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Título: A surpreendente história das palavras que fazem do discurso político o que ele é
no início do século XXI no Brasil
Palavras-chave: palavra, história, processos de produção de sentidos, dicionário,
discurso.
Title: The surprising history of the words that make the political discourse what it is in
the beginning of the 21st century in Brazil
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uma seleção prévia de palavras constitutivas do discurso político tal como ele tem sido
mobilizado no Brasil deste início de século XXI, o que deverá permitir o acesso a uma
história particular a partir do que trazem os dicionários e os modos de circulação das
palavras que fazem sentido no interior de um dado grupo social, em uma dada época.
Uma primeira experiência, nesta direção, foi realizada com o estudo da palavra
“ditadura”, o que pode ser conferido em Petri & Scherer (2016), revelando que em um
dado momento histórico da língua portuguesa ela significou “dignidade” e não tinha “a
boca cheia de palavras proibidas” (Galeano, 1994, p. 51), transformando-se através dos
tempos até chegar aos sentidos que se depreendem dela na atualidade; daí advém o
adjetivo “surpreendente” do título deste projeto. As manifestações político-sociais
(Petri, 2017) que tiveram início (e auge) no ano de 2013, no Brasil, fizeram emergir
sentidos para a palavra ditadura diferentes daquele que remetia o sujeito aos anos 1960 e
1970, período de exceção, explicitando contradições no interior do discurso político,
bem como em suas relações com o discurso midiático, por exemplo. É disso que
propomos nos ocupar, viabilizar a compreensão de processos de produção de sentidos
que desconstruam as evidências e reconstituam uma parte da história das palavras em
seus diferentes funcionamentos no dicionário e para além dele.
Palavras-chave: palavra, história, processos de produção de sentidos, dicionário,
discurso.
Keywords: word, history, meaning production processes, dictionary, discourse
2 Objetivos
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- Descrever cada dicionário estudado, levando em conta suas características
gerais e específicas e o momento histórico no qual cada um deles foi produzido,
refletindo à luz dos pressupostos da História das Ideias Linguísticas;
- Explorar, à luz dos pressupostos teórico-analíticos da Análise de Discurso
peucheuxtiana, as palavras em funcionamento no discurso político estabelecendo
relações com os sentidos apresentados nos verbetes, reconhecendo as redes (entre
diferentes dicionários e no interior de cada dicionário estudado), a partir das quais se
constituem os processos de produção de sentidos;
- Eleger os verbetes de referência, no interior de cada temática, bem como
estabelecer as redes de produção de sentidos (entre diferentes dicionários e no interior
de cada dicionário estudado);
- Reconhecer os tipos de relações de identidade/alteridade que se estabelecem
entre os dicionários, a produção de sentidos e os falantes da língua, em diferentes
momentos sócio-históricos;
- Dar visibilidade às diferentes formas de veiculação dos saberes sobre a língua,
sobretudo os que são decorrentes do processo de mundialização/globalização e
digitalização do conhecimento produzido sobre a língua na história;
- Identificar as marcas linguístico-discursivas das tomadas de posição do sujeito
nos processos de gramatização da língua, via dicionários estudados;
- Explicitar o lugar do dicionário como instrumento linguístico da maior
importância na constituição do imaginário coletivo sobre a língua e sobre a história de
um grupo social;
- Destacar o lugar (e o funcionamento específico) do diferente no interior do que
está dado como sentido estabilizado no interior de dicionários, via exploração dos
processos de produção de sentidos: paráfrase, polissemia, sinonímia, metonímia,
metáfora, entre outros;
- Investigar as relações que se estabelecem entre os instrumentos linguísticos,
resultantes do processo de gramatização das línguas, e as outras materialidades
discursivas, deles decorrentes ou não;
- Promover encontros com orientandos, colegas outros pesquisadores para
ampliar as reflexões e motivar o engajamento de todos, enquanto grupo, na pesquisa;
- Reunir os resultados da pesquisa e produzir um livro, visando subsidiar outros
trabalhos da área de estudos linguísticos, histórico-discursivos, enunciativos,
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lexicográficos, etc. que se interessem pelos processos de produção de sentidos na língua
e nos saberes sobre a língua.
3 Metodologia
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instrumentos linguísticos produzidos no Brasil, mas poderão ser consultados também
dicionários produzidos em Portugal, sobretudo no tocante ao período do final do século
XIX.
O terceiro momento inicia com uma primeira incursão no interior dos seguintes
verbetes, resultantes de uma pesquisa prévia em espaços de mídia eletrônica e de um
gesto de interpretação sobre o discurso político e estão organizados em ordem alfabética
(como nos dicionários): anistia, burocracia, capitalismo, comunismo, conservadorismo,
democracia, ditadura, eleição, estado, fanatismo, fraude, governo, histeria, honestidade,
ideologia, idoneidade, jocosidade, justiça, liberalismo, liberdade, manifestação,
meritocracia, nepotismo, oportunismo, partido, política, quadrilha, república,
socialismo, tirania, trabalhista, usurpação, vandalismo, xenofobia, zé-povinho.
A partir de uma primeira leitura será possível realizar a eleição dos verbetes de
referência, como um princípio de agrupamento, com os quais os demais verbetes serão
postos em relação e, então, analisados em suas especificidades: as definições, os
exemplos e as outras palavras mencionadas em seu interior, colocando em
funcionamento o efeito “palavra-puxa-palavra” tão caro ao desenvolvimento desta
pesquisa. A tal princípio de agrupamento estamos chamando de palavra-pivô, pois dela
decorrerão as que estão presentes no interior do próprio verbete ou as correlativas
temáticas, formando um sítio de significância. Importa ressaltar também que as palavras
e sentidos investigados no interior dos dicionários poderão também ser comparados ou
contrastados, em seus funcionamentos, com formulações em língua portuguesa que
circulam ou circularam em outros espaços (não apenas em dicionários) e outros
discursos (não só o político), tais como o artístico, midiático, humorístico, literário, de
especialidades, para citar alguns.
E, por fim, em um quarto momento, serão elencados os elementos linguístico-
discursivos suscetíveis de análise, quando seja possível a explicitação de regularidades
discursivas que perpassam a constituição, instituição e circulação de tais instrumentos
linguísticos, seja pela identificação e explicitação dos processos de produção de
sentidos: paráfrase, polissemia, sinonímia, metonímia, metáfora, etc.; seja pelo
estabelecimento de redes de sentidos exteriores e/ou internas a cada dicionário. Trata-se
da análise do discurso presente nos verbetes, que, pela via da descrição (Orlandi, 1990;
2016), podem revelar: a) as tomadas de posição-sujeito; b) a constituição/instituição
dessa língua que é do colonizador, que é nacional, que é local e que é constitutiva de
uma identidade/alteridade dos sujeitos falantes dessa língua; c) alguns elementos do
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processo de construção da história da produção do conhecimento sobre a língua, através
da compreensão do processo de gramatização da (s) língua (s); e d) os traços que nos
darão a conhecer a surpreendente história das palavras em estudo, tomando por base o
estudo já realizado e publicado sobre a palavra ditadura (cf. Petri & Scherer, 2016).
Por último, não menos importante, importa destacar que a presente proposta de
pesquisa deverá envolver acadêmicos que estão realizando estudos sobre nossa
orientação, seja em Iniciação Científica, seja em nível de Mestrado ou Doutorado, o que
deve contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em equipe, gerando relatórios
parciais de pesquisa, bem como deverá explicitar as formas de divulgação e de
publicação dos resultados parciais e finais, realizados durante o período de
desenvolvimento. Efetivamente, a nossa projeção é de publicar artigos e capítulos de
livros com resultados parciais e um livro com os resultados finais obtidos no projeto e,
com isso, subsidiar outras pesquisas na área dos estudos linguísticos e áreas afins.
4 Justificativa
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recursos financeiros, possamos dar viabilidade à pesquisa em dicionários raros
guardados em acervos e bibliotecas no Rio Grande do Sul e fora dele. Da mesma forma,
temos o objetivo de transformar os resultados desta pesquisa em um livro que subsidiará
outras pesquisas no âmbito dos estudos histórico- discursivos, enunciativos, semânticos,
lexicográficos. Um primeiro estudo, que testa a proposta metodológica, foi apresentado
em 2015, em evento da área de estudos do discurso - SEAD (realizado em Recife) e está
publicado no livro que do evento resultou (cf. Petri & Scherer, 2016). A apresentação
do trabalho aos pares e a sua publicação, produziram em nós a necessidade de
aprimoramento do trabalho e as discussões lá empreendidas demonstram que há um
espaço de trabalho necessário para que se saiba mais sobre os dicionários e os seus
modos de funcionamento em redes, seja no interior de um mesmo dicionário seja em
suas relações com outros dicionários; e que ainda falta muito para termos acesso à
história das palavras em seus funcionamentos, sobretudo no tocante ao que sabemos
sobre o discurso político da atualidade.
A opção em realizar um recorte especificamente no interior do discurso político
deve-se à inserção desta pesquisa em uma problemática da atualidade, mas que vem
sendo construída historicamente há muito tempo e os dicionários poderão explicitar isso
a partir de nossas análises. Certamente não nos deteremos apenas no âmbito do discurso
político, posto que ele se constitui de diferentes práticas sociais, trazendo à baila
palavras e sentidos advindos de outras áreas e de outros discursos em funcionamento no
interior da sociedade brasileira. Enfim, elencamos algumas justificativas para a
realização desta pesquisa, mas a mais forte delas é o desejo de abrir “as caixas das
palavras” à moda de Eduardo Galeano, quando ele nos diz que “Numa caixa vermelha
guarda as palavras furiosas. Numa verde, as palavras amantes. Em caixa azul, as
neutras. Numa caixa amarela, as tristes. E numa caixa transparente guarda as palavras
que têm magia” (1994, p. 69), buscando compreender como elas fazem sentido em
nosso tempo presente.
5 Resultados Esperados
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últimos cem anos – em uma lista com a identificação dos espaços de guarda
(laboratórios de estudos da linguagem, universidades, acervos pessoais, arquivos
públicos, bibliotecas particulares e públicas, sites na web, ou outros espaços menos
convencionais), explicitando as possibilidades de consulta e as condições materiais dos
objetos em estudo.
- O estabelecimento de uma rede de dicionários que dialogam entre si, construindo
saberes sobre a língua no interior de um dado grupo social, em determinados momentos
históricos e influenciados por determinadas formações ideológicas.
- O estabelecimento de uma rede de produção de sentidos no interior dos dicionários
estudados, na qual é possível explicitar as relações entre as palavras que fazem de um
dicionário o que ele é. Esse trabalho será possível pela mobilização do processo
“palavra-puxa-palavra” que vai perseguindo um trajeto das palavras, via processos de
produção de sentidos, marcando a presença das paráfrases, das polissemias, das
sinonímias, das metonímias, das metáforas, etc..
- A produção de um dispositivo teórico e analítico que faça avançar as questões próprias
aos estudos dos dicionários, mas que também propicie avanços nas questões teóricas e
metodológicas que constituem a Análise de Discurso pecheuxtiana no Brasil, neste
início de século XXI.
- Uma contribuição para as áreas de Lexicologia, Lexicografia, Historiografia
Linguística e História das Ideias Linguísticas, com o levantamento semântico e
discursivo da história das palavras que ainda não foi explorada, desconstruindo espaços
de evidência de sentidos e explicitando outras possibilidades de significar e de funcionar
na língua e na vida social dos sujeitos falantes.
- A orientação de trabalhos de iniciação científica, mestrado e doutorado que possam
contribuir com a pesquisa que ora propomos, formando uma equipe de pesquisadores.
- O diálogo com outros pesquisadores que se interessam pela temática e por diálogos
com tal temática, dentre os quais destacamos alguns parceiros de longa data em nível
nacional e internacional. Nacionais: Prof. Dr. José Horta Nunes e Profa. Dr. Cristiane
Pereira Dias, LABEURB/UNICAMP; Profa. Dr. Vanise Gomes Medeiros, LAS/UFF;
Profa. Dr. Ana Zandwais, UFRGS/ Porto Alegre – RS; Profa. Dr. Lucília Sousa,
EL@DIS/USP/Ribeirão Preto-SP; Profa. Dr. Maria Cleci Venturini,
LABEL/UNICENTRO/Guarapuava-PR; Profa. Dr. Maristela Cury Sarian,
UNEMAT/Cáceres-MT. Internacionais: Profa. Dr. Mara Glozman, Universidade de
Buenos Aires/Argentina; Profa. Dr. Margarita Correia, Universidade de
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Lisboa/Portugal; Prof. Dr. Juan Manuel López-Munhóz, Universidade de
Cádiz/Espanha; Profa. Dr. Irène Fenoglio, ITEM/ENS – Paris; Prof. Dr. Christian
Puech, Universidade Paris III.
- A produção e publicação de artigos científicos e capítulos de livros com resultados
parciais da pesquisa.
- O livro “A surpreendente história das palavras”, que reunirá os resultados da pesquisa
e que subsidiará outros trabalhos da área de estudos linguísticos, histórico-discursivos,
enunciativos, semânticos, lexicográficos, etc. que se interessem pelos processos de
produção de sentidos na língua e nos saberes sobre a língua.
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conforme Nunes (2006a), “em concebê-lo como uma alteridade para o sujeito falante,
alteridade que se torna uma injunção no processo de identificação nacional, de educação
e de divulgação de conhecimentos linguísticos” (p. 43).
A presença de dicionários e gramáticas na sala de aula de Língua Portuguesa é
(ou deveria ser) uma prática cotidiana, muito embora, no Brasil, isso ocorra de modo,
muitas vezes, equivocado, pois funcionam como instrumentos que revelam a
“disparidade entre o falante e o instrumento normativo”, ganhando o “contorno de um
não-saber brasileiro em relação ao saber lusitano sobre a língua” (Oliveira, 2006, p. 19).
É inegável que a língua é uma questão nacional, e que, por isso, interessa ao Estado uma
homogeneização pedagogicamente instituída para que se possa ensinar e aprender a
língua nacional, apagando-se as diversidades. No entanto, o Dicionário de Língua
Portuguesa e a Gramática, designados como instrumentos linguísticos que oficializam o
uso de uma língua padrão, co-existem com inúmeros outros saberes, também
oficializados e instituídos pelo uso local, regional e específico. Dentre estes
instrumentos linguísticos não faremos distinção entre os mais utilizados e conhecidos e
aqueles que possam ter um funcionamento “marginal”, por estarem ocupando a margem
e não o centro das atenções, já que revelam a heterogeneidade, em detrimento do efeito
de homogeneidade produzido pelo uso de um instrumento diante de tantas outras
possibilidades.
Quando trabalhamos com os instrumentos linguísticos em sala de aula estamos
fornecendo-lhes um estatuto muito próprio, trata-se de tomá-lo como o detentor de saber
sobre a língua, uma língua herdada do colonizador português e que muitas vezes não
corresponde à realidade de ex-colônia. Para que se desconstrua essa relação díspar entre
falante e dicionário e gramática é que propomos uma análise discursiva de seu
funcionamento, buscando historicizar cada palavra em análise, levando em conta que há
um “real” da palavra e das idéias que ela nomeia, afinal “o que um nome designa é
construído simbolicamente. Esta construção se dá porque a linguagem funciona por
estar exposta ao real enquanto constituído materialmente pela escola” (Guimarães,
2002, p. 91). Enfim, tanto a designação quanto a descrição, no dicionário, refletem um
recorte próprio do instrumento linguístico, exercendo grande força normativa sobre os
falantes; bem como as regras gramaticais que estabelecem o que deve e pode ser
dito/escrito na língua padrão, produzindo efeitos de maior ou menor prestígio do sujeito
que faz uso da língua. É interessante refletir discursivamente sobre estes instrumentos
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que estabelecem e apagam sentidos sobre a língua e, consequentemente, sobre a
constituição do sujeito, de sua história e do seu mundo.
Dicionários e gramáticas são tomados em sua materialidade, que é muito mais
do que linguística e instrumental: trata-se de uma materialidade discursiva, na qual
observamos as formas de nomear e de designar as coisas do nosso mundo, os possíveis
funcionamentos desse ou daquele sentido, as possibilidades de uso de regras que
estabelecem o lugar imaginário do certo e do errado. Neste contexto, propor um estudo
sobre a história das palavras da perspectiva discursiva é promover uma entrada no
espaço de constituição, institucionalização e circulação de sentidos da Língua
Portuguesa para, então, questionar as evidências construídas nos e pelos instrumentos
linguísticos, propondo outras interpretações, desconstruindo sentidos estabilizados.
Estamos refletindo também sobre o lugar do sujeito na gramatização da língua, pois
esse sujeito fala, constitui sua identidade na e pela língua, esse sujeito constrói muitos
saberes e uma história própria na e pela língua. É a noção de sujeito, dotado de
inconsciente e afetado pela ideologia, que nos proporciona refletir sobre a língua e a
história, enquanto condições indispensáveis para que se estabeleçam relações de
pertencimento de um sujeito com a nação que representa e pela qual é representado.
Interessa-nos, então, conhecer mais sobre a história das palavras em funcionamento e,
por isso, será preciso saber mais também sobre o sujeito, o que será estudado pelo
menos por duas perspectivas de análise: a primeira que revela a tomada de posição do
sujeito dicionarista e/ou lexicógrafo; e a segunda fica em torno do sujeito falante que se
relaciona com a língua, com a história e com os instrumentos linguísticos em seu
cotidiano. Assim sendo, nos interessa a heterogeneidade que estas noções e relações
engendram, na busca da compreensão de diferentes processos de constituição de
sentidos.
José Horta Nunes, da UNICAMP, é um pesquisador que merece destaque
quando tratamos do estado da arte na área que estuda palavras, dicionários, glossários,
etc. de uma perspectiva discursiva. Um exemplo disso é a sua tese de doutorado,
publicada em 2006, sobre os dicionários no Brasil; e outro exemplo está em Nunes
(2006b), quando o autor apresenta um trabalho de análise de dicionário regionalista
pernambucano, explicitando algumas relações entre o regional e o nacional, que é
linguístico e que é cultural, e conclui que: “o espaço de gramatização brasileiro é
desigual, já que cada região tem uma história de constituição de seus instrumentos”,
mas ao realizar as análises discursivas pode-se perceber que há a formação de “uma
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rede que dá um sentido à unidade nacional, unidade marcada por deslocamentos,
continuidades, esquecimentos, expansões e delimitações” (p. 55). Toda a produção
bibliográfica de José Horta Nunes nos reporta aos estudos dos dicionários, das palavras
e dos sujeitos envolvidos no processo.
A diversidade linguístico-cultural nos interessa porque introduz o diferente no
interior do mesmo, e o sujeito se depara com esse novo no interior do velho e, de
diferentes formas, trabalha no movimento entre a manutenção e a atualização dos
sentidos. Interessa-nos, mais especificamente, tomar os dicionários como objetos
discursivos a serem lidos e, dentre as textualidades que lhe são constitutivas nos
interessa especialmente a forma de apresentação desses livros, seja pela apresentação de
terceiros (editores, críticos, etc.); seja pelo prefácio produzido pelos próprios autores.
Nunes (2006a), analisa os prefácios porque os considera material importante para o
estudo das condições de produção, fazendo emergir a voz do lexicógrafo situada em
determinado contexto (p. 20). Enquanto o prefácio nos fornece elementos para
entendermos as condições de produção do discurso, o verbete vai nos permitir
“explicitar traços da posição do lexicógrafo”, bem como “o lugar que o lexicógrafo
ocupa em uma formação social” (idem).
Nosso trabalho se sustenta no aparato teórico da Análise de Discurso de escola
Francesa, fundada por Michel Pêcheux, em suas relações com a História das Ideias
Linguísticas, tal como vêm sendo desenvolvidas no Brasil. A Análise do Discurso (AD),
desde a sua fundação, vem gerando discussões na área da Linguística e nos seus
entornos, por propor a mudança do objeto de análise, que sai do domínio frasal ou
textual e passa para o domínio do discurso, propondo diferentes metodologias de
análise. Dessa perspectiva, desconstróem-se os pares língua/fala,
competência/desempenho, gramatical/agramatical e se propõem a consideração da
língua em funcionamento, revelada em diferentes materialidades discursivas. Em AD,
há uma significativa produção de trabalhos que discutem as relações entre instrumentos
linguísticos, história, memória e constituição do sujeito na/pela língua; sendo que dentre
as principais noções mobilizadas nesse tipo de trabalho estão, invariavelmente, as de
sujeito e posição-sujeito; língua e discurso; formação imaginária, formação discursiva e
formação ideológica; produção e condições de produção; história e memória; sentido e
efeito de sentido; designação e descrição; entre outras que são invocadas por estas.
É na prática discursiva que o sujeito se manifesta enquanto tal, e é pela
superfície da língua que o analista tem acesso à espessura do discurso. Isso vai apontar
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para uma teoria da significação, na qual a produção do sentido é um processo que se
realiza na prática do discurso e, como propõe Henry (1993), a questão do sentido e da
significação só pode permanecer “em aberto”. Para este autor, a questão do sentido é,
constitutivamente, suscetível a “deslocamentos”, havendo sempre possibilidade de se
tomar posições, mas não de resolvê-la definitivamente. Nesse caso, a noção de
deslocamento tornar-se-á essencial, pois, conforme afirma Henry: “se a questão é
daquelas em que não se pode chegar ao fim, é possível deslocá-la, reformulá-la” (p.
152).
A noção de discurso funciona diferente da noção de frase, ocupando um outro
lugar nos estudos da linguagem e, conforme Michel Foucault (1995, p. 56), a noção de
discurso deve ser tomada como uma prática social. Para este filósofo - que contribuiu
com importantes reflexões para AD -, o discurso não pode ser concebido como um
conjunto de signos, pois ele funciona como uma prática que pressupõe a língua e a
sociedade para efetivar-se, formando os objetos de que falam. É da prática discursiva
que emerge a multiplicidade de sentidos que o discurso produz. Assim, cada sentido,
nessa multiplicidade, produz-se de acordo com o lugar e o momento da prática
discursiva, não recobrindo a totalidade de sentidos possíveis, mas extrapolando a
relação prevista entre significado e significante. Foucault busca no discurso “um campo
de regularidade para diversas posições de subjetividade”, e é nesse campo que “podem
ser determinadas a dispersão do sujeito e a sua descontinuidade em relação a si mesmo”
(p. 61-2), o que será melhor explicitado pela noção de Formação Discursiva (FD). Em
Pêcheux (1995, p. 213), vamos nos deparar com a questão da prática discursiva já
“inscrita no todo complexo contraditório-desigual-sobredeterminado das formações
discursivas que caracteriza a instância ideológica em condições históricas dadas”,
configurando já o elenco nocional da AD.
Ao construir o quadro teórico da AD, Pêcheux (19931, p. 82) concebe o discurso
como “efeito de sentidos entre os pontos A e B”, ou seja, entre os interlocutores, esse
efeito é produzido a partir da determinação de lugares sociais que os sujeitos ocupam. É
preciso levar em conta ainda que a ideologia é um dos elementos determinantes dessas
relações sociais entre os interlocutores, unindo-se a ela, de modo essencial, as condições
de produção do discurso que são históricas, já que “as ideologias não são feitas de
“idéias”, mas de práticas” (Pêcheux, 19952, p. 144). Nessa concepção, as condições de
1
A data do original em francês é 1969.
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A data do original em francês é 1975.
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produção do discurso são determinantes do sentido, pois é a partir dessas condições
(sociais, econômicas, ideológicas) que cada sujeito se posiciona diante do outro,
produzindo efeitos de sentidos.
A Análise de Discurso pecheuxtiana surge no final dos anos de 1960 e se ocupa
inicialmente do discurso político, o que vai sendo ampliado com o passar dos anos e que
hoje é um dos nichos passíveis de análise, especialmente quando se trata de Brasil. Para
Pêcheux (2014, p. 22) os discursos políticos “constituem também um vestígio, uma rede
de indícios para compreender concretamente como se chegou até aqui e, ao mesmo
tempo, para reconstruir a memória histórica a partir deles”, o que reforça nossa escolha
por conhecer um pouco mais da história das palavras no interior deste discurso em
especial.
Para mobilizarmos as noções de sentido e de efeito de sentido, precisamos
compreender como elas se constituem em AD. O sentido não é algo que está dado, mas
o apagamento de sua constituição material causa um efeito de já-lá, porque a ideologia
fornece sustentação à produção das evidências (ou efeito de evidência) que se realiza
em cada prática discursiva, levando o sujeito a crer na transparência da linguagem.
Pêcheux (1995), já afirmava que o sentido não existe “em si mesmo” e Foucault (1979)3
vai introduzir a noção de “verdade local”, a partir da qual o sentido funciona
“localmente” e não universalmente. Paul Henry (1993) diz que o grande mérito desses
dois autores está no fato de que ambos “tentaram estimular um procedimento suscetível
de construir localmente certos fatos de sentido” (p. 162). Dessa citação interessa-nos,
em especial, o elemento que desloca as reflexões sobre a constituição dos sentidos no
discurso: do universal para o local. Trata-se de pensar o sentido como um efeito de
evidência ou de obviedade, produzido na ordem da língua, e que pode ser desconstruído
na ordem do discurso, porque é na ordem da língua que se constrói o efeito de unidade
do sujeito e do sentido, sendo que essa unidade só pode ser desconstruída se passarmos
para a ordem do discurso, onde a interferência de outros elementos, que são exteriores à
língua, constitui sentidos.
3
A edição original em francês é de 1976.
15
uma palavra, trata-se de um trabalho realizado em sala de aula, com alunos de Letras, no
qual se propôs “observar como funciona essa gestão dos sentidos no interior de uma
mesma língua, pela seleção, organização, distribuição e controle das formas
significantes” (p. 110). Nesse trabalho de análise do discurso foram consideradas a
estruturação dos verbetes e do próprio dicionário, o que revelou a evidente construção
imaginária de uma unidade que produz o efeito de apagamento das relações de
inclusão/exclusão ou de conflito/confronto, entre outras, inerentes à língua. Observamos
como se dá esse processo em, pelo menos, um exemplo de análise revelado por Silva
(2003): o verbete “mulher”, presente no dicionário Aurélio, revela apenas dois
enunciados definidores: um no campo biológico (pessoa do sexo feminino) e outro que
determina o lugar em uma dada estrutura familiar (esposa). A esses enunciados segue-se
abundante lista de paráfrases do termo “meretriz”, o que linguisticamente determina que
o verbete “mulher” esteja associado à prostituição. É a passagem para a ordem do
discurso que possibilita a discursivisação desse verbete, fornecendo-lhe historicidade e
isso leva os analistas a se questionarem: que língua e que país é esse que, em pleno
século XXI, está alheio aos sentidos em funcionamento quando se trata de “mulher’? Se
ela não for “esposa” que lugar deve ocupar na sociedade? Isso aponta para uma forma
explícita de exclusão dessa “mulher” outra que não a esposa. Com esse exemplo
podemos compreender o dicionário como um instrumento linguístico que suscita
discussão e reflexão sobre as relações entre linguagem e sociedade, língua e sujeito,
discurso e produção de sentidos. Então, ao considerarmos os instrumentos linguísticos
como espaço propício à discussão e à polêmica, estaremos adentrando o espaço da
heterogeneidade do sujeito; da diversidade própria do saber da e sobre a língua; da
polissemia, onde diferentes designações podem estar carregadas com um mesmo sentido
ou com sentidos diferentes, o que não modifica o objeto e sim as formas de
apresentação (e de representação!) desse objeto.
16
sociedade” (Scherer, 2005, p. 14). O sujeito, portanto, nesse trabalho, é tomado em sua
relação com a língua, afetado pela ideologia e atravessado pelo inconsciente, não sendo
origem de seu dizer e nem o controlador dos sentidos que seu dizer pode produzir
(Pêcheux, 1995). Entendemos que não há uma relação direta entre as palavras e as
coisas ou entre a palavra e um sentido literal, mesmo que estejamos tratando de
dicionários, pois tais instrumentos revelam o imaginário de toda uma sociedade pela
língua. Os sentidos, nessa abordagem, estão todos à margem (Orlandi, 1996), sendo
chamados ao centro pelas condições de produção do discurso, a posição do sujeito, etc..
A partir de tais pressupostos teóricos, tomamos os instrumentos linguísticos,
como objetos discursivos que se constituem de uma parte de apresentação e de outra
parte destinada aos verbetes, às regras, às definições, às descrições. Tais partes se
complementam, produzindo efeitos de sentidos evidentes ao olhar do sujeito que
fala/escreve na e pela língua, promovendo a constituição de sua identidade. Em geral, os
instrumentos linguísticos trazem uma apresentação, às vezes mais ou às vezes menos,
detalhada do trabalho do lexicógrafo e do gramático que se dedica inteiramente a essa
tarefa de reunir verbetes e regras da língua viva, atualizada cotidianamente, num esforço
de controlar, ou pelo menos de conter, os possíveis efeitos de sentidos que estas possam
produzir na língua. Os instrumentos linguísticos dialogam com sua própria tradição de
existir e uma nova edição dialoga com as edições anteriores. Talvez, ao tratarmos de
heterogeneidade linguística, possamos contemplar também outros tipos de diálogos, tais
como os que se estabelecem com um passado mitológico; com a tradição de um povo
que evoca sua diferença linguística como marca identitária; com o estrangeiro; com os
relatos dos viajantes; com as ideologias separatistas; a literatura marginal ou
regionalista de ontem e de hoje; com listas de palavras (glossários e vocabulários) de
uma época distante, conservadores de uma língua-cultura própria; etc..
A partir do que destacamos acima, estamos propondo uma análise do discurso
constitutivo do instrumento linguístico, levando em conta a incompletude do sujeito e
da linguagem. É a partir dessas observações que nos propomos pesquisar a
constituição/instituição de língua, sujeito e história no e pelo processo de gramatização,
um processo constitutivo da História das Idéias Lingüísticas, tal como essa história é
estudada atualmente4. Temos o propósito de desmitificar um pouco o funcionamento do
4
Tomamos como referencial o grupo de pesquisadores que integra o Projeto denominado História das
Idéias Linguísticas no Brasil, desenvolvido pela UNICAMP e pela USP (bem como outras universidades
brasileiras); e pela Universidade de Paris VII e pela ENSLSH de Lyon, na França.
17
dicionário como detentor do saber sobre a língua, propondo que ele passe a funcionar
como mais um lugar de realização das relações entre sujeito e língua na/pela história.
O objetivo do analista de discurso é observar a constituição das práticas
discursivas e, nesse caso, bem específico, estamos levando em conta o estudo da língua
culta (oficial) como algo que pode produzir um processo discursivo histórico de
apagamento de elementos linguísticos fortemente presentes na língua regional, coloquial
ou ficcional; mas, por outro lado tem o poder de estabelecer relações entre as
semelhanças/diferenças linguístico/culturais/literárias que produzem uma língua,
tomada em sua heterogeneidade constitutiva (Authier-Revuz, 2004). Queremos prestar
mais atenção no jogo de diferenças constitutivo da relação entre o que está posto no
social da língua e o que está institucionalizado nos instrumentos linguísticos. Isso nos
conduz a refletir sobre quais são as relações que se estabelecem entre tradição e
atualização na memória discursiva da e sobre a palavra, revelada pelos instrumentos
linguísticos em suas relações com as práticas sociais.
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mestres e doutores, formados por nós, está trabalhando em universidades e institutos
federais no interior do estado do Rio Grande do Sul, bem como de Santa Catarina e
Paraná.
Dentre nossas publicações, duas obras merecem especial destaque. O livro “Um
outro olhar sobre o dicionário”, de 2010, pela editora do PPGL/UFSM, que reúne os
resultados de pesquisa e de práticas desenvolvidas em escolas de Santa Maria; e o livro
“Análise de discurso em perspectiva: teoria, método e análise”, em 2013, pela editora da
UFSM, organizado em parceira com Cristiane Dias, no qual está publicado o capítulo
resultante do pós-doutorado realizado na UNICAMP, sob supervisão da Profa. Eni
Orlandi. De 2007 até hoje, foram publicados dezesseis capítulos de livros
individualmente e em parcerias, merecendo especial destaque « La place des études
françaises dans la constituition du disciplinaire brésilien et l’Analyse du Discours
aujourd’hui », texto produzido com colegas de Santa Maria, São Paulo e Rio de Janeiro,
a partir de um projeto que nomeamos Enlace entre Laboratórios de Pesquisa
(Corpus/LAS/EL@DIS), apresentado em evento internacional em Cádiz, na Espanha
(2013), e publicado no livro Aux marges du discours: personnes, temps, lieux, objets,
sob a organização de Juan Manuel López-Munhóz, pela editora Lambert-Lucas, de
Limoges, em 2015. No mesmo período, publicamos muitos artigos em periódicos
científicos, buscando nos últimos anos trabalhar em parcerias com colegas da área com
os quais dialogamos, fazendo assim com que nossas produções circulem mais e em
diferentes espaços de produção acadêmica. Neste âmbito, merecem especial destaque os
textos publicados na Revista Signo y Seña, de Buenos Aires (Argentina), na Gragoatá
(UFF), Polifonia (UFMT), Organon (UFRGS), Letras (UFSM) e tantas outras
detalhadas no Lattes.
Como membro e como uma das coordenadoras do "Laboratório de fontes de
estudos da linguagem - Corpus" temos trabalhado pelo interesse da coletividade. O
Laboratório reúne pesquisadores de interesse comum com o objetivo de disponibilizar
acervos, incentivar o trabalho de recuperação de fontes e desenvolver uma dinâmica de
seminários, exposição de material, reuniões de estudo e de trabalho, enfim, apresenta-se
como um espaço propício à formação de jovens pesquisadores e de desenvolvimento de
pesquisas na área de Letras e Linguística, através da temática: história, língua e
memória. Quando o Corpus foi fundado, foi criada também a rede de pesquisa que
reúne professores das mais diferentes instituições de ensino superior do lado oeste dos
estados da região sul que têm participado das diversas atividades promovidas pelo
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Laboratório, fazendo com que o avanço na reflexão sobre os fenômenos da linguagem,
nesta região, tomam forma através de projetos integrados e que novos pesquisadores
sejam formados. Acreditamos na importância do trabalho em equipe e que é preciso
reunir forças em grupos de trabalhos que defendam nossos interesses científicos,
acadêmicos e de política de divisão de recursos financeiros. Somos filiadas à ARALIN
(desde 2002) e à ANPOLL (desde 2006), via Programa de Pós-Graduação em Letras da
UFSM, participando ativamente do GT de Análise de Discurso; participamos também
de dois Grupos de Pesquisa do CNPq: o GEPAD, liderado pela professora Solange
Mittmann, e do Linguagem, sentido e memória, sob a liderança da professora Amanda
Scherer, do qual somos vice-líder.
Em 2016 o grupo do Laboratório Corpus encampou a realização do CELSUL,
evento que reuniu pesquisadores da área de estudos linguísticos do sul do Brasil e da
América Latina (obtendo recursos financeiros da Capes, do CNPq e da Fapergs).
Portanto, o Laboratório constitui-se como um espaço de estudo, reflexão e discussão
acerca de língua e literatura nas peculiaridades que lhe são próprias na região. No
mesmo ano sediamos e organizamos também uma Escola de Altos Estudos em
Semiologia e Linguística (http://corpus.ufsm.br/index.php/escola-de-altos-estudos) com
recursos da Capes e contrapartida da UFSM.
É via Laboratório Corpus que muitos jovens pesquisadores e professores da rede
de pesquisa têm acesso a um ambiente de estudos e de pesquisa, pois nele se institui
uma cultura de pesquisa vinculada aos problemas que afetam a metade oeste da região
sul, ou seja, os fenômenos de linguagem relacionados ao contexto de fronteira com os
países vizinhos. Tais fenômenos podem ser elencados por questões do tipo: Que língua
falamos? Qual é a história dos textos e dos escritores aqui instalados? Que instrumentos
linguísticos são aqui elaborados? Qual é nossa identidade enquanto sujeitos que se
representam e são representados na língua e na cultura regionalista? Como somos
constituídos histórica, linguística e literariamente? O fortalecimento de uma cultura de
pesquisa, no entanto, pressupõe uma inter-relação profissional mais consistente e o
desenvolvimento de ações interdisciplinares mais frequentes, com novos instrumentos
tecnológicos que possam proporcionar uma maior partilha e, principalmente, via online
de nossos arquivos aqui constituídos. Nosso acervo é importante do ponto de vista da
história regional fronteiriça. A criação do Laboratório Corpus – graças ao
PROCAD/CAPES com a UNICAMP (que data de 1999) – marco fundador de nossa
história - foi necessária para oficializar e consolidar as atividades que já vinham sendo
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desenvolvidas individualmente ou com outros pesquisadores em diferentes projetos.
Outro dado interessante a destacar diz respeito aos projetos integrados entre: o
Laboratório Corpus e o Labeurb (UNICAMP); o Laboratório Corpus e os laboratórios
LAS (UFF) e o EL@DIS (USP-Ribeirão Preto) formando uma rede com o objetivo da
mobilidade acadêmica e de bens materiais científicos. Atualmente, o Laboratório
Corpus passa por uma nova fase. A fase mais importante de sua história. Possuímos um
acervo potencialmente promissor no tocante à quantidade e à qualidade do arquivo. Tal
acervo constitui-se de doações pessoais e institucionais, bem como foi incrementado,
através de compras em livrarias-sebos especializados, mediante um minucioso trabalho
de levantamento de dados, demandando um trabalho em equipe fundamental. Este
projeto que ora apresentamos visa também à aquisição de dicionários produzidos no
Brasil nos últimos cem anos, o que poderá tornar o Corpus um espaço de referência
nesta área. Sabemos que é um processo que requer tempo, preparo, formação e interesse
de pesquisa e através das nossas tratativas com a pesquisadora Irène Fenoglio do Institut
des Textes et Manuscrits Modernos (CNRS-ENS- Paris, França) criamos uma política
de fundos documentais e de acervos de obras raras, promovendo assim ações de
internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Letras (ao qual nos filiamos e
ao qual o Laboratório Corpus está vinculado). Tal política, coordenada pela Profª. Dr.
Amanda Scherer, é nosso grande investimento no momento, inclusive estamos criando
um Centro de Documentação e Memória na unidade da UFSM em Silveira Martins
(município distante 30 km de Santa Maria), configurando-se como um dos principais
projetos da Unidade Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão, que substitui a antiga
Unidade Descentralizada de Ensino Superior da UFSM. Maiores informações podem
ser acessadas em nosso site na web: http://corpus.ufsm.br/
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