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Gil Vicente não é um autor da Idade Média nem tão pouco um autor
moderno, situa-se numa “zona de transição”: faz adivinhar novos tempos
sem ter assimilado totalmente os ideais do renascimento humanista.
O teatro vicentino é representado essencialmente em salões, palácios,
capelas, igrejas e mosteiros.
Uma das características das obras de Gil Vicente é o recurso a
personagens-tipo. As suas personagens não são individuais, isto é,
representam sempre um grupo, uma classe social, uma profissão. Desta
forma, são uma síntese dos defeitos e virtudes desses grupos. Assim, Gil
Vicente satirizava a sociedade, sem atacar diretamente alguma pessoa
em particular. Nem por serem tipos sociais estas personagens deixam de ser indivíduos vivos, de
impressionante presença.
Os tipos vicentinos abrangem o conjunto da sociedade portuguesa da sua época. Na base está o
camponês “pelado” por fidalgos e clérigos, a cuja voz Gil Vicente dá acentos comoventes. No cume
estão os clérigos de vida folgada e os fidalgos presunçosos e vãos, que vivem, uns e outros, de
confiscar o trabalho alheio, ajudados pelos homens de leis e pelos funcionários, que fabricam
“alvarás” em benefício dos seus afilhados.
A expressão latina “ridendo castigat mores”, que significa “é a rir que se castigam os costumes”,
foi o princípio que Gil Vicente aplicou à sua sátira – através do cómico, provocando o riso no
público, o dramaturgo denuncia os erros de cada classe social.
As suas obras são como um “espelho”, pois reflete fielmente a sociedade do séc.XVI e só são
completamente percebidas quando as vemos representadas em teatro, sendo esta a componente
cénica que as valoriza.
Auto: este termo aplicava-se a peças de teatro de gosto tradicional. Os autos ao mesmo tempo
que divertiam, moralizavam o público pela sátira de costumes.
No Auto da Barca do Inferno é apresentado um processo de julgamento: a absolvição ou a
condenação depois da morte.
Argumento da obra
O auto representa o julgamento das almas humanas na hora da morte.
No cais estão dois arrais, um conduz à Barca da Glória e outro à Barca do Inferno, por onde vão
passar diversas almas que terão de enfrentar uma espécie de tribunal, defender-se e enfrentar os
argumentos do Anjo e do Diabo que surgem como advogados de acusação.
Através da brilhante metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das diversas ordens
sociais e denúncia a “podridão” da sociedade. Assim, a grande maioria das almas são condenadas
ao Inferno.
Elementos alegóricos
O cais onde se encontram as barcas - Fim da vida terrena. O local de passagem para a outra vida.
As barcas – Caminho que conduz à salvação/perdição.
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Cenário
O cenário representa a margem de um rio com duas barcas prestes a partir (alusão ao mito de
Caronte), a do Céu, cujo arrais é o anjo e a do Inferno cujo arrais é o diabo. Uma série de
personagens vai chegando ao cais: são as almas dos mortos que acabam de deixar o mundo e que
se apresentam perante o Juízo Final para serem julgados. Por estas razões classifica-se também a
obra como auto alegórico. Todas as personagens vão para o Inferno, com exceção do Parvo, que é
salvo devido à sua pobreza de espírito, e dos quatro Cavaleiros de Cristo que morreram a lutar nas
Cruzadas sendo logo acolhidos na barca da Glória.
Síntese
O auto representa o julgamento das almas humanas na hora da morte.
No porto estão dois arrais, um conduz à Barca da Glória e outro à Barca do Inferno, por onde vão
passar diversas almas que terão que enfrentar uma espécie de tribunal, defender-se e enfrentar os
argumentos do Anjo e do Diabo que surgem como advogados de acusação.
Através da brilhante metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das diversas ordens
sociais e denuncia a “podridão” da sociedade. Assim, a grande maioria das almas. Joane fica no
cais porque não é responsável pelos seus atos e o Judeu vai a reboque da barca porque, não se
identificando com a religião católica, não tenta embarcar na barca da glória e é recusado pelo
diabo.
Apenas os Quatro Cavaleiros vão embarcar diretamente na Barca da Glória porque se entregaram
em vida aos ideais do Cristianismo na luta contra os mouros. Ao definir este percurso para cada
uma das almas, Gil Vicente tinha por certo o objetivo de fazer desta obra alegórica um auto de
moralidade, através do qual o Bem fosse compensado e o Mal castigado.
1. Cómico de situação
- resultado da própria situação, das circunstâncias criadas pelas personagens
2. Cómico de carácter
- resulta do temperamento, da maneira de ser ou estar, da personalidade, do seu carácter
3. Cómico de linguagem
(resulta do uso de vários recursos linguísticos que têm como função provocar o riso)
.Uso de calão
.Diferentes registo de língua
.Ironia
.Jogo de palavras
.Pragas, rezas, provérbios
.Latim macarrónico
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Percursos cénicos
Símbolos
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Cena I
Elementos / Simbologia
- Pajem – simboliza a tirania e o desprezo pelos mais necessitados
- Cadeira – simboliza poder, o seu estatuto social
Percurso cénico
Caracterização psicológica
- Vaidoso – Infiel - Presunçoso - Tirano - Não ajudava os outros
Acusações
- Viveu a seu belo prazer - Foi tirano - Desprezou e não ajudou os mais fracos
Não se embarca tirania / neste batel divinal (...) Pera vossa fantesia / mui estreita é esta
barca (...) e porque, de generoso /desprezastes os pequenos...
ver minha dama querida... e ...ver minha mulher.
Argumentos de defesa
- Deixa na outra vida, quem reze por ele “…quem reze sempre por mim”
- É Fidalgo de solar (condição social – nobre) “ Sou fidalgo de solar/ é bem que me
recolhais.”
Destino Inferno
Intenção crítica
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Elementos / Simbologia
Percurso cénico
Cais – Barca do Diabo – Barca do Anjo – Barca do Diabo
Caracterização da personagem
Acusações
Argumentos de defesa
Destino
Inferno
Cómicos
Recursos expressivos
Intenção crítica
- Criticar a prática da usura, denunciando o enriquecimento rápido e fácil à custa dos mais
necessitados
- Fazer ver às pessoas que o dinheiro que tem não lhes vale de nada, quando morrerem o
importante é as boas ações que fizeram.
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Cena IV – O Parvo
Os Parvos têm, no teatro vicentino, uma função cómica, ocasionada pelos disparates que
proferem.
Assim acontece neste auto, embora, em certos passos, o Parvo se junte às personagens
sobrenaturais para criticar os que pretendem embarcar e sirva, algumas outras vezes, de
comentador.
Evidentemente que, nos termos desarticulados e ilógicos, ditos pelos Parvos, há, por vezes,
muito que refletir e analisar. Neste auto, isso acontece com a célebre resposta ao Anjo: «…
Samica alguém:» (ed. de 1518) ou «Não sou ninguém» (ed. de 1562) que tem sido comentada
por variadíssimos autores.
A decisão do Anjo de acolher o Parvo, na sua barca, está na lógica da doutrina católica: não
pode ser responsabilizado pelos seus atos quem nasceu irresponsável. É o que o Anjo exprime
muito sinteticamente com a palavra simpreza. Simplesmente, o Anjo não lhe ordena que
embarque imediatamente mas, pelo contrário, manda-o aguardar no cais os futuros
companheiros («espera entanto per i»).
Elementos / Simbologia
Não tem
Percurso cénico
Caracterização psicológica
Acusações
Não é acusado porque sendo um pobre de espírito não pecou por malícia ou maldade
Argumentos de defesa
Como não é acusado, não precisa de se defender. Tu passarás se quiseres / porque em todos
teus fazeres per malícia não erraste ... .
Destino
Fica no cais
Intenção crítica
* A função desta personagem é fazer rir e vai acusar/comentar as personagens que estão
para chegar.
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Cena V – O Sapateiro
Mestre Gil apresenta um sapateiro, carregado de formas, acusado pelo Diabo de roubar o povo. O
Sapateiro não nega o facto e começa a citar, em sua defesa, a cumprimento de preceitos
religiosos: faleceu confessado e comungado, ouviu missas, ofereceu donativos à Igreja e assistiu
às horas de finados. É o Diabo quem o elucida que tudo isso nada abona em sua defesa, uma vez
que roubava. Quando o Sapateiro roga ao Anjo que o acolha na barca, este objeta-lhe: «A
carrega te embaraça». Mais adiante, esclarece um pouco mais o seu pensamento, quando,
referindo-se às formas, adverte o Sapateiro: «Se tu viveras dereito, / elas foram cá escusadas.».
Para interpretar convenientemente estes dois passos, só vislumbramos uma solução: as formas
tinham sido compradas com o dinheiro que o Sapateiro roubara aos seus fregueses e eram como
que a materialização dos seus pecados. Se esta interpretação estiver certa, o dramaturgo não
considera as formas só como um elemento distintivo e caracterizador de tipo mas também como
objetos que o Sapateiro fora obrigado a levar para o seu julgamento como provas de acusação.
Com toda esta cena, procurou o autor incutir no espectador esta doutrina: os preceitos devotos
(ouvir missa, confessar-se, comungar, etc.) só ajudam os que levam uma vida verdadeiramente
honesta. É, portanto, mais uma cena moralista de carácter religioso do que a condenação dum
Sapateiro, acusado de roubar o povo. Aliás, em muitos outros passos, Mestre Gil defende este
ponto de vista: ser-se religioso consiste mais em atuar com espírito evangélico do que assistir ou
cumprir os atos externos do culto.
Personagem / Classe social
Sapateiro/ povo
Elementos / Simbologia
Percurso cénico
Caracterização psicológica
- Mentiroso
- Malcriado
- Ladrão
- Hipócrita
- Falso religioso
- Trocista
Acusações
- É mentiroso
- A vida religiosa que exibia era falsa, pois não tinha uma verdadeira devoção.
tu roubaste/ bem trint’anos o povo/ com teu mester(...) Essa barca que lá está / leva quem
rouba de praça (...)
Argumentos de defesa
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Destino
Inferno
Intenção crítica
- A hipocrisia daqueles que praticam, sem fé, os diferentes atos religiosos. Para G.V. era mais
importante uma verdadeira fé, baseada em ações espirituais do que em práticas, como
assistir a cultos ou cumprir atos externos de culto.
Cena VI – O Frade
Trata-se dum frade cortesão, dançarino, cantor e esgrimista que surge, no estrado, com a sua
amante pela mão. O Diabo sentencia que ele irá para o Inferno por viver amancebado,
desprezando assim os votos de castidade que formulara. Toda a defesa do Frade consiste em
acreditar que o hábito que enverga o livrará das chamas infernais. Mas repelido pelo Anjo,
resigna-se e entra, juntamente com a sua Florença, na barca da perdição.
Frade/ clero
Elementos / Simbologia
Percurso cénico
Caracterização psicológica
Apresenta-se como cortesão, o que revela que ele frequentava a corte e os seus
prazeres (era um frade mundano)
Usa o facto de ser Frade naquele tempo (pretende mostrar que o clero se mostrava
superior, poderia fazer o que quisesse sem ser condenado)
Aceita a sentença porque se o Anjo se recusa a falar com ele é porque todos os
seus pecados foram graves
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Acusações
Argumentos de defesa
Destino
Inferno
Intenção crítica
- Criticar os membros do clero que não viviam em conformidade com os preceitos religiosos/
cristãos
- Denunciar a contradição entre os atos praticados e os valores morais que o clero devia
assumir.
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elemento distintivo. Trata-se duma linguagem melíflua, lisonjeira, repleta de termos carinhosos,
embora empregados hipocritamente. É notar como a Alcoviteira tenta cativar o Anjo, chamando-
lhe mano, meus olhos, minha rosa, meu amor, minhas boninas, olhos de perlinhas finas, etc. Seria
certamente com esta lábia que ela conseguia atrair as jovens à chamada vida fácil.
A defesa arquitetada e posta em prática pela Alcoviteira revela mentira, hipocrisia, descaramento.
Considera-se uma mártir por ter sido açoitada diversas vezes e compara a sua missão à dos
apóstolos.
Chega até a afirmar que converteu mais moças do que Santa Úrsula, que nenhuma delas se
perdeu e que todas se salvaram. Trata-se duma linguagem ambígua, em que os termos converter,
salvar e perder-se, frequentes em textos religiosos, saem dos seus lábios com um significado
chulo.
O tipo está bem caracterizado mas Gil Vicente critica a prostituição e os seus agentes muito
superficialmente. Nem sequer alude às causas socioeconómicas que impeliam as moças a
prostituírem-se.
O nosso dramaturgo faz uma crítica a nível popular, explorando o pormenor faceto e foge ou é
incapaz de estudar os problemas que equaciona com uma certa profundidade.
Alcoviteira/ povo
Elementos / Simbologia
- Raparigas/ jóias/ Roupas/ estrato de cortiça/ casa movediça/ cofres de enleios/ armários de
mentiras/almofadas/ frutos alheios - simbolizavam a sua atividade profissional e seus
pecados (imoralidade, mentira, roubo)
Percurso cénico
Caracterização psicológica
Acusações
- Desencaminhou as raparigas
- Roubou e mentiu
Argumentos de defesa
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- Considerava-se “angelada” (protegeu as raparigas)
Destino Inferno
Intenção crítica
Gil Vicente pretende:
Gil Vicente descreve o tipo do Judeu, exagerando sobretudo dois traços: o apego à sua religião,
simbolizado no bode expiatório que ele não quer largar e o seu proverbial amor ao dinheiro,
expresso nas moedas com que tenta subornar o barqueiro. O transporte do bode redunda em
cena cómica quando o Diabo se recusa a conduzi-lo na barca e, mais tarde, resolve levar ambos
a reboque. Este pormenor de o Diabo não ter permitido a entrada do Judeu na sua barca é
muito significativo: marginaliza de tal modo o Judeu que o coloca num plano inferior ao dos
restantes condenados ao Inferno. Até o Parvo troca o seu papel de comentador pelo de
acusador e culpa o Judeu de profanar sepulturas cristãs e de comer carne em dia de jejum.
Evidentemente que o retrato da sociedade quinhentista ficaria incompleto se, no auto, não
figurasse um judeu. Apesar de, na carta dirigida a D. João III e nalguns passos da sua obra,
termos provas de que o nosso dramaturgo não concordava com a perseguição movida aos
judeus e cristãos-novos, a verdade é que, como cristão-velho, dirige, na sua mesma obra,
ásperas censuras ao judaísmo em geral. Gil Vicente procura demonstrar, nesta cena, que o
apego do Judeu à sua religião era tão forte que, nem mesmo depois de morto e com a verdade
à vista, abandonava as suas ideias.
O Parvo desempenha o papel de acusador. Insinua que o Judeu roubou o bode, acusa-o de
profanar as sepulturas cristãs e de não respeitar a abstinência e o jejum cristão (vv. 598-609).
Esta situação, à semelhança da forma como o Judeu é tratado em toda a cena, explica-se pelas
circunstâncias que os cristãos-novos viviam em Portugal: sendo excluídos da sociedade regular, é
lógico para a mentalidade da época que tenham dificuldade em serem aceites até na sociedade
dos condenados. Por isso, o Judeu e o seu bode são levados a reboque, sendo a personagem
colocada num plano inferior ao de todos os outros condenados.
O Judeu sabe, à partida, qual será o seu destino: se, em vida, nunca foi aceite pelos cristãos,
nunca poderia ter entrada na barca da Glória. Além disso, com essa atitude, o Judeu mostra que
nunca deixará de professar a sua religião.
Só gozando de grande prestígio na corte, Gil Vicente poderia atrever-se a fazer declarações como
as que aqui estão relatadas e que contrariavam, em tudo, a mentalidade da época.
Judeu/ povo
Elementos / Simbologia
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Bode – simbolizava o seu fanatismo religioso
Percurso cénico
Caracterização psicológica
- Teimoso - Persistente
Acusações
- Praticou o Judaísmo
- Não se defende, pois se o Judaísmo era a sua religião, era essa que ele tinha que respeitar
Destino
Inferno
Intenção crítica
Depois do Judeu ter embarcado, veio um Corregedor, carregado de feitos. Quando chegou ao batel
do Inferno, com sua vara na mão, chamou o barqueiro, pensando ser servido. O barqueiro, ao vê-
lo, fica feliz, pois esta seria mais uma alma que ele conduziria para o fogo ardente do Inferno.
O Corregedor era um dos eleitos para a sua barca, porque durante toda a sua vida foi um juiz
corrupto, que aceitava perdizes como suborno. O Diabo começa a falar em latim com o
Corregedor, pois era usado pela Justiça e pela Igreja, e era considerada uma língua culta. Os dois
começam a discutir em latim, o Corregedor por se achar superior ao Diabo quer também
demonstrar-lhe que, pelo facto de ser um juiz prestigiado, não poderia entrar em tal barca. O
Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, cita, inclusive, a sua mulher, que aceitava
suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que nisso ele não estava envolvido, esses eram
os pecados de sua mulher e não os seus.
Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador,
carregando vários livros. Depara-se com o Corregedor e, espantado por encontrá-lo ali, questiona-
o para onde ia, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz: para o Inferno e que também era
bom ele ir entrando logo.
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O Corregedor e o Procurador não queriam entrar na barca, pois diziam-se homens de fé, sabedores
da existência de outra barca em melhores condições que os conduziria para um lugar mais ameno
– o Céu.
Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo mostram-lhes que as suas ações os impediam de
entrar na barca da Glória, pois tinham feito mal e era agora altura de pagar, com a ida das suas
almas para o Inferno.
Desistindo de ir para o paraíso, os dois entram no batel dos condenados e deparam-se com Brízida
Vaz, que fica satisfeita com esta entrada, pois enquanto viveu foi muito castigada pela Justiça.
Corregedor – juiz
Procurador - advogado
Elementos - Simbologia
Percurso cénico
Caracterização psicológica
- Corrupto - Altivos - Presunçosos - Desonestos
- Mentirosos
- Falsos religiosos - Injustos - Parciais
Acusações
Argumentos de defesa
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Destino
Inferno
Intenção crítica
- Atingir todos os que se vão confessar e que ocultam os pecados mais graves.
Cena X – O Enforcado
Após a entrada dos dois oficiais da justiça, Corregedor e Procurador, vem um homem que morreu
enforcado que, ao chegar ao batel dos mal-aventurados, começou a conversar com o Diabo.
Tentou explicar que não iria no batel do Inferno, pois já tinha sido perdoado por Deus ao morrer
enforcado acreditando no que lhe dissera Garcia Moniz. O Diabo diz-lhe que está enganado e
predestinado a arder no fogo infernal.
Desistindo de tentar fugir ao seu destino, acaba por obedecer às ordens do Diabo para ajudar a
empurrar a barca e a remar, pois o momento da partida aproximava-se.
Curiosidades:
o facto de esta cena ser diferente das outras cenas do auto, uma vez que a personagem
interveniente é mais vítima do que culpada;
Enforcado/ povo
Elementos / Simbologia
- Corda – Representa a forma como o Enforcado morreu e a crítica aos oficiais da Justiça que
condenavam injustamente
Percurso cénico
Cais – Barca do Diabo
Caracterização psicológica
Acusações
Não existem
Argumentos de defesa
Absolvição garantida por Garcia Moniz
Destino
Inferno
Intenção crítica
- Denunciar a cumplicidade dos altos funcionários da corte (Garcia Moniz) e dos criminosos.
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Depois do Enforcado, entraram quatro Cavaleiros a cantar, cada um trazia a Cruz de Cristo, para
demonstrar a sua fé, pois tinham lutado numa Cruzada contra os Muçulmanos, no norte da África.
Ao passarem na frente da barca do Inferno, cantando, segurando as suas espadas e escudos,
o Diabo não resiste e diz-lhes para entrarem, mas um deles responde-lhe que quem morre por
Jesus Cristo não entra em tal barca.
Tornaram a prosseguir, cantarolando em direção à barca da Glória, sendo muito bem
recebidos pelo Anjo que já estava à sua espera há muito tempo
Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram para o Paraíso, já que morreram pela
expansão da fé e por isso estavam isentos de qualquer pecado.
Elementos / Simbologia
Percurso cénico
Caracterização psicológica
Destino Céu
Intenção moralizadora
- Transmitir a ideia de que só é verdadeiramente salvo aquele que viver uma vida dedicada a
Cristo, desprendida de bens materiais
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Argumentos
Personagens Símbolos Caracterização Sentença
de defesa de acusação
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As “moças ▪ considera-se ▪ a acusação é Mentirosa, Condenada a
que vendia”, uma mártir por tão evidente que hipócrita, embarcar no
seiscentos ter sido nem o Anjo nem descarada, batel infernal.
virgos açoitada várias o Diabo sedutora, falsa,
postiços, vezes; precisam de a manipuladora.
joias e ▪ compara a enunciar.
vestidos sua missão à
roubados, dos apóstolos;
Alcoviteira uma casa ▪ “converteu”
movediça, muitas moças.
um estrado
de cortiça e
dois coxins.
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CONTEXTUALIZAÇÃO
Renascimento
Séculos XV e XVI
Época de mudança ao nível da Europa
Nasce na Itália do séc. XV, com a riqueza proveniente do comércio
Investimento em arte como mostra de riqueza
Os artistas e intelectuais criaram uma rede através de viagens e troca de correspondência
Humanismo; antropocentrismo (o Homem mentaliza-se das suas capacidades), contrariando o teocentrismo medieval
Valorização da razão e da experiência para certificação da verdade
Descobrimentos; repensar da relação do Homem com o mundo; valorização da Natureza
Abalo das crenças: aparecimento do Protestantismo e teoria heliocêntrica de Copérnico
Invenção da imprensa e maior facilidade de divulgação dos livros
Valorização da antiguidade clássica greco-romana. Representam equilíbrio, proporção e regularidade
Imitar os clássicos, imitar a Natureza
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CARACTERÍSTICAS DA EPOPEIA
Uma epopeia é a narrativa dos feitos grandiosos de um indivíduo ou de um povo. Nesta definição encontramos os
elementos essenciais de qualquer texto épico.
Enquadra-se no género narrativo - é sempre um relato de acontecimentos: o sujeito da enunciação assume-se como
narrador e dispõe-se a fazer o relato de um acontecimento ou conjunto de acontecimentos a um determinado público; a
dimensão e a natureza do público depende do assunto objeto do relato, presumindo-se que será sempre constituído pelas
pessoas nele interessadas; se o assunto disser respeito a uma determinada comunidade o público será mais restrito; se o
assunto tiver um interesse mais vasto, o público será mais alargado, podendo abranger potencialmente toda a
humanidade.
O assunto deverá ter um carácter excecional. Nem todas as ações são suscetíveis de serem tratadas de forma épica; é
necessário que, no entendimento do narrador (e do seu público), essas ações se distanciem dos acontecimentos vulgares,
assumam um carácter de excecionalidade. Nas epopeias primitivas os feitos narrados são de carácter lendário, embora
essas ficções tenham sempre um fundo histórico. Em algumas epopeias de imitação, no entanto, o assunto é histórico.
Os eventos exigem um agente e, tratando-se de eventos excecionais, o agente deverá ser igualmente um ser de
exceção, um ser que, pela sua origem, pelas suas características, se distancie, se imponha aos seus semelhantes (herói),
pouco importando que se trate de um indivíduo ou de uma coletividade (herói individual ou herói coletivo). Na Ilíada e na
Odisseia, escritas no século VI a.C., o herói é individual: num caso, Aquiles; no outro, Ulisses. N' Os Lusíadas o herói é, como
o título indica, coletivo - o povo português. Já na Eneida de Virgílio há uma certa ambiguidade: o herói parece ser individual,
Eneias, mas na realidade o objetivo do poema é exaltar o povo romano.
Característica de todas as epopeias é a utilização de um estilo elevado, correspondente à grandiosidade do assunto, e
que se traduz na seleção vocabular, na construção frásica extremamente elaborada e na abundante utilização de recursos
estilísticos.
Externa:
Verso decassilábico, maioritariamente heroico (acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (acentos
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nas 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas)
Estrofes de oito versos com esquema abababcc (oitava heroica)
10 Cantos.
Interna:
Proposição: o poeta anuncia o que vai cantar (I, 1-3)
Invocação: pedido às divindades inspiradoras (I, 4-5; III, 1-2; VII, 78-82; X, 8)
Dedicatória: oferecimento a personalidade importante (facultativa)
Narração: ações do protagonista
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O poeta apresenta ao Leitor o assunto que vai tratar ao longo do poema. Por
isso, o texto está escrito na primeira pessoa (quem fala é o próprio poeta):
«Cantando espalharei [eu] por toda parte, / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte.» (est. 2).
2. ª parte (est. 3)
Camões afirma que a nova epopeia (a sua) superará as epopeias antigas que cantavam
heróis fantasiosos - Ulisses e Eneias: «Sábio Grego e do Troiano» (est. 3); heróis reais cujos feitos
foram suplantados pelos dos portugueses: Alexandre Magno e o Imperador Trajano (est. 3).
O valor dos portugueses suplanta todos os feitos até agora cantados. O herói d'Os Lusíadas destaca -se
também na guerra (venceu Marte) e no mar (venceu Neptuno): «eu canto o peito ilustre Lusitano, / A
quem Neptuno e Marte obedeceram» (est. 3).
O poeta apresenta os feitos dos seus heróis como uma novidade, como algo nunca alcançado por seres
humanos, o que é destacado por expressões como: «mares nunca de antes navegados» (est. 1);
«Passaram ainda além da Taprobana» (est. 1); «Mais do que prometia a força humana» (est. 1); «outro
valor mais alto se alevanta» (est. 3).
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PLANOS
O da Viagem – “As armas e os barões assinalados/Que, da Ocidental praia Lusitana (…) / Passaram
ainda além da Taprobana/ (…) /edificaram/Novo Reino (…);
- O da História – “ (…) Reis que foram dilatando/A Fé, o Império (…)
- O do Poeta – “Cantando espalharei por toda a parte, /Se a tanto me ajudar o engenho e arte”;
- O da Mitologia – “Cessem do sábio Grego e do Troiano/As navegações grandes que fizeram; / (…)
A quem Neptuno e Marte obedeceram. /Cesse tudo o que a Musa antiga canta, /Que outro valor mais
alto se alevanta”.
RECURSOS EXPRESSIVOS
Emprego dos tempos e modos verbais
Pretérito perfeito: marca as ações passadas concluídas - «Passaram», «edificaram», «sublimaram»
(est. 1).
Presente: contrasta com o valor do pretérito; o poeta passa a referir-se aos heróis do presente ou
do futuro - «Se vão da lei da morte libertando» (est. 2).
Gerúndio: marca a duração das ações, pois apresenta-as no seu decurso, a realizarem-se
gradualmente - «dilatando», «devastando», «libertando» e
«Cantando» (est. 2).
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INÍCIO DA VIAGEM
A estância 19 marca a abertura do plano da viagem. Seguindo o modelo clássico, a ação inicia-se in
medias res, uma vez que os nautas se encontram já no Canal de Moçambique, a meio da viagem
marítima.
A primeira parte da viagem, desde a partida de Lisboa, será relatada posteriormente por Vasco da
Gama, por meio de uma analepse (relato de acontecimentos ocorridos anteriormente).
- Assegurar a unidade da ação, pela criação de personagens ativas e humanizadas que se contrapõe a
personagens humanas, navegadores;
- Engrandecer os portugueses porque são os deuses que profetizam as vitórias e feitos futuros dos
futuros.
Imediatamente após o início do plano da viagem, surge o plano mitológico, dando ao leitor a ideia
de que estes dois planos funcionarão paralelamente ao longo de toda a obra, constituindo a ação
central d’Os Lusíadas.
O consílio é convocado por Júpiter, pai dos deuses, por intermédio de Mercúrio. Respondem a esta
chamada deuses de todos os lados, como se descreve na estância 21. Esta reunião tem como
objetivodecidir
«Sobre as cousas futuras do Oriente» (est. 20), ou seja, os deuses terão de decidir sobre o futuro dos
portugueses, nomeadamente seesteschegarão à Índia, vencendo os mares«nunca de antes navegados».
2a. parte: Descrição de Júpiter (est. 22-23)
A reunião tem lugar no Olimpo. Os deuses sentam-se por ordem de importância, tendo Júpiter um
lugar de destaque.
O pai dos deuses é apresentado, através de um processo de caracterização direta, como um deus
superior (o que é realçado pelos adjetivos «soberano» e «alto» – est. 22), que se encontra envolto
numa áurea divina («ar divino» – est. 22). O poder que se associa a esta figura é também marcado pelo
facto de ser aquele que «vibra os feros raios de Vulcano» (est. 22) e pelos símbolos que a ele se
associam: a coroa, o cetro e o próprio «assento de estrelas cristalino» (est. 22).
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Os deuses que se encontram na reunião sentam-se abaixo de Júpiter. A organização do espaço
corresponde à hierarquia dos deuses: «(Precedem os antigos, mais honrados, / Mais abaixo os menores
se assentavam)» (est. 23).
Júpiter faz um discurso de abertura do consílio. É importante verificar que esta intervenção é
apresentada por meio de discurso direto, o que sinaliza a importância do que vai ser dito.
O discurso de Júpiter divide-se em vários momentos, que se relacionam com o passado, o presente e o
futuro dos portugueses, e tem como objetivo central convencer os deuses de que a decisão de ajudar
os nautas é a única possível e a mais justa. Os momentos do discurso de Júpiter são os seguintes:
1. momento (est. 24): dirigindo-se aos deuses (apóstrofe) – «Eternos moradores do luzente, /
Estelífero Pólo e claro Assento» –, Júpiter recorda-lhes que os Fados (o destino) já decidiram que os
portugueses teriam êxito na sua missão: «é dos Fados grandes certo intento / Que por ela se
esqueçam os humanos / De Assírios, Persas, Gregos e Romanos».
2. momento (est. 25-26): Júpiter evoca o passado glorioso dos portugueses, que venceram os mouros
e castelhanos, e, recuando até um passado mais longínquo, recorda as figuras de Viriato e Sertório,
que venceram os romanos. Neste momento do seu discurso, o pai dos deuses prova sobretudo que os
portugueses são um povo de heróis desde as suas origens.
3o. momento (est. 27): centrando-se no presente, Júpiter refere-se à viagem que os portugueses
fazem no momento, reiterando a fragilidade do homem face aos elementos da natureza
(«cometendo / O duvidoso mar num lenho leve»). Porém, esta fragilidade humana contrasta com a
coragem que caracteriza o povo português, que não teme as adversidades dos ventos contrários e «a
mais s’atreve», dirigindo-se para «os berços onde nasce o dia», o que faz dele um herói capaz do que
nunca foi feito.
4. momento (est. 28): Júpiter apresenta a primeira profecia do poema, quando refere que o «Fado
eterno» determinou que os portugueses tivessem o domínio do Oriente («o governo / Do mar, que vê
do Sol a roxa entrada»). Ora, como, segundo a crença, os Fados são mais poderosos do que os próprios
deuses, era certo que os portugueses chegariam à Índia, onde exerceriam o seu domínio.
5. momento (est. 29): atendendo a todos os aspetos gloriosos associados aos portugueses, Júpiter
decide que os nautas deverão ser «agasalhados / Nesta costa Africana como amigos», para, de
seguida, concluírem a viagem até à Índia
Vénus, por sua vez, coloca-se do lado de Júpiter, a favor dos portugueses. São três as razões que levam
a deusa do amor a adotar esta posição:
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• os portugueses têm qualidades semelhantes às do povo de Vénus, os romanos, em particular no espírito
guerreiro;
• a língua que falam é semelhante ao latim, a língua dos romanos;
• os portugueses celebrarão a deusa por onde passarem, pois são devotos do amor.
A exposição das ideias por parte de Vénus e de Baco provoca grande agitação entre os deuses, que
começam a tomar partido. A violência da discussão é apresentada por meio de uma longa comparação,
que, recorrendo a várias aliterações (est. 35), evoca o tumulto que agitava o Olimpo.
Marte, deus da guerra, interrompe a discussão que estava a ter lugar no Olimpo, tomando partido por
Vénus, por razões que não ficam totalmente esclarecidas: «Ou por que o amor antigo o obrigava, / Ou
porque a gente forte o merecia» (est. 36).
Esta figura é descrita fisicamente como um guerreiro, pois traz consigo um elmo, um «forte escudo»
(est. 36) e um «bastão» (est. 37). A sua atitude impõe respeito, pois o deus apresenta-se «medonho e
irado» (est. 36), «armado, forte e duro» (est. 37).
O discurso do deus é antecedido de uma «pancada penetrante» (est. 37), dada com o seu bastão, que
termina bruscamente o tumulto que se vivia no Olimpo, situação que é ex- pressivamente trabalhada
por meio da hipérbole («O Céu tremeu, e Apolo, de torvado, / Um pouco a luz perdeu, como enfiado»
– est. 37).
Toda a descrição que é feita de Marte aponta para um deus associado à força, à coragem e à
determinação.
Marte dirige-se a Júpiter, recorda-lhe o valor dos portugueses e pede-lhe que não tenha em atenção os
argumentos «de quem parece que é suspeito» (est. 38), referindo-se a Baco e às suas razões egoístas.
Refere ainda que, se Baco não fosse interesseiro, deveria proteger os portugueses, uma vez que estes
são descendentes de Luso, fundador mitológico da Lusitânia e suposto companheiro ou filho do próprio
Baco. Todavia, acrescenta que Baco não pode proteger os portugueses porque «vem de estâmago
danado» (est. 39), cheio de inveja da glória e das conquistas do povo português.
Finalmente, Marte diz a Júpiter que este não pode voltar atrás na decisão de ajudar os portugueses,
«pois é fraqueza / Desistir-se da cousa começada» (est. 40).
Recursos
Perífrase: «Pelo neto gentil do velho Atlante» (est. 20) – expressão utlizada em lugar de Mercúrio.
Comparação: «ceptro rutilante, / De outra pedra mais clara que diamante» (est. 22) – permite
destacar o ambiente divino e de grandeza que se associa a Júpiter.
Apóstrofe: «Eternos mora dores do luzente, / Estelí- fero Pólo e claro Assento» (est. 24).
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Sinédoque: «Tomar ao Mouro forte e guarnecido / Toda a terra que rega o Tejo ameno / Pois
contra o Caste- lhano tão temido» (est. 25) – Mouro e Castelhano são utilizados em lugar do plural
Mouros e Castelhanos.
Metáfora: «lenho leve» (est. 27) – aponta para a fragilidade da embarcação num mar forte e
poderoso e, por extensão, para a fragilidade dos próprios marinheiros que nela navegam.
Perífrase: «U~a gente fortíssima de Espanha» (est. 31) – expressão utilizada para referir os
portugueses.
Comparação: «Qual Austro fero, ou Bóreas na espes- sura / De silvestre arvoredo abastecida»
(est. 35) – a violência da discussão é com- parada à violência da natu- reza numa tempestade.
Hipérbole: «O Céu tremeu, e Apolo, de torvado, / Um pouco a luz perdeu, como enfiado» (est. 37)
– permite engrandecer e ampliar o ruído produzido pelo bastão de Marte e as consequências
desta atitude em quem o ouviu.
Perífrase: «quem parece que é suspeito» (est. 38) – expressão utilizada para referir Baco.
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Este episódio é narrado por Vasco da Gama ao rei de Melinde, após o rei ter manifestado o
desejo de conhecer a história do povo português.
Este relato tem lugar após o episódio da batalha do Salado, uma batalha onde se retrata D.
Afonso IV como um herói militar. A visão positiva que o narrador aqui deixa do rei vai contrastar
com uma visão negativa da mesma personagem no episódio de Inês de Castro.
Apresentação da morte de Inês de Castro como um «caso triste, e dino da memória» (est. 118);
introduz-se o episódio com uma nota negativa.
Apresentação da personagem principal, Inês de Castro, como «mísera e mesquinha» (est. 118)
[mesquinha = infeliz] e aquela que «despois de ser morta foi Rainha» (est. 118), associando uma
nota trágica à apresentação da figura feminina.
Invocação do Amor como uma força superior aos homens, que os conduz à fatalidade e que se
alimenta do sofrimento humano; apresentação do Amor como responsável poético pela morte
de Inês de Castro (est. 119).
Descrição da felicidade vivida por Inês, apenas manchada pela saudade, que, du- rante o dia, lhe
ocupava o pensamento e, durante a noite, a fazia sonhar. Esta descrição introduz uma nota
trágica, pois o narrador afirma «Que a Fortuna não deixa durar muito» (est. 120), o que significa
que o destino não deixa os homens serem felizes por muito tempo.
3a. parte: Razões que justificam a morte de Inês de Castro (est. 122-123)
O narrador afirma que D. Pedro não desejava casar-se com outras mulheres («De outras belas
senhoras e Princesas / Os desejados tálamos enjeita» – est. 122), pelo que o rei decidiu matar
Inês porque julgou que, com esta morte, acabaria também com a paixão do filho.
O rei sente piedade de Inês, mas o povo não o deixa mudar a sua decisão de mandar matá-la.
Inês é descrita num quadro de tristeza, banhada em lágrimas e atormentada pelo receio de
deixar os filhos órfãos.
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Inês toma a palavra com o objetivo de tentar convencer o rei, «avô cruel» (est. 125), a não a
matar. O seu discurso divide-se em quatro momentos:
1o. momento: Inês pede ao rei, que é um ser humano com sentimentos, que tenha piedade dos
seus filhos, salvando-a, pois até os animais selvagens, incapazes de sentimentos humanos,
foram capazes de mostrar piedade com crianças: a loba salvou Rómulo e Remo, fundadores de
Roma, e as aves alimentaram Semíramis.
2o. momento: Inês apela ao espírito de justiça do rei, que soube dar a morte aos mou- ros,
porque a mereceram, pelo que deveria também saber dar a vida a quem não cometeu erros.
3o. momento: Inês apresenta lternativas à morte – o desterro num território gélido ou tórrido
ou mesmo entre animais selvagens.
4o. momento: Inês invoca oamor de mãe e de mulher e a orfandade futura dos seus filhos,
apelando aos sentimentos do rei.
As palavras de Inês afetam o rei, que queria perdoar-lhe, mas os algozes («peitos carniceiros») e
o «pertinaz povo» não permitem ao monarca que recue na decisão tomada.
É feita uma comparação entre duas figuras que sofreram uma morte injusta: Policena, que foi
morta por Pirro, e Inês, que é assassinada pelos «brutos matadores» (est. 132).
Neste episódio há momentos em que o poeta toma a palavra para criticar a situação, os algozes
e defender a personagem feminina e a sua inocência. Estes momentos per- tencem ao plano
das considerações do poeta.
O poeta mostra-se revoltado com o desfecho do caso narrado:
invoca o Sol (est. 133), que, segundo ele, não deveria ter brilhado naquele dia trágico,
comparando a execução de Inês à trágica história de Tiestes, que comeu os próprios filhos sem
o saber;
invoca os «côncavos vales» (est. 133), que prolongaram o eco dos gritos de Inês;
compara a morte de Inês ao desfalecimento de uma flor «cortada / Antes do tempo» (est. 134);
refere a natureza, que chora a morte da sua confidente.
As ninfas choram a morte de Inês e as suas lágrimas transformam-se na água que corre na
fonte, a que foi dada o nome de Amores.
Recursos
Personificação: «puro Amor (…) Deste causa à molesta morte sua» (est. 119) – a personificação
do amor permite apresentá-lo como uma força superior aos homens, causa poética da morte de
Inês de Castro.
Apóstrofe: «puro Amor» e «fero Amor» (est. 119) – o poeta dirige-se diretamente ao amor
personificado.
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Antítese: «puro Amor» e «fero Amor» (est. 119) – o amor é puro e atrai os homens para si, mas
também é «fero», agindo com cruel- dade e aspereza, o que provoca sofrimento nos corações
humanos.
• Adjetivação: «linda Inês», «doce fruto», «saüdosos campos», «fermosos olhos» (est. 120) –
enriquece a descrição que é feita de Inês de Castro e da sua vida enquanto era feliz com D.
Pedro.
• Antítese: «ledo e cego» (est.120) – introduz uma nota trágica na felicidade de Inês, pois tratava-
se de um «engano da alma», que lhe trazia felicidade, mas que era também um engano, pois
depressa terminaria.
• Antítese: «doces sonhos que mentiam» (est. 121) – destaca-se a oposição entre a felicidade
(«doces sonhos») e a tragédia eminente («mentiam»), o que remete para o facto de Inês viver
numa ilusão pouco duradoura.
• Eufemismo: «Tirar Inês ao mundo determina» (est.123)– apresentação mais suave da decisão
do rei de mandar matar Inês de Castro.
• Antítese: «furor Mauro (…) fraca dama delicada» (est.123) – contraste entre a força e
violência dos mouros e a delicadeza e fragilidade de Inês, referindo-se que o rei, com a mesma
espada que ergueu contra os mouros, pretende matar Inês. Esta oposição marca a injustiça da
decisão tomada pelo rei.
• Comparação: «Qual contra linda moça Policena (…) Tais contra Inês (…)» (est. 131-132) –
compara-se a brutalidade do assassínio de Inês de Castro com a violência da morte de Policena,
que foi sacrificada por Pirro sobre o túmulo de Aquiles, pai deste último; compara-se também a
fragilidade de Policena e de Inês com a violência de Pirro e dos «brutos matadores».
• Apóstrofe: «ó Sol» e «ó côncavos vales» (est. 133) – o poeta dirige-se-lhes diretamente para
exprimir a sua revolta e incompreensão perante o assassínio de Inês, que os elementos da
natureza também deveriam rejeitar.
• Comparação: «Assim como a bonina (…) Tal está, morta, a pálida donzela» (est. 134) – Inês,
morta, é comparada a uma flor que perde a cor e o perfume por ter sido cortada antes de
tempo.
• Antítese: «cândida e bela, / Sendo das mãos lacivas maltratada» (est. 134) – a beleza da flor
opõe-se à violência das mãos travessas, que, insensíveis, a colhem antes de tempo, condenando-
a a murchar.
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Vasco da Gama relata os preparativos para a partida. O papel de Gama como narrador deste
episódio fica explícito na utilização do pronome pessoal me («pera seguir-me» - est. 84) e no
recurso à primeira pessoa do singular («[eu] Certifico-te» - est. 87). O Interlocutor de Vasco da
Gama, o rei de Melinde, é também assinalado através do pronome pessoal te («Certifico-te» -
est. 87) e do vocativo («ó Rei» - est. 87).
Neste momento inicial, Vasco da Gama situa a ação «no porto da ínclita Ulisseia» (est. 84) e, de
seguida, sublinha a coragem dos marinheiros e dos guerreiros que o acompanham na longa
viagem («não refreia / Temor nenhum o juvenil despejo, / Porque a gente marítima e a de
Marte / Estão pera seguir-me a toda a parte» - est. 84) e a sua determinação («E não menos de
esforço aparelhados / Pera buscar do Inundo novas partes» - est. 85).
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Estando aptos física e psicologicamente para a viagem, os marinheiros assistem a uma
cerimónia religiosa, de modo a preparar a «alma pera a morte» (est. 86), ouvindo missa,
comungando e pedindo a Deus proteção («Implorámos favor que nos guiasse, / E que nossos
começos aspirasse» - est. 86).
No final da descrição dos preparativos, Vasco da Gama relata a entrada nas embarcações,
referindo-se ao espaço físico que os marinheiros abandonam por meio de uma perífrase,
«Partimo-nos assim do santo templo / Que nas praias do mar está assentado, / Que o nome tem
da terra, pera exemplo, / Donde Deus foi em carne ao mundo dado» (est. 87), que faz alusão ao
topónimo Belém.
A sua afirmação final, «se contemplo / Como fui destas praias apartado, / Cheio dentro de
dúvida e receio, / Que apenas nos meus olhos ponho o freio» (est. 87), permite estabelecer um
contraste entre a determinação dos homens e os medos que os assaltam no momento da
partida. Os sentimentos evidenciados acabam por contribuir para engrandecer os heróis
portugueses, pois, para além de todos os seus feitos, venceram também os medos e as dúvidas
que poderiam tê-los impedido de conquistar o mar e de chegar à índia.
1. º momento - plano geral (est. 88-89): o olhar do narrador centra-se nas pessoas que ficam na
praia, assistindo à partida dos nautas. Começa por referir-se a esta multidão de forma
generalista como «A gente da cidade» (est. 88), oferecendo um plano geral sobre aqueles que
assistem à partida. São amigos ou familiares, embora lá se encontrem também meros curiosos
que foram «por ver somente» (est. 88). Neste momento, todos partilham sentimentos de
tristeza e de saudade, o que se fica a dever à crença generalizada de que quem embarcava
encaminhava-se possivelmente para a morte: «Em tão longo caminho e duvidoso / Por perdidos
as gentes nos julgavam» (est. 89). O narrador centra, de forma mais pormenorizada, o seu olhar
nas mulheres que sofrem com um «choro piadoso» (est. 89) e nos homens que suspiram.
Todavia, a atenção do narrador deter-se-á mais longamente nas «Mães, Esposas, Irmãs» (est.
89), ligadas por laços estreitos aos nautas e unidas pelos sentimentos de tristeza e de medo de
não tornar a ver os seus familiares.
2. º momento - plano de pormenor: a mãe (est. 90): o narrador centra-se, agora, em dois
grandes planos de pormenor: vai atentar numa mãe e numa esposa, deixando-nos ouvir as suas
palavras magoadas. Estas duas figuras, uma vez que representam todas as esposas e mães que
ficam na praia a ver os seus entes queridos partir, designam-se personagens coletivas. O
discurso da mãe é marcado pelas interrogações retóricas, que sublinham a sua incapacidade de
compreender a atitude do filho, que era o único «emparo / Desta cansada já velhice». A sua
perplexidade e revolta ficam fortemente marcadas na última questão: «Porque de mi te vás, o
filho caro, / A fazer o funéreo encerramento, / Onde sejas de pexes mantimento?», onde
sublinha a Injustiça da situação que leva o filho a uma possível morte, deixando o amor de uma
mãe sem resposta.
3. º momento - plano de pormenor: a esposa (est. 91): a mesma mágoa está expressa nas
palavras da mulher. Recorrendo, Igualmente, às interrogações retóricas, a esposa censura o
marido por ir para o mar, levando uma vida que não é dele mas dela. Esta afirmação tem como
base o forte amor que os une, e que faz deles um só ser. Acusa-o ainda de colocar em risco de
esquecimento o amor que os une: «Nosso amor, nosso vão contentamento, / Quereis que com
as velas leve o vento?» Note-se, nesta frase final, a sonoridade conseguida pela aliteração do -u,
que recorda o som do vento que leva o marido e com ele a vida da própria mulher.
4. º momento - plano geral (est. 92): após este momento de maior lirismo, o narrador volta a
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olhar a multidão de uma forma mais geral e destaca, de novo, os sentimentos de «amor e de
piadosa humanidade», referindo-se agora aos velhos e aos meninos que também ficam na
praia. Todos estes sentimentos influenciam a própria natureza envolvente, que, personificada,
entra em sintonia com o sofrimento que domina a multidão: «Os montes de mais perto
respondiam, / Quási movidos de alta piedade» e a «branca areia» chora com quem fica na praia.
O episódio termina centrado naqueles que partem. Vasco da Gama decide que a partida se fará
«Sem o despedimento costumado», como forma de impedir o sofrimento («Por nos não
magoarmos») ou a alteração da decisão tomada («ou mudarmos / Do propósito firme
começado»).
RECURSOS EXPRESSIVOS
- Aliteração: «Nosso amor, nosso vão contentamento, / Quereis que com as velas leve o vento?»
(est. 91) - a repetição do som -u- recorda o som do vento que levará os barcos para longe das
mulheres.
-Apóstrofe: «ó Rei» (est. 87) -invocação do rei, que é o interlocutor de Vasco da Gama.
-Hipérbole: «Às mulheres cum choro piadoso, / Os homens com suspiros que arrancavam» (est.
89) - marca, de forma forte, os sentimentos que dominavam a multidão na Praia das Lágrimas.
- Perífrase: «Que nas praias do mar está assentado, / Que o nome tem da terra, pera exemplo, /
Donde Deus foi em carne ao mundo dado» (est. 87) - em lugar do nome Belém.
- Personificação: «Os montes de mais perto respondiam, / Quási movidos de alta piedade» (est.
92) - a atribuição de características humanas à natureza permite ampliar a forca dos
sentimentos de tristeza que dominavam a multidão.
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O episódio do gigante Adamastor é central n’Os Lusíadas, pois localiza-se no Canto V, marcando
o meio do poema épico. Com este episódio encerra-se o primeiro cicio épico do poema.
A figura do gigante surge como uma personificação dos perigos e castigos do mar, dos monstros
que se acreditava habitarem nas zonas desconhecidas. Trata-se, em suma, de uma
personificação que condensa os medos que dominavam os homens da época relativamente ao
desconhecido.
A viagem decorria calmamente, quando surge uma nuvem «que os ares escurece» (est. 37). Esta
nuvem negra é um presságio de que algo terrível se prepara para acontecer. Também o mar
ficou agitado, o que está expresso na repetição do som -r- («Bramindo, o negro mar de longe
brada» - est. 38). Esta alteração atmosférica desencadeou nos marinheiros um sentimento de
terror («pôs nos corações um grande medo» - est. 38) e levou Vasco da Gama a inquirir Deus
sobre a natureza daquela região que atravessavam.
Após a alteração climatérica, surge uma figura gigantesca, horrenda, que é descrita diretamente
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de forma negativa, por meio de uma adjetivação expressiva. O seu tamanho é de tal forma
espantoso que é comparado ao Colosso de Rodes, estátua gigantesca de Apolo, considerada
uma das sete maravilhas do mundo antigo. Atentando no rosto do Adamastor, o narrador refere
a sua barba desgrenhada, os olhos encovados, os cabelos crespos e cheios de terra, a boca
negra, os dentes amarelos e o tom de voz «horrendo e grosso» (est. 40).
A descrição do gigante é desenvolvida com base nas sensações visuais e auditivas e culmina no
efeito de terror que provoca nos marinheiros: «Arrepiam-se as carnes e o cabelo, / A mi e a
todos, só de ouvi-lo e vê-lo!» (est. 40). Do ponto de vista psicológico, é descrita sobretudo a ira
do Adamastor, que se justifica pela ousadia dos portugueses ao navegarem nos mares que
pertencem ao gigante. Daí o seu «rosto carregado» e a «postura / Medonha e má» (est. 39).
Vasco da Gama Interrompe o primeiro discurso do gigante, mostrando-se não aterrorizado mas
«maravilhado» (est. 49), e pergunta-lhe «Quem és tu?» (est. 49). Esta questão afeta
profundamente o Adamastor, pois uai obrigá-lo a Identificar-se, a desvendar a sua história
pessoal. Daí a inesperada mudança que se produz nele: abandona o tom de voz ameaçador para
passar a falar com mágoa e dor («voz pesada e amara» - est. 49).
O Adamastor passa então a relatar a sua história de amor triste e infeliz. Apaixonou-se por Tétis,
que um dia tinha visto «Sair nua na praia» (est. 52). Foi este sentimento que levou o gigante,
que estava envolvido com os seus irmãos numa luta contra Júpiter, a abandonar tudo. Como era
muito feio (est. 53), decidiu conquistar a ninfa pela força («Determinei por armas de tomá-la» -
est. 53). Porém, a ninfa nunca poderia amar um ser gigantesco e feio (est. 53), mas, ainda assim,
marca com ele um encontro. Perdido de amor, julgando encontrar-se frente a Tétis, o
Adamastor beija um penedo. Quando se apercebe que tinha sido enganado, pois a ninfa não
tinha comparecido ao encontro, o gigante reconhece a sua ilusão. A dor que sente é tão forte
que acaba por se transformar num penedo, que deu origem ao Cabo que ele é hoje. Todavia, o
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seu sofrimento não está já acabado, uma vez que continua rodeado por Tétis: «por mais
dobradas mágoas, / Me anda Tétis cercando destas águas» (est. 59).
O momento de maior intensidade de sofrimento do Adamastor surge quando este se dirige à
ninfa, dizendo «Já que minha presença não te agrada, / Que te custava ter-me neste engano, /
Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?» (est. 57). A gradação final - monte, nuvem, sonho,
nada - é extremamente expressiva.
Após ter relatado a sua infeliz história de amor, o gigante desaparece, soltando um profundo
grito de sofrimento: «cum medonho choro, / Súbito d'ante os olhos se apartou; / Desfez-se a
nuvem negra, e cum sonoro / Bramido muito longe o mar soou» (est. 60).
Vasco da Gama, de seguida, agradece a Deus e pede-lhe que retire os castigos que o Adamastor
tinha anunciado.
RECURSOS EXPRESSIVOS
Aliteração: «Bramindo, o negro mar de longe brada» (est. 38) - repetição expressiva do som -r-,
que evoca os sons do mar agitado.
Comparação: «Tão grande era de membros, que bem posso / Certificar-te que este era o
segundo / De Rodes estranhíssimo Colosso» (est.
Metáfora: «as almas soltarão / Da fermosa e misérrima prisão» (est. 48) - o corpo é associado a
uma prisão da alma, pelo que a morte permitirá a libertação da alma.
Metáfora: «Nunca arados d'estranho ou próprio Lenho» (est. 41) - sugere a fragilidade de um
barco ao mar face a força cios elementos da natureza; a expressão arados é também ela uma
metáfora, extraída do universo agrícola, que permite associar a navegação dos barcos no mar ao
sulcar da terra por alfaias agrícolas.
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ILHA DOS AMORES [preparação] (Canto IX, estâncias 18-29)
As estâncias relativas à preparação da Ilda dos Amores têm como narrador o poeta e
fazem parte do plano mitológico. Este momento d'Os Lusíadas pode organizar-se em
várias partes.
Vénus pretende dar aos portugueses um prémio pelas vitórias alcançadas e pelos
danos sofridos. Decide, então, pedir ajuda ao seu filho, Cupido.
Vénus decide preparar uma ilha divina, que será colocada nas águas, no caminho dos
marinheiros. Nessa ilha, encontrar-se-ão «aquáticas donzelas» (est. 22), que serão
escolhidas entre as mais belas e as mais devotas do amor. Estas ninfas terão como
missão aguardar pelos marinheiros e recebê-los com cânticos e danças, para
despertarem neles «secretas afeições» (est. 22).
Cupido é o ajudante ideal, pois já tinha colaborado com Vénus numa situação similar:
tinha levado Dido a apaixonar-se por Eneias.
Vénus vai, então, procurar Cupido no seu carro puxado por cisnes («as aves que na vida
/ Vão da morte as exéquias celebrando» - est. 24) e rodeado de pombas que se beijam.
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os homens que se amam a si próprios (est. 27);
os aduladores (est. 27);
aqueles que amam as riquezas e deixam de lado a «justiça e integridade» (est.
28);
os tiranos (est. 28);
as leis feitas a favor do rei e contra o povo (est. 28).
Afirma-se, em síntese, que a expedição de Cupido tinha lugar porque «ninguém ama o
que deve» (est. 29). Por estas razões, Cupido juntou os «Seus ministros» para ajudar a
«mal regida gente» (est. 29) a evoluir no campo do amor.
RECURSOS EXPRESSIVOS
Antítese: «Dar-lhe nos mares tristes, alegria» (est. 18) - põe-se em relevo o contraste
entre a dureza e sofrimento da vida no mar e o prémio que Vénus pretende dar aos
marinheiros como recompensa pelas dificuldades passadas.
Antítese: «Os Deuses faz decer ao vil terreno / E os humanos subir ao Céu sereno»
(est. 20) - alusão ao poder de Cupido, aliado à força do amor, que é capaz de vencer
todas as barreiras.
Perífrase: «as aves que na vida / Vão da morte as exéquias celebrando» (est. 24) -em
lugar de cisnes; a descrição aponta para o facto de se afirmar que os cisnes cantam mais
suavemente quando estão próximos da morte.
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ILHA DOS AMORES (Leonardo) (Canto IX, estâncias 75-84)
A ninfa já não corria para fugir de Leonardo, mas apenas para ouvir as suas belas
palavras. Por fim, parou e entregou-se ao marinheiro.
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5. ª parte: O casamento (est. 84)
Os marinheiros são coroados como heróis, recebendo Louro e ouro. Por fim, celebra-
se uma cerimónia de casamento com as ninfas.
RECURSOS EXPRESSIVOS
Frases exclamativas: «Oh, que famintos beijos no floresta, / E que mimoso choro que
social / Que afagos tão suaves! Que ira honesta, / Que em risinhos alegres se
tornava!» (est. 83) - reforçam a emoção associada a união entre a ninfa e Leonardo,
que lembra o clima vivido em toda a ilha.
Imperativo: «Espera» (est. 76. 78) - permite dar a conhecer o desejo de Leonardo e o
objetivo do seu discurso.
Interjeições: «Oh, não na creias, porque eu, quando a cria, / Mil vezes cada hora me
mentia» (est. 77), «Oh! Não me fujas!» (est. 79) - marcam, o sentimento forte de
Leonardo, que expresso, com convicção. o desejo de levar a ninfa a deixar de fugir.
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CONSIDERAÇÕES DO POETA
(Canto X, estâncias 142-146, 154-156)
Os portugueses levam da ilha provisões e memórias dos tempos que passaram com as ninfas,
recordações que os acompanharão para sempre. Em mar sereno, com vento calmo, fazem a
viagem de regresso, até ao Tejo.
As estâncias finais d'Os Lusíadas são momentos em que o poeta reflete sobre o país que lhe era
contemporâneo e dirige conselhos ao rei D. Sebastião.
Est. 145
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O poeta, que, por diversas vezes, ao longo do poema, convocou as ninfas para que estas o
inspirassem, vem agora afirmar que não precisa mais da sua inspiração. Tem a lira
«Destemperada» e a «voz enrouquecida», ou seja, não consegue mais continuar o seu canto, o
seu poema. Este cansaço dele-se não ao Longo poema construído, mas à consciência de que
está a cantar para uma «gente surda e endurecida».
Constata, assim, tristemente, que a pátria não o protegerá, por que «está metida / No gosto da
cobiça e na rudeza / Düa austera, apagada e vil tristeza». Os portugueses do tempo de Camões
são, assim, apresentados como totalmente diferentes daqueles que o poeta louvou ao longo do
poema, pois vivem dominados pela cobiça e pela tristeza.
Est. 146
O poeta mostra não compreender por que razão a pátria (os portugueses do seu tempo) não
encara, com alegria e vontade de trabalhar, os desafios que vão surgindo.
Dirige-se a D. Sebastião, apelando a que este se rodeie de «vassalos excelentes», ou seja, de
portugueses que ainda sejam capazes de grandes sacrifícios e que não estejam dominados pela
tristeza, pela preguiça e pela cobiça.
Est. 154-56
RECURSOS EXPRESSIVOS
Adjetivação: «gente surda e endurecida» (est. 145), «humilde, baxo e rudo» (est. 154) - permite
caracterizar e destacar os traços que o poeta pretende associar à pessoa descrita.
Imperativo: «Olhai» (est. 146) - marca a exortação feita pelo poeta ao rei D. Sebastião.
Anáfora: «Pera servir-vos, braço às armas feito, / Pera cantar-vos, mente às Musas dada» (est.
155) - está ao serviço da enumeração das características pessoais que o poeta oferece ao rei D,
Sebastião.
Apóstrofe: «Musa» (est. 145), «o Rei» (est. 146) - permitem indicar o interlocutor do poeta, d
quem ele se dirige em cada momento.
Metáfora: «Lira tenho / Destemperada e a voz enrouquecida» (est. 145) - associando a lira,
instrumento musical, a voz que canta, o poeta pretende referir a produção poética, feita de voz
e musicalidade.
Repetição: «Não mais, Musa, não mais» (est. 145) - o poeta reitera a desconvocação da musa, o
que expressa o seu desânimo.
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FUNÇÕES SINTÁTICAS
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Coordenação e Subordinação
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Conetores do discurso
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Nota
+
PrEP
-
ASAp
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VALOR MODAL
advérbios ou locuções adverbiais – possivelmente, provavelmente, certamente, talvez, sem dúvida, de certeza;
advérbios ou locuções adverbiais – possivelmente, provavelmente, certamente, talvez, sem dúvida, de certeza;
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Como se escreve
a é um artigo definido, feminino, singular. Utilizamos sempre antes do substantivo com função de
determinante feminino.
á nunca é utilizado isoladamente, é usado para acentuar a sílaba tónica de uma palavra.
Veem é a forma
à é sempre verbal
utilizado da terceira pessoa
isoladamente (exceto:donas
plural do verbo
palavras às, àquele, àquela, àqueles, àquelas, àquilo)
ver. Ex: Eles veem tudo.
Deem
e implicaadvém do verbo
um sentido oudar na terceira pessoa do plural do presente do conjuntivo ou na terceira
ação.
Vêm
pessoa é a forma
do plural verbal da terceira
do imperativo. Épessoa
escrito do
semplural do circunflexo.
acento verbo (dêem nãoAexiste)
há
vir.éEx:
a terceira
Eles vêm pessoa
da do singular
praia do presente do indicativo do verbo haver. forma de determinar
Que eles deem valor a este trabalho. Deem lá isso!
se usamos há é substituir, na frase, pelo sinónimo existe. Se fizer sentido então é porque o devemos
usar. ah é uma interjeição que exprime admiração, alegria, compaixão, desejo, dúvida, espanto,
impaciência, ironia, dor, tristeza, etc.
De entre estas dúvidas a principal aponta para a questão de usar à ou há uma vez que as outras são
mais fáceis de compreender. Como apontado em cima, memorize que há pode ser sempre
substituído
Põe - Trata-se da forma verbal na terceira pessoa do singular do presente do indicativo (Ele/Ela põe)
e na segunda pessoa do singular do imperativo do verbo pôr.
Põem - Trata-se da forma verbal na terceira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo pôr.
(Eles/Elas põem)
Tem é a forma do verbo TER quando escrita no presente, ele é utilizado para definir posse de
alguma coisa, e pode ser escrito de duas formas “tem” no singular e “têm” no plural. Muitas
pessoas utilizam, de maneira errada, as palavras teem e têem, porém nenhuma dessas duas formas
existem na língua
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Que – pronome ou conjunção
O "que" é pronome relativo quando o seu sentido depende de uma antecedente e quando introduz uma oraçã
Cumprimentei a pessoa que me fez adeus. [o antecedente de "que" é «pessoa»; o "que" é sujeito da oração «q
Detiveram o homem que viram na loja. [o antecedente de "que" é «homem»; o "que" é também complement
O "que" é conjunção quando serve para completar o sentido de um verbo, por exemplo, «dizer»:
Disseram que não tinham visto ninguém. [o "que" é um elemento de ligação entre «disseram» e
«não tinham visto ninguém»]