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TECNOLOGIA SOCIAL
19 a 21 de outubro de 2004
Brasília – DF
ÍNDICE
Apresentação............................................................................................ 3
Relatório do desenvolvimento das atividades da oficina tecnologia social e
agricultura familiar..................................................................................... 5
I. Introdução: AgriCultura e Tecnologia Social..................................... 5
II. A oficina................................................................................. 12
Trocando experiências................................................................... 21
A mesa de abertura – “Tecnologia social: conhecimento e sociedade”... 22
Práticas solidárias: o papel das instituições articuladoras.................... 25
Pedagogia da alternância: instrumento para promoção de
desenvolvimento da agricultura familiar........................................... 36
Inovações nas tradições da agricultura familiar: O enfoque da
agroecologia................................................................................. 40
III. Quem ensina e quem aprende? Aprendizados e desafios da
assistência técnica e da extensão rural............................................. 45
Referências Bibliográficas............................................................... 51
Anexo I.................................................................................................. 52
Anexo 2.................................................................................................. 67
Anexo 3.................................................................................................. 72
Anexo 4.................................................................................................. 75
Anexo 5.................................................................................................. 76
2
APRESENTAÇÃO
1
A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia ocorrerá em outubro de cada Ana, sob coordenação do
Ministério da Ciência e Tecnologia.
2
O primeiro foi o relatório “Tecnologia Social: Desenvolvimento Local, Participativo e Sustentável
nos Municípios”; o segundo foi o relatório “Tecnologia Social e Educação: para além dos muros da
escola” e o terceiro foi o Caderno de Debates – Tecnologia Social no Brasil. Todos os documentos
estão disponíveis em formato eletrônico na página eletrônica do Instituto de Tecnologia Social,
http://www.itsbrasil.org.br .
3
tendo em vista a construção do conceito de Tecnologia Social, a partir das
questões que o tema Agricultura Familiar veio nos oferecer. Este terceiro tema, a
exemplo do segundo, foi escolhido a partir da reflexão feita após o primeiro
encontro de que seria analiticamente importante refletir em dois momentos
distintos acerca dos elementos de TS mais relacionados ao universo das ciências
humanas3 e, em seguida, ao universo das chamadas “ciências duras”.
Entre as Linhas de Ação que dão corpo ao projeto CBRTS, duas delas visam
o desenvolvimento do conceito de TS. Primeiramente, a Linha de Ação chamada
Mapeamento Nacional de Tecnologias Sociais Produzidas e/ou Utilizadas por
ONGs consiste na pesquisa dos usos institucionais do termo, a partir de
literatura científica e da caracterização qualitativa de experiências de
organizações não-governamentais “mapeadas” que usam Tecnologias Sociais. Já
a Linha de Ação chamada Encontros para Discussão e Sistematização de
Conhecimentos sobre Tecnologia Social estabelece espaços para discutir e
aprofundar estas experiências concretas que contém elementos de Tecnologia
Social, produzindo, ao final desse processo, relatórios que organizam as
reflexões realizadas durante os encontros. A oficina “Tecnologia Social e
Agricultura Familiar: semeando diferentes saberes” faz parte destas atividades.
3
O que foi feito durante a oficina “Tecnologia Social e Educação: para além dos muros da escola”,
realizada em São Paulo, entre 9 e 11 de agosto de 2004.
4
RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DA OFICINA TECNOLOGIA SOCIAL E
AGRICULTURA FAMILIAR
A atividade agrícola pode ser vista como uma das mais antigas na organização
da sociedade. Das atividades desenvolvidas pela humanidade é a que melhor
permite visualizar o caráter co-evolutivo entre os seres humanos, o meio
ambiente e sua organização social. A riqueza desta co-evolução pode ser
percebida nas diferentes manifestações culturais que ocorrem em torno da
agricultura, como as festas antes da semeadura e as comemorações de colheitas
fartas.
Cyra Malta é doutoranda em Engenharia Agrícola na área de concentração de Planejamento e
Desenvolvimento Rural Sustentável, UNICAMP.
4
“Além disso, todo progresso na agricultura capitalista é um progresso não apenas na arte de
expropriar o trabalhador mas na expropriação do solo; todo progresso em aumentar a fertilidade do
solo durante um determinado período de tempo é um progresso em direção à destruição das fontes
de fertilidade mais duradouras. Quanto mais um território deriva da indústria de grande escala as
bases de seu desenvolvimento, como é o caso dos Estados Unidos, mais rápido é este processo de
destruição”. As traduções feitas ao longo do relatório são livres, sendo de responsabilidade dos
autores.
5
Compreendido deste modo, o fazer agricultura contrasta, fortemente, com o
modo de produção do AgroNegócio. Esta distensão histórica entre os interesses
do AgroNegócio e da AgriCultura é bem retratada por José Eli da Veiga nos
parágrafos que se seguem:
Esta perseguição, longe de estar superada, pode ser vivenciada por qualquer
estudante ou profissional de agronomia ainda nos dias de hoje. Talvez o
preconceito seja expresso com menos intensidade, mas ainda existe. As
discussões mundiais5 acumuladas até o momento deram visibilidade aos
impactos ambientais causados pela agricultura de cunho industrial. Este
processo explicita o quanto os sistemas de pensamento atravessam os tempos e
justificam ações e práticas; além disso, deixa claro que mudanças, quaisquer
que sejam, são processos.
6
Um bom exemplo é o pensamento malthusiano6 que ainda serve de base para
justificar o modelo produtivista defendido pelo agronegócio. Para o grupo que se
apóia nas teorias de Malthus, a fome está diretamente relacionada com a
capacidade produtiva e não com a possibilidade de acesso da população à
produção agrícola. O problema, portanto, não estaria na desigualdade social
gerada pela forma como organizamos nossa sociedade e, sendo assim, para que
resolvêssemos o problema social da “fome” bastaria produzir mais e em maior
escala7.
7
fome. Sua análise revela que outros aspectos contribuíram para levar ao motim,
tais como os interesses de cunho político e social e o potencial de ação coletiva
da época.
Vale lembrar que uma pesquisa inédita no país revela que, em 2003, a
agricultura familiar respondeu por 10,1% do Produto Interno Bruto (PIB) - a
soma de todas as riquezas do Brasil. O levantamento encomendado a Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) revela que o PIB do setor cresceu R$ 13,4 bilhões no ano
passado, um incremento de 9,37% em relação a 2002. Esta foi a primeira vez
que o governo federal mediu o impacto econômico da atividade praticada
exclusivamente por agricultores familiares. A agricultura é estratégica para o
desenvolvimento do país, seja pela oportunidade de gerar emprego e renda, seja
pela sua importância na oferta de alimentos. A agricultura familiar responde hoje
por 84% da mandioca, 67% do feijão, 58% dos suínos e frangos, 49% do milho
e 31% do arroz produzidos no Brasil e por 32% das exportações de soja, 25%
de café e 49% de milho8.
8
Boletim eletrônico “Em questão” Nº 266 - Brasília, 20 de dezembro de 2004.
8
O modelo de desenvolvimento agrícola adotado por uma sociedade está
relacionado com a base dos conhecimentos que são referência para a construção
da política pública que coordenará os rumos do processo. A experiência cubana
recente serve para ilustrar a complexidade de temas como tecnologia social,
tecnologias apropriadas, segurança alimentar e suas interfaces e por esta razão
a descreveremos brevemente nos parágrafos seguintes.
Nos últimos quinze anos, Cuba passou por mudanças profundas em função do
colapso do bloco soviético e a dissolução do COMECON9. Nos anos
compreendidos entre o ‘triunfo da revolução’ (1959) e a ‘queda do muro de
Berlin’ (1989) várias políticas foram desenvolvidas visando o desenvolvimento
do setor agrário cubano. Podemos dizer que o caminho adotado levou ao
desenvolvimento de uma espécie de agronegócio com um viés socialista. A
reforma agrária deste período privilegiou a empresa agropecuária em detrimento
da agricultura camponesa, baseada no ideário marxista-leninista dos
idealizadores da revolução cubana, responsáveis pelo processo que identificamos
como ‘descampenização’.
O setor agrícola nunca deixou de ser fundamental para a economia cubana, que
manteve seu caráter agroexportador. As tecnologias desenvolvidas a partir do
‘pacote tecnológico russo’ são muito parecidas com o que conhecemos como
‘pacote tecnológico da revolução verde’, pois apresentam a mesma base de
conhecimento cientifico tecnológico, mesma base conceitual e trazem consigo a
dependência por insumos, máquinas e sementes.
9
Conselho para Assistência Econômica Mutua que foi a organização de comércio do bloco soviético.
10
Para aprofundar este tema consultar autores como Peter rosset, Miguel Altieri, Richard Levins,
Niurka Perez Rojas, Carmem Diana Deere, Equipe de estudos rurais (Cuba).
9
insumos modernos. É preciso dizer que mesmo antes do ‘período especial’ já
havia setores do núcleo de poder cubano que percebiam a necessidade de
mudanças na conduta do regime para evitar a crise econômica que se anunciava
e que, infelizmente, foi agudizada pela crise do bloco soviético em 1989.
10
cooperativados. Este foi o caminho encontrado para aumentar a eficiência do
setor agroindustrial cubano, inclusive aproveitou-se este momento para fechar
as agroindústrias que operavam com ineficiência, o que impulsionou outras
políticas sociais para minimizar o impacto da crise sobre os trabalhadores. O
objetivo perseguido por estas mudanças era despertar o sentimento de
pertencimento através da ‘vinculação do homem a área’, que, como dito acima,
é identificado como motriz da produtividade.
O caso cubano nos permite refletir sobre a construção histórica dos caminhos de
desenvolvimento, seus instrumentos e referenciais teóricos-metodológicos. A
opção em adotar políticas que promoveram a ‘descampenização’ está
estreitamente ligada a orientação político ideológica dos dirigentes cubanos: eles
pensaram que este era o melhor caminho rumo ao desenvolvimento. A crise
política do bloco socialista desencadeou a crise econômica e afetou o
abastecimento do país. Este momento histórico deu visibilidade a elementos da
agricultura familiar (camponesa). Pôde-se perceber o lugar da agricultura
familiar no que se refere à segurança alimentar à produção/conservação de
conhecimentos do campo da agroecologia, de modo a caminhar rumo a
agricultura sustentável. Mas isto não quer dizer que haja unanimidade entre os
cientistas cubanos quanto à eficiência da agricultura de base agroecológica. Este
é o ponto onde capitalismo e socialismo se encontram: a matriz tecnológica que
origina e dá força ao AgroNegócio.
11
floresta que levou D. Pedro II a ser o responsável pelo maior reflorestamento de
que se tem noticia no mundo de hoje, a Floresta da Tijuca no município do Rio
de Janeiro. O reflorestamento foi feito devido à necessidade de garantir o
abastecimento de água para a cidade, que havia sido comprometido pela forma
de desenvolvimento da atividade agropecuária na época.
Os saberes têm seu tempo e seu lugar na sociedade, assim como a ciência e as
inovações tecnológicas. Os aspectos trabalhados na oficina “Tecnologia Social e
Agricultura Familiar: semeando diferentes saberes” mostram os caminhos das
diversas experiências na construção de algo novo. A teoria nos dá uma
perspectiva, um horizonte; já o fazer nos mostra as possibilidades reais. A partir
das experiências concretas relacionadas com a agricultura familiar, esta oficina
buscou identificar os elementos relacionados com a tecnologia social,
representando mais um passo na construção deste conceito.
II. A oficina
“Que se fortalezcan las áreas de docencia e
investigación orientadas al medio rural y que los
estudios que realizamos, nos permitan encontrar
soluciones viables para el agudo problema rural
latinoamericano”11 (Dra. Blanca Rubio, presidente
de ALASRU).
11
“Que se fortaleçam as áreas de docência e investigação orientadas para o meio rural e que os
estudos que realizamos nos permitam encontrar soluções viáveis para o problema rural latino-
americano”.
12
adequada à realização da oficina. O evento foi aberto com uma atividade de
introdução ao processo de construção do conceito de TS12, dividida em duas
apresentações. A apresentação esclareceu, logo de início, que durante a oficina o
centro da discussão não seria a agricultura familiar e sim a tecnologia social.
Procurou-se, então, apresentar as razões que levaram à organização do evento.
Esta idéia seguramente promoveu certo estranhamento entre os participantes
que, majoritariamente, eram mais afeitos ao tema da agricultura familiar do que
ao da tecnologia social. Este momento foi importante para democratizar e
apresentar as referências e formulações sobre Tecnologia Social acumulados
pelo ITS até o momento da oficina, possibilitando aos participantes conhecerem
o ITS e sua proposta.
12
A programação pode ser visualizada nos anexos.
13
O projeto CBRTS é fruto de uma parceria entre o Instituto de Tecnologia Social e a Secretaria de
Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, do Ministério da Ciência e Tecnologia. O projeto tem
duração de 4 anos, sendo que o primeiro ano (2004) foi dedicado às atividades tidas como
necessárias à implantação, tais como instalação física, mapeamento de organizações não-
governamentais que produzem e/ou utilizam Tecnologia Social, promoção de encontros temáticos,
desenvolvimento conceitual, elaboração de uma páginas eletrônica, entre outras.
14
Instituto de Tecnologia Social, 2004, p.26.
13
diálogo de saberes presente no universo da agricultura familiar, esclarecendo,
deste modo, alguns aspectos do jeito de fazer específico que caracteriza a TS. É
reconhecida a necessidade de estabelecer diálogos entre os diferentes saberes
(acadêmico e popular), construindo “pontes” entre eles, e a oficina buscou
recolher elementos para qualificar como são as “pontes” já existentes.
15
Esta “dureza” atribuída às ciências exatas se relaciona com a idéia de que a ciência cartesiana,
positivista acaba por gerar uma certa “dureza”, significando a falta de humanidade nas tecnologias
geradas, (tais como maquinários pesados, técnicas sofisticadas que se tornam incompreensíveis a
não ser para os cientistas etc.).Tal “dureza” identificada a estas ciências visa, portanto, fazer a
crítica da ausência de participação humana, tanto na formulação de problemas científicos, quanto
em seu desenvolvimento ou utilização. A distinção, entretanto, é simplesmente analítica, visando
distinguir campos diferentes de geração do conhecimento.
14
agronomia ser uma “ciência de fronteiras”, ou seja, possui interfaces com várias
outras ciências, pois se utiliza do conhecimento gerado por outras ciências na
base de sua formulação – o que possibilita o trânsito entre as ciências humanas,
exatas e biológicas.
A análise das experiências mostra que a realidade concreta é mais rica e plural
do que a reflexão que permanece apenas no campo das idéias. Portanto para
atingir os objetivos específicos da oficina, que visavam vislumbrar o processo de
geração e introdução de tecnologias na agricultura familiar, bem como as formas
encontradas para o diálogo destes processos, buscaram-se experiências que
estivessem em funcionamento há pelo menos 8 anos e que, na medida do
possível, fossem representativas das diferentes regiões do país e permitissem a
coleta de características de atuações locais, regionais e nacionais.
15
(SAF, SIS, SES). Tais parcerias são impulsionadas pelas demandas e pelos
movimentos sociais e também por instituições envolvidas com o tema
agricultura familiar e inclusão social que buscam melhoria da qualidade de vida
da população, mas seguramente há um outro aspecto muito importante que leva
à articulação de diferentes organismos de governo: a garimpagem de recursos
financeiros. É importante na gestão pública que as políticas não sejam
concorrentes, mas convergentes, pois não há recursos para tudo e muitas vezes
diferentes secretarias disputam um mesmo recurso para um mesmo fim, então a
parceria otimiza e dinamiza o uso do recurso, desde que se consiga focar
(superar) o processo de gestão pública para além dos interesses de poder, que é
particular de cada secretaria e de seus dirigentes.
16
pesquisa e, portanto não conseguem obter financiamento dos órgãos oficiais dos
sistema de CT&I.
17
- Em relação aos processos de tomada de decisão: Formas democráticas
de tomada de decisão, a partir de estratégias especialmente dirigidas à
mobilização e à participação da população.
18
No momento desta apresentação, várias foram as manifestações dos
participantes que questionaram sobre aspectos que estão relacionados com a
produção de conhecimento, mas talvez não tão diretamente com a Tecnologia
Social, afinal experiências geram referências que propiciam condições para
pensar e criar soluções, o que permite a reprodução continuada e a ampliação
dos saberes.
19
Entre os exemplos apresentados na oficina que expressam de alguma forma esta
territorialidade sobre a produção de inovação tecnológica e que reforçam a idéia
de que experiências geram referenciais, encontramos o da Articulação do Semi-
árido (ASA), que encabeçou o programa de transformação das cisternas em uma
política pública. Neste processo de consolidação da ASA houve valorização do
conhecimento local e se percebeu a importância dos encontros para promover a
troca de conhecimentos entre os agricultores como um caminho rumo a uma
sociedade sustentável.
20
profissional com um perfil que responda a um novo tipo de ATER, uma
assistência que construa junto com o agricultor, que saiba articular os saberes.
Neste processo de ‘chuva de idéias’ se questionou a política de elaboração de
PDA (Plano de desenvolvimento de Assentamento), que abriu espaço para o
surgimento do “gigolô da Reforma agrária” - o técnico que produz o PDA
descolado da realidade concreta, descaracterizando-o em relação à sua função
de instrumento para planejamento de ações no assentamento de reforma
agrária. Parece que há diferenças na gestão pública a serem superadas pelo MDA
e pelo INCRA, que talvez auxiliassem na implementação de programas que
fossem no sentido da formação do corpo técnico para executar uma ATER com
base em outra linha pedagógica e tecnológica.
Trocando experiências
21
Solicitou-se às pessoas que trouxessem sistematizadas suas experiências, de
modo a facilitar o processo de apresentação e inclusive possibilitando a
exposição em painéis, no entanto, apesar deste pedido ter sido enviado com
antecedência aos participantes, com orientações quanto ao teor das informações
necessárias17, quase ninguém havia preparado esta apresentação. Então, cada
um procurou fazer seu relato considerando esses itens. A maioria dos
participantes estavam ligados a programas desenvolvidos em instituições
públicas e talvez este tenha sido o motivo da forte tônica dada a questões
referentes a gestão pública durante a oficina.
Este foi um momento importante, pois os participantes puderam ter contato com
a visão multivariada dos representantes do poder público sobre o tema da
oficina. De um modo geral, percebe-se que há necessidade de aumentar o
diálogo entre ministérios, secretarias e órgãos públicos como um grande desafio
a ser enfrentado na gestão pública.
22
reconhecimento da eficácia da Pedagogia da Alternância, transformando-a num
modelo de Educação Rural. O diferencial deste modelo está na articulação entre
teoria e prática, que permite a interação entre os indivíduos, sua família e o
corpo de conhecimentos “universais”. O deputado encerrou sua fala chamando a
atenção para a necessidade de investimentos, a fim de ampliar o alcance das
iniciativas das Casas e das EFAs; investimento que está plenamente justificado
pelo fato de que a Pedagogia da Alternância é um instrumento de melhoria da
educação, estímulo à agricultura familiar e ao desenvolvimento sustentável.
O Secretario Valter Bianchini falou sobre alguns dos desafios que estão postos
para o desenvolvimento da agricultura familiar. Ele tomou alguns dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que permitiam entrever uma
correlação entre a ausência de escolas e de assistência técnica e extensão rural
e níveis de pobreza: nos locais em que não existiam escolas e onde as políticas
de ATER não chegavam, a pobreza era bem maior. Este dado, frisou o
Secretário, evidencia a necessidade de se pensar as relações entre inclusão
social e o acesso ao conhecimento e ao saber. É neste sentido que as escolas
que utilizam a Pedagogia da Alternância, as extensões universitárias, a educação
formal e a formação profissional desempenham importante papel. No entanto,
ele ressaltou, é preciso repensar a formação profissional oferecida, por exemplo,
pelas instituições que compõem o chamado sistema “S”, que privilegiam
unicamente um modo de organização da agricultura: o agronegócio. O
23
desenvolvimento deve ser multifuncional e multi-setorial, e não pode estar
restrito a um ou outro modelo de organização econômica.
Foi seguindo este tema da diversidade que Clayton Campanhola iniciou sua fala,
dizendo da importância de se reconhecer que há várias agriculturas familiares,
de acordo com as realidades locais onde estão inseridas. Como presidente da
EMBRAPA, Clayton abordou o desafio de enfrentar a cultura institucional, que
tem tratado de modo dissociado Pesquisa e ATER. Ele sublinhou ainda que
Tecnologia e Ciência não são socialmente neutras e, deste modo, é preciso ter
clareza de para que se está trabalhando; além disso, o desejável seria que os
pesquisadores lograssem trabalhar com a sociedade. Este trabalho com a
sociedade significa, entre outras coisas, ampliar o controle dos impactos sociais
e ambientais de tecnologias, definir quais os temas que merecem ser
pesquisados, participar do desenvolvimento das pesquisas etc. Finalmente,
Clayton sublinhou que uma nova abordagem requer a construção de massa
crítica e fica posto o desafio, portanto, de possibilitar que a EMBRAPA seja tão
plural quanto o meio rural. Francisco Hercílio Matos, em sua fala, reforçou a
pluralidade e a multifuncionalidade do espaço rural, sublinhando que menos do
que um modo de organização da produção, a agricultura familiar envolve
também uma certa concepção das relações sociais.
Paulo Egler também pôs em cena uma discussão importante sobre o que define
o mérito científico. Lembrando a experiência de um projeto que foi recusado pela
falta de mérito cientifico, pois as tecnologias empregadas eram simples e
baratas, Paulo Egler pôs em questão uma concepção de mérito científico que não
leva em conta impactos sociais ou ambientais. Apresenta-se assim o desafio de
construir novas medidas para o que seria o mérito científico. Egler comentou
24
ainda o princípio de TS de que aprendizagem e participação são processos que
caminham juntos, destacando que isso é verdade desde que haja organização da
população: se a população local conhece suas necessidades e demandas, se há
clareza dos objetivos e das expectativas, a participação e uma efetiva troca de
conhecimentos pode acontecer.
Pedro chamou a atenção para o fato de que não existe uma linha especifica de
pesquisa voltada para a agricultura familiar na EMBRAPA. Ele apontou que há
diferenças na forma de gerar conhecimento voltado para o grande ou para o
pequeno agricultor, pois há diferenças no sistema de manejo da unidade.
Enquanto a pesquisa desenvolvida para o agronegócio está pautada pelo cultivo,
as unidades familiares possuem um outro tipo de demanda no que se refere à
pesquisa, pois a unidade produtiva não está baseada no monocultivo,
apresentando uma agrobiodiversidade maior. Isto torna a agricultura familiar
mais complexa, pois as relações estabelecidas dentro do sistema exigem uma
25
metodologia de pesquisa que extrapole a pesquisa por cultivo, prática muito
adotada pelos centros de pesquisa.
19
Esta é uma referência a agricultura que substitui os insumos químicos por orgânicos, mas
mantém a lógica do agronegácio.
26
resgatar este conhecimento é necessário trabalhar junto às populações
tradicionais, valorizando o conhecimento popular.
O Movimento dos Sem Terra é uma escola em si mesmo (Caldart, 1997). Não há
seleção prévia para participar. Procura-se a participação dos “excluídos” e não
dos “escolhidos”. É no processo, da ocupação ao assentamento, que se dá a
formação e a seleção de quem permanecerá. No processo todos devem ter as
condições para se destacarem de forma a evitar um único líder. As ações no
assentamento devem propiciar a organização de modo a garantir a convivência
coletiva e a cooperação, pois é no coletivo que nos educamos e podemos
desenvolver nossa consciência crítica. Este é um dos motivos que leva o MST a
estimular as formas associativas nas áreas de acampamento e assentamento.
Durante estes 20 anos de história o MST aprendeu muito com a organização de
formas associativas e sabe que os processos são lentos.
27
Reconhece-se que a organização é um fator importante e deve ser estimulada
desde o momento do acampamento. Esta força da organização será muito
importante para o processo de inovação e adoção de tecnologias. Isto não
significa supor que, necessariamente, a comunidade assentada utilizará práticas
de cunho agroecológico, principalmente se em seu entorno as experiências
produtivas são desenvolvidas com base no modelo tecnológico convencional
(pacote verde). Isto significa apenas reconhecer que a des-instalação resultante
da luta pela reforma agrária abre espaço para modificações nos modos de
produzir e fazer agricultura.
O MST tem realizado várias ações para construir este caminho buscando um
modelo alternativo. Tais ações procuram envolver o maior número possível de
participantes do movimento, promovendo diálogos na sua base. Um dos
caminhos encontrados foi a constituição da Rede de Pesquisas Tecnológicas em
Agroecologia do MST, uma rica experiência de troca de informações entre
pequenos agricultores que praticam a agroecologia. Há ainda um programa em
desenvolvimento que procura inserir um programa de educação ambiental na
escola, a discussão da importância e da necessidade dos bancos de sementes, a
proposta de desindustrialização da agricultura a partir da redução no uso de
insumos industrializados, a internalização da pesquisa como forma de responder
as necessidades dos assentados e a construção de parcerias com o objetivo de
promover a agricultura de base agroecológica.
28
No campo das políticas públicas: “balançar a árvore” e dar visibilidade
às demandas sociais no campo de Assistência Técnica e Extensão rural –
ATER e produção de conhecimentos agroecológicos ao Estado. Onde o
povo está organizado há perspectiva de mudança. É importante
estruturar convênios com governo para financiamento de ATER, mas
compreende-se a necessidade de desconstrução do técnico, para que este
atue em novas bases cientifico - tecnológicas.
29
Pedro citou o Prof. Florestan Fernandes que dizia que o movimento social não
pode ser cooptado ou esmagado e precisa ter vitórias e conquistas. As vitórias e
conquistas para os movimentos sociais são valiosas, pois têm o efeito de deixar
a chama acesa e são a injeção de ânimo que os participantes necessitam para
continuar sua caminhada reivindicatória.
A mudança é mais fácil no campo das idéias do que na arena do cotidiano social.
A despeito disso, existe uma aposta grande na agricultura familiar como base de
um outro modelo de desenvolvimento da sociedade, na busca da sociedade
sustentável. Esta tem em sua base os ideais de sustentabilidade social,
econômica e ambiental, que são identificados por muitos como de difícil
equalização.
30
de refletir sobre a teoria e a prática, o que é fundamental para o processo de
produção de conhecimento e inovação tecnológica. A capacidade criativa é
infinita quando desenvolvemos a habilidade de pensar criticamente.
Não é fácil seduzir as pessoas para o novo com um discurso tipo: “Sei que não
sei fazer, mas sei que pode ser diferente” ou “vamos trocar a roda da bicicleta
em movimento”. Existem aspectos que dificultam a mudança social e o
“desconhecimento” é um deles. A decisão de adotar ou não inovações numa
unidade de agricultura familiar pode ser um bom exemplo de como são vários os
fatores que interferem nesta decisão. A decisão não é arbitrária: leva em
consideração aspectos sociais, técnicos, ambientais, políticos e econômicos.
Pedro deixou clara sua percepção de que não serão governos transitórios que
farão a grande transformação, mas alguns elementos foram apontados de modo
a contribuir com um outro projeto de sociedade e novos caminhos na construção
do conhecimento. O crédito, os insumos e as parcerias foram identificados como
instrumentos para estimular a experimentação dos agricultores. Os diagnósticos
e análise devem ser realizados de forma continua e participativa, para terem
sentido como instrumentos de planejamento.
31
reconhecimento do saber do agricultor é confundido com atraso, entende-se que
resistência à adoção de inovações tecnológicas ocorre por mero conservadorismo
e medo do novo. Mas há uma outra explicação para esta resistência que é o fato
do sistema produtivo validado por este agricultor não comportar o risco da
adoção da tecnologia proposta pela extensão rural. Muitas vezes, os fatores
considerados pelo agricultor são identificados pelo técnico como “subjetivos” e,
por esta razão, sem valor.
32
não há neutralidade na produção de conhecimento. O processo de modernização
da agricultura brasileira nos fornece um exemplo eloqüente, pois se adotou o
caminho da adaptação e difusão de tecnologias que ao final privilegiou um
segmento de agricultores. É muito comum a associação de pesquisadores ao
agronegócio e a grandes empresas que financiam parte das pesquisas com o
objetivo de validar seus produtos. Dentro de nosso atual sistema de C&T, estes
são os pesquisadores valorizados, os que apresentam resultados.
33
As tecnologias ligadas ao aumento de escala nem sempre consideram aspectos
sociais e ambientais. Estes fatores , quando considerados conjuntamente, podem
colocar em xeque a idéia de que importa somente o aumento imediato da
produção.
A questão colocada por Pedro é como seria feito este trabalho com nova cara, se
seria possível com a mesma estrutura de CT&I e ATER de que dispomos fazê-la
convergir para o trabalho com a comunidade. A questão fundamental é a
mudança de mentalidade; mudar a estrutura por decreto não muda a
mentalidade. Portanto criar uma nova estrutura não necessariamente é uma
solução – afinal, novas estruturas carecem de tempo para se enraizarem e
adquirir capilaridade. Além disso, as estruturas institucionais mais antigas já
estão estabelecidas quanto a recursos econômicos, técnicos e humanos.
A principal crítica que foi feita se ampara na observação de que as ONGs são
muito mais ágeis para de adequar a mudanças de demandas do que as
estruturas do Estado. Ora, as estruturas do Estado dificilmente terão a mesma
dinâmica de uma ONG, pois são essencialmente diferentes. O que pode ser feito,
até como estratégia para dinamizar as instituições estatais é construir e reforçar
canais de diálogo entre estas e a sociedade. As instituições de pesquisa, ensino e
extensão necessitam ter mais diálogo com a sociedade, devem se reformular e
sair do pedestal em que se encontram. As mudanças na extensão universitária
podem aproximar a agricultura familiar da universidade e este caminho deve ser
construído coletivamente a partir de metodologias participativas.
Neste processo de mudança nas relações entre governo e sociedade, qual seria
o papel da sociedade em relação ao governo? Um termo muito utilizado foi o de
que é necessário “balançar a árvore”, cobrar do Estado políticas públicas que
realmente atendam às demandas sociais. A questão que ficou sem resposta é
como se reconhece qual o momento de cooperar com o governo e qual o
momento de enfrentá-lo. O que ficou nítido no processo é que o “ritmo” do
movimento social – MS é diferente do governo. O governo procurou fazer o
mapeamento da economia solidária com a intenção de trabalhar a contradição
entre o apoiar e o cooptar. Para que a mudança institucional ocorra “por dentro”
é necessário conquistar técnicos, pesquisadores e professores para que estes
coloquem suas competências a favor da construção de um outro modelo de
desenvolvimento.
34
anos 70 e é assim com a expansão agrícola nos dias de hoje. É importante que
se modifique o orçamento da EMBRAPA, pois hoje a pesquisa privilegia o
agronegócio e não a agricultura familiar, este também é um aspecto político.
Concluindo sua intervenção, Pedro afirmou que as intervenções neste campo não
devem ser pontuais, devem ocorrer de forma sistêmica de modo a desenvolver a
agricultura familiar. A promoção do processo de transição a agricultura de base
agroecológica deve ser animada pelo Estado.
Ainda que tais mudanças sejam lentas, Sônia chamou a atenção para o papel
desempenhado pelas entidades da sociedade civil organizada e pela população
em geral: balançar constantemente a árvore. Trata-se de uma referência à
exposição de Pedro, que disse que o esforço constante para transformar as
instituições significa balançar a árvore e acrescentou que a lentidão das
transformações se deve à arraigada cultura institucional, que faz com que as
pessoas se agarrem fortemente à árvore, temendo cair. Ainda brincando com
esta idéia, Sônia alertou quanto à força com que balançamos a árvore, pois os
bons frutos podem cair também. Ainda em relação ao papel da sociedade civil
organizada, Sônia Kruppa chamou a atenção para a dificuldade de interlocução
com os desorganizados, ou seja, aqueles indivíduos que se encontram
pulverizados em suas ações e estratégias.
35
dão de modo tranqüilo. Chamando ao diálogo a sociedade civil, o Estado acaba
tendo que enfrentar o “fio da navalha” entre cooptar os movimentos sociais e
“esmagá-los”. Caberia, do nosso ponto de vista, apenas um questionamento
sobre a necessária distinção entre sociedade civil organizada, empreendimentos
solidários e movimentos sociais.
É interessante notar que, para este momento, tivemos dois expositores que
optaram por caminhos bem diferentes em suas apresentações. A primeira foi
mais pautada pela questão da pedagogia da alternância e a escola, esclarecendo
como que se opera o processo de ensino aprendizagem neste contexto e como
os atores envolvidos se relacionam. Já a segunda exposição apresentou mais
elementos político-ideológicos e de críticas à sociedade.
A Profa. Cida iniciou sua fala com a leitura de uma carta redigida de próprio
punho, que expressa o significado da vivência numa EFA e sintetiza a visão de
uma estudante que vivenciou a pedagogia da alternância. Em sua leitura,
percebe-se a força do conhecimento construído a partir da realidade concreta.
Este adquire um outro significado, mais ainda quando tem como objetivo a
formação integral e passa a fazer parte do projeto de vida pessoal contribuindo
36
experimentação proposta no método: ao observar estou pesquisando de forma
participativa a realidade; ao refletir estou analisando a realidade e ao
experimentar encontro novas interrogações e possibilidades de pesquisa.
37
no meio rural: 65% dos egressos permanecem em meios rurais e 35% migram
para meios urbanos20.
Vale a pena pensar nesta questão apresentada pelo Prof. João Batista Queiroz
sobre a necessidade de trabalhar a formação dos educadores para utilização dos
instrumentos pedagógicos. Segundo ele, as “EFAS/ES são muito escola, pouco
família e pouco agrícola”. É fundamental consolidar a experiência das Escolas
Família Agrícola e para isso é preciso integração entre escolaridade e formação
profissional, afinal o trabalho de monitor é muito complexo no cotidiano e exige
um processo constante de formação, pois o monitor não é apenas professor,
passa a fazer parte da vida dos jovens, partilhando de seus problemas. Um outro
gargalo das escolas é garantir a sustentabilidade econômica. Um caminho tanto
para conseguir uma formação de qualidade como para construir a
sustentabilidade das escolas é a ampliação de parcerias com universidades e
centros de pesquisa.
20
Estes dados foram apresentados pelo Professor João Batista Queiroz, em sua exposição nesta
oficina.
21
Referência ao livro Extensão ou comunicação? de Paulo Freire.
38
outro jeito de fazer agricultura existe. A forma como se desenvolveu a ciência
agronômica, fragmentada, fez com que perdêssemos a capacidade de gerar
conhecimento para a agricultura de forma integral, pensando as unidades
produtivas como agroecossistemas. Esta pedagogia possibilita resgatar a
capacidade de produzir conhecimento para a agricultura de modo a produzir
conservando o meio ambiente, desenvolvendo uma agricultura sustentável.
Como já foi dito, nem tudo são flores na pedagogia da alternância, pois os
conflitos são muitos e estão diretamente relacionados com o envolvimento e
participação de todos. O ambiente de respeito para os pais é muito importante e
estes sentirão confiança e permitirão a participação do filho(a). Este filho(a) por
sua vez dará visibilidade ao real caráter familiar da propriedade quando o pai
não permitir que este desenvolva campo demonstrativo ou queira fazer alguma
alteração no sistema desenvolvido pelo pai, ou mesmo quando for solicitada por
parte da escola um maior envolvimento dos pais. Os processos participativos
tendem a dar visibilidade as relações sociais historicamente constituídas e já
incorporadas ao jeito de ser de cada um e, conseqüentemente, aos conflitos
fruto do questionamento e potencialidades de processos de mudança ou
permanência.
39
aproximando o universo do conhecimento e do saber do agricultor. Este processo
torna visível que o acesso ao conhecimento e a possibilidade de sair da
marginalidade caminham lado a lado.
40
A exposição de Eros procurou, justamente, traçar um breve histórico das
relações entre Pesquisa e ATER. Em diversos momentos, durante a oficina,
apontou-se para a dissociação que existe entre a Pesquisa e o trabalho de ATER;
uma dissociação que revela muito sobre o modelo “difusionista” que tem
caracterizado a assistência técnica e a extensão rural.
Ao contrário da idéia de que não há políticas de ATER ou que elas não chegam a
quem precisa, Eros mostrou que a ATER teve um papel fundamental para a
condução de um processo de modernização do campo. No entanto, tal
modernização foi conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país.
Seu objetivo foi apenas introduzir inovações na agricultura de modo a contribuir
para a consolidação de um modelo de desenvolvimento urbano-industrial. Deste
modo, em nenhum momento esta modernização se preocupou em construir
instrumentos que permitissem ao pequeno agricultor permanecer no campo
melhorando suas condições de vida: o modelo de produção privilegiado foi o do
grande negócio, da produção dependente de insumos químicos e genéticos e da
mecânica. A modernização conservadora não alterou significativamente o quadro
das relações sociais no campo, apenas contribui para expulsar os pequenos
agricultores de suas propriedades, tornando-as inviáveis economicamente.
41
José Antonio Costabeber nos trouxe alguns princípios de Agroecologia, exposição
que foi muito interessante, principalmente porque Costabeber procurou pôr em
diálogo sua reflexão com a idéia de Tecnologia Social. O primeiro ponto que
abordou foi o risco das apropriações dos termos – notou que a Agroecologia tem
assumido outros usos, menos sistêmicos, aparecendo mais como uma “marca”
para o consumidor do que como um modo de conceber a produção, as relações
sociais e ambientais etc.
O êxito de uma pesquisa e sua utilidade pública podem ser medidos a partir de
sua formulação, onde as propostas de pesquisa devem ser articuladas aos
42
processos locais de experimentação. E a superação das estruturas formais,
tanto no campo da educação quanto na produção de conhecimento, é
fundamental para a formação de pessoas para atender as demandas da
agricultura familiar. É fato que o modelo tradicional de escola não colabora com
a formação dos agricultores, pois é descolada da realidade. Esta é a vantagem
das Escolas Famílias Agrícola e da Casas Familiares Rurais que nascem
justamente para preencher a lacuna que existe na educação formal, que não
atende ao interesse dos agricultores familiares. Sugere-se a reformulação do
currículo escolar de modo a valorizar aspectos regionais procurando trabalhar o
conhecimento a partir da realidade local, dando mais sentido ao processo de
aprendizagem.
Reforçando algo que apareceu diversas vezes durante a oficina, Paulo definiu a
noção de tecnologia presente no modelo de ATER que tínhamos: nesta visão,
tecnologias são produtos, passíveis de difusão indiferenciada a todos os
contextos, cuja finalidade – previamente definida – é sempre o aumento da
produtividade. Neste sentido, Paulo chamou a atenção para o fato de que não é
possível dizer que os agricultores, neste modelo, são meros receptores de
conhecimento, pois a eles só se deseja transferir o produto, pronto e acabado,
sem que eles se apropriem do conhecimento que levou à construção da
tecnologia. Ora, privar os agricultores destes conhecimentos significa privá-los
43
também dos instrumentos para a inovação e reforçar uma relação distante e
dependente com pesquisadores, assistentes técnicos e extensionistas.
44
mas tendo muita clareza dos princípios de sua intervenção e também do modo
de produção que desejam fomentar.
Paulo fez uma sugestão para a definição da Tecnologia Social: “Tecnologia Social
seria aquela desenvolvida a partir da restauração dos processos coevolutivos,
apropriada localmente”.
É claro que com esta observação não se pretende dizer que apenas grupos já
organizados podem ser agentes de transformação. Um outro importante fator de
mudança é a motivação dos indivíduos. E deve-se sublinhar a idéia exposta
durante a oficina que as motivações individuais podem ser heterogêneas: a
“verdade”, a “mística” dos movimentos sociais e das organizações coletivas não
está dada a priori; antes, o senso comum se constrói no processo.
45
A idéia de des-instalação, que apareceu com tanta força na experiência da
Concrab, pode ser aplicada a diversas realidades. Afinal, o que se destaca da
idéia de des-instalação não é tanto o fato dos indivíduos se encontrarem des-
territorializados como o fato de se encontrarem num momento de
estranhamento em relação ao funcionamento da sociedade num dado momento.
Ou seja, é a abertura para a mudança, a percepção de que as coisas podem ser
diferentes que importa nesta des-instalação.
Movimento social de
experimentação AE
46
O processo de geração de conhecimento é tão importante quanto o
conhecimento em si. É importante olhar o processo, pois nele está contido a
possibilidade de apropriação social do saber produzido. Uma semente
transgênica contém em si um processo de produção de conhecimento altamente
concentrado e de difícil desvendamento para o agricultor ou para a pessoa
comum. É um processo muito diferente da semente da paixão ou crioula, que
reproduz o processo de domesticação adotado pelos agricultores desde os
primórdios da agricultura, sendo um processo de fácil apreensão e reprodução
por qualquer curioso – agricultor ou não.
Parte dos desafios institucionais que estão postos para a construção de um novo
modelo de conhecimento e sua transmissão se coloca dentro dos órgãos
responsáveis pela Assessoria Técnica e Extensão Rural. Desenvolver uma nova
ATER que participe dos processos do agricultor exige um profissional com perfil
diferente. E este perfil deve ir ao encontro de um novo referencial de
desenvolvimento, menos relacionado apenas ao crescimento econômico, que
considere aspectos sociais, econômicos e ambientais, que a agricultura tenha
uma base agroecológica e a extensão se realize em bases participativas. O
técnico extensionista deve atuar, assim, como um “tecnólogo social rural”.
47
Neste quadro de construção rumo à agricultura sustentável, a elaboração de
uma estratégia para redução no uso de insumos químicos, genéticos e
mecânicos é fundamental. Há uma relação direta estabelecida entre as condições
do território e a melhoria da produção quando ocorre diálogo entre os diferentes
fatores que envolvem a produção.
Tal concepção está longe de ser neutra. Aliás, a neutralidade científica foi
identificada ao conjunto de argumentos falaciosos, que serve tanto aos cientistas
que procuram garantir a autonomia científica quanto àqueles que buscam
esvaziar suas pesquisas de interesses privados – é como se o método científico
por si mesmo tornasse um problema relevante para toda a humanidade. É
preciso que se reconheça, portanto, que a ciência não é neutra: ela é composta
por pessoas que possuem o seu lugar, a sua posição, dentro de um campo social
e representam seus interesses; seu projeto individual convive com um projeto
de sociedade.
48
realidade concreta. Os instrumentos pedagógicos da Alternância levam os alunos
a entenderem sua realidade; no processo de aprendizagem desencadeado nestas
escolas, a realidade vem em primeiro lugar. Os conteúdos trabalhados na escola
são fruto de pesquisa prévia feita com o aluno – valorizando-se e respeitando-se
a identidade local. O que é sempre importante sublinhar nestes processos é que,
de modo algum, o respeito à identidade local significa isolar os educandos nos
limites de seus interesses. Ao contrário, trata-se de provoca-lo a transgredir
estes limites, seja por meio de pesquisa, seja por meio do encontro com pessoas
diferentes. A ação coletiva é outro elemento muito valorizado no processo de
ensino-aprendizagem e pode ser percebido pelo vínculo de 69% dos alunos de
escolas famílias agrícola com outros tipos de associações.
49
características próprias onde tanto a concepção quanto a pauta da pesquisa são
participativas. É importante reconhecer que é possível fazer a pesquisa tanto no
campo quanto no centro de pesquisa. As experiências expostas e debatidas
durante a oficina afirmam que não é tão difícil escapar da camisa de força
imposta pelo processo de simplificação e isolamento dos fatores. É importante,
na produção científica agroecológica, aprender a lidar com a complexidade da
pesquisa científica, buscar as pontes que relacionam o conhecimento, que
conectam diferentes campos do saber como o meio ambiente, o social e o
econômico.
23
Este aspecto está melhor trabalhado no anexo 2, “Políticas Públicas e Tecnologias Sociais:
reflexões a partir da oficina Tecnologia Social e Agricultura Familiar”.
50
A produção científica deve desobscurecer o que, o como e o porque da ciência.
Talvez nesta busca de um novo caminho devêssemos nos afastar do significado
da “cidadania” para nos aproximarmos da “florestania”. E buscar uma ciência
mais voltada para a sociedade e menos para o mercado, mais responsável
socialmente.
51
Referências Bibliográficas
52
ANEXO I
Breve Histórico
A trajetória da CONCRAB se desenvolve na medida em que se aperfeiçoa a
organização dos assentados e o Movimento dos Sem-Terra (MST) passa a
assumir, nas suas discussões, os assentamentos como foco de suas ações.
Também tem origem no reconhecimento de um esboço de uma política
cooperativista no interior do MST (Fabrini, 2002).
Visando garantir a melhoria da produção agropecuária, iniciou-se uma profunda
avaliação de toda a política de estímulo à Cooperação Agrícola com vistas a
melhorá-la. Dessas discussões optou-se pela criação do Sistema Cooperativista
dos Assentados (SCA) que corresponde ao Setor de Produção e Comercialização
do MST, tendo como objetivo a busca de maior articulação e afinidade entre as
diversas formas de cooperação, elaboração e aplicação de políticas homogêneas
de desenvolvimento, formação de quadros organizadores da cooperação,
elaboração de programas de capacitação em todos os níveis, elevação da
produção agropecuária e melhoramento da produtividade do trabalho nos
assentamentos, a fim de atingir melhorias significativas nas condições de vida
das famílias assentadas.
O SCA articula diversos tipos de organizações dos assentados, desde Grupos
Coletivos, Associações, Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA) e
Cooperativas de Prestação de Serviços (CPS). Ao nível estadual existem as
Cooperativas Centrais dos Assentados (CCA). E, no nível nacional, foi criada a
CONCRAB (em 15 de maio de 1992), para articular as demandas e as
potencialidades regionais otimizando esforços e recursos em vistas do
desenvolvimento sócio-econômico das famílias assentadas.
Introdução
A CONCRAB articula, dos diversos atores, componentes do Sistema
Cooperativista dos Assentados.
Para a promoção da produção agroecológica foram estruturados centros de
pesquisa em parceria com ONGs e instituições públicas, no qual grupos de
agricultores-pesquisadores e técnicos-pesquisadores puderam desenvolver
experimentos dentro dos assentamentos, acompanhados pelos agricultores -
sujeitos e beneficiários diretos das pesquisas.
53
Além disso, a Concrab tem implementado diversos cursos formais e não formais
voltados para os agricultores assentados e seus filhos, a fim de promover o
acesso à escola (ensino) e o estímulo à cooperação e as formas associativas de
organização da produção juntamente com a pesquisa e o estudo para a
contribuição do desenvolvimento dos assentados. (Folder da organização).
Princípios:
- Cooperação social, econômica e no trabalho entre os assentados;
- Preocupação com a estrutura física dos assentamentos (organização espacial);
- Valorização das histórias de lutas do MST mantidas através das místicas e
trabalhos coletivos;
- Exemplos de conduta e motivação para os acampados e assentados;
- Preservação da natureza (do meio ambiente);
- Desenvolvimento de novas técnicas para os produtos e processos;
- Formação e qualificação técnica para os assentados e seus familiares (filhos);
- Estimulação à cooperação e as formas associativas de organização da
produção;
- Pesquisa e estudo para a contribuição do desenvolvimento dos assentados.
Objetivos
"A Confederação (Concrab), organização das cooperativas na terceira instância,
tem a função de coordenação geral das políticas e planejamento do
desenvolvimento das atividades das cooperativas. Cabe ainda, organizar a
formação técnica (administrativa, financeira e agronômica) de caráter nacional,
desenvolver estudos e estratégicas de mercado, cuidar das relações
internacionais relacionadas às cooperativas (exportação, por exemplo) e
articulação com outras confederações" (Fabrini, 2002).
Atores Envolvidos
De modo geral, os atores envolvidos são os vários grupos organizados no
Sistema Cooperativista dos Assentados: desde os núcleos de base, os grupos
coletivos, Associações de Assentados, Cooperativas de Produção Agropecuária,
Cooperativas de Prestação de Serviços, Cooperativas de Crédito, Cooperativas
Centrais dos Assentados (nível Estadual) e, finalmente, a própria CONCRAB a
nível nacional.
Funcionamento da Experiência
Todos os assentamentos devem ir se organizando em núcleos de base. Eles são
um espaço para discutir os problemas do assentamento, a organização da
produção, a luta dos trabalhadores e o avanço da cooperação. O núcleo não deve
ser entendido apenas como uma estrutura formal. A principal razão é garantir a
gestão democrática do assentamento e da cooperativa. Na verdade, o núcleo é
um espaço de construção da democracia participativa e do poder popular: ele
analisa as demandas, elabora e aprofunda as propostas, participa na elaboração
e implementação da estratégia e elege os seus representantes para a
coordenação do assentamento e conselho da cooperativa (Página eletrônica da
organização).
54
A partir da organização de grupos de assentados nos níveis locais, novos
agrupamentos, dessa vez dos grupos menores vão formando coletivos mais
abrangentes, até chegar na CONCRAB, que promove a articulação ao nível
nacional.
Institucionalização da prática
A CONCRAB está formalizada.
Principais Dificuldades
- Há dificuldades econômicas relacionadas à ausência de políticas de crédito, de
subsídios e de comercialização para a pequena produção agropecuária (Scopinho
e Martins, 2003).
- As Cooperativas e iniciativas associativistas também têm enfrentado
dificuldades para se inserir no mercado voltado para satisfação dos interesses
ligados a exportação e as grandes empresas multinacionais voltadas para o setor
de alimentos (Página da organização).
- A implantação de cooperativas encontra dificuldades, por sua vez, devido à
cultura da população, muitas vezes não compatível com as práticas de
cooperação e de organização coletiva, dada uma história muito mais longa de
divisão do trabalho e fragmentação dos grupos de agricultores e produtores
(Fabrini, 2002, Scopinho e Martins, 2003)
Dicas estratégicas
- Organização das iniciativas associativistas a partir dos Núcleos de base, que
garantem a participação de todos na gestão e decisão das iniciativas.
55
Elementos de Tecnologia Social
A formação do Sistema Cooperativista dos Assentados busca viabilizar
empreendimentos de pequenos agricultores assentados, por meio da associação
entre les. A experiência de organização desses agricutores, primeiro em
pequenos grupos, depois em congregações amiores representa uma tecnologia
social de organização de pessoas.
Fontes de Informação:
Página Eletrônica da Organização:
http://www.mst.org.br/setores/concrab/indice.html
Fabrini, J. E. (2002). O projeto do MST de desenvolvimento territorial dos
assentamentos e campesinato. Terra Livre, 18. nº 19 p. 75-94.
Scopinho, R. A. Martins, A. F. G., (2003) "Desenvolvimento organizacional e
interpessoal em cooperativas de produção agropecuária: reflexão sobre o
método". Psicologia e Sociedade, 15 (2): 124-143.
Breve Histórico
O sistema Casa Familiar Rural, no Brasil e a rede ARCAFAR tiveram seu início no
Estado de Pernambuco, em 1984 (Martins, s/d).
Já o Sistema Familiar Rural na Amazônia Brasileira teve seu início no Estado do
Pará, em 1994.
A ARCAFAR/PA foi fundada em 2003, numa Assembléia Geral realizada na cidade
de Gurupá-PA. Sua constituição foi fruto de uma ampla discussão entre as Casas
Familiares Rurais, que sentiam a necessidade de uma Organização Estadual para
defender e representar seus interesses, promover o intercâmbio, garantir os
princípios filosóficos e metodológicos, evitar o isolamento e acompanhar o
processo de expansão das mesmas no Estado do Pará.
Desde sua existência, a ARCAFAR/PA tem desempenhado importante papel na
união e fortalecimento das Casas Familiares Rurais do Estado do Pará,
possibilitando a expansão e a boa aplicação dos princípios que norteiam a
Pedagogia da Alternância nas diferentes realidades do Estado do Pará.
56
Características Gerais da Experiência
- Localização: A rede ARCAFAR é constituída pela ARCAFAR/ NORTE, ARCAFAR/
PARÁ, ARCAFAR/ MARANHÃO e ARCAFAR/ AMAZONAS.
- Tempo de existência: As Casas Familiares Rurais existem há,
aproximadamente, 20 anos.
Princípios:
- Promoção do Desenvolvimento Local Sustentável e Solidário;
- Pedagogia da Cooperação;
- Valorização da Cultura e dos Calores do Campo;
- Promoção da Cidadania;
- Economia Solidária;
- Formação Integral do Jovem: social, profissional e pessoal.
Introdução
O Movimento das Casas Familiares Rurais nasceu na França, em 1935 a partir da
necessidade de criação de uma escola que correspondesse às necessidades reais
e aos problemas vivenciados no campo. Durante a década de 50 a experiência
começa a chamar atenção e se expande para outros países da Europa. Em 1975
foi criada a Associação Internacional dos Movimentos Familiares de Formação
por Alternância - AIMFR.
A Pedagogia da Alternância é uma alternativa para a Educação no campo, já que
o ensino nesse contexto não contempla as especificidades e as necessidades da
população que vive no meio rural. Segundo Martins (s/d) alguns problemas
educacionais encontrados nas escolas no meio rural dão origem à necessidade
de uma proposta educacional específica para o campo. Alguns problemas que
podem ser enumerados são: a escola desvinculada da realidade local, a falta de
recursos para atividades básicas do campo, a necessidade dos alunos ficarem na
propriedade com sua família para trabalhar e terem dificuldades de acompanhar
o calendário tradicional das escolas, a desvalorização da escola multiseriada e a
falta de vagas nas escolas agrotécnicas.
A formação não voltada para as especificidades do campo também se reflete em
baixos índices de produtividade pelo uso de técnicas inadequadas à realidade de
cada região.
Portanto, ainda segundo Martins (s/d):
"Pensar numa proposta Educacional em oposição à educação convencional foi
uma necessidade frente à realidade rural brasileira. Os fatores que contribuíram
para o surgimento das Casas Familiares Rurais no Brasil tiveram relação direta
com a economia agrícola baseada na produção de subsistência, a falta de
conhecimento de técnicas alternativas para a preservação ambiental, o rápido
processo de desmatamento, o uso do fogo de modo indevido, preparo adequado
do solo, uso intensivo de agrotóxicos, baixo uso de práticas conservacionistas
nas áreas de cultivos, a monocultura, êxodo rural, evasão escolar pela falta de
respostas das escolas existentes às reais necessidades dos jovens camponeses e
pela falta de escola básica do campo" (pp. 3 e 4).
Objetivos
O Modelo de Educação "Casas familiares Rurais" tem como objetivo promover
uma educação, formação e profissionalização alternativa eficaz e concreta mais
57
apropriada à realidade do campo. Visa, com isso, incentivar a permanência do
jovem na sua própria região, criando alternativas de trabalho e renda, numa
perspectiva da Economia Solidária.
A rede ARCAFAR visa o fortalecimento e expansão da formação em alternância
no Brasil. (Martins, s/d)
Atores Envolvidos
O projeto pedagógico é resultado da ação de diversos atores que devem atuar
em parceria, entre eles o monitor/ educador, o aluno, a família, a comunidade,
profissionais e instituições locais.
Funcionamento da Experiência
As Casas Familiares Rurais são um modo específico de formar e educar pessoas
que vivem no meio rural. São destacados dois eixos principais que dão base para
o projeto de formação proposto: a Pedagogia da Alternância e a Associação das
Famílias.
1) A Pedagogia da Alternância se caracteriza por alternar a formação do aluno
entre momentos no ambiente escolar e momentos no ambiente familiar/
comunitário.
A proposta é desenvolver um processo de ensino-aprendizagem contínuo em que
o aluno percorre o trajeto propriedade - escola - propriedade:
- Em um primeiro momento, na propriedade, o aluno se volta para a observação,
pesquisa e descrição da realidade sócio-profissional do contexto no qual se
encontra.
- Em um segundo momento, o aluno vai à escola, onde socializa, analisa, reflete,
sistematiza, conceitualiza e interpreta os conteúdos identificados na etapa
anterior.
- Finalmente, num terceiro momento, o aluno volta para a propriedade, dessa
vez com os conteúdos trabalhados de forma a que possa aplicar, experimentar e
transformar a realidade sócio-profissional, de modo que novos conteúdos
surgem, novas questões são colocadas, podendo ser novamente trabalhadas no
contexto escolar.
De maneira geral, a Pedagogia da Alternância trabalha com a experiência
concreta do aluno, com o conhecimento empírico e a troca de conhecimento com
atores do sistema tradicional de educação, e também, com membros da família
e da comunidade na qual vive o aluno e que podem fornecer-lhe ensinamentos
sobre aquela realidade.
Atualmente, já existe uma série de instrumentos especialmente elaborados para
trabalhar em regime de alternância, como: Plano de Estudo com temas
geradores escolhidos a partir de um diagnóstico da realidade local, o Caderno de
Pesquisa, o Caderno de Acompanhamento, entre outros.
2) A Associação das Famílias tem como função gerir a Casa Familiar Rural -
administrativamente, financeiramente e juridicamente. Além disso, tem como
responsabilidade participar da formação e complementá-la de modo coerente a
partir do que lhe é ensinado na escola.
Institucionalização da prática
58
As Casas Familiares Rurais são pessoas jurídicas próprias, vinculadas a
Associações formadas pelos atores envolvidos no projeto pedagógico.
Principais Dificuldades
- Falta, no nível federal, de reconhecimento e regulamentação da Pedagogia da
Alternância (Martins, s/d);
- Falta de apoio financeiro para o funcionamento do modelo;
- Ausência de Formação Acadêmica dos Monitores/ educadores especificamente
para questões da alternância;
- Instalações inadequadas;
- Falta de equipamentos e materiais didático-pedagógicos (Martins, s/d).
Dicas estratégicas
A integração entre os diversos atores envolvidos se mostra um aspecto
fundamental para o funcionamento da proposta da Pedagogia da Alternância.
Dado que a formação do aluno se dá em diversos contextos, torna-se necessário
que haja certa coerência de proposta entre eles.
Além disso, segundo Passador (2000):
"O envolvimento da comunidade é primordial para a consecução dos objetivos do
Projeto, cuja implantação só acontece a partir da demanda da própria
comunidade. A partir daí, começa a se desenvolver o senso de responsabilidade
pelas escolas, a busca por soluções para os problemas da região, a valorização
do agricultor como cidadão e como profissional. Conseqüentemente, o Projeto
acaba despertando a iniciativa e a participação comunitária, além de uma
atuação conjunta por parte dos órgãos executores e parceiros do Projeto. E
ainda, cria projetos de desenvolvimento regional oriundos das aspirações da
população local e dos ensinamentos da Casa Familiar Rural”.
“As Casas tem evoluído de acordo com a maturidade política das comunidades.
Nas cidades em que as lideranças constituídas e os agricultores compreendem
suas atribuições junto ao Projeto, este se torna a mola propulsora da agricultura
no município ou na região" (pp. 2)
Resultados
Segundo Martins (s/d) "As Casas Familiares Rurais apresentam resultados
excelentes de custo/ benefício, sendo muito favoráveis aos interesses da
administração pública, pois garantem qualidade no ensino e com um custo
menor em relação aos obtidos com a educação nas escolas tradicionais" (pp.
Outros resultados indicados pelo autor são: formação de lideranças,
diversificação da propriedade, geração de trabalho e renda no campo, inclusão
social, resgate da cidadania, qualidade de vida, vida digna e felicidade,
continuidade dos jovens no campo e um projeto profissional de vida.
Perspectivas
- Aumento de parcerias com o poder público. As Casas Familiares Rurais têm
dificuldades financeiras e, por outro lado, a proposta pedagógica realizada é tida
como de interesse público.
59
- Formação de parcerias com Universidades para criação de projetos de curso de
formação específicos para os monitores/ educadores da Alternância
O desenvolvimento da Pedagogia da Alternância representa uma Tecnologia
Social em si, pois é o desenvolvimento de um projeto pedagógico especialmente
adequado á realidade rural, formando jovens que conheçam sua realidade e
aprendam a partir dela.
Fontes de Informação:
Informações sobre a organização: http://membres.lycos.fr/dominiquesourty/
A Notícia (1999) Projeto educacional ganha professores. Disponível em
http://www.an.com.br/1999/mar/05/0ger.htm, em 13/10/2004.
Martins, L. dos S. (s/d) Casa Familiar Rural - CFR - Formação a serviço da
vida com dignidade no campo. Texto cedido pela organização.
Passador, C. S (2000) “Projeto Escola do Campo: Casas Familiares Rurais do
Estado do Paraná”. Em Novas Experiências em Gestão Pública e Cidadania.
Marta Ferreira Santos Farah e Hélio Batista Barboza (orgs.). São Paulo: Editora
FGV.
Breve Histórico
A União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil - UNEFAB foi criada em
1982, através de um processo de discussão e estudo realizados pelas EFAs -
Escolas Famílias Agrícolas, buscando ser uma instituição de representação e
assessoria à estas escolas, auxiliando no fortalecimento e divulgação da
proposta pedagógica da Alternância.O movimento das escolas rurais em regime
de alternância nasceu em 1935, a partir da iniciativa de três agricultores e de
um padre de um pequeno vilarejo da França que prestaram atenção na
insatisfação sentida pelos adolescentes, demonstrando atenção para com o meio
em que viviam, desejando promovê-lo e desenvolvê-lo.
60
Fora de estruturas escolares estabelecidas e sem referência a qualquer teoria
pedagógica, estas pessoas imaginaram um conceito de formação que permitiria
a seus filhos educarem-se, formarem-se e preparem-se para suas futuras
profissões. Eles inventaram uma escola onde seus filhos não recusariam
freqüenta-la, pois ela respondia às suas necessidades fundamentais, próprias da
fase da adolescência: agir, crescer, ser reconhecido, assumir um lugar no mundo
dos adultos, adquirir status e papéis. Eles criaram empiricamente uma estrutura
de formação que seria da responsabilidade dos pais e das forças sociais locais,
conhecimento que se encontra na escola e na vida cotidiana. Inventaram uma
nova escola, baseada na Pedagogia da Alternância, onde há partilha e integração
do poder educativo entre os atores do meio, os pais e os formadores da escola.
Introdução
A metodologia da alternância permite uma prática educacional concreta e viável
a partir da realidade das famílias agrícolas inseridas no meio rural brasileiro, na
qual crianças e adolescentes têm a chance de estudar e vivenciar a realidade em
que estão inseridos. A prática da alternância nos estudos garante a permanência
do vínculo familiar, as vivências culturais e auxilia no desenvolvimento de
práticas ecologicamente viáveis na relação homem/meio ambiente.
Alguns princípios:
- Associação como princípio da participação e do envolvimento das famílias com
os problemas da formação, do futuro dos jovens e do desenvolvimento local;
associação como meio concreto de responsabilizar-se pelo Plano de Formação da
Escola e pela gestão, uma forma de garantir os princípios político-pedagógicos
específicos da EFA;
- A Alternância como princípio metodológico, uma estratégia da ação
pedagógica, mais eficaz, mais apropriada à realidade do campo e da Orientação
Profissional de jovens rurais; e
- A formação integral da pessoa humana como uma das principais metas da
ação educativa em vista do desenvolvimento rural em bases sustentáveis.
Objetivos
61
Os objetivos da UNEFAB são:
- Representar e defender os interesses das EFAs filiadas, junto aos órgãos
municipais, estaduais, federais e internacionais.
- Fomentar e promover a comunicação e intercâmbio de experiências e de
materiais educativos entre as EFAs e suas entidades mantenedoras.
- Acompanhar e assessorar o trabalho das EFAs e suas associações, visando
assegurar a qualidade das atividades e conseqüentemente uma boa formação
dos jovens.
- Manter a unicidade do Projeto Educativo das EFAs, quanto aos seus princípios
filosóficos e metodológicos.
- Articular e assessorar a organização e funcionamento das associações locais e
regionais, tendo em vista o fortalecimento institucional e político das mesmas.
- Estabelecer parcerias, convênios, acordos, etc. com Instituições nacionais e
internacionais para o desenvolvimento e fortalecimento das ações promovidas
pelas EFAs.
- Estabelecer políticas e estratégias para questões de interesse comum em nível
nacional.
- Proporcionar momentos de estudos e reflexões sobre temas relacionados ao
trabalho das EFAs e outras questões afins.
Esta experiência, em particular, visa fortalecer a proposta da Pedagogia da
Alternância em novos municípios.
Funcionamento da Experiência
Alguns Instrumentos Pedagógicos Específicos da Porposta da UNEFAB
1 - Plano de Estudo
2 - Colocação em comum
3 - Caderno da realidade
Caderno didático
4 - Viagens e visitas de estudo
As intervenções externas
Atividades retorno
5 - Experiências
Visitas às famílias
Estágio
6 - Projeto Profissional
Caderno de acompanhamento ou da Alternância
Tutoria
7 - A Avaliação
Principais Dificuldades
- Reconhecimento pelo Governo Federal da Pedagogia da Alternância como uma
alternativa de formação para meio rural.
- Recursos financeiros.
62
Elementos de Tecnologia Social
- Aproximação entre teoria e prática.
- Elaboração de uma metodologia educacional baseada na realidade rural. Isso
implica em gerar um processo educacional no qual os alunos compreendam
melhor a sua própria realidade.
- Processo que une formação e desenvolvimento, ou seja, na medida em que o
aluno aprende, também está gerando melhores condições de produção na
propriedade de sua família.
Fontes de Informação:
página da organização: www.unefab.org.br
Gimonet, J.C (1998) A alternância na formação - Método pedagógico ou
novo sistema educativo? Tradução de Thierry De Burghgrave. Disponível em
http://www.unefab.org.br/home/artig_gimonet.htm, em 20/11/2004.
Begnami, João Batista (s/d) Instrumentos Pedagógicos da Alternância.
Disponível em http://www.unefab.org.br/home/eixostema.htm, em 20/11/2004.
Chaves, A. P. P. (2004) Educação e Desenvolvimento Social - uma análise
de sua relação em três experiências de pedagogia da alternância. Tese de
Doutoramento. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e
Ciências, da Universidade Estadual Paulista, Marília.
Observações
Não foi detalhado para a Oficina, porque não haviam confirmado apresentação.
Com a finalidade de reunir maior força política para defender a proposta da
Pedagogia da Alternância no Brasil, promover o intercâmbio de experiências e
buscar em conjunto as soluções de problemas comuns em nível nacional, a
UNEFAB vem buscando estabelecer parcerias com outras redes que trabalham
dentro da mesma proposta pedagógica, procurando fortalecer e ampliar o
trabalho das escolas que utilizam a metodologia da alternância. Neste sentido, a
UNEFAB e a ARCAFAR, rede que congrega as Casas Familiares Rurais - CFRs,
vêm construindo um processo de aproximação e relacionamento institucional,
através de reuniões, encontros, contatos, troca de materiais, visitas, etc,
tentando buscar na diversidade das experiências os pontos que nos unem e que
nos enriquecem mutuamente, respeitando as especificidades de cada rede. O
ponto de partida desta busca de aproximação, nasceu da necessidade de
apresentar uma proposta comum das EFAs e CFRs ao governo federal para o
reconhecimento nacional da Pedagogia da Alternância.
(página da organização)
3. Agricultores na pesquisa
aspta@aspta.org , aspta@ax.apc.org
(21) 253-8317 / Fax: (21) 233-8363
63
Rua da Candelária, nº 09, 6º andar, CEP: 20091-020, Rio de Janeiro - RJ
http://www.aspta.org.br/
Breve Histórico
"A AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa - foi
fundada no ano de 1984 e tem por objetivo a promoção do desenvolvimento da
agricultura brasileira com base nos princípios da agroecologia e no
fortalecimento da agricultura familiar. Trabalha com dois projetos de
desenvolvimento local no nível micro, no qual articulam-se vários objetivos
através da constituição de redes sociais locais de experimentação e de
disseminação de inovações.
No nível macro, a AS-PTA integra ativamente redes regionais e nacionais de
promoção da agroecologia, como a Articulação do Semi-árido Brasileiro, as
Jornadas Paranaenses de Agroecologia e a Articulação Nacional de Agroecologia"
(Página da Organização).
Princípios:
- Diagnóstico participativo;
- Experimentação participativa;
- As soluções agroecológicas são específicas para cada produtor (conforme suas
economias);
64
- O produtor é um pesquisador e difusor de seus conhecimentos, o chamado
agricultor-experimentador;
- Analisar as variadas formas que os agricultores lidam com os problemas
identificados, avaliando estas alternativas com vistas às futuras
experimentações para outros agricultores
Introdução
A formação de agricultores experimentadores tem o intuito de demonstrar que o
produtor pode ser um pesquisador e difusor de seus conhecimentos. Além disso,
que a construção de soluções técnicas é um processo coletivo que envolve todos
os agricultores interessados num determinado tema, juntamente com os
técnicos de apoio.
Objetivo
Construir propostas individuais de forma coletiva e compartilhada, a fim de que
o agricultor possa desenvolver suas próprias técnicas sem a intervenção de
instituições públicas ou privadas.
Atores envolvidos
Os atores da experiência são os agricultores-experimentadores, juntamente com
os agentes comunitários, técnicos e pesquisadores da AS-PTA.
Os agricultores experimentadores aparecem como identificadores de problemas
e fatores limitantes e como detectores de soluções. Eles se mobilizam para a
mudança, a fim de se adaptarem melhor ao entorno - que se encontra em
constante mutação.
Funcionamento da Experiência
A preocupação dos agricultores experimentadores é resolver seus problemas e os
da comunidade, tentando encontrar tecnologias que possam difundir para o
maior número de agricultores possíveis, integrando seus trabalhos.
65
O problema local é a base para definição de conteúdos dos experimentos.
Portanto, são os próprios agricultores experimentadores que definem os temas a
serem investigados, assim como as prioridades de execução, avaliação e
divulgação dos resultados.
A necessidade de circular informação, comunicar seus resultados, experiências,
dificuldades e metodologias são de interesse dos agricultores-experimentadores,
de modo que há preocupação em realizar intercâmbios entre membros de
diferentes regiões com o intuito de compartilhar conhecimentos e reflexões.
Institucionalização da prática
A AS-PTA se constituiu como uma Associação sem fins lucrativos com
personalidade jurídica própria, desde 1990. A metodologia de formação de
agricultores-experimentadores é um dos eixos da organização.
Principais Dificuldades
A priorização dos critérios é umas das dificuldades enfrentadas por estes
agricultores experimentadores, pois há diferenças de interesses, como por
exemplo: os aspectos econômicos, a gestão da força de trabalho, a diversificação
de cultivos e o mercado.
A diminuição dos custos de produção dos agricultores é o mais importante
incremento da produtividade física das lavouras. Aqui está a dificuldade na
modificação da utilização de produtos agrotóxicos por naturais, para o combate
às pragas e o controle da fertilidade do solo. Essa é uma questão que mobiliza
os agricultores-experimentadores.
Parcerias estratégicas
Na manutenção de diversificadas formas para o fortalecimento da
experimentação dos agricultores, é imprescindível a adaptação do processo a
outros grupos de outras localidades; para tanto se faz parcerias com as
seguintes instituições:
- Organização de produtores;
- Universidades;
- Setores público e privado;
- Institutos de pesquisas, entre outras.
Resultados
Há uma diversidade de publicações sobre experiências e reflexões sobre a
metodologia, inclusive uma série chamada "agricultores na pesquisa".
Segundo Edwards (1993) a realização de projetos de implementação de
tecnologias em conjunto com os agricultores gera mais segurança na introdução
de novas tecnologias.
Hocdé (1999) sintetiza:
"Os A/E [agricultores-experimentadores] são melhores conhecedores do local.
Nenhuma pesquisa, por melhor que seja, poderá conhecer tão profundamente o
local. A pesquisa sobre sistemas de produção pode facilitar o resgate dos
conhecimentos. Por outro lado, ninguém pode representar e defender melhor os
interesses dos agricultores do que eles próprios. Da mesma maneira, nenhum
66
A/E pode substituir a função dos pesquisadores. As vantagens comparativas dos
diferentes atores são cada vez mais claras. O encontro entre esses dois mundos
é imprescindível. O diálogo é mais factível quando os dois conseguem se
comunicar mais facilmente. Para isso, se faz necessário dotar agricultores de
conhecimentos de tal forma que um entenda o idioma do outro, para sua própria
capacidade de experimentar" (pp.33).
Perspectivas
O reforço das capacidades dos agricultores experimentadores é apresentado por
quatro linhas complementares à experiência:
I. "Apoio ao Processo" no qual está embutida a necessidade básica do aumento
da capacidade e da dinâmica de trabalho dos agricultores experimentadores, a
fim de que compartilhem conhecimentos entre si;
II. "Aumentar a Capacidade dos agricultores experimentadores com rigor" a
partir das falhas metodológicas encontradas, tentar corrigi-las para melhorar a
qualidade dos resultados obtidos, a fim de oferecer respostas válidas para um
âmbito desejável do espaço geográfico;
III."Estimular as interações entre pesquisadores e agricultores
experimentadore": envolvimento dos agricultores no processo de criação e
difusão de alternativas tecnológicas para melhorar os papéis e as funções de
cada um;
IV. "Sustentabilidade": assegurar a continuidade de um processo promissor para
que o desenvolvimento agrícola seja fortalecido e reconhecido para o
desenvolvimento sustentável.
Fontes de Informação:
Página eletrônica da organização: http://www.aspta.org.br
Buckles, D. (1995). Caminhos para a colaboração entre técnicos e
camponeses. Rio de Janeiro: AS-PTA.
Edwards, R. J. A. (1993). Monitoramento de sistemas agrícolas como
forma de experimentação com agricultores. Tradução de John Cunha
Comeford. Rio de janeiro: AS-PTA.
67
Friedrich, K., Gohl, B., Singogo, L. e Norman, D. (1995). Desenvolvimento de
Sistemas Agrícolas - uma abordagem participativa na assistência a
pequenos agricultores. Rio de Janeiro: AS-PTA.
HOCDÉ, Henri (1999). A Lógica dos agricultores experimentadores: o caso
da América Central. Metodologias Participativas. Rio de Janeiro: AS-PTA.
68
ANEXO 2
69
como diálogo. Finalmente, sobre as formas de apropriação do conhecimento,
buscava-se identificar as pontes possíveis, ou seja, buscava-se identificar nas
experiências as maneiras por meio das quais lograram pôr em diálogo saberes
diferentes.
É possível afirmar, sem risco de exagero, que a oficina de TS e Agricultura
Familiar propiciou um dos momentos de discussão mais ricos dentre os
encontros realizados este ano. Para além da fecundidade do tema, acreditamos
que a maior acuidade na formulação das questões dirigidas às experiências foi
decisiva. Dito de outro modo, se revisitássemos os conteúdos dos encontros
passados, provavelmente seríamos capazes de distinguir um conjunto maior de
aspectos que nos interessam – justamente devido a maior clareza em relação ao
conceito de Tecnologia Social, e aos aspectos da realidade que ele nos permite
destacar.
Um aspecto importante a ser sublinhado, antes de passarmos à reflexão sobre
as aprendizagens geradas na oficina, é que diferentemente dos outros encontros
nos quais se buscou garantir a heterogeneidade dos participantes, a oficina de
TS e Agricultura Familiar contou com um grande número de representantes do
Poder Público, o que certamente tem conseqüências para a compreensão dos
resultados da discussão. O tom geral das discussões ficou enviesado pelas
necessidades e angústias de quem enfrenta o desafio de construir novas políticas
públicas. Por isso, esta reflexão procurará lidar, mais cuidadosamente, como o
conjunto de questões enfeixadas sob o tema “desafios da gestão pública”.
O texto não seguirá a ordem das exposições; como já dito acima, o objetivo aqui
é sistematizar algumas aprendizagens relacionadas ao universo da Tecnologia
Social. Na medida em que se trata de um processo de desenvolvimento
conceitual, tal sistematização revela-se sempre fundamental para refinar o olhar
dirigido à realidade.
Um primeiro ponto que merece destaque é que muitos dos temas levantados nas
oficinas anteriores voltaram a aparecer neste encontro. É possível apontar pelo
menos duas explicações para que isto tenha acontecido: a primeira delas se
relaciona à já referida maior acuidade de nosso olhar, voltado para os elementos
de Tecnologia Social presentes na experiência já a partir de algumas clarezas. A
segunda explicação se refere à “saturação”: aqueles que estão acostumados à
pesquisa de campo sabem que, em determinado momento, as falas e narrativas
começam a se repetir, reiterando posições sem agregar mais nada de novo. Não
é o caso de dizer que foi isto o que aconteceu durante a oficina, pois nosso
objetivo era mesmo qualificar alguns temas que já definíramos como
importantes quando da preparação das atividades. Mas, de todo modo, o
desenvolvimento de um conceito a partir de encontros e debates demonstra que
só é uma metodologia sustentável no médio prazo quando há este constante ir-
e-vir entre teoria e prática e as questões que se propõe para debate vão se
tornando cada vez mais complexas.
Neste encontro, as discussões se concentraram em dois principais eixos: 1)
necessidade de afirmação de outros atores de conhecimento que não apenas os
que estão inseridos no sistema de CT&I e 2) desafios de reinvenção das relações
entre Governo e Sociedade, que passam pelas inovações de arranjos
institucionais.
Mas o que sobressai de todas as discussões, principalmente porque a Agricultura
Familiar passa a fazer parte de uma certa pauta social (do mesmo modo que
Agroecologia, Desenvolvimento Local, Responsabilidade Social, entre tantos
outros termos que têm circulado), é o potencial que tais “termos em disputa”
possuem para provocar espaços de discussão. Eles possibilitam a constituição de
um “palco”, menos amplo que discussões macro-estruturais, e incitam diferentes
impossível apanhá-la em práticas discursivas. Permanece, assim, o desafio de construir estratégias
que permitam apanhar tais conteúdos.
70
atores a participar da “cena” – clareando conceitos e valores, delimitando
semelhanças e diferenças e, enfim, aprofundando o sentido da democracia em
nosso país. Deste modo, o que emerge como principal aprendizagem para o
desenvolvimento do conceito de Tecnologia Social é, novamente, a reafirmação
da importância da pluralidade e da promoção de espaços de diálogo para a
experimentação e a invenção de novas (e melhores) práticas sociais.
Há outro ponto, de certo modo relacionado ao parágrafo anterior, que se tornou
mais claro após as discussões realizadas na oficina, qual seja, o duplo caráter do
conceito de Tecnologia Social, há um só tempo analítico e estratégico. O próprio
conceito, tal como têm sido desenvolvido, confronta-se com a necessidade de
conciliar estas duas dimensões. Do ponto de vista analítico, o conceito se mostra
interessante para ressaltar alguns aspectos da realidade, principalmente no que
se refere às relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. De fato, neste ponto
de processo, quando já é possível identificar alguns parâmetros de Tecnologia
Social, que nos permitem distinguir nas diversas experiências quais são as
características que as aproximam do universo das Tecnologias Sociais, pode-se
dizer que, analiticamente, já houve importantes avanços27. Por outro lado, há
um preocupação de que o conceito não seja estanque, mas que articule ao redor
de si preocupações e práticas. Deste modo, o conceito acaba assumindo também
uma dimensão estratégica, na medida em que articula diferentes atores, e
provoca à constante revisão dos termos nos quais se dão as relações entre
Ciência, Tecnologia e Sociedade – tecnologia social acaba se tornando, também,
um “termo em disputa” e, como tal, conforme ao redor de si um campo de
dissenso.
Ainda refletindo sobre sua dimensão estratégica, o conceito de tecnologia social
pode operar como provocador da efetivação de direitos ligados à CT&I. Neste
sentido, não se trataria de afirmar a tecnologia social, em si mesma, como um
direito social: o “campo de dissenso” conformado por ela é que tornaria possível
a efetivação de alguns direitos sociais, tais como o direito à escola, à
informação, ao conhecimento etc. Embora chamar a atenção para este aspecto
possa parecer preciosismo, é importante que haja clareza a este respeito uma
vez que o conceito de TS, tal como desenvolvido até aqui, afirma a importância
de um Estado que organiza e gerencia a efetivação de direitos sociais. Ademais,
durante a oficina, um dos pontos que apareceram se refere, justamente, à
necessidade de movimentos sociais bem fundamentados em suas análises e
diagnósticos – deste modo, a clareza e a precisão conceituais não devem ser
vistas como preciosismo, mas como passo necessário à construção de políticas
públicas efetivas.
Uma questão importante, surgida durante a oficina, pode ser formulada em
relação ao que já foi exposto. Ao falar da disputa entre dois diferentes modelos
de agricultura, quais sejam, a agricultura familiar e o agronegócio, Pedro
Christoffoli, da Concrab, sublinhou a desigualdade dos termos nos quais se dá a
disputa: enquanto o modelo do agronegócio (baseado nas técnicas
químicas/genéticas/mecânicas) já está consolidado e legitimado, o modelo da
agricultura familiar tem que buscar esta legitimidade por meio da ação de atores
que estão “marginalizados” em relação ao sistema econômico. Como foi
formulado por uma intervenção durante a oficina, embora constituam a maior
parte da população do campo e embora contribuam com grande parte da
produção agrícola, os agricultores não são visados por políticas públicas de
Agricultura: constituem-se numa “maioria minoritária”.
Gostaria de chamar a atenção para um dos aspectos presentes na interpretação
de Pedro, na medida em que está bastante relacionada com a própria noção de
Tecnologia Social e as transformações que ela pode provocar: de algum modo,
ao reconhecer que a desigualdade no campo de disputas acaba por dificultar
27
Para uma apresentação detalhada da metodologia e do conceito de TS desenvolvido pelo CBRTS,
ver Otero e Jardim (2004).
71
muito a construção da legitimidade de novos modelos, Pedro explicita alguns dos
limites da democracia brasileira e nos provoca a pensar se, realmente, a
existência de um campo plural de diálogo é suficiente para a construção de
medidas. Em outras palavras, a realidade que a fala de Pedro define é a da
política como um embate de estratégias cuja eficácia está condicionada pelo
poder de quem as põe em ação. Uma vez que a definição de TS enfatiza a todo o
momento a participação e um dos princípios de TS vincula estreitamente
aprendizagem, participação e transformação social, o diagnóstico de Pedro
provoca a reflexão se não seria ingênua esta confiança na pluralidade e no
espaço público. É como se a desigualdade criada pelos níveis de participação na
economia tornasse inviável a igualdade da cidadania no campo da política e
tornasse qualquer mudança praticamente impossível sem uma precedente
revolução na estrutura econômica. Fica aberta a questão: será que nossa leitura
é excessivamente otimista e ingênua ou, ao contrário, trata-se de uma postura
diante do que é a política que não deve ser abandonada?
Um último ponto que gostaria de destacar, ainda sobre políticas públicas e suas
relações com tecnologia social, refere-se ao problema da escala. Diversas vezes
nos deparamos com esta questão: falar em tecnologia social significa pensar em
organizar intervenções de modo a permitir sua re(a)plicação? Se, de um lado,
reconhecíamos a necessidade de organizar e sistematizar experiências,
principalmente com o objetivo de permitir sua difusão, de outro lado
recusávamos a idéia de que cada experiência sistematizada pudesse se
expressar em uma espécie de “pacote”, contendo os passos necessários para sua
reaplicação. De fato, no centro desta questão está a dificuldade de conciliação de
um modelo de produção de conhecimento que enfatiza os resultados, conferindo
ao processo uma posição secundária e o esforço pela criação de novos modelos,
que, olhando cuidadosamente o processo permitam aprendizagens que,
disseminadas, podem ser refletidas, apropriadas, reorganizadas e transformadas
de acordo com as necessidades de cada um dos atores que a elas tenham
acesso. As palavras chaves, portanto, menos que reaplicação, são
sistematização do vivido, difusão/comunicação, acessibilidade ao corpo de
conhecimentos gerados por cada uma das experiências e pluralidade e
experimentação metodológicas28. Tais termos se contrapõem à idéia de
reaplicação, na medida em que esta reitera uma concepção de Ciência que,
justamente, a discussão de tecnologia social procura questionar.
Seria impossível, mesmo que a tentação seja grande, tentar registrar e refletir
sobre todos os aspectos interessantes que apareceram durante a oficina; afinal,
o relatório elaborado visa, justamente, atender a esta expectativa. Deste modo,
esse texto se encerra com a apresentação de algumas questões, que podem
orientar a continuidade do desenvolvimento conceitual.
A primeira questão, que pode ser relacionada ao que aqui chamamos de
problema da escala se refere às diferenças entre um modelo de conhecimento
que organiza para depois reaplicar, e, de um certo modo, “privatiza” o
conhecimento gerado pelas experiências e um outro modelo, que não prescinde
da organização dos conhecimentos, mas está pautado por relações hierárquicas
de troca e partilha de conhecimentos. Seria importante esclarecer e precisar
quais são estas diferenças. Além disso, tais diferenças podem ser fundamentais
para a aproximação entre tecnologia social e o universo da Economia Solidária.
Uma outra questão se refere à concepção de política que está na base da idéia
de tecnologia social. Se a concepção de política for a de um embate de
estratégias, faz-se necessário rever o peso dado à organização e a ação coletiva,
que constantemente é reiterado na definição e nos parâmetros de TS29. Nesta
28
Durante a oficina, esta idéia de pluralidade e experimentação metodológicas apareceram,
especialmente, na fala de Paulo Petersen, que apresentou a experiência dos agricultores-
experimentadores desenvolvida pela AS-PTA.
29
Ver Instituto de Tecnologia Social, 2004.
72
perspectiva, também é preciso refletir sobre quanto a TS deve estar dependente
à necessidade de novos arranjos institucionais dentro do Estado, pois a
concepção de política como um embate de estratégias torna qualquer “aliança”
instável e sujeita às oscilações de poder.
De outro lado, e concluindo essas reflexões, se a concepção de política for a de
um campo de dissenso, que torna possível a construção de medidas e
referenciais comuns, a própria noção de tecnologia social aparece como,
essencialmente, vinculada à política e ao fazer político. A questão que se propõe,
então, é esclarecer qual seria a riqueza dos momentos de participação, os
momentos fundadores que, passados, correm o risco de gerarem estruturas que
simplesmente se reproduzem. Se uma das preocupações da tecnologia social é
gerar processos que continuamente se alimentem, como se produzem processos
que são eficazes para a manutenção da participação, ainda que os termos da
participação se modifiquem? Em outras palavras, se o desenvolvimento do
conceito de TS, até agora, obteve sucesso em identificar alguns termos para
caracterizar o início dos processos organizativos, quais seriam os caminhos para
que pudéssemos criar termos que caracterizassem processos sustentáveis? Esta
questão, acredito, coloca-se tanto para a tecnologia social quanto para as
aporias enfrentadas pela democracia brasileira.
Referências Bibliográficas
ARENDT, Hannah (1999) A condição humana: Rio de Janeiro, Forense
Universitária
INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL (2004) Caderno de Debates – Tecnologia
Social no Brasil: São Paulo, Instituto de Tecnologia Social
OTERO, Martina R. & JARDIM, Fabiana A. A. (2004) “Reflexões sobre a
construção do conceito de Tecnologia Social”. Em: Tecnologia Social: uma
estratégia para o desenvolvimento: Brasília, Fundação Banco do Brasil
73
ANEXO 3
Programação da Oficina
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
PÚBLICO-ALVO:
- Representantes de ONGs
- Representantes do Poder Público
- Representantes de instituições financiadoras de CT&I
- Representantes de Institutos de Pesquisa, Instituições de Ensino e Extensão
- Agricultores familiares
PROGRAMAÇÃO
Apresentação, 19/10, às 14h
- “A construção do conceito de TS: os Encontros para discussão e sistematização de
conhecimentos sobre Tecnologia Social” – Fabiana Jardim, Centro Brasileiro de Referência
em Tecnologia Social/ITS
- “Desenvolvimento conceitual: Tecnologia Social até agora” – Martina Otero, Centro
Brasileiro de Referência em Tecnologia Social/ITS
Painéis, 19/10, às 15h30
Dinâmica de apresentação e momento de troca de experiências entre os participantes do
Encontro
Mesa de abertura, 19/10, às 19h30
Tema: “Tecnologia Social: conhecimento e sociedade”
30
Ver Centro Brasileiro de Referência em Tecnologia Social, “Síntese da Reflexão Conceitual até 10/08/2004”,
mimeo.
74
- Valter Bianchini – Secretário da Agricultura Familiar/MDA
- Rodrigo Rollemberg – Secretário da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social/MCT
- Sônia M. Portella Kruppa – Secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Economia
Solidária/MTE
- Francisco Hercílio Matos – Secretaria da Ciência e Tecnologia para Inclusão
Social/MCT
- Irma Passoni – Gerente Executiva do Instituto de Tecnologia Social
- César Medeiros – Deputado Federal/MG
- Manuel Barral Neto – Diretor de Programas Setoriais do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq
- Clayton Campanhola – Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
Embrapa
- Aliomar Arapiraca– Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, CEPLAC
- Paulo Egler – Representante da Academia Brasileira de Ciência , ABC
75
10h30 – 10h50: Pausa para o café
10h50 – 11h40: Apresentação de experiência: Paulo Petersen (Assessoria e Serviços a
Projetos em Agricultura Alternativa, AS-PTA)
11h40 – 12h: Questões para o debate: Cyra Malta (Universidade Estadual de Campinas,
Unicamp)
12h – 13h: Plenária
CARÁTER
Gratuito com inscrição e confirmação de presença por telefone do Centro Brasileiro de
Referência em Tecnologia Social – (11) 31516499 e (11) 31516419 ou pelo endereço
eletrônico cbrts@itsbrasil.org.br .
Promoção: Centro Brasileiro de Referência em Tecnologia Social – CBRTS/ITS,
Secretaria para Inclusão Social – SECIS/Ministério da Ciência e Tecnologia, Secretaria de
Agricultura Familiar – SAF/Ministério do Desenvolvimento Agrário
Apoio: Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira - CEPLAC
Relatoria: Cyra Malta – Unicamp
76
ANEXO 4
NOME DA INSTITUIÇÃO
NOME DO PROJETO
Endereço:
Contexto
Diagnóstico
Características da
intervenção
Resultados
Aspectos de
Tecnologia Social
77
ANEXO 5
78
Instituto de Tecnologia Social Expediente
Conselho Deliberativo Coordenação da atividade:
Uraci Cavalcante de Lima (Presidente) Fabiana Augusta Alves Jardim
Maria Lúcia Barros Arruda (Vice-presidente)
Rogério Cezar Cerqueira Leite Relator:
Moysés Aron Pluciennik Cyra Malta Olegário da Costa
Jorge Nagle
João Eduardo de M. P. Furtado Colaboração na relatoria e revisão:
Fabiana Augusta Alves Jardim
Conselho Fiscal
Almir Roveran Equipe do ITS/CBRTS
Marli Aparecida de Godoy Lima Alcely Strutz Barroso, Beatriz Mecelis Rangel,
José Maria de Sousa Ventura Edilene Luciana Oliveira, Fabiana Augusta Alves
Jardim, Fabiana Cunha, Gerson José da Silva
Suplentes do Conselho Fiscal Guimarães, Irma Rossetto Passoni, Martina Rillo
Antônio Lellis Otero, Philip Ueno
Maria Aparecida de Souza
Débora de Lima Teixeira
Gerente Executiva
Irma Rossetto Passoni
Contato
Instituto de Tecnologia Social
Gerente de Projetos
OSCIP nº 13.0002.00/03, publicado no
Alcely Strutz Barroso
DOU em 26 de novembro de 2003.
Consultores Técnicos
Rua Rego Freitas, 454 – cj. 73
Gerson José Guimarães
Centro – São Paulo/SP
Martina Rillo Otero
CEP: 01220-010
Fabiana Augusta Alves Jardim
Fone/Fax:
Philip Hiroshi Ueno
(011) 3151-6499 e 3151-6419
e-mail: its@itsbrasil.org.br
Atendimento
Edilene Luciana Oliveira
Comunicação
Beatriz Mecelis Rangel
79