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FICHAMENTO “NO LIMIAR DO SILÊNCIO E DA LETRA: TRAÇOS DA AUTORIA EM CLARICE

LISPECTOR” Maria Lucia Homem

I – O CAMPO E FOCO

 Romances analisados: A hora da estrela, Água viva, Um sopro de vida.


 O que seria passível de representação? P. 12
 Jogo entre silêncio e palavra se revela nos romances contemporâneos.
 “Forma de compor” de Clarice nasce no embate entre o silêncio e a palavra.
 Clarice joga com as funções de narrador, autor e personagem.
 O que entendemos por silêncio? O que se faz com o que não se pode falar? A resposta
de Wittgenstein seria: silencie: “Aquilo que não se pode dizer, deve-se calar”. No
entanto Lacan se contraporia a esse enunciado afirmando que estamos fadados,
justamente, a tentar falar sobre o que não se pode dizer.
 Tais saberes – filosofia, crítica estética e literária, epistemologia da psicanálise –
abordam, cada qual a seu modo e a partir de certo olhar, um dos efeitos inescapáveis
da nossa era: o sujeito não mais uno, idêntico e estável, mas dotado de inconsciente,
ser pulsional e descentrado – esvaecimento que põe em xeque a individualidade
moderna.
 Como pontos teóricos fundamentais destacaremos aqueles trazidos por Freud, a
saber, Inconsciente, Desejo e Das Ding (A Coisa) – objeto a – e ainda os três registros
estruturantes do psiquismo para Lacan: Real, Simbólico e Imaginário, bem como sua
teorização da lógica do incs a partir da cadeia significante (de forma diversa da
apontada por Saussure e Jakobson).
 Na obra de Clarice Lispector surge, com frequência, um conflito de base entre o
Simbólico da escrita, do discurso, da palavra e o que Lacan denomina Real, aquilo que,
em princípio, não sendo passível de apreensão significante, coloca-se do lado da não-
palavra, do silêncio, enfim, de um vazio que justamente incita à escrita e a leva a se
constituir.
 Quero relacionar essa não-palavra ao desamparo de significantes que a mulher
moderna enfrenta e identificar os níveis de sofrimento psíquico decorrentes disso
(talvez trazer alguma pesquisa com taxas de ansiedade/depressão/suicídio em
mulheres – preciso diminuir as variantes – “em mulheres desempregadas”, “em
mulheres divorciadas”, “em mães solo”...)
 Tais jogos especulares entre autor, narrador e personagem levantam a questão da
figura clássica do autor como um observador localizado em algum ponto fora do
enquadre, tal como o paradigma moderno de um sujeito da ciência com seu objeto a
ser desbravado. Ao se dar conta de que o distanciamento sujeito-objeto não era tão
fidedigno, o sujeito moderno se vê no vértice de uma instabilidade que não mais lhe
abandonará, ser doravante movido pela pulsão e pelas tramas de representações
inconscientes, num modo de olhar que doravante incorporará a não-transparência. O
sujeito contemporâneo, aquele que trabalha com fios postos à trama no XX e XXI, é
então, paradoxalmente, menos claro, menos distinto, e mais consciente, pois que
carrega em si o saber do não-todo-saber. O necessário re-desenho da categoria de
sujeito não tem como não construir um autor menos ingênuo e mais advertido de seus
contornos híbridos, instância complexa espalhada inevitavelmente na formalização de
suas criações e representações.
 Silêncio = solidão (?)
*Mimesis: Mimese, mímesis ou mimésis, é um termo crítico e filosófico que abarca uma
variedade de significados, incluindo a imitação, representação, mímica, imitatio, a
receptividade, o ato de se assemelhar, o ato de expressão e a apresentação do eu.

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