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Motrivivência Ano XXII, Nº 34, P. 87-105 Jun.

/2010
DOI:10.5007/2175-8042.2010n34p87

AS TECNOLOGIAS: do software
livre às experiências com a
Educação Física e Mídia

Sérgio Dorenski Ribeiro1

Resumo Abstract
Este estudo analisou as dimensões This study examined the education
educacionais das tecnologias sem dimensions of technology, without
abrir mão dos aspectos políticos, disregarding the political, econo-
econômicos, sociais e culturais. mic, social and cultural aspects. We
Atribuiu o sentido do Software Livre attribute the meaning of free software
a uma perspectiva de mudança no to the prospect of a change in the
ato de ensinar-aprender a lidar com acting of teaching-learning to deal
as tecnologias e mídia. Correlacionou with the technologies and media.
vários campos do conhecimento, da We correlate several fields of know-
comunicação e mídia, especificamente ledge, of communication and media,
a partir de experiências/pesquisas na specifically from experience/research
educação física. Aponta para dimensão in Physical Education. We point to a
crítica-reflexiva do uso das tecnologias critical-reflexive dimension of the use
na educação no sentido de socializar of technology in education, in a effort
este bem que é fruto da construção to socialize this, that is the result of
humana. human construction.
Palavras-Chave: Tecnologia; Mídia; Key-words: technology, media, Physi-
Educação Física. cal Education.

1 Professor Assistente do DEF/UFS. Mestre em Educação Física/UFSC. Doutorando do Programa de


Pós-graduação em Educação da UFBA. Pesquisador FAPESB. Membro do Observatório da Mídia
Esportiva (UFSC/UFS) e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Mídia/Memória, Educação e Lazer
(MEL/UFBA). Contato: dorenski@gmail.com.
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Introdução não é neutra e é fruto da interação


das forças sociais, econômicas, po-
Não muito tempo, mas a líticas e culturais (BRANT, 2008).
configurar-se enquanto uma pos- No entanto, numa economia sob a
sibilidade contra-hegemônica aos dominação do dinheiro percebe-se
ditames da indústria midiática, bem quanto este poder impede a eman-
como aos exageros do controle do cipação dos sujeitos. A confronta-
conhecimento e da informática - no ção, a partir de uma economia da
tocante a produção imaterial de pro- dádiva, com práticas sóciotécnicas
dutos e bens - surge uma “corrente” para enfrentar e desmanchar a con-
em que, o mais importante na cul- centração de riqueza e poder tem
sido a luta de vários “guerreiros” –
tura das redes informacionais e na
Hackers4 – no intuito de publicizar
utilização dos bens imateriais, é a
os bens produzidos culturalmente
socialização, o compartilhamento e
pela humanidade.
sua disseminação do conhecimento
A criação do software livre
através das redes. Esta corrente é o provoca uma mudança significativa
software livre (SL). na relação com a disseminação
Numa época em que se do conhecimento, pois qualquer
torna quase impossível estar sem pessoa pode adquirir sem nenhum
as Tecnologias2 de Informação e custo, ou seja, constitui-se em um
Comunicação (Tic´s)3 seja na vida uso comum. Como expõem Simon
cotidiana, seja no campo profissio- e Vieira (2008, p. 22),
nal e em especial na educação, as
políticas (públicas) de acesso a elas a idéia de ‘uso comum’, no caso
são poucas. Até por que a tecnologia do software livre, foi elevada a

2 Incluem-se também as digitais e sua relação com a mídia. Entendo que há distinção entre a Mídia
e Tecnologias, no entanto, aqui a sua dimensão política e educacional é o ponto principal para
reflexões e neste sentido, aparecem, neste artigo, de forma semelhante pelo potencial criativo
que provocam.
3 Usarei abreviadamente desta forma, pois sei que há aqueles mais tradicionais, para não dizer
positivistas, que dizem em sigla não se usa o plural. No entanto, foi assim que aprendi, ca-
rinhosamente, a lidar com a mídia e as tecnologias. Recordo das boas aulas dos professores
Lucídio Bianchetti e Giovani Pires nas disciplinas, respectivamente, Educação, Trabalho, No-
vas Tecnologias de Informação e Comunicação (CED/PPGE/UFSC) e Educação Física, Esporte
e Mídia (CDS/PPGEF/UFSC) no ano de 2003; bem como, a mensagem da professora Mary
Arapiraca PPGE/UFBA – Disciplina Projeto de Tese II (2010) - em que “as palavras vão criando
vida e autonomia”.
4 Para Himanen (2001), Hackers são indivíduos que se dedicam com entusiasmo à programação.
Acreditam no compartilhamento de informações, bem como facilitar o acesso a elas, por isso,
elaboram softwares livres.
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um patamar superior; não só o que configura o mercado da infor-


uso propriamente dito dos pro- mação e comunicação em rede.
gramas é livre e comum, mas No entanto, esta ação precisa ser
também o seu desenvolvimen- estimulada e criada a “cultura” do
to: todos podem ter acesso à es- compartilhamento, pois, considero
trutura interna dos programas e importante o alerta de Brant (2008,
modificá-los como bem enten- p. 70), no que se refere a batalha
derem [...]. da competição e da colaboração na
área educacional:
Esta característica é a ma-
triz geradora do processo de socia- [...] pode ser instrumento que
bilização em rede, ao mesmo tempo propicia condições para a con-
em que várias pessoas constroem quista da autonomia política ou
os programas, possibilitam que o pode, na segunda face da mes-
custo final seja zero. Isto é o que ma moeda, ser simplesmente o
diferencia da lógica capitalista das aparelho ideológico do Estado
instituições fechadas na qual o custo em que se reproduz a ideologia
é repassado aos consumidores. Por- dominante.
tanto, o debate e ação política sobre
este campo não podem ser mais em As Tic´s têm um papel
um plano individual, pois afeta um significativo no atual contexto da
interesse que é coletivo. sociedade contemporânea. Ao
Na educação, percebe-se mesmo tempo em que elas nos apri-
o quanto este campo é marcado sionam – pois é quase impossível
pela lógica competitiva e isto ocorre viver sem – elas nos possibilitam
há décadas. Talvez, a experiência a liberdade, a ousadia de fugir às
explicitada por Benkler (2010) na regras e principalmente, a autono-
construção de material didático (li- mia do sujeito. Trata-se então, da
vro didático) em pares (professores necessidade de criar possibilidades
e demais membros da sociedade), de sair da aporia que nos é colocado
na idéia da produção social em na sociedade.
commons5, na perspectiva colabo- Assim, pretende-se aqui
rativa do SL seja uma boa subversão estabelecer uma relação entre o
para quebrar a esfera comercial “sentido” dos softwares livres na

5 Esta ação é baseada numa ação fora do mercado, no uso da informação disponível em domínio
público. Ninguém tem direito exclusivo e libera seus produtos de volta para o mesmo commons.
(BENKLER, 2010).
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conjuntura político-social-econô- permanentes no âmbito escolar.


mica contemporânea e sua inserção Com isto, abrir e publicizar o debate
às tecnologias móveis e como este para sociedade.
“sentido” pode estabelecer nexos Portanto, iniciarei uma dis-
com outras práticas, outras áreas cussão sobre as Tic´s e sua dimensão
e em especial a Educação Física. política, econômica, cultural, social
Para isto, buscou-se estabelecer e principalmente, colaborativa. Bem
um diálogo entre diversos autores como, a perspectiva de síntese entre
que tem como objeto de estudo as as tecnologias de comunicação (con-
tecnologias e a mídia na contem- vergência) a partir do celular. Por
poraneidade, bem como, trazer ex- último, uma reflexão de experiências
periências no âmbito da Educação da Educação Física neste campo.
Física neste campo.
Entende-se que a presença As Tecnologias e sua Dimen-
das tecnologias – digitais - de infor-
são Político-Cultural
mação e comunicação constitui-se
uma realidade indiscutível na cultura
As tecnologias – Tic´s –
contemporânea. Querendo ou não,
constituem-se parte significativa na
nos relacionamos - com elas - em
atual conjuntura social contemporâ-
diversos campos da vida, seja em
nea6, seja no mundo do trabalho, do
casa, no trabalho, na comunicação
entre as pessoas, no campo acadê- conhecimento, do entretenimento,
mico/científico, enfim, o cotidiano ou simplesmente nas redes de relacio-
já esboça a sua presença o que, namentos. Fica evidente que as Tic´s
aparentemente, provoca uma natura- reinauguram uma nova linguagem na
lização delas. Os estudos no campo contemporaneidade e, com isto, traz
da Educação Física e do Esporte que novas narrativas na sua gênese bem
se entrelaçam com as tecnologias como, esboça relações de poder que
ainda aparecem de maneira tímida. caracterizam as ideologias presentes,
Neste estudo, a contribuição é no portanto, elas têm um valor significa-
sentido de ratificar as ações de pes- tivo, resultante das forças sociais, eco-
quisadores neste campo e estender o nômicas e políticas, que caracteriza
convite para que se pense em ações sua não-neutralidade.

6 No programa “Canal Livre” – da TV Bandeirantes - exibido em 21/03/2010, cuja temática central


de discussão era as tecnologias (digitais, informação e comunicação), o apresentador Joelmir
Betting, ratifica ao dizer que elas estão presentes em todos os ramos da sociedade. Obviamente
que temos clareza de seu valor, mas quando uma emissora aberta e comercial provoca a discussão,
precisamos – educadores – estarmos atentos.
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Para Kenski (2007), tecnolo- ou melhor, uma sociedade em rede.


gia é poder. Talvez, este tenha sido A máxima de Francis Bacon9 (2000)
o grande motivo da luta pelo seu em que “saber é poder” nunca ficou
domínio, ou seja, dominar a tecno- tão evidente. Para este filósofo o
logia significa dizer estar à frente dos conhecimento científico e experi-
outros. Foi assim desde os tempos mental serviria para um bem-estar
mais remotos – na guerra do fogo, e harmonia dos homens. Então,
na construção dos artefatos de pau e apesar das tecnologias, como expõe
pedra, da guerra espacial, até o domí- Kenski (2007), invadirem nossas vi-
nio das mais sofisticadas tecnologias das, ampliarem nossa memória, ga-
na atual sociedade – e continuará rantir o nosso bem-estar, elas ainda
por muitas décadas até que se mude estão longe de serem socialmente
a concepção de sua “posse”. distribuídas, devido ao poder, seja
Não resta dúvida que a rela- ele, econômico, político ou simbó-
ção entre conhecimento, poder e tec- lico10 (THOMPSON, 1998).
nologias marcaram tempos passados O poder, aqui simbolizado
e presente. É notório o quanto relacio- pelas tecnologias, é fruto da capaci-
namos as sociedades, sejam elas mais dade – intelectual – humana e que,
primitivas ou modernas, a um tipo de portanto, como alerta Kenski (2007)
tecnologia e conhecimento. Foi assim não são apenas máquinas, a exemplo
com a idade da pedra, a fase dos da linguagem. A Tecnologia perpassa
metais – ouro, prata e bronze – do esta dimensão, pois ela está em todas
próprio período industrial, marcado as partes das nossas vidas. Ou seja,
pela invenção da máquina (vapor e ela é o “conjunto de conhecimentos
ferramenta)7 e hoje caminha-se para e princípios científicos que se apli-
uma sociedade da informacional8, cam ao planejamento, à construção e

7 O motor a vapor, que é chamado de máquina a vapor costumeiramente refere-se também a turbina
a vapor outro tipo de máquina térmica que exploram a pressão do vapor. Todas as máquinas
térmicas funcionam baseadas no princípio de que o calor é uma forma de energia, ou seja, pode
ser utilizado para produzir trabalho, e seu funcionamento obedece às leis da termodinâmica.
A máquina ferramenta, também chamada de máquina operatriz, é uma máquina utilizada na
fabricação de peças de diversos materiais (metálicas, plásticas, de madeira etc.), por meio da
movimentação mecânica de um conjunto de ferramentas. (www.wikipedia.org). Acesso em:
04/10/2010.
8 Ver Castells (1999).
9 (1561 a 1626, nascimento e morte, respectivamente).
10 Thompson (1998), a partir do pensamento de Pierre Bourdieu, explica há quatro dimensões do po-
der: Político – representado pelas instituições públicas; Coercitivo, as instituições militares e a força
bélica; Econômico, instituições econômicas (empresas) marcado pelos oligopólios dos conglome-
rados econômicos e o Simbólico – Instituições culturais, igreja, indústria da mídia entre outros.
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à utilização de um equipamento em a apreensão do conhecimento –


um determinado tipo de atividade” alunos e professores – sem a devida
(Op.cit., p.24). apropriação das tecnologias, até
O homem passa a (re) por que elas já estão presentes em
projetar sua relação com a tecnolo- suas vidas. No entanto, as políticas
gia, pois nunca na história humana públicas de acesso às tecnologias, no
esta relação foi tão determinante. campo educacional, ainda carecem
São chips implantados no cérebro de ações mais corajosas. Aqui cabe
recuperando movimentos perdidos, o alerta de Pretto e Assis (2008) em
são próteses dos mais variados ti- que o computador, o rádio a tv, a
pos, são invenções tecnológicas de internet e as mídias digitais, devam
forma mais determinante que deixa- estar inseridas no ambiente escolar e
ria Aldous Huxley11 “admirado”, a com isso, a escola (professor, aluno,
exemplo das pílulas da juventude12 entre outros) passe a constituírem-se
o que provoca um “deslumbramen- em produtores de cultura e conhe-
to” nas pessoas. cimento. Esta perspectiva possibilita
Por outro lado, tenho cla- caminhar para outro lado e com isso,
reza que isto não representa uma ao invés de estarmos preparando
homogeneidade dos acessos aos a sociedade/escola para um mero
bens, mas configura-se como um consumo (até que possa existir), mas,
indicativo e acredito de forma principalmente na perspectiva de
inevitável e não freada. Não se formar cidadãos, produtores de sua
pode parar o avanço tecnológico, própria cultura e que esta seja com-
no entanto, é preciso sociabilizar partilhada com os demais sujeitos
mais as invenções, pois, parece-nos em redes de colaboração, ou seja,
que elas ainda estão no plano tão se institui um pensar coletivo, uma
somente do espetáculo/mercadoria inteligência coletiva.
e da comercialização. A idéia baseia-se nas re-
No campo educacional, des de colaboração e no uso de
sua inserção é uma “viagem sem Software Livre (SL), mas afinal o
volta”. Não se pode mais conceber que é SL? Constitui-se em software

11 Aldous Huxley, autor do clássico “Admirável Mundo Novo” - publicado em 1932 - que simboliza
uma sociedade futurista e dominado pela técnica em que até as sensações são estimuladas
artificialmente, ou seja, as pessoas são condicionadas biologicamente e psicologicamente a
viverem em harmonia segunda as regras sociais vigentes.
12 Constitui-se numa promessa para retardar a velhice. É um comprimido de silício orgânico e traz
vitalidade aos tecidos da pele, das unhas e aos cabelos. O silício orgânico tem a função de rege-
nerar as células da pele. Disponível em: www.colmeia.blog.br. Acesso em: 22/04/2010.
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aberto – código aberto – significa se houver interesse, no entanto, ele


dizer que há um “uso comum”, não é propriedade de alguém, a
ou seja, “não só o uso [...] é livre e exemplo do software proprietário
comum, mas também o seu desen- (baseado em licenças restritivas de
volvimento: todos podem ter acesso uso). O SL caminha no sentido con-
à estrutura interna dos programas e trário, ou seja, a única restrição é a
modificá-los [...]” (SIMON E VIEIRA, não restrição, com isso, a liberdade
2008 p.22). Esta idéia constitui-se de usá-lo é sua essência e, portanto,
em práticas colaborativas, que gera não se configura numa relação de
novas possibilidades de comunicação preço (Op.cit.,).
e mais que isto, descentraliza o poder Ao fugir da esfera eminen-
vertical (de cima para baixo) gerando temente consumista e da lógica do
a horizontalização das ações é como dinheiro, encontra-se uma possibi-
se víssemos a “massa” no processo lidade que, se estimulada e apoiada
criativo do conhecimento de forma pelas instâncias públicas, pode
democrática. Além disso, uma das ca- provocar um novo modo de ver o
racterísticas mais importante do SL é mundo e suas relações.
quebrar a lógica da informação como
mercadoria, bem como desfazer a Do celular às convergências:
lógica comercial (BRANT, 2008). Possibilidades narrativas!
Para Tas (2008, p. 206)
o SL tem como beleza “estimular
a colaboração entre os seres hu- “A convergência representa
manos [...]. Cada uma das pessoas uma mudança no modo como
envolvidas está com o foco no aper- encaramos nossas relações com
feiçoamento de uma idéia”. Neste as mídias” (JENKINS).
sentido, vejo no SL a possibilidade
revolucionária de sociabilização das Cada vez mais vamos
produções humanas no campo das perdendo ou substituindo os pro-
tecnologias. Quanto mais se com- cessos de interação face à face
partilha o conhecimento, mas ele (THOMPSON, 1998) por processos
cresce. Assim, garantir o comparti- tecnológicos de interação media-
lhamento ao software, “é essencial da, pois esta cria novas formas
para construção de uma sociedade de relacionamentos sociais bem
livre, democrática e socialmente diferentes do passado da história
justa” (SILVEIRA, 2004, p. 7). humana. De uma simples carta es-
Evidentemente, que o Sof- crita à mão, passamos para correio
tware Livre pode ser comercializado eletrônico, mensagens via celular,
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relacionamentos que representam função de comunicar-se fora de casa


o “imediatamente agora”. Isto, aju- ou do trabalho, algo bem modesto.
dado pelas redes de comunicação Em pouco tempo tornou-se uma das
via satélite, que (re) configuram a mídias mais usadas no planeta. Para
relação espaço-tempo. Tas (2008, p. 203) “a telefonia fixa
Além disso, o impacto ficou para trás [...]. A tendência para
dessas mudanças gera outras neces- o futuro aponta a telefonia móvel
sidades. Assim, os equipamentos tec- crescendo mais que a internet”.
nológicos de comunicação são cada Entendo que esta tendência é uma
vez menores e mais potentes e ainda resistência ao modelo ainda vigente
converge para si, uma diversidade de da internet, pois a partir do instante
mídias. Por isso, encontramos hoje que o celular estiver ao alcance de
em um só aparelho celular, as fun- todos e ao mesmo tempo convergir
ções de correio eletrônico, televisão, a maioria as mídias, ele sobressai-
internet, videogame, rádio, câmara rá sobre as demais, o que já estar
fotográfica e de filmar e uma série acontecendo em pequena escala
de outras funções. mas, já coloca o note book como
O termo convergência refe- uma tecnologia muito grande e às
re-se ao fluxo de conteúdos através vezes, de difícil locomoção.
de múltiplas plataformas de mídia, à Nesta perspectiva é que se
cooperação entre múltiplos merca- observa o celular também em rede
dos midiáticos e ao comportamento de colaboração – já há invenções
migratório dos públicos meios de com Software livre14 - e isto pode
comunicação (JENKINS, 2009), ou significar uma maior amplitude de
seja, não é só uma mudança signifi- acesso pela diminuição de preço ao
cativa do uso das tecnologias a partir produto final, ou melhor, mais pes-
de um só aparelho, mas, sobretudo, soas utilizarão esta mídia, que a meu
uma mudança de comportamento, ver, é a que mais simboliza a função
de estar no mundo. A interação cada da convergência tecnológica. Como
vez mais flui por diversos canais expõe Jenkins (2009, p. 42),
imprevisíveis.
Quando surgiu, o celular13 Boa parte do discurso contem-
parecia um simples aparelho com a porâneo sobre convergência

13 Martin Cooper (Norte Americano, nascido em Chicago) inventou o celular nos anos 1970. www.
softwarelivre.org. Acesso em: 22/04/2010.
14 Durante o Fórum Internacional Software Livre em Porto Alegre/RS (2008), já foram apresentados
softwares para uso em celular. Folha Online. www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 22/04/2010.
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começa e termina com o que


chamo de Falácia da Caixa Preta. Neste contexto, signifi-
Mais cedo ou mais tarde, diz a fa- ca uma mudança na lógica de
lácia, todos os conteúdos de mí- como opera também os meios de
dia irão fluir por uma única caixa comunicação, pois o “potencial
preta em nossa sala de estar (ou, consumidor” dispõe de um poder
no cenário dos celulares, através e ganha um espaço em participar
de caixas pretas que carregamos intimamente da cultura. É possível
conosco para todo lugar). então que as novas narrativas pos-
sibilitem um futuro mais livre em
O que se presencia, por- que os sujeitos - aqueles que sempre
tanto, é o surgimento de uma nova foram considerados meros consumi-
narrativa uma vez que passamos a dores – possam produzir cultura. “O
relacionar - de modo nunca antes público, que ganhou poder com as
visto a partir das convergências de novas tecnologias e vem ocupando
tecnologias e mídias - nossas vidas, um espaço na intersecção entre os
numa dimensão de velocidade, velhos e os novos meios de comu-
espaço e tempo do “aqui e agora”. nicação, está exigindo o direito de
O que para Lemos (2010) estaria participar intimamente da cultura”
no plano da desterritorialização, ou (Op.cit., p. 53).
seja, compreender a cibercultura a
partir de um pensamento móvel. Sobre a Educação Física [...]
ou outras experiências!
A convergência das mídias é
mais do que apenas uma mu- As Experiências que envol-
dança tecnológica. [...] altera a vem as Tic`s e a Educação Física
relação entre tecnologias exis- ainda estão em um plano recente,
tentes, indústrias, mercados, mas que ao mesmo tempo, apontam
gêneros e públicos. A conver- para um campo vasto de inúmeras
gência altera a lógica pela qual possibilidades. Explicitarei sobre
a indústria midiática opera e alguns trabalhos15 - sem desmerecer
pela qual os consumidores pro- nenhum outro e nem tampouco,
cessam a noticia e o entreteni- nenhum outro grupo de pesquisa –
mento (JENKINS, 2009 p.43). que me inspirou para reflexões:

15 Especificamente, referem-se aos produzidos pelo Labomídia – Laboratório e Grupo de Estudos


Observatório da Mídia Esportiva/UFSC/UFS – Disponível em: www.labomidia.ufsc.br; acesso em:
06/09/2010.
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• Neste aspecto, a Dissertação Pesquisa com Observação Par-


de Mestrado de Marcio Romeu ticipante, resultou na criação e
Ribas de Oliveira – “O Primei- recriação da mídia na qual, em
ro Olhar: Experiência com Ima- conjunto com os alunos, foram
gens na Educação Física Esco- elaborados roteiros, jornal, fil-
lar” – impressiona por “ousar e me, numa perspectiva autôno-
permitir”, significa dizer que os ma e emancipatória dos envol-
atores sociais do campo de pes- vidos. É importante ressaltar a
quisa, foram fundamentais para mudança de olhar dos sujeitos
da pesquisa (alunos da escola)
apropriação com reflexão acerca
em relação à mídia. Como ela
do uso das tecnologias no meio
é elaborada, pensada e repensa-
escolar, pois a pesquisa tratou
da na sua construção, ou seja,
da inserção de meios técnicos
desvelando os segredos que o
na produção de imagens no âm- fetiche da mídia provoca em
bito da Educação Física Escolar todos nós a exemplo da fala de
a partir da “cultura midiática”16 um dos sujeitos da pesquisa:
na qual os alunos da escola esta-
vam envolvidos. O que resultou Agora entendo como é feito a
numa significativa mudança de mídia, como a imagem chega à
olhar dos alunos (envolvidos à televisão, como os jornais e revis-
pesquisa), a partir da experiência tas são feitos e que não é como
com a fotografia e a produção de um passo de mágica, como pa-
vídeo (OLIVEIRA, 2004); rece ser (SANTOS 2007, p. 10);
• Por este caminho, observamos
o trabalho de Cássia Fernanda • Cássia Hack – “Lazer e Mídia em
Cardoso dos Santos – “A Mídia Culturas Juvenis: Uma Aborda-
nas Aulas de Educação Física: gem da Vida Cotidiana” – Neste
Uma possibilidade” - Fruto de estudo, fica evidente que a re-
um trabalho monográfico (DEF/ lação Mídia e Lazer, pela pers-
UFS), cujo principal objetivo foi pectiva de Culturas Juvenis, e
analisar a utilização dos recur- condição sine qua non para diag-
sos midiáticos (Tv, vídeo-casse- nosticar a construção de valores
te, câmera, máquina fotográfica e comportamentos adotados
numa sociedade de consumo,
entre outros), nas aulas de Edu-
produzida pela industrialização
cação Física. Na proposição da

16 Vista como produtora de sentidos e por isto, acaba sendo uma das formas de poder mais influentes
em nossa sociedade (OLIVEIRA, 2004).
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da cultura. Neste sentido, a au- como uma possibilidade uma


tora considera que a mídia, en- vez que prima por valores e
quanto operadora da Indústria experiências lúdicas constituin-
Cultural, se caracteriza como do a autonomia do sujeito ao
um elemento constituidor dos considerar seu potencial con-
cotidianos juvenis. Assim, ao traditório e reconhecidamente,
mesmo tempo em que a mídia libertador (HACK, 2005).
esboça – a partir do lazer - uma • Scheila Espindola Antunes – “O
possibilidade de fruição, na sua ‘País do Futebol’ na Copa do
outra face, é também influen- Mundo: Estudo de Recepção
ciadora no consumo. Entende a ao Discurso Midiático-Esportivo
autora que o discurso midiático com Jovens Escolares” – Anali-
provê de sentidos e significados sou e conheceu o processo de
os cotidianos de forma que não recepção de jovens escolares
pode ser considerado isolada- ao discurso midiático -esportivo
mente, mas no conjunto das durante a Copa do Mundo de
relações e manifestações deste 2006 realizada na Alemanha.
cotidiano. É importante ressal- A constatação é que a escola
tar que a autora/pesquisadora, e a família são suas principais
considera que uma das possibi- mediações institucionais, assim
lidades de se ampliar o debate/ como foi atribuída à mídia sig-
reflexão entre os jovens é a im- nificativa representatividade en-
plementação de uma educação quanto mediação tecnológica e
para a mídia, principalmente tanto a escola como a educação
nos contextos escolares. O que física necessitam repensar suas
está no plano da apropriação, ações pedagógicas cada vez
produção de seu conteúdo, dos mais numa perspectiva crítica de
meios e da leitura/recepção crí- formação que não esteja isolada
tica da mídia, gerando assim, do mundo vivido pelos sujeitos,
conhecimentos técnicos e teóri- ou seja, uma educação para a
cos que resultam em atividades mídia (ANTUNES, 2007);
como produção de vídeo, jor- • Mariana Mendonça Lisboa –
nais, programas de rádio, inter- “Representações do Esporte-
net entre outros, com isto, esta- Da-Mídia na Cultura Lúdica de
ríamos estimulando os jovens a Crianças” – neste trabalho o
pensarem e refletirem, autono- objetivo central foi identificar e
mamente e de forma esclareci- compreender as representações
da. Ainda, no campo do lazer, sociais do esporte-da-mídia na
considera que a educação para cultura lúdica das crianças e
o lazer também se constitui suas possíveis transformações
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quando tematizadas na Educa- projetos de intervenção escolar


ção Física escolar e com isto, com a mídia. O pesquisador
quando estimulados os alunos percebeu que os professores
conseguem narrar a dimensão viam a mídia apenas de forma
do esporte tele-espetáculo17, instrumental e com a pesquisa,
percebendo os elementos e re- ampliou sua visão para objeto
cursos utilizados em sua veicu- de estudo na produção mídiáti-
lação. Contudo, a autora faz um ca na escola (MENDES, 2008);
alerta à sociedade/educação em • Cristiano Mezzaroba – “Os Jo-
que a escola, através de uma te- gos Pan-Americanos Rio/2007
matização problematizadora, e o Agendamento Midiático-
procure nestes férteis espaços Esportivo: um Estudo de Re-
de discussão social contribuir cepção com Escolares” - anali-
para o fortalecimento da recep- sou como os jovens percebem,
ção crítica dos diferentes assun- compreendem e analisam o
tos propostos, caso contrário, a agendamento midiático dos Jo-
simples celebração a-crítica, ou gos Pan-Americanos Rio/2007,
negação dessas temáticas, servi- com possíveis repercussões dis-
rá a perspectivas reproducionis- so na Educação Física Escolar.
tas de muitos discursos e repre- Neste estudo, o pesquisador
sentações colocados pela mídia considerou os estudantes como
esportiva (LISBOA, 2007); sujeitos-receptores, com os
• Diego de Souza Mendes – “Luz, quais o professor de Educação
Câmara e Pesquisa-Ação: A In- Física pode intervir pedagogica-
serção da Mídiaeducação na mente. A pesquisa foi realizada
Formação Contínua de Profes- numa escola de Florianópolis
sores de Educação Física” – ex- e neste aspecto, os achados da
plorou a temática da formação pesquisa ratificam à necessi-
continuada de Professores de dade do desenvolvimento do
Educação Física a partir da se- processo de mídia-educação no
guinte problemática: Identificar âmbito escolar, a fim de ampliar
quais os saberes produzidos, in- as compreensões que envolvem
corporados e expressos na prá- a cultura esportiva dos alunos
tica pedagógica dos professores (MEZZAROBA, 2008);
de Educação Física em relação • Fernando Gonçalves Biten-
à mídia. Tendo como estratégia court – “Fotografia na Era Digi-
metodológica a perspectiva de tal: Produção, Protagonismo e

17 Betti (1998).
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Performance – Problemas para interesses e necessidades da po-


a Educação Física/Ciências do pulação: empregos, luz, água,
Esporte” - Fez uma crítica, a segurança, educação, lazer,
partir de um estudo etnográfico, sistema viário, oferta de pro-
no tocante aos usos e abusos da dutos e serviço de emergência
captura de imagens principal- contra incêndio, entre outros.
mente de desportistas e como O desenvolvimento da cidade
o elemento ético/moral é ne- depende de construções rela-
cessário para um momento no cionadas à educação, cultura
qual estamos vivendo de velo- e tecnologia, que possibilitam
cidade e difusão da informação que se produzam construções
via rede, até por que o público mais avançadas, como fábricas
e o privado se confundem e, e termoelétricas, ao longo do
neste aspecto, “o público torna- jogo. Painéis com índices e grá-
se o lugar de ninguém”! Com ficos sobre a condição da cida-
isto, ninguém é mais respon- de ajudam o jogador a decidir
sável pela implicação de uma o que é necessário fazer para
imagem veiculada na internet, melhorar o funcionamento.
por exemplo, (BITENCOURT, Esta estratégia metodológica de
2009). Esta é uma questão bas- ensino auxiliou na proposição
tante séria e que vem provocan- e na construção - em parceria
do uma série de debates a partir com a professora da escola - de
da Lei de Direito Autoral; uma proposta que incluísse o
• Dulce M. Cruz, Rafael M. de jogo como conteúdo adequado
Albuquerque, Victor de A. para as suas aulas, buscando
Azevedo – “Jogos eletrônicos um bom aproveitamento peda-
e o uso de software livre na es- gógico (CRUZ et al, 2009);
cola: um relato de experiência” • Rogério Santos Pereira – “Ava-
– nesta experiência os autores tares no Second Life: corpo e
descrevem a inserção enquanto movimento na constituição da
conteúdo e o uso pedagógico noção de pessoa on-line.” –
de um jogo eletrônico, a partir Esta pesquisa traz reflexões so-
do Software Livre, sendo este, bre o conceito do que é virtual
motivador para os alunos. No em busca do rompimento da
jogo problematizado - LinCity- oposição dualística com o real
NG- uma cidade é simulada, e configura-se em uma experi-
e o jogador exerce o papel de ência, de certa forma, inédita na
prefeito. Sua função é a de deci- Educação Física no Brasil, pois
dir o que e quando construir, de problematiza a relação corpo
forma a equilibrar os diversos e movimento no ciberespaço
100

a partir do jogo de computador as identidades aceitas e reconhe-


Second Life. Neste sentido, dis- cidas pelos grupos no ciberespa-
corre também sobre as possíveis ço (PEREIRA, 2009).
aproximações das tecnologias
digitais – em especial dos jogos Como vimos estes traba-
eletrônicos – com a Educação lhos, entre tantos outros, tencionam
Física. O pesquisador percorreu a relação mídia (Tecnologia)-Educa-
o sentido do “ser” on-line, a par- ção Física, no entanto, acredito que
tir da “Antropologia no ciberes- o principal aspecto emancipatório
paço”, compreendendo o corpo - que está presente em todos os tra-
como uma construção simbólica balhos - que deveria ter sido mais
e o ciberespaço como uma das
observado na comunidade acadêmi-
dimensões constituintes das so-
ca, na sociedade de modo geral, é o
ciedades complexas. A partir
“sentido” atribuído a uma educação
das observações, percebeu que
para mídia, ou mesmo da tecnologia
os conceitos de imaginação e
imaginário são essenciais para
como uma “potência” no aspecto
entender como os participantes pedagógico – ou melhor, ainda:
tecem caminhos em suas brinca- O de estabelecer um permanente
deiras narrativas para construir processo de mudança cultural em
no ciberespaço uma corpora- que as pessoas – alunos – sociedade
lidade que é central em suas em geral aprendam a compartilhar,
interações. É importante ressal- a colaborar umas com as outras.
tar que o sentido atribuído ao Os trabalhos/experiências
avatar18e dos demais objetos do apontam para uma reflexão no trato
Second Life só pode ser dado a com a mídia e a tecnologia sob o
partir das ações dos participantes prisma da Educação/Educação Físi-
no jogo o que esboça então, as ca. Do simples manuseio de equipa-
intencionalidades numa rede de mentos, passando pelo olhar atendo
relações e suas ações são condi- dos sujeitos que recebem as mensa-
ção para que a relação exista. As gens dos veículos de comunicação
brincadeiras narrativas traçadas à dimensão lúdica nos campos do
pelos participantes constituem lazer, esporte, entretenimento e do

18 Em informática, avatar é a representação visual de um utilizador em realidade virtual. De acordo


com a tecnologia, pode variar desde um sofisticado modelo 3D até uma simples imagem. São
normalmente pequenos, de tamanhos variados mas deixando espaço livre para a função principal
do site, programa ou jogo que se está a usar. Em um mundo virtual, um avatar é um personagem
digital que você pode criar e personalizar. É você - apenas em 3D. um avatar que se assemelha
a sua vida real ou criar uma identidade alternativa, é a imaginação, quem você quiser ser! www.
wikipedia.org. Acesso em 04/10/2010.
Ano XXII, n° 34, junho/2010 101

ciberespaço, ratificam que nenhum aberto para pensá-las no sentido


segmento da sociedade – em espe- de que não podemos abandoná-las
cial a Educação Física – deva ficar e sim, que elas constituam-se em
de fora da apropriação, reflexão nossa utopia.
crítica dos meios de comunicação
e das tecnologias de informação. [...] as formas de produção co-
Bem como, urge articular o senti- laborativas criam novos modos
do do SL e as experiências com a de organização social e econô-
Educação Física para uma mudança mica, com impacto profundo
de comportamento das pessoas na nas formas de produção e orga-
sociedade e com isto, expandir o co- nização do conhecimento, da
nhecimento e o compartilhamento. informação e dos bens culturais
(LIMA et al p.164).
Para Lima et al (2009, p.165) “o que
se produz é comum, e o comum
que compartilha serve de base para Considerações (In) conclusivas
a produção futura, numa relação
expansiva em espiral”. A velocidade com que as
Percebe-se então, que o tecnologias são criadas e neste as-
processo de apropriação, criação e pecto, transformam o modo de ser
recriação da mídia e das tecnologias e estar no mundo na contempora-
no âmbito da Educação Física, já neidade, é impressionante. A todo
se configurou como um marco na instante nasce uma nova tecnologia
pauta de discussão da pesquisa e in- – comunicacional/informacional/di-
tervenção. Mas, algumas questões, gital – e como ela, uma nova forma
a meu ver, mereçam importância de relacionar-se o que gera/germina
no contexto educacional, político uma nova narrativa. Impressiona
e cultural (sem querer respondê- como qualquer tentativa de prever
las, mas pelo menos persegui-las): fica ultrapassada pelo novo. Ador-
E ai?! O que aconteceu depois que no e Horkheimer (1985) já diziam
estas pesquisas foram realizadas? que o novo nasce velho no bojo
Será que a semente (ou o “sentido” do processo de Indústria Cultural.
como estou discutindo aqui neste Talvez este seja o entrave para que
artigo) fora plantada e germinada? haja uma maior apropriação das tec-
Houve uma mudança – na cultura nologias pela humanidade, pois o
– em sociabilizar o conhecimento caráter mercadoria ainda está muito
e oportunizar os alunos/sociedade presente em nossas relações.
a apropriarem-se com autonomia Seria ingênuo não perceber
das Tic´s? Deixo estas questões em que a tecnologia recebe o estigma
102

de quem a criou e assim as forças to da internet coloca na ordem


econômicas, políticas e simbólicas do dia a questão solidária da
produzem-na sob um prisma ideo- sociedade civil e de suas orga-
lógico e reforçam os valores de uma nizações na busca de um orde-
sociedade. O software livre e com namento social mais justo e de
ele as diversas manifestações a seu maior autonomia em relação ao
favor, produzem uma nova forma capital e ao Estado. Nesse sen-
de lidar com este determinismo, tido, a internet é uma promessa
de comunicação global intera-
uma nova narrativa, pois tem como
tiva, criadora de comunidade.
matriz geradora, a colaboração
(BOLAÑO, 2007 p. 47).
e com isso, uma nova (re) confi-
guração da sociedade faz surgir.
A partir da própria dinâmi-
Ainda, o SL é notável por usar e
ca/velocidade em que o mercado
fazer usar a inteligência de modo
midiático e tecnológico faz surgir
compartilhado para apreensão e
novos aparelhos celulares, percebe-
produção do conhecimento e este
se uma tendência em se estabelecer
sendo redistribuído à sociedade.
uma convergência possível das
Estou ciente que não devemos nos
tecnologias. Ou seja, uma tecnolo-
iludir como alerta Bolaño (2007)
gia que dê conta de reunir todas as
com este potencial advindo da
mídias possíveis e conhecíveis até
internet, por exemplo, até por que
o momento. O celular aparece com
ainda encontra-se nas mãos das
esta função, mas de forma muito
organizações econômicas o capital
tímida. Seu uso já é multifacetado,
que gerencia este potencial. No
do simples falar às interações mais
entanto, o caráter democratizador
diversas no campo do entreteni-
da informação e promotor de uma
mento, comunicação (áudio-visual)
comunicação horizontalizada pro-
entre tantos. Seu acesso – aspecto
voca uma autonomia na sociedade
importante no processo de intera-
e pode ser geradora de uma ação
ção - já tende a ser maior, atingindo
contra-hegemônica aos ditames de
a maioria da sociedade, tendo em
uma economia monopolista.
vista o barateamento de sua pro-
Na verdade, nada é unívoco no dução e com o SL também na sua
desenvolvimento capitalista e construção isto se ampliará.
os mesmos fatores que o impul- Sobre este aspecto é que o
sionam abrem também possibi- campo educacional, principalmente
lidades de ação transformadora no ambiente escolar, precisa está
[...]. Não obstante, o surgimen- atento a estas mudanças significa-
Ano XXII, n° 34, junho/2010 103

tivas no âmbito da tecnologia, pois ANTUNES, Scheila Espindola. O


isto implicará mudanças no modo “país do futebol” na copa do
de ensinar-aprender-ensinar e pro- mundo: estudo de recepção ao
duzir conhecimento. Observo que discurso midiático-esportivo com
isto já vem acontecendo, ou seja, jovens escolares. Florianópolis/SC.
já há uma preocupação do impacto Dissertação de Mestrado, 2007.
das tecnologias e da mídia na edu- BACON, Francis. Nova atlântida.
cação, no entanto, ainda carece de Tradução: José Aluysio Reis
mais ações no tocante a esfera pú- de Andrade. São Paulo: Nova
blica para que não fique distante a cultural, 2000.
relação escola-tecnologia e prolifere BENKLER. Yochai. Saber comum:
um espaço de tensão permanente. produção de materiais
No campo da Educação educacionais entre pares.
Física, especificamente no trato Salvador/BA, Revista da FACED/
com as Tic’s e da (re) significação da UFBA, (no prelo), 2010.
mídia, compreendo que se precise BITENCOURT, Fernando
não só fazer uso, mas necessaria- Gonçalves. Fotografia na era
digital: produção, protagonismo
mente, germinar o “sentido” da
e performance – problemas para
colaboração entre os atores sociais
a educação física/ciências do
(os sujeitos que estão no campo de
esporte. XVI Congresso Brasileiro
observação) e os profissionais da
de Ciências do Esporte,; III
área. Talvez assim, este “bicho pa-
Congresso Internacional de
pão” (tecnologia/mídia) não assuste
Ciências do Esporte. Anais...
tanto, pois será sempre um aliado Salvador/Bahia, 20 a 25 de
à emancipação e autonomia. Ex- setembro de 2009.
periências com o celular - que está BOLAÑO, César et. al. Economia
presente na vida dos alunos - podem política da Internet. São Cristóvão:
constituir-se em um potencial cria- Editora da UFS, 2007.
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