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Ensaio Filosófico: A Ciência e Cuidado pelo Ambiente

Lara Costa

SERÁ PRESERVAÇÃO DA NATUREZA UMA OBRIGAÇÃO MORAL?

Nesta dissertação filosófica debate-se o dilema moral que questiona se é ou não


o dever do ser humano, enquanto ser racional e autorreflexivo, preservar a Natureza,
garantindo a sua existência para as gerações futuras.
Hodiernamente, este problema filosófico demonstra-se de grande importância
uma vez que, caso não se tome consciência da necessidade de se assumir uma
responsabilidade ecológica, não existem garantias que num futuro próximo prevaleça a
natureza, tal como a conhecemos, ou haja condições para a existência dos seres vivos.
Neste ensaio, será defendida a ideia de que a Natureza deve ser preservada,
independentemente dos interesses humanos, pelo que é necessário adotar uma ética
ambiental de responsabilidade ecológica. .
Segundo Hans Jonas, “a violação da natureza e a civilização do homem
caminham de mãos dadas”, ou seja, a partir do momento em que o Homem averigua
aquilo que consegue obter a partir da intercalação da ciência com a técnica e o acesso a
recursos naturais, a Natureza é objetificada.
No decorrer desta revelação, que aspirava a uma melhoria das condições de vida,
ocorre a rutura do equilíbrio ecológico, a poluição ambiental severa, a destruição de
habitats, a utilização indiscriminada e esgotamento dos recursos naturais. As
consequências das mudanças repentinas efetuadas pelas gerações inovadoras, que não
olharam à responsabilidade ecológica que possuíam, têm vindo a ser enfrentadas.
O filósofo alemão Hans Jonas constata que, se por um lado a ciência permite
simulações de controlo quanto aos eventos da natureza, por outro lado, também permite
apurar o seu avanço predatório sobre a mesma.
Assim, Jonas reformula a ética Kantiana em torno da ideia da responsabilidade,
acrescentando a dimensão do Futuro. A ideia implícita a esta ética transcende a
individualidade do “agir agora”, pelo que as condutas passam a ser valorizadas não pela
ponderação do bem-estar imediato, mas dos efeitos futuros globais que apresentam.
Desta forma, a tese de Hans Jonas evidencia, na sua obra O Princípio da
Responsabilidade, que as ações das gerações humanas atuais devem assegurar a
possibilidade de existência digna e genuína às gerações futuras. Isto é, para garantirmos

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a sobrevivência e qualidade de vida futura da Humanidade, deve-se assumir uma
obrigação moral para com a responsabilidade ambiental. Para além disso, acrescenta
que que é necessário conhecer e antecipar as consequências dos nossos atos, impondo
limites, contrariamente às gerações anteriores.
No entanto, tal tese não se revela em concordância com a ideia defendida neste
ensaio. Em contraposição às ideias de Jonas, os defensores da Ecologia Profunda
reconhecem que a natureza deve ser preservada/respeitada, independentemente dos
interesses e utilidade para Humanidade, pois possui direitos e um valor próprio.
Os ambientalistas radicais afirmam que a relação Homem e Terra é estritamente
económica, compreendendo privilégios, ou seja, o homem, aquando do progresso
científico, passou a ver a natureza como objeto, como meio de realização do seu bem-
estar, principalmente como fonte de exploração.
Perante tal antropocentrismo, surgiu a necessidade de levar a Natureza a sério,
elevando-a a um patamar de respeito e posse de “valores intrínsecos em si”. Somente se
atribuirmos à Natureza a titularidade do direito à sua própria existência é que
efetivamente se poderia possibilitar a sua preservação.
De facto, tendo em conta a visão de Hans Jonas sobre a questão em
consideração, a concordância com os ambientalistas radicais pode despertar conflito.
Primeiramente, a razão apresentada por Jonas para a preservação da Natureza
parece egoísta e calculista, no sentido em que propõe protegê-la de modo a dar
continuidade à existência humana, preocupando-se com os meros interesses humanos, e
pondo de parte a verdadeira essência e valor da Natureza.
Por outro lado, critica-se a tese da Ecologia Profunda por parecer irracional,
baseando-se na busca pela intocabilidade do ambiente e pressupondo que qualquer ação
humana é fundamentalmente lesiva. Além do mais, pode levar a crer que estes
ambientalistas desprezam a Humanidade. Assim, os críticos propõe preservar a natureza
racionalizando o desenvolvimento, a produção e o consumo, de modo a garantir a
qualidade de vida a gerações futuras. Não obstante, estas críticas focam-se de novo
apenas no Ser Humano, desconsiderando a Natureza em si.
De outro modo, ao contrário de Jonas, os ambientalistas radicais apenas dão
valor à natureza pelo seu valor inerente, à sua dignidade e direitos, que não se deveriam
menosprezar perante os direitos e vontade de sobreviver do Homem.

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Da mesma forma, a Natureza é a condição de existência e sobrevivência da
Humanidade que, escrito e gravado na história, apenas se responsabiliza e preocupa com
ela própria, usando e abusando deste bem natural. Tendo em conta todas as
consequências e problemas que o planeta enfrenta na atualidade, os ambientalistas
radicais insistem que é realmente necessária a sua valorização, e agir moralmente em
reciprocidade.
Em suma, tendo em conta os argumentos expostos, conclui-se que, de facto, a
preservação da natureza constitui uma obrigação moral ao Homem, como ser racional e
consciente que é, no sentido em que deve pôr de parte os seus interesses e reconhecer o
valor e dignidade da Natureza que o rodeia, assumindo, assim, uma obrigação moral de
responsabilidade ecológica.

Referências Bibliográficas

3
[1] Ana Santos (2019), Será a responsabilidade ecológica uma obrigação moral?.
Consultado em 3 de junho de 2021. Disponível em:
https://notapositiva.com/responsabilidade-ecologica-ensaio-filosofico/
[2] Barbosa-Fohrmann, Ana Paula (2016), Ecological ethics: Reflections on human
action on nature. Consultado em 5 de junho de 2021. Disponível em:
file:///C:/Users/larac/Downloads/Dialnet-EticaAmbiental-5846901.pdf
[3] Rolston, Holmes (2007) Etica ambiental. Consultado em 8 de junho de 2021.
Disponível em: https://mountainscholar.org/bitstream/handle/10217/48074/Etica-
ambiental-Portuguese.pdf?sequence=1
[4] Marcel Alcleante Alexandre de Sousa (2010). Ética Ambiental em Hans Jonas: A
necessidade do Princípio da Responsabilidade para a civilização tecnológica.
Consultado em 5 de junho de 2021. Disponível em: https://www.revistaea.org/pf.php?
idartigo=1367

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