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REPRESENTAÇÃO EM TEMPOS

HIPERMODERNOS: VENTRÍLOQUOS E
ENTRAVES NA FICÇÃO DE ANDRÉ
SANT’ANNA

Gilson Vedoin
(UEMS-UUJ)
A vida imita o vídeo
Humberto Gessinger
• # O conteúdo das obras de Sant’Anna é demarcado pelo uso
de estratégias expressivas que almejam acentuar o
empobrecimento da configuração das personagens e das
relações estabelecidas entre si, sempre transcorridas num
espaço imediatista, desvinculado do universalismo moderno
e demarcado pela cacofonia dos signos e símbolos do
consumo global que permeiam a era hipermoderna e do
hiperespetáculo (LIPOVETSKY, 2009).
• # A escrita de Sant’Anna assume-se como porta-voz da
burrice coletivizada e alienante de uma série de personagens
narradores esvaziados de introspecção e interioridade
psicológica, condicionados a rótulos e logotipos que
codificam seus papéis sociais e que exercitam sua tagarelice
emburrecida, circular e preconceituosa a exaustão, num
ritmo maquínico;
AZEVEDO, LUCIENE. Novos jeitos e manhas. Disponível em:
https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF
8#q=novos%20jeitos%20e%20manhas%20-%20luciene%20azevedo

• # Tomando como artifício de representação os produtos de uma cultura balizada


pelas interfaces midiáticas, a prosa de Sant’Anna se inscreveria numa vertente em
que a professora Luciene Azevedo denomina como “literatura do entrave”. Trata-se
da
• [...] linhagem que adota como concepção do fazer literário, literalmente,
atravancar, ou desautomatizar, a naturalização da sociedade, visando
principalmente a ridicularização da classe média urbana. O espetáculo da
superexposição da cultura midiática está presente em clave negativizada. O
possível tom panfletário, que inexiste de todo, é substituído pelo mesmo humor
crítico, corrosivo, comum [...] pela mecanização, mimetizada pelo texto, da
conduta dos personagens [...]. A redundância repetitiva, que não guarda nenhuma
surpresa, reproduz a reificação e a nulificação da subjetividade dos personagens: A
Gorda com Cheiro de Perfume Avon, O Negro, Que Fedia, o Executivo De Óculos
Ray-Ban. A técnica narrativa parece expor de maneira contraditória a rarefação da
vivência individualizada e a pletora das redundâncias vazias. Simultaneamente, um
esvaziamento da narrativa e uma resistência à escassez do contável. Também aqui,
não há espaço para o erotismo, o sexo banalizado “na sessão de consultoria sexual
da revista Ele&Ela” (Sexo,119), descortina uma realidade em que os afetos estão
ameaçados. (AZEVEDO, 2015, p.03)
• Na narrativa de Sant’Anna a vivência orientada pelo vídeo que move as
personagens/narradores/narradores personagens. A intimidade esfacelada
e desprovida de dimensão interior dessas personas encontra consonância
com os dilemas do indivíduo contemporâneo, em desconexão permanente
com o social, vivenciando uma realidade esvaziada de significados e presos
a um presente videográfico e frenético, “[...] assistindo a si próprios assistir
a si próprios [...] (PALAHNIUK, 2009, p.102)”.
• Assim, sua prosa se notabiliza por conceder “[...] voz e articulação
discursiva a uma nova classe trabalhadora sem consciência de classe
e a uma classe média crescentemente virulenta, individualista e
incapaz de pensar sem bengalas midiáticas e repetições de clichês
religiosos ou neoliberais (SÜSSEKIND, 2016, p.5)”. E ao intensificar
essa distância social e crítica das coletividades alienadas, Sant’Anna
procede “[...] também uma reconstrução rítmica que expõe essas
falas ao seu próprio esgotamento, a uma autorrepetição que é
também desgaste, e inclemente desmontagem (SUSSEKIND, 2016,
p.5)”.
SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Ficção brasileira
contemporânea
• # Ao renegar a realidade referencial como artifício representativo, a
literatura de Sant’Anna assume como objeto de representação os
fluxos da sociedade do hiperespetáculo, com sua profusão de
entulhos da cultura midiática que estruturam a nova relação do
indivíduo com o ecossistema cultural a sua volta. Como evidencia
Schollhammer, a
• [...] narrativa de Sant’Anna ganha força poética pela qualidade da
escrita, seu ritmo exaltado, sua serialidade repetitiva e ironia
contagiosa, sua superficialidade deliberada e elíptica que nos deixa
com a impressão constante de perda de segredo e de
profundidade. Assumindo a condição alienada, Sant’Anna parece
dar a realidade literária ao artifício, numa espécie de super-
realismo discursivo no qual a representação literária não toma a
realidade como objeto, mas assume a realidade do próprio discurso
numa construção sem objeto exterior, nem interior subjetivo.
(SCHOLLHAMMER, 2009, p.71)
PAVARIN, Guilherme. Literatura crua e urgente. In___
http://rascunho.com.br/literatura-crua-e-urgente/

• # Assim, nas narrativas de Sant’Anna somos assolados por uma exposição


hiperbólica de estereótipos combinados com as mais diversas formas de clichês
massivos para apresentar personagens totalmente conduzidos e alienados pelos
fluxos da era telânica da hipermodernidade, com suas premissas consumistas e
imagéticas levadas a condição de fetiche.
• # Em O Brasil é bom, último livro de Sant’Anna, a
• [...] a intenção [...] é clara: mostrar, via clichês oratórios e frases feitas, que
conhecemos alguém com discurso similar. A missão é bem-sucedida. Os contos
inaugurais são desenvolvidos por meio de pensamentos tolos e imperativos que
costumam pulular por redes sociais, propagandas e comentários de notícias, a
exemplo de “consuma produto nacional”, “basta que cada um faça sua parte” e,
como sugere o sarcástico título do livro, “o Brasil não é ruim”. O efeito é dum
cinismo progressivo que chega ao ponto máximo no conto O que será que passa
na cabeça de um sujeito nessas condições?, cujo interlocutor é um esquizofrênico,
que, mesmo incapaz de seguir uma lógica, dispara, entre delírios e teorias
desconexas, lugares-comuns como “é preciso haver uma hierarquia”, “separar o
joio do trigo”, e impropérios como “não gosto de neguinha”. Não há muita
diferença, sugere Sant’Anna, entre as ideias atordoadas de um doente mental e
um homem são da classe-média. (PAVARIN, s.d)
SÜSSEKIND, Flora.
Escalas&ventríloquos
• Flora Sussekind determina em seu texto Escalas&ventríloquos o
conceito que forma o ventriloquísmo dentro da literatura
contemporânea. Para esse conceito Flora aponta que o ventríloquo
está relacionado a “dublagens, clonagens de figuras reconhecíveis
da mídia, repetição” (SUSSEKIND, 2000, s/p) discursos promovidos
por uma sociedade submersa na valorização exacerbada da
imagem, em que o real é puramente contestável, consequente de
um contexto de alta produção midiática.
• André Sant’Anna é um representante dessa ficção contemporânea
submergida em um contexto em que o mostrar se torna ênfase na
estética literária. No entanto, o que se mostra é contestável, na
medida em que, o “real” já não pode ser definido em sua
significação subjetiva. O que se produz são personagens que se
mostram através de vitrines e absorvem discursos prontos, sendo
assim, reprodutores midiáticos de uma sociedade midiática.
• Em tais narrativas, é a neurose hedonista que funciona como catalisador da consciência
social, estabelecendo uma escritura que realça hierarquias e reforça toda uma série de
preconceitos, nulificando as subjetividades e automatizando as relações entre as
personagens. Mas a visada sociopolítica desses romances não se revela apenas no
âmbito da diegese. Muito mais relevante é o tipo de intervenção que se dá através da
imposição de uma linguagem tributária dos artefatos midiáticos e que institui
esteticamente o sistema de hiper-representação social que ancora essas narrativas sob
o signo do atravancamento e do ventriloquismo. É por meio dessa linguagem que
conhecemos os cenários assépticos e cacofônicos destituídos de historicidade,
assistimos a superficialidade das relações travadas no mundo hipermoderno e
planificado da tela global, demarcado por estratégias que visam o agenciamento
maquínico dos narradores e a exposição de personagens subordinadas a uma
linguagem depauperada e inflada por clichês imagéticos e delírios consumistas. E isso
pode ser evidenciado pela fala do narrador de O importado vermelho de Nóe (2001),
condicionado a pensar quantitativamente, sob a forma de agraciamento divino e
slogans pré-fabricados – da publicidade envolvendo Paulo Maluf ao jargão “chovendo
dinheiro em Nova York” – repetidos constantementes sob a forma de uma escrituração
acumulativa esvaziada de um sentido lógico no que se refere a uma instância discursiva
– formulada por uma consciência alijada de qualquer preocupação social,
preconceituosa, depreciativa e obscecada por metas, resultados e delírios ostentatórios
proporcionados pelo acúmulo financeiro.
O importado vermelho de Noé

• Eu acredito, Deus. Deu no rádio: está chovendo dinheiro em Nova York. E logo eu estarei em Nova York,
onde está chovendo dinheiro. Oh! Não! O Rio Tietê está subindo, subindo, subindo... Eu sei de quem é a
culpa. A culpa é do prefeito. O prefeito tem que tomar uma providência. As bactérias nojentas do Rio Tietê
estão invadindo a via onde o meu carro vermelho, importado da Alemanha, tenta trafegar. O meu carro
vermelho, importado da Alemanha, tenta trafegar velozmente, mas os carros nacionais impedem seu veloz
tráfego. No aeroporto, o voo da American Airlines está esperando por mim. Eu tenho um visto para entrar
nos Estados Unidos. Eu tenho uma passagem na primeira classe do voo da American Airlines que vai para
Nova York. Eu quero ir para Nova York. Está chovendo dinheiro em Nova York. Deus, leve o meu carro
vermelho, importado da Alemanha, para o aeroporto, onde o voo da American Airlines espera por esse
seu devoto, grande administrador branco, perspicaz, amigo de Paulo. Deus, eu sou sua imagem e
semelhança, Deus. Eu sou belo, Deus. Eu creio, Deus. Deu no rádio. Está chovendo dinheiro em Nova York
e o meu carro vermelho, importado da Alemanha, está preso entre os carros nacionais, às margens do Rio
Tietê, onde a água normal e o excremento dos pretos, por culpa do prefeito, começam a invadir a via onde
o meu carro vermelho, importado da Alemanha, não consegue sair velozmente do lugar. Não perderei a
calma. Tempo há. A American Airlines sempre espera por seus passageiros brancos da primeira classe. Sou
um administrador objetivo. A água normal que chove no Rio Tietê não pode deter a força de Deus, a
velocidade do meu carro vermelho, importado da Alemanha. Tenho direitos garantidos por lei. As
empresas são minhas. O carro vermelho, importado da Alemanha, que me levará às asas da American
Airlines, é meu. Ainda tenho um almoço de negócios em Nova York para resolver negócios urgentíssimos.
São negócios de fusão com o capital internacional. Negócios relacionados ao dinheiro que está chovendo
em Nova York. Negócios diretamente relacionados a Deus, que faz chover dinheiro em Nova York. Deus
exige a minha presença em Nova York.
• O prefeito deve priorizar a retirada dos carros nacionais que impedem a passagem
velocíssima do meu carro vermelho, importado da Alemanha. Paulo! Onde está Paulo?
Onde está o prefeito? Paulo, retire o prefeito. Eu quero ir para Nova York. Pretos. Só
vejo pretos, carros nacionais e água normal misturada ao subproduto da fraquíssima
indústria nacional juntamente com o excremento dos pretos. É a investida do Demônio
preto contra o meu carro vermelho, importado da Alemanha. Não admito. Não posso
admitir. Deus está me pondo à prova. Não se preocupe, Deus. Jamais abandonarei
minha missão. Deus, me desculpe. Minha fé fraqueja. [...] Os dólares que serão meus,
de Paulo, dos novaiorquinos, de Deus, de Deus, de Deus. Tenho um jantar urgentíssimo
em Nova York, onde está chovendo dinheiro. Dólares enviados especialmente por
Deus, para mim. Tenho um jantar com as mais belas mulheres do planeta em Nova
York: Julia Roberts, Cindy Crawford, Nicole Kidman, Kim Basinger, Catherine Deneuve
que sempre vai a Nova York como eu. Naomi Campbell também. Naomi é preta, mas é
muito gostosa. Ela não é igual a esse prefeito preto que permite a obstrução do meu
carro vermelho, importado da Alemanha, pelos miseráveis carros nacionais, pela
catastrófica chuva nacional normal, pelo Rio Tietê, pretíssimo, cada vez mais cheio,
invadindo a via onde meu carro vermelho, importado da Alemanha, não consegue
mais se mover. Deus! Deus! Estou imóvel enquanto chove dinheiro em Nova York. A
água do Rio Tietê e os excrementos pretos dos pretos e o subproduto da pouco
competitiva indústria nacional estão se aproximando do meu carro vermelho,
importado da Alemanha. (SANT’ANNA, 2001, p.137-141).
Comentário na rede sobre tudo o que está acontecendo
por aí: In___O Brasil é bom. Saõ Paulo: Companhia das
Letras, 2014.
• Não que é certo fazer estupro, mas o direitos humanos tem que entender também
que essas meninas ficam provocando, imitando tudo que aparece na novela, que
tem cada vez mais essas cenas de sexo em plena novela das 8. E as crianças ficam
vendo porque o direitos humanos diz que criança pode tudo. Aí, quando vem um
bandido e pega o seu carro no farol e dá um tiro na sua cara, você que é um
cidadão de bem, com a sua família, o que é que acontece? Vem o direitos
humanos e protege os bandidos e quer que a gente que é homens de bem, que
não temos direitos humanos nenhum, fique quieto vendo os estupradores todos
levando boa vida lá na cadeia, comendo comida que a gente paga e até levando
mulher lá pra dentro, pra fazer sexo. O direitos humanos tem que ser pra nós
também, que somos cidadãos de bem, que nunca fez pedofilia. Aqui no Brasil,
tem essa mania de achar que estrangeiro é melhor. Brasileiro fica imitando essas
coisas que vêm do estrangeiro, essas coisas de pulseira de plástico, de fumar
drogas, de aparecer todo mundo pelado na televisão. Ninguém tem respeito pelas
coisas que são nossas de verdade, as nossas tradições que é do verde e amarelo. E
quem não é verde e amarelo, que nem esse direitos humanos, tem mais é que ir
embora logo daqui e não ficar reclamando de tudo. Brasileiro não precisa nada
desses gringos.
• Esses gringos é que fazem esses terrorismos. Pode ver que aqui no Brasil não
tem terrorismo, não tem terremoto, nem nada disso. Porque aqui todo
mundo que vem é bem tratado e o pessoal até puxa saco de gringo. Em troca,
os gringos ficam dizendo que aqui no Brasil é perigoso, que não pode passar
férias no Guarujá, que aqui só tem bandido. Eu só sei é que no Guarujá nunca
teve terremoto, nem vulcão. Isso tudo é coisa desses gringos que, ao invés de
cuidar dos assuntos deles, ficam é se metendo nos nossos problemas aqui do
Brasil. Mas são eles lá é que têm terrorismo, porque lá todo mundo tem essa
mania de direitos humanos. Os gringos vêm aqui e ficam querendo botar
esse direitos humanos aqui pra soltar os bandidos todos da cadeia. Mas eles
lá prendem bandido de menor. Lá, na terra deles, pode até pena de morte. Só
aqui é que não pode porque os gringos do direitos humanos não deixa. Aqui,
eles ficam defendendo bandido e essas meninas que usam pulseira de
plástico. Eu acho que tem que mandar esse pessoal do direitos humanos
embora pra terra deles. Se não, logo vai começar a ter terroristas aqui
também. Aqui, gringo entra e sai na hora que quer. Lá, eles não deixam a
gente que é do Brasil, que é cidadãos de bem, entrar. Lá, eles matam
brasileiro no metrô na mesma hora. Eu sou igual o velho lobo Zagallo,
totalmente verde e amarelo. (SANT’ANNA, 2014, p.22-23).
• A consciência conservadora desse narrador se confirma a partir da
imposição de uma linguagem ordinária, coloquial e empobrecida,
atravessada por uma torrente de repetições, estereótipos e
contradições que esvaziam qualquer coerência argumentativa do seu
discurso. Aliás, a tagarelice emburrecida, a ignorância iletrada e o
preconceito social, repetem certos padrões discursivos presente nas
redes sociais, o que acaba configurando esse narrador como produto
de uma sociedade hipermoderna cada vez mais assentada na
ausência de modelos estáveis de comportamento e ações coletivas.
O “individualismo sonâmbulo” – para usar as palavras de Lipovetsky
(2009) – do narrador o leva a expressar, pateticamente, uma
consciência social deturpada, e que busca como parâmetro a
identificação com certas personalidades que nada mais são do que
um constructo imagético mistificado pela cultura do hiperespetáculo
– no caso, o ex-treinador da seleção brasileira de futebol, Mário
Jorge Lobo Zagallo.
O brasileiro é bom
• Sim, são. Os brasileiros são bons. Os brasileiros
usam a criatividade para superar obstáculos.
Gosto dos brasileiros. Gosto dos brasileiros
porque os brasileiros são bons. Eu sou bom. Eu
sou bom porque eu sou brasileiro. Os brasileiros
não desistem nunca. Os brasileiros sabem viver
com alegria, mesmo tendo que enfrentar
extremas dificuldades. Os brasileiros são bonitos.
A mulher brasileira é a melhor mulher que existe.
[...] Gosto de Deus. Deus é bom. Deus é bom
porque é brasileiro. E os brasileiros são bons.
(SANT’ANNA, 2014, p.38-40)
O futuro vai ser bom
Vai, vai ser, sim. Neste ano que está entrando, Jesus vai botar muito
dinheiro no seu negócio, mas só se os seus investimento foi investido
no Reino do Senhor, se você colocou os seus bem ao dispor do Senhor
Jesus, que nem o Jogador de Cristo e a mulher dele fez, porque eles
casou virgens e sempre investiu no Reino do Senhor Deus todos os
seus bem. E aí teve a crise, o dinheiro sumiu de tudo que é lugar, da
França, dos Estados Unidos, do Japão, e foi parar onde? Nas mão do
Jogador de Cristo e da mulher dele que entregaram seus coração ao
Senhor Jesus, colocaram os bem deles ao dispor do Senhor Jesus,
muito mais dinheiro que o dízimo até, e o que é que aconteceu? O
Jogador de Cristo foi pro Real Madrid e o dinheiro foi parar nas mão
dele e da mulher dele, que era virgem antes, e não nas mão dessas
criancinha da África que não ama Jesus e por isso fica tudo morrendo
de aids, porque na África é tudo macumbaria [...] (SANT’ANNA, 2014,
p.14)
O Brasil não é ruim
• Os deputados brasileiros não são vagabundos, não ganham quase
vinte e cinco mil reais por mês mais uma série de ajudas de custo
como passagens aéreas, casa, comida, roupa lavada etc., não
passam só três dias da semana em Brasília, onde não atuam
somente em causa própria, comprando e vendendo favores e
outras paradas que não os tornariam cada vez mais ricos
ilicitamente. Eles não ganham décimo terceiro, décimo quarto e
décimo quinto salário e não têm direito a dois meses de férias e
mais uma série de recessos por ano. A aposentadoria dos
congressistas brasileiros, depois de quatro anos não trabalhando
exclusivamente em benefício próprio, não é muito, mas não é
mesmo muito maior do que a aposentadoria de qualquer pessoa
que trabalhe em algo útil para a sociedade. Afinal, os legisladores
brasileiros não têm o direito de decidir o valor do próprio salário
nem a própria aposentadoria. (SANT’ANNA, 2014, p. 10)
• Aliás, todo mundo não sabe como não são financiadas as
campanhas eleitorais no Brasil nem como o Executivo não é
obrigado a comprar boa parte do Legislativo para não
conseguir governar ou sequer para não aprovar uma lei
importante que não resolva problemas que não são
importantes para o Brasil e para as crianças pobres, que,
obviamente, não acabam se tornando adolescentes e
adultos ignorantes, violentos e primitivos. O povo brasileiro
não tem orgulho da própria ignorância, não está acometido
de um excesso de autoestima, já que nos últimos anos de
governo, fabricantes de comida gordurosa e locutores
esportivos da televisão não ficam o tempo todo lançando
mensagens subliminares ou diretas mesmo, não dizendo
que o brasileiro é um ser superior, que basta ser brasileiro
para conseguir superar qualquer obstáculo através do seu
fabuloso jogo de cintura. (SANT’ANNA, 2014, p. 11)

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