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Escola Secundária de Santa Maria da Feira

18 de Junho de 2021
Turma 10.ºB

Ensaio Filosófico

Trabalho realizado por: Inês Pereira n.


Docente: Mónica Silva
º11 e Juliana Reis n. º16
Será que os mais favorecidos têm a obrigação moral de ajudar os que vivem em pobreza
extrema?

Introdução

Quando falamos em reduzir a desigualdade pensamos logo em justiça, um tema fortemente


debatido por ativistas, advogados, polícias, professores e até mesmo por nós, estudantes,
ainda que não usemos diretamente esta palavra. Mas tratar-se-á a justiça de igualdade ou
equidade? Será justo ganhar o que merecemos? Ou ganhar o que precisamos?

Todos nós ambicionamos viver numa sociedade justa, porém existem diferentes
compreensões da mesma.  Alguns consideram que uma sociedade justa é aquela que visa
melhorar a média da qualidade de vida dos seus cidadãos, promovendo as igualdades básicas e
igualdade de oportunidades. Outros, consentem que esta deve proporcionar o máximo de
liberdade possível, regendo-se num estado mínimo. Mas qual destas vertentes será mais
correta?

A verdade é que por mais que tentemos erradicar a pobreza, o mesmo é extremamente difícil,
pelo que vivemos rodeados de desigualdade e iniquidade social.

É de referir que o mundo se divide em dois grupos de países: países em desenvolvimento e


países desenvolvidos, entre os quais são percetíveis as presentes desigualdades na distribuição
da riqueza pela população, no acesso à educação e a cuidados de saúde básicos. Este notável
desequilíbrio promove a pobreza absoluta nos países em desenvolvimento e a riqueza
proeminente nos países desenvolvidos. Porém, existirão sempre pessoas mais ricas e pessoas
mais pobres, mesmo falando num país desenvolvido, como Portugal. Haverá sempre
discrepâncias no que diz respeito aos cargos que ocupamos na sociedade e logicamente aos
recursos económicos dos quais dispomos.

Posto isto, decidimos averiguar o significado de pobreza em dicionários distintos, e atentámos


as seguintes definições: “Estado ou qualidade de pobre”; “Estado de quem tem carência do
necessário à sobrevivência”; “indigência, miséria”. Após esta acurada análise, concluímos que
a pobreza é maioritariamente associada a uma falta de recursos económicos, o que faz destas
definições congéneres. Mas a questão com que nos deparamos é: Será que a pobreza está
unicamente associada à economia?

Não, a pobreza pode ser também cultural e social, dentro das quais se inserem a falta de
acesso à educação e o desprovimento de informação, meios imprescindíveis ao
desenvolvimento de um país.
Martin king citava: “Enquanto houver pobreza no mundo, nenhum homem poderá ser
totalmente rico… Toda a vida é interligada, estamos presos numa inevitável rede de
reciprocidade, amarrados num único fio do destino, o que afeta a um, afeta indiretamente a
todos.” Perante este depoimento, refletimos sobre o acentuado impacto que a pobreza
provoca em todos nós.

Na obra “O Fim da Pobreza”, o economista de renome mundial Jeffrey Sachs, sem abordar
ideologias radicais, propõe medidas para erradicar a pobreza extrema a nível mundial.

Este enuncia que é possível fazer progressos reais perante a enorme fatia da Humanidade que
continua a viver em pobreza extrema. Para tal, sugere o estabelecimento de parcerias com os
mais ricos, com o intuito de ajudar os que vivem em pobreza absoluta. Mas será esta medida
eficaz e justa, ou contribuirá para uma maior facciosidade e insatisfação? Como devem então
ser repartidos os bens sociais, a riqueza, os encargos, as oportunidades e os cargos políticos?

Neste ensaio, iremos expor os possíveis proveitos e as inconveniências da aplicação desta


medida. Vamos ainda manifestar a nossa opinião, defendendo uma determinada tese,
sustentada com argumentos válidos, que vise, portanto, responder ao problema enunciado.

Conjuntamente, é necessário enfatizar o quão importante é colmatar a pobreza a nível


mundial, uma vez que esta é iminente e debilita toda a humanidade, causando um enorme
sofrimento, que provem da fome, miséria, exclusão social, enfermidades…

Iremos também analisar conceitos, definições e argumentos, testando a nossa capacidade de


defesa de ideias de forma convincente. Conjeturamos, ampliar a nossa compreensão do
mundo, expandir os nossos horizontes intelectuais e consequentemente promover o nosso
pensamento crítico, conferindo-lhe autonomia.

Desenvolvimento

Existem duas respostas a este problema: o “sim” e o “não”.  John Rawls, pensa que sim, os
mais favorecidos têm a obrigação moral de ajudar os menos favorecidos. Defende o princípio
da liberdade igual, segundo o qual as leis, devem ser justas e garantir os mesmos direitos para
todos os indivíduos integrados na sociedade. Dita que a oportunidade de todos acederem a
cargos sociais, em pé de igualdade deve ser garantida (Princípio da igualdade de
oportunidades). Os impostos são uma forma indireta de distribuir justamente os bens sociais e
de promover a igualdade de oportunidades. Rawls salienta ainda, que existem desigualdades
económicas e estas só serão aceites se beneficiarem os menos favorecidos; a riqueza deve ser
distribuída de forma equitativa e o estado tem o poder de “tirar aos ricos para dar aos pobres”
(Princípio da diferença).

A fim de que isto seja executável, a desigualdade económica terá de ser fiscalizada, para que
possa reverter também a favor dos mais carenciados. Porém, ele desaprova o utilitarismo, na
medida em que uma sociedade justa não aceita, que os sacrifícios impostos a alguns, sejam
atenuados pelo aumento de vantagens, usufruídas por um maior número.

Rawls, apresenta uma conceção de justiça como equidade, melhor dizendo, é preciso que a
escolha dos princípios de justiça seja feita com total imparcialidade. Este, define essas
condições de equidade, recorrendo à posição original e a escolha sob um “véu de ignorância”:

“A posição original deve ser vista como uma situação puramente hipotética, caracterizada de
forma a conduzir a uma certa conceção de justiça. Entre essas características está o facto de
que ninguém conhece a sua posição na sociedade, a sua situação de classe ou estatuto social,
bem como a parte que lhe cabe na distribuição dos atributos e talentos naturais, como a sua
inteligência, a sua força e mais qualidades semelhantes. Parto inclusivamente do princípio de
que as partes desconhecem as suas conceções do bem ou as suas tendências psicológicas
particulares.” John Rawls

Ao analisarmos atentamente este excerto do argumento da posição original, constatamos que


todos os cidadãos estão hipoteticamente cobertos por um “véu de ignorância”, que os impede
de reconhecer as suas características particulares e por sua vez de escolher em função dos
seus interesses pessoais. Assim, estes devem ajudar-se mutuamente, independentemente dos
recursos económicos dos quais dispõem, segundo a regra do maximin: estratégia de decisão
que permite maximizar todas as oportunidades; tomar uma decisão baseando-nos no pior que
nos poderia acontecer.

Contrariamente, Nozick considera uma injustiça os mais ricos pagarem mais impostos, dado
que estes são forçados pelo Estado a ajudar os indivíduos mais pobres quer queiram quer não.
Deste modo, há uma violação da liberdade e autonomia das pessoas. Podemos até dizer, que
estas são tratadas (como Kant diria) como meios e não como fins, violando o Princípio da
Humanidade.

Neste contexto, Nozick sustenta a conceção do Estado Mínimo, ou seja, um tipo de estado que
procura intervir o mínimo possível na economia e na vida das pessoas, limitando-se a
assegurar os direitos básicos da população. Ainda, defende que devemos recompensar os
talentos naturais e aceitar as desigualdades naturais.

Consideremos o seguinte exemplo:  Alex Turner é o único vocalista da banda Artic Monkeys,
sendo o motivo de uma grande atração de pessoas para os seus concertos. Suponha que este
exige que os preços dos bilhetes para a sua atuação têm um custo acrescentado de 2 euros, ou
recusar-se-á a participar neste, ficando a atuação comprometida.

Nozick, diria que sendo Alex Turner a estrela da banda, este, tem o direito de receber mais
dinheiro do que os restantes membros desta. Deste modo, defende que não podemos nem
devemos tentar igualar o ambiente social naturalmente desigual. Além disso, Alex Turner tem
o direito de usufruir dos seus bens adquiridos, desde que estes não tenham sido concebidos
de forma desonesta. Ou seja, se o seu talento o permite acumular muitas riquezas, enquanto
outras pessoas passam dificuldades, o mesmo não é da sua responsabilidade. Não devemos,
portanto, ser forçados a ajudar os menos necessitados, se essa não for a nossa vontade.

Após aprofundadas ambas as teses, aferimos que estas são apoiadas com fortes argumentos.
No entanto, surgem objeções para as mesmas.

A tese de Rawls é criticada por não compensar as desigualdades e os talentos naturais dos
indivíduos mais ricos, a menos que com isso beneficiem os menos favorecidos. Além disso,
está presente a violação da liberdade, uma vez que o Estado interfere diretamente na nossa
vida. Ademais, atentando ao artigo 27º "Ajudas de custo" do Código de Processo Civil, "As
ajudas de custo..., são fixadas nos termos da legislação aplicável aos trabalhadores que
exercem funções públicas", partimos do princípio de que, se deve ajudar apenas os
trabalhadores que prestam serviço ao estado, havendo, portanto, uma violação do princípio da
diferença.

Já a tese de Nozick, é criticada por favorecer algumas pessoas em detrimento das outras,
desvalorizar as capacidades humanas, uma vez que os cidadãos menos favorecidos não têm as
mesmas oportunidades que os mais favorecidos e por não se conseguir garantir que os mais
favorecidos ajudem espontaneamente os mais carenciados.

Na nossa ótica, a tese que melhor responderia ao problema enunciado é a de Nozick. Deste
modo, acreditamos que não é justo pagarmos impostos para benefício dos mais
desfavorecidos, e muito menos financiarmos serviços dos quais não beneficiamos.Assim, não
considerarmos correto o Estado descontar nos ordenados dos trabalhadores para apoio aos
mais desfavorecidos, pois embora este ato seja moralmente correto, não é justo que essa seja
uma exigência ou obrigatoriedade.

As objeções a Nozick anteriormente expostas, perdem a sua credibilidade, ao partir do


princípio de que devemos ter autonomia e independência económica, estar constantemente à
espera do contributo financeiro de outras pessoas para equilibrar as nossas vidas.

Conclusão

Em suma, o mundo em que vivemos é completamente capitalista, onde a distinção entre ricos
e pobres está muito presente. Deste modo, apesar de termos riqueza suficiente para acabar
com a pobreza se esta fosse repartida igualmente por todos seria apenas uma solução
temporária, tendo por isso, pouca eficácia. Assim, acreditamos que os mais ricos não têm a
obrigação moral de ajudar os menos favorecidos, uma vez que a redistribuição dos nossos
bens, é uma violação da nossa própria liberdade individual. E que sentido faz ajudarmos
alguém se essa não for a nossa vontade? Ser bom passa por estender a mão aos menos
favorecidos sem esperar nada em troca. Então, em vez de sermos forçados a ajudar os menos
favorecidos, deveríamos incentivar os cidadãos a viver não apenas para a sua felicidade
individual, mas também para a felicidade do próximo, visando mudar a mentalidade das
populações.

Referências

http://www.esc-sec-feira.org/?pl=preview_docs&doc=HnPhHFp81AROpEIK5upQbvQ0R.pdf

https://dicionario.priberam.org/pobreza

https://www.dicio.com.br/pobreza/

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/pobreza

https://www.wook.pt/livro/o-fim-da-pobreza-jeffrey-d-sachs/176700

https://www.pensador.com/frase/MjI3OTc2Mg/

https://notapositiva.com/ensaio-filosofico-sobre-a-pobreza/

https://aia.madeira.gov.pt/images/files/telensino/FILOS10_Aulas_5_e_6_19_e_26_maio.pdf

Livro de Código de Processo Civil, edição 34º de 2005, Miguel Mesquita

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