Você está na página 1de 1

Cód.

152535

CARACTERÍSTICAS DO TEATRO VICENTINO


Uma das características das obras de Gil Vicente é o recurso a personagens-tipo. As suas personagens não
são individuais, isto é, representam sempre um grupo, uma classe social, uma profissão. Desta forma, são uma
síntese dos defeitos e virtudes desses grupos. Assim, Gil Vicente satirizava a sociedade, sem atacar diretamente
alguma pessoa em particular.
A expressão latina “ridendo castigat mores”, que significa “é a rir que se castigam (corrigem) os
costumes”, foi o princípio que Gil Vicente aplicou à sua sátira – através do cómico, provocando o riso no público, o
dramaturgo denuncia os erros de cada classe social.
Os Tipos Sociais Vicentinos
É enorme a galeria das personagens vicentinas. Descontando os diabos, os anjos, as figuras
mitológicas, lendárias, alegóricas, e os heróis de cavalaria, são todas tipos sociais. A sua psicologia é uma
psicologia de grupo social, e não uma psicologia individual. Através delas é-nos ilustrado o
comportamento e a mentalidade do Fidalgo, do Escudeiro, do Frade, da Alcoviteira, etc...
Os tipos vicentinos abrangem o conjunto da sociedade portuguesa da sua época. Na base está o
camponês “pelado” por fidalgos e clérigos, a cuja voz Gil Vicente dá acentos comoventes. No cume
estão os clérigos de vida folgada e os fidalgos presunçosos e vãos, que vivem, uns e outros, de confiscar
o trabalho alheio, ajudados pelos homens de leis e pelos funcionários, que fabricam “alvarás” em
benefício dos seus afilhados.
António José Saraiva - Teatro de Gil Vicente (texto com supressões)

O "AUTO DA BARCA DO INFERNO"


O texto Auto da Barca do Inferno foi representado, pela primeira vez, em 1517, na câmara da rainha D.
Leonor, a qual se encontrava doente. As personagens da obra são o Anjo (arrais do Céu), o Diabo (arrais do
Inferno), o Companheiro do Diabo, Quatro Cavaleiros, o Enforcado, o Procurador, o Corregedor, o Judeu,
Brízida Vaz (alcoviteira), o Frade, o Sapateiro, o Parvo, o Onzeneiro e o Fidalgo. O Anjo e o Diabo são
personagens alegóricas (pois representam o Bem e o mal), enquanto as restantes personagens personificam
classes sociais e seus comportamentos típicos, sendo, por isso, consideradas personagens-tipo.

Argumento do auto:
O auto representa o julgamento das almas humanas na hora da morte. No porto estão dois arrais,
um conduz à Barca da Glória e outro à Barca do Inferno, por onde vão passar diversas almas que terão que
enfrentar uma espécie de tribunal, defender-se e enfrentar os argumentos do Anjo e do Diabo que surgem
como advogados de acusação. Através da brilhante metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das
diversas ordens sociais e denuncia a "podridão" da sociedade. Assim, a grande maioria das almas são
condenadas ao Inferno. Joane, o Parvo, fica no cais porque não é responsável pelos atos e o Judeu vai a
reboque da barca porque, não se identificando com a religião católica, não tenta embarcar na Barca da
Glória e é recusado pelo Diabo. Apenas os Quatro Cavaleiros vão embarcar diretamente na Barca da Glória,
porque se entregaram em vida aos ideais do Cristianismo na luta contra os mouros. Ao definir este percurso
para cada uma das almas, Gil Vicente tinha por certo o objetivo de fazer desta obra alegórica um auto de
moralidade, através do qual o Bem fosse compensado e o Mal castigado.

Escola sede: EB 2/3 de Paço de Sousa, Rua 20 de Junho, n.º 218, 4560-346 Paço de Sousa
Tel. 255 750 170 Fax 255 750 179, E-mail: agrupamentopacosousa@gmail.com

Você também pode gostar