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EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL

Antonio Junior, Wagner, 1979 – Educação, tecnologias e cultura digital / Wagner Antonio Junior. –
Bauru/SP: Edição do autor, 2015.

Apresentação

I. Avaliação da aprendizagem: fundamentos e pressupostos

II. A avaliação à luz das teorias da aprendizagem

III. Avaliação da aprendizagem na perspectiva escolar

Considerações finais

Referências

Sobre o autor

Junior, Wagner Antonio. Educação, tecnologias e cultura digital . Unknown. Edição do Kindle.

Apresentação

Esse livro tem por objetivo discutir a fundamentação teórica acerca da avaliação da aprendizagem e
seu desenvolvimento na perspectiva do ensino fundamental, com destaque para os principais
teóricos no assunto.

A avaliação da aprendizagem, nos últimos anos, tem tomado lugar de destaque em debates, análises,
estudos e projetos que tem por objetivo um repensar conceitual sobre os métodos e técnicas de
ensino, bem como uma reformulação dos currículos escolares com vistas a formar cidadãos mais
preparados para atender as demandas impostas pelo sistema criado pela globalização.

É notório o fato de que uma das maiores dificuldades com que o docente se depara no processo
educacional é a avaliação. Frente ao modelo tradicional de avaliação, o docente julga seus alunos de
modo quantitativo, hierárquico e classificatório, algo ainda distante daquele modelo qualitativo, tão
almejado pela literatura educacional contemporânea. E, mesmo frente a essa avalanche de
propostas e estudos já existentes, de autores reconhecidos e de realidades observadas, o ato de
avaliar ainda é uma questão que carece de avanços.

O ponto de maior realce na avaliação da aprendizagem recai a um padrão de competência pré


estabelecidos em objetivos operacionais que se encontram de maneira bem clara em Hoffmann
(2001, p.104) “ a avaliação alcança seu significado maior quando realizada em função de objetivos.
Os objetivos, com esse propósito devem ser formulados em termos de comportamento observável”.

Neste sentido, o objetivo maior da avaliação é o acompanhamento de cada etapa do processo de


aprendizagem dos indivíduos em formação, de maneira contínua, constante, gradual, cumulativa,
coerente, cooperativa e participativa, onde a escola e o corpo docente a façam de forma adequada,
variada, fidedigna e consciente dos limites e das possibilidades de tais técnicas aplicadas as práticas
de avaliação, para que estas práticas não sejam consideradas fins e sim meios para alcançar tais
objetivos.
O texto abordará o tema por três prismas. O primeiro deles fará referencia à literatura adotada sobre
avaliação. O segundo abordará as teorias da aprendizagem e o lugar da avaliação no processo de
ensino e aprendizagem. O terceiro centrará as discussões sobre o impacto da avaliação na realidade
escolar.

I. A revolução da tecnologia da informação

A aplicação de tecnologias na educação requer, em primeiro momento, a clareza de que a aquisição


de conhecimentos se dá por um processo de construção que depende, em maior parte, do empenho
do aluno na relação ensino e aprendizado.

O computador, ao se tornar essencial na transmissão de informações digitais, se inseriu de modo


decisivo na economia, na sociedade e nas diversas culturas, provocando mudanças nunca vistas na
história da humanidade.

No decorrer da nossa história, os avanços tecnológicos foram responsáveis por alterações nos mais
diversos campos de atividades, inclusive mudanças sócio-culturais. Atualmente, o desenvolvimento
informacional e tecnológico está modificando a sociedade sob diversos ângulos, despertando
questões intimamente ligadas à sua constituição. Parente (1993) nos afirma que

Se cada sociedade tem seus tipos de máquinas, é porque elas são o


correlato de expressões sociais capazes de lhes fazer nascer delas se servir
como verdadeiros órgãos da realidade nascente. Cada tecnologia suscita
questões relativas à sua consciência enunciativa especifica que, em ultima
instância, se articula com a produção discursiva de uma sociedade num
determinado momento. (PARENTE, 1993, p.15).

É fundamental refletir sobre os desafios que as tecnologias impõem e, neste cenário global de
alterações, não poderíamos excluir a educação escolar. Para uma avaliação mais imparcial dos
impactos das tecnologias na cultura contemporânea, devemos compreender a educação como um
processo complexo, inacabado e em permanente evolução.

Técnica e tecnologia

Para se entender o contexto das tecnologias, precisamos discutir dois conceitos fundamentais e que,
normalmente, se confundem entre si: técnica e tecnologia. De acordo com as análises de Barros
(2008, p.15):

A técnica é considerada como a arte ou habilidade para uma ação e a


tecnologia como o conjunto de conhecimentos e informações provenientes
de fontes diversas (como descobertas científicas e invenções, obtidas
mediante diferentes métodos e utilizadas na produção de bens e serviços).
Entre o mundo pré-histórico e os modos contemporâneos da vida humana,
a técnica e a ciência, juntas, proporcionaram ao homem a sistematização,
organização e diversificação padronizada do trabalho, cujo objetivo sempre
foi, além da sobrevivência, a convivência e as relações políticas. As
modificações que aconteceram ao longo da história, pela técnica,
proporcionam reflexões sobre a capacidade que o ser humano tem de criar
o princípio de algo que potencializa a sua própria inteligência. (BARROS,
2008, p.15).
Segundo Barros (2008), desde o surgimento da espécie humana e da luta por sua perpetuação na
natureza inóspita, o homem buscou pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento de recursos essenciais
à sua sobrevivência, ao mesmo tempo em que materializavam sua capacidade criadora e inovadora.

Técnica e tecnologia se mantiveram atreladas à condição humana e marcaram, através dos séculos, a
presença do homem sobre a terra, além de serem a clara representação da inteligência e da
construção da racionalidade. Portanto, a compreensão e o domínio dos princípios não se confundem
com a manipulação instrumental.

Tecnologias e as grandes revoluções

Atualmente, vivemos uma época de transformações, que se aceleram em progressão geométrica.


Para alguns, esse momento é conhecido como a Terceira Revolução Industrial, ou simplesmente
Revolução da Tecnologia e da Informação, cujo cenário mostra uma civilização cada vez mais
inundada por informações, que crescem e se multiplicam em um ritmo alucinante.

As raízes dessa Terceira Revolução Industrial remontam ao final da Segunda Guerra Mundial e seu
desenvolvimento transcorreu durante a segunda metade do século XX. Sua principal característica
não é a centralidade de informações em si, mas o dilema em torno da aplicação dessas informações
para a geração de saberes significativos, de dispositivos de processamento e comunicação da
informação, em um ciclo de realimentação cumulativo, que parte da inovação e seu uso, tendo como
ponto de chegada a (trans)formação de informações e geração de conhecimentos.

O ciclo de retroalimentação entre a introdução de uma nova tecnologia, seus usos e


desenvolvimentos em novos domínios tornam-se muito mais rápidos no novo paradigma
tecnológico. Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta de produção, e não
apenas um elemento decisivo no sistema produtivo.

Assim, computadores, sistemas de informática, decodificação e programação genética, são todos


amplificadores e extensões do cérebro humano e de seus sentidos. “O cérebro e os sentidos
humanos estão crescendo, mas crescem para fora da cabeça e do corpo na multiplicidade de seus
prolongamentos”. (SANTAELLA, 1996, p.88).

No cenário atual, vemos isso expresso nas inteligências artificiais, nos sintetizadores de som e na
profusão multiforme das imagens técnicas. Neste denso universo, as máquinas [enquanto meras
ferramentas] deixam de ser o centro do processo, cedendo lugar às conexões mais fluidas das
interfaces, por meio das quais as tecnologias informáticas vão crescentemente se potencializando
para novas interações. Lévy nos alerta que:

com seu meio ambiente físico e humano em sistemas inteligentes de


gerenciamento de banco de dados, módulos de compreensão da linguagem
natural, dispositivos de reconhecimento de formas ou sistemas
especialistas de autodiagnóstico e interfaces de interfaces: telas, ícones,
botões, menus, dispositivos aptos a conectarem-se cada vez melhor aos
módulos cognitivos e sensoriais humanos. (LÉVY, 1993, p.107).

Na análise de Barros (2003), a revolução gerada pelos avanços tecnológicos nas últimas décadas
ocorre pela capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos diversos, mediante uma
linguagem digital comum em que a informação pode ser gerada, armazenada, recuperada,
processada e transmitida para qualquer lugar e em qualquer espaço de tempo. Ou seja, o cerne da
transformação da revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e
comunicação.

As discussões a respeito da relação entre homem e tecnologia não é assunto recente. Segundo
Santaella (1996), a relação homem-máquina já aparecia em Aristóteles, passando pela concepção
dualista de Descartes e ocupando a mente de outros inúmeros filósofos. A mesma autora detectou
três grandes grupos de tecnologias, que surgiram no decorrer da história a fim de potencializar as
ações humanas. São elas:

 As máquinas musculares, as quais eram amplificadores da força humana, como foi o caso
dos motores a vapor e, mais tarde, dos artefatos movidos pela energia elétrica, no contexto
da Revolução Industrial;

 As máquinas sensórias, ainda durante o período da Revolução Industrial e que se


constituíram em verdadeiras extensões dos sentidos humanos mais refinados, como a visão e
a audição, em que a câmera fotográfica foi precursora;

 As máquinas cerebrais, ou seja, as “tecnologias inteligentes” que possuímos atualmente.

Há um aspecto fundamental que diferencia a atual revolução das anteriores, ocorridas nos séculos
XVIII e XIX. As revoluções tecnológicas anteriores ocorreram apenas em algumas sociedades e foram
difundidas em uma área geográfica relativamente limitada, muitas vezes ocupando espaço e tempo
isolados em comparação a outras regiões do planeta.

De origem na Europa Ocidental, no século XVIII, a Revolução Industrial estendeu-se para a maior
parte do globo durante os dois séculos seguintes. Sua expansão foi muito seletiva e seu ritmo
bastante lento em relação aos padrões atuais de difusão tecnológica.

Na verdade, até na Inglaterra em meados do século XIX, os setores que


representavam a maioria da força de trabalho e, pelo menos, metade do
PNB não foram afetados diretamente pelas novas tecnologias industriais.
Além disso, seu alcance planetário nas décadas seguintes teve, com
bastante frequência, um caráter de dominação colonial, seja na Índia sob o
Império Britânico, na América Latina sob a dependência comercial /
industrial da Inglaterra e dos EUA, no desmembramento da África mediante
o tratado de Berlim, ou na abertura do Japão e da China para o comércio
exterior pelas armas dos navios ocidentais. (CASTELLS, 1999, p. 52).

As novas tecnologias da informação difundiram-se pelo globo muito rapidamente, entre as décadas
de 1970 e 1990 do século XX, por meio de sua aplicação imediata no próprio desenvolvimento da
tecnologia gerada, conectando o mundo através da informação. Entretanto, há grandes áreas do
planeta e consideráveis segmentos da população que estão “desconectados” do novo sistema
tecnológico.

Segundo Castells (1999), a velocidade da difusão de tecnologia é seletiva tanto social quanto
funcionalmente. O fato de países e regiões apresentarem diferenças quanto ao momento oportuno
de dotarem seu povo do acesso à tecnologia, representa fonte crucial de desigualdade em nossa
sociedade.
A mudança voraz avança em duas frentes simultâneas e derivadas da mesma matriz: na primeira,
processa-se a automatização desmedida do trabalho produtivo, de atividades de prestação de
serviços e de outros tipos de trabalho não manuais e simbólicos. Na segunda vertente, consolida-se o
predomínio total dos suportes informáticos na circulação virtual da informação, na comunicação
global e na produção, transmissão, recuperação e armazenamento do conhecimento social.

Nela, a Internet desponta como portadora universal e on-line de outra cultura, de nova racionalidade
em que o concreto e o simbólico não mais se diferenciam.

Assim, estabelece um novo “ecossistema” humano, cuja existência é totalmente ancorada na


virtualidade das redes binárias. Permeado pela telemática, “o fluxo da informação se torna o tecido
mesmo da realidade” (KAC, 1992, p.47), gerando formas de sociabilidade inéditas e a emergência de
um mundo mental sem fronteiras que Ascott (1995) denomina hipercórtex.

O acesso constante às fontes de informação atualizadas, aquisição contínua de conhecimentos gerais


e específicos, formação profissional polivalente e habilidades flexíveis de trabalho são algumas das
exigências pessoais que a nova ordem binária impõe aos trabalhadores como requisitos
fundamentais para que eles possam encontrar espaços em um ambiente produtivo cada dia mais
concorrido e automatizado. Podemos sintetizar essa realidade na expressão de Santos (2002, p. 17),
quando este afirma que informação “é segredo e é poder”.

Se o novo modo de trabalho ocorre, cada vez mais, em ambientes informáticos e com ferramentas
digitais, por consequência os que não têm acesso à nova realidade estão sendo rapidamente
apartados da vida produtiva e ficarão sem meios efetivos de sobrevivência. A velocidade das
revoluções tecnológicas e as transformações socioeconômicas que elas acarretam reduzem ainda
mais as possibilidades daqueles que não dominam as ferramentas informacionais.

A consequência é o agravamento do subdesenvolvimento que reduz países inteiros em territórios


com espaços majoritariamente opacos. O geógrafo Milton Santos já apontava, em seus estudos, que
a globalização estrutura um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais
produtivo quanto for maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação.

Milton Santos denomina esse novo território como meio técnico-científico-informacional, que ocorre
em vários locais de forma extensa e contínua, como Europa, Estados Unidos, Japão, parte da América
Latina. Entretanto, em outros, como África, Ásia e parte da América Latina, apenas pode-se
manifestar como manchas ou pontos. Desse modo, ocorre uma oposição entre espaços adaptados às
exigências das ações econômicas, políticas e culturais formando, virtualmente, espaços luminosos e
espaços opacos.

As áreas desconectadas são cultural e espacialmente descontínuas, podendo se localizar no interior


dos Estados Unidos, nos subúrbios de Londres ou ainda em favelas africanas ou brasileiras e áreas
rurais da China ou Índia. Por outro lado, os grupos dominantes da sociedade estão conectados,
especialmente o capital financeiro e os impérios de multimídia.

Um modelo de economia ainda mais desigual se dissemina e se sustenta com a ampliação constante
de redes digitais de informação, que se estabelecem sem limitações de fronteiras nacionais ou
continentais, sem distinção de características históricas, culturais ou étnicas. O ideal moderno, que
sustentou as revoluções técnico-científicas e que impulsionou a expansão capitalista por duzentos
anos, ainda traz contradições o século XXI.
As Revoluções Industriais: da máquina a vapor à energia elétrica

O processo de desenvolvimento capitalista, intensificado pela revolução comercial dos séculos XVI e
XVII estava, até então, ligado à circulação de mercadorias. A partir da segunda metade do século
XVIII, iniciou-se na Inglaterra a mecanização industrial, desviando a acumulação de capitais da
atividade comercial para o setor da produção.

Esse fato trouxe grandes mudanças de ordem tanto econômica quanto social, que possibilitaram o
desaparecimento dos restos do feudalismo ainda existentes e a definitiva implantação do modo de
produção capitalista. Iniciava-se então um “divisor de águas” na história da humanidade, período
este conhecido como Revolução Industrial.

A Primeira Revolução Industrial começou pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII,
caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, o processo Cort em
metalurgia e a substituição das ferramentas manuais.

A industrialização da segunda metade do século XVIII inicio-se com a


mecanização do setor têxtil, cuja produção tinha amplos mercados nas
colônias, inglesas ou não, da América, África e Ásia. Entre as invenções
mecânicas do período destacam-se a máquina de fiar de James Hargreaves,
de 1767, capaz de fiar 80 quilos de fios de uma só vez sob os cuidados de
um só operário; o tear hidráulico, de Richard Arkwight, de 1768,
aprimorado por Samuel Crompton, em 1779; e o tear mecânico, de Edmund
Cartwright, de 1785. Todos esses inventos ganharam maior capacidade
quando passaram a ser acoplados à máquina a vapor, inventada por James
Watt (1765). Com a gradativa sofisticação das máquinas, houve aumento da
produção e geração de capitais que eram reaplicados em novas máquinas.
Após o setor têxtil, a mecanização alcançou o setor metalúrgico,
impulsionou a produção em série e levou à modernidade a expansão dos
transportes (VICENTINO, 1997, p. 286).

O diferencial deste período foi a descoberta do vapor como força motriz que, além de impulsionar a
produção industrial, atingiu também os meios de transporte. Segundo a análise histórica de
Vicentino (1997, p. 286):

Em 1805, o norte-americano Robert Fulton revolucionou a navegação


marítma criando o barco a vapor e, em 1814, George Stephenson idealizou
a locomotiva a vapor. Na década de 30 do século XIX, começaram a circular
os primeiros trens de passageiros e cargas. Além disso, a impressão de
jornais, revistas e livros como o uso do vapor impulsionou as comunicações
e a difusão cultural, que permitiram o surgimento de novas técnicas e
invenções.

A Segunda Revolução Industrial, aproximadamente 100 anos depois, destacou-se pelo


desenvolvimento da eletricidade, do motor de combustão interna, de produtos químicos com base
científica, da fundição eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação, com a difusão
do telégrafo e a invenção do telefone.

A velha época da indústria ensejou a nova durante as últimas décadas do


século XIX, sobretudo como conseqüência do avanço em quatro campos:
eletricidade, aço, petróleo e motor de explosão. A pesquisa cientifica
teórica influía bastante nesses setores para demonstrar à classe capitalista,
e especialmente às entidades empresariais gigantes, então surgindo com, o
resultado da concentração e centralização do capital, sua importância como
um meio de estimular ainda mais a acumulação do capital. Isto era verdade,
sobretudo quanto às industrias elétricas, que eram totalmente o produto
da ciência do século XIX, e na química dos produtos sintéticos do carvão e
do óleo. (BRAVERMAN, 1987, p. 140).

Tanto a Primeira quanto a Segunda Revolução Industrial trouxeram em seu bojo transformações nos
diversos modos de ser no mundo, nas relações humanas e, principalmente, no universo do trabalho.
Segundo Marx (1983, p.351), “na manufatura, a revolução no modo de produção começa com a força
do trabalho; na indústria moderna ela começa com os instrumentos de trabalho”. Da Idade Média
até a explosão da Revolução Industrial, os trabalhadores independentes foram perdendo sua função
até desaparecerem completamente, cedendo lugar aos operários da segunda metade do século XVIII.

O acentuado progresso científico, observado desde meados do século XVIII, permitiu o surgimento
de sistemas de produção cada vez mais eficientes, com o aparecimento de máquinas robustas e
rápidas, capazes de produzir maior quantidade de um mesmo artigo a custos cada vez mais
reduzidos.

O advento de sistemas mais modernos e mais baratos para a produção de aço, o desenvolvimento do
motor de combustão interna que usava como combustível derivados do petróleo, e a generalização
do uso da energia elétrica, contribuíram para fazer com que as fábricas das potências industriais
vivessem um surto produtivo que, por sua vez, criava a necessidade de uma quantidade cada vez
maior de matérias-primas, combustíveis e mercados consumidores.

Com a expansão de um sistema de transporte mais rápido, a generalização do uso de navios a vapor
e a construção de centenas de quilômetros de ferrovias, as distâncias ficavam cada vez menores,
viabilizando, por exemplo, a exploração de petróleo pelos alemães em regiões inóspitas e distantes
nos desertos do Oriente Médio, ou a aquisição de algodão na Índia para alimentar as indústrias
inglesas, ou ainda, a obtenção de freguesia para todo tipo de produto originário de qualquer lugar do
planeta.

As distâncias também ficaram mais curtas devido ao desenvolvimento dos meios de comunicação,
com o estabelecimento de milhares de quilômetros de linhas telegráficas e telefônicas, permitindo
comunicação intercontinental instantânea. A humanidade começa a caminhar “da antiga comunhão
individual dos lugares com o Universo à comunhão hoje global: a interdependência universal dos
lugares é a nova realidade do território”. (SANTOS, 2002, p. 15).

Também na medicina ocorreram grandes progressos na segunda metade do século XIX. Ampliaram-
se os conhecimentos dos mecanismos de funcionamento do corpo humano com os estudos de
anatomia e avançaram as pesquisas ligadas à microbiologia, as quais conduziram a esclarecimentos
acerca da origem de certas doenças, de sua prevenção e da maneira de combatê-las. De certa forma,
esses avanços também contribuíram para a explosão populacional que ocorreu no Ocidente,
originando uma grande disponibilidade de mão de obra barata.

Cem anos após seu início, a Revolução Industrial tinha provocado uma série de transformações, que
começaram pela Inglaterra e depois se espalharam por quase toda a Europa, pelo Japão e pelos
Estados Unidos. Estes dois últimos, protagonistas de uma grande expansão imperialista para além do
continente europeu.

A industrialização e o crescente aumento dos negócios privados e estatais, além da enorme expansão
dos mercados consumidores, proporcionaram a multiplicação da produção e da circulação de
riquezas, com a concentração destas últimas nas mãos de grandes conglomerados empresariais, que
passaram a ter uma influência cada vez maior na condução dos assuntos de política interna e externa
de seus países, os quais acabaram usando, como instrumentos, as guerras de conquista para ampliar
seus mercados consumidores e fornecedores.

Auxiliados por tecnologia superior, organização militar mais poderosa e pela máquina do Estado, as
potências ocidentais passaram a estabelecer vários graus de controle político sobre grande parte do
resto do mundo. A resposta à dominação e ao avanço imperialista neste período veio no século
seguinte. O “breve século XX”, segundo Eric Hobsbawm, foi marcado pela violência entre os homens,
sobretudo pela intensificação de guerras envolvendo as nações mais desenvolvidas e poderosas, em
que todo o desenvolvimento tecnológico resultou numa profusão de instrumentos capazes de
aniquilar milhões de pessoas. Nunca na história da humanidade se matou tanta gente em guerras,
particularmente a população civil, já que as guerras modernas são “totais”, ou seja, não incluem
apenas os militares.

A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da


civilização do século XX desmoronou nas chamas da guerra
mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender
o Breve Século XX sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e
pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões
e as bombas não explodiam. Sua história e, mais especificamente,
a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem
começar com a da guerra mundial de 31 anos. (HOBSBAWM,
2000, p.30).

Segundo Hobsbawm (2000), durante os quatro anos de duração da Primeira Guerra Mundial (1914 a
1918), foram mortas 10 milhões de pessoas na Europa, sendo que 65% eram civis, incluindo centenas
de milhares de mulheres e crianças. Até a metade do século XIX, as batalhas travadas no Ocidente
envolviam somente militares, quase sempre em campo aberto.

Com o desenvolvimento tecnológico da segunda metade do século XIX, armas de maior alcance
apareceram. Canhoneiras que disparavam uma bomba de cem quilos a uma distância de três a
quatro quilômetros representavam um poder de destruição que não escolhia vítimas, demolindo
cidades centenárias em questão de algumas horas.

Passados vinte e um anos do final da Primeira Guerra Mundial, surge um período ainda mais
sangrento e destruidor: a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), denominado por Hobsbawm como
uma “guerra civil ideológica internacional” (2000, p.146).

O fim desta guerra ocorreu com a rendição japonesa, apressada pelos norte-americanos, que se
valeram da tecnologia de destruição absoluta: a bomba atômica. A população civil das cidades de
Hiroxima, bombardeada em 06 de agosto de 1945 e Nagazaqui, atacada em 09 de agosto do mesmo
ano, foi a primeira vítima do ataque nuclear. No momento da explosão, duzentas mil pessoas
morreram, seguidas por outras milhares, vitimadas pela radioatividade que contaminou a região.
Com o fim da guerra, as consequências mais visíveis foram a imensa destruição, principalmente na
Europa, e a grande quantidade de mortos – entre 60 e 70 milhões, além de muitos outros milhões de
feridos e mutilados. Esses números fizeram com que a humanidade se desse conta da irracionalidade
sem limites de que era capaz e despertaram em alguns o ódio a todo tipo de guerra e a regimes
totalitários, que no entanto voltaram a assolar, de tempos em tempos, todas as regiões do mundo,
inclusive a Europa.

No plano da geopolítica internacional, emergiram duas superpotências, Estados Unidos e União


Soviética, que durante os quarenta anos seguintes se hostilizaram constantemente, disputando a
hegemonia global, em um processo histórico que trouxe marcas profundas à humanidade,
denominado de Guerra Fria. Esta pode ser encarada, razoavelmente, como uma Terceira Guerra
Mundial, porém uma guerra muito peculiar.

Segundo Thomas Hobbes. “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período
de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida” (HOBBES, 1979,
p.52). A Guerra Fria foi um desses períodos, marcado, entre outras coisas, por uma corrida
tecnológica, armamentista e espacial.

É neste cenário que tem início a Terceira Revolução Industrial, ou Revolução da Tecnologia da
Informação, na qual predominará, como fator determinante, a importância decisiva de informações e
conhecimentos científicos para sustentar e guiar o desenvolvimento tecnológico após 1945. Neste
novo contexto, Santos (2002, p. 17) nos afirma que,

Em todos os casos, a informação joga um papel parecido àquele que no


passado remoto era destinado à energia. Antigamente, sobretudo antes da
existência humana, o que reunia as diferentes porções de um território era
a energia, oriunda dos próprios processos naturais. Ao longo da história, é a
informação que vai ganhando essa função, para ser hoje o verdadeiro
instrumento de união entre as diversas partes do território. (SANTOS, 2002,
p. 17).

A história da economia mundial desde a Revolução Industrial tem sido de acelerado progresso
técnico, de contínuo, porém irregular crescimento econômico e de crescente “globalização”, ou seja,
de uma organização mundial cada vez mais elaborada e complexa de trabalho, numa rede cada vez
maior de fluxos e intercâmbios que ligam todas as partes da economia mundial ao sistema global. 
Este progresso técnico foi se intensificando, se transformando e sendo transformado pelas guerras
mundiais do século XX. Ianni (2001) analisa que

a Revolução Industrial tem sido de acelerado progresso técnico, de contínuo, porém irregular
crescimento econômico e de crescente “globalização”, ou seja, de uma organização mundial cada vez
mais elaborada e complexa de trabalho, numa rede cada vez maior de fluxos e intercâmbios que
ligam todas as partes da economia mundial ao sistema global.  Este progresso técnico foi se
intensificando, se transformando e sendo transformado pelas guerras mundiais do século XX. Ianni
(2001) analisa que

o que parecia ser uma espécie de virtualidade do capitalismo, como modo


de produção mundial, tornou-se cada vez mais uma realidade do século XX;
e atingiu ainda maior vigência e abrangência depois da Segunda Guerra
Mundial. Sob certos aspectos, a Guerra Fria, nos anos 1946-89, foi uma
época de desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo pelo
mundo. Com a nova divisão internacional do trabalho, a flexibilização dos
processos produtivos e outras manifestações do capitalismo em escala
mundial, as empresas, corporações e conglomerados transnacionais
adquirem preeminência sobre as economias nacionais. Elas se constituem
nos agentes e produtos da internacionalização do capital. Tanto é assim que
as transnacionais redesenham o mapa do mundo, em termos
geoeconômicos e geopolíticos muitas vezes bem diferentes daqueles que
haviam sido desenhados pelos mais fortes Estados nacionais. O que já vinha
se esboçando no passado, com a emergência dos monopólios, trustes e
cartéis, intensifica-se e generaliza-se com as transnacionais que passam a
predominar desde o fim da Segunda Guerra Mundial; inicialmente à sombra
da Guerra Fria e, em seguida, à sombra na “nova ordem econômica
mundial”. (IANNI, 2001, p. 56).

A globalização manifestou-se com intensidade nas relações econômicas mundiais, na


internacionalização do capital, na intensificação da dispersão geográfica das forças produtivas,
englobando o capital, a tecnologia, a força de trabalho, a divisão do trabalho social, o planejamento e
o mercado. Na análise de Schaff (1993), enquanto as duas primeiras revoluções industriais tiveram o
mérito de substituir a força de trabalho humana pela energia das máquinas, primeiro pela utilização
do vapor e, posteriormente, pela energia elétrica, a revolução que assistimos agora consiste na
amplificação das capacidades intelectuais do homem, “inclusive substituídas por autômatos, que
eliminam com êxito crescente o trabalho humano na produção e nos serviços” (SCHAFF, 1993, p.22).

A nova divisão internacional do trabalho e da produção, envolvendo o fordismo, o neofordismo, o


toyotismo, a flexibilização e a terceirização, tudo amplamente agilizado e generalizado com base nas
técnicas eletrônicas, concretiza a globalização do capitalismo, em termos geográficos e históricos. As
fronteiras físicas passam a se fragmentar e as distâncias diminuem desde a Revolução Industrial até
nossos dias.

Na medida em que se dá a globalização do capitalismo, como modo de produção e processo


civilizatório, desenvolve-se simultaneamente a sociedade global, uma espécie de sociedade civil
globalizada em que se constituem as condições e as possibilidades de contratos sociais, formas de
cidadania e estruturas de poder de alcance mundial. A formação da sociedade global reabre a
problemática da modernidade em suas implicações filosóficas, científicas e artísticas.

No âmbito da globalização de coisas, gentes e idéias, modificam-se os quadros sociais e mentais de


referência. Para Ianni (2001), este movimento de modernização do mundo o coloca como uma
imensa aldeia global, cuja noção nos remete a idéia de

[...] uma expressão da globalidade das idéias, padrões e valores sócio-


culturais, imaginários. Pode ser vista como uma teoria da cultura mundial,
entendida como cultura de massa, mercado de bens culturais, universo de
signos e símbolos, linguagens e significados que povoam o modo pelo qual
uns e outros situam-se no mundo, ou pensam, imaginam, sentem e agem.
(IANNI, 2001, p. 119).

Ianni (2005) analisa também a importância decisiva das tecnologias da eletrônica e da informática na
consolidação da aldeia global, visto que estas disponibilizam aos meios de comunicação maiores
recursos, mais dinamismo e alcance. Os meios de comunicação de massa, potencializados pelas
novas tecnologias, rompem fronteiras físicas, culturais, étnicas, religiosas, políticas, de desigualdades
ou diversidades sociais, de hierarquias de raça, sexo e idade.

Na aldeia global, a mídia eletrônica é decisiva como instrumento de veiculação de informações em


forma de pulsos eletrônicos. Associada à imprensa, desempenha papel de meio informacional
significativo de interesse nos centros de poder e entre os grupos dominantes, nos processos e nas
estruturas culturais, sociais, políticas e econômicas, inerentes ao mundo e à “nova ordem mundial”
pós-Guerra Fria. A aldeia global já era anunciada por Marshall McLuhan, que previa as novas
configurações mundiais que seriam causadas pelos meios de comunicação.

A angústia crítica em que vivem hoje todos os homens é, em grande


medida, o resultado dessa zona interfacial que existe entre uma cultura
mecânica, fragmentada e especializada em decadência, e uma nova cultura
integral, que é complexa, orgânica e macroscópica. Esta nova cultura não
depende em absoluto das palavras. De fato, a linguagem e o diálogo já
tomaram a forma de interação entre todas as zonas do mundo. [...] O
computador suprime o passado humano, convertendo-o por inteiro em
presente. Faz com que seja natural e necessário um diálogo entre culturas,
mas prescindindo por completo do discurso. [...] A palavra individual, como
depósito de informação e sentimento, já está cedendo à gesticulação
macroscópica. (MCLUHAN, 1971, p.72-73 e 98-99).

Por ser global, a mídia eletrônica não é monolítica nem estática, mas recebe múltiplas influências de
lugares, pessoas, organizações mundiais, ordens religiosas, políticas e culturais. É sensível às
reivindicações de gentes e grupos. Dificilmente é monopolizada em seu conteúdo. Porém, em parte,
a mídia eletrônica opera consoante com os centros de poder, disseminando informações de interesse
das classes dominantes, veiculando fatos e acontecimentos de modo deformado, sem nexo. Tudo se
torna uma representação estilizada, uma virtualização, um simulacro do real.

A indústria cultural transforma-se em um poderoso meio de fabricação de representações


sinestésicas que correm em forma de imagens, sons, cores e movimento. Para Baudrillard (1991), o
universo e todo o sistema representam um gigantesco simulacro. De fato, o mundo vem se tornando,
de modo cada vez mais arbitrário, livre e imaginário, um imenso simulacro, uma representação
virtual, uma abstração do real, por si e em si.

A vasta gama de informações que temos disponíveis em rede, na forma de bites, podem ser
estocadas, armazenadas e recuperadas, e imediatamente, disponibilizadas em forma de pulsos
eletrônicos. Tudo se moderniza, se virtualiza e se globaliza. Essa onda modernizante se espalha pelos
mais remotos cantos do mundo, nas relações interpessoais, culturais e políticas, criando novas
formas de relacionamentos, onde o espaço e o tempo já não têm referência. Benjamin Wolley
(1992), em seus estudos, citou McLuhan, ao afirmar que este

[...] viu a tecnologia como uma extensão do corpo. Da mesma forma que a
roda é uma extensão do pé, o telescópio uma extensão do olho, assim a
rede de comunicações é uma extensão do sistema nervoso. Assim como a
rede de comunicações espalhou-se pelo mundo, assim ocorreu com a nossa
rede neural. A televisão tornou-se os nossos olhos, o telefone a nossa boca
e ouvidos. Nossos cérebros são elos de um sistema nervoso que se estende
através do mundo todo (WOLLEY, 1992, pp.124-125).
Embora sejam múltiplas as causas que levam ao efeito da globalização, talvez uma das principais seja
a transformação do antigo comércio literário e artístico em um moderno mercado financeiro, um
processo de mercantilização universal. “Esta mudança econômica coincide com outra de ordem
moral e política nas democracias ocidentais: a conversão dos cidadãos em consumidores” (PAZ, 1993,
p.110-111).

No entanto, devemos dirigir nosso olhar para a informatização como a principal base desta aldeia
global. As tecnologias eletrônicas compõem uma vasta máquina universal que opera múltiplas
mensagens em todos os lugares (IANNI, 2001). As denominadas tecnologias da inteligência (BARROS,
2008; IANNI, 2001; LÉVY, 1993) e da imaginação produzem um mundo digital, virtual, instantâneo,
ubíquo, ora esférico, ora plano, sem cronologia histórica ou biográfica. Um gigantesco sistema
composto por informações e conhecimentos que nos remetem a muitas outras informações, num
processo de múltiplas facetas. É um texto emaranhado de interfaces, concebido e inteligível pela
tecnologia da informática, eletrônica universal, cibernética. É aquilo que Lévy (1993) denomina
hipertexto, ou seja, a transfiguração do caos em um sistema de signos, símbolos, linguagens,
metáforas, alegorias, que culminam em um texto complexo.

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões.


Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de
gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles
mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados
linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a
maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em
um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que
pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua
vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p.33).

A modernização do mundo permite transformar todo o sistema e suas relações, estruturas, fatos e
acontecimentos em um vasto hipertexto. As informações e conhecimentos já não ficam mais
restritos e fragmentados, mas estão unidos por nós bifurcados, por relações em rede. Note-se que
este processo envolve pessoas, empresas, conglomerados, líderes mundiais e centros de decisão e
poder e vai além de procedimentos, linguagens e técnicas.

O mundo passa a ser descrito, desenhado e representado por uma infinidade de informações, signos,
emblemas e metáforas. A própria opinião pública passa a formar-se e conformar-se com as novas
formas de informação disponíveis em rede, sem tempo cronológico, sem referência nem memória.

Com o desenvolvimento dos meios eletrônicos, a indústria da consciência converteu-se em


marcapassos do desenvolvimento sócio-econômico da sociedade pós-industrial. Infiltra-se em todos
os demais setores da produção, assume cada vez mais funções de comando e de controle, e
determina a norma da tecnologia dominante. [...] todas as citadas técnicas (satélites de
comunicação, televisão a cabo, vídeos etc.) formam combinações entre si e com as técnicas mais
antigas como imprensa, rádio, cinema, televisão, telefone, telescópio, radar etc. esses meios se
combinam cada vez mais para constituírem um sistema universal. (ENZENSBERGER, 1978, p. 43).

Esse processo de globalização, cujas bases remontam ao período da Revolução Industrial,


caracteriza-se pela produção, reprodução e universalização cultural, cada vez mais intenso,
sistematizado e generalizado, que se beneficia do conhecimento científico das diversas ciências. Um
dos principais agentes neste processo, além da informação, foi o computador, que tem sua origem
bem menos recente do que o senso comum imagina.

Computadores ou máquinas do futuro?

Alguns autores e pesquisadores remontam a história dos computadores à Antiguidade, com o


surgimento dos ábacos sumérios, chineses ou romanos, há aproximadamente 5.000 anos. A
humanidade aprendeu a contar nos dedos, com os antigos ábacos e o computador surgiu
exatamente dessa necessidade de facilitar cálculos complexos.

O século XVIII conviveu com vários dispositivos e máquinas para calcular, analógicos para grandezas
(réguas de cálculo, relógios, contadores e medidores em geral) e digitais para valores, representados
por algarismos, letras ou qualquer outro símbolo (ábacos, calculadores). O princípio do maquinismo
é idêntico: alimenta os números girando uma série de botões ou rodas, acionando manualmente
uma alavanca ou outra roda para efetuar a operação desejada.

Em 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, o exército norte-americano sugeriu a construção de


uma máquina de calcular para fins de artilharia. O desafio foi aceito pela Universidade da Pensilvânia,
que, em 1946, apresentou seu invento, tendo empregado 7.237 horas de intenso trabalho humano
para concluí-lo. O equipamento recebeu o nome de ENIAC [Electrical Numerical Integrator and
Calculator] e foi o primeiro computador a válvulas. Pesava 30 toneladas, possuía 18.000 válvulas a
vácuo, 1.500 relés e emitia o equivalente a 200 quilowatts de calor.

Essa enorme máquina foi alojada em uma sala de 9 metros de largura por 30 metros de
comprimento. Porém, capacidade de memória e confiabilidade foram os primeiros problemas. O
ENIAC tinha condições de armazenar apenas vinte números de dez dígitos e toda programação
precisava ser feita reordenando-se a rede elétrica. Em 1952, mais de 19.000 válvulas tinham sido
substituídas, pois elas começavam a queimar dois minutos depois de ligar-se o equipamento. O
ENIAC teve vida ativa curta, sendo aposentado em 1952.

No ano de 1947, é inventado o transistor na empresa Bell Laboratories, localizada em Murray Hill,
Nova Jersey, nos Estados Unidos. Os créditos pela descoberta pertencem aos físicos John Bardeen,
William Shocklei e Walter Brittain, que receberam o Prêmio Nobel em 1956 pelo invento. O transistor
inaugurou uma nova fase para os computadores, pois “possibilitou o processamento de impulsos
elétricos em velocidade rápida e em modo binário de interrupção e amplificação, permitindo a
codificação da lógica e da comunicação com e entre essas máquinas [...]” (CASTELLS, 1999, p. 58).

A trajetória da revolução da tecnologia da informação intensifica-se com o avanço gigantesco na


difusão da microeletrônica no início dos anos 70 do século XX, quando foi inventado no Silicon Valley
(Califórnia, Estados Unidos) o microprocessador, que é o computador em um único chip (constituído
de milhares de transistores). Começava assim a disputa pela capacidade de integração cada vez
maior dos circuitos contidos em apenas um chip, cuja capacidade pode ser avaliada por uma
combinação de três características:

1. Capacidade de integração: medida em mícron.

2. Capacidade de memória: medida em bytes, kbytes e megabytes.

3. Velocidade do microprocessador: medida em megahertz.


Relativamente ao contexto social e a dinâmica da transformação tecnológica, duas tendências
relativamente autônomas se sobressaem. São elas o desenvolvimento de novas tecnologias da
informação e a tentativa da antiga sociedade de reaparelhar-se com o uso do poder da tecnologia
para servir a tecnologia do poder.

A hipótese de Castells (1999) é que, em relação aos efeitos sociais das tecnologias da informação, a
profundidade de seu impacto é uma função de penetrabilidade da informação por toda a estrutura
social. O resultado histórico dessa estratégia parcialmente consciente é muito indeterminado, visto
que a interação da tecnologia e da sociedade depende de relações fortuitas entre um número
excessivo de variáveis parcialmente independentes.

A revolução da tecnologia da informação sofreu influência de vários fatores institucionais,


econômicos e culturais. As empresas e os países capitalistas, especialmente o G20, passaram por um
processo de reestruturação organizacional e econômica, no qual a nova tecnologia da informação
exerceu um papel fundamental e foi decisivamente moldada pelo papel que desempenhou.

A disponibilidade de novas redes de telecomunicações e de sistemas de informação preparou o


terreno para a integração dos mercados financeiros e a articulação segmentada da produção e do
comércio mundial.

O desenvolvimento da revolução da tecnologia da informação contribuiu para a formação dos meios


de inovação onde as descobertas e as aplicações interagiam e eram testadas em um repetido
processo de tentativa e erro. Esses ambientes exigiam e ainda exigem, apesar da atuação on-line,
concentração espacial de centros de pesquisa, instituições de educação superior, empresas de
tecnologia avançada, uma rede auxiliar de fornecedores, provendo bens e serviços e redes de
empresas com capital de risco para financiar novos empreendimentos.

Nos anos de 1990, o Silicon Valley testemunhou a proliferação de empresas japonesas, taiwanesas,
coreanas, indianas e européias, para as quais uma presença ativa permite uma conexão mais
produtiva às fontes de novas tecnologias e informações comerciais valiosas. Quer dizer,
concentração de conhecimentos científicos e tecnológicos, instituições, empresas e mão de obra
qualificada são as forjas da inovação da era da informação.

O ingrediente principal é capacidade de gerar sinergia com base em conhecimentos e informação,


diretamente relacionados à produção industrial e aplicações comerciais. No caso específico do Japão,
as universidades tiveram um papel modesto, sendo que o planejamento estratégico do MITI[1] e a
interface constante entre as Keiretsu[2] e o governo foram elementos cruciais na explicação da
façanha japonesa, que dominou a Europa e alcançou os Estados Unidos em vários segmentos das
indústrias de tecnologia da informação.

Entretanto, é importante deixar claro que foi o Estado – e não o empreendedor de inovações em
garagens, que iniciou a revolução da tecnologia da informação em todo o mundo. Assim, a nova
economia baseada em reestruturação socioeconômica e revolução tecnológica será moldada, até
certo ponto, de acordo com os processos políticos desenvolvidos no e pelo Estado.

A revolução informacional possibilitou o surgimento de uma nova ordem econômica, pois o


capitalismo transformou-se em:

a) Informacional, porque a produtividade e a competitividade dependem de sua capacidade de


gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos.
b) Global porque as principais atividades produtivas estão cada vez mais organizadas em escala
global.

Esta nova economia distingue-se da economia industrial. O novo paradigma econômico, baseado na
revolução tecnológica e informacional, mudou a dinâmica da economia industrial, criando uma
economia globalizada e promovendo uma onda de concorrência entre os agentes econômicos já
existentes.

Desde a Revolução Industrial até nossos dias, as ciências e a tecnologia proporcionaram alterações
profundas nas relações econômicas. As empresas guiam-se pela redução dos custos de produção,
pelo aumento da produtividade e pela ampliação de mercado.

A nova economia passa a funcionar em tempo real. As tecnologias permitem que processos
produtivos sejam interconectados e o capital seja transportado de um lado para outro em curtíssimo
prazo. As moedas se tornam interdependentes e as economias também. Há uma mudança na
dinâmica do mercado de trabalho, baseada na nova dinâmica do capitalismo informacional.

II. O paradigma da informação

A atual sociedade tecnológica nos impõe uma nova realidade, o paradigma da informação.
Entendemos por paradigma: padrão imposto por determinada sociedade em dada cultura, espaço e
momento histórico. De modo geral, o paradigma:

desempenha um papel ao mesmo tempo subterrâneo e soberano em


qualquer teoria, doutrina ou ideologia. O paradigma é inconsciente, mas
irriga o pensamento consciente, controla-o e, neste sentido, é também
supraconsciente. supraconsciente. Em resumo, o paradigma instaura
relações primordiais que constituem axiomas, determina conceitos,
comanda discursos e/ou teorias. Organiza a organização deles e gera a
geração ou a regeneração. (MORIN, 2000, p.26)

Em Kuhn (1995), paradigma é uma estrutura que envolve vários conhecimentos, gerando novas
teorias que gravitam em torno de questões, produzindo a construção de conhecimentos. Esse
mesmo autor afirma que a ciência, ao longo do tempo,

estrutura um conjunto de preceitos, noções e processos que caracterizam


os procedimentos dominantes em uma comunidade científica [...], em um
aspecto particular da ciência durante um período de tempo, que é
revolucionado quando um ou vários pesquisadores demonstram as
anomalias de uma ciência normal e põem em crise o universo de certezas,
obrigando a comunidade toda a repensar os fatos e teorias explicativas. [...]
um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade cientifica
partilham e, inversamente, uma comunidade cientifica consiste em homens
que partilham um paradigma. (KUHN, 1995, pp.218-219).

No momento atual, damos destaque ao paradigma da informação, parte integrante e indissociável da


atual Revolução Tecnológica. Castells (1999) destaca os principais aspectos dessa nova revolução.

1º - A informação é a matéria prima, ou seja, tecnologia para agir sobre a informação, e não apenas
informação para agir sobre a tecnologia, como ocorreu nas revoluções anteriores.
2º - Penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias. Como a informação é uma parte integral de
toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente
moldados, embora não determinados pelo novo meio tecnológico.

3º - Lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias
da informação. A morfologia da rede parece estar bem adaptada à crescente complexidade de
interação e aos modelos imprevisíveis do desenvolvimento derivado do poder criativo dessa
interação.

4º - A flexibilidade. Não apenas os processos são reversíveis, mas organizações e instituições podem
ser modificadas e até mesmo fundamentalmente alteradas pela reorganização de seus componentes.
O que distingue a configuração do novo paradigma tecnológico é sua capacidade de reconfiguração,
um aspecto decisivo em uma sociedade caracterizada por constante mudança e fluidez
organizacional.

No entanto, a flexibilidade tanto pode ser uma força libertadora como também uma tendência
repressiva, se os redefinidores das regras sempre forem os poderes constituídos. Apenas análises
específicas e observações empíricas conseguirão determinar as conseqüências da interação entre as
novas tecnologias e as formas sociais emergentes.

5º - A crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, no


qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado.
Assim, a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica [fibra óptica e laser] e os
computadores são todos integrados nos sistemas de informação. A convergência tecnológica se
transforma em uma interdependência crescente entre as revoluções em biologia e microeletrônica,
tanto em relação a materiais quanto a métodos. A decodificação da cadeia de DNA e pesquisas
envolvendo a nanotecnologia seriam inconcebíveis sem o auxílio das tecnologias. Os conceitos desta
nova biologia tem uma ligação tão forte com a ciência da informação que seria impossível imaginar o
desenvolvimento desse campo sem o auxílio do computador.

Podemos identificar essas novas ferramentas, as quais permitiram o acesso à ciência da vida,

As novas ciências associadas ao desenvolvimento dos computadores.


Teorias de “controle”, feedback e “transferência da informação” foram
reunidas em 1948 pelo engenheiro e matemático americano Norbert
Wiener com o nome de “cibernética”... Bioquímicos procuraram nesses
novos conceitos aquilo que poderia demonstrar as formas pelas quais a
célula controlava e regulava seu próprio metabolismo. (ROSENBERG;
WHITE, 1973, p. 17).

Embora a pesquisa ainda tenha um longo caminho a percorrer rumo à integração material entre a
biologia e a eletrônica, a lógica da biologia [capacidade de gerar seqüências não programadas] está
cada vez mais em evidência nas máquinas. O atual processo de convergência entre diferentes
campos tecnológicos no paradigma da informação resulta de sua lógica compartilhada na geração da
informação.

A informática não é microcomputação. A informática é um universo de


reflexão sobre a possibilidade de produção, estocagem e disseminação da
informação. E estamos ficando distanciados dessa área de saber humano,
que é a informática, que passou a produzir e veicular linguagens específicas
e ideologias especificas, criando novas condições para a comunicação e as
relações humanas. (GATTI, 1992, p.40).

O paradigma da tecnologia da informação não evolui para seu fechamento como um sistema, mas
rumo a abertura como uma rede de acessos múltiplos. É forte e impositivo em sua materialidade,
mas adaptável e aberto em seu desenvolvimento histórico. Abrangência, complexidade e disposição
em forma de rede são seus principais atributos.

A partir do advento das tecnologias informáticas, da cibernética e das inteligências artificiais, o termo
“informação” passou a adquirir um significado técnico novo. O conceito de “informação” sempre
esteve intimamente ligado a uma transmissão verbal reconhecível, existente na comunicação
executada entre um emissor e um receptor. Ruben (1984, p.56) em busca de uma definição científica
para comunicação, com ênfase no estudo de problemas associados com a comunicação humana, a
define como “o processo através do qual os indivíduos em relação, grupos, organizações e
sociedades criam, transmitem e usam informação para organizar a informação com o ambiente e
entre si”.

Pesquisadores que trabalharam neste campo entendem que o foco unilateral entre comunicação e
informação é muito estreito, emergindo questões que necessitam de atenção em um trabalho
conjunto. Na observação de Borgman e Schement (1989, apud SARACEVICK, 1996, p. 53):

Pesquisadores de ambos os campos estudaram tópicos semelhantes, como


as lacunas do conhecimento, os colégios invisíveis, a difusão de inovações, a
interação humana com as tecnologias da comunicação, o comportamento
na busca de informações, a teoria da informação, a teoria de sistemas e a
sociedade da informação.

Porém, com a revolução das tecnologias informáticas, a informação passa a ser considerada uma
medida quantitativa de trocas comunicativas em forma de pulsos eletrônicos, através de algum canal
mecânico, o que exige que a mensagem seja codificada e, a seguir, decodificada em impulsos
eletrônicos.

A maioria das pessoas tendia a assumir que a informação estava ligada com
o que ocorria com o entendimento entre um emissor (speaker) e um
ouvinte (listener) durante o processo de conversação. [...] Aqui o bit, o
digito binário básico para todo processamento de dados aparece pela
primeira vez como um quantum de informação, uma unidade claramente
mensurável pela qual a capacidade de transmissão de toda tecnologia de
comunicação pode ser avaliada. (ROSZAK, 1998, pp.29-30).

Roszak destaca, ainda, que a problemática em torno deste conceito técnico é que “informação”
passou a significar algo que pode ser codificado e transmitido em um meio eletrônico, porém sem
considerar seu conteúdo semântico (ROSZAK, 1998). Ou seja, o uso do termo passou a ser utilizado
de forma cada vez mais liberal e as conseqüências são comunicações que não levam em conta a
qualidade do conteúdo ou o cunho especifico daquilo que está sendo comunicado. O resultado é
uma confusão progressiva. Tudo é “informação”. A palavra passa a ser generalizada e as informações
circulam cada vez mais rápido.
Saracevick (1996) utiliza o termo Ciência da Informação, definindo o conjunto nos termos em que
evoluiu e no seu enfoque contemporâneo:

A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO é um campo dedicado às questões científicas e


à prática profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação
do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto
social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação.
No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as
vantagens das modernas tecnologias informacionais (SARACEVICK, 1996, p.
47).

Considerando a própria História, os primeiros computadores de válvulas eram muito lentos, e em


pouco tempo já não atendiam mais à demanda informacional. As válvulas foram substituídas pelos
transistores e pelos circuitos integrados. Os computadores passam a ser produzidos em tamanhos
cada vez menores, à medida que também as distâncias mundiais diminuem com a globalização,
consolidada pela rede mundial de computadores. E as informações continuam a circular de modo
cada vez mais rápido. “Estamos num universo em que existem cada vez mais informações e cada vez
menos sentido” (BAUDRILLARD, 1991, p. 103).

Ao se pensar nos impactos da revolução da tecnologia da informação no ambiente escolar, torna-se


importante fazermos uma distinção entre informação e conhecimento, entre “saber o quê” e “saber
como”. Podemos afirmar que informação seria a matéria-prima ainda não processada, enquanto que
o conhecimento seria relativo ao que foi sistematizado pelo nosso pensamento. Segundo Burke
(2003, p. 17), “a ênfase passou da aquisição e transmissão do conhecimento para sua construção,
produção ou mesmo manufatura”.

A educação contemporânea mostra a saturação de paradigmas que já não atendem mais ao


momento atual do mundo em que vivemos, diante de novos valores que estão emergindo, de
competências a atualizar e à velocidade e quantidade de informação. Como o conhecimento tornou-
se dinâmico, precisamos fazer novas conexões de fatos e informações, pois tudo está sistematizado.

As tecnologias invadiram a sociedade sob vários aspectos, e sua inserção na instituição escolar é
sentida social e culturalmente. Explicaremos no próximo capítulo como ocorreu o advento das
tecnologias no ambiente escolar, os impactos causados e as consequências das tecnologias nas
estratégias didáticas do professor.

III. Inteligência, ensino e aprendizagem com tecnologias

O surgimento das tecnologias da informação e da comunicação provocou mudanças profundas na


sociedade, na política e na cultura dos diversos povos e seu impacto foi decisivo para uma série de
inovações. Não poderíamos deixar de lado as alterações provocadas no ambiente educacional, já que
a escola vem sendo um dos assuntos mais em evidência neste século.

O que diferencia a raça humana das demais espécies é a sua capacidade construtiva e criadora, a
qual possibilitou, por séculos, a perpetuação do homem e o domínio sobre os recursos disponíveis no
planeta.

Tal potência se deve ao cérebro desenvolvido, o qual se estende exponencialmente em complexas


redes neurais. Isso lhe possibilita o armazenamento, o processamento e a recuperação de
informações em um fluxo rápido e contínuo, bem como a conversão destas informações em
conhecimento.

Os estudos sobre a inteligência humana remontam a finais do século XIX e princípios do século XX e,
desde suas origens, apresentam estreitas relações com as questões educacionais.

Coll e Onrubia (2004) têm uma perspectiva de processamento humano da informação sobre a
inteligência, que procura identificar e compreender os processos cognitivos de seleção, organização e
processamento da informação, envolvidos no comportamento inteligente, desenvolvendo modelos
detalhados do funcionamento intelectual diante de determinadas tarefas.

O princípio do desenvolvimento da inteligência humana é a adaptação, ou seja, a capacidade


biológica e social que estimula o homem a transformar o meio em que vive pelo uso de ferramentas
e pelo desenvolvimento das capacidades psicológicas superiores (LEONTIEV, 1980). Isso é viabilizado
pelo equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.

Podemos definir assimilação como sendo a incorporação de um elemento do meio exterior aos
esquemas de ação do sujeito. O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento para atender
suas necessidades biológicas, psicológicas e sociais. Já a acomodação consiste na modificação dos
esquemas ou estruturas do sujeito em função do objeto ou elemento específico que está tentando
assimilar por meio de um esforço pessoal. O sujeito age no sentido de se transformar para entrar em
equilíbrio com o meio.

Para Lévy (1993), a inteligência ou o processo de cognição é o resultado de complexas redes em que
interagem um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos. Ou seja, a construção de
conhecimentos não ocorre de forma isolada nem fragmentada, mas articulada em um processo no
qual prevalece o pensamento em rede, em nós de conhecimentos interligados.

A concepção de rede é analisada em Silveira (2001, p.92), como sendo “uma rede cujos ‘nós’ se
conectam a outros nós que se realimentam e se auto-organizam”. Nesta perspectiva, Lévy (1993, p.
135) define inteligência ao afirmar que:

Não sou “eu” que sou inteligente, mas “eu” com o grupo humano do qual
sou membro [...]. O pretenso sujeito inteligente nada mais é do que um dos
microatores de uma ecologia cognitiva que o engloba e restringe [...]. O
pensamento se dá em uma rede na qual neurônios, módulos cognitivos,
humanos, instituições de ensino, línguas, sistemas de escrita, livros e
computadores se interconectam, transformam e traduzem as
representações.

Este mesmo autor expressa que todos os indivíduos humanos são inteligentes por possuírem um
conjunto de capacidades para perceber, aprender, imaginar e raciocinar (LÉVY, 1996). Muitas vezes,
essas aptidões são subestimadas por desconsiderar que o exercício dessas capacidades cognitivas
implicam, obrigatoriamente, uma ação coletiva ou social, como afirma Vygotsky (1989) ao assinalar o
papel das interações sociais na formação da mente.

É no coletivo que vamos encontrar os instrumentos intelectuais ou objetos para a reflexão, ou seja,
conhecimentos, valores e ferramentas, os quais distribuídos por toda parte, são continuamente
valorizados e sinergizados. Modela-se, assim, um projeto individual e coletivo eternamente
inconcluso, enriquecido e reinterpretado na transversalidade do espaço e do tempo.
Nessa mesma linha de raciocínio, podemos destacar a Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard
Gardner, a partir da qual a inteligência deixa de ser vista como uma capacidade unificada que cada
indivíduo possui em maior ou menor grau, para ser concebida de forma plural, com uma diversidade
de estilos pessoais, visões de mundo e diversos talentos.

Para Gardner (1993) existem sete inteligências: 1) musical; 2) corporal-sinestésica; 3) lógico-


matemática; 4) linguística; 5) espacial; 6) interpessoal; 7) intrapessoal; 8) naturalista; e 9) existencial.
Existem diferentes mentes e diferentes formas de aprender, visto que essas “inteligências” estão
dispostas de forma conectada e independente em um complexo sistema.

A inteligência humana, estimulada pelas ações pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem, é


o fator decisivo na formação de conhecimentos. O conhecimento pode ser definido como uma
construção social realizada a partir das capacidades cognitivas superiores e da interação do ser
aprendente com o meio.

O construtivismo é um termo utilizado para fazer distinção entre as teorias de Piaget e Vygotsky,
embora ambas sejam apontadas como construtivistas em suas concepções epistemológicas. Ambas
defendem as relações do homem com o meio como condicionantes à construção da inteligência e
dos conhecimentos.

Piaget (1987) considera a inteligência como um instrumento de adaptação do sujeito ao meio. As


relações epistemológicas entre o sujeito e o meio implicam num processo de construção e
reconstrução permanente que resulta na formação de estruturas do pensamento. Tais estruturas se
formam, se conservam ou se alteram através de transformações geradas a partir das ações
interiorizadas.

Assim, as aquisições de estruturas são permanentes e cada vez mais complexas. A partir de suas
próprias ações, o sujeito como um ser ativo constrói suas estruturas em interação com o seu meio,
pois para Piaget (1972, p.14):

[...] o conhecimento não procede, em suas origens, nem de um sujeito


consciente de si mesmo nem de objetos já constituídos (do ponto de vista
do sujeito) que a ele se imporiam. O conhecimento resultaria de interações
que se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo portanto, dos
dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação
completa e não de intercâmbio entre formas distintas (PIAGET, 1972, p.14).

Para Vygotsky, o homem constitui-se em um sujeito total enquanto mente e corpo, organismo
biológico e social, integrado em um processo histórico. A partir de pressupostos da epistemologia
genética, sua concepção de desenvolvimento é concebida em função das interações sociais e
respectivas relações com os processos mentais superiores, que envolvem mecanismos de mediação.

As relações entre homem e mundo não ocorrem diretamente, são mediadas por instrumentos ou
signos fornecidos pela cultura. Vygotsky (2000) afirma que a linguagem e o desenvolvimento sócio-
cultural determinam o desenvolvimento do pensamento. Assim, o sistema simbólico fundamental na
mediação sujeito-objeto é a linguagem humana, instrumento de mediação verbal cuja palavra é a
unidade básica.

Piaget e Vygotsky tratam a questão da internalização de diferentes formas.


Piaget considerou a interação com a realidade física como a internalização
de esquemas que representam as regularidades das ações físicas individuais
generalizadas, abstraídas e internalizadas. Essa visão de internalização
relaciona-se diretamente com a linha de desenvolvimento natural
vygotskyana. [...] Vygotsky refere-se à internalização como a transformação
do fenômeno social e cultural em processo intrapsicológico. Quaisquer
avanços no plano interpsicológico provocam desenvolvimentos adicionais
no plano intrapsicológico, o que não significa uma “transmissão” de um
plano para o outro, mas sim uma “transformação” (ALMEIDA, 2000, p.37).

Baseado na concepção construtivista, Papert (1985) elaborou o construcionismo, a partir do qual o


conhecimento não é algo transmissível, mas construído pelo indivíduo, de modo único. Cada
indivíduo reconstrói o conhecimento baseado em suas relações com o mundo, com os objetos e em
suas experiências.

Papert propõe essa construção com o uso de redes telemáticas, que por serem abertas e guiadas
pelo aprendiz, possuem contornos de um ambiente construtivista. As características da
aprendizagem e o uso da tecnologia são inter-relacionados, interativos e interdependentes.

Para Silva (2001), a interatividade se traduz em uma nova relação de comunicações, em que se deixa
de lado a comunicação clássica, unidirecional, partindo-se para um ir e vir de trocas bidirecionais
constantes de informações entre emissores e receptores. A interatividade ganha força na “era da
informação”, estando alicerçada em três pilares: 1) as tecnologias informáticas conversacionais, ou
seja, a tela do computador já não é o espaço de irradiação, mas uma interface de manipulação, com
ícones e janelas abertas a múltiplas conexões; 2) estratégias dialógicas de oferta e consumo; 3) o
novo espectador, menos passivo perante a mensagem mais aberta a sua intervenção.

A interatividade pressupõe uma ação de troca de informações, mensagens, análises, sugestões.


Enfim, uma ação que precisa de inteligência para que aconteça. Essas características da
interatividade, transferidas para o espaço da tecnologia, são possíveis e plenamente viáveis. Mas o
grande aspecto que faz da tecnologia um meio plenamente possível e interativo é a flexibilidade, que
pode ser considerada um dos princípios de um novo padrão de inteligência para a tecnologia. A
flexibilidade e a potencialidade que a tecnologia disponibiliza são os principais meios de
interatividade comunicacional.

O computador, isoladamente, não pode proporcionar qualquer benefício se a sua utilização não for
movida por uma ação inteligente e bem planejada. Nem pode trazer edificação aos processos
cognitivos ou à construção da própria inteligência, sem um planejamento pedagógico que viabilize a
busca e utilização das possibilidades existentes na tecnologia. Mas, de que forma explorar em
profundidade tais potencialidades?

Nesta discussão, é importante destacar o paradigma da virtualidade, proposto por Barros (2008).
Segundo essa autora, o paradigma da virtualidade é o padrão pedagógico em que se destaca a
competência em explorar e interpretar as informações simbólicas disponibilizadas na virtualidade do
ambiente informático, especificamente com os recursos disponíveis na plataforma Windows.

Segundo Barros (2008) o paradigma da virtualidade tem por princípios:

a) O pensamento em rede.

b) A conectividade.
c) A interdisciplinaridade.

d) O uso da imagem

e) A competência da informação.

f) A competência virtual.

O paradigma da virtualidade está alicerçado na virtual literacy, definida por Barros (2008) como uma
competência que viabiliza o uso pedagógico das tecnologias para transformar o conhecimento em
informações, dados e imagem. Podemos considerar a virtual literacy como um processo de
comunicação em que se trabalha com a linguagem visual e suas novas propriedades de códigos
virtuais na aplicação da tecnologia como ferramenta e mediação da construção do conhecimento.

Enfim, todas as formas de inovação foram incorporadas à instituição escolar, de forma sistemática,
permeando os processos educativos. Porém, temos que ter cautela quanto às visões em torno da
tecnologia como a “grande salvadora” de todos os males, sem levar em conta o contexto geral. Na
expressão de Barros,

Há uma verdadeira inversão de significados do que a tecnologia é e de


como usá-la para a educação, ou seja, não como um recurso motivador e
ilustrativo, mas como potencializadora do conhecimento. As aulas não
devem perder o seu significado científico, objetivo, dialógico e crítico na
construção do conhecimento. (BARROS, 2008, p. 77).

É necessária análise e reflexão sobre os conteúdos, bem como os contextos social, político e cultural
que permeiam as tecnologias. De acordo com Mercado (1999, p.49):

A produção no campo do saber, com as novas tecnologias, aumentou de modo


significativo e continua a aumentar com extrema rapidez, devido ao grande acúmulo
de informações em todos os campos, tornando difícil selecionar os conteúdos do
ensino, no que se refere ao conhecimento.

Com as novas exigências, as questões sobre mediação do conhecimento e tecnologias aplicadas ao


uso pedagógico apresentam grande potencial para produção, convergência e difusão de
informações.

O grande diferencial que as redes de computadores colocam para a Educação é o de possibilitar


novas opções de espaço e de tempo que antes não existiam na prática pedagógica. E essas opções
ainda não estão plenamente exploradas. Há uma inércia em se querer manter nos caminhos já
conhecidos, porém, é necessário refletir sobre as novas possibilidades em que a interação entre
educador e educando ocorre e em o que e como tais opções de espaço e de tempo podem trazer.

Entre as consequências do avanço das tecnologias, entendemos que a mais profunda foi o
surgimento da sociedade da informação, formada pela influência decisiva dos meios de
comunicação, em que as culturas, os processos educacionais e as competências requeridas passam
por uma crise de significados sem precedentes.

As tecnologias da informação e comunicação se impõem neste século por meio, principalmente, da


rede mundial de computadores, a qual possibilita a troca de informações em todos os níveis, sejam
elas em forma de textos, gráficos, áudio ou imagens. Elas transformam nossa relação com o espaço e
o tempo numa velocidade nunca antes experimentada, dando-nos uma nova percepção de mundo,
no qual nossos relacionamentos, inclusive com os saberes, convertem-se em espaços de fluxos,
criando e desfazendo verdades, competências e habilidades.

Outro aspecto é o ciberespaço, um espaço imaterial, de relações sociais e educativas, num ambiente
desterritorializado, de bases cooperativas, de trocas interativas, de acessos instantâneos e de uma
multiplicidade infinita de saberes. Nele, a emissão e recepção de informações podem ocorrer de
forma individual, bilateral ou multilateral e as mensagens podem circular de forma escrita, sonora,
imagética ou sintetizar todas estas linguagens numa única mensagem. Trivinho (2003) conceitua esse
meio como um ambiente de múltiplas conexões e de comunicações derivado das tecnologias digitais.

O conceito de ciberespaço diz respeito a uma estrutura infoeletrônica


transnacional de comunicação de dupla via, em tempo real, multimídia ou
não, que permite a realização de trocas (personalizadas) com alteridades
virtuais (humanas ou artificial-inteligente); ou numa só expressão
conceitual, a uma estrutura virtual transnacional de comunicação
interativa. (TRIVINHO, 2003, p.168).

Essa definição nos remete a algumas características estruturais deste ambiente virtual advindo dos
suportes computacionais das tecnologias, fazendo referência a questões como a simulação do real, a
comunicação em rede, a interatividade, a globalização, temas estes que fazem emergir novos
paradigmas na cultura, na sociedade e na educação. Lévy (1999) define este ambiente como meio de
comunicação mediado pela interconexão global dos computadores e expressa que:

Este novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os


dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de
simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações
provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e
suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século.
(LÉVY, 1999, p.93).

A produção, difusão e recuperação de informações ocorrem de forma inovadora. Certamente, levará


tempo para que a sociedade se aproprie de maneira livre e crítica das novas possibilidades e
potencialidades da World Wide Web (WWW). O diferencial mais significativo da web em relação às
mídias tradicionais está centrado na possibilidade da rede produzir experiências interativas. Palácios
(1999) comparou a interatividade telemática com os meios tradicionais:

[...] a telemática está, pela primeira vez, fazendo a junção entre comunicação
massiva e interatividade. Há até pouco tempo atrás, a dissociação entre
massivo e interativo era clara, no âmbito da comunicação. Uma coisa ou
outra. O telefone é interativo, mas não massivo, na medida em que é apenas
uma extensão tecnológica de um diálogo entre dois interlocutores; a
televisão, o rádio, as mídias impressas etc., são massivas, porém não
interativas. A comunicação telemática é massiva e interativa. (PALÁCIOS,
1999, p.1).

Para nos darmos conta da velocidade que ocorreram tais transformações, bastará recordar que o
primeiro browser – um programa navegador que permite ao usuário acessar as páginas da Internet e
ver seu conteúdo na tela do computador, foi desenvolvido em caráter experimental no fim da década
de 1980. Tim Berners-Lee, pesquisador do CERN – Laboratório Europeu para a Física de Partículas,
instalado na Suíça, não aceitava a dificuldade que enfrentava para localizar, na rede de
computadores da época, as informações necessárias para seu trabalho.

No início a Web era um sistema interino de troca de arquivos para pesquisa acadêmica. Visando
resolver as limitações impostas na busca de informações, Berners-Lee desenvolveu a proposta de
criação de uma interface mais amigável, padronizando a navegação pela rede. Era o primeiro sistema
que dispensava conhecimentos técnicos especializados para interação entre o usuário e o
ciberespaço. Nas palavras de Balan (1999, p.1):

Apesar de ter facilitado muito a navegação pela Internet, o sistema ainda


não se parecia em nada com o que temos hoje. Não era possível o uso do
mouse e não trabalhava-se imagens, apenas texto. Rapidamente os
browsers, ou navegadores, foram se aperfeiçoando de forma a utilizar
mouse e apresentar imagens. Evoluiu de um sistema hipertexto para um
sistema de hipermídia completo, com sons, imagens, texto, gráficos, vídeos
e outros recursos da mídia.

A web pode ser definida como uma interface gráfica para acesso à Internet. A partir destes
navegadores mais amigáveis, interfaceando o homem com a complexidade da máquina, a Web
tomou proporções gigantescas, com a possibilidade de ser acessada por qualquer leigo. (BALAN,
1999, p.1).

Passados apenas dez anos de desenvolvimento contínuo, o programa navegador seguiu uma
trajetória singular de auto-superação. Evoluiu das precárias linhas de arquivos de texto para a
construção aberta e coletiva do HTML[3], sendo a programação hipermídia utilizada universalmente
para mapear a web. No princípio, o HTML possuía vocabulário limitado e estabelecia vínculo direto,
de modo biunívoco, entre cada uma das páginas virtuais e a janela que mostrava a interface gráfica
para o usuário. O movimento de rolagem da página, para baixo, dava ao usuário a impressão que a
informação estava escrita em um rolo contínuo, que, intuitivamente, ia descendo para permitir a
continuidade da leitura na tela do monitor. Porém, na expressão de Johnson:

[...] à medida que os sites foram se tornando mais complexos [...], os


designers da Web começaram a procurar novos meios de mapear a
complexidade. Projetaram barras de botões e mapas de sites, parecidos
com aqueles quadros "você está aqui" dos shopping centers, e os
enxertaram em cada página. Tal como as barras de menu da interface
gráfica, esses elementos de design foram implementados com uma
preocupação de constância - o espaço-informação não poderia ser
desorientador, mas sempre encontraríamos uma barra de ferramentas com
opções no pé da tela caso nos perdêssemos. (JOHNSON, 2001. p.70)

Foram constantes os aperfeiçoamentos do HTML, os quais permitiram incorporar os mais potentes


recursos multimídia nas páginas digitais. O HTML tornou-se popular entre os internautas,
desmistificando a Web por meio de uma interface com o espaço-informação presente na tela. Graças
aos constantes aprimoramentos da arquitetura gráfica do espaço virtual, através dos hiperlinks e das
informações disponíveis, tornou-se possível a manipulação e a proximidade com novas possibilidades
de comunicação e interação com as páginas binárias.
Do ponto de vista tecnológico, a atual revolução é estupenda e muito rápida. Ela começou com a
invenção do transistor em 1947. Na década de 1950, especialistas em tecnologia eletrônica ainda não
ousavam imaginar que os precários e imensos computadores da época iriam evoluir tão rápido para
máquinas em tamanhos muitíssimo menores e mais potentes, sendo concentradas em uso civil e
doméstico. Muito menos antever a possibilidade de existência de um veículo global formado por
interconexões entre milhares de computadores, formando uma rede mundial onde informações são
processadas em um ritmo alucinante.

Ao final da década de 1960, o computador já era tecnologia consolidada e isso era fato no meio
empresarial, nas forças armadas, em instituições científicas e no alto escalão governamental dos
EUA, da Europa e da antiga União Soviética. Era gigantesco e irreversível o desenvolvimento das
tecnologias informáticas, fato que levou os estrategistas estadunidenses a criarem um sistema
paralelo de comunicação com a ligação não linear de computadores em rede. Castells nos afirma
que,

Como se sabe, a Internet originou-se de um esquema ousado, imaginado na


década de 60 pelos guerreiros tecnológicos da Agência de Projetos de
Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (a
mítica DARPA) para impedir a tomada ou a destruição do sistema norte-
americano de comunicações pelos soviéticos, em caso de guerra nuclear.
De certa forma, foi o equivalente eletrônico das táticas maoístas de
dispersão das forças de guerrilha, por um vasto território, para enfrentar o
poder de um inimigo versátil e conhecedor do terreno. O resultado foi uma
arquitetura de rede que, como queriam seus inventores, não pode ser
controlada a partir de nenhum centro e é composta por milhares de redes
de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão,
contornando barreiras eletrônicas. Em última análise, [...] tornou-se [...]
uma rede de comunicação horizontal global composta por milhares de
computadores [...]. Essa rede foi apropriada por indivíduos e grupos do
mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem diferentes das
preocupações de uma extinta Guerra Fria. (CASTELLS, 2000. p.25-26)

Os bits aceleraram o processo de fusão entre as diversas mídias e a Internet. Aos poucos, a circulação
de informações via satélite cede espaço cada vez maior à rede, devido ao aumento da capacidade de
transmissão com baixo custo da Internet com banda larga, pela interconexão óptica e pelas ondas
hertzianas dos terminais sem fio. Negroponte (1995, p.18) afirma que “a superestrada da informação
nada mais é do que o movimento global de bits sem peso à velocidade da luz”.

As tecnologias de informação e comunicação tornam possível a conversão no ambiente virtual


binário de qualquer informação analógica, seja ela escrita, sonora ou imagética. Simultaneamente,
serve de suporte digital de elaboração, digitalização e difusão universal para conteúdo de qualquer
tipo de mensagem, individual ou coletivamente.

Essa plataforma informacional, tão ampla e cada vez mais potente, subverte o padrão com que
trafegavam as informações durante o século XX. As informações percorriam um caminho através de
determinadas tecnologias, com formatos, receptores e abrangência geográfica e social muito
diversos entre si. As novas mídias informáticas trazem abalo e perplexidade a determinados usuários,
presos à velha ordem analógica do século XX, período no qual prevaleceu a simbiose entre as mídias,
os mercados e os objetivos estratégicos do Estado capitalista.
O controle sobre informações e entretenimento e, por meio dele, sobre
opiniões e imagens, historicamente tem sido o instrumento de sustentação
do poder do Estado, aperfeiçoamento na era da mídia. Nesse [novo]
contexto, o Estado-Nação enfrenta três grandes desafios interrelacionados:
globalização e não exclusividade da propriedade; flexibilidade e capacidade
de penetração da tecnologia; e autonomia e diversidade da mídia [...]. Na
realidade, já sucumbiu a tais desafios na maioria dos países. Até o início da
década de 80, com exceção, principalmente, dos Estados Unidos, a maior
parte das redes de televisão em todo o mundo era controlada pelo
governo, e estações de rádio e jornais dependiam de possíveis restrições
por parte das autoridades, mesmo em países democráticos. (...) Tudo isso
mudou em apenas uma década, e essa transformação foi gerida pela
tecnologia. A diversificação dos meios de comunicação, a integração de
toda a mídia em um hipertexto digital, abrindo caminho para a mídia
interativa, e a impossibilidade de exercer controle sobre satélites que
emitem sinais além das fronteiras ou sobre a comunicação via computador
por meio de linha telefônica, acabaram destruindo as tradicionais bases de
defesa de regulamentação. A explosão das telecomunicações e o
desenvolvimento dos sistemas de transmissão a cabo viabilizaram o
surgimento de um poder de transmissão e difusão de informações sem
precedentes. (CASTELLS, 1999. p.298)

O ciberespaço possibilitou a transmissão digital de conteúdos informacionais em tempo real, além de


comunicação com alcance mundial. As mudanças estruturais potencializadas pelos suportes
tecnológicos, tais como emissão multiponto, bidirecionalidade, dimensão planetária da comunicação,
facilidade de armazenamento e divulgação de informação têm conduzido a uma reorganização dos
fluxos e dos procedimentos comunicacionais.

A rede promove a fragmentação das fronteiras geográficas, mas, também, a geração de novas
identidades, territórios e práticas sociais.

Por um lado, o sujeito está presente num lugar físico; por outro lado, no espaço virtual. Não é a
geografia que vai determinar a topologia das relações e sim os interesses comuns. Na assertiva de
Negroponte (1995), a transmissão por bits removeu as barreiras temporais e geográficas,
determinando o início da era da pós-informação.

[...] a era da pós-informação vai remover as barreiras da geografia. A vida


digital exigirá cada vez menos que você esteja num determinado lugar em
determinada hora, e a transmissão do próprio lugar vai começar a se tornar
realidade. (NEGROPONTE, 1995, p.159).

Vemos uma revolução na linguagem, visto que o ciberespaço está retirando do texto escrito os
limites da página impressa e acrescentando-lhe, por meio da virtualização da mensagem, a
possibilidade de animação gráfica no movimento das imagens. O ciberespaço, aliado à virtualidade
do sistema operacional nos computadores, possibilita estabelecer novas linguagens aos textos
inertes e modalidades inovadoras de signos. São linguagens visuais, musicais, sensoriais. Santaella
(1996) identifica o computador como uma mídia semiótica, que ultrapassa o sentido de comunicação
como um simples canal entre emissores e receptores.

O ciberespaço permitiu a fusão das diferentes mídias, bem como seus conteúdos e mensagens,
originando um novo canal universal de informação binário muito potente, com velocidade em tempo
real e recursos de interface entre homem e terminais informáticos, permitindo assim uma
comunicação digital que incorpora elementos audiovisuais, além da comunicação escrita e da leitura
textual.

Para que a interface entre computador e pessoas se tornasse a mais amigável e eficiente possível, a
Internet adotou formatos de páginas que absorvem recursos da editoração impressa, da redação e
criação jornalística e publicitária, acessíveis para a sociedade em geral. A diferença significativa entre
a Internet, antes e depois da Web, pode ser resumida no seguinte quadro:
Quadro 02: Diferenças da Internet antes e depois da Web TIRAR???
Antes da Web Depois da Web
Navegação por meio da digitação de códigos Navegação através de mouse sobre
criptografados hipertextos ou hiperlinks
Somente textos Textos, imagens, gráficos, animações e
arquivos de áudio
Acesso somente a pessoas que conheciam os Acesso de qualquer pessoa, sem necessidade
códigos de possuir conhecimentos técnicos em
programação
Não aceitava mouse Navegação com uso de mouse
Acesso apenas a redes restritas às quais o Acesso global a qualquer computador
navegador estivesse vinculado conectado à rede
Fonte: Balan (1999).

A interface gráfica da rede tem sido concebida como canal de difusão, que aglutina em suporte
digital todas as mídias de informação e comunicação existentes, além de elementos de
entretenimento. O conteúdo é elaborado, diagramado e programado com a finalidade principal de
apresentação nas telas dos computadores receptores.

A Internet antes da Web era como se tivéssemos que conhecer os sistemas tecnológicos aplicados
para poder sintonizar um programa de TV.

Depois da Web, basta eu “clicar” com o mouse no hipertexto ou hipervínculo (ou hiperlink) de meu
interesse que o navegador faz a parte de conversão tecnológica para trazer a informação que quero.
Sem duvida, a Web foi a grande responsável pela explosão da Internet junto ao grande público.
(BALAN, 1999, p.1).

Seus conteúdos incorporam múltiplas linguagens e técnicas de animação gráfica, com recursos
sofisticados disponíveis para o usuário, como a interatividade cada dia maior. Também os programas
de busca e de seleção de conteúdos dão sentido e objetividade aos dados disponíveis na memória
virtual.

É preciso destacar, ainda, a capacidade revolucionária de emitir e receber, individual e


coletivamente, mensagens simultâneas de qualquer espécie, para todo o planeta. A web permitiu ao
computador que rompesse seu vínculo remoto com a máquina física, que era mera extensão
mecânica do corpo e do trabalho orgânico do homem, para se tornar de fato uma “tecnologia
inteligente”, uma extensão da memória humana.

Dentro deste universo, a palavra máquina deixou de ser a palavra de ordem para ser substituída
pelas conexões mais fluídas das interfaces, por meio das quais os computadores vão,
crescentemente, se potencializando para novas interações com seu meio ambiente físico e humano
em sistemas inteligentes de gerenciamento de bancos de dados, módulos de compreensão da
linguagem natural, dispositivos de reconhecimento de formas ou sistemas especialistas de
autodiagnóstico e interfaces de interfaces: telas, ícones, botões, menus, dispositivos aptos a
conectarem-se cada vez melhor aos módulos cognitivos e sensoriais humanos. (LÉVY, 1993, p.107).

Toda máquina começa pela imitação de uma capacidade humana, a qual passa, então, a amplificar
(SANTAELLA, 1996). É nesse sentido que já existiam máquinas bem antes da Revolução Industrial. A
invenção milenar de ferramentas e artefatos permitiu ao homem ultrapassar os limites impostos pela
capacidade corpórea dos indivíduos e dos grupos sociais para intervir e extrair da natureza reservas e
recursos materiais necessários para a sobrevivência e perpetuação da espécie em qualquer lugar do
planeta, por mais hostil que fosse o ambiente. Assim como a aquisição e o aprimoramento da
capacidade de abstração e de criação de ferramentas de trabalho libertou o homem da dependência
direta do ambiente natural, a construção da teia informática deu origem a um sistema artificial de
inteligência e compensação da potência limitada do cérebro humano para reter e processar
informações.

Os computadores on-line tornaram-se terminais de geração, abastecimento e acesso à memória


virtual coletiva, com capacidade ilimitada de armazenar, selecionar e transmitir informações sobre
qualquer área de atividade e de interesse humano, tanto de aspecto individual quanto coletivo. O
ciberespaço torna-se mais e mais uma hiperinteligência coletiva, um imenso arquivo de memória e
de conhecimentos compartilhados fora do cérebro humano. Ele serve para ampliar de modo
inorgânico a capacidade humana de reter e de trocar informações. Simultaneamente, pode ordenar
e classificar o fluxo intenso de dados para os sistemas de processamentos e armazenamento,
evitando que os indivíduos “mortais” entrem em colapso mental pelo excesso de informações
presentes no contexto humano.

Segundo Lévy (1999), a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social que
possui segmentos líderes, programas de ação e palavras de ordem. O progresso do ciberespaço
corresponde ao desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva, porque visiona um tipo
particular de relação entre pessoas. As características da interação social via Internet, exemplificam
como as culturas que se desenvolveram no dia-a dia da vida real se transportam para as redes de
computadores.

Como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as próprias


culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos historicamente
produzidos, são transformados de maneira fundamental pelo novo sistema
tecnológico e o serão ainda mais com o passar do tempo. (LÉVY, 1999,
p.354).

O ciberespaço emergiu no início dos anos de 1970, em sintonia com os movimentos da sociedade
norte-americana contra a Guerra do Vietnã. Neste tempo, a informática era exclusividade dos
projetos militares, da indústria bélica e dos fabricantes de equipamentos de telecomunicações
encomendados pelo governo dos Estados Unidos.

Os ativistas da época engajaram-se em defender o uso civil e pacífico dos computadores, o que
adquiriu dimensão com o movimento californiano “Computers for the peoples”, uma reação
simbólica que adquiriu força graças à proliferação de protótipos experimentais de computadores e
programas desenvolvidos por técnicos e pesquisadores adeptos do movimento contra o controle da
informação e pela democratização da informática.
Como é comum à sociedade capitalista, em pouco tempo ocorreu a expansão de um mercado
promissor para os microcomputadores e ferramentas digitais. A informática foi inserida, pela pressão
comercial, aos múltiplos objetivos do cotidiano social e se popularizou, exponencialmente, a partir de
1980. A própria Internet, com todos os seus recursos, é resultado da apropriação coletiva das
tecnologias que foram produzidas para objetivos restritos e autoritários de militares e das grandes
indústrias bélicas.

Pessoas podem, mesmo a distância, informar-se sobre os acontecimentos de seu lugar de origem ou
de qualquer outra parte do mundo. Livros, antes comprados em bancas e acessíveis a poucas
pessoas, podem ser “capturados” por download em arquivos para seres lidos nos e-books,
computadores portáteis com memória capaz de armazenar várias obras por vez. O novo suporte para
o texto literário tem a vantagem de ser multimidiático. Os ciberlivros, mais recentes, podem trazer
fotografias e ilustrações animadas, hipertextos com biografia dos personagens e links, transpondo o
leitor para outros endereços virtuais com informações adicionais. Eles podem conter trechos em
vídeo e gravação em áudio, com o próprio autor narrando o texto, por meio de sintetizadores de voz
humana. Outra inovação propiciada pela cibercomunicação é a recepção, em tempo integral, de
arquivos de uma informação que o usuário deseja e não teve oportunidade de assistir em tempo
real.

Desde a invenção do telégrafo elétrico e da impressora motorizada, as mídias detêm tecnologia


aperfeiçoada continuamente para transmitir mensagens em tempo reduzido e com maior alcance.
Na contra-mão à velocidade frenética da evolução tecnológica, a educação prossegue com sua
prática de ensino presa em um sistema no qual prevalece a cultura rigorosa da linguagem escrita,
ajustada em um ritmo similar à invenção da imprensa de Gutemberg. A aplicação pedagógica de
recursos tecnológicos no ambiente educacional assume valor estratégico imediato pois, em plena era
digital, a maioria dos professores em todos os níveis educacionais tem nos livros, nas cartilhas e na
exposição oral os principais instrumentos pedagógicos e didáticos. A sala de aula persiste como
espaço secular e exclusivo de um aprendizado formal, onde permanece a reprodução mecânica de
velhas técnicas. Não que o objetivo seja reduzir o quadro negro e o giz a peças de museu. Porém,
algumas estruturas ideológicas, que já começam a demonstrar fragmentação, necessitam ser
revistas.

Se o aparecimento das tecnologias digitais provocou paixão e entusiasmo,


entusiasmo, as práticas reais estão bem longe do esperado. As tecnologias
serviram muitas vezes para tentar renovar os ‘velhos’ métodos pedagógicos...
Os novos meios oferecidos aos formadores exigem que a instituição, o
formador e o conjunto de atores sociais se apoderem dessas inovações
técnicas para evoluir em suas práticas e seus ofícios. (ALAVA, 2002, p.217).

Enquanto a instituição escolar, toda a sua hierarquia e seus quadros de base se posicionam de forma
defensiva, tentando se proteger da “avalanche” tecnológica e informacional presente no mundo
exterior, a invasão do território escolar se dá por dentro, perpetrada pelos contingentes cada vez
maiores de alunos expostos e, na grande maioria das vezes, já familiarizados ao uso das tecnologias
digitais, do computador e da Internet. Nesta perspectiva, Almeida (2000, p. 109) afirma que:

Os professores treinados apenas para o uso de certos recursos


computacionais são rapidamente ultrapassados por seus alunos que têm
condições de explorar o computador de forma mais criativa, e isso provoca
diversas indagações quanto ao papel do professor e da educação. O
educador preparado para usar o computador como uma máquina que
transmite informações ao aluno através do software pergunta qual será seu
papel e o futuro de sua profissão, em uma sociedade em que afloram
outros espaços de conhecimento e de aprendizagem, fora do locus escolar.

Muitos professores não têm preparo para lidar com a nova realidade que se impõe diante do
emprego de novas tecnologias. Por outro lado, existem iniciativas em se capacitar esses profissionais
no uso dos recursos tecnológicos. Porém, tanto nos professores como nos alunos a serem formados,
a familiarização se dá mais de forma técnica e mecânica do que crítica e social.

Mesmo o professor preparado para utilizar o computador para a


construção do conhecimento é obrigado a questionar-se constantemente,
pois com freqüência se vê diante de um equipamento cujos recursos não
consegue dominar em sua totalidade. Além disso, precisa compreender e
investigar os temas ou questões que surgem no contexto e que se
transformam em desafios para sua prática – uma vez que nem sempre são
de seu pleno domínio, tanto no que diz respeito ao conteúdo quanto à
estrutura. (ALMEIDA, 2000, p. 109).

Estas idéias já cristalizadas em torno das tecnologias impõem uma séria resistência ao seu uso e,
consequentemente, a ações pedagógicas eficientes. É interessante e necessário repensar a formação
de professores neste sentido, possibilitando o desenvolvimento de competências e habilidades,
tanto na formação inicial quanto na continuada, que desmistifiquem os tabus em torno das
tecnologias.

Nesta perspectiva, Perrenoud (1999) define competência como uma mobilização de conhecimentos
e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas
novos. Já as habilidades estão relacionadas ao saber fazer. Assim, identificar variáveis, compreender
fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e
manipular são exemplos de habilidades. Segundo este autor:

A formação de competências exige uma pequena revolução cultural para


passar de uma lógica do ensino para uma lógica do treinamento, baseada
em um postulado relativamente simples: constroem-se as competências,
exercitando-se em situações complexas. (PERRENOUD, 1999, p. 54).

Desta forma, é necessário que os professores desenvolvam uma competência que lhes permita
trabalhar com as tecnologias não apenas do ponto de vista técnico, mas com ações inovadoras que
viabilizem um trabalho amplo e reflexivo. Barros (2008), utiliza o termo competência pedagógica
virtual, e explica que:

Quando se fala de competência pedagógica virtual, está se destacando três


dimensões: a) a política, nas decisões e diretrizes governamentais e de
políticas públicas, além das diretrizes educacionais delimitadas para o país;
b) a científica, nas novas fundamentações e paradigmas acadêmicos da
ciência, com as transformações das tecnologias da informação e
comunicação; e, c) a pedagógica, na qual se destaca a gestão e as diretrizes
pedagógicas para esse processo. (BARROS, 2008, p.121).
A competência pedagógica virtual permite experienciar, no ambiente virtual, as possibilidades do
conhecimento. Isso é possível pelo ciclo contínuo de informações e suas rápidas atualizações. Porém,
isso somente pode ser viabilizado por uma alteração estrutural profunda, que permita uma visão
global dos conhecimentos, um “pensar” em rede. Isso se torna difícil quando temos por base um
currículo tradicional, dividido por disciplinas e que trata o conhecimento de forma fragmentada.  
Moran acredita que a escola deve sair de seu atual estado de inércia, ao afirmar que:

Na educação, [...] sempre colocamos dificuldades para a mudança, sempre


achamos justificativas para a inércia ou vamos mudando mais os
equipamentos do que os procedimentos. A educação de milhões de
pessoas não pode ser mantida na prisão, na asfixia e na monotonia em que
se encontra. (MORAN, 2004, p.1).

Para este autor, a inovação vai muito além da simples implantação de recursos tecnológicos nas
escolas ou da capacitação técnica. Trata-se de uma mudança cultural e social em que faz-se
necessária a conscientização das possibilidades que os meios informáticos podem trazer à educação.
Ao se utilizar os recursos tecnológicos e a Internet com finalidades pedagógicas, temos a vantagem
de ser este o único meio eficaz para integrar, em espaço real ou diferido, profissionais, estudantes,
professores e pesquisadores geograficamente distantes, bem como possibilitar a interação entre os
diferentes conhecimentos.

Além de propiciar uma rápida difusão de material didático e de informações de interesse para pais,
professores e alunos, as novas tecnologias permitem, entre outras possibilidades, a construção
interdisciplinar de informações, produzidas individualmente ou em grupo por parte dos alunos, o
desenvolvimento colaborativo de projetos por parte de alunos geograficamente dispersos, bem
como a troca de projetos didáticos entre educadores das mais diferentes regiões do País. Conforme
as velocidades de transmissão das redes vão aumentando, novas aplicações para fins educacionais
vão se tornando viáveis, tais como laboratórios virtuais. (BRASIL, 2000, p.46).

A rede possibilita, através da interatividade, a troca de informações locais e universais e a


convivência direta entre diversos povos, línguas, culturas e realidades, criando possibilidades reais de
construção de conhecimentos integrados, sem que haja mecanismos formais de seleção de
informação, de edição e mesmo de censura. Para Ferraz et al. (1999), a rede não foi, em sua origem,
projetada com recursos suficientes para atender a um público tão grande e difuso como ela possui
hoje. Por conta dessa limitação inicial de arquitetura gráfica da rede informática, ainda existe relativo
estrangulamento do fluxo interativo quando uma aplicação é distribuída entre vários usuários.

A falta de um planejamento para garantir a qualidade do serviço, associada


ao crescimento exponencial que a rede sofreu nos últimos anos gerou
problemas típicos da falta de escalabilidade, como atrasos elevados, baixa
velocidade de transmissão etc. [...] Este cenário começou a mudar com o
advento da linguagem Java [...]. Além do surgimento dessa linguagem,
inovações tecnológicas e a melhoria das comunicações [...] vêm
proporcionando aos pesquisadores a visualização de novos cenários [de]
participação mais efetiva entre os alunos e professores, no processo de
ensino-aprendizagem. [...] Na opinião de autores, os ambientes tendem a
se tornar aplicações com processamento distribuído de informações,
capazes de prover uma série de serviços que possibilitem o alcance do nível
desejado de interação entre alunos e professores [...] e a possibilidade de
cooperação entre grupos de alunos. (FERRAZ et al., 1999. p.251).
A Internet dispõe da vantagem incomparável de ser uma mídia interativa com conteúdos, mesmo os
educativos, vinculados à percepção lúdica coletiva, à cultura universal de entretenimento criada pela
indústria de consumo simbólico. E isso é um fator positivo, se bem aproveitado. No entanto, de nada
adianta falar em tecnologias informacionais tão flexíveis, dinâmicas e com tantas possibilidades do
ponto de vista pedagógico, se elas continuam distantes do sistema educacional brasileiro, por conta
de políticas reducionistas que não se comprometem com a qualidade do ensino, com a valorização
do magistério e com o destino das crianças e jovens brasileiros. Almeida (2005) analisa a visão
governamental que se tem sobre políticas públicas em inovações tecnológicas e observa que:

Às vezes, dentro de uma perspectiva política mais tradicional, chegamos a


acompanhar procedimentos que se fundam no envio de equipamentos que
aparelham escolas e outros setores no ensino público. Muitas vezes,
porém, essas políticas não consideram se as pessoas estão preparadas para,
com o uso dos equipamentos, reformularem as áreas de ação em que estão
inseridas. O resultado é, muitas vezes, que grande parte dessas medidas
apenas reforça práticas já tradicionais de trabalho que passam a usar uma
roupagem nova, mudando apenas aparentemente. (ALMEIDA, 2005, p.6).

Enquanto a educação pública brasileira perpetua suas contradições, a atualização tecnológica dos
meios informacionais prossegue acelerada, ampliando a distância entre a infra- estrutura
multimidiática existente e os parcos suportes disponíveis no espaço escolar. Podemos afirmar que o
uso das tecnologias da informação e comunicação estão para a educação contemporânea da mesma
forma que estão o giz e o quadro negro para a educação clássica. Trata-se de ferramentas
pedagógicas instituídas com vistas a viabilizar os processos de ensino e de aprendizagem. A educação
sempre utilizou tecnologias para realizar a mediação entre o sujeito que aprende e o conhecimento a
ser aprendido, e essa ação sempre trouxe em seu bojo a intenção de inovar as ações educativas.

Considerações finais

Sem sombra de dúvidas, a avaliação é a tarefa mais difícil e delicada que a escola e seus educadores
se deparam em seu processo pedagógico. O processo de ensino e aprendizagem deve visar a
aquisição de consideráveis graus de conhecimento e de habilidades que demandam mudanças de
comportamento de todos os envolvidos neste processo, sendo que a avaliação é tida como o
principal elemento para a averiguação dos resultados, tanto almejados como aqueles já alcançados.

A avaliação oferece-nos ainda, ajuda pecuniária para que se possa alterar este processo caso os
objetivos previstos não tenham sido alcançados com sucesso. Assim, cabe ao professor a tomada de
inúmeras decisões no que diz aos objetivos, conteúdos e procedimentos, porém a decisão sobre ‘o
que’ e ‘como’ avaliar é tarefa que exige altíssimo desenvolvimento de conhecimentos e habilidades.

Referências

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Sobre o autor

Wagner Antonio Junior é bauruense, graduado em Pedagogia pela Faculdade de Ciências da UNESP e
mestre em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É professor efetivo do ensino público
municipal e, atualmente, ocupa o cargo de diretor da Divisão de Formação Continuada da Secretaria
Municipal da Educação de Bauru. Leciona no ensino superior em instituição privada, para o curso de
Pedagogia. É membro do Grupo de Pesquisa Contextos Integrados de Educação Infantil - FEUSP.

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