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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema: “O VÍNCULO DA LIBERDADE COM A VERDADE E A LEI NATURAL”.

Nome do estudante: Belinha Francísco Alí.

Código: 708210420

Docente: Ir. Luísa Santos

Curso: Licenciatura em Ensino da

Língua Portuguesa

Disciplina: Ética Social

Ano de Frequência: 3º Ano

Tete, Maio de 2023

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3

1.1 OBJECTIVOS ...................................................................................................................................3

1.1.3 METODOLOGIAS.........................................................................................................................3

2. MARCO TEÓRICO ............................................................................................................................4

2.1 O CONCEITO DA LIBERDADE EM DIFERENTES OLHARES .................................................4

2.1.1 EM BUSCA DO SER .....................................................................................................................4

2.1.2 O SER-EM-SI E O SER-PARA-SI ................................................................................................5

2.1.3. O NADA E A LIBERDADE EXISTENCIAL ..............................................................................6

2.2. IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE ................................................................................................8

2.3. LIMITES DA LIBERDADE ............................................................................................................8

2.4 DIFERENÇA ENTRE LIBERDADE E LIBERTINAGEM .............................................................8

2.5. COMO É ENTENDIDA A LIBERDADE NOS DIAS DE HOJE? .................................................9

2.6. RELAÇÃO ENTRE LIBERDADE E A VERDADE TENDO EM CONTA A LEI NATURAL ...9

2.6.1 EM QUE CONSISTE A LEI NATURAL? ..................................................................................10

2.7. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ....................................................................................11

2.7.1. CONCEITO .................................................................................................................................11

3.1 CONCLUSÃO .................................................................................................................................11

3.1 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................13

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho aborda acerca da liberdade sob a óptica do filósofo Jean-Paul Sartre, a partir de sua
obra filosófica mais importante O Ser e o Nada. Assume-se o objectivo de esclarecer a
construção deste conceito com base no ensaio do autor sobre ontologia fenomenológica. Desse
modo, apresenta-se resumidamente as principais categorias que são utilizadas nesta análise da
liberdade e que se constituem em noções fundamentais do pensamento existencialista. Porém,
a liberdade é condição existencial do homem. Sendo assim, admite-nos apresentar as razões
para sustentar que o homem está condenado a ser livre e que é a partir dessa liberdade
inexorável que ele poderá realizar a si mesmo. Para alcançar os objectivos propostos,
utilizaremos os comentários que versam sobre a obra de Sartre. Ao final da pesquisa, foi
possível observar que o ser humano é um ser factual e histórico, e a liberdade é uma condição
existencial dele e o motivo de sua angústia. Além do esclarecido acima, falaremos também da
da importância e limites da liberdade, assim como outros assuntos pertinentes à matéria que
não fizemos menção nesta fase introdutória.
O trabalho compõe de uma estrutura simples: Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e
Bibliografia.

1.1 OBJECTIVOS
1.1.1. Geral:
✓ Perceber até que ponto a liberdade faz ligação com a verdade e a lei natural.
1.1.2. Específicos:
✓ Esclarecer o termo “liberdade”;
✓ Revelar a importância da liberdade e seus limites;
✓ Separar os termos “liberdade” e “libertinagem”;
✓ Expor a relação entre liberdade e verdade tendo em conta a lei natural;
✓ Frisar sobre a dignidade da pessoa humana.

1.1.3 METODOLOGIAS
Para fazer fácila a este trabalho, recorreu-se a pesquisa bibliográfica e exploratória baseada na
consulta dos manuais, por meio dos quais, exploramos o que foi da relevância conforme o
trabalho.

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2. MARCO TEÓRICO
2.1 O CONCEITO DA LIBERDADE EM DIFERENTES OLHARES

2.1.1 EM BUSCA DO SER


O pensamento de Sartre tem como método a teoria do conhecimento chamada Fenomenologia.
Sartre segue os princípios do seu mestre Edmund Husserl, “pai” da referida corrente filosófica.
Na definição de HUSSERL (2008, p.20), “fenomenologia é a doutrina universal das essências,
em que se integra a ciência da essência do conhecimento”.
A fenomenologia de Edmund Husserl é a corrente filosófica utilizada como método
investigativo dos fenômenos que se revelam à consciência, o estudo das essências dos objectos
que estão no mundo objectivo. Esse pensamento traz à Filosofia um carácter científico no que
diz respeito a teoria do conhecimento filosófico.
Nesse caso, “a consciência é sempre intencional a algo, ou seja, toda consciência é consciência
de alguma coisa, está sempre em intencionalidade de algo, sendo, portanto, o meio pelo qual o
sujeito apreende a realidade que está fora da consciência” (HUSSERL, 2008, p.20).
Sabendo disso, Husserl analisa os fenômenos que estão em relação com a consciência humana,
seu objectivo é chegar ao fenómeno puro semelhante ao que Descartes fez no início da
metafísica moderna, na tentativa de se alcançar o conhecimento puro, sem a possibilidade de
ser dubitável. Assim, Husserl procura na consciência a resposta para tal proposta, ou seja, é
necessário voltarmo-nos às coisas mesmas por meio de uma redução fenomenológica, pois a
fenomenologia é a busca da essência pura do fenômeno.
Para HUSSERL (2008), há um conhecimento imanente, intuitivo que revela a primariedade do
fenómeno e assim, a primeira impressão sobre o objecto mostra os diversos aspectos pelos
quais a consciência percebe esse objecto (p. 20).
Dessa forma o fenómeno é o que se desvela e a percepção é o que lhe dá sentido.
Sartre por sua vez no aspecto fenomenológico defendia que o conhecimento vem do mundo
objectivo, que é externo à consciência e não de dentro do sujeito consciente; em outras palavras,
a realidade que nós apreendemos está fora do sujeito e não dentro de sua consciência, pois a
existência do Ser não parte unicamente da subjectividade em si mesma, mas sim da relação que
a consciência tem de fora para dentro.

De acordo com o pensamento de SARTRE (2012), “primeiramente o homem existe, vem à


realidade humana como o nada que é, sua consciência é vazia e preenchida após relacionar-se
com os objectos” (p. 17).

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Implica também que toda consciência é intencional, que a prova ontológica que Sartre irá nos
mostrar posteriormente é que toda consciência, é sempre consciência de algo, este algo são os
objectos que estão no Ser e que são aquilo que se apresentam em si mesmos, em sua aparência
e plenitude.

2.1.2 O SER-EM-SI E O SER-PARA-SI


O ser-em-si é o conceito sartriano que define os objetos que se apresentam a consciência em
sua forma objetiva e predeterminada. O ser-em-si é opaco e não possui uma descompressão
para que o nada o engendre. Sendo fechado e maciço, o em-si faz parte da realidade humana
sem a capacidade de modificar-se. É pura positividade, pleno de si mesmo.
É aquilo que é, com efeito, o em-si exemplificado seria o equivalente a uma cadeira, mesa,
lápis, etc. Todos os objectos com essência embutida em sua própria existência. É inflexível,
não há entrada alguma para a nadificação. Portanto, o ser-em-si é pura aparição e revelação em
si mesmo.
O em-si é o Ser que se apresenta ao mundo em plenitude, em sua objectividade. Aquilo que é
e que não pode não ser. Plena positividade. Maciço, opaco, sem qualquer essência por trás da
aparência. Sobre o conceito de em-si, Sartre fala:

Daí a concepção especial que se deve dar ao “é” da frase “o ser é o que é”, que
existem seres que hão de ser o que são, o facto de ser o que se é não constitui de
modo algum característica puramente axiomática: é um princípio contingente do
ser-Em-si. Opacidade que não depende de nossa posição com respeito ao Em-si,
no sentido de que seriamos obrigados a apreendê-lo ou observá-lo por estarmos
“de fora”. O ser-Em-si não possui um dentro que se oponha a um fora e seja
análogo a um juízo, uma lei, uma consciência de si. O Em-si não tem segredo: é
maciço. (SARTRE, 2012a, p. 39)

O ser-em-si é aquilo que é em sua aparência, irreversivelmente, sem abertura para que possa
modificar-se. Seu fenómeno de ser é justamente sua aparição, de modo que, não podendo não
ser algo além daquilo que é, fixa-se em si mesmo como condição irremediável. Vejamos outra
reflexão de Sartre sobre o ser-em-si:

O ser-Em-si jamais é possível ou impossível: simplesmente é. Será isso expresso


pela consciência – em termos antropomórficos – dizendo-se que o ser-Em-si é
supérfluo (de trop), ou seja, que não se pode derivá-lo de nada, nem de outro ser,
nem de um possível, nem de uma lei necessária. Incriado, sem razão de ser, sem
relação alguma com outro ser, o ser-Em-si é supérfluo para toda a eternidade. [...]
O ser é. O ser é em si. O ser é o que é. (SARTRE, 2012a, p. 40)

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O em-si, como Sartre se refere, é determinante de si mesmo, ele é incondicionado, em sua
aparência preenche a si mesmo, não implica nenhuma negação é plena positividade. Não é
passividade ou actividade, o ser é em si mesmo. A respeito do em-si, Bornheim nos deixa a
seguinte reflexão:
“O ser não é relação a si, ele é ele mesmo e, é uma imanência que não se pode realizar, uma
afirmação que não se pode afirmar, uma actividade que não pode agir, porque é empastado de
si mesmo” e ainda este é o sentido que tem a expressão “o ser é em-si” (BORNHEIM, 1971,
p. 34)
O ser-em-si, é o conceito pelo qual Sartre nos explica a existência dos objectos com essência
predefinida. O em-si é, pois, o ser cuja essência precede a existência, não tendo a possibilidade
de fazer a si mesmo, é aquilo que se apr senta à realidade em sua própria aparência, sem algo
por trás que possa dar um sentido transcendente. É aquilo que é e nada mais. Opaco e fechado
em si mesmo, maciço, incapaz de ter o nada dentro de si, pois sua existência é determinante de
si mesma.

2.1.3. O NADA E A LIBERDADE EXISTENCIAL


O nada é o conceito pelo qual Sartre nos mostra de que maneira a consciência humana se
dissolve em si mesma, pois o ser-para-si é plena negação de si mesmo, vazio e incompleto,
engendrando em seu âmago, o nada, este nada que está dentro do coração do Ser como um
verme é que abre espaço para que a liberdade possa se manifestar; é essa descompressão do
ser, esta passagem para o projetar-se do homem.
O nada ao qual Sartre se refere seria justamente a consciência do ser humano, neste caso, o
para-si. O Nada está contido no Ser, é uma negação, uma parte da estrutura da filosofia sartriana
que classifica e evidencia a contingência gratuita da existência.

O homem é o ser cujo Nada vem à realidade humana, carregando dentro de si mesmo o nada.
É preciso o Ser para que o nada possa existir, origina-se no coração do Ser. É este nada que
possibilita a liberdade, o fazer a si mesmo do ser humano. Sem o nada dentro do Ser, tudo seria
em-si e o para-si desapareceria. Entretanto, o para-si, é a negação que possibilita o nada, é a
consciência vazia em si mesma, ela tem dentro de si a liberdade. O ser humano é liberdade
justificada em o nada de ser que o homem é. O homem, portanto, carrega o nada dentro de sua
cabeça, trazendo-o para o mundo objetivo, e a partir disso, a liberdade que está intrínseca a
esse vazio, a esse nada de ser do homem, se manifesta à existência. Vejamos uma reflexão
sobre o nada a seguir:

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“O Nada não se nadifica, o Nada é nadificado”. “Deve, pois, existir um Ser – que
não poderia ser o Em-si – que tenha a propriedade de nadificar o Nada, [...] um ser
pelo qual o nada venha às coisas.” [...] A conclusão salta aos olhos: o nada se
manifesta no mundo através daquele ser que se pergunta sobre o nada de seu
próprio ser, ou que deve ser o próprio nada. Esse ser bizarro é o homem: “O homem
é o ser pelo qual o nada vem ao mundo”. (BORNHEIM, 1971, p.43).

Temos o conceito do nada em Sartre, como um ser que vem ao mundo a partir do homem. O
nada habita o Ser, pois sem este o mesmo não poderia existir, é uma contraposição ao Ser. Ele
é aquilo que está dentro do ser como um verme em seu coração. Um vazio e negação de si
mesmo. Nesse contexto, Bornheim diz que:

O nada não se reduz a um mero conceito vazio, desprovido de sentido. Não basta
insistir, como faz Bergson, que se trata de um pseudoconceito por ser conceito de
nada. [...] “O nada só se pode nadificar sobre um fundo de ser; se o nada pode ser
dado, não é nem antes nem depois do ser, nem, de modo geral, fora do ser, mas
deve ser dado no seio mesmo do ser, no seu coração, como um verme”.
(BORNHEIM, 1971, p. 44).

De acordo com o que foi dito acima, o nada não é apenas um conceito sem sentido, pelo
contrário, é sem sombra de dúvida, o conceito pelo qual é engendrado a liberdade do ser
humano. É neste nada que o homem é liberdade, é no para-si, onde é vazio e negação de si
mesmo, que manifesta os seus possíveis. O nada é aquilo que está dentro do Ser, permeia-o
como se fosse uma secreção do homem possibilitada pela consciência.

A liberdade em Sartre está como substância, sendo assim, o ser humano, a partir do momento
em que nasce, nasce livre, carrega em si mesmo esta liberdade durante toda sua existência. O
ser humano vem ao mundo com essa possibilidade. É dentro dessas possibilidades que pode
escolher como conceber a si mesmo no mundo.

Mas o que é liberdade?


Segundo COX (2011):
A liberdade não é uma capacidade de consciência; a liberdade é da natureza da
consciência. A liberdade não é uma essência, assim como a consciência não é uma
essência. Ela não é um potencial que existe antes do exercício do ser. A liberdade
é seu exercício. Entender ação e escolha, portanto, é a chave para entender a teoria
de Sartre sobre a liberdade. (COX, 2011, p. 93)

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Esta liberdade existencial do homem é constituída pelo vazio que é o ser humano, no que diz
respeito a sua própria essência, pois o ser humano é o único ser cuja existência precede a
essência, diferente do ser-em-si, que é opaco e incapaz de fazer a si mesmo. O ser-para-si,
sendo negação de si mesmo, abre a entrada do fazer-se a si mesmo.

2.2. IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE


A ipmortância nuclear da liberdade individual no conceito de desenvolvimento relaciona-se
com duas razões:
✓ a avaliação e a eficácia. O sucesso de uma sociedade deve ser avaliado pelas liberdades
concretas de que gozam os seus membros. A liberdade para fazer coisas a que se atribui valor
tem valor por si mesmo, e
✓ Melhora as condições para obter resultados.
✓ A liberdade é não só base da avaliação do sucesso e do fracasso, mas também a principal
determinante da iniciativa individual e da eficácia social.
✓ proporciona ao homem a escolha, o acto de optar por sua própria essência.

2.3. LIMITES DA LIBERDADE


✓ Linchamento virtual;
✓ Leis supremas;
✓ Plágio da obra de alguém sem o consentimento do autor (obra literária ou musical);
✓ Assaltos;
✓ Roubos;
✓ Doenças, etc.

2.4 DIFERENÇA ENTRE LIBERDADE E LIBERTINAGEM

Liberdade é o direito de ir e vir, porém, com certo limite, assim como tudo no
universo. Algo sem limites é destrutivo em qualquer lugar, e por isso, uma
sociedade não foge da regra. Assim, para nossa sociedade e o convívio terem o
mínimo de “harmonia”, temos que nos limitar baseando-nos em regras morais,
éticas, nas leis, etc. Ao passo que Libertinagem é a pratica da liberdade sem
consciência, respeito; é transgredir o direito alheio e criar mal a si mesmo (assim
como aos outros), pois transgredindo o direito alheio, o libertino abre margem para
ter seus direitos (sua liberdade) transgredida, privada, enfim (SARTRE, 2012, p.
24).

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2.5. COMO É ENTENDIDA A LIBERDADE NOS DIAS DE HOJE?
A liberdade nos dias de hoje encontra-se no Cristianismo visto que o homem não é simples
animal, ele é criação à imagem e semelhança de seu Criador e, portanto, um ser doptado de
dignidade. Além disso, o ser humano será considerado individualmente, sendo o único
responsável por seus actos e por eles será julgado.
Daí a idéia de que “as escolhas fundamentais feitas pelas pessoas devem ser respeitadas”
(MORANGE, 2004, p. 29, 30).
No entanto, não apenas a teologia cristã, mas especialmente as teorias filosóficas do século
XVIII contribuíram para a afirmação histórica da liberdade individual como direito do homem.

2.6. RELAÇÃO ENTRE LIBERDADE E A VERDADE TENDO EM CONTA A LEI


NATURAL
Podemo-nos ter a intenção de entender a relação entre a verdade e a liberdade realizando três
movimentos:
(1) revisamos a noção de verdade;
(2) revisamos a noção de liberdade e, por fim;
(3) compreendemos a relação entre verdade e liberdade.
Ressaltamos que não temos por objectivo construir um saber absoluto acerca de verdade e
liberdade, primeiramente, porque consideramos que a verdade é sempre de carácter inventivo,
e também porque acreditamos que toda ideia é devir, ou seja, está em formação (DELEUZE;
GUATTARI, 1997).
Portanto, ao final desta reflexão, o que temos é da ordem da interpretação.
Em Microfísica do (2007, p. 14) Foucault propõe que “a verdade é destemundo; ela é produzida
nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder”, reiterando
através da expressão “deste mundo” a ideia proposta também por Nietzsche (2007) em A
verdade e a mentira no sentido extramoral, de que todo discurso é ficcional, ou seja, uma
construção.
Para Foucault (2007), “a ‘verdade’ está circularmente ligada a sistemas de poder, que a
produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz”, afirmando que se trata de um
mecanismo que não somente cria “o verdadeiro”, mas que também se apropria disso para
regulamentar o comportamento de indivíduos (p. 14).
Ademais, o autor ainda pontua que o estabelecimento de um regime que cria regras para

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Diferenciar o verdadeiro do falso “não é simplesmente ideológico ou superestrutural; foi uma
condição de formação e desenvolvimento do capitalismo” (FOUCAULT, 2007, p. 14), uma
vez que a verdade é necessária para fazer funcionar o poder político e a economia.

2.6.1 EM QUE CONSISTE A LEI NATURAL?


Antes, propriamente, de nos debruçar sobre o problema da lei natural, é importante esclarecer
que o pensamento de Nietzsche, apesar de sua face negativa, ou seja, crítica, expressa pela
transvaloração de todos os valores, pela vontade de potência e pelo além do homem, remete
também a um elemento positivo, expresso pelo eterno retorno do mesmo e pelo amor fati. Por
essa razão, como recorda André Luís Mota Itaparica [...] é importante ressaltar que sua
filosofia, ao investigar a gênese da moral, não se reduz à crítica, mas também comporta um
aspecto normativo.
Para Nietzsche, “o papel fundamental do filósofo na cultura é o de legislar.” (ITAPARICA,
2016, p. 282).
O filósofo legislador tem um papel fundamental no cultivo da espécie humana, o que aproxima
a filosofia de Nietzsche ao aspecto político do pensamento platônico.
Desse modo, a própria natureza encontra-se submetida ao governo de leis, pois, como recorda
Asheley Woodward “[...] embora Nietzsche nunca use o termo ‘naturalismo’, ele evocou uma
‘divinização da natureza’ e uma ‘naturalização do homem’” (WOODWARD, 2016, p. 312). A
natureza constitui, com um homem, uma totalidade indissolúvel.
“O projecto naturalista de Nietzsche, pois, não adopta a descrição científica da natureza pura e
simplesmente, mas, antes, critica essa descrição em nome de um naturalismo mais radical”,
(WOODWARD, 2016, p. 325).
A busca desenfreada pelas ideias claras e distintas faz com que se lance no abismo dos
antípodas, de modo a se estabelecer, com exatidão, que uma coisa seja isso ou aquilo, como se
a natureza fosse governada por leis externas a ela.
O próprio conceito de natureza é, segundo Oswaldo Giacóia Júnior, associado ao “[...] de
regularidade derivado das leis [...] constituem os objectos da experiência, relações subsumidas
sob o conceito de leis naturais” (GIACÓIA, 2013, P. 32).

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“Todas as leis naturais são apenas relações de um x com y e z, e definimos leis naturais como
a relação com um xyz, cada uma das quais, por sua vez, só é conhecida por nós como relação
com outro xyz” (GIACÓIA, 2013, P. 32).

2.7. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Apesar de várias críticas, a exemplo de Hegel, Kant tinha uma visão de dignidade partindo do
fundamento da autonomia. Nesse sentido, desenvolveu o pensamento de que as coisas têm um
preço, por isso podem ser substituídas por outras, mas quando uma coisa está acima de um
preço e possui outros valores superiores pode-se dizer que possui dignidade. “Como
consequência, cada ser racional e cada pessoa existe como um fim em si mesmo, e não como
um meio para o uso discricionário de uma vontade externa.” (BARROSO, 2013, p.72).

2.7.1. CONCEITO
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual foi adotada e proclamada através da
Assembleia Geral das Nações Unidas 1948, define a dignidade como um direito inalienável.
Logo no art. I, da Declaração estabeleceu-se que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São doptadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às
outras com espírito de fraternidade.

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3.1 CONCLUSÃO

Hoje, o verdadeiro liberalismo é inseparável de uma certa concepção da igualdade e o poder


legítimo tem que ter uma base democrática e seu êxito depende da confiança por ele
conquistada no legislativo.
Como a liberdade, inerente à pessoa humana, e posta em relevo pela modernidade, vem sendo
conquistada pelo povo em nosso continente e tem possibilitado a instauração da democracia,
como o sistema de governo mais aceito, percebemos que seu exercício é ainda mais formal que
real e que temos muito a construir ainda em nosso país em fundamentos realmente
democráticos e participativo.
Se temos hoje, uma participação quase geral do povo e através de um governo representativo,
garantindo sua legitimidade através do voto, ainda que deficiente, devemos aos princípios
iniciadores da Filosofia Política que consistiu em ter conseguido fazer valer os direitos do
indivíduo perante a onipotência do Estado.

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3.1 BIBLIOGRAFIA

BARROSO, L. R. (2013). A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional


Contemporâneo: A Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jurisprudência
Mundial. tradução Humberto Laport de Mello. 2 reimpressão. Belo Horizonte: Fórum.
BORNHEIM, G. A. (1971). Sartre: Metafísica e Existencialismo. São Paulo: Perspectiva.
COX, G. (2011). Compreender Sartre. Tradução de Hélio Magri Filho. 3. ed. Petrópolis:
Vozes.
DELEUZE, G.& GUATTARI, F. (1997). O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34.
FOUCAULT, M. (2007). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Editora Graal.
GIACÓIA Jr, O. Nietzsche (2013). O humano Como Memória e Promessa. Petrópolis:
Vozes.
HURSSERL, E. (2008). A ideia de fenomenologia. Tradução de Artur Morão. Rio de Janeiro:
Edições 70, 2008.
ITAPARICA, A. L. M. (2016). Legislador (Gesetzgeber). In: Dicionácio Nietzsche. São
Paulo: Edições Loyola.
MORANGE, J. (2004). Direitos humanos e liberdades públicas. Trad. Eveline Bouteiller.
Barueri: Manole.
SARTRE, J. P. (2012). O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 24. ed. Trad.
Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2015.
WOODWARD, A. (2016). Nietzscheanismo. Trad. Diego Kosbiau Trevisan. Petrópolis:
Vozes.

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