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Antonio
Candido
Duas Cidades
Editora 34
6.A literatura
e a Íormação dohomem*
Nestapalestra,desejoapresentaralgumasvariaçõessobrea
fun@o humanizadorada literatura,isto é, sobrea capacidadeque
ela tem de confirmar a humanidade do homem. Para estefim,
começofocalizandorapidamente,nos estudosliterários,o con-
ceito de função, vista como o papel que a obra literária desem-
penhana sociedade.
Esteconceitosocia.lde funçãonão estámuito em voga,pois
as correntesmais modernasse preocupamsobretudocom o de
estrutura,cujo conhecimentoseria,teoricamente, optativoem
relaçãoa ele,se-aplicarmoso raciocíniofeito com referênciaà his-
tória. Em facedestaos estruturalistasoptâm, porque echamque
é possívelconhecera história az a estrutuÍa,mas não a história r
a estruture.Os dois enfoquesseriammutuamente exclusivos.
Que incompatibilidademetodológicapoderia existir entre
o estudoda estruturae o da fr:nção?O primeiro pode ser com-
parativamente mais estáticodo que o segundo,qu€evocariaceftas e a suafilnção num momento dado, e que poftânto acen am o
noçõesem cedeia,de cunho mais dinâmico, como: atuafo, pro- seucaráterde produto contingentemergulhadona história.
cesso,sucessão, história.Evocariaa idéia de pertinênciae de ade- Isto é dito paÍa iustificar a eÍìÍmaçãoinicial: que os estu-
quaçãoà finalidade;e daí bastariar- p*rã para chegarà idéia dos modernos de literatura se volnm mais paÍa a estrutura do
de vaÌor, posta enrre parêntesespelastendênciasestruturalishs. que para a função. Privadados seusapoiostredicionaismais só-
Mais ainda: a idéia de função provocâ não apenar uÍna cer- lidos (o estudo da gênese,a aferiçáo do valor, a relação com o
ta inclinação para o lado do valor, mas para o lado da pessoa; público), a noÉo de funÉo passade fato Por uma certa crise.
no caso,o escritor (queproduz a obra) e o leitor, coletivamente Seriapossível,no entanto, focaliála? É claro, desdeque não
o público (que recebeo seu impacto). De fato, quando falamos queiramossubstiruir um enfoque pelo outro. O enfoque estru-
em fun$o no domínio da literatura, pensamosimediatamente: tural (inclusivesob a modalidademais recente,conhecidacomo
l) em função da liteÍature como um todo; 2) em função de uma esrrururalismo) é responsávelpelo maior avenço que os esrudos
determinadaobra; 3) em funÉo do autor - rudo referido aos literfuiosconheceramem nossot€mpo. Mas vai ficando câdadia
receptores. mais claro que uma visão íntegra da literatura chegaráe conci-
Ora, uma característicado enfoqueestruturalé não apenas liar num todo explicativo coerentea noçáo de estrutura e e de
concenüar-sena obra tomada em si mesma(o que aliásocorria função, que aliás andaram curiosamentemisturadase mesmo
em outrasorientaçóesteóricasanteriores),masrelacionáJaa um semantiqrmenÌeconfundidasem certosmomentos da entroPo-
modelo vinual abstrato,que seriaa última instânciaheurística. logia inglesados anosde 1930 e 1940. E nós sabemosque a an-
Isto provém do desejode chegar a um conhecimento de tipo tropologia é, com a lingúística,uma dasgrandesfontesdo estru-
científico, que superao conhecimenro demasiadocontingente àa turalismo contemporâneo.
obra singular em proveito de tais modelosgenéricos, que .1" Voltando aospontos de referênciamencionadosacima: na
sesubordina e de que é uma manifestaçãopanicular; e"que por- medide em que-nosinteressaBmbém como experiênciahuma-
tanto a explicam.Eles não seriama-históricos,mas telveztrans- na, náo apenascomo produçãode obrasconsideradas Projeçóes,
históricos,porque possu€mgeneralidadee permanênciamuito ou melhor, transformeçõesde modelos profundos, a literatura
maiores,em rela$.o àsmanifestaçõesparticulares(obras),que pas_ despertainevitavelmenteo interessepeloselementoscontextuais.
sam para segundoplano como capacidadeexplicativa. Através da Tanto quanto a esúutura, elesnos dizem de perto, porque somos
mudançadasmanifestações panilularo, elo p..--.cem, como levadosa elespela preocupâçãocom e nossaidentidade e o nosso
sistemasbásicose como princípios de organização,escapandoaté destino,sem contar que a inteligênciada estruturadependeem
certo ponto à história,na medida em que sãomodelos;masinte- grandepane de sesabercomo o texto seformaaparrïrdo antex-
grando-senela, quando vistos em suasmanifesta@esparticulares. to, até constituir uma independênciadependente(sefor permi-
O ponto de visa estrutural consisteem ver asobrascom refe- tido o jogo de palavras). Mesmo que isto nos afastede uma visão
rênciaaosmodelosocultos, pondo pelo menosproviúria e metodi- científica,é difícil pôr de lado os problemasindividuais e sociais
camenteentre parênteses os elementosque indicam a suagênese oue dão lastro àsobrase as amarÍam eo mundo onde vivemos.
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Textosde inteÍvenção Di r eç õ es
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Tex to sd e in teÍv e nc ão Di r eç õ e s
seranulado.Mas aospoucoso devaneiolhe foi aparecendo,não -l Isto levaa perguntar:a literaturatem uma funçáoformativa
âpenascomo etapainevitável,ou solo comum a partir do qual de tipo educacional?
sebifurcam reflexãocientíficae criaçãopoética,masa condição Sabemosque a instruçãodos paísescivilizadossempres€
primária de uma atividadeespiritual legítìma.O devaneioseria baseounasletras.Daí o elo entreformaçãodo homem, huma-
o caminho da verdadeiraimaginação,que não se alimenta dos nismo,letrashumanase o estudoda línguae da literatura.To-
resíduosda percepçáoe portanro não é uma espéciede restoda madasem si mesmas,seriamasletrashumanizadoras,do ponto
realidade;masestabeÌece sériesautônomascoerentes,a partir dos de vistaeducacional?
estímulosda realidade.Uma imaginação criad,orapara alëm, e Sejacomo for, a sua função educativaé muito mais com-
não uma imaginaçãoreprodutivaao lado, parafaÌar como ele. plexado que pressupóeum ponto de vista estritamentepedagó-
O devaneio (rêuerie)se incorpora à imaginaçãopoética e gico. A própria açãoque exercenas camadasprofundas afastaa
acabana criaçáode semelhantesimagens;mas o seu ponto de noção convencionalde uma atividade delimitada e dirigida se-
partida é a reâlidâdesensíveldo mundo, ao qual seliga assimne- gundo os requisitosdas normas vigentes.A literatva podefor-
cessariamente. ParaBachelard,estaespéciede cargainicial da ma\ mas náo segundo a pedagogiaoficial, que costuma vê-la
imaginaçáoé formadapelosquatro elementosda tradiçãoeleática; ideologicamentecomo um veículo da tríade famosa- o Ver-
os simplesdo mundo, segundoa visão de tantos sécuÌos:terra, dadeiro,o Bom, o Belo,definidosconformeos interesses dosgru-
água,ar e fogo. pos dominantes,para reforço da sua concepçáode vida. Longe
Independentede aceitarmosou não o ponto de vista de de serum apêndiceda instruçãomoral e cívica(estaapoteoseme-
Bachelard,a referênciaa eleservenestecontextosobrerudocomo rreira do óbvio, novamenteem grandevoga),ela agecom o im-
amostrado laço entre imaginaçãoliterária e realidadeconcreta pactoindiscriminadoda própriavida e educacomo ela- com
do mundo. Servepara ilustrar em profundidadea função in- ialtos e baixos,luzese sombras.Daí asatitudesambivalentesque
tegradorae transformadorada criaçãoliterária com relaçãoaos suscitanos moralistase nos educadores,ao mesmo tempo fasci-
seuspontos de referênciana realidade. nadospela sua força humanizadorae temerososda sua indiscri-
Ao mesmo tempo, â evocaçãodessaimpregnaçãoprofun- minada riqueza.E daí as duasatitudestradicionaisque elesde-
da mostra como ascriaçóesficcionaise poéticaspodem atuar de senvolveram:expulsá-lacomo lonte de perversãoe subversão,ou
modo subconsciente e inconsciente,operandouma espéciede tentar acomodá-lana bitola ideológicados catecismos(inclusi-
inculcamentoque não percebemos.Quero dizer que ascamadas ve fazendoediçóesexpurgadasde obras-primas,como asdeno-
profundasda nossapersonaìidadepodem sofrerum bombardeio minadasad usumDelphinì, destinadasao filho de Luís XJ\|.
poderosodasobrasque lemose que atuamde maneiraque náo Dado que a literatura, como a vida, ensinana medida em
podemosavaliar.Talvez os contos populares,ashistorietasilus- que âtuâ com toda a suagama,é artificial qu€Ìer que ela funcio-
tradas,os romancespoliciais ou de capa-e-espada, asfitas de ci- ne como os mânuaisde virtude e boa conduta.E a sociedadenão
nema, atuem tanto quanto a escolae a família na formação de pode senãoescolhero que em cadamomento lhe pareceadapta-
uma criancae de um adolescente do aosseusfins, enfrentandoainda assimos mais curiosospara-
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Textosde intervenção D i r eç ões
doxos- pois mesmo asobrasconsideradasindispensáveis para (segundoos padróesoficiais) e a sua poderosaforça indiscrimi-
a formaçáo do moço trazem freqüentementeo que âs conven- nada de iniciação na vida, com uma variadacomplexidadenem
çõesdesejariambanir. Aliás, essaespéciede inevitávelcontraban- sempredesejadapeloseducadores.Ela náocorrompenem edifc4
do é um dos meios por que o jovem entra em contato com reâ- portânto; mas,tr:ìzendolivrementeem si o que chamamoso bem
lidadesque se tenciona escamotear-lhe. e o que chamamoso mal, humanizaem sentido profundo, por-
Vejamos um exemplo apenas.Todos sabemque â ârte e a que faz viver.
literatura têm um forte componentesexual,mais ou menosapa-
rente em grandeparte dos seusprodutos. E que age,porranro,
como excitanteda imaginaçãoerótica.Sendoassim,é paradoxal l
que uma sociedadecomo a cristá, baseadana repressãodo sexo,
tenhausadoasobrasliteráriasnasescolas, como instrumentoedu- Chegamosagoraao ponto mais complicado.Além dasfun-
cativo. Basta lembrar, na veneráveltradiçãoclássica,textoscomo çõesmencionadas(isto é: satisfazerà necessidadeuniversal de
a llíadn, o Canto IY da Eneida,o Canto IX dosLusíadas,os ìdílìos fantasiae contribuir para a formaçãoda personalidade),teria a
de Teócrito, ospoemasapaixonadosde Catulo, osversosprovo- literaturauma funçãode conhecimentodo mundo e do ser?Por
cantesde Ovídio - tudo lido, traduzido,comentadoou explica- outraspalavras:o fato de consistir na construçãode obrasautô-
do em aula. Esta situaçáocuriosachegou até os nossosdias de nomas,com estruturaespecífica e filia$.o a modelosduráveis,lhe
costumesmenosrígidos,e vive gerandobrigasentrepaise profes- dá um significado também específico,que seesgotaem si mes-
sores,por causada leitura de Aluísio Azevedoou JorgeAmado. I mo, ou lhe permite representarde maneiracognitiva, ou suges-
O revestimentoideológico de um autor pode dar lugar a tiva, a realidadedo espírito, da sociedade,da natureza?
contradiçõesrealmenteinteressantes - os poderesda socieda- Muitas correntesestéticâs,inclusiv€asde inspiraçãomar-
de ficando inibidos de restringir a leitura de textosque deveriam xista,entendemque â literaturaé sobretudouma forma de conhe-
ser banidos segundoos seuspadrôes,mâs que peÍtencema um cimento, mais do que uma forma de expressão e uma construção
autor ou a uma obra que, por outro lado, reforçamestespadróes. de objetossemiologicamente autônomos.Sabemosque astrêscoi-
Nada mais significativo do que a voga, até há poucos anos, de sassãoverdadeiras; mas o problema é determinar qual o âspecto
Olavo Bilac, poetaque em muitos versosâpresentavao sexosob dominante e mais característicoda produçãoliterária. Sem pro-
aspectosbastantecrus, perturbando a paz dos ginasianos,cujos curar decidir, limitemo-nos a registrarastrêsposiçõese admitir
mestresnão ousavamtodavia proscrevê-losporque setratavade que a obra literária significaum tipo de elaboraçãodassugestões
um escritorde conotaçõespatrióticasacentuadas- pregadorde da personalidadee do mundo que possuiautonomiade significa-
civismo e do serviçomilitar, autor de obrasdidáticasadotadase do; masque estaautonomia não a desligadassuasfontesde ins-
cheiasde "boa doutrina". piração no real, nem anula a sua capacidadede atuar sobreele.
Paradoxos,portanto, de todo lado, mostrando o conflito Isto posto, podemosabordaro problema da função da lite-
entre a idéia convencionalde uma literatura olueeleuae edifrca râturâcomo reoresentacão de uma dadarealidadesociale huma-
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Ìextos de intervenção D i r eçõe s
na, que faculta maior inteligibilidade com relaçãoa estarealida- tema as culturas rústicasmais ou menos à margem da cultura I
de. Para isso,vejamosum único exemplo de relaçãodas obras urbana.O que aconrece é que elesevai modificandoe adaptan-
literáriascom a realidadeconcreta:o regionalismobrasileiro,que do. superandoasformasmaisgrosseiras até dar a impressao de I
por definição é cheio de realidadedocumentária. na gener ali dade
q u e s e di ss ol veu dos tem asuni ver s ai s.
c om o e J
Trata-sede um casoprivilegiado para estudar o papel da normal em toda obra bem-feita. E pode mesmo chegarà etapaI
?'jnÌ\r1iteraturanum paísem formaçáo,que procurâ â suâidentidade onde os temasrurais sãotratadoscom um requinte qr,. .- g.-
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ll1,tw'ts* da variaçáodostemase da fixaçãoda linguagem,oscilando ral só é dispensado âostemâsurbanos,como é o casode Gui-llüR-
para isto entre a adesãoaos modelos europeuse a pesquisade maráesRosa,a cujo propósitoseriacabivelfalarnum super-Re-"
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drc",.,t. aspectoslocais.O Arcadismo, no séculoXVIII, foi uma espécie gionalismo.Mas ainda aí estamosdianrede uma variedadedrl
5u1."-
+ de identificaçãocom o mundo europeu atravésdo seu homem
rústico idealizadona tradição clássica.O Indianismo, já no sé-
malsinadacorrente. l] o,r,.,n,-
Fechandoo parêntese,voltemos ao assuntocom uma con] "-"í{ tW'
culo XIX, foi uma identificaçãocom o mundo não-europeu,pela sideraçãode ordem geral:o Regionalismoestabelece umâ curio- tq."a,jìÍ*
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buscade um homem rústico americanoigualmente idealizado. sa tensáoentre tema e linguagem. O tema rústico puxa para os{
Ì i .. . .' \ \
O Regionalismo,que o sucedeue seestendeaté os nossosdias, aspectosexóticose pitorescose, atravésdeles,para uma Ìingua-l 1.
foi uma busca do tipicamentebrasileiroatravésdas formas de *--^
gem inculta cheiade peculiaridadeslocais;masa convençãonor- i,
enconrro.surgidas do conratoentreo europeue o meioamerica- Lal da literatura,baseadano postuladoda inteligibilidaá", p,.,t, iL'^i '5"""
no. Ao mesmotempo documentárioe idealizador,forneceu ele- parauma linguagemculta e mesmoacadêmica.O Regionalismo . I ,
mentosparaa auto-identificaçãodo homem brasileiroe também deveestabeleceruma relaçãoadequadaentre os dois aspectos,e l'À!Ì'1-r-
para uma sériede projeçõesideais.Nesta palestra,o intuito é Í'ì-
por issosetorna um instrumento poderosode transformaçáoda i/ú4tÀÀ
ll't"o
mostrâr que a suafunção socialfoi ao mesmo tempo humaniza- língua e de revelaçãoe autoconsciênciado país; mas pod. ,., '
dora e aÌienadora,conforme o asDectoou o autor considerado. também fator de artificialidadena língua e d. no plr-
"lien"çaÁ "rç)*;r,;
Mas antesde ir além,um parênt€se paradizerquehoje,tanto no do conhecimentodo país.As duascoisasocorrem nasdiver- ..^ n4.
vAÍ:íIz,tr'',.,i,ica brasileiraquanto na latino-americana,a palavra sasfasesdo Regionalismobrasileiro,e eventualmenteem obras i".ís
lr',:,01,\'f ln" de or-
' '\ ', dem é
ldem "morte ao Resionalismo".
Regionalismo",ouanto
quanto ao presente,
Dresente.e menos- diferentesdo mesmo autor. Tomemos como exemplo dois au-
t,
À' I
aC
pelo que iôi, quanto ao passado.Estaatitude é criticamente toresda mesmafase,que seconhecerame s€estimaram:CoeÌho
uttÍ;í lprezo
o sea tomârmoscomo um "basta!"à tiraniado pitoresco,que Neto (1864-1934)e SimõesLopesNeto (1865-1916).
;rrr,í /boa
ì" lvem a serafrnaÌde contasuma literaturade exportaçáoe exotrsmo Ambos escreveramnum momento de grandevoga da lite--
fácil. Mas é forçoso convir que, justamenteporque a literatura ratura regionalista,quando ela parecia mais autêntica do que
desempenhafunçõesna vida da sociedade,não dependeapenas outrasmodalidades,porque seocupavade tipos humanos, pai-
opinião crítica que o Regionalismoexistaou deixede existir. sagense costumesconsideradostipicamentebrasileiros.No con-
existiu,existee existiráenquanto houver condiçõescomo as .junto, foi uma tendênciafalsa,correspondendoa modalidades
'
, -.,,i,,, ldo subdesenvolvimento,que forçam o escritora focalizarcomo superficiaisde nacionalismo,baseadanuma distânciainsupera-
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Textosde intervenção D ir eçõe s
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Textosde intervenção D i r eç ões
I
{
I
o homem de posiçãosocialmaiselevadanunca rem soteeue,não telado numa terceirapessoaalheia ao mundo ficcional, que hi-
apresenra peculiaridadesde pronúncia,nãodeformaaspalavras, pertrofia o ângulo do narrador culto) atenuaao máximo o hiaro
que, na sueboca,assumemo estadoidealde dicionário. entre criador e criatura, dissolvendode certo modo o homem
euan-
do, ao contrário, marcao desvioda norma no homem rural oo_ culto no homem rústico. Este deixa de ser um ente separadoe
Ì
bre,o escrirordá ao nívelfônico um aspecroquesererarológico,
que contamina todo o discursoe situa o emissorcomo um serà
I estranho,que o homem culto contempla,para tornar-seum ho-
mem realmentehumano, cujo contato humaniza o leitor.
pafte, um espetáculopitorescocomo asárvorese os bichos, fei-
to paracontempla$o ou divenimentodo homem culto, que deste Veja-seo final do conto 'Contrabandista":
modo sesenreconfirmadona suasuperioridade. Em ralscasos,
o Regionalismoé uma falsaadmissãodo homem rural ao uni_ Erajá lusco-fusco.
Pegaram
a acender
asluzes.
versodos valoreséticose estéticos. E nessemesmorempoparavano rerreiroa comitiva;mas
No entanto,o seupropósito conscienteerao contrário. Ele num silêncio,tudo.
seepresentoucomo um humanismo,como uma recuDeracão E o mesmosilênciofoi fechandotodasasbocase abrin-
do
homem posto à margem;e de fato pode serassim,qr.lrrrdã d.- do todosos olhos.
"
libera$o temática,isto é, a decisãode escolhere rrararcomo rema Enrãovimos osda comitiva desceremde um cavaloo cor-
literário o homem rústico, é seguidade uma visão humana au- po entreguede um homem,aindade palaenfiado...
têntica, que evite o rratamentoalienantedos personagens.Esta Ninguém perguntounada,ninguéminformou de nada;
visãosetraduzpelo encontro de uma soluçãolingüísticaadequa_ todosentenderam
tudo...rquea festaestava
acabada
e a tris-
da; e dependendodelaé que o Regionalismopode rer um senri- tezacomeçada...
do humanizadorou um sentido reificador.Dito de outro modo: frvou-se o corpo pra salada mesa,parao sofáenfeita-
pode firncionarcomo representação do, queia sero trono dosnoivos.Entãoum doschegados
dise:
humanizadaou como repre-
senração desumanizada - A guardanosdeuem cima...tomouoscargueiros..,
do homem dasculturasrurais.
Contrastandocom o casonegativode Coelho Neto, veja- E mataramo capitão,porque ele avançousozinhopra mula
mos o casopositivo de SimóesLopesNeto - escritor cuja fic_ ponteirae suspendeuum pacoteque vinha solto...e ainda o
amarrouno corpo...Aí foi que o crivaramde balas.,.parado...
çáo, quantitativamentepaÍca, mas qualitativamenteelevada,se
desenvolveutoda dentro do Regionalismo. Os ordinários!...Tivemosque brigar,pra tomar o corpo!
SimóesLopes Neto começapor asseguraÍuma identifica- A sia-donamãeda noivalevantouo balandraudoJango
ção máxima com o universoda cultura rústica,adotando como Jorgee desamarrouo embrulho;e abriu-o.
enfoque narrativo a primeira pessoade um narrador rústico, o Era o vestidobrancoda filha, os saparosbralcos, o véu
velho cabo Blau Nunes, que sesitua dentrod,amatériâ narÍada, branco,asfloresde laranjeira...
e não raro do próprio enredo, como uma espéciede Marlowe Tudo numaplastadade
sangue...
tudo manchadode ver-
gaúcho.Esramediação(nuncausadapor Coelho Neto, encas- melho, toda a alvuradaquelascoisasbonitascomo que bor-
90 9l
Textos
deintêrvencão
de feitiosestram-
dadade colorado,num padrãocsquisito,
bólicos...
comofloresdecardosolferimesmaeadas a casco
de
bagud!...
Entãorompeuo choronacasatoda...
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