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FONÉTICA E

FONOLOGIA DO
INGLÊS

Ubiratã Kickhöfel Alves


Andressa Brawerman-Albini
Maria lacerda
UNIDADE 3
Estrutura silábica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar a estrutura suprassegmental sílaba e determinar sua


função nos sistemas linguísticos.
 Identificar os padrões silábicos na língua inglesa e compará-los com
os encontrados no português brasileiro.
 Explicar as dificuldades enfrentadas pelos alunos brasileiros na aqui-
sição dos padrões silábicos do inglês.

Introdução
Quando você ouve a palavra “sílaba”, provavelmente deve se lembrar
das regras referentes à separação ortográfica do português – as quais
você provavelmente praticou muitíssimo nos seus primeiros anos de
vida escolar. Entretanto, você sabia que a sílaba é uma unidade supras-
segmental fundamental para os estudos fonológicos? É por causa dela,
por exemplo, que um aprendiz brasileiro produz a palavra top do inglês
como []. Além disso, é por meio da sílaba que definimos contextos
para a ocorrência de variantes alofônicas, como você já estudou nos
capítulos anteriores. Por fim, determinar os padrões silábicos de uma
língua é fundamental para que se possam definir os padrões acentuais
de tal sistema linguístico.
Neste capítulo, você aprenderá a caracterizar o que é uma sílaba, bem
como refletirá acerca de sua importância. Além disso, você contrastará
os padrões silábicos do português brasileiro e do inglês e verá que a
língua inglesa permite uma variedade muito maior de possibilidades
de padrões. A partir dessa comparação, poderá determinar os desafios
pelos quais passam os aprendizes brasileiros na aquisição do molde
silábico da língua-alvo.

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Caracterizando a unidade “sílaba”


Para os estudos de Fonética e Fonologia, a sílaba é uma unidade representa-
cional fundamental em qualquer língua. Cada língua apresentará o seu padrão
silábico, que determinará como se organizam sequencialmente os segmentos
vocálicos e consonantais naquela língua em questão.
Dizer que a sílaba é uma unidade mental implica dizer que todos os falantes
de uma dada língua, ainda que inconscientemente, reconhecem a existência
dessa unidade. Todos os falantes reconhecem, também, o padrão silábico
característico de sua língua. Isso fica claro se pensarmos em um exemplo, que
determinará a relação entre a sílaba e os elementos segmentais no português
brasileiro. Como você sabe, em um par mínimo como “seio” e “cheio”, temos
a evidência de que // e // são elementos distintivos em nossa língua. Trata-se,
portanto, de dois fonemas. Entretanto, pense na palavra “pasta”. Como você
produz o som representado ortograficamente pela letra <s>? Em um dialeto
como o do Rio de Janeiro, a consoante a ser produzida é []. Por sua vez, em
São Paulo, realiza-se a consoante [].
Ainda que em alguns dialetos se produza [] e noutros [], há, nesse caso,
diferença de significado? Não. Reconhecemos ambas as produções como
indicadores de um mesmo objeto. Isso porque, nesse contexto, [] e [] não
são distintivos. O que nos garante isso é a posição dos segmentos dentro da
unidade sílaba: em posição inicial de sílaba (também chamada de ataque ou
onset), [] e [] vão distinguir significado, em português brasileiro. O mesmo
não pode ser dito a respeito da posição final de sílaba (chamada de “coda”): em
nossa língua, a diferença entre [] e [] não é fonológica nessa posição silábica.
O mesmo pode ser dito no que diz respeito aos casos em que a fricativa se
encontra seguida por um segmento vozeado na sílaba seguinte. No que diz
respeito à oposição entre [] e [], sabemos que tais sons são distintivos em onset,
uma vez que temos pares de palavras como “chato” e “jato”. Entretanto, em
posição final de sílaba, enquanto alguns dialetos produzirão a palavra “musgo”
com [], outros a produzirão com []. Todos os falantes de português têm esse
conhecimento implicitamente adquirido, uma vez que ninguém questiona o
fato de que cariocas e paulistanos estão se referindo à mesma coisa.
Na língua inglesa, também temos muitíssimas evidências da necessidade
de uma unidade mental como a sílaba. Conforme você já viu nos capítulos
anteriores, essa unidade irá definir, muitas vezes, muitos fenômenos de alofo-
nia nessa língua. Você sabia que, em onset silábico, o fonema /l/ é produzido
como alveolar (light /l/), mas que, em coda, há a produção de uma consoante
velarizada (dark /l/)? As variantes referentes às consoantes plosivas também

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se definem a partir do contexto silábico: somente aspiramos plosivas em início


de sílaba. Em coda silábica, as plosivas podem ser produzidas sem soltura ou
até mesmo glotalizadas. No que diz respeito aos segmentos vocálicos, você
também estudou que vogais frouxas necessitam apresentar uma coda. Em
suma, ainda que você nunca tenha realizado uma análise fonológica, consegue
“sentir”, em sua língua, os efeitos dessa unidade mental suprassegmental.
Tendo um status linguístico, ao longo dos anos, muitos fonólogos têm se
dedicado a propor uma representação para a unidade sílaba. Uma das repre-
sentações mais tradicionais é a proposta por Selkirk (1982).

Figura 1. Estrutura representacional da sílaba proposta por Selkirk (1982).


Fonte: Collischonn (2014, p. 100).

A representação da Figura 1 é caracterizada por uma estrutura arbórea. A


sílaba (símbolo σ) se divide em Ataque (Onset) e Rima; essa última parte, por
sua vez, divide-se em núcleo e coda. O núcleo de uma sílaba é seu elemento
fundamental, uma vez que não há sílaba sem núcleo. Geralmente o núcleo
é ocupado por uma vogal, por serem as vogais os segmentos com maior so-
noridade; no inglês, o núcleo pode, também, ser ocupado por uma líquida
(como em bottle) ou por uma nasal (como em button). O onset e a coda são
elementos opcionais; tanto em português brasileiro quanto em inglês, podemos
ter sílabas sem onset (como em “ar”, air) ou sem coda (como em “pá”, fee).
Sílabas sem coda são chamadas de sílabas abertas; por sua vez, sílabas com
coda são chamadas de fechadas.

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Para uma introdução às diferentes abordagens teóricas sobre os padrões silábicos do


português brasileiro e do inglês, leia o sexto capítulo do livro “Fonologia, Fonologias:
uma introdução” (HORA; MATZENAUER, 2017). Para uma descrição completa de todos
os padrões de onset e coda possíveis na língua inglesa, leia Hammond (1999).

Com base na Figura 1, uma palavra como tip, por exemplo, ocuparia os
três slots silábicos: [] ocuparia o onset; [], o núcleo; e [], a coda. Entretanto,
o que aconteceria com uma palavra como strip? Sabemos que essa palavra
possui apenas uma sílaba, uma vez que apresenta somente uma vogal. Uma
vez que temos três consoantes antes da vogal, é preciso que tenhamos um
onset complexo de três elementos. E no caso de uma palavra como fact, que
apresenta duas consoantes após a vogal? Nesse caso, temos uma coda complexa
de dois elementos. No caso de ditongos decrescentes, tal como stray, temos
um núcleo complexo de dois elementos.

Em uma palavra como strikes, temos uma palavra de uma sílaba. Os segmentos [], []
e [] ocupam a posição de onset; [] e [] ocupam o núcleo; e [] e [] ocupam a coda.

Conforme a Figura 1, núcleo e coda estão representados sob um único


nó para expressar a estreita relação entre esses dois elementos – tal relação
determinará o peso silábico. A noção de peso silábico tem sido estudada
por diversos autores da área da Fonologia, e diferentes caracterizações para
o peso silábico têm sido propostas para o inglês. Com essa noção, sílabas
podem ser leves ou pesadas. Em linhas gerais, em inglês, uma sílaba pesada é
aquela composta por uma vogal tensa ou um ditongo no núcleo (uma vez que
esses dois casos caracterizam um núcleo complexo); sílabas pesadas podem,
também, ser caracterizadas por uma vogal (tensa ou frouxa) seguida por uma
consoante em coda.

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A definição de peso silábico é importante, uma vez que a caracterização dos padrões
de acento (sílaba tônica) da língua inglesa depende dessa propriedade.

Padrões silábicos do português brasileiro


e do inglês
Os padrões silábicos do português brasileiro e do inglês são bastante diferentes.
O inglês permite um número maior de padrões de onsets e codas complexos
do que o português brasileiro. Desse fato resultam as dificuldades do aprendiz
de língua estrangeira. É preciso, portanto, comparar os padrões de onsets e
codas complexos permitidos nas duas línguas.
No português brasileiro, a posição de onset pode ser ocupada por, no má-
ximo, duas consoantes. Quando o onset for preenchido por duas consoantes,
a primeira delas deve ser uma plosiva ou uma fricativa labial, e a segunda
deve ser uma líquida.

Alguns exemplos de palavras do português brasileiro que apresentam um onset


complexo são:
Plosiva + líquida: [] prato, [] claro, [] trato
Fricativa + líquida: [] flauta, [] frota

A posição de coda, em português brasileiro, é bastante restrita. Em codas


simples (de uma consoante), são permitidas apenas líquidas (par, mal), nasais
(man.to, man.ga) ou fricativas alveolares/palatoalveolares (a depender do
dialeto) (pas.ta, mus.go). A coda complexa é ainda mais restrita: permitem-se
no máximo dois elementos, sendo que o primeiro deles deve ser uma líquida

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ou uma nasal, e o segundo uma fricativa alveolar/palatoalveolar (mons.tro,


pers.pi.caz).
Essas restrições às combinações consonantais da sílaba do português
contrastam com os padrões silábicos da língua inglesa, que permitem não
somente um número maior de elementos em onset e em coda, mas, também,
uma maior combinação entre os elementos.
A posição de onset simples, no inglês, permite que figure qualquer con-
soante, com exceção de []. Por sua vez, os onsets complexos podem ser
compostos por dois ou três elementos.

Os onsets de dois elementos podem ser de dois tipos (HAMMOND, 1999, p. 55):
1. [s] seguido por uma plosiva surda, fricativa ou nasal ([] spot, [] star, [] scar, []
sphere, [] small, [] snail, dentre outras)
2. Uma plosiva ou fricativa surda seguida por [w, l, r]: ([] play, [] bring, [] drown,
[] crown, [] swim, [] slim, [] float, [] shrink, dentre outras).
Os onsets de três elementos sempre iniciam pela fricativa [s]. Os segundo e terceiro
elementos devem constituir sequências possíveis em onsets de dois elementos ([]
spring, [] stray, [] screw, [] split). Por iniciarem com [s], onsets de três elementos
são difíceis para o aprendiz brasileiro.

Com relação à coda simples do inglês, qualquer consoante, com exceção de


[], pode ocupar essa posição. No que diz respeito à coda complexa, o número
de combinações também é muitíssimo maior do que em português. O número
de possíveis combinações é ainda maior com a análise das codas sufixadas,
que são formadas com a adição dos sufixos de passado ou particípio passado
–ed ([] ou [], a depender da sonoridade da raiz), do plural de substantivos
ou da terceira pessoa do singular do presente simples dos verbos ([s] ou [z], a
depender da sonoridade da raiz) e de numerais ordinais ([], como em tenth).
Dessa forma, ao se analisarem codas complexas, é preciso considerar o status
morfológico dessas sequências consonantais (se sufixadas ou não).

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Os encontros consonantais de duas consoantes em coda podem ser caracterizados


pelas seguintes combinações (HAMMOND, 1999, p. 58):
1. uma consoante nasal seguida por uma obstruinte ([] camp, [] tent, [] sink,
[] French)
2. [s] seguida por uma plosiva surda ([] grasp, [] fist, [] ask)
3. uma líquida seguida por uma nasal, obstruinte ou outra líquida ([] storm, []
help, [] cart, [] curl)
4. qualquer consoante seguida por uma obstruinte coronal (isso é, dentais, alveolares,
palatoalveolares e palatais) ([] apt, [] act, [] draft, [] ex)

Além disso, a coda do inglês pode apresentar até mais do que duas conso-
antes, o que torna as combinações ainda mais complexas. Muitas das codas
de três ou mais consoantes são compostas pelo acréscimo do sufixo, tal como
na palavra texts [], cuja coda é composta de quatro elementos, sendo a
última consoante o sufixo de plural.

Uma coda de três ou mais consoantes é sempre formada por duas sequências de duas
consoantes: dessa forma, uma coda [mpt] (exempt) é possível porque a língua permite
codas [mp] (camp) e [pt] (apt).

Veja este vídeo do canal English Pronunciation Ro-


admap, do YouTube, sobre encontros consonantais
finais difíceis para aprendizes de inglês, disponível
no link ou código a seguir:

https://goo.gl/AsPeQq

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Dificuldades do aprendiz brasileiro de inglês


Dada a complexidade do sistema silábico do inglês frente ao do português
brasileiro, é natural que os aprendizes tendam a “adaptar” os padrões da lín-
gua estrangeira aos da língua materna. Para falantes brasileiros, a estratégia
de reparo típica de estruturas silábicas é a epêntese vocálica. Trata-se da
inserção de uma vogal, que implicará a formação de um novo núcleo silábico
e, por conseguinte, de uma nova sílaba. A epêntese vocálica é uma estratégia
de reparo tanto de onsets quanto de codas, simples ou complexas. A vogal
epentética típica do português brasileiro é [].

Alunos brasileiros de inglês tendem a produzir [] ou []para o alvo star [];
[] para o alvo big []; [] para o alvo cap []; e [], [], [] ou
[] para o alvo fact [], por exemplo.

No que diz respeito às estruturas de onset, a grande dificuldade do apren-


diz brasileiro está relacionada aos encontros consonantais iniciados por [s],
como em stem, spark, sleep, smart. Isso se deve ao fato de que os encontros
consonantais iniciais do português nunca são começados por [s]. De fato,
no português brasileiro, essa consoante aparece somente em onsets de um
elemento (saia, sem). Por isso, na produção do aprendiz em língua inglesa, a
epêntese é inserida em posição inicial, de modo que o [s] passe a ser a coda da
sílaba, como em []tem (stem). Isso ocorre porque, na interlíngua português–
inglês, havendo a possibilidade de inserir a vogal nos extremos da palavra,
tal possibilidade é preferida do que ferir a contiguidade dos segmentos, o que
ocorreria se produzíssemos [si]tem. No caso de encontros consonantais (ou
clusters) cuja segunda consoante é vozeada, é importante não sonorizar o [s],
o que também seria uma tendência no português brasileiro. Se o aprendiz não
prestar atenção a esses detalhes, sua produção da palavra snow [], por
exemplo, soará como is no [ ].

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Veja o vídeo do canal Rachels English, do YouTube,


sobre os encontros consonantais de onset iniciados
por [s], disponível no link ou código a seguir:

https://goo.gl/wxUMcw

No que diz respeito às codas, tanto as simples quanto as complexas podem


ser difíceis para o aprendiz brasileiro. No caso das codas simples com elementos
outros que aqueles permitidos em nossa língua, a epêntese tenderá a ser a
estratégia utilizada pelo aprendiz, sobretudo nas etapas iniciais da aquisição
do inglês. O aprendiz tenderá a inserir uma vogal final em palavras como top,
cat, tick, laugh, rash e catch.

A representação ortográfica é, também, um grande fator ocasionador da epêntese. Por


exemplo, na palavra house [], o aprendiz brasileiro tende a produzir uma epêntese
final em função da presença do grafema <e>. De fato, em nossa língua, temos uma
estrutura silábica semelhante (como na palavra como “caos”, formada pelo glide e a
fricativa) e não inserimos uma vogal. O mesmo pode ser dito na palavra horse []:
não haveria a necessidade de produção de uma vogal epentética final, uma vez que
temos codas complexas de líquida e fricativa em nossa língua (pers.pi.caz). O professor
de língua inglesa tem que ter claro que a forma ortográfica representa, portanto, uma
dificuldade adicional.

No que diz respeito às codas complexas, padrões diferentes de epêntese


podem ser verificados em codas monomorfêmicas e bimorfêmicas. Nas codas
complexas monomorfêmicas, podem ser produzidas uma ou duas epênteses.
Em fast [], por exemplo, a tendência do aprendiz brasileiro seria produzir
apenas uma epêntese: [.]. De fato, não há por que produzir uma vogal
após [], dado que essa consoante é possível de ocorrer em coda, no português
brasileiro. A epêntese, nesse caso, ocorre na extremidade da palavra (até

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porque uma produção como [.] não resolveria a proibição de /t/ final no
português brasileiro). Já em codas complexas de dois elementos não passíveis
no inglês, é possível, entre aprendizes de nível inicial, a produção de duas
vogais epentéticas: nesse caso, uma palavra como fact [] pode ser produzida
como [..]. Já com um nível um pouco mais adiantado de proficiência
na língua-alvo, produções como [.] são possíveis, até o ponto em que
o aprendiz atinja a forma-alvo. No caso de encontros consonantais finais de
duas plosivas, é pertinente ressaltar ao aluno a possibilidade de não soltura
da primeira plosiva do encontro, como em act [] e apt [].

Codas simples tendem a ser adquiridas antes de codas complexas. Entretanto, a aqui-
sição, em codas simples, dos dois elementos que compõem a coda complexa não
implica necessariamente a aprendizagem da sequência consonantal. Por exemplo,
é possível que o aprendiz brasileiro já tenha adquirido os padrões silábicos de coda
simples em app [] e at [], mas ainda não tenha adquirido a combinação de [] e
[] em coda complexa, como em apt [].

No que diz respeito a codas complexas com sufixo, o padrão de epêntese


produzido pelo aluno vai depender de qual morfema está sendo adicionado.
O sufixo [], comum em números ordinais como em seventeenth e twelfth,
tende a ser bastante difícil, até porque a aquisição segmental da fricativa que
corresponde ao sufixo já é, por si, dificultosa. Por sua vez, no caso de sufixos
como o de plural ou terceira pessoa do singular do presente simples, a epêntese
tende a ocorrer após o segmento que antecede tal marca morfológica, como em
[.] para apps []; [.], para rats []; e [.], para lacks [].
No caso desse sufixo, também pode haver codas de três elementos: dessa
forma, uma palavra como acts [] tende ser produzida como [..] ou
[..]por alunos de nível básico.
Com relação a esse sufixo, uma grande dificuldade diz respeito ao seu
vozeamento, que dependerá do vozeamento do segmento final da raiz que o
antecede. Se o segmento final da raiz for surdo, como em [], [], [], [] e [],
o morfema será produzido como [s]. Se for sonoro ([], [], [], [], [], [],
[], [], [], [], vogais e ditongos), será produzido como [z].

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Exemplos de produção do morfema de terceira pessoa do singular no presente simples


são:
[s]: stops, meets, lacks, laughs
[z]: robs, mugs, dreams, feels

Mais importante do que produzir a sonoridade é atentar para a duração da


vogal de núcleo, que deverá ser mais longa nos casos em que a coda for sonora.
De fato, em posição anterior à pausa ou a segmentos consonantais surdos, o
[z] tende a ser parcialmente dessonorizado. Não há, portanto, a necessidade
de exagerar a vibração das pregas vocais na realização da consoante, uma vez
que a duração vocálica é a pista que provê a informação sobre o status surdo
ou sonoro da coda.
O acréscimo do morfema de terceira pessoa do presente simples ou de plural
dos substantivos pode, ainda, acarretar um novo padrão silábico. Isso ocorre
quando a consoante final da raiz já é uma sibilante, ou seja, é caracterizada
por uma fricção na região alveolar ou palatoalveolar ([], [], [], [], [], []).
Nesse caso, os falantes nativos inserem uma vogal [] entre a consoante da
raiz e a fricativa final, que será produzida como []. Esse acréscimo tende a
ser, inclusive, expresso na ortografia, como <es> (ainda que nem toda grafia
<es> corresponda à produção de []). São exemplos desses casos as palavras
dresses e washes.

Veja o vídeo do canal Rachaels English, do YouTube,


sobre a pronúncia do morfema do plural. As regras
são as mesmas para o morfema de terceira pessoa
do singular no presente.

https://goo.gl/qzC4gc

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Com relação ao sufixo de passado simples/particípio passado dos verbos


regulares (-ed), o grau de dificuldade do aprendiz é ainda maior, uma vez que
sua aquisição sofre a influência não somente dos padrões silábicos da L1, mas,
também, da própria forma ortográfica.
Foneticamente, o morfema -ed é produzido como [], [] ou [], a depender
da sonoridade do segmento final da raiz do verbo: os segmentos finais surdos
[], [], [], [], [], [] e [] farão com que o morfema seja produzido também
como uma plosiva alveolar surda, []. Por sua vez, os segmentos finais vozeados
[], [], [], [], [], [], [], [], [], [], [] e [], além das vogais, farão com que
o morfema seja produzido como uma plosiva alveolar sonora, []. Novamente,
a pista acústica prioritária na percepção dessa distinção é a vogal do núcleo
da sílaba, que deverá ser mais longa caso a coda seja vozeada. Por fim, nos
casos em que a consoante final da raiz já é uma plosiva coronal ([] ou []), é
necessário adicionar uma vogal epentética para que o morfema se diferencie
da raiz. Nesse caso, o morfema é produzido como [].

Exemplos de produções do sufixo -ed são:


[]: stopped, asked, laughed, wished
[]: robbed, mugged, starved, managed
[]: wanted, needed

Em termos de padrões silábicos resultantes do acréscimo desse sufixo, a


realização de -ed como [] é a que se mostra menos difícil para o aprendiz
brasileiro, uma vez que implica apenas a produção de uma coda simples.
Entretanto, nos casos de realização do sufixo como [] ou [], há a produção
de codas complexas não permitidas no português brasileiro. Além dessa difi-
culdade, um aspecto primordial diz respeito ao fato de tal morfema contar com
o grafema <e> em sua forma grafada. Isso leva o aprendiz brasileiro, muitas
vezes, a produzir um vogal epentética antes da plosiva alveolar, mesmo em
contextos em que tal vogal não seria necessária, em termos de reparo silábico.

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A produção de uma vogal epentética após o [] de missed [] é um excelente


exemplo da influência da ortografia. Considerando-se a palavra monomorfêmica
mist, homófona a missed, bem como palavras como fast e list, há evidências de que
a vogal epentética pode vir a ser produzida apenas após [], mas não após [], dado
que o português brasileiro permite a fricativa coronal em posição de coda. O fato de
missed ser produzida com a vogal após [] – tal como em [], [] ou [] – é,
portanto, influência direta da ortografia (ALVES; BARRETO, 2012).

Produções do morfema -ed com a vogal epentética resultante da forma


grafada perduram até os níveis avançados de proficiência da língua. É pos-
sível que, sem a devida instrução, os aprendizes tendam a sempre produzir
essa vogal. Trata-se de um caso de epêntese mais grave do que o resultante
da adaptação de padrões silábicos da L2 ao molde silábico da L1 (ZIMMER;
SILVEIRA; ALVES, 2009). Produções de called como [], por exemplo,
podem ter um grande impacto na inteligibilidade da fala estrangeira, uma vez
que tal palavra pode ser entendida como call it.

Veja o vídeo do canal Rachel’s English, do YouTube,


para aprender a pronúncia do morfema -ed:

https://goo.gl/4ZBzx7

Em suma, o ensino dos padrões silábicos do inglês implica não somente o


treino de percepção e produção de novas sequências de sons em onset e coda,
mas, também, implica chamar a atenção para padrões ortográficos da língua
materna que podem ter impacto na produção da L2. Dado o efeito prejudicial
que a epêntese pode ter na inteligibilidade em L2, a instrução explícita dos

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aspectos fonético-fonológicos da língua-alvo é, sem sombra de dúvidas, um


recurso pedagógico fundamental.

Saiba mais sobre as dificuldades do aprendiz brasileiro na aquisição dos padrões


silábicos do inglês e realize exercícios de percepção e produção sobre esta questão
em Zimmer, Silveira e Alves (2009).

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ALVES, U. K.; BARRETO, F. O processamento e a produção dos aspectos fonético-


-fonológicos da L2. In: LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios
teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua
inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p. 193-209.
COLLISCHONN, G. A sílaba em português. In: BISOL, L. (Org.). Introdução a estudos
de fonologia do português brasileiro. 5. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014, p. 99-131.
ENGLISH PRONUNCIATION ROADMAP. Final consonant clusters. Disponível em https://
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HAMMOND, M. The Phonology of English: a Prosodic Optimality-Theoretic Approach.
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HORA, D.; MATZENAUER, C. L. B. Fonologia, Fonologias: uma introdução. São Paulo:
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RACHEL´S ENGLISH. How to pronounce -ed verb endings: American English Pronunciation.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=A7hi-ipU2n0&t=60s. Acesso em
27 de agosto de 2017.
RACHEL´S ENGLISH. How to pronounce plural nouns: American English. Disponível
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RACHEL´S ENGLISH. S consonante clusters: American English pronunciation. Disponível
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ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation Instruction for Brazilians: brin-
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Leituras recomendadas
CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M; GRINER, B. Teaching Pronunciation:
a Course Book and Reference Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
CRISTÓFARO-SILVA, T. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo: Contexto, 2011.

U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 99 12/09/2017 08:59:04

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