Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TECNOLOGIAS ASSISTIVAS
2
desenvolvidas com apoio das tecnologias. Acreditamos que a substituição de uma
tecnologiapor outra não garante a qualidade da aprendizagem.
Arroio e Giordan (2006) destacam que o professor pode inserir os recursos
audiovisuais, dentre eles o vídeo, em diferentes situações de aula. Para eles, um
dos desafios no uso dos recursos audiovisuais é “integrar consciente e
criticamente a escola, seus alunos e professores, no universo do audiovisual”,
visto que esses meios se revelam “eficazes para desenhar e tecer o imaginário de
todo o mundo” (p. 7).
Assim, a integração dos recursos audiovisuais no contexto escolar, além
de ajudar na organização das atividades de ensino, contribui no desenvolvimento
de propostas educativas criativas e leitura crítica do mundo (Arroio; Giordan,
2006).
Vale lembrar que, embora o uso de uma tecnologia seja importante, “de
nada adianta apresentar textos, imagens, sons e vídeos, ou utilizar softwares
educativos se a proposta continua a ser a de construir um aluno que seja um mero
banco de informações, e não um construtor do conhecimento” (Contin, 2016, p.
38-39). Em outras palavras, a tecnologia se torna desprovida de sentido se não
estiver comprometida com o conhecimento e o desenvolvimento humano.
Concordamos com Brito, Leite e Martins (2014, p. 44) quando estes se
referem às tecnologias como “[...] instrumentos criados e elaborados a favor do
desenvolvimento, e, portanto, não existem de modo independente e não
substituem o valor da ação humana”. Por isso, enfatizamos o papel do professor
no uso de tecnologias e, em específico, da tecnologia assistiva no planejamento
das atividades, prevendo os recursos, as metodologias e as ferramentas de
ensino para a efetiva participação dos alunos na aprendizagem acadêmica e nas
atividades de vida diária.
As tecnologias estão presentes na realização de diversas atividades
humanas e as inovações tecnológicas acontecem de uma forma muito rápida. No
entanto, muitas vezes elas não chegam a todas as escolas públicas e nem à
classe trabalhadora.
3
informações, distingue os seres humanos. Tecnologia é poder. (Kenski,
2012, p. 15)
4
Outra definição importante é a de tecnologia educacional, que se refere ao
uso das diferentes tecnologias na educação, cujas discussões iniciaram na
década de 1960, fundamentadas na ideia de tecnicismo (Leite; Sampaio, 1999).
Portanto, em um cenário permeado pelas diversas tecnologias e educação
inclusiva, os professores precisam estar incluídos digitalmente na cibercultura,
tornando o conhecimento acessível a todos os estudantes.
De acordo com Lemos (2003), o conceito de cibercultura é marcado pelas
tecnologias digitais. Para ele, já vivemos a cibercultura, pois não é algo que
chegará no futuro, faz parte do presente. Dentre os exemplos, temos o home
banking, smartphones, voto eletrônico e imposto de renda via rede. Por isso, a
cibercultura representa a cultura contemporânea, sendo consequência dos
avanços da cultura técnica moderna.
5
2.2 Conceituando tecnologia assistiva
6
Quadro 1 – Conceitos de tecnologia assistiva
TONOLLI, J.; BERCH, R. Tecnologia “[...] em primeiro lugar, o termo tecnologia não
(1998), citados por BERSCH, Assistiva indica apenas objetos físicos, como
R. (2013, p. 4). dispositivos ou equipamento, mas antes se
refere mais genericamente a produtos,
contextos organizacionais ou modos de agir,
que encerram uma série de princípios e
componentes técnicos”.
KULPA, C. C. (2017, p. 79), Tecnologias “As Tecnologias Assistivas (TA) se referem aos
citados por MELO; Digitais recursos e serviços que buscam facilitar as
BARANAUSKAS (2006). Assistivas ações da pessoa com deficiência nas
atividades da vida diária, procurando assim
ampliar as capacidades funcionais e promover
a autonomia e a independência de quem as
utiliza”.
Fonte: Elaborado por Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti com base em Novôa, 2018, p. 119-120.
7
c) Recursos de acessibilidade ao computador (correspondem aos hardwares
e softwares criados para tornar o computador acessível);
d) Projetos arquitetônicos para acessibilidade (projetos de edificação e
urbanismo que visam acessibilidade, funcionalidade e mobilidade);
e) Sistemas de controle de ambiente (controle remoto para auxiliar as
pessoas com limitações motoras);
f) Órteses e próteses (órteses são colocadas junto a um segmento do corpo,
e próteses são peças artificiais substitutivas às partes do corpo);
g) Adequação postural (recursos usados para garantir a postura);
h) Auxílios de mobilidade (equipamentos e estratégias que auxiliam a
mobilidade pessoal);
i) Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal (equipamentos
que visam permitir independência às pessoas com deficiência visual em
algumas atividades);
j) Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo (equipamentos
para auxílio);
k) Adaptações em veículos (permitem à pessoa com deficiência física dirigir
por meio de acessórios e adaptações feitas no carro).
8
(1993). [...] Com estas três grandes concepções – a pedra lascada, o
fogo e a linguagem – a espécie humana dava um salto muito grande
rumo às grandes invenções e às colossais descobertas que acabariam
fazendo parte da história. (Veraszto et al., 2008, p. 65)
9
conhecidas como tecnologias assistivas, “[...] tendo seus utensílios e ferramentas
aperfeiçoados, inclusive criando tecnologias específicas para sua sobrevivência,
como por exemplo, um apoio feito com um pedaço de pau usado à guisa de
bengala” (Pinheiro, 2021, p. 62).
Silva (1987) destaca que estudos em sítios arqueológicos indicam que o
homem neolítico fazia uso de instrumentos pontiagudos, como facas, para
atividades relacionadas à alimentação e vestuário de todo o grupo. Com sua
contínua utilização para esquartejamento de caça, retirada de peles e divisão das
carnes em frações menores, o homem neolítico provavelmente tenha usado esses
instrumentos cortantes juntamente com o conhecimento da natureza para
intervenções cirúrgicas no cuidado com os doentes, com ferimentos da caça e
talvez uma incipiente medicina. Silva (1987) descreve que há cerca de 10 mil
anos, na época neolítica, foram inventadas armas de longo alcance, represamento
de rios e outros conhecimentos que foram aprimorados neste período.
Caracterizamos esses avanços significativos na cultura dessas unidades
sociais básicas como o uso de tecnologias como ferramentas de sobrevivência.
Silva (1987) descreve que, no século IV, foram encontrados na capital do Império
Bizantino registros de uso de próteses em documentos, fazendo referência a
braços de metal e pernas de madeira. Já no século XVI, há registros da fabricação
de mãos de metal devido a uma necessidade de amputação para que as pessoas
pudessem, logo após sua recuperação, voltar às campanhas militares ou exercício
de atividades anteriores
Atualmente, esses recursos e objetos constituem o que denominamos
tecnologia assistiva, mais especificamente o uso de próteses, que foram e são
usadas para manter as capacidades funcionais da pessoa e servem para dar
autonomia e romper com as barreiras que obstruem a sua participação na vida
em sociedade.
10
Os recursos das TIC englobam diversas ferramentas, dentre elas:
internet, computadores, rádio e televisão. Porém, nota-se a
popularização do uso de dispositivos móveis, como uma tendência para
o ensino. De acordo com os dados do Centro Regional de Estudos para
o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) para a
pesquisa TIC Educação do ano de 2016, 68% dos alunos entrevistados
utilizam a internet mais de uma vez por dia e 93% alegam fazer uso de
smartphones para tal ação. (Canto et al., 2019, p. 265)
11
meios para entrega dos conteúdos aos alunos, como por exemplo, WhatsApp, e-
mail e Google drive” (Scalzer; Oliveira, 2019, p. 43).
Santos et al. (2018), fazendo referência ao que chamam de Era do
Conhecimento, destacam que os processos de ensino e aprendizagem estão
sendo progressivamente mediados pelas TICs.
Certamente, a adoção do computador e o acesso à internet oferecem um
suporte inovador, estimulador e enriquecedor às práticas educacionais. A escola
tem o papel de auxiliar no desenvolvimento intelectual e socioemocional,
oferecendo aos seus estudantes oportunidades para a sua formação, abrangendo
também a inclusão digital (Silva et al., 2012). No entanto, sabemos que o acesso
à rede de internet não é democrático, muitas famílias de estudantes de escolas
públicas estão excluídas desse arsenal de recursos digitais.
Dentre as barreiras para a efetiva inclusão sociodigital, temos a falta de
investimento na infraestrutura das escolas e a carência de formação continuada
aos professores para o efetivo uso das TICs no processo de ensino e
aprendizagem.
No caso de TICs aplicadas como tecnologias assistivas, a pesquisa de
Emer (2011) sinalizou que equipamentos enviados pelo MEC para as salas de
recursos permaneciam lacrados e guardados por não haver na escola um
professor que conhecesse o funcionamento, instalação e uso. Como exemplo, é
trazido o caso do Programa Boardmaker (pranchas de comunicação aumentativa),
que estava “em desuso, porque algumas escolas não tinham autorização para a
sua instalação nos computadores das escolas ou por falta de compatibilidade em
sistemas operacionais” (Emer, 2011, p. 122).
12
A projeção de espaços públicos pela arquitetura, com foco em atender a
necessidade de todos, para que todas as pessoas tenham acesso foi a inspiração
para o desenho universal. Um exemplo que deixa clara a compreensão desse
conceito é a concepção de rampa, que pode ser utilizada por pessoas com alguma
deficiência física e dificuldade de locomoção, mas também por aquelas que não
apresentam deficiência física alguma, como um idoso, uma gestante, uma mãe
empurrando o carrinho de bebê ou uma pessoa obesa (Zerbato; Mendes, 2018).
Com base nos conceitos de tecnologia assistiva e desenho universal,
Pletsch e Souza (2021) apresentam o desenho universal na aprendizagem, que
consiste em possibilitar o acesso ao currículo a todos, independentemente de
suas condições, respeitando as peculiaridades e os talentos dos estudantes por
meio do uso de estratégias pedagógicas e/ou tecnológicas diferenciadas,
incluindo a tecnologia assistiva.
De igual modo, temos o desenho universal aplicado à web, tendo como
foco a acessibilidade para maior número de usuários, ou seja, permitir que
qualquer pessoa usando qualquer tecnologia de navegação possa acessar um
ambiente na web e ter entendimento de seu conteúdo, com total interação. É
importante salientar que o ambiente também deve ter tecnologias assistivas como
leitores de tela, mouse e teclado adaptados, acionador de voz, dentre outros
(IFRS, 2019). Para tanto, é necessário garantir os sete princípios do desenho
universal, propostos pelo Centro para Desenho Universal da Universidade do
Estado de Carolina do Norte para que o conteúdo em meios digitais seja para
todos. No Quadro 2, apresentamos esses princípios.
PRINCÍPIO CARACTERÍSTICA
13
4. Informação de Na web, abrange pensar em diferentes formas de apresentar o conteúdo
fácil percepção de maneira a atender as necessidades de quem as recebe, por exemplo,
fornecer opção para conteúdo em vídeo, como transcrição textual, legenda,
audiodescrição e alternativa em libras, dividir blocos de informação de
maneira lógica e organizada com topo, conteúdo, menu e rodapé, dentre
outros.
Fonte: Elaborado por Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti com base em IFRS, Centro Tecnológico
de Acessibilidade, 2019.
14
REFERÊNCIAS
CANTO, Z.; LOTTHAMMER, S.; SILVA, B. O uso das TIC no ensino de Geografia
para a educação básica. In: SILVA, B.; BILESSIMO, S.; ALVES, M. (Orgs.).
Integração de Tecnologias na Educação: práticas inovadoras na Educação
Básica, v.3, Araranguá/SC: Editora Hard Tech Informática Ltda, 2019, p.263-280.
EMER, O. Inclusão Escolar: formação docente para o uso das TICs aplicada
como Tecnologia Assistiva na sala de recurso multifuncional. 163f. Dissertação
(Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 2011.
IFRS, Instituto Federal Rio Grande do Sul. Desenho Universal aplicado à web
com foco na acessibilidade. Centro Tecnológico de Acessibilidade, 2019.
Disponível em: <https://cta.ifrs.edu.br/desenho-universal-aplicado-a-web-com-
foco-na-acessibilidade/>. Acesso em: 7 dez. 2022.
15
LEITE, S. (coord.). Tecnologia Educacional: descubra suas possibilidades na
sala de aula. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
SILVA, O.; FARIAS, S.; MELO, M.; MELO, R. A utilização das Tecnologias da
Informação e Comunicação nas escolas públicas estaduais e municipais de
Maceió. IX Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Anais...2012, p. 1-
12. Disponível em:
<https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos12/39016372.pdf>. Acesso em: 7
dez. 2022.
17