinas fossilizadas.

6 – Fundamentalismo Islâmico

O fundamentalismo ocupou o eixo das discussões neste final de 2001. Como é notório,
o islamismo é a última grande religião surgida no último milênio, estendendo-se do
Marrocos até a Indonésia, incluindo a Turquia, partes da África Negra e da Rússia. É a
religião que mais cresce no mundo. A seguir o ritmo atual, dentro de alguns anos será
maior religião da humanidade. Vindo após o cristianismo e o judaísmo, ela se entende
como a síntese superior de ambas, seu necessário corretivo e aperfeiçoamento. Trata-se
de uma religião extremamente simples, o que explica em parte sua divulgação,
sustentada por cinco pilastras: a oração ritual, cinco vezes ao dia, feita na direção de
Meca; peregrinação a Meca uma vez na vida; jejuar do nascer ao por do sol durante o
Ramadã, o nono mês lunar; dar esmola como forma de partilha e de agradecimento a
Deus, doador de todos os bens; professar que Alá é o único Deus e Maomé, o seu
profeta.

O livro Alcorão é entendido como a revelação verbal e última dada por Deus, em árabe,
ao seu povo. O livro é até mais importante que seu próprio intermediário, Maomé.
Divide-se em 114 capítulos (suras), constituindo duas grandes partes que correspondem
às duas fases de atuação do profeta Maomé: a fase de Meca (anos de 610-622) e a fase
de Medina (622-632). A fase de Meca contém textos mais curtos e trata
fundamentalmente da doutrina, do único Deus, da moral, do juízo, do inferno e do
paraíso. Aqui se revela um grande respeito por Jesus e por Maria. Na fase de Medina, o
Alcorão trata de orientações concretas de o reto viver, de organização política e do
sistema jurídico.
236

Como nem tudo pôde ser tratado por Moisés no Alcorão, incorporam-se à doutrina
islâmica os ditos de outros profetas e santos (hadit), o consenso dos sábios (igma) e os
argumentos por analogia (qiyas).

Essas incorporações estão na base das várias tendências no islamismo histórico. Há os


que querem o Alcorão simplesmente, em sua letra, outros o releem a partir das
interpretações dos sábios e, por fim, estão os que o atualizam em face dos desafios que
vem da evolução histórica, especialmente da modernidade contemporânea. E nisso
estes, estão como nós cristãos, num permanente processo de releitura e atualização da
mensagem, traduzida para os distintos desafios das culturas nos dias de hoje.

O islamismo original (islam significa “submissão total a Deus”), não é guerreiro nem
fundamentalista. São tolerantes para com todos os povos, especialmente “os povos do
livro” (judeus e cristãos). Ele vive de duas grandes convicções: a afirmação da absoluta
unicidade e transcendência de Deus, a partir de onde tudo na Terra é relativizada, e a
comunidade profética dos irmãos, pois todos são criaturas de Deus e devem se
entreajudar. Comenta Roger Garaudy no seu conhecido livro Promessas do Islã (Nova
Fronteira, 1988): “Transcendência e comunidade, não é essa a contribuição que o Islã
hoje pode trazer para a descoberta de um futuro de aspecto humano, num mundo em que
a eliminação do transcendente, a destruição da comunidade pelo individualismo e um
modelo demente de crescimento tornaram o status quo impossível de se viver e,
impossíveis às revoluções de tipo ocidental?”.

Não obstante, aqueles que tomam o Alcorão como a revelação enlivrada (feita livro) e
tentam aplica-la em todos os campos da vida – no sagrado e no profano, na sociedade e
na organização do Estado – tendem a serem fundamentalistas. Criam um estado
teocrático e acabam impondo a todos, mesmo aos não muçulmanos, as verdades
islâmicas e os preceitos rígidos da moral, especialmente com referencia à mulher. O
famoso jihad (originalmente, fervor e empenho pela causa de Deus) se transforma em
guerra santa. A permanente tensão entre muçulmanos e cristãos é tributária de uma
história longa de mútuas violências.

Do século VII ao século XII deu-se a expansão do Islã, ocupando os lugares sagrados
para os cristãos: a Terra Santa e os territórios da Igreja de S. Paulo (a Ásia Menor) e da
Igreja da antiga região catequizada por Santo Agostinho e São Cipriano (todo o norte da
África, chegando até a Espanha).

Do século XII ao século XIII se dá a contra ofensa cristã através das cruzadas até a
expulsão dos muçulmanos da Espanha em 1942.

Nos séculos XV e XVI vem a resposta muçulmana com a conquista de Constantinopla


(1453), a ocupação dos Bálcãs e a ameaça sobre toda a Europa, contida na Polônia.

Nos séculos XIX e XX, as potencias ocidentais dão o troco, dominando e colonizando
os principais territórios islâmicos na África, Oriente Médio e Extremo Oriente, usando
violência militar, exploração econômica e imposição cultural e religiosa. A partir da
237

Turquia de Ataturk impõe-se, nos inícios do século XX, a modernização ocidental,


acompanhada do liberalismo e do secularismo. Esse processo se aprofundou com o
controle por parte do Ocidente das ricas bacias petrolíferas situadas nos territórios
muçulmanos do Oriente Médio. Agravou-se com a globalização econômico-financeira,
altamente competitiva e nada cooperativa.

Qual foi o efeito final desse processo? A demonização mútua do inimigo. Os ocidentais
tendem a ver no muçulmano o fanático religioso e o terrorista. Os muçulmanos tendem
a ver nos ocidentais os ateus práticos, os materialistas crassos e os secularistas ímpios.

Esse caldo anticultural faz germinar o fundamentalismo e a nova forma de cruzadas dos
ocidentais.

62 – FUTURISMO

Iniciado em 1909 pelo poeta italiano Felipo Marinetti, o movimento rejeita o moralismo
e o passado e propõe um novo tipo de beleza, baseada na velocidade da industrialização.
Na literatura, a linguagem é espontânea, e as frases são fragmentadas para sugerir o
ritmo veloz. Na Rússia, o futurismo se alinhara a revolução de 1917, tendo como
expoente o poeta Vladimir Maiakovski. Marinetti alinha-se com o fascismo, que surge
na Itália na década de 1920.

63 – GEOCENTRISMO

Desde os tempos mais antigos, o universo causa curiosidade e especulações nos seres
humanos. Um dos temas mais debatidos ao longo da história foi a organização do
sistema solar, sobre o qual foram geradas diversas pesquisas, observações e teorias
científicas e religiosas.

1 – Como Surgiu A Teoria do Geocentrismo?

Na Grécia Antiga, por volta de 350 a.C., Aristóteles passou a idealizar a teoria de que a
Terra estaria no centro do universo, e que todas as outras esferas girariam ao redor dela.
Muito tempo se passou e então no século II d.C., o astrônomo e matemático Cláudio
Ptolomeu, não apenas reforçou a teoria de Aristóteles, como elaborou a teoria
Geocêntrica – teoria que defendia plenamente a ideia de que a Terra se encontrava no
centro do universo.
238

2 – A Terra Como Centro do Universo

Ainda, segundo Ptolomeu, a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno
giravam ao redor da Terra, nessa ordem. Ele também acreditava que cada planeta girava
ao longo de um pequeno círculo, o qual chamou de epiciclo. Assim, cada planeta teria
um epiciclo próprio, e o centro de cada epiciclo se moveria em um ciclo maior, o qual
ficaria um pouco afastado da Terra.

Dessa forma, durante toda a Idade Média, acreditou-se e defendeu-se o Sistema


Geocêntrico. Não apenas os estudiosos, mas também a Igreja Católica durante ao menos
mil e quatrocentos anos apoiou Ptolomeu.

A tradição árabe prega que Ptolomeu, uma das grandes celebridades de sua época,
faleceu aos 78 anos de idade, deixando seus conhecimentos e teorias astronômicas em
um tratado de treze volumes chamado de Almagesto, o qual abordava o Geocentrismo e
muitas outras teorias.

3 – Contestação Final

Quatorze séculos depois, apareceu um homem chamado Nicolau Copérnico, que passou
a contestar o Geocentrismo. Ele elaborou a teoria do Heliocentrismo, no qual defendia
que a Terra assim como os outros planetas, movia-se ao redor do sol, e que era o real
centro do Sistema Solar. A Igreja Católica não aceitou sua teoria, que posteriormente,
foi comprovada e aperfeiçoada por Kepler, Isaac Newton e Galileu Galilei. Hoje, a
teoria do Heliocentrismo é amplamente aceita e defendida pela comunidade científica.

4 – O Que é O Geocentrismo?

É a teoria astronômica que determina ser a Terra o Centro do Universo. Por esse modelo
cosmológico, formulado por Aristóteles por volta de 350 anos a.C., e aperfeiçoado por
Cláudio Ptolomeu (90-168 a.C.), a Terra permanecia fixa no Centro do Universo e todos
os outros corpos celestes orbitavam.

O termo “Geocentrismo” vem do grego (Geo=Terra). O Geocentrismo influenciou por


catorze séculos e foi derrubada pela teoria do Heliocentrismo, elaborada por Nicolau
Copérnico em 1453, da qual o sol era considerado o Centro do Universo.

A teoria do Geocentrismo foi apresentada por volta do ano 150, quando Ptolomeu
afirmou e publicou “A Grande Síntese”. A Obra apresentava o modelo cosmológico que
explicava o movimento dos corpos celestes em torno da Terra e apontou seis órbitas
circulares que “segurariam” os planetas para que não caíssem.

As observações do astrônomo apontavam as órbitas que ele chamou de elípticos, dos


planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Além da Lua e do Sol. Ptolomeu
239

concluiu que cada planeta tinha seu próprio elíptico e previu a distância entre eles,
concluindo estar mais próxima a Lua (primeira), seguido por Mercúrio (segunda),
Vênus (terceira), o Sol (quarta), Marte (quinta), Júpiter (sexta) e Saturno (sétima), nesta
ordem. Segundo historiadores, Ptolomeu deixou um tratado de treze volumes chamado
Almagesto, onde detalha o Geocentrismo e outras teorias.

5 – Geocentrismo e a Igreja Católica

O modelo do Geocentrismo era aceito pela Igreja Católica porque coincidia com os
textos bíblicos que colocavam o homem como objetivo da criação divina. Estando o
homem na Terra, permanecia na posição de imagem e semelhança de Deus, portanto, no
Centro do Universo. A teoria ruiu a partir dos estudos de Nicolau Copérnico, que
apontavam ser, na verdade, o sol o Centro do Universo.

A obra de Copérnico, contudo, foi condenada pela Santa Inquisição. A Igreja condenava
à morte os opositores a suas doutrinas. Foi o que ocorreu com Giordano Bruno, morto
na fogueira ao apoiar o modelo do Heliocentrismo e apresentar observações
astronômicas que apontavam a expansão constante do Universo. Um dos mais
importantes estudiosos da astronomia foi Galileu Galilei também comprovou o
Heliocentrismo com base nas pesquisas de Copérnico, mas foi obrigado a retratar-se
perante a Igreja para não morrer.

Em observações mais precisas, o físico alemão Johannes Kepler concluiu em 1609, que
somente a física pode explicar a organização do cosmos. Os dados foram usados pelo
inglês Isaac Newton (1643- 1727), que elaborou a Teoria da Gravitação Universal.
Diante dos estudos irrefutáveis, em 1835, o Papa Gregório XVI reconheceu o modelo
do Heliocentrismo.

64 – GNOSTICISMO
(veja tópico 59 sobre Humanismo).

Definição:

O que é o Gnosticismo?

É um conjunto de movimentos religiosos surgidos nos primeiros séculos depois de


cristo (d.C.), em várias regiões do Império Romano (Egito, Síria, Palestina, Ásia Menor,
Itália, Gália etc.), reunidos pela referência a uma noção especial de gnose, de caráter
salvífico.

À parte as diferenças, também importantes, das respectivas formulações doutrinais e das


práxis éticas e rituais, as várias correntes religiosas incluídas na denominação de
gnosticismo podem ser unificadas em um contexto homogêneo em relação à ideia da
presença no cosmo e no homem, de uma substância de origem divina (o pneuma,
240

espírito, o nous, intelecto, ou a psique, alma), aprisionada na matéria e no corpo, mas


destinada à salvação e ao retorno ao mundo divino superior, do qual saiu por uma culpa
ou incidente originário. O meio e o instrumento para tal salvação é justamente a gnose,
ou seja, o conhecimento, que é ao mesmo tempo iluminação interior e revelação, por
parte do elemento divino, o qual toma consciência de si, “reconhece” a própria natureza
superior e o distanciamento ontológico em relação ao mundo material e ao corpo.

Afirma-se, portanto, uma visão dualista, isto é, uma nítida distinção e contraposição de
“princípios”, no âmbito teológico, cosmológico e antropológico. Efetivamente, na
perspectiva gnóstica, o mundo visível, material, e o seu criador (o Demiurgo, às vezes
acompanhado de uma multidão de personagens secundários, os arcontes ou anjos) são
contrapostos a um mundo espiritual, divino, quase sempre formado por uma entidade
suprema, transcendente e incognoscível, a qual se manifesta em uma série de emanações
sucessivas (os éons) com nomes e atributos diferentes, exprimindo vários aspectos e
funções da divindade, em um movimento ad extra no qual se pode ver a causa última
daquele processo, visto como uma decadência, que levará ao aprisionamento de uma
partícula de substância divina na matéria. Outro lado característico e recorrente nos
sistemas gnósticos é a identificação entre o Deus criador do Antigo Testamento e o
Demiurgo inferior.

Os padres da Igreja Justino, Ireneu, Tertuliano, Hipólito, Epifânio tiveram contato direto
com as várias comunidades gnósticas, cujos membros, apelando a uma interpretação
“espiritual” e esotérica das Sagradas Escrituras e à pessoa de Jesus como revelador do
conhecimento salvifico, proclamavam-se os verdadeiros cristãos. Por isso, tais padres
consideraram os gnósticos como “hereges”, que falseavam e distorciam o ensinamento
confiado por Jesus aos apóstolos e conservado nas várias Igrejas, e empenharam-se
ativamente em refutar as suas doutrinas, com a finalidade de demonstrar a falsidade
destas e de afastar dos fiéis à sugestão de uma mensagem religiosa que, recorrendo a um
conhecimento superior, reservado a poucos privilegiados, podia atrair os espíritos
curiosos por perscrutar os “mistérios” divinos. As obras desses autores constituem uma
fonte preciosa de informações acerca do fenômeno gnóstico, aliás, a única fonte antes
que as areias do deserto egípcio trouxessem até nós, perto de Nag Hammadi, uma
coletânea de códices em papiro, contendo obras gnósticas originais.

65 – HELIOCENTRISMO

1 – Introdução:

Já vimos que o Geocentrismo se encontra nas obras de Aristóteles, posteriormente


completadas por Ptolomeu (século II). Essa concepção perdura durante toda a
Antiguidade e Idade Média: o universo medieval era geocêntrico, finito, esférico,
hierarquizado.
241

O geocentrismo é de certa forma confirmada pelo senso comum: percebemos que a


Terra é imóvel e que o sol gira à sua volta. Isto é confirmado no próprio texto bíblico:
em uma passagem das Escrituras, Deus fez parar o Sol para que o povo eleito
continuasse a luta enquanto ainda houvesse luz, o que sugere o sol em movimento e a
terra fixa.

Foi no século XVI que o monge Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou a obra onde
propunha a teoria heliocêntrica. Apresentada timidamente como simples hipótese, talvez
por temor à Inquisição, a teoria teve pouca repercussão e foi praticamente ignorada até o
início do século XVII, quando ressurgiu como uma bomba com Galileu e Kepler.

O telescópio, invenção talvez dos holandeses, proporcionou a Galileu descobertas


valiosas: para além das estrelas fixas, haveria ainda infindáveis mundos; a superfície da
Lua era rugosa e irregular. O Sol tinha manchas, e Júpiter tinha quatro Luas! Mas como
isso era possível? Vimos que para os Aristotélicos o universo era finito, a Lua e o Sol
eram compostos de uma substância incorruptível e perfeitos, e Júpiter, engastado em
uma esfera de cristal, não podia ter luas que a perfurassem... Os fenômenos da física e
da astronomia, antes explicados a partir das diferenças da natureza dos corpos perfeitos
e imperfeitos, tornam-se homogêneos já que não há mais como reconhecer a
incorruptibilidade do mundo supralunar; desfaz, portanto a diferença entre Terra e Céus.
Além disso, à consciência medieval de um “mundo fechado”, é contraposta a concepção
moderna do “universo infinito”. Vimos que a noção de finitude era um atributo divino e
Giordano Bruno já pagara demasiadamente caro por essa ousadia.

O forte impacto dessas novidades desencadeou inúmeras polêmicas até que, pressionado
pelas autoridades eclesiásticas, Galileu se viu obrigado a abjurar. Que ideias tão terrível
é essas, que tanto ameaçam a ordem estabelecida e que merecem ser sufocadas?

2 – As Transformações Produzidas Pelas Ciências

Secularização da Consciência: na nova ciência não há lugar para explicações que


recorram à casualidade divina, como ocorria na antiga astronomia, em que se admitia
que o movimento das esferas celestes fosse impulsionado pelo primeiro Motor Imóvel,
ou seja, por Deus.

A ciência é secularizada, laicizada, o que significa justamente abandonar a dimensão


religiosa que permeia todo saber medieval. Galileu separa razão e fé, buscando a
verdade científica independentemente das verdades reveladas.

3 – Descentralização do Cosmos

O sistema geocêntrico era um todo centralizado, finito, ordenado. No novo modelo, a


Terra é retirada do centro do universo. Com a descoberta de outros mundos, nem o sol é
o centro. Dá-se, portanto, uma subversão da ordem e, consequentemente, uma ansiedade
no homem, que descobre o seu mundo transformado em “poeira cósmica”, a Terra como
242

simples planeta, um grão de areia perdido na imensidade do espaço infinito. Mais: o


sistema solar é apenas um dos muitos sistemas que compõem o Céu. O que passa a ser
questionado não é apenas o lugar do mundo, mas o lugar do homem no mundo.

4 – Geometrização do Espaço

Para os antigos, sempre houve uma mística do lugar. Havia lugares privilegiados: Hades
(inferno); Olimpo (lugar dos deuses); o espaço sagrado do templo; o espaço público da
ágora (praça pública); o gineceu (lugar da mulher). Da mesma forma, havia na física
aristotélica a teoria do lugar natural e, na astronomia, a divisão entre o mundo sublunar
e o mundo supralunar, constituídos de deferentes naturezas e hierarquicamente situados
(um inferior e outro superior).

Para a nova astronomia, o espaço é desmistificado, dessacralizado, isto é, deixa de ser


sagrado. Segundo Koyré, à descentralização do cosmos segue a geometrização do
espaço, o que significa que o espaço heterogêneo dos lugares naturais se torna
homogêneo, é despojado das qualidades e passa a ser quantitativo e mensurável (isto é,
pode ser medido). Podemos dizer, portanto, que há uma “democratização” do espaço,
pois todos os espaços passam a ser equivalente, iguais, nenhum sendo superior ao outro.

Não havendo mais diferença entre a qualidade dos espaços celestes e a dos terrestres, é
possível admitir que as leis da física sejam também da mesma natureza que as leis da
astronomia.

5 – Mecanismo

A ciência moderna compara a natureza e o próprio homem a uma máquina, um conjunto


de mecanismos cujas leis precisam ser descobertas. As explicações são baseadas em um
esquema mecânico cujo modelo preferido é o relógio.

Ficam excluídas das ciências todas as considerações a respeito do valor, da perfeição,


do sentido e do fim. Isto é, as causas formais e finais, tão caras à filosofia antiga, não
servem para explicar: apenas as causas eficientes são utilizadas nas explicações
científicas.

66 – HILEMORFISMO TEOLÓGICO

Introdução:

Para Aristóteles, a ciência deveria partir da realidade sensorial – empírica – para buscar
nela as estruturas essenciais de cada ser. Em outras palavras, a partir da existência do
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ser individual, devemos atingir sua essência, seguindo um processo de conhecimento


que caminharia do individual e específico para o universal e genérico.

O filósofo entendia, portanto, que o ser individual, concreto, único constitui o objeto da
ciência, mas não é o seu propósito. A finalidade da ciência deve ser a compreensão do
universal, visando estabelecer definições essenciais que possam ser utilizadas de modo
generalizado.

Desse modo, a indução (operação mental que vai do particular ao geral) representa, para
Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por meio do
método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, conceituais, de
âmbito universal.

O conceito escola, por exemplo, é o resultado da observação sistemática das diferentes


instituições às quais se atribui o nome escola. Somente dessa maneira o conceito escola
pode ter sentido universal, já que reúne em si os componentes essenciais aplicáveis ao
conjunto das múltiplas escolas concretas existentes no mundo.

1 – Hilemorfismo Teleológico:

Mais interessado na vida natural que seu mestre, Aristóteles formulou uma teoria da
realidade que ficou conhecida como hilemorfismo teleológico. Para explica-la é preciso
relacionar conceitos de sua física com os de sua metafísica.

Se observarmos a natureza como fazia esse pensador, veremos que ela tem ciclos
constantes e regulares. As plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Cada
organismo constitui um todo orgânico, ordenado e coeso. Apesar da diversidade e
multiplicidade de entes, parece haver uma ordem interna e externa a cada um deles que
conduz à sucessão dos acontecimentos.

Portanto, ficava difícil para Aristóteles conceber que o inteligível estivesse totalmente
separado da realidade concreta, perceptível aos nossos sentidos, pertencendo a outro
mundo, como dizia Platão. Por que não pensar que o inteligível está aqui mesmo, neste
mundo, e que opera dentro das próprias coisas?

2 – Matéria e Forma

Foi o que supôs Aristóteles. Ele era um grande observador da natureza – considerado
por muitos o primeiro biólogo que existiu – e achava que o sensível e o inteligível
deviam estar unidos, metidos um no outro. Somente a análise ontológica permitiria
identificá-los e separá-los, mas essa separação seria apenas conceitual, pois, na
realidade mesma, o sensível e o inteligível andariam sempre juntos. Para os filósofos,
“as coisas são o que são em sua própria natureza”, ou seja, o ser verdadeiro deve ser
imanente.
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Seguindo essa linha de raciocínio, Aristóteles concebeu a noção de que todas as coisas
estariam constituídas de dois princípios inseparáveis:

 Matéria (hylé, em grego) – o principio indeterminado dos seres, mas que é


determinável pela forma;

 Forma (morphé, em grego) – o principio determinado em si próprio, mas que é


determinante em relação á matéria.

Assim, tudo o que existe é composto de matéria e forma, daí o nome hilemorfismo para
designar essa doutrina. Note, porém, que é a forma que faz as coisas serem o que são,
enquanto a matéria constituiu apenas o substrato que permanece. Nos processos de
mudança, é a forma que muda; a matéria mantém-se sempre a mesma. Por exemplo: se
um anel de ouro é derretido para converter-se em uma corrente de ouro, muda-se a
forma (de anel para corrente), mas mantém-se a matéria (ouro).

Como você pode perceber apesar de revalorizar o sensível, Aristóteles não despreza
totalmente a concepção de ideias eternas de seu mestre, mas a trazia de volta a este
mundo, batizava-a com outro nome (forma) e a complementava com o que supôs faltar
para que ela pudesse explicar todas as classes de seres e as mudanças do real.

3 – Potência e Ato

Aristóteles também retomou o problema da permanência e da mudança (a clássica


polêmica entre Heráclito e Parmênides) e realizou uma reviravolta: sem questionar o
estatuto da mudança em si, procurou analisar a realidade que muda (o ser imbricado no
não ser), entendendo que o movimento existe e que não se encontra fora das coisas.

Desse modo, observou que uma semente não é uma planta, assim como um livro não é
uma planta. Mas a semente pode tornar-se uma árvore, enquanto o livro não pode. Isso
quer dizer que, em todo ser, devemos distinguir:

 O ato – a manifestação atual do ser, aquilo que ele já é (por exemplo: a semente
é, em ato, uma semente);

 A Potência – as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não


é, mas que pode vir a ser (por exemplo: a semente é, em potência, a árvore).

Conforme essa concepção, todas as coisas naturais são ato e potência, isto é, é algo e
podem vir a ser algo distinto. Uma semente pode tornar-se uma árvore se encontrar as
condições para isso, do mesmo modo que uma árvore que está sem flores pode se
tornar, com o tempo, uma árvore florida, manifestando em ato aquilo que já continha
intrinsecamente como potência. Enfim, potência e ato explicam a mudança no mundo, o
movimento e a transitoriedade das coisas.
245

Relacionando essas dualidades de princípios nos seres (matéria e forma; potência e ato),
podemos observar um paralelismo entre matéria e potência e entre forma e ato: a
matéria indeterminada é o ser em potência; a forma é o ser em ato.

4 – Substância e Acidente

Por outro lado, em virtude de certas condições climáticas, uma árvore frutífera pode não
vir a dar frutos (o que contraria sua potência de dar frutos), ou então às folhas da árvore
podem se apresentar queimadas ou ressecadas, em consequência de um clima seco.

Aristóteles classifica esses casos, ou qualidades do ser, como acidentes, ou seja, algo
que ocorre no ser, mas que não faz parte de seu ser essencial. Isso significa que, para o
filósofo, devemos distinguir em todos os seres existentes o que neles é:

 Substancial – atributo estrutural e essencial do ser; aquilo que mais intimamente


o ser é e sem o qual ele não é. Assim, todo ser tem sua substância, de modo que
devem existir tantas substâncias quantos seres existem (pluralismo ontológico);

 Acidental – atributo circunstancial e não essencial do ser; aquilo que ocorre no


ser, mas que não é necessário para definir a natureza própria de esse ser.

67 – HINDUÍSMO

1 – Introdução:

a) O que é o Hinduísmo?

É uma religião muito antiga e é um sistema de crenças que muitas pessoas têm em
comum. Você perceberá como uma religião muito antiga pode absorver muitas crenças
diferentes, atrair muitos grupos de pessoas aos seus ensinamentos e tornar-se um
sistema que seja uma filosofia de vida.

As religiões como um todo podem ser comparadas a um grande número de árvores de


um jardim enorme. Algumas árvores são mais antigas, maiores e mais bonitas do que
outras. Mesmo assim, todas compõem o jardim total das religiões dos homens. Há uma
árvore, porém, que é mais bela que as demais. É a única que tem frutos... “para a saúde
das nações”, como a árvore apresentada em Apocalipse 22.2. Trata-se da árvore do
Cristianismo. Mas, antes de chegarmos a ela, examinaremos algumas outras – seu
tamanho, sua forma, sua idade e seus frutos. Uma das árvores frondosas, cujos ramos
oferecem abrigo para muitas crenças é o hinduísmo.
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2 – Conhecendo O Hinduísmo

O hinduísmo declara ser a religião mais antiga do mundo. Apesar disso, tem
raízes no animismo. O animismo, por sua vez, tem suas raízes no monoteísmo
dos tempos da criação. Seria, portanto, mais exato dizer que o hinduísmo é a
religião mais antiga com um nome. Sua história remonta aos dias de Abraão, e
até mesmo à área deste.

a’) Definição:
É difícil definir o hinduísmo por causa da grande variedade de suas crenças.
Alguns hindus adoram um deus tal como Brahman, ao passo que outros
acreditam num deus pessoal. Alguns são vegetarianos (não comem carne);
outros realmente comem carne. Segundo muitas pessoas, o hinduísmo é uma
religião, ao passo que outros é uma filosofia de vida. Um ex-presidente da Índia
disse que o hinduísmo é mais uma cultura do que um credo. A palavra Hindu
provém de Sindhu, o nome em sânscrito do rio Indu, na Índia. Os hindus
chamam sua religião de sanatana dharma, que significa “religião eterna” ou
“verdade eterna”. Inclui tanto as crenças religiosas como as ideias éticas.

b’) Localização Geográfica:


O dito popular declara que a Índia é o hinduísmo e que o hinduísmo é a Índia. A
verdade, porém, é que milhares de hindus habitam em outras partes do mundo.
Dos povos da Índia, aproximadamente 84% são hindus (Enciclopédia Britânica).
O boletim das Sociedades Bíblicas Unidas declara que cerca de 11,6% da
população da Índia é muçulmana e cerca de 2,4% é cristã.

c’) Origens do Hinduísmo:


O hinduísmo não tem como fundador uma pessoa individual. É, em grande
medida, uma mistura de crenças dos povos que migraram para aquela área. O
povo ariano, por exemplo, migrou para o vale do rio hindu. Seus costumes e sua
religião misturaram-se com as tradições locais e a cultura resultante veio a ser o
“Hinduísmo Clássico”.

Hindus e Árias – a palavra Ária é derivada do sânscrito, com o significado de


“os nobres”. Os árias surgiram da região da Pérsia, num período quando os
reinos locais competiam entre si pelo domínio sobre os demais. Entre 1700 e
1200 a.C., chegaram ao Vale do Indu e conquistaram os habitantes das cidades
daquela área. Os árias falavam um idioma antigo da Índia. Eram divididos em
tribos, comandadas por chefs chamados rajás. À medida que se estabeleciam na
Índia, alguns dos rajás formavam reinos pequenos para si mesmos. Os parentes
arianos que não migraram tornaram-se os fundadores do Império Persa que
floresceu entre os séculos VI e IV a.C. nos tempos modernos, a área tem sido
chamada Irã, a terra dos árias. Essa origem dos povos arianos e confirmada pela
semelhança entre as palavras dos idiomas primitivos.
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Português – Deus – pai


Sânscrito – Deva ou Dyaush – pitar
Grego – Zeus – pater
Romano – Deus – piter
Iraniano – Dia – pidar
Francês – Dieu – pere
Espanhol – Dios – padre
Inglês – God – father

Os árias são chamados caucasianos porque provinham da área das montanhas


Cáucasas. Também são chamados de: o povo indo-europeu, porque alguns deles
foram para a Índia, no Oriente e outros para a Europa, no Ocidente. Levaram
consigo seus deuses, sem amor à família, seus métodos militares, suas histórias
antigas e sua auto-confiança.

O Animismo e o Hinduísmo: o animismo ainda existe no hinduísmo popular, até


mesmo entre as clássies superiores. Por exemplo, é superticioso e acredita na
astrologia, nas maldições, no mau olhado e nos feitiços. A vaca, um símbolo
animístico, é um símbolo sagrado da fertilidade no hinduísmo, e matar uma vaca
é contra a lei. Os hindus também praticam uma reverencia toma a forma de um
ciclo de nascimento, de morte e de novo nascimento.

d’) Quatro Período da História Hindu


Assim como na maioria dos países, a história hindu passou por muitas
mudanças. Essas mudanças seguiram as crenças e a literatura do hinduísmo. É
possível separar a história em duas divisões principais: o Hinduísmo Filosófico e
o Hinduísmo Popular. Nós, porém, examinaremos os quatro períodos segundo os
quais a maioria dos escritores divide a história do Hinduísmo.

- O Período Védico. Esse é o período da invasão ariana desde 2000 até 600 a.C.
Cerca de 1400 a.C., os Vedas, os escritos sagrados dos hindus, foram
compostos. Os mais famosos deles eram chamados de: Upanishadas. Vieram a
ser a origem documentária do hinduísmo clássico e filosófico.
- O Período de Reforma. Nos séculos X e IX a.C., algumas pessoas reagiram
contra os sacrifícios, o sistema de castas, e a reencarnação, ensinada no sistema
védico. A revolta permaneceu por um longo período, mas os escritos do Período
de Reforma provinham principalmente do período de 600 a.C. até 200 d.C.
parece que Deus estava despertando a consciência das pessoas espalhadas por
uma vasta área nos séculos X e IX a.C. em Canaã, havia o conflito entre Jeová e
os sacrifícios ao deus falso, Baal. Elias, e outros profetas desafiaram os Baalins
e comprovaram que o Deus de Israel era Deus verdadeiro. No século IV a.C., o
Imperador Grego estendeu-se até a Índia e provocou outra mistura de povos e
crenças. Seguiu-se, então, o Império Romano, com suas próprias formas de
idolatria. Todas essas mudanças preparavam o caminho para Cristo, o
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cumprimento dos sacrifícios, das promessas dos profetas e das ideias da


filosofia.

- Período Clássico. Mais uma vez, houve coincidência parcial dos períodos da
história, com relação aos ensinamentos e aos escritos. O Período Clássico do
hinduísmo durou cerca de 200 a.C. até 1000 d.C. os deuses foram reduzidos a
Trimurti ou três modos de deuses: Brahma, Shiva e Vishnu. Essas ideias foram
debatidas em todo o Oriente Médio cerca de 200 d.C.

- Período Bhakti. O período Bhakti (devoção) do Hinduísmo Popular (1000-


1750 d.C.) era notável pelo retorno ao politeísmo. O Islamismo surgiu no século
VII e espalhou-se até a Índia. No início do século XVI, o siquismo desenvolveu-
se das raízes do Hinduísmo. Tanto o islamismo quanto o siquismo influenciaram
os ensinamentos dos hindus.

e’) Características
Tolerância. O Hinduísmo é, provavelmente, a mais tolerante de todas as
religiões. Suas crenças, assim como seus deuses, são incontáveis. Abrangem
variações desde o animismo simples até algumas das filosofias mais nobres do
homem. O hinduísmo aceitou deuses maiores e menores, com seus respectivos
templos e sacerdotes. Quando brotaram as correntes do jainismo e do budismo, o
hinduísmo abriu as suas portas e permitiu que fossem afluentes do rio principal
do pensamento hindu. O hinduísmo, no entanto, não tem sido uma religião
missionária tal como o islamismo ou o Cristianismo. Cresce absorvendo todas as
demais religiões. Esta atitude tem por base a tradição do povo ariano, que
revelava amplo interesse pelas questões mais profundas da vida: a realidade, o
homem de Deus.

Os hindus dizem: “Que os outros se transformem; nós não temos essa


necessidade”. Com isso, querem dizer que, ao invés de adaptar-se às religiões
provenientes de fora, o hinduísmo simplesmente absorve em si mesmo as
demais religiões. Alguns de seus hinos demonstram que os árias entraram na
Índia, livres e fortes. Acabaram ficando fracos atados à roda da casta e das novas
encarnações. Introduziram o politeísmo, com deuses das tempestades, do sol, da
lua e do solo. Os hindus acrescentaram centenas de outros deuses. Os árias
sacrificavam em lugares abertos; os hindus reagiram, fornecendo templos para
os sacrifícios. Hoje, o sistema ariano é coisa do passado, ao passo que o
hinduísmo é uma das maiores religiões do mundo.

f’) Características Sociais


O Sistema das Castas. O Sistema das castas é exclusivo da religião hindu. Trata-
se da separação dos hindus em vários níveis sociais. Desde a história primitiva
do hinduísmo, tem havido quatro divisões principais entre as castas. Cada
249

membro deve manter-se na casta que herda e não associar-se a outras castas. As
quatro castas são:
9. Brahmans, a classe sacerdotal e intelectual;
10. Kshatriyas, os governantes e guerreiros;
11. Vaisyas, os agricultores e artesãos;
12. Sudras, a classe mais baixa de trabalhadores.

A origem do sistema das castas provém de uma tradição hindu de que Brahma
criou Manu, o primeiro homem. De Manu surgiram os quatro tipos de pessoas. Da sua
cabeça surgiram os Brahmins, o povo mais santo. Das suas mãos surgiram os
governantes e os guerreiros. Da sua coxa surgiram os artesãos. Dos pés de Manu
surgiram os Sudras. Os hindus, portanto, acreditam que o sistema das castas provém de
Deus. No decurso do tempo, o sistema das castas tornou-se mais complexo. Agora, há
cinquenta e oito castas com mais de um milhão de membros cada uma delas, além de
outras 2000 subcastas. Além disso, cerca de cinquenta milhões de pessoas ou mais, são
chamadas párias (sem casta), Harijans, intocáveis ou legalmente, as “classes arroladas”.
O sistema das castas foi declarado ilegal pelo governo da Índia, mais ainda continua
fazendo parte da sociedade indiana.

Quatro etapas da vida. Os hindus dizem que há quatro etapas na vida:

 O Estudante – Na etapa do estudante, os meninos hindus recebem um fio


sagrado que passa por cima do ombro e ao redor do corpo. Devem estudar com
diligencia os Vedas;

 Chefe de Família – Na segunda etapa, o homem amadurece e cria a sua família.


Passa mais tempo com sua esposa e filhos, devendo ser bom trabalhador e
hospitaleiro;

 O Aposentado – Nesta etapa, ainda pode morar com a esposa, mas passa muito
tempo em meditação na floresta;

 O Sábio Santo – Nessa etapa, o homem deixa a sua família e anda pelas estradas
da Índia como homem santo.

As Mulheres: as quatro etapas da vida são apenas para os homens da sociedade. As


mulheres devem ficar em casa sob o controle e a proteção do homem principal do lar.
Nunca devem separar-se do marido, do pai, nem dos filhos, o que seria uma vergonha
para as duas famílias. As mulheres estão destinadas a dar à luz e criar filhos, e são a luz,
a riqueza, a beleza e o esplendor do lar. Este é o ideal dos hindus; que é criticado por
alguns porque as mulheres não recebem direitos iguais aos dos homens na sociedade.
250

3 – Crenças Do Hinduísmo

A Índia é uma nação com uma grande variedade de crenças. Quem a estuda é como uma
pessoa que nada num vasto oceano de ideias. Certo escritor disse: “Os únicos aspectos
unificantes do hinduísmo são o caráter indiano da fé, e a reverência universal à vaca!”
Para nosso estudo, escolheremos uns poucos tópicos para podermos avaliar e comparar
com outras religiões.

a’) O Conceito Hindu da Deidade

7. Significados. Há algumas formas da palavra Brahman que podem dar origem a


confusões e que devemos esclarecer. Todas se derivam de uma palavra em sânscrito
brahamanas, que significa uma “oração”. Os escritos sagrados védicos são
Brahamanas. Brahma, uma palavra masculina, é o deus criador. Brahman é uma
palavra neutra; não é nem masculina nem feminina. Brahman é considerado a
realidade primordial e derradeira. Os Brahmanismo são a religião da Índia nos
tempos dos Upanishadas e do budismo. Os Brahmins são sacerdotes de alta casta e
posição social.

8. A Criação. Os Upanishadas (um escrito hindu reacionário) adotam o conceito de


que o universo foi feito de matéria que já existia. Uma escritura hindu original, o
Rig-Veda, no entanto, declarou que o mundo veio do nada. Esse conceito é
semelhante ao relato bíblico de Hebreus 11.3: “os mundos pela palavra de Deus
foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente”.

9. Mudanças. No decurso da sua longa história, o hinduísmo tem mudado seus


conceitos de deus ou da deidade. A partir do seu início no animismo, avançou para
o politeísmo, passou para um sistema de um deus tríplice e voltou para o
politeísmo. Segundo os Vedas, os árias trouxeram com eles os seus deuses. Varuna
era deus do espaço e da justiça. Visvarkarmen era aquele que fez todas as coisas, e
Surya era o deus sol. Indra era o deus das tempestades, das nuvens e das chuvas, o
governante da atmosfera. O Rig-Veda tem 250 hinos a seu respeito. Um dos hinos é
reproduzido abaixo.

Indra segurou firme o mundo ameaçado pelos demônios.


Matou os demônios com um raio, com o qual também
feriu as nuvens. Fez as águas descerem das nuvens do céu.
Ó, tu que manejas o raio, ó sábio, lança todas as armas
contra nossos inimigos. Aumenta o poder e a glória dos árias.

10. O Monismo. Cerca de 600 a.C. a filosofia do monismo tornou-se popular. Trata-se
da crença de que não há diferença entre alma e Brahman, a grande Alma do
Universo. Conta-se uma estória a respeito de um menino, cujo pai lhe ordenou que
colocasse sal num tigela. E assim foi deixado o sal durante a noite. No dia seguinte,
251

o pai mandou o menino trazer o sal, mas o filho não o achou, porque já havia se
dissolvido. O pai disse que, da mesma maneira, a alma dele e o Brahman são a
mesmíssima coisa. Arrematou com a declaração famosa: “O sal é o Próprio-eu:
você é o sal”.

11. O Dualismo. Durante o Período da Reforma, a filosofia do dualismo opunha-se à


doutrina védica. Como nos Upanishadas, procurava descobrir a Deus à parte dos
sacrifícios e dos sacerdotes. Tratava-se, porém, da teoria de que a alma humana
(atman) e Brahman são duas entidades separadas, e não uma unidade inseparável. O
sal dissolvido na água continua sendo salobre, e diferente da água comum.

12. Brahman. A única realidade, segundo os Upanishadas, é o deus Brahman. Brahman


é eterno, sem passado, presente, nem futuro, infinito, assexual e totalmente
impessoal. Todos os demais seres do universo inteiro são uma expressão de
Brahman. Mesmo assim, Deus não é considerado como pessoa, mas como um
princípio do universo. Nessa condição, Ele é o seu universo; essa doutrina é o
panteísmo. O Upanishada Maitri diz: Verdadeiramente, no princípio deste mundo
havia Brahman, o ilimitado, sem limites para o leste, para o norte e em toda
direção. Aquela alma suprema é incompreensível, não nasceu, não se pode
conceber dela, e não se pode raciocinar a respeito; sua alma é o espaço.

13. Vishnu. O terceiro deus do Trimurti é Vishnu. É conhecido como um deus de amor,
de graça e de perdão. Declara-se que ele já apareceu nove vezes na terra e que virá
uma décima vez, na última vez, para pôr fim ao mundo. Os seguidores de Vishnu
são célebres pelo seu profundo amor ao seu deus. Cânticos são escritos para louvá-
lo. Kabir e Nanak, fundadores do Siquismo, eram poetas da seita Vishnu. O
Bhagavad-Gita, o grande poema hindu, declara que Krishna era o avatar
(encarnação) de Vishnu. Ele é o deus do movimento Hare Krishna. A partir do
século XV, esse movimento espalhou-se em redor do mundo. Mediante o estudo, o
entoar de mantras de Krishna e a meditação, seus membros esperam atingir a
“consciência de Krishna”.

14. Lugares e Pessoas Sagradas. Nos tempos arianos, o culto era realizado ao ar livre,
mas posteriormente, templos eram edificados para os deuses. Visto que se pensava
que os deuses habitavam nas montanhas, muitos templos foram edificados segundo
o estilo de um lar nas montanhas. Uma imagem, o símbolo da presença divina,
estava no centro de uma torre, com muros em redor. O culto que prestam tem
muitas cerimônias, inclusive o lavar dos pés, o enxaguar da boca, o banhar-se e
uma refeição. Tocam sinos, cantam hinos e queimam incenso com o
acompanhamento de música ritualista. A adoração não é congregacional, mas sim,
individual. Os professores, sacerdotes, gurus e ascéticos (sadhuns) são as pessoas
santa no sistema do culto.
252

Os lares hindus contém um lugar para o santuário. Nele, há as imagens e as


primeiras pinturas das deidades e um mandala, um quadro simbólico do universo.
Os adoradores usam fogo e água para a purificação e colocam comida, incenso e
flores perto do santuário.

Os festivais hindus são realizados de acordo com a estação. Holi é um festival


popular da primavera, em homenagem a Krishna. As questões das castas e dos
tabus são deixadas de lado, a fim de que haja um período de alegria geral. Divali é a
festa das luzes, do outono, em homenagem a Kali e Lakshmi.

15. A Vaca Sagrada. As pessoas frequentemente perguntam: “Os hindus adoram as


vacas?” Algumas pessoas pensam que as vacas ficam soltas para se desgarrarem
sozinhas, sofrendo e passando fome, pelas estradas secas da Índia. Os hindus
negam semelhante ideia. Mahatma Gandhi, falando a favor da proteção às vacas,
disse que a vaca é: fato central do hinduísmo, a crença concreta que todos os hindus
têm em comum. Por meio da vaca, o homem é ensinado a reconhecer sua união
com tudo quanto tem vida. Ela é mãe para milhões de indiano, uma poesia de
misericórdia e o símbolo vivo da generosidade outorgado a toda a humanidade.

Alimentar uma vaca é, para os hindus, um ato de adoração. O esterco da vaca é


usado como combustível, revestimento de assoalho, cimento e remédio. Até mesmo
sua urina é usada nos ritos da purificação.

b’) O Homem

O hinduísmo faz uma conexão entre a religião dos homens e a crença hindu a respeito
da realidade do homem e do pecado.

Três Partes do Homem. Reconhecemos três partes da existência do homem: a mente, o


sentimento e as ações. As várias religiões enfatizam de modo diferente esses conceitos.
O brahmanismo enfatiza a mente. Diz que os problemas do homem provêm de um erro
no seu pensamento. Diria que o pensamento do homem esta em falta e não que o
homem tem pecado em sua vida. O ensino do jainismo, no entanto, enfatiza as ações das
pessoas. O homem deve agir de tal maneira que evite a sujeita – a pecaminosidade vil –
do mundo. Um terceiro ensino, o budismo, enfatiza o erro no sentimento do homem,
Seus desejos devem ser mantidos sob controle; senão, eles os inundarão de desgraça.
Essas três ênfases diferentes – o pensamento, o sentimento e a ação – ajudam-nos a
perceber como essas religiões relacionam-se entre si.

O Homem e o Pecado. Os hindus acreditam que o homem é uma reflexão de Brahman.


O homem não é um próprio eu separado. Por isso, não tem valor próprio. Ações erradas
não são pecados contra um Deus santo. São principalmente o resultado da ignorância ou
da falta de seguir as cerimônias das sua casta, provocando na vida humana problemas
no seu ciclo de reencarnações. Se ele tiver bons pensamentos, boas palavras e boas
253

ações, no entanto, obterá bom karma. Mesmo assim, nunca sabe o resultado, porque está
no ciclo da reencarnação. Está preso a um fatalismo desconhecido e sem esperança.

Maya. Os Upanishadas revelam outro conceito do problema humano. Eles não


mencionam o pecado, tampouco. Pelo contrário, as pessoas sofrem uma maya, a ilusão e
a ignorância. Se o homem está em plena comunhão com Brahman, não tem pecado,
porque Brahman não pode pecar. Quando as pessoas pensam que o mundo presente é
real, desconhecem sua verdadeira união com Brahman. Os escritos dizem: “Aqueles que
adoram a ignorância entram nas trevas que cegam. Ao conhecer a Deus, o homem é
liberto de todos os laços”. As pessoas são informadas de que devem tomar consciência
da ilusão da vida.

c’) A Conduta e o Destino do Homem

Karma. Segundo a crença hindu, o destino da pessoa relaciona-se com a sua conduta. A
salvação depende do karma que a pessoa tem. A origem documentária principal dos
ensinos sobre o karma acha-se nos Upanishadas, a autoridade sebre a doutrina hindu.
Karma significa literalmente “obras” e é vinculado à lei da causa e do efeito. A crença é
que atman (a alma humana) pode unir-se com a Grande Alma, Brahman. Essa união é
realizada mediante o karma que a pessoa tem e esse karma depende das boas obras e da
abnegação. A pessoa controlará seus desejos quando pensar nos efeitos que terão sobre
seu karma. Nesse processo, porém, não há juiz, nem arrependimento, nem perdão.
Trata-se da lei em si mesma. Por meio das boas obras, a alma humana pode merecer
moksha (libertação) do samsara (o ciclo do nascimento, da morte e da reencarnação).

c’.1) A Reencarnação; a crença na reencarnação ou na transmigração é samsara. A


transmigração pode ser explicada da seguinte maneira: quando o homem morre, sua
alma não morre, mas nasce de novo, com uma forma viva diferente. O processo é
repetido, várias vezes sem conta, num ciclo interminável. A nova reencarnação pode ser
superior ou inferior à anterior. Pode ocorrer no céu, no inferno ou na terra. Pode ocorrer
em qualquer forma de vida: humana, animal ou vegetal. Um homem de baixa condição
social pode ser reencarnado como um rajá ou um Brahmin. Ou, pode ficar sendo um
pária, um animal, um besouro, uma minhoca, um legume, uma pedra ou uma alma no
inferno. Alguns hidus acreditam que existem oito milhões e meio de formas diferentes,
nas quais a pessoa pode ser encarnada.

Como o hindu sabe qual forma receberá na próxima reencarnação? Isto segundo a
crença hindu é determinado pela lei do karma. Os pensamentos, palavras e ações da
pessoa nesta vida terão um efeito bom ou mau na vida futura. É a lei antiga: Aquilo que
o homem semeia isto ceifará. Os Upanishadas declaram:

Um Bramin que furta o outro de um Brahmin passará mil vezes


pelos corpos de aranhas, cobras e lagartixas. Por furtar cereais, o
homem é transformado em rato; por furtar frutas e raízes, em
macaco; por furtar uma mulher, um urso; furtar gado, um cabrito.
254

d’) A Salvação

O Caminho Tríplice. Para o hindu, moksha ou “salvação” não é a libertação do pecado e


da culpa por ter violado a lei de Deus. Pelo contrário, é ficar livre da totalidade da
condição humana, que inclui o corpo, o espaço material e o tempo. Além disso, trata-se
de ficar livre do ciclo das reencarnações. Há três caminhos para a salvação: o caminho
das obras, o caminho do conhecimento e o caminho da devoção.

1. O caminho das Obras. Esse caminho da salvação através do dever religioso ou


karma marga. Mediante a prática de certas cerimônias religiosas, os hindus
acreditam que ficam mais perto de serem libertos do ciclo do karma. O processo
continua até que ele seja reencarnado no nível mais alto como um Brahmin.

2. O caminho do Conhecimento. Este caminho é baseado no monismo, a crença de


que a única realidade é Brahman. Essa crença diz que os problemas do homem
provêm da sua ignorância de que ele e Brahman são um. A ideia de que o
homem está separado de Brahman é uma ilusão. Quando o homem possui o
conhecimento de que ele é um Brahman são um, é liberto da corrente da roda do
nascimento, da morte e da reencarnação. Esta libertação advém depois de muita
auto-disciplina e meditação.

3. O Caminho da Devoção. O terceiro caminho da salvação é Bhakti Marga ou


“devoção amorosa”. Este é o tema especial do livro sagsrado, o Bhagavad Gita,
e requer a devoção amorosa a Brahman e a outros deuses. Esta devoção também
liberta do ciclo da reencarnação e prepara a alma para a união eterna com Deus.

Parece-nos estranho que tantas ideias a respeito de Deus possam existir na


mesma religião. Segundo o caminho do conhecimento, ele é uma parte do seu
universo. E isto é panteísmo. Outros despojam Deus de quaisquer qualidades
pessoais e Ele cessa de existir. Isto é ateísmo. No hinduísmo, no entanto, todas
essas teologias existem lado a lado. A escola yoga da filosofia é dualista, mas
seus devotos acreditam em certo tipo de Deus, de modo que também é teística.
Ele não é criador, mas a alma perfeita, que não e afetada pela matéria. Na
filosofia yoga, a mente aprende como assumir o controle sobre o corpo. Quando
isto acontece, a alma é liberta da matéria e une-se com Deus.

4 – Escritos Do Hinduísmo

Os hindus alegam que seus escritos sagrados são os maiores e os mais antigos do
mundo inteiro. Foram escritos no decurso de um período de 2.000 anos, desde
cerca de 1400 a.C. até 600 d.C. podem ser dividido em dois grupos: o Sruti ou
“aquilo que é ouvido”, e o Smriti ou “aquilo que é lembrado”.
255

Os Vedas. Os livros Sruti consistem nos quatro Vedas. Os hindus acreditam que
são as verdades originais reveladas aos videntes antigos. É a autoridade da
religião hindu. A palavra Vedas provém de uma palavra em sânscrito, vid, que
significa “sabedoria ou conhecimento”. Foram escritos no decurso de um
período de 1.000 anos e contém hinos, orações e textos rituais.

Há quatro escritos védico: Rig-Veda, Sama-Veda, Yajur-Veda, e Atharva-Veda.


Cada Veda consiste de quatro partes principais. São os Samhitas (mantras),
Brahman, os Aranyakas e os Upanishadas.

Os Upanishadas. Os upanishadas (700-600 a.C.), nome este que significa


“sentar-se perto de um professor”, formam a parte mais importante dos Vedas.
Também são chamados o vedante ou “o fim dos Vedas”, marcam o início do
Hinduísmo Filosófico. Era uma reação contra o ensinamento védico original
sobre os sacrifícios e o sacerdócio. Descrevem também as doutrinas do karma,
do monismo, de Brahman e do atman (a alma). Os Upanishadas fornecem
pormenores a respeito dos passos do karma.

Assim como a pessoa age, assim ela se torna. O praticante do


bem se torna bom. O praticante do mal se torna mal. Torna-se
vitorioso mediante ações virtuosa, e mau mediante ações más.
Mas as pessoas dizem: “o ser humano é feito não de ações, mas
somente de desejos”. Respondendo, dizemos: “assim como é o
seu desejo, assim é a sua resolução; assim com é a sua
resolução, assim é a ação que pratica; a ação que pratica é aquilo
que procura para si mesmo”.

Smriti. O segundo grupo, os livros Smriti (600-200 a.C), que significa “aquilo
que é lembrado”, não têm a mesma autoridade que os Vedas. São comentários e
poesias que explicam os Vedas, mas também criticam o sistema sacrificial.
Outros livros desse grupo foram escritos durante o Hinduísmo Popular (200- 700
d.C.) para o povo hindu em geral, e contêm regras e práticas. São chamados
Sastras, Remayana e o Mahabharata.

O Bhagavad Gita. Este livro fazia parte do Mahabharata e é o livro mais sagrado
e famoso dos hindus. Conta a respeito de Krishna, o oitavo avatar de Vishnu,
que ensinava a arjuna os métodos de um guerreiro, o caminho da ação (karma) e
da devoção amorosa (bhakti). Krishna é maior do que os deuses védicos. Ele
segura uma montanha em seu dedo para abrigar uma aldeia de uma tempestade
enviada por Indra, o deus das tempestades. No livro Arjuna pergunta a Krishna
como pode matar seus parentes de sangue:

Ó krishna, ao ver estes meus parentes reunidos aqui, desejosos de


lutar, os meus membros cedem, e arde-me a boca. Meu corpo tirita,
256

arrepiam-se me os cabelos, meu arco escorrega-me das mãos, minha


pele se abrasa..... não sou capaz de me manter..... que valem pois
reino, alegria e mesmo a existência? Assim falando no centro do
campo de batalh, Arjuna deixou-se cair no banco do seu carro de
guerra, atirando para um lado o seu arco e as flechas, a alma afogada
em tristeza. (Do texto traduzido por Sodré Vianna).

As Leis de Manu. A principal origem documentária da ética, da lei e dos


costumes dos hindus, o livro das Leis de Manu contem 2.685 versículos.
Provavelmente, remonte ao Século I d.C. ocupa-se principalmente com dharma
ou com os deveres das pessoas. O certo e o errado são determinados pelos
escritos inspirados, pela boa conduta e pela consciência. A ética e o ritual
misturam-se e os sacerdotes precisam passar por doze ritos, pelo menos, desde o
nascimento até o casamento. A bondade, a veracidade, o amor e a ajuda àqueles
que sofrem, são virtudes enfatizadas.

Na lista Smriti há muitos outros livros poéticos, tais como os Puranas, Tantras,
Darsanas, Yoga e Sankara. Contêm ensinamentos e satisfação para o povo
comum. Os Brahmins tinham consciência disso e salvaguardavam para si
mesmos tudo quando podiam, propondo a ideia do Trimurti ou tríade de deuses.

5 – Desenvolvimento Do Hinduísmo

As Influências Modernas no Hinduísmo. Os ensinos do budismo e do islamismo


tiveram alguma influência no hinduísmo. O Cristianismo, no entanto, desde
1750 teve maior influência por causa do domínio britânico na Índia. Numerosos
movimentos de reforma surgiram nos séculos XIX e XX na luta da Índia pela
independência.

O Brahmo Samaj. Este movimento foi fundado por Rammohan Roy cerca de
1830, a fim de excluir o hinduísmo da idolatria e do sistema das castas.
Mediante seu Samaj (sociedade), Roy procurou reformar o hinduísmo,
combinando a ética com os Vedas e os Upanishadas. Os hindus, porém,
aceitavam somente aquelas Escrituras que concordavam com a sua razão. Sendo
assim, a razão humana era colocada em pé de igualdade com os Vedas e a
Bíblia. Por causa desta sua atitude, os movimentos Samaj são fracos e foram
dominados pelos movimentos hindus clássicos.
Sri Ramakrishna (1834-1883). Outro movimento de reforma foi iniciado pelos
ensinos de Sri Ramakrishna. Depois de ouvir um sufi (místico) muçulmano e um
missionário cristãos, chegou à conclusão de que todas as religiões eram
verdadeiras. Não passavam de caminhos diferentes para a união com Deus.
Chamava-se “aquela mesma alma que já nascera como Rama, como Krishna,
257

com Jesus ou como Buda”. Com ele, o hinduísmo foi reavivado e hoje a Missão
de Ramakrishna é a ala missionária do hinduísmo.

Swami Vivekananda. Entre os discípulos de Ramakrishna, surgiu Vivekananda


(l863-1902). Era um orador poderoso e famoso que proclamou ao mundo que
todos os caminhos levam ao mesmo Deus. Ensinava que nenhum hindu deveria
tornar-se cristão, mas que cada um deve assimilar o espírito do outro. Segundo o
seu conceito, o hinduísmo era a única religião que satisfazia completamente.
Vivekananda praticava boas obras ao ajudar os enfermos, os pobres e na
educação das massas.

Líderes no Século XX. Sri Aurobindo (1872-1950) foi um intelectual que


ministrava o hinduísmo com algumas ideias cristãs. Ensinava que um novo
homem de mente superior seria edificado mediante a sua vinda para a raça
humana. Tratava-se de outra forma do gnosticismo ou a salvação pelo
conhecimento. O Dr. Radhakrishman (1888-1975) foi o presidente da Índia em
1958. Ele também procurou misturar o Cristianismo com o hinduísmo e, por
isso, os líderes hindus o criticavam.

Jawaharlal Nehru foi o Primeiro Ministro da Índia, eleito logo quando a nação
ganhou a sua independência em 1947. Era um agnóstico e procurou transformar
a Índia em estado secular. Achava que a religião fazia mal à Índia, mas que a
ciência era a única esperança da nação. Desde então, outros têm procurado fazer
da Índia um estado hindu. Este movimento teve o efeito de impedir a igreja
cristã de ganhar convertidos.

Mahatma Gandhi (1869-1948) foi um político e um ascético religioso que


dirigiu o movimento em prol da independência da Índia em 1947. Reverencia
Cristo e os ensinos cristãos. Dizia que a história da cruz era o exemplo do poder
do amor e da prática da não violência (ahimsa). No fim de um jejum,
frequentemente pedia o hino: “Ao contemplar a Tua cruz” (Salmos e Hinos,
109).
Mesmo assim, acreditava firmemente no Bhagavad Gita. Por ensinar que todas
as religiões levam a Deus, objetava contra os missionários cristãos que
pregavam a conversão. Disse que ninguém devia orar, nem sequer secretamente,
para que alguém se convertesse. “Nossa oração íntima deve ser que o hindu seja
um hindu melhor, o mulçumano, um mulçumano melhor e o cristão, um cristão
melhor”.
Gandhi foi assassinado em 1948 por um membro de um movimento que
acreditava que Gandhi estava traindo o hinduísmo. Certo hindu disse depois:
“Gandhi foi considerado um dos maiores santos que já viveu”.
258

6 – Avaliação Do Hinduísmo

Pontos Positivos do Hinduísmo


Sete pontos positivos de importância para o nosso estudo, são que os hindus:
 Toleram outras crenças;
 Acreditam num ser supremo e onipotente;
 Acreditam na união com o divino numa vida futura;
 Consideram a sociedade mais importante do que cada membro;
 Acreditam que a religião é uma parte vital da vida dos seus seguidores;
 Demonstram reverencia pelos escritos sagrados e não por um fundador;
 Têm mantido união durante mais tempo, do que os seguidores de
qualquer outra religião mundial.

Pontos Negativos do Hinduísmo


Os pontos negativos do hinduísmo são que seus seguidores:
 Acreditam que o ser supremo não tem características pessoais;
 Praticam a idolatria, tanto pública quanto particular;
 Acreditam que sua responsabilidade depende do karma;
 Acreditam que a condição presente do homem é ilusão;
 Alegam que somente a morte pode alterar a condição social da pessoa;
 Praticam extremos de cerimônias vazias e de profunda meditação
pessoal;
 Aceitam o sistema das castas e a condição inferior das mulheres,
deixando os escritos sagrados à disposição exclusiva dos Brahmins.

68 – HUMANISMO

1 – Introdução:

a) O que é Humanismo?

É um movimento renascentista voltado especialmente para as línguas e literaturas


greco-romanas. Formação do espírito humano voltado para a cultura literária e
científica.

A palavra “humanismo” tem muitos significados e, uma vez que autores e


conferencistas geralmente não deixam claro a qual significado se refere, os que tentam
explicar o humanismo podem facilmente gerar confusão. Felizmente, cada significado
da palavra constitui um diferente tipo de humanismo – os diferentes tipos sendo
facilmente separados e definidos através do uso de adjetivos apropriados.
259

2 – Vários tipos de Humanismo:

Portanto, permitam-me resumir as diferentes variedades de humanismo da seguinte


maneira:

1. Humanismo Literário – é uma devoção pelas humanidades ou cultura literária.

2. Humanismo Renascentista – é o espírito de aprendizado que se desenvolveu no


final da Idade Média com o renascimento das letras clássicas e uma renovada
confiança na habilidade dos seres humanos para determinar por si mesmo o que
é falso.

3. Humanismo Cultural – é a tradição racional e empírica que teve origem, em


grande parte, na antiga Grécia e Roma e evoluiu, no decorrer da história
europeia, para constituir atualmente uma parte fundamental da abordagem
ocidental à ciência, à teoria política, à ética e à Lei.

4. Humanismo Filosófico – é uma visão ou um modo de vida centrado na


necessidade e no interesse humano. Subcategorias deste tipo de humanismo
incluem o humanismo cristão e o humanismo moderno.

5. Humanismo Cristão – é definido em dicionários como sendo “uma filosofia que


defende a auto-realização humana dentro da estrutura dos princípios cristãos”.
Esta fé com maior direcionamento humano é em grande parte produto da
Renascença e representa um aspecto daquilo que produziu o humanismo da
Renascença.

6. Humanismo Moderno – também chamado Humanismo Naturalista, Humanismo


Científico, Humanismo Ético, e Humanismo Democrático, é definido por um
dos seus principais proponentes, Corliss Lamont, como “uma filosofia
naturalista que rejeita todo supernaturalismo e repousa basicamente sobre a
razão e a ciência, sobre a democracia e a compaixão humana”. O Humanismo
Moderno tem uma origem dual. Tanto secular quanto religiosa, e estas
constituem suas subcategorias.

7. Humanismo Secular – é uma consequência do Racionalismo e do Iluminismo do


século XVIII e do livre-pensamento do século XIX. Muitos grupos seculares [...]
e muitos cientistas e filósofos acadêmicos sem outra filiação defendem esta
filosofia.
260

8. Humanismo Religioso – emergiu da Cultura Ética, do Unitarianismo e do


Universalismo. Hoje em dia, muitas congregações Unitário-Universalistas e
todas as sociedades de Cultura Ética descrevem-se como humanistas no sentido
moderno.

Os humanistas seculares e os humanistas religiosos compartilham a mesma


visão de mundo e os mesmos princípios básicos. Isto fica evidente a partir do
fato de que ambos, humanistas seculares e humanistas religiosos, assinaram o
Primeiro Manifesto Humanista, em 1933, e o segundo Manifesto Humanista em
1973. Do ponto de vista exclusivamente filosófico, não há diferença entre os
dois. É apenas na definição de religião e na prática da filosofia que os
humanistas seculares e os humanistas religiosos discordam efetivamente.

O humanismo Religioso é “fé em ação”. Em seu ensaio “The Faith of a Humanist”,


Kenneth Phife, de congregação Unitário-Universalista, declara:

“O Humanismo nos ensina que é imoral esperar que Deus aja por nós.
Devemos agir para acabar com as guerras, os crimes e a brutalidade desta
e das futuras eras. Temos poderes notáveis. Temos um alto grau de
liberdade para escolher o que havemos de fazer. O humanismo nos diz que
não importa qual seja a nossa filosofia a respeito do universo, a
responsabilidade pelo tipo de mundo em que vivemos. Em última análise,
cabe a nós mesmos”.

A tradição humanista secular é uma tradição de desconfiança, tradição que remonta à


antiga Grécia. Podemos ver, até na mitologia grega, temas humanistas que raramente
aparecem, se é que aparecem, em mitologias de outras culturas. E eles certamente não
foram repetidos pelas modernas religiões. O melhor exemplo, no caso, é o personagem
Prometeus.

Prometeus se sobressai por ter sido idolatrado pelos antigos gregos com aquele que
desafiou Zeus. Ele roubou o fogo dos deuses e o trouxe para a terra. Por causa disto, foi
punido. E mesmo assim, continuou seu desafio em meio às torturas. Essa é a origem do
desafio humanista à autoridade.

Outro aspecto da tradição humanista secular é o ceticismo. O exemplo histórico disso é


Sócrates. Por que Sócrates? Porque, depois de todo esse tempo passado, ele ainda é
único, entre todos os santos e sábios famosos, desde a Antiguidade até o presente. Toda
religião tem seu sábio. O judaísmo tem Moisés, o Zoroastrismo tem Zaratrusta, o
Budismo tem Buda, o Cristianismo tem Jesus, o Islamismo tem Maomé, o Mormonismo
tem Joseph Smith... Todos afirmam conhecer a verdade absoluta. Foi Sócrates, e
unicamente ele, entre todos os sábios, que afirmou: “SÓ SEI QUE NADA SEI”. Cada
um visou um conjunto de regras ou leis, exceto Sócrates. Em vez disso, Sócrates
forneceu-nos um método – um método para questionar as regras de outros, um método
de inquirição. [...] Sócrates permanece como um símbolo, tanto do racionalismo grego
261

como da tradição humanista que surgiu a partir daí. E, desde sua morte, nenhum santo
ou sábio igualmente considerado juntou-se a ele, nesse aspecto.

O fato de que o humanismo possa, ao mesmo tempo, ser religioso e secular apresenta,
de fato, um paradoxo, mas não é este o único paradoxo. Outro é que ambos colocam a
razão acima da fé, geralmente até o ponto de evitar completamente a fé. A dicotomia
entre razão e fé frequentemente recebe ênfase no Humanismo, com os humanistas
tomando lugar ao lado da razão. Por causa disso, o Humanismo Religioso não deveria
ser visto como uma fé alternativa, mas sim como um modo alternativo de ser religioso.

3 – Objetivo do Humanismo

O humanismo foi um movimento de reação contra o Escolaticismo predominante no


período da Renascença e da Reforma.

a) A Escolástica – veja tópico 17

A Escolástica refere-se à teologia das escolas nos séculos desde a tomada de Jerusalém
pelos invasores Islâmicos (638) até sua retomada pelos Cruzados Cristãos (1099). A
teologia era basicamente trabalho dos monges, cujo estudo da Bíblia, dos pais da igreja
e da literatura clássica fazia parte de sua devoção à vida contemplativa.

A escolástica é a filosofia cristã que se desenvolveu desde o século IX, tem o seu
apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando entra em decadência. Continua
a aliança entre a razão e a fé, aquela sempre considerada a “serva da teologia”. Com
frequência as disputas terminam com o apelo ao princípio da autoridade, que consiste na
recomendação de humildade para se consultar aos intérpretes autorizados pela igreja.

No entanto, a partir do século XI, com o Renascimento urbano, começam surgir


ameaças de rupturas da unidade da igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de
contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras universidades
aparecem por toda a Europa e são indicativas do gosto pelo racional, tornando-se focos
por excelência de fermentação intelectual.

Durante muito tempo predomina na Idade Média a influência da filosofia de Platão,


considerada mais adaptável aos ideais cristãos. O pensamento de Aristóteles era visto
com desconfiança, ainda mais pelo fato de os Árabes terem feito interpretações tidas
como perigosas para a fé.

A partir do século XVIII, Santo Tomás utiliza as traduções feitas diretamente do grego e
faz a síntese mais fecunda da Escolástica, e que será conhecida como filosofia
aristotélico-tomista. Daí para frente a influencia de Aristóteles se fará sentir de maneira
forte, sobretudo pela ação dos padres dominicanos e mais tarde dos jesuítas, que desde o
Renascimento, e por vários séculos mostraram-se empenhados na formação dos jovens.
262

Se por um momento a recuperação do aristotelismo constitui um recurso fecundo para


Santo Tomás, já no período final da Escolástica torna-se um entrave para o
desenvolvimento da ciência. Basta lembrar a crítica de Descartes e a luta de Galileu
contra o saber petrificado da Escolástica decadente.

b) O Termo Humanismo

O termo humanismo é derivado de humanitati, que no tempo de Cícero (106 – 43. A.c.)
designava a educação do homem, enquanto considerava em sua condição propriamente
humana, correspondendo ao sentido da palavra grega “paideia” : a educação por meio
de disciplinas liberais, relativas a atividades exclusivas ao homem e que a distinguiam
dos animais. A autonomia do ser humano é buscada pelos humanistas da Renascença
através de uma volta à antiguidade, a seus métodos e as suas diretrizes pedagógicas.

As chamadas “humanidades” – poética, retórica, históricas, ética e política – passam


desse modo a constituir sob a inspiração dos antigos, a base de uma educação destinada
a preparar o homem para o exercício de sua liberdade.

Liberdade e capacidade humana de atuar sobre o mundo são temas fundamentais dos
humanistas, aparecendo não apenas em pico Della Mirandela, como também em
Gianozzo Manetti (1396 - 1459) em Marcílio Ficino (1433 – 1499), e ressurgindo nos
humanistas franceses posteriores como Charles Bonillé (1475 – 1533). Mais tarde é que
as especulações marcadas pela exaltação da capacidade humana serão contrabalançadas
pela nota de ceticismo que o humanismo assumiria no pensamento de Montaigne (1533
– 1592), de Pierre Charron (1541 – 1603) e de Francisco Sanches (1552 – 1581).

c) Convicção do Mundo Natural

Outro fundamento do humanismo renascentista foi à convicção de que o mundo natural


é o reino do homem. Esse naturalismo conduziu paralelamente à afirmativa do valor
espiritual do homem e que o torna livre, à exaltação do valor do corpo e dos seus
prazeres. Opondo-se ao ascetismo medieval, humanistas italianos, como Lorenzo Valla
(1407 – 1457), retorna às teses do epicurismo (46) antigo de que o bem é o prazer e de
que a virtude consiste num cálculo de prazeres. Em nome do hedonismo, Valla inclusive
recusa a superioridade religiosa da vida monástica: os verdadeiros seguidores de Cristo
seriam os que dedicam suas atividades a Deus, pertençam ou não a ordens religiosas.

O combate ao ascetismo e à vida monástica é empreendido também por Gianozzo


Manetti, Coluccio Salutati (1331 – 1406) e Poggio Bracciolini (1380 – 1459); a
afirmação da naturalidade do homem leva ainda os humanistas a proclamar a
superioridade da vida ativa sobre a contemplativa, e da filosofia moral sobre a física e a
metafísica. “A filosofia moral é, por assim dizer, o nosso território”. Escreveu Leonardo
Bruni (1330 – 1444). A mesma ideia é defendida por Matteo Palmier (1406 – 1475) e
por Bartolomeu de Sacchi (1421 – 1481). Nesse sentido é que o humanismo abriu
caminho para a obra de Maquiavel (1469 – 1527) em muitos aspectos considerado
humanista.
263

O retorno à antiguidade, que inspira o humanismo Renascentista, confere-lhe agudo


senso de historicidade, de que carecia a cultura medieval, constituída em função do
ideal de atemporalidade. A defesa da eloquência dos antigos, por exemplo, resultou para
os humanistas num esforço de recuperação da linguagem genuína da época clássica e
num laborioso empenho para reestruturá-lo de sob as deformações sofridas no decorrer
da Idade Média. Os humanistas redescobrem a perspectiva histórica, fazendo no plano
da temporalidade à descoberta, ao nível do espaço, da perspectiva óptica, pela pintura
Renascentista.

d) Rejeição do Ascetismo

A rejeição do ascetismo e das filigranas teológicas não significou a adoção, pelos


humanistas, de uma posição necessariamente antirreligiosa ou anticristã. O que fazem é
rediscutir temas religiosos, com a providência de Deus e a natureza e o destino da alma,
como objetiva de defender a liberdade humana e a capacidade do homem agir sobre o
mundo e modificá-lo de acordo com suas necessidades. Por outro lado, no exame de
problemas religiosos deram preferencia a dois temas: a função civil da religião e a
tolerância religiosa. A primeira associava-se ao Naturalismo: na obra sobre a Dignidade
e a Excelência do Homem, Gianozzo Manetti defende a tese de que a Bíblia não contém
apenas uma proclamação da felicidade celeste, mas encerraria também uma mensagem e
um programa relativos à felicidade terrena. Por isso mesmo, é que Manetti, como para
Valla e outros, a função fundamental da religião seria relativa à vida civil e à atividade
política.

e) Tolerância Religiosa

A tolerância religiosa constitui o traço típico do Humanismo Renascentista. Nos séculos


posteriores – XVI e XVII – a tolerância resultara de guerras religiosas que acabaram por
determinar a coexistência pacífica de vários credos que, todavia permanecem
distanciados e irredutíveis. A tolerância preconizada pelos humanistas era de outro tipo,
pois sustentada pela convicção de que haveria uma unidade fundamental subjacente às
diversas religiões. Isso implicava ainda a intrínseca identidade entre filosofia e religião.

Perguntava Leonardo Bruni: “São Paulo ensinou algo mais do que foi pensado por
Platão?” Seguindo a linguagem Patrística – a doutrina dos primeiros padres da igreja –
os humanistas consideravam que o cristianismo teria levado à sua plenitude a sabedoria
expressa pelos filósofos antigos: a razão (logos) grega seria uma antecipação do verbo
(logos) que se encarnaria no Cristo.

O retorno às origens significava, assim, para o humanista da Renascença, a possiblidade


de conciliar diferentes concepções filosóficas (como pretende Pico Della Miranda com
o Platonismo e o Aristotelismo) e ainda harmonizá-las com a Cabala, a magia, a
Patrística e a Escolástica. Com isso, poder-se-ia retornar às fontes de diversas correntes
filosóficas e recuperar a paz religiosa que fora destroçada pelas disputas teológicas. A
tolerância religiosa, sustentada por argumentos que já então exprimem o despontar da
264

mentalidade moderna, ressurge como um dos ideais do Humanismo de Erasmo de


Rotterdam e de Thomas More.

4 – A Religião:

4.1 – Crenças e Práticas

a) A Religião

A religião é uma das atividades mais universais conhecidas pela humanidade, sendo
praticada por todas as culturas desde o início dos tempos. Contudo, não há uma
definição de religião universalmente aceita. A religião parece ter surgido do desejo de
encontrar um significado e propósito definitivos para a vida, geralmente centrado na
crença em um ser (ou seres) sobrenatural. Na maioria das religiões, os devotos tentam
honrar e/ou influenciar seu deus ou deuses através de preces, sacrifícios ou
comportamento correto.

Surge a pergunta a respeito do que pode ser incluído no que chamamos de religião.
Podemos, por exemplo, chamar o marxismo-leninismo de religião ou humanismo
(crença na humanidade e na razão no lugar de um deus)? Algumas pessoas poderiam
incluir tais crenças em uma definição moderna de religião como “qualquer coisa à qual
oferecemos devoção absoluta”, contudo, tais crenças normalmente não incluem
qualquer referencia a um ser (ou deus) sobrenatural ou máximo. Portanto, é melhor
descrevê-las como ideologias e não religiões, embora possam compartilhar muitas das
características da religião.

b) Crenças e Práticas

A religião é feita tanto de crenças quanto de práticas.

A teologia (especialmente no Ocidente e em relação ao cristianismo) tende a se


concentrar na crença. Todavia, é importante observar que em algumas sociedades não
há uma palavra para religião. Não se trata de um compartimento separado da vida – é
um modo de compreender e viver a própria vida. Mesmo assim, é possível distinguir
vários aspectos diferentes em quase todas as religiões.

Uma classificação amplamente aceita identifica cinco aspectos: fé, culto, comunidade,
credo e código.

 A Fé é a parte interna da religião; o que as pessoas acreditam seus sentimentos


de temor e reverência, prece individual etc;

 O Culto é tudo que está envolvido na devoção: construções, imagens, altares,


rituais, canções sagradas, reuniões da comunidade e assim por diante;
265

 A Comunidade é o aspecto social da religião: os devotos em uma igreja ou


templo específicos, a denominação ou seita mais ampla, monges e freiras etc;

 O Credo envolve todas as crenças e ideias mantidas pela religião como um todo,
incluindo escrituras e ideias sobre Deus, anjos, o céu, o inferno e salvação;

 O Código envolve o modo que as pessoas se comportam devido a suas crenças


religiosas e inclui éticas, tabus e ideias sobre o pecado e a santidade.

4.2 – Famílias de Religiões;

As religiões do mundo podem ser divididas em dois grupos principais: Primitivos e


Universais.

- Primitivas: incluem as religiões tradicionais da África, Austrália, Oceania, algumas


regiões da Ásia e os povos primitivos das Américas, além das religiões pré-cristãs a
Europa e religiões de outros povos antigos. Essas religiões embora diferentes em
detalhes possuam várias características em comum. Todas elas tendem a ser locais – são
específicas para a tribo ou povo que as praticam – e seus praticantes geralmente não as
consideram relevantes para outros povos. Dessa maneira, muitos dos mitos e histórias
desse tipo de religião lidam com a origem de uma tribo específica. As religiões
primitivas remanescentes (animistas) tendem a depender em grande parte da tradição
oral em vez de escrituras e são geralmente não missionárias;

- Universas: essas religiões acreditam ter importância para todo o mundo e tentam, com
maior ou menor intensidade, converter pessoas. Além disso, em sua maioria,
desenvolveram escrituras que desempenham um papel central na religião.

O Islamismo e o Cristianismo são exemplos característicos desse tipo de religião


universal. Dentro do grupo universal algumas famílias principais podem ser
identificadas. A família Semítica inclui o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, os
quais compartilham de uma base comum histórica e geográfica.

A família indiana é composta do hinduísmo, do budismo antigo, do jainismo e da


doutrina do sikhs.

A família do Extremo Oriente inclui o confucionismo, o taoísmo e o xintoísmo.


Embora, qualquer religião normalmente afirme ter sido inspirada por Deus, é importante
lembrar em situações históricas, geográficas e culturais específicas que influenciam e
moldam a forma tomada pela religião.

Outra forma de classificar grupos de religiões é a distinção entre aquelas com único
Deus (monoteístas) e aquelas com vários deuses (politeístas). As religiões monoteístas
incluem o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. As religiões politeístas incluem o
266

hinduísmo, as religiões primitivas antigas gregas e germânicas e várias religiões


primitivas remanescentes.

4.3 – Arte Renascentista

O termo Renascença foi inventado no século XIX para descrever um período de


renovação intelectual e artística que durou de 1350 a 1550. A característica dominante
deste período foi o desfrutar do interesse pela literatura e arte da antiguidade clássica
por parte dos humanistas dos séculos XIV e XV e a redescoberta do seu passado
cultural pelos artistas. Florença foi o primeiro centro desta redescoberta, que se difundiu
rapidamente a outras cidades italianas e, a partir de 1500, à Europa Setentrional.

Esse florescimento foi acompanhado por uma mudança o status dos artistas – de artesão
para membros honrados de uma sociedade cultural – e contou com um entusiasmado
patrocínio cívico, particular, real e papal. Embora a demanda por pinturas e esculturas
de temas religiosos tenha continuado tão grande quanto antes, o temário expandiu-se e
passou incluir representações mitológicas, históricas e alegóricas.

4.4 – O humanismo originou-se com a Elite da Renascença.

Se o misticismo era uma “teologia de todo o mundo”. Que estendeu a possibilidade de


união íntima com Deus a clérigos e leigos, príncipes e camponeses, homens e mulheres,
indistintamente, o humanismo, por sua vez, foi um movimento de forma que se originou
com a elite intelectual da Europa, tendo sido dominado por ela.

O próprio termo humanismo, hoje tão livremente jogado de um lado para outro, referia-
se nos séculos XV e XVI não tanto a uma filosofia universal de vida quanto a um
método particular de aprendizado com base na redescoberta e no estudo das fontes
clássicas da antiguidade, tanto pagã, isto é, romana e grega, quanto cristã. Dessa forma,
o humanismo do período da Renascença e da Reforma estava muito próximo do que
entendemos por humanidades atualmente. Ad fontes – de volta às fontes! – era o mote
dos estudiosos humanistas, cujo trabalho abriu novas perspectivas na história, na
literatura e na teologia.

Até certo ponto, o humanismo foi um movimento de reação contra o Escolaticismo


predominante naqueles dias. Erasmo, que havia estudado teologia escolástica na
Universidade de Paris, ridicularizou em seu elogio da loucura os requintes
excessivamente minuciosos dos teólogos da época:

Então há os teólogos, grupo notavelmente arrogante e melindroso. [...]. Eles interpretam


os mistérios ocultos como lhes convém: como o mundo foi criado e planejado; por que
canais a mancha do pecado infiltrou-se na posteridade; de que maneira, em que medida
e quanto tempo, cristo foi formado no ventre de Maria; como na eucaristia, os acidentes
podem subsistir sem lugar estabelecido. Mas estes tipos de questões têm sido discutidos
exaustivamente. Há outros tópicos mais dignos de teólogos importantes e iluminados
(como chamam a si mesmos), que podem realmente incitá-los à ação se forem
enfrentados. Qual foi o momento exato da geração divina? Há diversas filiações em
267

Cristo? É uma proposição plausível que Deus pai pudesse odiar seu filho? Poderia Deus
ter tomado a forma de uma mulher, de um demônio, de um burro, de uma abóbora ou de
uma pederneira? Nesse caso, como uma abóbora poderia ter pregado sermões, realizado
milagres e sido pregada na cruz? E o que Pedro teria consagrado se o tivesse feito
quando o corpo de Cristo ainda estava na cruz? E mais, Cristo poderia ao mesmo tempo
ter sido chamado de homem? Teremos permissão de comer e beber após a ressurreição?
Estamos tomando as devidas precauções contra a fome e a sede enquanto há tempo?

Esses sutis refinamentos de minúcias tornam-se ainda argumentos escolástico, tanto que
você sairia mais facilmente de um labirinto do que das tortuosas obscuridades dos
realistas, nominalistas, tomistas, albertistas, occamistas e scotista – e não mencionei
todas as divisões, somente as principais.

Erasmo ainda acrescentou que os próprios apóstolos precisariam da ajuda de outro


espírito Santo se tivessem de debater com “nossa nova geração de teólogos”.

O problema do Escolaticismo não era sua ênfase sobre o aprendizado, mas sim suas
especulações áridas, que levavam mais a um labirinto intelectual do que a uma reforma
da igreja e da sociedade. A filosofia Christi, “filosofia de Cristo”, como Erasmo
chamava seu enfoque da vida cristã, pressupunha a reforma pela educação que
valorizava a retórica sobre a dialética, os clássicos sobre os escolásticos e a ação no
mundo sobre a reclusão monástica.

Em certo nível, a colheita humanista de fontes clássicas levou a uma crítica radical das
instituições eclesiais e da teologia tradicional. Lorenzo Valla (1457) provou, mediante
uma análise linguística, que a chamada Doação de Constantino, um documento no qual
grande parte da reivindicação papal sobre a autoridade temporal estava baseada, era de
fato uma forjadura do século IX. Em outro aspecto, Valla desafiou a tradução
tradicional da palavra grega “metanóia” como “fazer penitência”. Ele demonstrou que o
termo realmente significava “arrependimento”. Referia-se a uma mudança genuína da
mente e do coração, não à atuação ritual requerida pelo sacramento da penitência.

Erasmo incorporou a tradução de Valla em sua edição de 1516 do Novo Testamento


Grego. Por sua vez, Lutero encontrou nessa nova leitura do texto original uma base para
seu ataque frontal à pratica das indulgências. Na primeira das noventa e cinco teses de
Lutero, lemos: “Quando Jesus Cristo, o Senhor e Mestre, disse: arrependei-vos (Mt.
4.17), queria que a vida inteira dos crentes fosse de arrependimento”.

Talvez a contribuição mais positiva dos eruditos humanistas à renovação religiosa do


século XVI tenha sido a série de edições críticas da Bíblia e dos pais da igreja,
amplamente disseminados graças ao sucesso fenomenal da imprensa. O pai da igreja
favorito de Erasmo era Jerônimo, mas a fonte patrística mais influente para a teologia
reformada sem dúvida foi Agostinho. De fato, nos séculos imediatamente anteriores à
reforma, houve algo como uma “renascença Agostiniana”, gerada em parte por um
renovado interesse na teologia de Agostinho dentro da própria ordem agostiniana e pela
atração que Agostinho provocava nos primeiros humanistas, tais como Petrarca, que foi
268

atraído especialmente pelas confissões. Sempre que lia essa obra, ele dizia: “parece-me
que não estou lendo a história de outra pessoa, mas o relato de minha própria
peregrinação”.

O impacto do humanismo na reforma ainda é discutido por especialistas no período.


Sem o apoio anterior dos humanistas a Lutero, principalmente seu aliciamento das
noventa e cinco teses, é duvidoso que o ataque de Lutero contra Roma tivesse-se
tornado a causa célebre que incendiou as mentes e as energias de toda a Europa. Tanto
Zwinglio quanto Calvino estavam imersos nos clássicos, ambos devotos do
Reavivamento humanista do saber, antes de se tornarem reformadores. Essa perspectiva
continuou informando seus estudos bíblicos e seus esforços reformadores em Zurique e
Genebra. Menno, também, que teve um menor treinamento formal do que os outros
também não deixaram de ser influenciado pelo movimento humanista, e citou como
aprovação, diversos escritos de Erasmo. A despeito da importância do humanismo como
uma preparação para a Reforma, a maioria dos humanistas, e principalmente Erasmo
entre eles, nunca alcançou nem a gravidade da condição humana, nem o triunfo da graça
divina, o que marcou a teologia dos reformadores.

O humanismo, assim como o misticismo, foi parte da estrutura que possibilitou aos
reformadores questionar certas suposições da tradição recebida, mas que em si mesma
não era suficiente para fornecer uma resposta duradoura às obsessivas perguntas da
época.

Tendências Humanísticas – veja tópico anterior sobre a Fenomenologia: Crítica ao


Positivismo.

5 – Humanismo em Portugal

O humanismo é o nome que se dá a um período de transição entre a cultura teocêntrica


medieval, em que Deus é considerado o centro do universo, e a valorização da liberdade
de pensamento, das investigações racionais, do gosto pela recuperação das artes
filosóficas da Antiguidade Clássica.

Em Portugal, o Humanismo coincide com um tempo de fortalecimento do Estado,


crescimento das cidades, enriquecimento da burguesia comercial, desenvolvimento das
arte e de centros de estudos filosóficos e científicos. Didaticamente, marca-se o início
do Humanismo em Portugal (1498) com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de
Guarda-Mor da Torre do Tombo.

Exercendo a função de cronista do reino, Fernão Lopes inovou os registros históricos,


escrevendo crónicas que davam conta não só da vida palaciana, mas também noticiavam
o homem simples da população. Fernão Lopes ainda se distingue dos historiadores
portugueses do passado por pesquisar os fatos, não idealizar o comportamento dos
nobres e interessar-se por registrar diferentes versões dos acontecimentos.
269

a) Teatro no Humanismo:

Antes do Humanismo, não havia em Portugal propriamente teatro, pois eram comuns
somente encenações rudimentares de vidas de santos e de passagens bíblicas. Com Gil
Vicente, nasce o teatro português e tornam-se populares suas peças de conteúdo
religioso ou profano, especialmente as que se valem do riso como meio de criticar os
vícios da sociedade portuguesa do final do século XV e início do XVI.

Gil Vicente, sendo um humanista, caracterizou-se por um espírito investigativo


submetendo à crítica o comportamento de juízes, clérigos, moças namoradeiras, nobres,
bacharéis, alcoviteiras, comerciantes e de todos os tipos sociais. No entanto, a
repreensão de Gil Vicente não recai sobre as instituições; ao contrário, o autor chama a
atenção somente para os desvios de conduta dos representantes tanto da Igreja quanto da
nobreza. A absolvição ou condenação desses comportamentos toma por base a moral
católica e, por isso, se diz que Gil Vicente, embora seja um crítico ousado e inovador,
ainda conserva valores medievais.

b) Autores e Obras:

 Paio Soares de Taveirós – não se tem informações seguras a respeito do


nascimento e da vida de Paio Soares de Taveirós. Só se sabe que foi um trovador
pertencente à nobreza do Minho e teria escrito a mais antiga cantiga de amor, em
1189 ou 1198, a cantiga da Ribeirinha.
 D. Dinis (1261-1315) – filho do rei D. Dinis foi coroado rei em 1279 e governou
Portugal por 46 anos. Seu reinado foi marcado não só por guerras contra Castela,
mas também por grande desenvolvimento cultural e pela criação da
Universidade de Lisboa, em 1290. É considerado um importante poeta-trovador
e acredita-se que teria escrito 138 cantigas.

c) Humanismo:

 Fernão Lopes (1380-1460) – são escassas as informações a respeito da vida de


Fernão Lopes. Acredita-se que tenha nascido em Lisboa e seja descendente de
uma família de camponeses. Foi nomeado, em 1418, Guarda-mor da Torre do
Tombo, no reinado de D. João I. Ocupou esse cargo até os 74 anos.

Principal obra de Fernão Lopes:

Crônica del-rei D. Pedro; Crônica del-rei D.João I e Crônica del-rei D.


Fernando.

 Gil Vicente (1465-1536) – é o mais importante escritor do humanismo


português. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal. Talvez tenha nascido em
Lisboa, onde teria estudado. Ao certo, se tem notícia de que, em 1502, comoveu
a rainha D. Maria ao interpretar o Monólogo do vaqueiro, peça que escreveu
270

especialmente para saudar o nascimento de D. João III, filho da soberana. Nesse


momento, iniciou sua importante carreira como dramaturgo. Durante os 71 anos
que imaginam ter ele vivido, o artista organizou festas no palácio real e encantou
com seu teatro religioso ou satírico não só plateias de poderosos, mas também
educou e divertiu gente simples. Para os portugueses, Gil Vicente é sempre
lembrado como um dramaturgo que soube criticar por meio de muita graça e riso
os comportamentos reprováveis de seu tempo.

69 – IDEALISMO
(veja tópico sobre Realismo).

1 – Introdução:

Alguns teóricos tendem a interpretar o pensamento de Parmênides e de Platão como


representantes do idealismo. Como veremos adiante, o idealismo é uma expressão do
pensamento moderno, no momento em que a teoria do conhecimento se torna reflexão
autônoma.

Segundo Garcia Morente, o eleatismo não é idealismo, mas realismo. Quando


Parmênides identifica ser e pensar, não se pode concluir que ele reduz o ser das coisas
ao pensamento, pois em nenhum momento é negada a existência autônoma das coisas
reais. Aliás, toda filosofia antiga é “ingênua” no sentido de aceitar o pressuposto de que
“as coisas são reais”.

O que se deve levar em conta é que naquele momento a filosofia está no seu berço e
Parmênides leva até as últimas consequências o poder recém-descoberto da razão de
procurar entender o mistério do mundo.

Como vimos, Platão rejeita como enganosa a multiplicidade do mundo e privilegia as


ideias como essências existentes das coisas do mundo sensível. Ou seja, a cada
“sombra” do mundo dos fenômenos corresponderia uma essência imutável no mundo
das ideias. Platão confere às ideias uma existência real, portanto, trata-se menos de uma
teoria idealista e mais propriamente de um realismo das ideias. Ou ainda, segundo
outros, de um idealismo objetivo.

2 – O Âmbito do Conhecimento;

Os filósofos gregos tinham uma concepção realista do conhecimento, pois para eles não
era problemática a existência do mundo. O mundo é considerado inteligível, isto é, tudo
no mundo é compreensível pelo pensamento. O conhecimento se faz pela formação de
conceitos, que são verdadeiros enquanto adequados à realidade existente.
271

Na Idade Moderna, a partir de Descartes, o realismo metafísico dos gregos é colocado


em questão. Por que a questão metafísica é antecipada pela questão epistemológica
“como descobrir a verdade?”.

Ao desenvolver o método para evitar o erro e chegar à verdade indubitável, Descartes


encontra Cogito. À pergunta “quem existe?”, responde: “eu e meus pensamentos”. E é
desse ponto de partida que pensa poder recuperar a existência de Deus no mundo.

Com isso, o idealismo se configura como caminho para a procura da verdade que acaba
por restringir o conhecimento ao âmbito do sujeito que conhec

3 – A Origem das Ideias;

Como vimos, a teoria do conhecimento assume na Idade Moderna uma importância


fundamental e primeira. Uma das questões a que surge é quanto à fonte das ideias: qual
é a origem do pensamento? Duas correntes principais se desenvolvem então – O
Racionalismo e o Empirismo.

- O Racionalismo tem seu maior expoente em Descartes, segundo o qual a razão tem
predomínio absoluto como fundamento de todo o conhecimento possível. (Veja Tópico
41 sobre Racionalismo).

- Mas o inglês John Locke, embora de formação cartesiana, critica as ideias inatas e
elaboradas do Empirismo, teoria do conhecimento segundo a qual as ideias derivam
direta ou indiretamente da experiência sensível. (Veja o Tópico 16 sobre o Empirismo).

- No século XVIII Kant tentará superar com o criticismo essas duas posições
antagônicas. (Veja Tópico 12 sobre o criticismo).

4 – O Idealismo Transcendental

A expressão transcendental em Kant significa aquilo que é anterior a toda experiência:


“chama transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos, como de
modo geral, de nossos conceitos a priori dos objetos”. Mesmo fazendo a crítica do
Racionalismo e do Empirismo, Kant segue um processo que redunda em Idealismo, pois
ainda que reconheça a experiência como fornecedora da matéria do conhecimento, é o
nosso espírito, graça às estruturas a priori, que constrói a ordem do universo.

Tal como Copérnico dissera que não é o sol que gira em torno da terra, mas é esta que
gira em torno daquele. Também Kant afirma que o conhecimento não é o reflexo do
objeto exterior: é o próprio espírito que constrói o objeto do saber. Nesse sentido,
dizemos que Kant realizou uma revolução copernicana.
272

5 – O Idealismo Hegeliano.

“O homem tem de viver em dois mundos que se contradizem (...). o espírito afirma o
seu direito e a sua dignidade perante a anarquia e a brutalidade da natureza á qual
devolve a miséria e a violência que ela o faz experimentar. Mas esta divisão da vida e
da consciência cria para a cultura moderna e para a sua compreensão a exigência de
resolver tal contradição.”

(Hegel).

Hegel, tomando como ponto de partida a noção Kantiana de que a consciência (ou
sujeito) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o que se chama de
filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, como vir-a-ser.
Desse ponto de vista, o ser está em constante transformação, donde surge a necessidade
de fundar uma nova lógica que não parta do princípio de contradição para dar conta da
dinâmica do real.

A dialética ensina que todas as coisas e ideias morrem: essa força destruidora é também
a força motriz do processo histórico. A ideia central é a de que a morte é criadora, é
geradora. Todo o ser contém em si mesmo o germe da sua ruína e, portanto, da sua
superação. O movimento da dialética se faz em três etapas: tese, antítese e síntese (ou
seja: afirmação, negação e negação da negação).

A verdade, nesse caso, deixa de ser um fato para ser um resultado do desenvolvimento
do Espírito. Vejamos como isso se opera.

O conhecimento estabelecido a partir de uma realidade dada, imediata, simples


aparência, é chamado por Hegel de conhecimento abstrato, ao qual opõe o
conhecimento do ser real, concreto, que consiste em descrever o modo como uma
realidade é produzida. Conhecer a gênese, o processo de constituição pelas mediações
contraditórias, é conhecer o real.

Hegel, ao explicar o movimento gerador da realidade, desenvolve uma dialética


idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, “mas
é o próprio tecido do real e do pensamento”. O mundo é a manifestação da Ideia, “o real
é racional e o racional é real”. “A história universal nada mais é do que a manifestação
da razão”.

Como ponto de partida do devir, Hegel coloca não a natureza – a matéria – mas a ideia
pura (tese). Esta para se desenvolver, cria um objeto oposto a si, a natureza (antítese),
que é a ideia alienada, o mundo privado de consciência. Da luta desses dois princípios
antitéticos nasce uma síntese, o Espírito, a um tempo pensamento e matéria, isto é, a
ideia que toma consciência de si através da natureza.

Por esse movimento a Razão passa por todos os graus, desde o da natureza inorgânica,
da natureza viva, da vida humana individual até a vida social.
273

Os dois últimos graus (do homem individual e social) são manifestação, num primeiro
momento, do Espírito subjetivo do homem, ainda encerrado na sua subjetividade
(enquanto emoção, desejo, imaginação). Ao Espírito Subjetivo se opõe a antítese do
Espírito objetivo, ou seja, o espírito exterior do homem enquanto expressão da vontade
coletiva por meio da moral, do direito, da política: o Espírito objetivo se realiza naquilo
que se chama mundo da cultura. Essa relação antitética é superada pelo Espírito
absoluto, síntese final em que o Espírito, terminando o seu trabalho, compreende-o
como realização sua. A mais alta manifestação do Espírito absoluto é a filosofia, saber
de todos os saberes, quando o Espírito atinge a absoluta autoconsciência. Por isso Hegel
a chama de “pássaro de Minerva que chega ao anoitecer”, ou seja, a crítica filosófica se
faz ao final do trabalho realizado.

Assim, Hegel propõe um novo conceito de história: o presente é retomado como


resultado de um longo e dramático processo; a história não é uma simples acumulação e
justaposição de fatos acontecidos no tempo, mas é um verdadeiro engendramento, um
processo cujo motor interno é a contradição.

a) Crítica ao Idealismo Hegeliano:

Na juventude, Marx participou do grupo dos neo-hegelianos de esquerda, que tinha à


época, como uma de suas principais figuras, o também alemão Ludwing Feuerbach
(1804-1872).

Discípulo de Hegel. Feuerbach esteve inicialmente sob sua influencia, defendendo-o de


alguns ataques. Mas depois passou a examinar criticamente seu idealismo, qualificando-
o como “especulação vazia”. Defendeu, então, que a filosofia deveria partir do ser
concreto, isto é, do ser humano considerado como um ser natural e social.

Feuerbach tambpem foi um critico das religiões, afirmando que não foi Deus quem
criou os seres humanos, e sim os seres humanos quem criaram Deus, ao projetar suas
melhores qualidades nele. Tratava-se, portanto, de uma posição filosófica tipicamente
materialista.

Essas e outras ideias de Feuerbach teriam grande impacto no pensamento de Marx, que
depois buscou ampliá-las e especificá-las, demarcando seu próprio materialismo.

Assim, em sua crítica ao idealismo hegeliano, Marx afirma que Hegel inverteu a relação
entre o que é determinante – a realidade material – e o que é determinado – as
representações e conceitos acerca dessa realidade. A filosofia idealista seria, portanto,
uma grande mistificação ou farsa, pois pretende entender o mundo real, concreto, como
manifestação de uma razão absoluta. Contrapondo sua filosofia ao idealismo, Marx
afirma na introdução ao livro A ideologia alemã:

As premissas de que partimos não constituem bases arbitrárias, nem dogmas; são antes
bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As nossas premissas
são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência [...].
274

Marx procurou, portanto, compreender a história real dos seres humanos em sociedade a
partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada
posteriormente por Engels de materialismo histórico.

Vejamos então os principais pontos do materialismo de Marx, em que destacaremos as


concepções contrárias ao idealismo de Hegel.

 Materialismo Histórico:

De acordo com Marx, os seres humanos não podem ser pensados de forma abastrata,
como na filosofia de Hegel, nem de forma isolada, como nas filosofias de Feuerbach,
Proudhon e tantos outros que Marx criticou, como Schopenhauer e Kiekegaard.

Para Marx, não existe o indivíduo formado fora das relações sociais. Ele enfatiza esse
ponto ao afirmar: “A essência humana [...] é o conjunto das relações sociais” (Teses
contra Feuerbach, p. 52). Isso significa que a forma como os indivíduos se comportam,
agem, sentem e pensam vincula-se à forma como se dão as relações sociais. Essas
relações, por seu lado, são determinadas pela forma de produção da vida material, ou
seja, pela maneira como os seres humanos trabalham e produzem os meios necessários
para a sustentação material das sociedades. Em A ideologia alemã, escrita em conjunto
com Engels. Marx desenvolve essa reflexão dizendo:

A forma como os homens produzem esses meios depende em primeiro lugar


da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é
necessário reproduzir; mas não deveremos considerar esse modo de
produção deste único ponto de vista, isto é, enquanto mera reprodução da
existência física dos indivíduos. Pelo contrário, já constitui um modo
determinado de atividade de tais indivíduos, uma forma determinada de
manifestar a sua vida, um modo de vida determinado. A forma como os
indivíduos manifestam a sua vida reflete muito exatamente aquilo que são.
O que são coincide, portanto com a sua produção, isto é, tanto com aquilo
que produzem como a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são
depende, portanto das condições materiais da sua produção.

Esse é um ponto fundamental da filosofia de Marx. Ao falar da produção material da


vida, ele não se refere apenas à produção das inúmeras coisas necessárias à manutenção
física dos indivíduos. Considera também o fato de que, ao produzir todas essas coisas,
os seres humanos constroem a si mesmos como indivíduos. Isso ocorre porque, segundo
o filósofo, “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida
social, política e espiritual”.

 Capital e Trabalho

Compreende-se aí a importância que Marx deu à análise do trabalho. Ele reconhece o


trabalho como atividade fundamental do ser humano e analisa os fatores que, no
capitalismo, o tornaram uma atividade massacrante e alienada.
275

Essa demonstração desenvolve-se em vários textos, mas de forma mais rigorosa em O


Capital. Nesse livro, o filosofo expõe a lógica do modo de produção capitalista, em que
a força de trabalho é transformada em uma mercadoria com dupla face: de um lado, é
uma mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; de outro, é a única mercadoria
que produz valor, ou seja, que reproduz o capital.

 Dialética Marxista

Marx também entende o desenvolvimento histórico-social como decorrente das


transformações ocorridas no modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos
princípios da dialética, mas, como afirma no posfácio da segunda edição de O Capital,
“meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta”.

Marx reconhece o mérito de Hegel por ter sido o primeiro a expor as formas gerais da
dialética, mas alega que é preciso desmistifica-la, evidenciando seu núcleo racional.

Na concepção hegeliana, conforme vimos a dialética torna-se instrumento de


legitimação da realidade existente. No pensamento de Marx, a dialética leva ao
entendimento da possibilidade de negação dessa realidade “porque apreende cada forma
existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a
dialética em Marx permite compreender a história em seu movimento, em que cada
etapa é vista não como algo estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode
ser transformado pela ação humana.

De acordo com Marx, as grandes transformações históricas deram-se primeiramente no


campo da economia, causadas por contradições geradas no interior do próprio modo de
produção. Diferentemente de Hegel, no entanto, Marx não concebe uma história que
anda sozinha, guiada por uma razão ou um espírito, mas sim uma história feita pelos
seres humanos, que interferem no processo histórico e possa, dessa forma, transformar a
realidade social, sobretudo se alterarem seu modo de produção.

 Modo de Produção

Modo de produção é a maneira como se organiza a produção material em determinado


estágio de desenvolvimento social. Essa maneira depende do desenvolvimento das
forças produtivas (a força de trabalho humano e os meios de produção, tais como
máquinas, ferramentas etc.) e da forma das relações de produção.

Embora a definição dos modos de produção seja um aspecto complexo na obra de Marx
e entre seus comentadores, lemos em A ideologia alemã a exposição dos seguintes
modos de produção dominantes em cada época: o comunismo primitivo, o escravismo
na Antiguidade, o feudalismo na Idade Média e o capitalismo na Idade Moderna.

A passagem de um modo de produção a outro, segundo o filósofo, acontece no


momento em que o nível de desenvolvimento das forças produtivas entra em
contradição com as relações sociais de produção. Quando isso ocorre, há um
sufocamento da produção em virtude da inadequação das relações nas quais ela se dá.
276

Nesse momento, surgem as possibilidades objetivas de transformação desse modo de


produção.

 Luta de Classes

De acordo com Marx, cabe à classe social que possui, nesse momento, um caráter
revolucionário intervir por meio de ações concretas, praticas, para que essas
transformações ocorram. Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do feudalismo
ao capitalismo, com as revoluções burguesas.

O filósofo sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de classes é o motor da


história, isto é, a luta de classes faz a história se mover. Por isso, no Manifesto
Comunista (1848), escrito em parceria com Engels, Marx afirma:

A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a
história das lutas de classes.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, opressores e


oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionaria da sociedade inteira, ou pela destruição das
duas classes em luta.

De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma classe revolucionária, a qual, em
virtude de suas condições de existência, deve se organizar para, no memento oportuno,
fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe revolucionária seria o
proletariado – que, pela definição do filósofo, é a classe de trabalhadores assalariados
modernos que, destituídos dos meios de produção, se veem obrigados a vender sua força
de trabalho para poder existir.

O pensamento de Marx teria um grande impacto no mundo contemporâneo, em termos


teóricos e práticos, inspirando correntes filosóficas, movimentos operários e revoluções.
E suas ideias, por suas implicações políticas, ainda são objeto de muitos estudos e
acaloradas discussões.

b) Idealismo Absoluto:

No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) concebeu uma


ontologia radicalmente distinta, se não oposta ao materialismo hobbesiano. Para ele, o
mundo seria o desdobramento de um espírito abrangente (ou absoluto) que se estaria
realizando no tempo (ou história). Desse modo, Hegel identificava a ideia ou o espírito
com toda a realidade. Trata-se de um idealismo absoluto, conforme veremos adiante.

 O Real é Racional

Hegel entendia a realidade como um processo análogo ao pensamento. Por isso dizia
que “tudo que é real é racional, tudo que é racional é real”.
277

a) A realidade possui racionalidade ou identifica-se com ela – o mundo é a atuação


ou realização progressiva de uma razão (ou ideia, ou espírito ou absoluto, ou
Deus), presente tanto na natureza como no ser humano e em suas construções
culturais. Portanto, o mundo não é o reino do acaso, onde os fatos se dão de
forma aleatória, mas sim o desdobramento do logos ou espiritualidade racional.
Por isso, “o real é racional”;
b) A razão possui realidade ou identifica-se com ela – se o real é racional,
inversamente a razão não seria apenas um processo abstrato no qual as ideias
equivalem a puras representações ou imagens do mundo, como se costuma
pensar. Elas fazem parte da estrutura profunda do real, de tal maneira que quanto
maior a racionalidade mais forte ou elevada a realidade (noção de que a
quantidade se transforma em qualidade). Por isso, “o racional é real”.

Desse modo, Hegel rompeu com a distinção tradicional entre consciência e mundo,
sujeito e objeto, ideal e real, espírito e matéria. Para ele, a realidade se identificaria
totalmente com o espírito (ou ideia, ou razão), e a racionalidade seria o fundamento de
tudo o que existe inclusive da natureza. O ser humano, por sua vez, constituiria a
manifestação mais elevada dessa razão, que estaria dentro dele e ao mesmo tempo
acima dele, pois a racionalidade cósmica movimentaria o mundo.

 Movimento Dialético do Real

Quando Hegel concebe a realidade como espírito, quer destacar que ela não é apenas
uma substância (uma coisa permanente, rígida). Ela é principalmente um sujeito, um ser
com vida própria, que pode aturar. Portanto, entender a realidade como espírito é
entendê-la nesse seu atuar constante, ou seja, como movimento ou processo, e não
como coisa ou substância inerte. É entendê-la como devir.

Mas como é esse movimento do real? De acordo com Hegel, esse movimento tem uma
característica específica: ele se dá por contradições autossuperadoras contínuas. Isso
quer dizer que cada momento surge do anterior e prepara o seguinte, em um processo de
embate e superação em que sempre o anterior tem de ser negado.

Em seu texto Fenomenologia do espírito, o filósofo usa um exemplo da natureza para


ilustrar esse processo:

O botão desaparece no florescimento, podendo-se dizer que aquele é


rejeitado por este; de modo semelhante, com o aparecimento do fruto, a flor
é declarada falsa existência da planta, com o fruto entrando no lugar da flor
como a sua verdade. Tais formas não somente se distinguem, mas cada uma
delas se dispersa também sob o impulso da outra, porque são
reciprocamente incompatíveis. Mas, ao mesmo tempo, a sua natureza fluida
faz delas momentos da unidade orgânica, na qual elas não apenas não se
rejeitam, mas, ao contrário, são necessárias uma para a outra, e essa
necessidade igual constitui agora a vida do inteiro.
278

Assim podemos ver como a realidade não é estática, mas dinâmica. Os momentos se
contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um
crescente auto-enriquecimento. Esse desenvolvimento, que se faz por meio do embate e
da superação de contradições, foi chamado por Hegel de dialética. Não se trata aqui do
método usado por Platão para pensar e conhecer a realidade, mas sim de uma descrição
do movimento real do mundo.

O movimento dialético se processa em três momentos: o primeiro, do ser em si; o


segundo, do ser outro ou fora de si; e o terceiro (que seria o retorno), do ser para si.
Usando novamente o exemplo do reino vegetal: a semente seria o em si da planta, mas
ela deve morrer como semente para sair, fora de si e poder se desdobrar na planta para
si.

Por motivos didáticos, esses três momentos do real são comumente chamados de tese,
antítese e síntese (embora alguns estudiosos afirmem que Hegel nunca usou essa
terminologia). Como o mover do mundo é contínuo, cada momento final, que seria a
síntese, torna-se a tese de um movimento posterior, de caráter mais evoluído.

Assim, a dialética do mundo pode ser representada como uma espiral, ou seja, um
movimento circular que não se fecha nunca, seguindo evolutivamente em direção ao
infinito.

c) Idealismo Alemão:

Nosso primeiro passo na compreensão do pensamento hegeliano será entender o


movimento filosófico do qual ele participou. Mas o que é mesmo o idealismo?

Como vimos antes, ao longo do livro, uma doutrina é idealista quando concebe a noção
de que o sujeito tem um papel mais determinante que o objeto no processo de
conhecimento. E há vários tipos de idealismo. Platão, por exemplo, costuma ser
considerado o principal idealista da Antiguidade, devido a sua teoria das ideias.
Descartes, por sua vez, expressou plenamente seu idealismo na formulação do cogito. O
mesmo fez Kant, que afirma – na Crítica da razão pura – que das coisas só conhecemos
a priori aquilo que nós mesmos colocamos nelas.

Foi justamente Kant quem assentou as bases dos que ficaria conhecido como idealismo
alemão, pois dizer que das coisas só podemos conhecer a priori aquilo que nós mesmos
colocamos nelas significa que só podemos conhecer o pensamento ou a consciência
que temos das coisas. Para esse filósofo, portanto, a condição última do processo de
conhecer é a existência do eu como principio da consciência. Em outras palavras, é a
existência do sujeito como centro (o eu) que torna possível o conhecimento e lhe dá
forma, pois é o sujeito que organiza o conhecimento do objeto, ao passo que este apenas
se encaixa nos “moldes” da percepção humana.

Pois bem, outro filósofo alemão, Johann Gottlieb Fichte (1726-1814), era um
admirador de Kant, mas achava problemática e separação que ele estabelecera entre a
coisa em si (o chamado noumenon ou número) e a coisa como ela se apresenta para
279

nós (o chamado phenomenon ou fenômeno). Assim, procurando um principio


unificador do real, tomou esse eu de Kant – entendido como princípio da consciência –
e transformou-o em princípio criador de toda a realidade.

Dessa forma, levou ao máximo o idealismo de Kant, construindo uma doutrina segundo
a qual a realidade objetiva seria produto do espírito humano. Isso porque, para Fichte,
trazemos em nós concepções lógicas das coisas do universo e este, necessariamente,
reflete essas concepções lógicas. O filósofo chegou a se referir às coisas da realidade
(ao que é exterior ao ser humano) como o não eu criado pelo eu.

Essa mesma ideia, que pode parecer um tanto estranha para o entendimento comum das
pessoas, é retomada e amadurecida por outro pensador alemão Friedrich Schelling
(1775-1854), assistente de Fichte e seu sucessor. Schelling também procurou explicar
como se dá a existência do mundo real, das coisas, a partir do eu, mas discordou de
Fichte no que se refere à determinação do mundo como puro não eu, ou seja, à ideia de
que a realidade exterior seria produto da concepção do eu.

Para Schelling, existe um único princípio, uma inteligência exterior ao próprio eu que
rege todas as coisas. Essa inteligência se manifestaria de forma visível em todos os
níveis da natureza até alcançar o nível mais alto, isto é, o ser humano ou, mais
geralmente, o que chamamos razão. Trata-se, portanto, de uma noção mais
compreensível ao senso comum, uma vez que guarda afinidade com a ideia de Deus – o
Deus espinosano, mais especificamente.

 Racionalidade do Real

A ideia de uma inteligência, ou espírito, que se manifesta e se concretiza no mundo será


também o ponto de partida da filosofia de Hegel. Colega e amigo mais velho de
Schelling. Como estudamos antes, Hegel entendia a realidade como um processo
análogo ao pensamento. Ele dizia que o real é racional e o racional é real. Em outras
palavras: a) a realidade possui racionalidade ou identifica-se com esta; a) a razão possui
realidade ou identifica-se com esta.

Assim, Hegel rompeu com a distinção tradicional entre consciência e mundo, sujeito e
objeto. Para ele, a realidade se identificaria totalmente com o espírito (ou ideia, ou
razão), enquanto a racionalidade seria o fundamento de tudo o que existe, inclusive da
natureza. O ser humano por sua vez, constituiria a manifestação mais elevada dessa
razão.

 Movimento Dialético

Também vimos anteriormente que, ao conceber a realidade como espírito, Hegel queria
destacar que ela não é apenas uma substância (uma coisa permanente, rígida), mas um
sujeito com vida própria que pode atuar. Portanto, entender a realidade como espírito é
entendê-la nesse seu atuar constante, ou seja, como movimento ou processo. É
entendê-la como devir.
280

Segundo o filósofo, o movimento da realidade apresentaria momentos que se


contradizem, sem, no entanto, perder a unidade do processo, que leva a um crescente
auto-enriquecimento. Trata-se do movimento dialético do real, que se processaria em
três momentos:

a) O primeiro, do ser em si, seria, por exemplo, o momento de uma planta como
semente (tese);

b) O segundo, do ser outro ou fora de si, seria o momento em que essa semente
sai fora, de si, desdobra-se em algo distinto (antítese);

c) E o terceiro, do ser para si, seria o momento em que surge a planta (síntese dos
momentos anteriores).

Esses momentos se sucederiam com um movimento em espiral, ou seja, um movimento


circular que não se fecha. Assim, cada momento final, que seria a síntese, torna-se a tese
de movimento posterior, de caráter mais avançado.

 Saber Absoluto

De acordo com Hegel, para compreender a dialética da realidade é necessário que a


razão se afaste do entendimento comum e se coloque no ponto de vista do absoluto. A
consciência que consegue isso atinge a razão ou o Saber Absoluto, ou seja, supera o
entendimento finito e adquire a certeza de ser toda a realidade. Desse modo, alcança a
unidade entre ser e pensar, harmonizando a subjetividade com a objetividade.

O pensamento de Hegel apresenta-se desse modo, como um grande sistema, que permite
pensar tanto a natureza, ou a realidade física, quanto o espírito, tendo como fio condutor
dessa reflexão totalizante a relação entre finito e infinito.

Nesse contexto, o trabalho da filosofia seria o de superar o entendimento finito e


limitado das coisas finitas e limitado para alcançar o saber absoluto, que é o saber da
coisa em si. Seria o caminhar da consciência rumo ao infinito, a busca da infinitude a
partir da finitude.

Hegel procurou apresentar, em sua obra, o caminho do conhecimento finito ao


conhecimento absoluto, o qual se daria em vários campos do saber, tanto em relação à
natureza como ao espírito.

No que concerne à natureza, rompeu com a visão romântica, que a divinizava,


proclamando a absoluta superioridade do espírito, que se realiza na história dos seres
humanos por meio de sua liberdade.

Em relação ao espírito, o filósofo distinguiu três instancias:

a) O espírito subjetivo – que se refere ao indivíduo e à consciência individual;


281

b) O espírito objetivo – que se refere às instituições e aos costumes historicamente


produzidos pelos seres humanos, expressão da liberdade humana;

c) O espírito absoluto – que se manifesta na arte, na religião e na filosofia como


espírito que se compreende a si mesmo.

 Filosofia e História

Para Hegel, a história é o desdobramento do espírito objetivo. Vejamos por quê.

O espírito objetivo é a realização da liberdade humana na sociedade. Manifesta-se no


direito, na moralidade e na “eticidade”, englobando a família, sociedade e Estado. o
Estado político é o momento mais elevado do espírito objetivo, de modo que o
indivíduo só existe como membro do Estado, conforme afirma o filósofo em Princípios
da filosofia do direito.

A história seria, portanto, o desdobramento do espírito no tempo. A filosofia da história


deve captar o movimento histórico não como momentos estanques, mas do ponto de
vista da razão, do absoluto. Sob esse ponto de vista, a história é uma contínua evolução
da ideia de liberdade, que se desenvolve segundo um plano racional.

Assim, para Hegel, os conflitos, as guerras, as injustiças, as dominações de um povo


sobre outro são compreendidos como contradições ou momentos negativos que
funcionam como mola dialética que move a história. No plano da dialética hegeliana,
esses momentos correspondem à antítese, que se contrapõe à tese, fazendo surgir uma
etapa superior, que seria a síntese.

Portanto, se para o filósofo tudo que é real é racional, e tudo que é racional é real –
como vimos antes – todas as coisas existentes, mesmo as piores, fazem parte de um
plano racional e, portanto, têm um sentido dentro do processo histórico. Esse conceito
hegeliano recebeu inúmeras críticas, já que pode levar a certo conformismo ou a uma
passividade diante das injustiças sociais.

 Legado de Hegel

Entre os seguidores de Hegel, houve uma divisão em dois grupos: neo-hegelianos de


direita e neo-hegelianos de esquerda, que fizeram ajustes em aspectos de sua filosofia de
modo a adequá-la a seus projetos políticos.

Mas a profundidade de seu pensamento e a radicalidade de seus conceitos despertaram


reações extremas e diversas, algumas delas tão revolucionárias que levaram a novas
maneiras de fazer e pensar a filosofia, como nos casos de Marx e Nietzsche.
282

70 – ILUMINISMO

1 – Introdução:

O Século XVIII é marcado pelo conjunto de ideias do movimento conhecido como


Ilustração que se espalha por toda Europa. A explosão das “luzes” foi preparada nos
séculos anteriores com o Racionalismo Cartesiano, revolução científica, o processo de
laicização da política e da moral.

Segundo Kant, um dos mais notáveis representantes da Anfkläung alemã, o homem


iluminista atingiu a maioridade e, como dono de si mesmo, confia na sua capacidade
racional e recusa qualquer autoridade arbitrária. Exalta a ciência e deposita esperança na
técnica, instrumento capaz de dominar a natureza. Seu otimismo transparece na
convicção de que a razão é fonte de progresso material, intelectual e moral, o que leva à
crença e confiança na perfectibilidade do homem, em síntese, pela razão universal o
homem teria acesso à verdade e à felicidade.

A difusão dessas ideias na França foi facilitada pela ampla produção intelectual dos
filósofos conhecidos como enciclopedista, tais como Diderot, - D’Alembert e Voltaire e
outros, embora, politicamente, a França se encontrasse atrasada com relação aos
avanços do Liberalismo Inglês, justificado teoricamente pela doutrina de Locke e levado
a efeito pela Revolução gloriosa ainda em fins do Século XVIII.

O Absolutismo da dinastia Bourbon perdura na França até 1789, data da Revolução. Por
isso praticamente durante todo o século XVIII, os franceses visitam a Inglaterra para
admirar suas instituições e elogiar a liberdade de consciência reinante.

2 – A Ilustração:

O século XVIII é conhecido como Iluminismo, século das luzes, Ilustração ou


Anfkläung. Como as próprias designações sugerem tratar-se do otimismo no poder da
razão de reorganizar o mundo humano.

Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a


busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem o tecerá próprio a trama do
seu destino.

O Racionalismo e o Empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o


substrato filosófico dessa reflexão: “Descartes” justifica o poder da razão de perceber o
mundo através de idéias claras e distintas; Locke valoriza os sentidos e a experiência na
elaboração do conhecimento; Hume Levanta o problema da exterioridade das relações
frente aos termos.
283

“Filha emancipada do Cartesianismo, a filosofia do iluminismo deve a Descartes e a


Malebranche – o gosto do raciocínio, a busca da evidência intelectual, e, sobretudo a
audácia de exercer livremente seu juízo e de levar a toda a parte o espírito da dúvida
metódica. ‘Sou, logo penso’ seria de algum modo o “Cogito do filosofo do Iluminismo,
bem próximo do cogito cartesiano”.

Outra influencia importante foi o advento da ciência galileana no século XVII, cujo
método experimental fecundou outros campos de pesquisa, fazendo nascerem novas
ciências.

Como essa ciência é aliada a técnica, faz surgir o modelo de um novo homem, o
homem construtor, o artífice do futuro, que não mais se contenta em contemplar a
harmonia da natureza, mas que conhecê-la para dominá-la.

E, é uma natureza dessacralizada, isto é, desvinculada da religião, que reaparece em


todos os campos da discussão do homem no século XVIII. Tornando-se livre de
qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com bases
em princípios racionais, o homem estende o uso da razão a todos os domínios: político,
econômico, moral e religioso.

a) A exaltação do poder do homem

Segundo Desné, decorre do fato de que “a segurança do filósofo é a segurança do


burguês que deve à sua inteligência, ao espírito de iniciativa e de providência, o lugar
que tem na sociedade (...). a emancipação do homem na qual Kant vê o traço distintivo
do Iluminismo é a emancipação de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade”.

Nesse momento se dá o fortalecimento do sistema capitalista como modo de produção


predominante, o que se exemplifica pela Revolução Industrial, marcada pelo
aparecimento da máquina a vapor em meados do século XVIII, e que introduz o
processo de mecanização das indústrias.

De fato, o século XVIII é o século das Revoluções burguesas: ainda no final do anterior,
em 1688, a Revolução Gloriosa da Inglaterra destrona os STUART absolutistas e, em
1798, os BOURBON são depostos com a Revolução Francesa. Ecos desses
acontecimentos chegaram ao Novo Mundo, movimentos de emancipação como a
Independência dos Estados Unidos, em (1776), a Inconfidência Mineira (1789) e a
Conjuração Baiana em (1798).

Na Inglaterra, os representantes da ilustração são, sobretudo, Newton e Reid, herdeiros


de Locke e Hume.

Na França, surge Montesquieu, Voltaire, Russean. O poder de penetração da Ilustração


na França se deve, sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus filósofos
empenhado em levar “as luzes” a todos os homens.
284

Importante nesse processo é a publicação da Enciclopédia, obra imensa cujos verbetes


são confiados a diversos autores: Voltaire, D’Alembert, Diderot, Helvetins.

Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklärung. É importante acentuar a


especificidade deste “país”, já que não podemos falar em autonomia nacional, pois a
Alemanha não passa, naquele momento, de um agregado de Estados que tem em
comum apenas a língua. (A Unificação Alemã só ocorrerá no século XX).

A economia feudal ainda predominantemente mantém o povo miserável e impedem a


ascensão da burguesia rica e esclarecida. Além disso, a Alemanha se acha extenuada
pela guerra dos “trinta anos”. Só na segunda metade do século XVIII começam a
aparecer sinais da Emancipação Intelectual, sobretudo, na produção literária (Lessing,
Herder, Goethe, Schiller) e musical (os descendentes de Bach – Carl Philipp e Johann
C. -, Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven).

Na filosofia Alemã, as expressões maiores são: Wolff, Lessing e Baumgarten. Mas foi
Kant o filósofo por excelência desse período, criando uma obra sistemática cuja
influencia marcará a filosofia posterior.

b) O Que é A Ilustração?

A Ilustração (Anfklärung) é à saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o


próprio responsável.

A menoridade é a capacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de outro. O


homem é o próprio culpado dessa menoridade quando causa reside não na falta de
entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de
outro. Sapere aude! “tenha coragem de usar seu próprio entendimento!” – esse é o lema
da ilustração.

Preguiça e Covardia são as razões pelas quais uma tão grande parcela da humanidade
permanece na menoridade mesmo depois que a natureza a liberou da condução externa
(naturaliter maiorennes); e essas são também as razões pelas quais é tão fácil para outros
manterem-se como seus guardiões. É cômodo ser menor. Tem-se um livro que substitui
meu entendimento, um diretor espiritual que tem uma consciência por mim, um médico
que decide sobre minha dieta e assim por diante, não preciso me esforçar. Não preciso
pensar se puder pagar: outros prontamente assumirão por mim o trabalho penoso.

Que a passagem à maioridade seja tida como muito difícil e perigosa pela maior parte
da humanidade (e por todo o belo sexo) deve-se a que os guardiões de bom grado se
encarreguem da sua tutela. Inicialmente os guardiões domesticam o seu gado, e
certificam-se de que essas criaturas plácidas não ousarão dar um único passo sem seus
cabrestos; em seguida, os guardiões lhes mostram o perigo que as ameaça caso elas
tentem marchar sozinhas. Na verdade, esse perigo não é tão grande. Após algumas
quedas, as pessoas aprendem a andar sozinhas. Ma cair uma vez as intimida e
comumente as amedronta para as tentativas ulteriores.
285

É muito difícil para um indivíduo isolado libertar-se da sua menoridade quando ela
tornou-se quase a sua natureza (...).

Mas que o público se esclareça a si mesmo é muito perfeitamente possível; se lhe for
assegurada a liberdade, é quase certo que isso ocorra... Sempre haverá alguns
pensadores independentes, mesmo entre os guardiões das grandes massas, que, depois
de terem-se libertado da menoridade, disseminarão o espírito de reconhecimento
racional tanto de sua própria dignidade quanto da vocação de todo homem para pensar
por si mesmo.

Ma note-se que o público, que de início foi reduzido à tutela por seus guardiões, obriga-
os a permanecer subjugo, quando é estimulado a se rebelar por guardiões que, eles
próprios, são incapazes de qualquer ilustração. Isso mostra quão nocivo é semear
preconceitos; mais tarde volta-se contra seus autores ou predecessores. Sendo assim,
apenas lentamente o público pode alcançar a ilustração. Talvez a destruição de um
despotismo pessoal ou da pressão gananciosa ou tirânica possa ser realizada pela
revolução, mas nunca uma verdadeira reforma nas maneiras de pensar. [Enquanto essa
reforma não acontece], nos preconceitos servirão tão bem quanto os antigos, para atrelar
as grandes massas não pensantes.

Entretanto, nada além da liberdade é necessário à Ilustração; na verdade, o que se requer


é a mais inofensiva de todas as coisas às quais esse termo pode ser aplicado, ou seja, a
liberdade de fazer uso público da própria razão a respeito de tudo (...).

A pedra de toque para o estabelecimento do que devem ser as leis de um povo está em
saber se o próprio povo poderia ter-se imposto às leis em questão (...).

O que o povo não pode decretar para si próprio muito menos pode ser decretado por um
monarca, pois a autoridade legislativa deste último baseia-se em que ele une a vontade
pública geral na sua própria. A ele incube zelar para que todas as melhorias, verdadeiras
ou presumidas, sejam compatíveis com a ordem civil; fazendo isso, ele pode deixar aos
súditos que busquem eles próprios o que lhes parece necessário à salvação de suas
almas.

71 – IMPRESSIONISMO

Conceito:

Movimento artístico que surge na França, na segunda metade do século XIX, nas artes
plásticas e na música. Constitui-se no marco da arte moderna, com o início da
dissolução da representação figurativa. Em suas paisagens, os impressionistas dão
enorme importância à luz natural e a decomposição das cores. Entre seus expoentes
286

estão os franceses Claude Monet e Edgar Degas. Na música, o francês Claude Debussy
é considerado o pioneiro do movimento.

72 – ISLAMISMO

1 – Definição:

A Arábia é uma das partes mais inférteis da superfície terrestre. Trata-se de uma
península de cerca de 1600 quilômetros de comprimentos por 960 quilômetros de
largura, que consiste em desertos de areia, colinas rochosas e grandes áreas de cascalho
onde apenas os espinheiros conseguem crescer. Apenas uns poucos oásis, produzidos
por nascentes isoladas, oferecem algum alívio na sequidão. Apesar disto, esta terra
pouco prometedora produziu uma das três maiores religiões monoteística do mundo, o
Islamismo. Já nos tempos presente, cresceu até quase um bilhão de pessoas, e sua área
de predominância abrange a maior parte do Oriente Médio e da África do Norte.

O Islamismo enfatiza o sucesso das suas crenças, e, portanto, é uma religião missionária
militante. Com seu domínio sobre os estados petrolíferos muçulmano, está disposto a
conquistar o mundo inteiro. Os muçulmanos acreditam que o Islamismo satisfaz todas
as necessidades religiosas e espirituais do homem. Na fachada das mesquitas de um
milheiro de cidades no mundo inteiro, podemos ver as palavras impressionantes escritas
em letras grandes e destacadas: “Não há Deus senão Alá; Maomé é o seu profeta”.

2 – Conhecendo o Islamismo

2.1 – Definição:

O Islamismo é um movimento religioso fundado pelo profeta Maomé no início do


século VII d.C. A palavra Islam provem da palavra árabe Salam, que significa “entrega,
submissão, paz e dedicação”. O Islamismo é fé em Allah que significa “O Deus”.
Combina o artigo definido árabe al (“o”) com a palavra árabe Illah, que significa
“Deus”. Islam, portanto, significa a “paz perfeita que provém da verdadeira entrega a
Alá”. Os adeptos do Islamismo são chamados Muslins (aportuguesado: “muçulmanos”),
termo este que é derivado de Islam. Querem dizer, com esse nome, que se dedicaram a
um Governante Divino soberano, cuja vontade resolve colocar em prática em todos os
aspectos da vida. Os muçulmanos rejeitam o termo maometano porque consideram que
Deus é o centro da sua fé, e não Maomé. Assim como o Cristianismo, o Islamismo tem
suas raízes no Judaísmo. Mas, diferentemente do Cristianismo, o Islamismo não tem
lugar para a ideia do filho de Deus. O Islamismo é uma religião de profetas, pois
reconhece grandes homens tais como Noé, Abraão, Jesus e Maomé como profetas,
chamados e escolhidos por Deus, mas que nem por isso deixam de ser meros homens.
287

2.2 – Fundo Histórico:

Meca, a capital da Arábia, era uma cidade de comércio num local onde se cruzavam
dois caminhos principais das caravanas. Um passava pela Arábia do norte ao sul, e o
outro se estendia em direção ao leste, a partir da orla marítima ocidental. Meca era o
local onde havia uma grandiosa feira e mercado todos os anos, e as pessoas,
principalmente árabes, vinham de longe para negociarem e para adorarem nos
santuários dos deuses pagãos em Meca. A tribo Quraysh, na qual Maomé nasceu, era
muito poderosa e controlava a adoração pagã em Meca. Muitas pessoas eram animistas
e adoravam deidades nas rochas, árvores e fontes sagradas. Uma das pedras mais
sagradas era a meteorite negra na Caaba em Meca. Uma lenda declara que a pedra caiu
do céu nos dias de Adão. Romarias eram feitas a Meca para adorar as deidades e para
beijar a pedra. Perto da Caaba havia o poço de Zam-Zam, onde segundo acreditava-se,
Hagar e Ismael estabeleceram-se depois de terem sido expulsos por Abraão. O filho de
Abraão, Ismael, foi para Meca, de conformidade com a tradição, e ficou sendo pai de
todos os povos árabes. Os nomes Abraão e Ismael continuam sendo de uso comum entre
os muçulmanos.

Além dos politeístas, moravam também monoteístas na Arábia, mas estes eram
principalmente cristãos e judeus. Muitos comerciantes judeus, refugiados das guerras,
também trouxeram suas mercadorias para a Arábia. Seus livros do Antigo Testamento e
suas tradições orais eram bem conhecidos ali. Os cristãos da Arábia eram na sua
maioria, ignorantes e divididos entre si. Nos séculos V e VI, argumentos doutrinários a
respeito da natureza de Cristo tinham causado facções. Alguns sustentavam que Jesus
era tanto Deus quanto Homem, duas naturezas em uma só pessoa. Outros acreditavam
que Ele era diferente tanto de Deus quando do Homem. Os argumentos eram ríspidos e
generalizados.

Neste meio ambiente nasceu Maomé em Meca, cerca de 570 d.C. seu pai morreu antes
dele nascer, e sua mãe morreu quando ele ainda era menino. Um tio, Abu Talib,
assumiu a responsabilidade de cuidar dele, e viveu em conforto, mas sem riquezas.
Trabalhava como diretor das caravanas de camelos que pertenciam a uma viúva rica,
Khadija. Embora Khadija fosse quinze anos mais velha do que Maomé, ficou tão
impressionada com ele que concordou, quando ele atingiu vinte e cinco anos de idade,
em casar-se com ele. Tiveram dois filhos e quatro filhas, mas somente Fátima
sobreviveu. A tradição declara que, apesar do seu ambiente social, Maomé era fiel e
honesto no seu trabalho. O nome árabe Muhammad (aportuguesado: Maomé) significa
“altamente louvado” e é usado por muitos muçulmanos do sexo masculino em todo o
mundo muçulmano.

Maomé se perturbava com o barbarismo, a embriaguez, o assassinato e os furtos que


existiam ao seu redor. Além disso, no campo da religião, via as crenças, as facções e o
paganismo que prevaleciam. Zayd, um parente, foi expulso da tribo Quraysh porque se
recusou a comer carne oferecida a ídolos pagãos. Isto impressionou Maomé, que
começou a pensar seriamente no único Deus verdadeiro. Achou uma caverna no Monte
288

Hira, a 5 quilômetros de Meca e, sempre quando era possível, nos quinze anos que se
seguiram, ia para lá a fim de meditar e orar. Seu coração ardia com os mistérios do bem
e do mal, e estendia-se em direção a Deus. Ficou grandemente atraído a Allah, o Deus
adorado com verdadeira devoção pelos cidadãos de Meca. Começou a perceber que
Deus era tão tremendo e real quanto a vida e a morte. Deus enchia todo o céu e a terra.
Era o único Deus, sem igual nem rival. Dentro em breve, a partir da sua caverna nas
montanhas, iria ressoar a frase mais importante da língua árabe, o grito que estava para
arregimentar um povo e estender o seu poder até aos fins do mundo conhecido:

La Illa Allah, “Não há Deus senão Alá”.

Segundo a lenda, certa noite ao meditar na caverna, ouviu uma voz dizer: “Recite em
nome do teu Senhor que criou o homem a partir de um coágulo de sangue. Recite: Teu
Senhor é muito benevolente, pois pela caneta ensino aos seres humanos as coisas que
não sabiam”. Maomé foi para casa, cansado após a visão, e contou sua experiência a
Khdija. Ele disse que a visitação provinha do anjo Gabriel. Khadija ficou convicta de
que ele não estava louco, mas que tinha sido escolhido para ser um grande profeta. A
partir de então, dedicou a sua vida à proclamação da mensagem.

Assim como ocorreu com outros fundadores de religiões, Maomé recebeu muita
oposição no início. Em Meca, muitas pessoas temiam que seu monoteísmo extremo
provocasse uma diminuição das somas pagas nos santuários dos templos. Em certo
templo em Meca, havia mais de 360 santuários, um para cada dia do ano. Além disso,
sua doutrina ameaçava estragar o tráfico ilícito e a imoralidade daqueles tempos.
Maomé e seus seguidores foram expulsos de Meca, mas acharam refúgios em Yathrib,
uma cidade cerca de 432 quilômetros ao norte de Meca.

A hejira (“lugar”) para Yathrib em 622 d.C. veio a ser o evento mais importante do
Islamismo, e o ponto de partida do calendário islâmico. Era chamado Anno Hegirae, e o
ano 622 d.C. ficou sendo A.H.I. Posteriormente, o nome de Yathrib foi mudado para
Medina, a cidade do profeta de Deus.

Maomé ficou sendo um político perito, o líder de Medina, e um guerreiro feroz, tudo em
nome de Alá. Quando começou a pregar, esperava ser bem recebido pelo povo judaico,
porque achava que estava proclamando a mesma fé. Considerava que os profetas do
Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento eram muçulmanos, porque se
submetiam a Deus. Louvava os judeus e os cristãos com “povo do livro”, dizendo que
ficariam em segurança no dia do juízo. Os judeus, porém, rejeitaram-no porque dizia
que Jesus era um profeta, e porque tinha ideias inexatas a respeito do Antigo
Testamento. O rompimento final com os judeus ocorreu quando uma judia, Zainab,
convidou o profeta e seus amigos para um jantar, e deu-lhes para comer carne de
carneiro envenenada. Embora Maomé tenha comido uma porção pequena da carne,
sofreu dos seus maus efeitos durante o restante da sua vida, e morreu em idade pouco
avançada.
289

Depois da morte de Maomé, califas ou “sucessores do profeta” governaram a


comunidade e o Islamismo estendeu-se pela Palestina, pelo Egito, pela África do Norte
e pela Pérsia. Vários fatores entraram na expansão rápida do mundo islâmico.
Inicialmente, foi o fato das pessoas estarem prontas para a reforma política e religiosa.
Em segundo lugar, comunidades inteiras foram ganhas pela espada. Em terceiro lugar,
mais recente, a ideia de sucesso instilada nos muçulmanos foi encorajada pela
descoberta do petróleo, e estendeu vastamente o Islamismo.

3 – Crenças do Islamismo

O Iman ou “Fé do Islamismo” baseava-se nos ensinamentos de Maomé depois da sua


morte, e foi compilado por aqueles que foram seus companheiros. A teologia do
Islamismo é simples, mas muitas crenças e práticas foram acrescentadas no decurso dos
anos. Para nossa pesquisa, consideraremos as Cinco Colunas do Islamismo; algumas das
suas doutrinas de destaque; as pessoas e os lugares sagrados; e outras práticas
importantes da fé muçulmana.

3.1 – As Cinco Colunas do Islamismo

As doutrinas mais importantes da fé muçulmana são as Cinco Colunas do Islamismo.


São exigidas da parte de todos os muçulmanos e são continuamente recitadas e
ensinadas.

a) A Profissão de Fé (“Shahadah”):

Todos os muçulmanos professam publicamente Alá como o Deus Único e Maomé como
seu profeta. Embora outros profetas sejam reconhecidos, o maior e o último foi Maomé.
Além disso, os muçulmanos acreditam nos anjos, seres espirituais que cumprem a
vontade de Alá, doutrina esta que foi copiada do Judaísmo. Acreditam na ressurreição
dos mortos e no dia de juízo quando, então, as pessoas que forem fiéis ao Alcorão serão
recompensadas. Aqueles que deixam de obedecer serão castigados no inferno.

b) A Obrigação de Orar (“Salat”):

Os muçulmanos têm o dever de orar em particular e em público. A oração individual


pode ser feita em qualquer lugar. A oração pública é convocada do minarete de uma
mesquita por um muezzin ou “convocador”. Sinos não são usados porque, segundo a
tradição, Maomé sofria dores provocadas por barulhos como de sinos durante suas
visões. A convocação à oração é feita cinco vezes por dia: ao amanhecer, ao meio-dia, à
tarde, ao pôr do sol e depois de escurecer. Há primeiramente, um ritual de purificação
com água ou com areia para quem está no deserto. Os adoradores ficam em pé, voltados
em direção a Meca, e recitam o primeiro capítulo do Alcorão. Depois, ajoelham-se,
sentam-se, e ficam em pé conforme uma fórmula fixa, recitando palavras de oração
290

durante o tempo todo. Um esforço especial é feito para ir até uma mesquita ao meio-dia
da sexta-feira, que é o Dia de Descanso dos muçulmanos, e o Iman ou “líder”, prega um
sermão.

c) A Doação de Esmolas (“Zakat”):

Todo muçulmano é obrigado a dar uma proporção das suas rendas como caridade ou aos
pobres, e contribuir para as despesas da mesquita. A porcentagem varia, e depende se as
rendas eram provenientes do serviço assalariado, da agricultura ou do comércio. Varia
entre 2,5% e 10%, mas é um imposto obrigatório. Outras ofertas voluntárias, chamadas
sadaqa, também podem ser feitas por quem assim desejar.

d) O Jejum de Ramadan (“Sawm”):

Durante Ramadan, o nono mês lunar, todo muçulmano adulto tem a obrigação de
abster-se da comida, da bebida e da atividade sexual. Todos os dias, desde o amanhecer
até o pôr do sol, orações especiais são recitadas e trechos do Alcorão são lidos.
Alimentos podem ser tomados depois do pôr do sol. No fim do mês, é celebrada uma
festa. Visto que o calendário muçulmano segue as fases da lua, as datas mudam todos os
anos.

e) A Romaria a Meca (“Hajj”):

É obrigatório para todo homem adulto que tem condições para tanto, fazer uma romaria
a Meca uma vez na vida. A presença em Meca é exigida em Dhu’l Hijja, o “mês da
romaria”. Centenas de milhares de pessoas vão para lá a pé, de jumento, de camelo, de
carroça, de automóvel ou de avião. É o momento mais brilhante da vida do muçulmano.
Aqueles que foram até lá podem mesmo ter o termo hajj, acrescentado ao seu nome. O
alcorão contém pormenores a respeito de quais roupas usarem e de que se deve fazer em
Meca. Oram diante da Caaba, o santuário sagrado do Islamismo, no átrio da grande
mesquita. Durante os dias da sua permanência ali, os peregrinos visitam Zam-Zam que,
segundo se acredita, é o poço de Hagar e de Ismael. No décimo dia do décimo segundo
mès lunar, o “Festival do Sacrifício” marca o fim da estação das romarias.

3.2– Doutrinas Islâmicas de Destaque

a) O Ser Supremo:

O islamismo apega-se a um monoteísmo rigoroso. Alá é o Deus único, que governa o


universo inteiro. “Não há Deus senão Alá”. Ele forma um contraste com os politeístas
de Meca e com os cristãos que discutiam entre si a respeito de qual papel Jesus
desempenhava na Deidade. Os muçulmanos insistem que há um só Deus, completo,
eterno e indiviso. O Alcorão declara: “Aquele a quem pertence à soberania dos céus e
da terra, Ele não escolheu nenhum filho nem tem qualquer parceiro”. Alá é onisciente e
291

onipotente. “Eis que teu Senhor é Alá, que criou os céus e a terra em seis dias, e então
Ele subiu ao trono”. Os muçulmanos atribuem noventa e nove nomes a Alá para louvar
seus muitos atributos, e os muçulmanos devotos recitam esses nomes, de modo muito
semelhante à recitação do rosário pelos católicos romanos.

Os muçulmanos descrevem outras criaturas chamadas jinn, que ficam à meia distancia
entre os seres humanos e os anjos. São criados do fogo, e alguns são anjos da guarda
para os seres humanos, mas outros são demônios. Iblis, o líder dos jinn, é um anjo caído
que age de modo muito semelhante a Satanás no Livro de Jó. Segundo a lenda
muçulmana, Iblis foi quem provocou a queda de Adão.

b) A Lei (“Shari’a”):

No conceito muçulmano da religião, a lei ou Shari’a, que significa “caminho bem-


conhecido”, é importantíssima. Ao passo que o alcorão fala da compaixão e da
misericórdia de Deus para com os pecadores arrependidos, o Islamismo preocupa-se
com a obediência do que com o perdão. Maomé considerava tanto o Torá quanto o
Evangelho como leis que o homem era obrigado a observar. Segundo a lei Islâmica, é
dever dos fiéis aceitar aquilo que o profeta disse, sem perguntarem como ou por que.
Por isso, qualquer pesquisa sobre a teologia do Islamismo, do tipo que é feita no
Cristianismo, é errada e provavelmente herética. Por essa razão, os estudiosos islâmicos
dedicaram-se ao estudo da lei ou Shari’a.

c) A Predestinação:

Visto que os muçulmanos acreditam firmemente no poder e na soberania de Deus, dão o


passo lógico seguinte, creem na predestinação e no fatalismo. A ideia é que, visto que
Deus reina no universo, sua vontade é soberana. Tudo quanto uma pessoa faz, o bem ou
o mal, bem como seu sucesso ou fracasso, está nas mãos de Deus; Ele planejou tudo de
antemão. O Alcorão diz:

Ele te conhece muito bem, quando Ele te produziu da terra, e quando tu,
ainda no ventre da tua mãe, não tinha nascido. Deus desvia a quem Ele
quiser, e Ele coloca no caminho reto a quem Ele quiser. Tu não terás
vontade de nada, a não ser o que for pela vontade de Deus.

Os muçulmanos não acreditam que uma coisa causa outra; por exemplo, não podemos
dizer que a água nos molha. É somente quando Deus assim quer que nós, estando na
água, ficamos molhados! Essa crença, na sua forma extrema, despoja as pessoas da
liberdade de escolha e, portanto, não são responsáveis pelas suas próprias ações. Não
passam de fantoches nas mãos de Deus. Uma expressão comum dos muçulmanos é
Insh’allah, ou seja: “se Deus assim quiser”. Mas nem todos os muçulmanos levam o
fatalismo tão longe assim. Alguns dizem que Alá, na sua sabedoria e misericórdia,
permite que as pessoas façam escolhas nas áreas em que serão julgadas. Segundo este
ponto de vista, as pessoas têm pelo menos alguma liberdade de escolha.
292

d) A Salvação:

O caminho da salvação é submissão (islam) à vontade soberana de Deus. O Alcorão


ensina que Deus também é o juiz. Adverte os homens sobre o dia de juízo quando,
então, seus atos receberão a justa recompensa. O dever dos homens é reconhecer Deus,
ser gratos pelas suas dádivas, viver de acordo com os seus mandamentos, e esperar que
sejam salvos no fim. Afinal de contas, a salvação está nas mãos de Deus, para dar ou
para recusar. Nenhum muçulmano pode dizer que tem a certeza de que Alá o salvará.
Uma faceta da salvação é a crença de que se um muçulmano morrer numa batalha em
defesa da fé do islamismo irá diretamente para o seio de Maomé. Faremos referência
posterior a esta crença.

e) A Escatologia do Islamismo:

Parece que a escatologia dos judeus e dos cristãos teve efeito profundo sobre Maomé. O
Alcorão diz que quando a pessoa morre, o corpo volta à terra e a alma passa para um
estado de sono até o dia da ressurreição. O anjo de Alá soará a sua trombeta, a terra se
fenderá, e os corpos serão reunidos com suas respectivas almas. Será aberto um livro de
registro da vida de toda pessoa, e cada uma será julgada segundo as suas ações. Todas
passarão por uma ponte estreita, afiada como espada, que atravessa o abismo do inferno.
Os malfeitores cairão para a destruição, mas os muçulmanos atravessarão com
segurança. O céu, no entanto, é um paraíso ajardinado onde os fiéis serão
recompensados com todos os tipos de deleites físicos. Melhor de tudo: verão a Deus. Os
que caírem no inferno sofrerão tormentos.

4 – Outras Práticas Islâmicas

a) Lugares Sagrados:

Mesquitas – Tendo sua origem numa palavra árabe antiga que significa “prostrar-se”, as
mesquitas são lugares de reuniões de adoração. Há grande número de mesquitas na
maioria das cidades das nações do Oriente Médio e do Oriente. Maomé decretou que a
sexta-feira seria o dia oficial de adoração para os muçulmanos, assim como o sábado o é
para os judeus e o domingo para os cristãos. O muezzi (“convocador”) fica em pé num
minarete de uma mesquita e convoca as pessoas à oração cinco vezes por dia. Nos
tempos modernos, sua convocação é frequentemente substituída por uma gravação.

A Caaba – Trata-se de um vasto cubo edificado em redor da pedra negra meteorite;


alegava-se que a pedra da Caaba foi trazida do céu por Gabriel. A Caaba já tinho sido
construída antes dos tempos de Maomé. Nela havia imagens, relíquias pagãs e pinturas.
Certo relato diz que até mesmo continha uma pintura de Jesus e Maria. Agora, é o
centro da grande mesquita em Meca, e é o ponto focal de toda a adoração muçulmana. É
coberta de feltro negro e dourado, e tem uma porta, ornamentada de ouro, que quase
nunca é aberta. Os peregrinos bateram uma trilha em redor dela no decurso das suas
peregrinações para visitar o santuário sagrado.
293

b) Cidades Sagradas:

A cidade mais sagrada no Islamismo, obviamente, é Meca. A segunda cidade mais


sagrada para os muçulmanos é Medina, para onde Maomé fugiu e passou vários anos.
Depois de Medina, a cidade mais sagrada é Jerusalém. Tem uma mesquita, chamada o
Domo da Rocha, edificada sobre uma pedra grande, que dizem ser o local onde Abraão
ofereceu Isaque a Deus.

c) Pessoas Sagradas:

Califas – Depois da Morte de Maomé, os líderes políticos do Islamismo eram chamados


califas. Não recebiam revelações do céu, mas eram guiados pelas palavras do profeta.
Os quatro primeiros califas são chamados os “califas ortodoxos” porque foram eleitos
dentre os primeiros companheiros de Maomé.

Imams – Os líderes na linhagem de descendência de Ali, parente de Maomé, eram


Imams, que significa “exemplos”, ainda existem entre os Shi’itas (Xiitas), e seu dever é
dirigir as orações e fazer exposições do Alcorão na mesquita. Não são sacerdotes; são
membros da comunidade escolhidos por causa da sua piedade.

4.1– A Condição Social das Mulheres

Antes de Maomé, as mulheres tinham uma condição social pouco considerável na


Arábia. Eram considerados escravas ou patrimônio do pai, do marido ou do irmão mais
velho. O marido poderia divorciar-se delas, no momento em que este assim desejasse.
Às vezes as menininhas recém-nascidas eram mortas. Maomé elevou grandemente a
condição social das mulheres, mas não até a posição dos homens. Maomé permitia a
poligamia e ele mesmo foi casado com muitas mulheres, algumas das quais eram viúvas
de muçulmanos tombados nas batalhas. Limitou, porém, o número de esposas dos
muçulmanos a quatro, havendo condições de sustenta-las.

4.2– Tabus Islâmicos

Muitos dos tabus do judaísmo foram adotados pelo Islamismo. A carne de porco e o
sangue são proibidos, mas a carne de vaca, ovelha e cabra é permitida, se o animal for
abatido segundo as regras do Islamismo. A jogatina e o vinho são proibidos, e acredita-
se que foram os muçulmanos que introduziram no mundo o café, como bebida. É
permitido o comércio visando lucros, mas emprestar dinheiro a juros é pecado.

4.3– Jihad, ou Guerra Santa

Maomé ensinou seus seguidores a não tolerarem os pagãos; deviam aceitar o Islamismo
ou ser executados. As caravanas para Meca eram atacadas, dinheiro e convertidos eram
trazidos para o Islamismo. Maomé chamava este tipo de guerra um dever religioso. Até
mesmo os laços de parentesco não eram importantes e num ataque contra uma caravana,
parentes pagãos podiam ser assassinados. Morrer no Jihad ou guerra santa dá ao
294

muçulmano a esperança de ir diretamente ao paraíso. É provavelmente esta a razão do


suicídio de vários fanáticos nos anos recentes, na tentativa de forçarem a vitória para o
seu partido político.

Os ensinos do profeta surgiram numa ocasião oportuna e deram ao mundo árabe um


novo Deus, uma nova esperança e uma nova orientação. Embora possamos duvidar de
alguns dos seus ensinos, sua ênfase na supremacia de Deus é uma verdade importante.

5 – Escritos do Islamismo

Os escritos de Maomé no decurso de um período de cerca de vinte anos foram


compilados no Quran (aportuguesado: Corão ou Alcorão), palavra esta que significa
“recitar”. O anjo ordenou a Maomé para “recitar” as revelações que ouviu. As
recitações em árabe tinham conexão com a adoração, assim como os cristãos e os judeus
recitam suas Escrituras nas ocasiões religiosas. O Alcorão é o escrito sagrado mais lido
e decorado das religiões do mundo.

a) Origem e Reverência:

Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é composto das próprias palavras de Deus.


Maomé disse que as palavras foram faladas no seu ouvido como o badalar de um sino
volumoso pelo anjo Gabriel. As mensagens foram dadas enquanto Maomé estava em
êxtase e quando saía daquele estado, assim como os cristãos e os judeus recitam suas
Escrituras nas ocasiões religiosas. O Alcorão é o escrito sagrado mais lido e decorado
das religiões do mundo.

b) Contradições e Inexatidões:

Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é composto das próprias palavras de Deus.


Maomé disse que as palavras foram faladas no seu ouvido como o badalar de um sino
volumoso pelo anjo Gabriel. As mensagens foram dadas enquanto Maomé estava em
êxtase e quando saía daquele estado, ficava frequentemente num abalo e fraqueza muito
grande. Acredita-se que Maomé tinha um secretário, Zayd, que escrevia as palavras do
profeta em pedacinhos de couro, pergaminho, folhas de palmeiras, pedras e até mesmo
ossos de animais.

Sendo que vários muçulmanos tinham fragmentos dos escritos, o Califa Uthman, depois
da morte do profeta, nomeou uma comissão dirigida por Zyd para compilar uma versão
autorizada do Alcorão. Acabou formando um livro quase do mesmo tamanho do Novo
Testamento. Cada capítulo é chamada sura e possui um título extraído de uma palavra
existente nele. Há 114 suras, sendo que as primeiras foram àquelas produzidas em
Medina, e contêm regras para os muçulmanos e advertências contra os seus inimigos.
As suras posteriores eram as visões, que originalmente foram dadas na caverna nem
Meca. Foram organizadas por ordem de tamanho, excetuando-se uma cura breve, a
Fatihah (“abertura”), que é colocada em primeiro lugar e é uma oração a Deus pedindo
295

orientação, a Fatihah é usada nas orações diárias e em todas as cerimônias religiosas.


Todas as suras, menos uma, começam com as palavras Bismillah alrahman alrahim,
“em nome de Deus o Compassivo, o Misericordioso”.

A reivindicação feita no tocante à inspiração do Alcorão é diferente da Bíblia, porque


Maomé disse que ele não teve nenhuma participação na revelação; era como uma caneta
no processo de escrever. Não alegava que suas mensagens esgotavam a fonte divina.
Outras revelações foram dadas da mesma fonte, tais como o Injil (“Evangelho”) de
Jesus, o Zabur (“salmos”) de Davi, e o Torah (“Lei”) de Moisés. Declarou que cada era
uma revelação verdadeira.

Os muçulmanos tratam com grande reverência o Alcorão como seu livro mais sagrado.
Tomam o cuidado de nunca coloca-lo no chão nem deixar que toque numa substância
impura. A grande ambição é decorar o alcorão inteiro e recitá-lo durante o mês de
Ramadan. Nas escolas de todo o mundo islâmico, o Alcorão é ensinado para crianças, e
muitas delas decoram os seus sons mesmo quando não entendem as palavras. Muitos
exemplares do Alcorão foram escritos com bela caligrafia e artesanalmente
encadernado. Suas palavras são frequentemente usadas para enfeitar mesquitas, escolas,
túmulos e outros edifícios. Alguns usam trechos do Alcorão como amuletos contra
demônios e enfermidade. Sendo que o Alcorão foi dado a Maomé em árabe, era
proibido traduzi-lo. Mesmo assim, exemplares têm sido impressos em outros idiomas.

c) Contradições e Inexatidões:

Um aspecto do Islamismo que causa muita dificuldade aos cristãos acha-se nas
contradições do Alcorão. Por “contradições”, queremos dizer que alguns versículos
cancelam outros versículos. Por exemplo, Maomé originalmente aceitava as crenças
judaicas como semelhantes às suas. Mas quando os judeus o rejeitaram, teve uma visão
especial, depois da qual disse que os outros “perverteram as Escrituras”. Sura 2.150
disse que Maomé devia ordenar que seus seguidores orassem em direção a Jerusalém.
Mas, posteriormente, numa visão, o anjo lhe ordenou que orasse em direção a Meca
(sura 2.125). As visões de Maomé que se alteravam conforme a sua conveniência, não
poderiam ter sido inspiradas pelo Deus que não muda.

Qualquer pessoa que ler o Alcorão notará sua semelhança com a Bíblia, o que
demonstra que Maomé dependia dela para muitos dos seus escritos. Seus discípulos
negavam este fato, declarando que Maomé era analfabeto. A ideia de que ele copiou da
Bíblia as suas visões é ofensiva para os sentimentos religiosos do muçulmano. Em
alguns dos incidentes, porém ocorrem contradições. Escreveu, por exemplo, que Hamã
na história de Ester trabalhava para o Faraó nos tempos do Êxodo (sura 28.38). Os
muçulmanos respondem que o Alcorão apresenta uma visão diferente de Deus, do
homem e do mundo. Se houver contradições, aceitam o Alcorão como certo.

O conhecimento que Maomé tinha de outras crenças podia ter sido obtido das suas
esposas, uma das quais era judia e outra cristão. Mas, já que ele dependia da tradição
oral, era inexata a sua interpretação da doutrina cristã. Em sura 5.77 diz que os cristãos
296

adoram três deuses: Deus, como Pai, Maria, como mãe e Jesus como Filho! O Alcorão
ataca a filiação de Cristo e declara que “Deus nem gera nem é gerado”. Em sura 4.156,
referindo-se a Jesus diz: “Não o mataram nem o crucificaram, pois somente possuíam a
aparência dele. Não o mataram na realidade”. Mesmo assim, o Alcorão declara que
Jesus nasceu de uma virgem, operou milagres, era isento de pecado, foi para o céu e virá
de novo no final.

Sempre haverá perguntas no tocante à origem do Alcorão e às suas contradições; não


deixemos, porém de dar honra a quem honra é devida. Maomé forneceu ao povo árabe
um livro sagrado que tornou os árabes conscientes da majestade e do poder do único
Deus verdadeiro.

6 – Desenvolvimentos do Islamismo

O Islamismo surgiu numa ocasião em que o povo árabe precisava de uma força
unificadora. A Arábia estava dilacerada com o animismo, a idolatria e a imoralidade. O
Império Bizantino estava prestes a desmoronar-se por causa da corrupção e dos abusos
do governo, e o povo persa estava pronto para mudanças.

a) Façanhas Políticas:

Depois da morte de Maomé, os muçulmanos se voltaram para o militarismo, e dentro de


cem anos, conquistaram a Palestina, a Pérsia, o Egito, e varreram a África do Norte. Em
711 entraram na Espanha, e em 732 atravessaram os Pireneus, mas foram derrotados por
Carlos Martel na Batalha de Tours (na França). Se não tivesse havido aquela batalha, a
tradição religiosa da Europa talvez tivesse sido muçulmana, ao invés de cristã. Os
muçulmanos permaneceram na Espanha até o século XV. Nos séculos XI e XII,
varreram a totalidade do Oriente Médio e entraram na Índia, na China, e nas ilhas do
Pacífico. Em 1453, Constantinopla, a capital do Império Bizantino, foi conquistada
pelos turcos otomanos que eram muçulmanos, e a cidade passou a ser chamada
Istambul. A maior comunidade muçulmana hoje acha-se na Indonésia, com pelo menos
150 milhões de adeptos.

b) O Califado:

O califado (governo dos califas) consistiu de quatro califas e durou desde 632 ate 660.
Os califas eram os sucessores de Maomé e governaram como líderes espirituais e
temporais do Islamismo. Foram: Abu Bakr, Umar, Uthman e Ali, os companheiros mais
íntimos de Maomé. Abu Bakr morreu cerca de dois anos após a sua eleição. Umar e
Uthman foram assassinados por radicais. Ali, marido de Fátima, filha do profeta, foi
assassinado por um parente. Os califas que se seguiram a eles reinavam como reis,
transferiram a capital para Damasco e depois para Bagdá. Os califas abássidas reinaram
em Bagdá desde 750 até 1258 com muita pompa e esplendor, e no reinado deles o
Islamismo atingiu sua idade de ouro. Os turcos otomanos, que governaram desde o
297

século XV, usavam o título sultão que o equiparavam a califa. Quando o Império
Otomano se desfez depois da Primeira Guerra Mundial, o califado cessou de existir.

c) Divisões Sectárias do Islamismo

O sucessor de Maomé não poderia ser outro profeta, porque o Alcorão declarava que
Maomé era o “Selo dos Profetas”. Alguns seguidores achavam que o califa deveria ser
escolhido dentre a totalidade da comunidade muçulmana. Outros eram leais à família
Umayyad de Meca. Ainda outros apoiavam o genro de Maomé, Ali. Com a eleição de
Ali, explodiram as tensões dentro do Islamismo. Uma rebelião foi dirigida por dois dos
companheiros do profeta e pela sua viúva, Aisha. Na batalha sangrenta que foi travada,
dez mil muçulmanos foram mortos antes de Ali ganhar a vitória. Pouco depois, no
entanto, Mu’awiya, um parente de Uthman, opôs-se a Ali, e no conflito, Ali foi
assassinado.

Sunnis

Aqueles que insistem em eleger o sucessor dentre os companheiros do profeta vieram a


serem os sunitas. Achavam que os quatro califas originais conheciam a sunna
(“caminho” ou “costume”) do profeta; os muçulmanos, portanto, deveriam seguir o
exemplo deles. Desenvolveu um sistema de lei comunitária, a Shari’a, que mantinha
unido o grupo, desenvolveram-se quatro escolas de lei islâmica, mas todas elas
mantiveram as quatro bases da Shari’a. Estas foram: o Alcorão, a Hadith (“tradições do
Islamismo”), a Ijma (“acordo da comunidade muçulmana”). E as Q’yas (“o uso da
analogia”). Os quatro grupos juntos eram chamados os sunnis (aportuguesado: sunitas).
Ainda é a maior seita, quase 90% da comunidade total dos muçulmanos.

Shi’itas

Outro grupo permaneceu leal a Ali, o genro de Maomé. Os membros eram chamados
Shi’itas (derivados de Shi’a, “partido”). Estes xiitas achavam que todos os califas
deviam ser descendentes de Ali. Um grupo chamado Kharijis ou “dissidentes”, separou-
se dos partidos de Ali, e alguns deles ainda existem em Zanzibar e entre os Bárbaros da
África do Norte. Os Kharijis eram radicais, e diziam que os quem não seguiam o
caminho deles eram piores do que pagãos e que deveriam ser chacinados ao serem
vistos. O próprio Ali foi assassinado por um fanático Khariji. Com a morte de Ali, seu
inimigo Um’awiya ficou sendo califa e sua descendência ficou com o califado durante
quase um século.

O partido xiíta ficou mais forte entre os persas. Consideravam que Ali era o mensageiro
de Deus, e mais importante que o próprio Maomé, até mesmo uma encarnação de Deus.
Declaravam que uma luz divina estava em Ali, e que era transmitida aos descendentes
deste, e que esta luz os conservava livres de qualquer erro ou pecado. Os xiitas usavam
o título Imam para os descendentes de Ali. Depois da morte de Ali, vários grupos
principais reivindicavam apenas sete imas e, portanto, são chamados os dos sete. Os
drusos do Líbano, da Síria, e da Palestina são ismailis, e o Aga Khan é o líder deles
298

hoje. O segundo grupo, os Zaydis, são uma seita menor, que se acha no Iémen hoje. Os
partidários dos Doze acreditam que houve doze Imãs. O décimo-segundo Imã
desapareceu em 878 d.C. Os xiitas acreditam que ele se ocultou e que reaparecerá como
o Mahdi (“o esperado”). Ele trará um período de justiça e de paz antes do último juízo.
Hoje, os Aiatolás são classificados como “dos Doze”.

Sufis

A seita sufi surgiu como reação contra o Islamismo ortodoxo. A palavra provém de suf,
uma peça de vestuário feita de lã grossa, usada por monges e eremitas. Os sufis
surgiram no século VIII como místicos, reagindo contra o mundanismo dos líderes
muçulmanos. Buscavam uma experiência pessoa do Divino, que percebiam no Alcorão
e em Maomé. Dirigidos pelos seus Shaykhs, ressaltam o amor a Deus e o seu amor ao
homem, e esforçaram-se para atingir a união com Deus ou para serem absorvidos nele.
Espera atingir seu alvo mediante o ascetismo, os êxtases e a repetição de um dhikr ou
“nome de Deus”, como a mantra do hinduísmo. Alguns usam a dança ou expressões
vocais sem sentido. Alguns alegam que, ao terem contato com pessoas santas, derivam
delas barakah (“benção ou santidade”). Os sufis acham-se entre os xiitas bem como
entre os sunitas, e sua atração é que combinam a doutrina muçulmana com uma
experiência com Deus. Muitos convertidos ao Islamismo foram ganhos pelos sufins na
África, mas são acusados de fanatismo e de excessos físicos.

Bahais

Grupos sectários continuaram a desenvolver-se no Islamismo. No Irã, no século XIX,


surgiu uma pessoa que se intitulava o Bab ud Din ou “Porta da Fé” e o precursor do
Esperado. Preava reformas religiosas, e tinha muitos seguidores. Mas quando equiparou
seus próprios escritos com o Alcorão, foi acusado de ser herege e foi executado em
1850. Um dos seus seguidores proclamou que era o Esperado. Assumindo o nome de
Baha’ullah (“Blória de Deus”), seu movimento ficou sendo o credo Bahai. Os turcos o
prenderam, mas ele enviou seus escritos para o restante do mundo. Apelou para que
houvesse um conceito amplo da unidade de Deus e para que todas as religiões se
unissem, porque cada uma delas contém algumas verdades e entre elas seu bahaísmo
tem primazia. A seita espalhou-se por todo o mundo islâmico e em outras nações,
inclusive na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Aiatolá

Na segunda metade do século XX houve um movimento em direção às crenças


islâmicas tradicionais. O Xá do Irá queria fazer do seu país o Japão do Oriente Médio,
mas em oposição às suas ideias surgiu entre os líderes religiosos os chamados Aiatolás
(“sinais de Deus”). Aiatolá Khomeini teve que fugir para Paris, mas voltou ao Irã em
1979 e depôs o Xá. Seu regime foi mais repressivo do que aquele do Xá, com inúmeras
execuções e torturas dos seus oponentes. Os bahais foram muito perseguidos, e milhares
deles fugiram do país. A reação dos líderes políticos e culturais islâmicos era impor a
299

lealdade aos princípios do Islamismo e abolir todos os sistemas não islâmicos da


sociedade.

d) A Arte Islâmica

O Islamismo deu ao mundo uma nova forma de arte que deixou sua impressão na
arquitetura de muitos países. Seus desenhos e cores são distintos belos e devem ser
estudados por todo leitor.

e) O Islamismo e Israel

O objetivo principal da ação política muçulmana é destruir o estado sionista de Israel.


Há mais judeus em Israel do que muçulmanos, e é ofensivo para o Islamismo que
Jerusalém seja governado por um estado judaico que ativamente promova o sionismo. A
situação é agravada pelo tratamento rigoroso dos árabes palestinos, e pelo apoio que as
nações cristãs dão a Israel. O novo inimigo é identificado com o velho inimigo, e os
países muçulmanos sentem-se forçados a uma aliança mais estreita contra aquilo que os
iranianos chamam “O Grande Satanás” – os Estados Unidos com seus aliados sionistas.

Lembremo-nos que a religião islâmica forneceu a uma sociedade sem esperança, uma
oportunidade de unir a fé em Deus. Uniu o aspecto espiritual com o aspecto temporal e
ficou sendo uma parte vital da comunidade, da sua cultura, e de todas as facetas da vida.
Agora, o Islamismo estende-se por todos os meios á sua disposição e suas conquistas
são significantes, especialmente na África além do Saara. Tanto o Islamismo quanto o
Cristianismo aproveitaram-se do declínio da religião tradicional, fomentado pelas
mudanças políticas e comerciais modernas. Na realidade, estão progredindo em ritmo
mais rápido de todas as religiões do mundo atual.

7 – Avaliações do Islamismo

a) Pontos Positivos do Islamismo:


 Os muçulmanos têm uma crença firme em Deus e na sua supremacia;
 Os muçulmanos têm desfrutado de uma coesão básica centralizada na sua crença
em Deus e na sua literatura sagrada;
 Os muçulmanos creem que Deus é abundante em misericórdia e em compaixão;
 Os muçulmanos têm a vontade de Deus em alta estima;
 Creem que haverá um dia do juízo das obras humanas;
 Todo membro é obrigado a praticar a oração diária.

b) Pontos Negativos do Islamismo:


 O Islamismo permite uma crença excessiva na vontade soberana e arbitrária de
Deus que leva ao fanatismo;
300

 Embora a condição social das mulheres tenha sido melhorada, ainda não é ideal.
Os membros têm licença de ter várias esposas;
 Os muçulmanos precisam merecer a sua salvação mediante as boas obras;
 Os muçulmanos não têm certeza de um salvador do pecador, nem uma promessa
atual da vida eterna;
 A reverência pelo Alcorão e pela pedra da Caaba fica bem perto da idolatria;
 O texto sagrado contém contradições;
 É aceitável a conquista de adeptos pela força;
 O futuro prometido é de prazeres sensuais.

73 – JAINISMO

Definição:

Uma das três antigas religiões indianas, ao lado do hinduísmo e do budismo, com as
quais compartilha importantes conceitos, como o dharma e o carma. O nome deriva do
verbo ji (conquistar, em sânscrito), uma referencia à batalha interna pela iluminação
espiritual. Surge a partir do século VI a.C., época em que vive Parshavanatha, o
primeiro tirtancara (aquele que consegue vencer o ciclo de reencarnações). O mais
recente tirtancara é Mahavira (século VI a.C.).

Os jainistas não acreditam em Deus; para eles, os únicos seres sobrenaturais são os
tirtancaras. Defendem a não violência, a abstinência sexual e a renúncia aos bens
materiais.

74 – JUDAISMO

1 – Introdução:

Em sua acepção mais ampla, o termo judaísmo indica a história global do povo
hebraico, desde seu início na época bíblica até o presente; ele pode então ser referir
tanto ao povo hebraico em suas diversas formas histórico como à religião e à cultura dos
hebreus. Do mesmo modo, o termo judeu pode ser usado para indicar a condição de
pertencer ao povo ou à comunidade religiosa hebraica. Em um sentido mais restrito, o
termo judaísmo é empregado para designar a época do Segundo Templo (515 a.C. – 70
d.C.), bem como a época sucessiva à destruição definitiva do templo de Jerusalém em
70 d.C., quando se constituiu o judaísmo rabínico, que assume então o valor de
judaísmo normativo. Porém, deve-se observar que tal judaísmo define a própria
identidade na exegese da Bíblia hebraica e da história do povo hebraico (ou povo de
Israel) narrada nos textos bíblicos, de modo que é mais correto entender o termo, como
301

será feito de agora em diante, em sua acepção mais ampla, que abrange, além do
judaísmo rabínico, que se estende até os nossos dias, também chamado judaísmo do
segundo templo (do exílio babilônico a 70 d.C.) e sua matriz israelense.

2 – Conhecendo o Judaísmo:

a) Significado

A palavra judaísmo provém da palavra judeu. O judeu era membro da tribo de Judá e da
nação judaica que existia na Palestina desde o século VI a.C. até I d.C. Judá era o nome
do antigo reino judaico, e teve sua origem na palavra hebraica Yehudhi. Um definição
do Judaísmo é: uma religião que expressa as crenças e práticas dos judeus, conforme
foram reveladas a Abraão, a Moisés e aos profetas.

b) Fundo histórico

O povo judaico teve uma história muito notável. Esta é sem igual porque revela
diretamente os modos de Deus lidar com as pessoas. Além de ser chamado o Povo de
Deus, o povo judaico tem sido chamado semitas, hebreus, israelitas e judeus.

Os antepassados dos judeus remontam a Abraão, que estava na décima geração depois
de Sem, o filho mais velho de Noé. Eram, portanto, semitas. O povo de Abraão também
era chamado de hebreus, nome este que possivelmente se derivava do povo Habiru da
Mesopotâmia do norte, onde Abraão passou algum tempo. O nome Israel provém do
neto de Abraão, Jacó, que recebeu um novo nome, Israel, depois de uma confrontação
com Deus. Seus descendentes, portanto, foram chamados israelitas. O nome judeu
provém do filho de Jacó, Judá. O povo tem sido chamado de Judeus desde o cativeiro da
Babilônia. Para os próprios judeus, no entanto, serem chamados de o povo de Deus era
o que mais importava.

A chamada de Abraão, cerca de 1800 a.C., foi um evento relevante por causa das
condições que existiam na sua região. Ur era uma cidade-estado da Caldéia, na área
onde os rios Tigre e Eufrates confluíam para desaguarem no Golfo Pérsico. Ur se
deteriorara num estado politeístico e animista. O povo usava rochas no formato de
colunas e montes especiais de pedra na sua adoração pagã. Gilgal era um círculo de
colunas e os hebreus, posteriormente, deram este nome a uma cidade na Palestina.
Acreditavam que as pedras, os poços, as fontes, as árvores e o vento eram habitações de
espíritos e demônios, e dedicavam bosques à idolatria e à prática imorais. El Shaddai, o
Deus verdadeiro, era um Deus pessoal para Abraão, mas a esposa de Abraão ainda se
apegou por algum tempo aos seus terafins, às imagens de madeira ou de pedra, que os
pagãos conservavam para a magia e adoração doméstica.
302

A totalidade do Oriente Médio estava em estado de tensão nos tempos de Abraão. tribos
indo-européias das montanhas da Armênia invadiam com carros puxados por cavalos.
Muitas famílias e tribos tornaram-se nômades e a Palestina ficou infestada de
refugiados. Alguns deles eram parentes arianos daqueles que migraram em direção ao
oriente, até à Índia. Terá, chefe de uma família pastoril em Ur, levou seus filhos Abrão e
Naor com suas posses, e mudou para Hará, no noroeste da Mesopotâmia. Viajaram
pelos rios e planícies do Crescente Fértil, que era o itinerário geral daqueles dias. Outro
grupo semítico de indo-europeus, os hicsos, passou pela Palestina e invadiu o Egito.

Em meio a todo o tumulto das nações, Deus estava formando um povo para Sua
possessão particular. Parece, segundo Atos 7.2-4, que Deus originalmente chamou
Abraão enquanto este ainda morava na sua cidade natal de Ur dos Caldeus. Depois, em
Harã é provável que Deus tenha confirmado a sua chamada e ordenado Abraão a ir para
uma terra que Ele lhe mostraria (Gn 12.1-3). A chamada envolveu uma promessa de
grandes bênçãos sobre o povo judeu. Todas as nações que o abençasse seriam
abençoadas e todas aquelas que o amaldiçoasse seriam amaldiçadas. Deus mostrou a
Abraão a Terra Prometida. Estendia-se desde o rio Eufrates até o rio do Egito (Gn 12.7;
13.14-17; 15.13-18). A promessa ficou sendo um concerto entre Abraão e Deus, e foi
ratificada por um sacrifício e pelo rito da circuncisão (Gn 17.1-11). Seria um concerto
eterno. Nisto vemos uma referência profética ao Messias, o Ungido de Deus, e a
esperança de Israel.

Sendo assim, Abraão entrou na Terra Prometida e fixou sua habitação numa cordilheira
de montanhas em Hebrom, que ficou sendo a residencia da família durante as gerações
futuras. Embora, Abraão inicialmente tivesse dois filhos, Ismael e Isaque, a linhagem da
família passou de Abraão para Isaque, e depois para Jacó que, posteriormente recebeu o
nome de Israel. Por causa de uma fome severa, Israel e seus filhos saíram de mudança
para o Egito. Os hicsos tinham conquistado o Egito e, sendo da mesma raça semítica,
mostraram tolerãncia com os israelitas e deixaram que habitassem ali. Os israelitas
prosperaram e se multiplicaram, a partir de cerca de setenta pessoas para uma nação de
quase três milhões de pessoas.

Depois dos israelitas já terem morado no Egito durante 215 anos, os egípcios
retornaram ao rei dos hicsos, e “levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não
conhecera a José” (Ex 1.8). não se sabe certo que Faraó era este, mas descobertas
recentes indicam que era Ramsés II (1304-1237 a.C.). ramsés edificou grandes templos
e cidades, e forçando os israelitas a construirem, em regime de escravidão, suas obras
públicas. O povo de Deus suportou muitos sofrimentos, mas Deus ouviu o seu clamor.

Moisés, um hebreu, foi criado pela filho de Faraó na corte egípcia, com sua erudição e
seus luxos. Foi, porém, exilado para o deserto de Midiã por ter trucidado um egípcio.
Depois de passar quarenta anos como pastor de ovelhas, Moisés teve, certo dia, um
encontro com Deus diante de uma sarça ardente, e Deus o chamou para conduzir Israel
para fora do Egito. Moisés voltou para o Egito e Deus operou vários milagres para
persuadir os egípcios a soltarem os israelitas. O maior milagre ocorreu quando o anjo da
303

morte passou por cima dos lares de Israel, mas matou todos os primogênitos dos
egípcios. Então, quando os israelitas fugiram, passaram por um corredor que Deus abriu
para eles através do mar Vermelho, mas o exército egípcio, que perseguia, pereceu
quando as águas voltaram ao seu estado anterior. Este escape dramático da escravidão
no Egito é chamado o Exôdo.

No Monte Sinai, Deus deu a Israel as tábuas da Lei e celebrou um concerto solene com
seu povo. Além disso, deu a Moisés instruções sobre a edificação do Tabernáculo ou da
Tenda da Congregação, onde Ele pudesse encontrar-se com seu povo. Depois de
peregrinar no deserto durante quarenta anos, Israel finalmente chegou ao monte Nebo,
em Moabe, de onde podia se ver a Terra Prometida. Moisés, que tinha dirigido o povo,
olhou a terra à distancia, mas morreu sem entrar ali pessoalmente.

Josué,sucessor de Moisés, conduziu o povo para dentro de canaã e conquistou trinta e


uma cidades no decurso de sete anos. Depois, durante cerca de trezentos anos, juízes
governaram o povo.israel, no entanto, rogou a Deus que lhe desse um rei “como o têm
todas as nações” (1 Sm 8.5). embora não fosse este o seu plano, Deus permitiu que
Israel se tornasse uma nação e estabeleceu Saul como o primeiro rei em 1050 a.C. Foi
seguido por Davi e por Salomão, cada um dos quais reinou durante quarenta anos. Por
causa da apostasia de Salomão, Israel foi dividido em dois reinos. Judá, no sul, consistia
de duas tribos: Judá e Benjamim. Sua capital era Jerusalém, e Roboão foi seu primeiro
rei. As outras dez tribos formavam o reino de Israel, no norte, sendo Samaria a capital e
Jeroboão seu primeiro rei.

Nos duzentos anos que se seguiram, a despeito das advertências dos profetas, o povo do
reino do norte rebelou-se contra o caminho do Senhor. Finalmente em 721 a.C. foi
conquistado pela Assíria e disperso em outros países. Este foi o início da Diáspora, da
qual a maioria nunca voltou. O reino do sul, Judá, passou por muitos dos mesmos
problemas espirituais que caracterizaram Israel. Mesmo assim o povo experimentou
alguns períodos de renovação espiritual em quase 350 anos como reino. Mesmo assim,
como resultado da apostasia de Judá, Deus permitiu que a Babilônia conquistasse esta
nação cerca de 606 a.C. Embora, o reino continuasse até 586 a.C., a maior parte do povo
foi levada ao cativeiro da Babilônia em 597 a.C. O templo de Salomão foi destruído em
586 a.C., e a arca do concerto nunca mais foi vista.

Os judeus ficaram no cativeiro durante setenta anos, conforme tinham dito os profetas
(Jr 26.11-14). Durante o governo do rei da Pérsia, os judeus receberam permissão para
voltarem à Pérsia. Em 536 a.C., cerca de cinquenta mil deles acolheram a oportunidade
e voltaram sob o comando de Esdras e Neemias para reedificar a nação, a cidade e o
templo. A partir daquele tempo até a Era Cristã, os judeus ficaram em sujeição aos
impérios persa, grego e romano, sendo o Grego e o Aramaico os idiomas comuns.

Quando Jesus chegou, os judeus estavam no auge do jugo romano e estavam esperando
no Messias que, segundo acreditavam, os conduziria para fora do cativeiro. Quando,
porém, ficaram sabendo que a missão de Jesus era espiritual, rejeitaram-no. Rebelou-se
contra Roma e trouxeram sobre si a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Foi uma
304

rebelião que resultou numa perda pavorosa de vidas e da existência nacional. Os


exércitos romanos mataram mais de um milhão de judeus, centenas deles morreram de
fome e muitos milhares foram levados ao cativeiro.

Os romanos pensaram que a nação judaica tivesse sido destruída. O concerto que Deus
fizera com Abrão ficou firme, no entanto, e a preservação do povo judaico tem sido o
grande fenômeno de todos os tempos. A despeito de perseguições amargas durante estes
últimos dezenove séculos, os judeus têm sobrevivido e tornaram-se parte de todas as
nações da terra.

3 – Crenças do Judaísmo:

a) A Crença Judaica Num Ser Supremo

Para os hebreus, o Deus do céu existia desde toda a eternidade passada. “No princípio
criou Deus” (Gn 1.1). Ele criou todas as coisas, Ele está em todos os lugares e Ele tem
comunhão com o seu povo. Elohim é o nome comum de Deus em Gênesis. El está no
singular, e Elohim está no plural. Elohim, usado com um verbo no singular, dá
testemunho da unidade e da pluralidade de Deus; o relacionamento entre El e o seu
povo foi revelado ao juntar esse nome com outra palavra. Deus era El-Shaddai (aquele
que satisfaz) para Abraão. Outros termos eram: El-eazar (Deus socorreu), Belt-el (Casa
de Deus), Elias (Deus é Jeová), e Elizeu (Deus é Salvador).

Aos hebreus, Deus se revelou como YHWH, a palavra que significa especificamente:
“eu sou o que sou” ou “Eu sou aquele que causa o existir”. Provém do verbo “Ser” e
inclui todos os tempos – o passado, o presente e o futuro. Os judeus consideravam esta
palavra santa demais para pronunciar. Ao lerem a Torá, colocam a palavra Adonai
(“Senhor”) no lugar de YHWH. O nome YHWH ou Jeová, às vezes é usado em
Gênesis, mas não foi revelado no seu pleno significado a não ser nos tempos de Moisés
(Ex 3.11-15). Neste caso também, o relacionamento entre Deus e Israel é indicado nos
seus nomes segundo o concerto. Para os enfermos, Ele é Jeová Rafá, o Senhor que cura.
Oprimido pelo inimigo, seu povo invoca Jeová-Nissi, o Senhor nossa bandeira.
Necessitado, o povo fica sabendo que Ele é Jeová-Jirá, o Senhor que provê.

A crença nos deuses estrangeiros foi a causa principal do colapso de Israel. Os


canaanitas eram um povo agrícola que servia aos Baalins. Baal significava “senhor” ou
“dono” (das terras). Acreditavam que os terrenos deviam aos Baalins a sua fertilidade.
As companheiras dos Baalins, Aserá e Astarote, eram adoradas com práticas obscenas.
Os profetas advertiam Israel contra elas. “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor”... “O Senhor teu Deus temerás, e a Ele servirás” (Dt 6.4,13).

b) O Código Ético do Judaísmo


305

Dez leis morais absolutas foram dadas a Israel no monte Sinai e são básicas para a vida
judaica. São comumente chamadas de os Dez Mandamentos e estão registrados em
Êxodo 20.1-17. Estão resumidos aqui para você decorar:

1. Eu sou o Senhor teu Deus não terá outros deuses diante de mim;
2. Não farás para ti imagem de escultura;
3. Não tomará o nome do Senhor teu Deus em vão;
4. Lembra-te do dia do sábado, para o santifica;
5. Honra a teu pai e a tua mãe;
6. Não matarás;
7. Não adulterarás;
8. Não furtarás;
9. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo;
10. Não cobiçarás.

A lei contem 623 mandamentos ao todo. Estão registrados em Êxodo, Levítico e


Números e regulam todas as fases da vida. A lei pode ser dividida em três categorias: a
lei Moral (o Decálogo ou dez mandamentos) é o código de Israel. A lei Cerimonial
abrange os sacrifícios, o culto no Tabernáculo, o sacerdócio e as Festas. A lei Civil
regula a vida social do povo. O Torá (o Pentateuco, que significa “cinco Livros”), que
contém leis e história, ficou sendo a parte suprema das Escrituras, quanto aos judeus.
Sendo assim, o Judaísmo é chamado de religião da lei, e os judeus, um povo do livro.

Moisés Maimonides (1135-1204), um rabino que nasceu na Espanha e que foi exilado
para o Egito, reduziu as crenças judaicas a um credo de treze pontos principais. Podem
ser condensados da seguinte maneira:

1. Creio no Único Deus (YHWH), criador de todas as coisas;


2. Deus (YHWH) é uma unidade;
3. Ele é espírito e não tem corpo;
4. Ele existe desde a eternidade passada até a eternidade futura;
5. Ele é o único Deus que deve ser adorado;
6. Todas as palavras dos profetas são verdadeiras;
7. Moisés é o principal dos profetas;
8. Essa lei foi dada por Deus a Moisés;
9. Essa lei é a única lei e é imutável;
10. Deus conhece os pensamentos e as ações do homem;
11. Ele recompensa o obediente e castiga o transgressor;
12. O Messias virá para guiar o seu povo;
13. Haverá uma ressurreição dos mortos.

c) Instituições Sagradas do Judaísmo

a’ – Lugares Sagrados:
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 O Tabernáculo. O Tabernáculo era o lugar de encontro entre Deus e o povo no


deserto, e na Canaã durante o governo dos juízes. Era uma construção portátil
cercada por uma parede de cortinas brancas com um átrio onde eram oferecidos
sacrifícios. Dentro da construção havia duas seções: a primeira era o santuário, e
a segunda, uma seção interior, o lugar Santíssimo. Esta segunda seção era o
“âmago” do Tabernáculo e continha a arca do concerto. A arca do concerto era
um tipo de baú onde eram guardadas as duas tábuas da lei. Sua tampa de ouro
era chamada o propiciatório, e dois querubins faziam parte desta tampa. Quando
Israel marchava, a arca era carregada nos ombros dos sacerdotes que
encabeçavam a procissão.

 Templo. Salomão edificou o primeiro templo judaico. Era muito superior ao


Tabernáculo, e estava entre as estruturas mais famosas do seu tempo. Sua planta
era semelhante a do Tabernáculo, mas tinha 27 m de cumprimento, 9 m de
largura e 14 m de altura, com ornamentações belas e caras, foi destruído por
Nabucodonosor em 586 a.C., e parcialmente reconstruído por Esdras, mas
Herodes Magno restaurou-o em toda a sua magnificência. Jesus o visitou várias
vezes, e em certa ocasião comentou sobre ele (Mt 24.1). Foi, porém, totalmente
destruído pelos exércitos romanos em 70 d.C.

 As Sinagogas. As sinagogas, casas de adoração nas localidades distantes do


templo, foram construídas nos dias de Esdras e ainda são usadas em todas as
partes do mundo. Durante o culto, os homens usam solidéus pequenos, e as
mulheres sentam-se numa seção separadas. Os membros citam o shema, a
confissão de fé em Deuteronômio 6.4,5: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração”. Um
cantor pode fazer solos e dirigir os cânticos, e os rabinos leem o Torá e fazem
comentários.

 O Muro das Lamentações. A única parte do templo que continua existindo hoje
é um trecho do muro das lamentações e é um lugar santíssimo para os judeus.
Fazem romarias até lá, e colocam orações, escritos em papéis, nas fendas do
muro. O nome foi dado por causa do choro dos judeus pela perda do templo e da
glória de Deus.

 O Sinédrio. Era o Supremo Tribunal da Justiça no Judaísmo, e foi estabelecido


no século II a.C. Tinha setenta e dois membros, compostos de sacerdotes,
anciãos e escribas. O sumo sacerdote geralmente era o presidente do Sinédrio.
Tinha poderes amplos, mas seu direito de administrar a pena de morte foi
assumido pelo governo romano.
307

b’) Pessoas Sagradas:

 Os Profetas. A palavra hebraica Nabi, que é traduzida como “profeta”, significa


“chamado para falar em prol de Deus”. Os profetas às vezes prediziam eventos
futuros, mas principalmente proclamavam; pregavam a justiça de Deus e
denunciavam os pecados e a idolatria do povo. Profetas tais como Elias e Elizeu
eram chamados os profetas pré-literários. Os profetas literários estão alistados
no Antigo Testamento desde Isaías até Malaquias.

 Os Sacerdotes. O sacerdócio foi estabelecido na família de Arão e na tribo de


Levi. Entre seus deveres, mantinham o fogo aceso no altar, conservavam cheia
de azeite o lampadário de outro no Santuário, e ofereciam sacrifícios. Uma parte
dos dízimos das ofertas de carne e de cereais era dada a eles. Na conquista de
Canaã, receberam quarenta e oito cidades, com terras para seu rebanhos. O sumo
sacerdote detinha o cargo religioso mais elevado, e tinha deveres especiais que
se relacionavam com o culto e com os negócios do povo. Uma vez por ano, no
dia da Expiação, entrava no Lugar Santíssimo a fim de interceder pelo povo.

 Os Rabinos, os Fariseus e Saduceus. “Rabi” que significa “mestre” era um termo


de respeito empregado para instrutores espirituais (Mt 23.7), surgiram no século
I a.C. Jesus falou para seus discípulos que não deviam ser chamados de mestres,
porque os rabinos já se tornaram mestres (quase senhores) do povo.
Os saduceus eram um partido religioso e político que começou um século e meio
antes de Cristo. Eram as classes superiores dos sacerdotes, ricos, mas mundanos,
e produziram muitos dos sumos sacerdotes. Acreditavam na interpretação literal
do Torá, e recusavam a lei oral, a crença nos anjos e a ressurreição dos corpos.
Era leal a Roma.

Os fariseus era um partido piedoso ao qual pertencia a maioria dos escribas e


rabinos. Dedicavam-se à Torá, mas achavam que exigia a lei oral. Opunham-se
aos saduceus, porque acreditavam no Messias vindouro, na ressurreição e no
juízo final. Jesus frequentemente criticava-os por causa da sua hipocrisia.

 Práticas Sagradas:

a) Sacrifícios e Oferendas. Moisés desenvolveu um sistema requintado de


sacrifícios de animais e de oferendas de cereais. Juntamente com o sacrifício,
o povo devia ter uma atitude de arrependimento. O sangue deia ser aspergido
regularmente no santuário a fim de fazer expiação pelo pecado. Todos os
dias, havia adoração e oferendas de ações de graças.

b) A Oração e os Filactérios. A partir de cerca do século II a.C., todos os


homens judeus começavam a usar filactérios durante as orações matutinas.
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Trata-se de pequenas caixas de couro que contêm quatro trechos do Antigo


Testamento: Ex 13.1-10, 11-16; Deut 6.4-9 e 11.13-21. Uma é usada na
cabeça e a outra no braço esquerdo.

c) A Circuncisão e o Concerto. A circuncisão é um sinal externo do concerto


entre Deus e Abraão. É realizado no oitão dia depois do nascimento de cada
nenê masculino, e relembra aos judeus sua vocação sagrada.

d) Filho do Mandamento. Quando um menino judeu chega aos treze anos de


idade, é tecnicamente um homem e recebe aulas sobre as crenças e no
idioma dos hebreus. Depois, passa pela cerimônia dos iniciados no Bar
Mitzvah ou Filho do Mandamento. Na ocasião, lê um trecho das Escrituras
na Sinagoga e ás vezes, faz um discurso. Seus pais fazem uma festa e ele
recebe presentes dos amigos.

e) Festas e Dias Santos. Os feriados que comemoram os grandes eventos da


história são um fator unificante de uma nação. Os judeus têm em alta estima
a sua história, e observam várias festas sagradas. O Dia do Sábado é o
próprio alicerce da fé judaica. Não somente Israel tem guardado o Sábado,
como também o Sábado tem guardado Israel. É o dia do culto, o dia em que
Deus descansou da Sua obra da criação. Começa ao pôr do sol na sexta-feira
e termina ao pôr do sol no sábado.

 Outras festas e dias santos de destaque entre os judeus são:

1.Pesach. A Páscoa começa no dia 15 de Nisã, entre março e abril. É um


memorial do êxodo israelita do Egito, é o aniversário de Israel. A festa dura oito
dias.

2.Shavuot. A Festa das Semanas ou Pentecoste (cinquenta) é celebrada


cinquenta dias depois da Páscoa, no mês de Sivã. Celebra a colheita dos cereais
e a promulgação da lei no Sinai.

3.Rosh Hashanah. O Novo Ano civil judaico é celebrado nos dias 1 e 2 do mês
de Tishri, que cai em setembro ou outubro.

4.Yon Kippur. O dia da Expiação é celebrado no dia 10 de Tishri, o dia sagrado


em que o sumo sacerdote entrava no Lugar Santíssimo. Sukkoth, a Festa dos
Tabernáculos, no dia 15 de Tishri. Os judeus acampam durante sete dias em
cabanas ou tendas para relembrarem a experiência de Israel no deserto na
ocasião do Êxodo.
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5.Hanukkah. A Festa das Luzes é celebrada no dia 25 de Kisleu ou dezembro.


Representa a rededicação do templo em 165 a.C., depois dele ter sido profanado
pelo rei selêucida maligno, Antíoco Epifânio. Durante a festa, os judeus deixam
velas acesas durante oito dias.

6.Purim. A Festa das Sortes comemora a intercessão da rainha Ester em favor


dos judeus na Pérsia. É celebrada no mês de Adar, entre fevereiro e março.

d) O Pecado, a Salvação e o Destino no Judaísmo:

 O Homem – inerentemente bom. Os hebreus acreditam na virtude e bondade


inerentes do homem. Ele é feito à imagem de Deus e não é escravo conforme
acreditavam os pagãos. Negam a ideia da depravação total, ou seja: que todos os
seres humanos nascem com uma natureza pecaminosa herdada de Adão. Pelo
contrário, segundo a teologia judaica, o homem comete atos individuais de
pecado, pelos quais é necessário que seja feita expiação.

 O Homem – seu próprio salvador. No judaísmo, visto que o homem comete


pecados por conta própria, ele mesmo deve fazer expiação por estes pecados. Ele
não precisa de salvador nenhum; sua salvação está dentro de si mesmo. Deve
haver o exame de si mesmo, a confissão, o arrependimento e a oração. Depois, a
pessoa deve resolver que não cometerá os pecados do passado, e que praticará
boas ações. No dia da Expiação, os pecados do povo inteiro são perdoados e
removidos.

 O Pecado – a violação da Lei. Para o judeu, a boa moralidade significa mais do


que se conformar com um código social. O motivo do coração está envolvido. O
próprio alicerce do Judaísmo é o concerto com Jeová, em que Deus e o homem
são parceiros num diálogo e amizade vitalícios. A lei define o concerto e mostra
como Deus quer que cada pessoa viva. O pecado é a violação do concerto, e
Deus chama cada pessoa para voltar à lei, pois Deus é a sua lei.

 O Futuro – um senso de destino. A história judaica olha para o futuro. Muitas


outras religiões olham para o passado como sua era de ouro, quando os deuses
tratavam dos assuntos delas. Outras consideram que a história é um ciclo que
eternamente se repete. Os judeus olham para o futuro, para uma idade de ouro,
quando, então, Deus estabelecerá seu reino, e o Messias será o Soberano. Então
os judeus serão a luz do mundo, os mortos serão ressuscitados e os ímpios serão
condenados.
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4 – Escritos do Judaísmo:

Visto que a lei e os profetas foram registrados por escrito, os judeus eram conhecidos
como o Povo do Livro. Suas Escrituras Sagradas são essencialmente idênticas ao Antigo
Testamento da Bíblia Cristã, ou seja: uma coletânea de trinta e nove livros. Na Bíblia
Judaica, alguns dos livros são juntados para dar um total de vinte e dois livros, para
corresponder às vinte e duas letras do abecedário hebraico. Foram escritos à mão em
rolos por vários autores. Nos tempos de Cristo, foram divididos em três grupos:

a) A Lei ou Torá

A lei o Torá, os cinco primeiros livros (Pentateuco em Grego). Os cinco livros são:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Acredita-se que Moisés os
escreveu, porque são frequentemente chamados os “Livros de Moisés”.

b) Os Profetas ou Nebhiim

Os profetas anteriores tinham quatro rolos: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis.

Os profetas posteriores tinham quatro rolos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e o Livro dos
Doze (profetas Menores).

c) Os Escritos ou Kethublim

Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó.

Festivos: Megilloth (rolos curtos lidos nas festas): Cantares, Rute, Lamentações, Ester e
Eclesiastes.

Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e 1 e 2 Crônicas.

d) A Lei Oral, o Talmude

No período entre os dois Testamentos ou Talmude, ou lei oral, desenvolveu-se


paulatinamente e acabou sendo registrada por escrito. Tornou-se importante para o
judaísmo, em segundo lugar depois do próprio Torá. Há dois Talmudes, cujo nome é
segundo a região de onde se originaram: o Palestino (século IV d.C.), e o Babilônico
(século VI d.C.). o Talmude contém duas divisões grandes. A Mishna que significa
“repetição”, inclui tradições escritas cerca de 200 d.C. A Gemara, com interpretações da
lei, seguiu depois, até o século VI d.C. O talmude revela um povo que busca a Deus, e
tanto a esperança messiânica quanto a ressurreição são ressaltadas.

5 – Desenvolvimento do Judaísmo:
311

a) Uma Luta Pela Sobrevivência

Depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., a liderança dos judeus que sobreviveram


foi para Jâmnia, na orla marítima. Foram formados uma escola e um Sinédria.
Paulatinamente, as comunidades judaicas se recuperaram no Egito, na Pérsia, na
Palestina e até mesmo em Jerusalém. Foram rejeitados pelos imperadores bizantinos na
década dos 500 d.C. No Século VII, os exércitos muçulmanos conquistaram a Palestina,
o Egito, a Espanha, e os judeus debaixo do governo muçulmano tinham melhores
condições de vida. Fizeram muitos progressos na matemática, na astronomia, na
filosofia e na química.

 Na Espanha, os séculos X e XI tornaram-se a Idade de Ouro das realizações


literárias. O Judaísmo sefardita (espanhol), que usava um dialeto hispano-
judaico, desenvolveu-se na Espanha, com uma sinagoga e rituais. Na Europa,
desenvolveu-se o Judaísmo ashquenazita (alemão), com seu dialeto teuto-
judaico, o Iídiche. Nos séculos XI e XII os Cruzados, no caminho para tomar a
Terra Santa dos muçulmanos, massacraram muitos judeus e queimaram suas
sinagogas. Os judeus foram acusados de terem causado a Peste Negra de 1348
que matou uma terça parte da população da Europa. Na Inquisição espanhola de
1492, foram mortos milhares de judeus e centenas fugiram. Mas, por onde quer
que fossem, causavam um impacto enorme na sociedade, sendo que foram
produzidos grandes estudiosos bíblicos judaicos.

 No século XVI, Martinho Lutero começou a Reforma Protestante que,


inicialmente favorecia os judeus; posteriormente, porém, mudou de ideia e
pregou contra eles. Na Contrarreforma Católica, os judeus foram vítimas de
outra Inquisição. Em Roma e em outras cidades, os judeus foram forçados a
mudar sua residência para os guetos, que eram lugares apinhados de pessoas,
imundos e sem a luz do sol, nas piores partes da cidade. Ficaram atrás de muros
e portões trancados, com toque de recolher obrigatório. Os judeus também
precisavam usar um distintivo amarelo para fácil identificação.

 Na Polônia, em 1648, houve massacre dos judeus, conhecidos como pogroms.


Aqueles que não conseguiram fugir foram trucidados, com a morte de quase
meio-milhão deles. A desculpa era que os judeus tinham perícias desejadas pela
classe governante, além de serem os agiotas mais temidos pelas classes
inferiores. Na década de 1800, o Judaísmo foi aceito como religião na
Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos, havendo possibilidade de
estabelecerem direitos iguais. Mas na Rússia czarista, depois do assassinato de
Alexandre II em 1881, irromperam-se os piores pogroms contra os judeus, que
os levaram a um êxodo em massa para os Estados Unidos.
312

 Depois, como resultado de uma distinção entre semitas e árias, uma onda de
antissemitismo varreu a Europa. Na década de 1930 começou na Alemanha um
movimento, dirigido por Adolf Hitler, para destruir os judeus. Desde 1933 até
1945, aproximadamente seis milhões de judeus foram trucidados – uma terça
parte da população judaica quase cessou de existir na Europa. Os extermínios
dos judeus pelos nazistas não tinha paralelo na história universal. O mundo
ficou estarrecido, e muito se perguntavam por que Deus permitiu que
semelhantes sofrimentos sobreviessem ao seu povo. Uma leitura cuidadosa de
Deuteronômio 28 é iluminadora, pois nos oferece alguma ideia sobre a razão
por que aconteceram estes eventos. A rejeição de Jesus pelos judeus também
lança luz sobre esta questão. Mesmo assim, conforme dizem muitas pessoas, a
explicação integral do holocausto ainda tem seus mistérios.

b) Um Lar Nacional Para os Judeus


Um jornalista judeu, Theodore Hertzl, chegou a perceber que os judeus nunca
seriam tratados com justiça até que tivessem uma pátria própria. No começo da
década de 1900, ele e outros deram início a um movimento chamado Sionismo,
para pleitear a causa de um estado judaico. Onde deveriam procurar tal pátria?
Nenhum lugar no mundo inteiro estava mais próximo ao coração judaico do que
a terra da Palestina.

 Depois da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha recebeu um mandato da


Liga das Nações para governar a Palestina. Em 1917, os sionistas, liderados por
Chaim Weizmann, persuadiram o governo britânico a conceder aos judeus uma
pátria na Palestina. O Secretário do Exterior, o Lorde Balfour, promulgou a
Declaração Balfour. “O governo da sua majestade vê com favor o
estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judaico”. Os
árabes, que já tinham ocupado a região durante muitas gerações, opuseram-se ao
influxo dos judeus. Mesmo assim, dentro de vinte anos, duzentos e cinquenta
mil judeus estabeleceram-se na Palestina. Já em meados da década de 1930. Os
judeus da Europa começaram a ver a Palestina como lugar de refúgio dos
nazistas, mas a imigração era limitada por causa do ressentimento violento dos
árabes.

 Por causa do holocausto na Segunda Guerra Mundial, houve mudança de


atitudes, e as Nações Unidas votaram em 1947 a favor de dividirem a Palestina
em estados judaico e árabes. Em 14 de maio de 1948, a bandeira britânica foi
arriada e David Bem Gurion anunciou o estabelecimento de Israel como estado
independente. Tinha uma população com cerca de seis mil habitantes. O novo
estado foi imediatamente atacado por cinco nações vizinhas, mas Israel
sobreviveu aos ataques e avisou que podia defender seus próprios interesses e
que assim faria. Em outubro de 1956, a guerra irrompeu de novo quando o Egito
atacou Israel. Nesta guerra Israel conquistou a totalidade da Península do Sinai e
313

estendeu grandemente o território sob seu controle. Na guerra de 1967, a cidade


antiga de Jerusalém foi conquistada por Israel, e os judeus retomaram seu
santuário mais sagrado, o Muro das Lamentações, com muitos choros e danças
de alegria. Na guerra de Yom Kippur, no Dia da Expiação em 1973, Israel foi
atacado por uma coalizão de estado árabe, mas estes ataques foram vencidos e as
fronteiras permaneceram basicamente iguais.

 Nos anos que se sucederam, muitas batalhas foram travadas; cada parte procurou
focalizar a opinião mundial da legitimidade da sua reivindicação à terra de
Israel. Entrementes, a população de Israel chegou a mais de três milhões, mas a
população mundial de Judeus ultrapassam quinze milhões. No meio da
confrontação que continua, somos forçados a reconhecer que as profecias
bíblicas têm sido cumpridas, e continuam sendo, pela regeneração da terra e pelo
reestabelecimento do estado de Israel. Não é contrária aos ensinos bíblicos e
expectativa de que virá o Senhor Jesus Cristo, que trará uma solução permanente
à crise no Oriente Médio. E durante este acontecimento, o povo de Israel voltar-
se-á para Ele.

c) Ramificações do Judaísmo Hoje


Frequentemente pergunta-se: Quem é um judeu? O judeu é judeu de nascença ou
por convicção? Muitas mudanças e culturas influenciaram o judaísmo em razão
de casamento misto, conversão e dispersão. A filosofia do judaísmo alterou-se e
desenvolveram-se três formas de Judaísmo: o Judaísmo Ortodoxo, Reformado e
Conservador.

 Os judeus Ortodoxos são tradicionais e apegam-se rigorosamente à Torá, ao


Talmude e à autoridade dos rabinos.

 Os Judeus Reformados são liberais. Não procuram nenhum Messias nem pátria
judaica. Ao invés disto, dizem que Israel é um povo messiânico. A aceitação da
Torá é mediante a opção pessoal.

 Os Judeus Conservadores tomam uma posição entre o judaísmo ortodoxo e o


reformado. Eles, também, rejeitam a pátria judaica, mas seguem Torá e as
tradições.

É somente tendo em mente a história dos judeus que podemos entender o


domínio poderoso que Israel continua a exercer sobre os judeus em todos os
lugares. Para eles, a eleição divina do povo de Deus é permanente. “Ele é Deus
que guarda o concerto até mil gerações”. Esta convicção é a razão por que o
povo judaico tem sobrevivido aos guetos, aos programas, às Inquisições, às
discriminações, aos distintivos amarelos da vergonha e até mesmo ao
holocausto. É por isso que têm prevalecido até o dia de hoje.
314

6 – Avaliação do Judaísmo:

a) Pontos Positivos do Judaísmo

 No judaísmo, os seguidores sustentam uma firme convicção da existência do


Deus Verdadeiro e uma repugnância à idolatria;
 Os judeus mantêm uma união básica do povo através de uma longa história,
união esta que é creditada à unidade de Deus;
 O povo judaico tem uma fé inabalável nas Sagradas Escrituras por terem sido
inspiradas por Deus;
 A reverência que os judeus têm aos seus antepassados não chegou a ser adoração
a estes;
 Os princípios da Torá são a base para muitos dos padrões éticos e morais do
restante do mundo;
 Os judeus têm alto respeito pela totalidade da vida, e acreditam que o ser
humano total é feito à imagem de Deus;
 Os judeus têm um dever ético e social diante de toda a humanidade;
 O povo judaico fica firme e unido na perseguição;
 Os judeus ortodoxos sustentam a esperança da vinda do Messias para introduzir
uma era de justiça, e a esperança da ressurreição dentre os mortos.

b) Pontos Negativos do Judaísmo

 Os judeus negam que Jesus Cristo é o Messias e também o Filho de Deus;


 Os judeus não se preocupam em termos de salvação atual mediante a graça, nem
com a intercessão por um mediador vivo;
 Os judeus enfatizam as obras como meio da salvação pessoal;
 O judaísmo tende fortemente em direção ao legalismo e ao formalismo;
 Os judeus não aceitam a natureza basicamente má do homem; o pecado é
considerado principalmente como violação cerimonial de uma lei;
 Os judeus enfatizam indevidamente a preferência divina pelo povo de Israel.

75 – LIBERALISMO

“O Pensamento Liberal”.

1 – Introdução:

1.1 – O que é Liberalismo?

“Nós temos por testemunho as seguintes verdades: todos os homens são iguais: foram
aquinhoados pelo seu criador com certos direitos inalienáveis e entre esses direitos se
315

encontram o da vida, da liberdade e da busca da felicidade. Os governos são


estabelecidos pelos homens para garantir esses direitos, e seu poder emana do
consentimento dos governados. Todas as vezes que uma forma de governo torna-se
destrutiva desses objetivos, o povo tem o direito de muda-lo ou abolir, e estabelecer um
novo governo, fundando-o sobre os princípios e sobre a forma que lhe pareça a mais
própria para garantir-lhe a segurança e a felicidade”.

(Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, reflexo na


América dos Ideais Liberais iniciados pela Revolução Gloriosa em 1688, na Inglaterra).

No século XVII, enquanto o Absolutismo triunfa na França, a Inglaterra sofre as


revoluções lideradas pela burguesia, que visam limitar a autoridade dos reis. A primeira
foi a Revolução Puritana, em meados do século em questão, culminando com a
execução do rei Carlos I e a ascensão de Cromwell. Mas, a liquidação do Absolutismo
se dá com a revolução gloriosa, em 1688, enquanto Guilherme III é proclamado rei,
após ter aceitado a Declaração de Direitos que limitava muito sua autoridade e dava
mais poderes ao parlamento. Ficava, portanto, o poder executivo subordinado ao
legislativo.

As conquistas burguesas exigem do rei a convocação regular do parlamento, sem o qual


ele não pode fazer leis ou revoga-las, cobrar impostos ou manter um exército. Institui-se
ainda o “habeas corpus”, a fim de evitar as prisões arbitrárias; a partir de então, nenhum
cidadão pode ficar preso indefinidamente sem ser acusado diante dos tribunais, a não ser
por meio de denúncia bem definida.

Tais ideias subvertem as concepções políticas no século XVII e XVIII. No novo mundo,
os movimentos de emancipação das colônias são bem-sucedidos, como a Independência
dos Estados Unidos (1776), enquanto outros são violentamente reprimidos, como as
conjurações Mineiras em (1789) e Baiana em (1798), ambas no Brasil. Na Europa, o
grande acontecimento é a Revolução Francesa (1789), que representando a luta contra
os privilégios da nobreza e na defesa dos princípios de “igualdade, liberdade e
fraternidade”, depõe a dinastia real dos Bourbon.

2 – As Ideias

Afinal, que ideias novas são essas?

Na linguagem comum, costumamos chamar de Liberal ao homem generoso, tanto no


sentido de não controlar gastos, como no sentido de não autoritário. Chamamos também
de profissões liberais as atividades de médicos, dentistas, advogados, quando trabalham
por conta própria. Essa expressão deriva da antiga classificação das artes liberais,
designando as atividades de homens livres, distintas dos ofícios manuais próprios de
escravos.
316

No entanto, aqui não nos interessam tais significados da palavra liberal, mas sim,
aqueles que indicam o conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia
que se opunha à visão de mundo da nobreza feudal.

Sabemos que as transformações ocorridas na formação do Estado Nacional e do esforço


feito para tomar a política secular, laica, desligada dos interesses da religião. Mas, se em
primeiro momento a formação das monarquias nacionais necessitava do Estado forte – o
que de certa forma justificou o Absolutismo real – a burguesia reivindicou sua própria
autonomia quando se sentiu suficientemente fortalecido.

O pensamento burguês busca a separação entre Estado e Sociedade enquanto conjunto


das atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza econômica. O que
se quer separar definitivamente é o público privado, reduzindo ao mínimo a intervenção
do Estado na vida de cada um. Por outro lado, essa separação deveria reduzir também a
interferência do privado no público, já que o poder procura outra fonte de legitimidade
que não seja a tradição e as linhagens de nobreza.

Podemos nos referir ao liberalismo ético, enquanto garantia dos direitos individuais, tais
como liberdade de pensamento, expressão e religião, o que supõe um estado de direito
em que seja evitado o arbítrio, as lutas religiosas, as prisões sem culpa formada, a
tortura, as penas cruéis.

2.1 – Os Liberais Políticos

Os defensores não socialistas da tolerância, da liberdade de expressão e da liberdade


individual – são encontrados em partidos como o liberal democrata britânico e o partido
democrata livre da Alemanha. A obra de John Locke (1633-1704) foi uma das primeiras
fontes do pensamento político liberal e muito dos princípios do liberalismo político
foram inseridos na constituição dos Estados Unidos.

No século XIX, o liberalismo clássico englobava uma filosofia econômica que insistia
no modelo laissez-faire, desatrelada da intervenção do Estado. No final do século XIX,
as desigualdades sociais criadas por um capitalismo industrial irrestrito produziu através
dos governos reformistas de Herbert Henry Asquith (1852-1928) e Devid Lhoyd George
(1863-1945), na Grã-Bretanha. Daí em diante, entretanto, a causa da reforma política e
social viria a ser defender com mais êxito pelos emergentes políticos social-democrátas
e socialistas e, na maioria dos países, os partidos liberais entram em declínio.

2.2 – O Liberal Político

Constitui, sobretudo contra o Absolutismo real, buscando nas teorias contratualista as


formas de legitimação do poder, não mais fundado no direito divino dos reis nem na
tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos. A decorrência dessa forma de
pensar é o aperfeiçoamento das instituições do voto e da representação, a autonomia dos
poderes e a consequente imitação do poder central.
317

Veremos que as formas de liberalismo mudam com o tempo, começando de maneira


muito elitista (restrita aos homens de posse) e ampliando-se a partir das pressões
externas.

2.3 – O Liberalismo Econômico

Opôs-se inicialmente à intervenção do poder do rei nos negócios, que se davam por
meio de procedimentos típicos da economia mercantilista, tais como a concessão de
monopólios e privilégios. Os primeiros a se insurgirem contra o controle da economia
foram os fisiocratas, cujo lema era “laissez-faire”; laissez passer, lemond vai de lui-
même (deixai fazer, deixai passar, que o mundo anda por si mesmo), tais ideias são
desenvolvidas pelos economistas ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo
(1772-1823). O que se pretendia era a defesa da propriedade privada dos meios de
produção e a economia de mercado, baseada na livre iniciativa e competição. O estado
mínimo, ou seja, o Estado não intervencionista e considerado possível porque o
equilíbrio pode ser alcançado pela lei da oferta e da procura. O liberalismo e o
socialismo hoje, nem sempre foram possíveis manter o Estado afastado do controle da
economia.

3 – O Liberalismo do Século XIX

“Cada um é o único guardião autêntico da própria saúde, tanto física, quanto mental e
espiritual.” (Stuart Mill).

3.1 – Introdução

No século XIX, as exigências democráticas não eram apenas da nova classe dos
burgueses, mas também dos operários, cujo número crescia consideravelmente, já que a
Revolução Industrial (sec. XVIII) aumentara a concentração urbana. Os operários,
organizados em sindicatos e influenciados por ideias socialistas, exigem melhores
condições de trabalho.

As novas formas de organização de massa dão a tônica do pensamento político do


século XIX, que pretende se configurar como liberalismo democrático. O enfoque da
liberdade baseada na propriedade – característica do liberalismo elitista dos séculos
anteriores – é desviado para a exigência de igualdade, procurando estender a liberdade a
um número cada vez maior de pessoas por meio da legislação e de garantias jurídicas.

As reivindicações de igualdade se manifestam das mais variadas formas:

 Na defesa do sufrágio universal, ampliação das formas de representação


(partidos, sindicatos), pressões para reformas eleitorais;

 Na exigência de liberdade de imprensa;


318

 Na implantação da escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatória, cuja


luta se torna bem-sucedida na Europa e nos EUA.

No entanto, não há como negar que o liberalismo nasceu não democrático, na medida
em que sempre desconfiou do governo popular, sustentando o voto censitário pelo qual
excluído do poder os, não proprietários.

No século XIX podemos notar claramente os dois sentidos do movimento que até hoje
dilacera o pensamento liberal: a permanência do liberalismo conservador que defende a
liberdade, mas não a democracia (ou seja, não é um liberalismo com aspirações
igualitárias); e o liberalismo radical que, além da liberdade, defende a igualdade. É este
último liberalismo que, nas formas mais extremas, se aproxima, no século XX, das
concepções do Estado de bem-estar social e do socialismo liberal.

Os principais teóricos do liberalismo no século XIX foram:

 Nos Estados Unidos – Thomas Jefferson e Thomas Paine;

 Na França – Tocqueville;

 Na Inglaterra – Jeremy Bentham, James Mill e seu filho John Stuart Mill.

3.2 – O liberalismo Francês

Enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos as instituições políticas e sociais


consolidam pacificamente os ideais liberais, a França passa no século XIX por
experiências difíceis e comunitárias, após a esperança de “liberdade, igualdade e
fraternidade” representada pela Revolução Francesa. Afinal, o jacobinismo de
Robespierre declaradamente ultrademocrático havia descambado no Terror; depois
disso houve a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte, coroado imperador. Mais tarde,
com Napoleão III, a França entra no Segundo Império, distanciando-se cada vez mais
dos ideais democráticos. Era natural que surgissem liberais conservadores, temeroso da
tênue separação existente entre democracia e tirania.

Alexis de Tocqueville (1805-1859), aristocrata de nascimento e conhecido como o


“Montesquieu do século XIX”, soube analisar com lucidez espantosa as contradições do
seu tempo. Visitou por um ano os Estados Unidos, onde recolheu informações para sua
obra mais famosa, Democracia na América.

Tocqueville tinha plena consciência de que a implantação da democracia era inevitável,


mas lastimava essa tendência que, segundo ele, levaria ao risco da “tirania da maioria”,
a um nivelamento cuja consequência seria o despotismo e ao conformismo da opinião.
A democracia faria prevalecer à força do número sobre a individualidade.
319

Tocqueville admitia claramente o desprezo pelas classes médias, o que constituía um


traço aristocrático da visão de mundo daquele nobre senhor de terras. Em uma anotação
pessoal exprimia: “Tenho pelas instituições democráticas uma preferencia cerebral, mas
sou aristocrata por instinto, e isto significa que desprezo e temo a multidão. Amo
apaixonadamente a liberdade, a legalidade, o respeito pelos direitos, mas não a
democracia”.

O intelectual brasileiro José Guilherme Merchior diz o que significa para Tocqueville a
palavra democracia: algumas vezes, ele empregou o termo em seu sentido politico
normal, de um sistema representativo fundado num amplo sufrágio. Mas, com mais
frequência, o empregou como um sinônimo para sociedade igualitária, coisa com que
ele não designava uma sociedade de iguais, mas uma sociedade em que a hierarquia já
não era a regra do princípio aceito de estrutura social”.

3.3 – O Liberalismo Inglês

Jeremy Bentham (1748-1832) é o fundador de uma escola chamada utilitarismo.


Sofrendo a influencia empirista, a teoria utilitarista pretende ser um instrumento de
renovação social, a partir de um método rigorosamente científico.

Bentham substitui a teoria do direito natural, típica dos filósofos contratualista do século
anterior, pela teoria da utilidade: o cidadão só deve obedecer ao Estado quando a
obediência contribui para a felicidade geral. Critica as formas liberais que levam ao
egoísmo. Aliás, para ele, o objetivo da moral é o controle do egoísmo, e a virtude é o
que amplia os prazeres e diminuí as dores, donde resulta uma “aritmética moral”: é
preciso fazer um cálculo entre duas ações para saber qual delas reúne maior número de
prazeres e menor quantidade de dores. Da mesma forma, o governo deve concordar com
o princípio de utilidade, e sua finalidade é alcançar a felicidade para um número maior
de pessoas.

Por isso os objetivos do governo são: prover a subsistência, produzir a abundancia,


favorecer a igualdade e manter a segurança. Para tanto é necessário que haja eleições
periódicas, sufrágio livre e universal, liberdade de contrato.

Bentham também se tornou conhecido por ter imaginado o Panopticon (que signifc “ver
tudo”), construção com uma torre de controle central e um prédio cheio de janelas onde
seriam confinadas pessoas que precisariam ser vigiadas constantemente, tais como
loucos, doentes, condenados, operários ou estudantes. Michel Foucault, filósofo francês
contemporâneo, em sua obra Microfísica do poder identifica o projeto de Bentham ao
processo iniciado na Idade Moderna pelo qual é constituída a “Sociedade disciplina”,
baseada no controle e vigilância na fábrica, na escola, na prisão, no hospício, no
exército, e que tão bem irá caracterizar a forma de poder pela qual a burguesia exerce
sua hegemonia.
320

John Stuart Mill (1806-1873) segue inicialmente a corrente utilitarista, na qual foi
iniciado por seu pai, James Mill, mas a modifica profundamente, já que sofreu outras
influências, desde o Positivismo de Comte ao Socialismo de Saint-Simon.

Embora amigo e admirador de Tocqueville, Stuart Mill desenvolve o Liberalismo na


linha de aspiração democrática. Preocupa-se com o destino das massas oprimidas e
defende a co-particição na indústria bem como a representação proporcional na política
a fim de permitir a expressão das opiniões minoritárias. Foi acirrado defensor da
absoluta liberdade de expressão, do pluralismo e da diversidade, e considerava
importante o debate das teorias conflitantes.

4 – Liberalismo e Socialismo Hoje

4.1 – O Liberalismo no século XX.

São complexos os caminhos da política contemporânea. No rápido esboço que


delineamos, foi possível constatar as crises e adaptações do liberalismo no correr do
tempo, bem como as críticas a ele feitas pelas teorias de inspiração socialista.

Vimos também o socialismo surgir como doutrina, e mais adiante abordará como foi
sua implantação em diversas nações, até os acontecimentos conhecidos como “crise do
socialismo real”.

A presente análise tem por fim recusar as explicações simplistas que contrapõe o
fracasso do socialismo as excelências do liberalismo, pois as contradições vividas no
nosso tempo exigem soluções novas e criativas que sejam capazes de oferecer melhores
condições de vida a um número cada vez maior de pessoas.

Para compreender os dados da situação, vamos retomar a história do liberalismo onde a


tínhamos deixado (ver pensamento liberal).

Os primeiros teóricos liberais opunham-se ao absolutismo real e aspirava por um


governo constitucional, pela liberdade civil e religiosa e pela não intervenção do Estado
na economia. Embora tenha fortalecido as instituições que favoreciam o exercício da
cidadania, o liberalismo clássico permaneceu elitista, na medida em que o voto
censitário permitia a participação política apenas aos homens de posse.

No século XVIII, na trilha aberta pela concepção democrática de Rousseau e na


reivindicação de Kant da “maioridade da razão humana”, são ensaiados os passos que
transformarão o súdito em cidadão. As lutas contra a censura, a tortura, o arbítrio e os
privilégios apontam para uma nova concepção de respeito à individualidade.

A Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789)


materializam os ideais da burguesia ascendente, desejosa de seguir seu próprio caminho,
livre dos impedimentos da concepção aristocrática.
321

No século XIX, sob o impacto do crescimento e organização das massas proletárias,


bem como da crítica feita pelos teóricos socialistas, o liberalismo foi obrigado a mudar.
Stuart Mill, defensor da liberdade de expressão e do direito de voto também para as
mulheres, é representante da teoria do liberalismo que se orienta em direção à exigência
de maior igualdade e democracia.

4.2 – Liberalismo Social

Uma das conquistas do liberalismo clássico foi o ideal do Estado não intervencionista,
que deixava o mercado livre para sua auto-relação. Tratava-se do Estado minimalista, de
baixa intervenção, e do liberalismo, ou seja, do prevalecimento do livre mercado.

As extremas desigualdades sociais levam alguns a pensar que a ênfase na economia


livre deveria ser atenuada, a fim de possibilitar a igualdade de oportunidades e auxiliar o
crescimento da individualidade. Tais são as convicções de pensadores como Thomas
Green (1836-1882) e mais tarde Leonard Hobhouse (1864-1929) e John Hobson (1858-
1940).

Acontecimentos históricos apressam a reformulação dos princípios do liberalismo. Após


a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, a década de 30 foi marcada pela depressão
econômica: falências, desemprego, inflação, geradores de graves tensões sociais.

A crise do modelo capitalista desencadeia a experiência totalitária na Alemanha e na


Itália. Outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, busca soluções diferentes que
pudessem evitar tanto o perigo do nazismo como a tentação do comunismo. As novas
medidas tomadas encaminham o liberalismo para a tendência que podemos chamar de
liberalismo social, em que é revisto o papel do Estado na economia.

Desde o início do século, a Inglaterra já vinha implantando medidas assistenciais como


seguro nacional de saúde e sistema fiscal progressivo. Mas é nas décadas de 20 e 30
que o Estado começa a intervir de forma marcante na produção e distribuição de bens, o
que indica uma forte tendência em direção ao Welfare State, ou seja, ao Estado de bem
estar social. Tanto é assim que, nos anos 40, considerava-se que qualquer cidadão teria
direito a emprego, controle de salário, seguro contra invalidez, doença, proteção na
velhice, licença maternidade, aposentadoria, o que aumentou significativamente a rede
de serviços sociais garantidos pelo Estado.

É nessa direção que se desenvolve o pensamento do inglês John Maynard Keynes


(1883-1946), que além de economista era também filósofo e jurista. Seguindo a
tendência democrática de Stuart Mill, Keynes considera necessário aliar a eficiência
econômica à liberdade individual, com devida atenção à justiça social. Mas isso provoca
o revisionismo econômico, já que exige do Estado maior intervenção nos negócios a fim
de controlar as forças econômicas e, regular as distorções, o que significa uma crítica ao
laizes-faire da economia clássica.
322

Nos Estados Unidos, ideias semelhantes orientam o presidente Roosevelt na elaboração


do plano econômico conhecido como New Deal, que introduziu o dirigismo estatal
durante a depressão da década de 30.

O governo concede crédito para as empresas, intervém na agricultura e adota inúmeros


procedimentos assistenciais de atendimentos aos trabalhadores bem como a construção
de grandes obras públicas para amenizar a alta taxa de desemprego.

Embora essas medidas sofressem acusação de serem semelhantes às propostas


socialistas, visavam de fato ao fortalecimento do capitalismo e pretendiam também
evitar o avanço comunista.

Obs.: As teorias Keynesianas foram influentes desde a década de 30 até a de 70, quando passaram a ser
severamente criticadas pelo neoliberalismo.

4.3 – Liberalismo de Esquerda

Na Itália facista – e contra ela – floresceram teorias do liberalismo social que


poderíamos considerar como liberalismo de esquerda, ou seja, visavam desencadear
movimentos de cunho popular (e não burguês) e resgatavam os ideais socialistas,
embora os adaptando ao liberalismo. Em vez de se oporem simplesmente ao marxismo,
buscavam extrair dele os elementos positivos, repudiando, sobretudo a concepção
revolucionária de Marx: uma espécie de “terceiro caminho”, superando a tese de que
liberalismo e socialismo seriam inconciliáveis.

Carlos Rosselli (1899-1937) escreve: “É possível pensar que a passagem de uma para
outra sociedade aconteça mediante um processo gradual e pacífico: mediante uma
passagem que, salvando as vantagens já garantidas de uma, as reforce progressivamente
através das vantagens da outra”.

Tais teorias alimentaram a fundação do efêmero Partido dell’Azione, em 1942, onde


Norberto Bobbio (1909) inicia sua atividade e reflexão política. Torna-se professor de
filosofia do direito, e cada vez mais a análise da estrutura jurídica o leva a discutir
política, passando do estudo da legalidade para aquele da legitimidade, exigência de
uma reflexão sobe a teoria do Estado.

Político ativo, Bobbio estabeleceu polêmicas em jornais e revistas, tanto com católicos
neotomistas e neo-idealistas como com marxistas dogmáticos. Critica a injustiça que
permanece no mundo capitalista e o estado de não liberdade dos países em que foi
implantado o socialismo real.

Ciente das implicações tecnoburocráticas das modernas sociedades industrializadas,


sejam elas capitalistas ou socialistas, analisa os obstáculos à democracia. Por exemplo:
a necessidade crescente de os governos recorrerem a especialistas (tecnocracia); a
ampliação e complexificação da máquina estatal (burocracia); a existência de grandes
organizações (sejam empresariais ou estatais) que impedem as condições objetivas de
exercícios democráticas; a predominância da sociedade de massa que torna o homem
323

apático, muito distante do caráter ativo exigido pela verdadeira cidadania. Bobbio
chama a esses aspectos de paradoxos da democracia moderna. Evidentemente, não para
concluir que a democracia é impossível, mas que se trata de tarefa difícil.

Bobbio se ocupa com a análise dos limites e obrigações do Estado, e faz o estudo
histórico do desenvolvimento das relações entre sociedade civil e Estatal. Vimos que
nas teorias contratualista do liberalismo clássico o contrato social constitui o Estado,
cuja legitimidade repousa, portanto no consentimento dos cidadãos. Bobbio, ao lado de
outros teóricos (como Rawls), desenvolve o neocontratualismo, em que, diferentemente
das antigas teorias, o pacto não se apresenta limitado apenas à explicação da origem do
Estado, mas, segundo ele, as forças sociais devem continuar agindo sem cessar, num
processo renovado e constante.

O governo democrático é, portanto uma policracia, isto é, o poder está irradiado por
toda a sociedade civil, entendida esta como o conjunto das organizações não estatais na
esfera das relações entre indivíduos e grupos e que, nesse sentido, representam
interesses pluralistas, sendo o Estado o ponto de encontro da diversidade e do embate
das forças mediante as quais se dará o pacto social. Além disso, Bobbio defende a
democratização da vida social como um todo, estendendo os mecanismos de discussão e
livre decisão para organismos como trabalho, educação, lazer, vida doméstica.

4.4 – Neoliberalismo

As teorias de intervenção estatal começam a dar sinais de desgaste devido às frequentes


dificuldades dos Estados em arcar com as responsabilidades sociais assumidas.
Aumento do déficit público, crise fiscal, inflação e instabilidade social são considerados
justificativas suficientes para a limitação da ação assistencial do Estado.

Desde a década de 40 alguns teóricos, como o austríaco Friedrich Von Hayek (1899),
defendiam o retorno às medidas liberalistas do livre mercado. Antikeynesiano por
excelência, Hayek acusa o Estado previdenciário de paternalista e se refere à “miragem
da justiça social”. Critica a tentativa de planificação central como uma impossibilidade,
já que, na sua concepção evolucionista, a complexidade e mutabilidade dos fenômenos
humanos escapam às tentativas construtivistas de controle.

Os neoliberais retomam o ideal do Estado minimalista, cuja ação se restringe ao


policiamento, justiça e defesa nacional. O que, segundo eles, não implica em
enfraquecimento do Estado, mas, ao contrário, no seu fortalecimento, já que se pretende
reduzir os seus encargos.

A partir da década de 80, os governos de Reagan e depois Bush, nos Estados Unidos, e
de Margareth Thatcher na Inglaterra são representantes da nova onda neoliberal. No
Brasil a tendência se confirma nos processos de privatização de organismos estatais e de
abolição da reserva de mercado. Mas contraditoriamente esbarra em outras medidas de
nítida intervenção estatal (muitas vezes exacerbadas) como a dos sucessivos planos
heterodoxos de controle na economia para conter a inflação.
324

4.5 – Neoliberalismo: Solução ou Problema?

Os liberais se regozijam com a derrocada do Leste Europeu, contrapondo ao fracasso da


economia planejada do “socialismo real” o pretenso sucesso da economia de mercado.

Bem-vindos ao progresso, à eficácia, à produtividade?

O que é, afinal, o capitalismo real? Ele não consiste apenas nas luzes que costumam
ofuscar contradições intransponíveis. O lado sóbrio parece fazer parte integrante da
condição de crescimento do capitalismo.

A expansão do capitalismo sempre foi feita a partir da criação de laços de dependência:


a colonização da América do século XVI ao XVIII; o imperialismo da África e Á no
século XIX; no século XX, a implantação das multinacionais nos países não
desenvolvidos. Mais recentemente, os acordos do FMI (Fundo Monetário Internacional)
têm feito com que a ajuda dos países mais ricos aos mais pobres os transforme de fato
em eternos credores, descapitalizados para o pagamento dos juros da dívida. Tais laços
de dependência econômica resultam evidentemente em dependência política.

Quando nos referimos aos países mais ricos do mundo, não encontramos sequer uma
dezena entre as 170 nações existentes. E, se a distribuição de renda é assim irregular
entre os países, ela também se aprofunda nos países subdesenvolvidos, como o Brasil,
onde a concentração de renda atinge níveis alarmantes.

Um dos lados sombrios do capitalismo está, portanto na má distribuição de renda, com


concentração de riqueza em poucos países ricos, e, nestes, nos pequenos grupos de
privilegiados. Em decorrência, não há como evitar os focos de pobreza e miséria, e
ainda desemprego, migrações, marginalização de jovens e velhos, surtos inflacionários
reprimidos por recessão longa e dolorosa.

Além disso, como contraponto da evolução tecnológica, ocorre a destruição do meio


ambiente e o desequilíbrio ecológico, pois a lógica do interesse privado geralmente não
coincide com o bem coletivo.

Se ao criticar o “socialismo real” as nações capitalistas contrapõem com orgulho a


liberdade individual existente no Ocidente, é bom lembrar que se trata de uma liberdade
formal, disponível só para os beneficiados do sistema. Ou seja, numa sociedade em que
há injusta repartição de bens, os contratos de trabalho não são tão livres quanto se
supõe. Nem é livre a “opção” do trabalhador pelo desemprego, analfabetismo ou baixos
salários.

Com isso queremos dizer que a crítica feita pelos socialistas ao capitalismo continua
válida. Ainda mais no momento presente, em que o neoliberalismo tende a rejeitar o
Estado assistencialista – que teoricamente significa a contradição como o livre mercado
–, mas que bem ou mal tem ajudado a minorar as dificuldades dos trabalhadores. Daqui
para frente, na selva do “salve-se quem puder”, onde já sabemos de antemão que as
325

chances no ponto de partida não são iguais, a tendência é o recrudescimento dos


problemas sociais.

4.6 – Onde Está a Saída

O problema é que a saída deve ser construída. Ela não existe no momento, a não ser em
esboços de teorias ainda incipientes e nas soluções práticas muitas vezes apressadas que
frequentemente têm levado os países socialistas ao agravamento da crise e a retrocessos.

Se forem verdadeiras as críticas feitas ao socialismo real e ao capitalismo real, é preciso


reinventar a política. Se, como disse Bobbio, o capitalismo é o estado da injustiça e o
socialismo, o da não liberdade, é preciso agora descobrir a maneira de conciliar a
igualdade de oportunidades com a liberdade, ou seja, unir socialismo e democracia.

Há quem considere tratar-se de empresa impossível, argumentando serem incompatíveis


a economia socialista e a política democrática. Segundo alguns críticos, a implantação
do socialismo exige a estatização, o centralismo da economia planejada, donde decorre
a burocracia e consequentemente a hierarquia e a perda de procedimentos democráticos.
Quanto mais existe planejamento central, mais próximo fica o autoritarismo e/ou o
totalitarismo. Portanto, o stalinismo não teria sido apenas “desvio” de rota, mas o
caminho inevitável do socialismo.

Para outros, o que existe é apenas constatação de que o “socialismo real” não soube
fazer a conciliação com a democracia, e seria bom que essa experiência ajudasse a
experimentar novos caminhos.

A saída estaria na economia mista, reunindo empresas estatais e particulares a fim de


conjugar a economia de planejamento com a economia de mercado. Afinal, entre os
extremos do laissez-faire e do estatismo, devem existir fórmulas as mais variadas e
inteligentes de controle da economia.

76 – MANIQUEÍSMO

1 – Introdução:

O que é Maniqueísmo?

É a ideia baseada numa doutrina religiosa que afirma existir dualismo entre dois
princípios opostos, normalmente o bem e o Mal.

O maniqueísmo é considerado uma filosofia religiosa, fundada na Pérsia por Maniqueu,


no século III, sendo bastante disseminada por todo o império Romano.
326

Para o maniqueísmo, o mundo é dividido entre o Bem representado pelo “Reino da


Luz”, e o Mal, simbolizado pelo “Reino das Sombras”, ou seja, um eterno combate
entre Deus e o Diabo.

Para os maniqueístas, toda natureza e essencialmente perversa e má, enquanto que a


bondade se encontra intrinsecamente presente no espírito e no mundo espiritual.

2 – O Maniqueísmo como religião

O maniqueísmo, como religião, também era formado a partir do sincretismo, pois


maniqueu teria misturado características próprias de várias doutrinas, como o
hinduísmo, budismo, judaísmo, cristianismo e zoroastrismo (antiga religião persa) para
desenvolver o conceito de maniqueísmo.

Devido à definição dualista que caracteriza o maniqueísmo, por extensão este termo
também é utilizado para adjetivar qualquer perspectiva de mundo que haja uma
divisão entre aspectos opostos e incompatíveis.

Muitas pessoas consideram o modelo maniqueísta muito simplista, pois se limita em


dividir todas as coisas em apenas dois opostos: “o bem e o mal”, “o certo e o errado”, “a
causa e o efeito”, “isso ou aquilo”, e etc., por exemplo, acreditar que uma pessoa boa
sempre será má é uma demonstração de pensamento maniqueísta.

3 – Maniqueísmo Político

O maniqueísmo político está muito presente nas “competições” entre partidos e


políticos durante as eleições, por exemplo:

“Consiste na oposição entre os pensamentos de rivais políticos, que buscam


“demonizar” a imagem do oponente e “santificar” os seus próprios argumentos, mesmo
que caiam em contradições, ocasionalmente.”

4 – Maniqueísmo e Cristianismo

As ideias disseminadas pelo maniqueísmo eram consideradas uma heresia cristã para o
Cristianismo. No entanto, após se converte definitivamente ao Cristianismo, tornou-se
um dos principais opositores desta filosofia religiosa.

Porém, alguns pesquisadores e teólogos acreditam que algumas das premissas do


maniqueísmo tenham sido levadas para o pensamento Cristão Ocidental por Agostinho
de Hipona.
327

77 – MARXISMO

(Veja tópicos 03, 66, 68 e 98 sobre materialismo, liberalismo, socialismo, absolutismo).

1 – Introdução:

Doutrina econômica e filosófica iniciada por Marx e Engels (Séc. XIX); contrapõe-se ao
liberalismo, faz a crítica do Estado burguês. A teoria marxista tem como fundamento o
materialismo histórico e dialético.

As revoluções burguesas do século XVIII se encontravam, no início do século XIX,


ameaçadas pelas forças conservadoras do feudalismo em decomposição, representadas
pela nobreza e pelo clero, ansiosas para restaurar o absolutismo e excluir a burguesia do
poder político. As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo
crescente proletariado, ambos descontentes com a situação socioeconômica. O embate
dessas forças se fez sentir em 1830 e 1848, nos grandes movimentos liberais e nacionais
que, iniciados na França, se estenderam pela Bélgica, Polônia, Alemanha, Itália,
Portugal e Espanha.

2 – Desenvolvimento histórico:

A partir de 1848, o proletariado procura a expressão de sua própria ideologia, oposta ao


pensamento liberal e inspirada de início no socialismo utópico. Começa a ficar mais
clara a cisão entre as duas classes, cuja contradição será explicitada pelas teorias que
criticam o liberalismo.

A Alemanha ainda se encontra dividida em diversos Estados, e a unificação se dará


apenas em 1871, sob o comando de Bismarck, primeiro-ministro da Prússia. Para tanto
foram necessárias três guerras e muitas táticas de unificação econômica.

Foi, portanto, numa Alemanha agitada e cheia de problemas que surgiu o marxismo, na
verdade, essa obra é fruto não só de Karl Marx (1818-1883), mas também de seu amigo
Friedrich Engels (1820-1895), que, além da colaboração ideológica, era industrial e
pôde, por diversas vezes, ajudar Marx financeiramente nos momentos mais críticos.

Escreveram juntos Manifesto comunista (1848) e A ideologia alemã. Entre outras


obras, Marx escreveu: O 18 Brumário de Luis Bonaparte, Contribuição à crítica da
economia política, O capital. Engels escreveu: Anti-Dühring, A dialética da natureza, A
origem da família, da propriedade privada e do Estado, entre outras.

Marx e Engels formulam suas ideias a partir da realidade social por eles observada: de
um lado, o avanço técnico, o aumento do poder do homem sobre a natureza, o
enriquecimento e o progresso; de outro, e contraditoriamente, a escravidão crescente da
328

classe operária, cada vez mais empobrecida. (Para a elaboração da doutrina, partem da
leitura dos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo), da filosofia de Hegel (o
conceito de dialética e uma nova concepção de história) e dos filósofos do socialismo
utópico):

1. Materialismo Histórico (veja item abaixo)


2. Materialismo Dialético (veja item abaixo)
3. Materialismo Mecânico (veja item abaixo)

3 – A Filosofia da Práxis:

Ao analisar o ser social do homem, Marx desenvolve uma nova antropologia, segundo a
qual não existe uma “natureza humana” idêntica em todo tempo e lugar. Para ele, o
existir humano decorre do agir, pois o homem se autoproduz à medida que transforma a
natureza pelo trabalho. Sendo o trabalho uma ação coletiva, a condição humana depende
da existência social. Por outro lado, o trabalho é um projeto humano e como tal depende
da consciência que antecipa a ação pelo pensamento. Com isto, se estabelece a dialética
homem-natureza e pensar-agir.

Marx chama de práxis à ação humana de transformar a realidade. Nesse sentido, o


conceito de práxis não se identifica propriamente com a prática, mas significa a união
dialética da teoria e da prática. Isto é, ao mesmo tempo em que a consciência é
determinada pelo modo como os homens produzem a sua existência, também a ação
humana é projetada, refletida, consciente. Por isso, a filosofia marxista é também
conhecida como filosofia da práxis.

4 – As Diversas Faces do Marxismo

Lênin e depois Stálin elaboraram o marxismo-leninismo, que se tornou a ideologia


oficial do partido único na URSS e de todos os partidos europeus que aspiravam à
revolução. No entanto, a situação histórica dos diversos países exigia dos intelectuais
um esforço de adaptação e correção da teoria marxista, de modo que nunca for
tranquilamente aceita a chamada “ideologia oficial”.

Com o fechamento do regime na era stalinista, a perseguição aos defensores de teorias


heterodoxas costumava culminar com a eliminação dos dissidentes, tal como ocorreu
com Bukhárin e Trótski.

Leon Trótski (1879-1940) foi companheiro de Lênin nas lutas de outubro de 1917.
Defendeu a “revolução permanente”, que significa o prolongamento da luta de classes
em escala nacional e internacional, o que deveria gerar inevitavelmente a guerra civil
interna e a guerra revolucionária externa. Partindo do princípio de que o mundo
capitalista exerce influência perniciosa sobre os países que pretendem implantar o
329

socialismo, Trótski pregava a necessidade de expansão da revolução mundial. Essa


posição foi combatida por Stálin, seu mais ferrenho inimigo, que defendia a tese do
“socialismo num só país”. Trótski, perseguido, refugia-se no México, onde foi
assassinado por um stalinista em 1940.

4.1 – A social-democracia

O enfrentamentto das dificuldades decorrentes da depressão econômica que atingia toda


a Europa, no final do século XIX, fez com que a Segunda Internacional, iniciada em
1889, tivesse características diferentes da anterior. Menos “internacional”, favoreceu a
organização relativamente autônoma dos grupos socialistas dos diversos países,
atendendo às peculiaridades nacionais.

Desse forma, na Alemanha predominou a ideologia do Partido Social Democrata


Alemão, inspirador da social-democracia. Os principais teóricos dessa tendência são:
Eduard Bernstein (1850-1932) e Karl Kaustsky 1854-1938).

Apesar de divergirem em vários pontos, os social-democratas concordam em recusar a


via revolucionária para a implantação do socialismo, e buscam mecanismos legais
democrático-parlamentares que levem, numa lenta evolução orgânica, à superação do
capitalismo. Recusam, portanto a violencia e não querem separar socialismo e
democracia.

Varias medidas são tomadas para a conquista de direitos sociais, como legislação de
proteção ao trabalhador, direito de associação, criação de inúmeras cooperativas de
consumo e ampla divulgação das ideias socialistas por jornais, revistas, teatro etc. o
resultado desses esforços significou conquistas reais para os operários. Até 1914, o
fortalecimento do movimento sindical na Alemanha tornou possível a colaboração
permanente entre Estado, empresas e classe trabalhadora.

A social democracia não se confunde com o liberalismo social, pois o Estado de bem
estar social é anti-socialista e pretende manter o capitalismo, ao passo que a
socialdemocracia visa em última instância a superação do capitalismo e a implantação
do socialismo.

A social-democracia sofreu inúmeras críticas. Do ponto de vista econômico, porque a


elevada carga fiscal desestimula os investimentos e leva a economia a impasses. Do
ponto de vista social, há a alegação de que o Estado nem sempre consegue atender aos
inúmeros encargos assumidos nem conter o aumento pernicioso do aparelho
burocrático. Do ponto de vista ideológico, a social-democracia sofre acusações dos
liberais, já que estes criticam o socialismo, e dos próprios socialistas, que a acusam de
viver bem demais com o capitalismo, sem conseguir superá-lo.

4.2 – A esquerda da social-democracia

Rosa Luxemburgo (1870-1919) e Karl Liebknecht (1871-1919) representam a ala mais


radical da social-democracia alemã. Discordam daqueles que deram seu aval à
330

participação da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e criticam os revisionistas com


Bernstein, retomando a perspectiva revolucionária como formo de destruição do
capitalismo. Rosa Luxemburgo defendia a tese da espontaneidade das massas e criticava
o partido único, cuja consequencia é o governo ditatorial de uma minoria. Alertou
severamente sobre os perigos da burocracia.

Ajudou na formação da Liga Esparta-quista (o nome Espártaco lembra o escravo


revoltado que desafiou o governo de Roma no ano 71 da nossa era) e fundou o Partido
Comunista Alemão.

Em 1919, Rosa e Liebknecht são fuzilados. Na década de 30, a cisão entre o Partido
Comunista Alemão e a Social-democracia será uma das causas da ascensão de Hitler ao
poder.

4.3 – A mais Importante Personalidade Italiana

Antonio Gramsci (1891-1937) foi um dos mais importantes teóricos italianos, preso
durante onze anos pela ditadura fascista. Mesmo no cárcere, onde ficou até a morte,
escreveu muito, enfatizando a crítica ao dogmatismo do marxismo oficial, que, ao
petrificar a teoria, impedia a prática revolucionária. Suas principais obras são concepção
dialética da história, os intelectuais e a organização da cultura, Literatura e vida
nacional, cadernos do cárcere.

Gramsci preocupa-se com o economicismo do marxismo tradicional expresso na


interpretação rígida da relação entre infraestrutura e superestrutura. Sem abandonar o
materialismo histórico dialético, torna mais flexível a relação entre o econômico e o
ideológico-político quando analisa o papel dos intelectuais.

Sua contribuição teórica está, sobretudo, em ter compreendido que o Estado capitalista
não se impõe apenas pela coerção e violência explícita, mas também por consenso, por
persuasão. Ou seja, por meio das instituições da sociedade civil, como Igreja, escola,
partidos políticos, imprensa, a ideologia da classe dominante é difundida e preservada.

Gramsci usa o conceito de hegemonia para explicar o processo. Etimologicamente, essa


palavra significa “dirigir, guiar, conduzir”. Uma classe é hegemônica quando é capaz de
elaborar sua própria visão de mundo, ou seja, um sistema convincente de ideias pelas
quais conquista a adesão até da classe dominada. A tarefa de elaboração cabe aos
chamados intelectuais orgânicos.

É dessa forma que também se impede a tomada de consciência da classe dominada. Não
tendo sua própria consciência de classe, permanece desorganizada e passiva, e as
eventuais rebeliões não modificam a situação de dependência. Por isso Gramsci
considera a necessidade de os elementos das classes populares continuarem
organicamente ligados à sua classe de forma a elaborarem, coerente e criticamente, a
experiência proletária por meio dos seus próprios intelectuais orgânicos. Só assim será
possível a unificação da teoria com a prática, ou seja, da ação revolucionária com a
transformação intelectual.
331

Gramsci abriu caminho para posteriores reflexões de Nicos Poulantzas e de Louis


Althusser, este último o teórico do conceito de aparelhos ideológicos de Estado.

4.4 – A Teoria Crítica da Sociedade

A escola de Frankfurt surgiu na Alemanha em 1925, representada por Max Horkheimer,


Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm e Jürgen Habermas.
Foi responsável pela formulação da chamada teoria crítica da sociedade. Os principais
temas dessa reflexão de natureza sociológico-filosófica são: a autoridade, o
autoritarismo, o totalitarismo, a família, a cultura de massa. O papel da ciência e da
técnica, a liberdade. Embora o ponto de partida seja marxista, os diversos autores
repesam esses temas de formas diferentes, muitas vezes se afastando da ortodoxia
marxista.

Os frankfurtianos elaboram a teoria critica da sociedade em oposição ao que chama de


teoria tradicional, significando esta última a herança da teoria marxista bem como as
diversas interpretações desse pensamento.

Uma das críticas feitas se refere ao dogmatismo dos leninistas e stalinistas quando
desenvolvem uma concepção naturalista da história, segundo a qual a evolução dos
fatos históricos marcha inexoravelmente em direção à sociedade sem classes. Trata-se
de uma concepção determinista e evolucionista típica do positivismo predominante no
final do século XIX.

Segundo a concepção naturalista, o desenvolvimento capitalista produziria de forma


irreversível a alienação e pauperização crescente da classe operária e a agudização da
crise resultaria na revolução e na vitória inevitável do socialismo. Resulta daí a noção
de progresso e da inevitabilidade da violência. Reconhece-se na evolução progressiva a
passagem de um estádio “inferior” para outro necessariamente “melhor” do que o
anterior. E a violência é considerada elemento necessário e constitutivo do progresso: a
revolução é a “locomotiva da história”, fator de evolução.

Os frankfurtianos recusam a noção de progresso e condenam a violência. Mas


compreendem que esta “lógica” já estava embutida na noção de razão construída desde
a Idade Moderna por Descartes. A exaltação da razão que culmina no positivismo oculta
o lado escuro da razão responsável pela opressão e desumanização. Analisando as
sociedades tecnocráticas, altamente tecnicizadas e “racionalizadas”, a Escola de
Frankfurt denuncia a perda da autonomia do sujeito, docilizado tanto pela sociedade
industrial totalmente administrada como pelas extremas regressões à barbárie
representada pelos Estados totalitários.

No processo de recuperação da razão, os frankfurtianos reformulam o conceito de


indivíduo, reivindicando a autonomia e o direito à felicidade. Nesse sentido dizem
“não” ao sacrifício individual das gerações presentes às gerações futuras e criticam o
revolucionário “tagarela” que exalta o sofrimento do povo, ao mesmo tempo em que o
332

submete a mais cruel opressão, como é o caso de Robespierre e de todos os


revolucionários contraditoriamente “democráticos”.

78 – MATERIALISMO

Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social, que
universalmente determina a sua consciência.

(Marx)

1 – Materialismo Antigo

Na Escola de Mileto já se pesquisava o elemento material que estivesse em toda a


substância do universo. Os fenômenos eram explicados a partir da observação da
realidade, ou seja, da matéria. Procurava-se o componente original de todos os
fenômenos da natureza. O materialismo dos Jônios não deve ser entendido a partir dos
nossos critérios de hoje. Bornheim adverte que “a palavra physis designa outra coisa
que o nosso conceito de natureza. Vale dizer que na base do conceito de physis não está
a nossa experiência da natureza, pois a physis possibilita ao homem uma experiência
totalmente outra que não a que nós temos frente à natureza”. (os filósofos Pré-socrátios,
p.14).

Tales (624-562 aC.) percebeu que todos os organismos contêm água. É considerado o
primeiro dos sete sábios da Grécia.

Anaximandro (610-546 aC.) anunciou que o princípio universal é o ápeiron – o


indeterminado, que não impressiona os sentidos e só é conhecido pela razão. Declarava
que essa substância “não gerada e imperecível contem e dirige todas as coisas”.

Anaxímenes (585-528 aC.) constatou que o ar é a substância universal.

Heráclito ( ) iniciou com a visão dialética da natureza. Declarou que a permanência é


uma ilusão. Somente a mudança é real. O universo se encontra em fluxo constante. A
luta é a lei do universo. Afirmou que é o fogo, eternamente vivo, que produz tudo o que
existe. Sua filosofia da mobilidade foi muito bem expressa com esta declaração: “A
mesma pessoa não pode banhar-se duas vezes na mesma água corrente do rio”. Em
verdade, tanto a pessoa quanto o rio mudam – entre um banho e outro!

Aristóteles ( ) desenvolveu a doutrina da realidade objetiva. Matéria e forma interagem.


A matéria não é só passiva, e não é um obstáculo à forma. A matéria é o elemento que
permite à forma concretizar-se num composto. A matéria prima não possui ainda
determinação pela forma. A