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AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
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divulgação dos resultados, segundo Afonso (2014), o mercado tem sido presente
e inserindo aspectos relacionados ao controle gerencial na apropriação dos
resultados destes instrumentos, gerando consequentemente impactos sobre a
elaboração de políticas.
Essa lógica tem induzido disputas entre sistemas de ensino e de forma
mais equivocada entre escolas levando à concorrência, à competição, à produção
de rankings e a uma escolha oculta, já que os resultados divulgados não são
suficientes para explicar um conceito polissêmico como a qualidade de uma
escola ou de um sistema de ensino, como veremos mais adiante. Além disso, a
apropriação inadequada dos resultados dessas avaliações, podem também
acentuar as desigualdades educacionais, uma vez que são analisadas de forma
tendenciosa, sem considerar os contextos sociais relacionados que podem
interferir em resultados escolares.
Já a emancipação social tem caracterizado o outro lado desse possível
confronto, numa perspectiva que atribui às avaliações externas, por exemplo,
função diagnóstica para a produção de políticas públicas, além de um panorama
sobre as condições da oferta educacional e da dimensão pública das ações do
Estado para a educação.
Não há dúvidas de que a avaliação é um importante aliado na produção de
informações à política educacional, auxiliando governantes em suas decisões e
subsidiando ações em busca da qualidade de ensino, trazendo luz a questões
educacionais complexas. Bonamino e Sousa (2012), ao destacarem a importância
do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para a educação brasileira,
o relacionam a duas importantes formas de participação da sociedade sobre as
ações do Estado: o controle social e o controle de resultados.
É importante refletirmos em que medida essas tendências — regulação e
emancipação social — se afastam e se aproximam, haja vista a realidade
educacional e cotidiana das escolas serem dinâmicas e complexas e os sistemas
de ensino diversos. Será possível a contraposição ou a integração dos aspectos
que essas tendências representam?
Mais adiante, aprofundaremos o olhar sobre essas questões e
apontaremos as relações com a avaliação institucional. Cabe aqui destacar que o
campo da avaliação educacional é diverso e marcado por disputas políticas e
pedagógicas acerca do tema, que demandam um olhar cuidadoso daqueles que
se interessam sobre a discussão, principalmente daqueles que lidam com a
temática em sua realidade profissional.
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1.2 Perspectivas presentes na avaliação educacional
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TEMA 2 – NÍVEIS DE ABRANGÊNCIA DA AVALIAÇÃO NA ESTRUTURA
EDUCATIVA
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Tem como objetivo discutir os problemas atuais da instituição visando
melhorar processos internos que impactem em condições mais adequadas de
ensino e de aprendizagem e em melhoria de resultados. Ela precisa “identificar
aspectos concretos, formais e informais, explícitos ou não, internos e externos,
que viabilizam a realização dos objetivos e fins educacionais propostos num
projeto institucional” (Brandalise, 2010, p. 318) e, nesta perspectiva, tem um
caráter constitutivo de uma cultura formativa dentro da escola que é viabilizada
pela participação, processo que sustenta todo avaliativo.
Por isso, a avaliação institucional quando tomada sob princípios político-
democráticos, tem alto poder indutivo e transformacional dos problemas que se
propõem a analisar, pois tem a capacidade de envolver todos os sujeitos a pensar,
questionar e a propor soluções sobre estes.
Elaborada pelos sistemas de ensino ou pelas próprias instituições,
participam desse processo coletivo todos os segmentos que compõem a escola:
professores, funcionários, coordenadores pedagógicos e comunidade local,
liderados pelo diretor da instituição.
Mesmo considerando o protagonismo dos sujeitos que atuam na e sobre a
escola, essa dimensão avaliativa não negligencia os dados das avaliações
produzidas externamente, mas antes olha de forma atenciosa e crítica, validando
ou refutando dados com argumentos ancorados em referenciais pedagógicos
confiáveis e sólidos, pois não é possível desconsiderar um dado produzido
externamente somente por mero desconhecimento da leitura realizada.
Assim, a avaliação institucional considera toda a riqueza da avaliação
externa de forma apropriada, tomando as informações necessárias que
acrescentem não somente à avaliação institucional, mas consequentemente ao
trabalho educativo e escolar, ela “é o ponto de encontro entre os dados
provenientes tanto da avaliação dos alunos feita pelo professor, como da
avaliação dos alunos, feita pelo sistema. Ambos falam de um único sujeito: o
aluno, a verdadeira figura central da escola” (Freitas, 2009, p. 45).
Já a avaliação da aprendizagem, mais comum e recorrente no âmbito
escolar, abrange a relação professor-aluno na sala de aula, portanto, de ensino-
aprendizagem. Visa capturar a aprendizagem dos estudantes em relação aos
conteúdos ensinados e aos objetivos estabelecidos pela escola. Expressa mais
fortemente “as relações de poder” (Freitas, 2009) existentes no processo
avaliativo, pois se dão muito próximas ao sujeito avaliador e ao sujeito avaliado,
assim a avaliação da aprendizagem se configura como a “categoria que modula o
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próprio acesso ao conteúdo e interfere, mais do que se possa pensar, no método
de ensino escolhido para os alunos” (Freitas, 2009, p. 23).
A avaliação da aprendizagem deve ser objeto de constante discussão na
escola, visando a prioridade ao conhecimento, a aprendizagem com prazer, a
equidade, e tantos outros princípios comuns às outras dimensões avaliativas,
como a pluralidade, a autonomia dos estudantes, a qualidade pedagógica e
coerência aos objetivos estabelecidos.
Estas dimensões avaliativas, que compõem a estrutura educativa,
dialogam e se articulam em torno dos mesmos fins, que os estudantes possam
aprender cada vez mais, de forma a alcançar o sucesso escolar em sua trajetória.
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Democrático de Direito. O Estado como provedor do direito à educação tem o
dever de garantir sua efetivação e também, protegê-lo. No contexto brasileiro, a
materialização do direito à educação tem se efetivado principalmente pelo acesso,
pela permanência e pela qualidade do ensino ofertado nas instituições de ensino.
A efetividade da educação tem relação direta com a qualidade de ensino.
A CF de 1988, enuncia em seu art. 206, inciso VII, que “o ensino será ministrado
com a garantia de um padrão de qualidade”. Assim, proclama o compromisso do
Estado de garantir não só a educação, mas educação de qualidade. Esse
pressuposto deve ser efetivado mediante a oferta de educação escolar para todos,
permeada por padrões de qualidade que alcance aos diferentes interesses da
população.
Oliveira e Araújo (2005), relatam que no contexto brasileiro a qualidade de
ensino foi percebida de três formas distintas: pela oferta insuficiente, pelas
disfunções no fluxo, ao longo do ensino fundamental e por meio da generalização
de sistemas de avaliação externas à escola.
A falta de um consenso acerca do conceito de qualidade em educação,
infere diferentes juízos para aferi-la ganhando espaço às que se referem ao
desempenho dos estudantes em testes padronizados.
O conceito de qualidade da educação é polissêmico: do ponto de vista
social a educação é de qualidade “quando contribui para a equidade; do ponto de
vista econômico, a qualidade refere‐se à eficiência no uso dos recursos
destinados à educação” (Dourado; Oliveira; Santos, 2007, p. 12). Podemos inferir,
que qualidade é um conceito dinâmico, construído de acordo com um contexto
(histórico) e um espaço (político).
Além do Estado, a escola tem papel estratégico na proteção do direito à
educação e no direito a aprender. Suas responsabilidades estão previstas por
meio de injunção legal (LDB/96 e o Estatuto da Criança e do Adolescente),
normatizando seu funcionamento para garantia destes direitos.
À escola compete prover a recuperação de alunos de menor rendimento,
aos responsáveis dirigentes, segundo as atribuições de cada um. A frequência
dos estudantes também deve ser critério de acompanhamentos das escolas e
órgãos responsáveis, além de atenção especial aos Projetos Políticos
Pedagógicos, que definem a concepção de educação da instituição a qual
regulará toda a sua organização.
Todavia, a realidade brasileira marcada por inúmeras desigualdades reflete
no cotidiano escolar desde a organização das cadeiras, até diferenciação entre
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classes fortes, médias e fracas resultando em situações de exclusão dentro e fora
da sala de aula.
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Vemos que a LDB n. 9394/1996, apresenta um texto enxuto quanto a
avaliação educacional, sendo flexível em alguns aspectos e incorporando as
novas tendências político-democráticas que se estabeleciam no território
brasileiro, e omissa em outros termos, especificamente no nosso objeto de
discussão de estudo, a avaliação institucional.
Cabe salientar que a produção de uma legislação nacional não ocorre sem
disputas. A LDB n. 9394/1996 passou por um período de oito anos de tramitação
antes da sua aprovação, sendo discutida por diversos atores sociais, com
embates e interesses em jogo, assim é necessário destacar que o texto aprovado,
é fruto de uma grande conquista democrática que se estabeleceu em letra de lei.
Assim, a teoria, a legislação e as práticas se articulam na avaliação
educacional gerando um campo aberto para convergências e também
divergências.
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Para participar da avaliação institucional é imprescindível considerar alguns
fatores que se configuram como condições básicas para sua realização. É preciso
compreender que a escola, apesar da autonomia atribuída pela legislação e
materializada na prática, apresenta limites.
No contexto do trabalho escolar a autonomia tem caráter coletivo, ou seja,
as minhas decisões estão sempre relacionadas a um propósito e a um fim maior,
o direito à educação. Não há espaço no trabalho escolar para decisões e práticas
baseadas numa esfera pessoal e individual, ao contrário, as decisões e práticas
devem ser fundamentadas numa dimensão pública, considerando a
impessoalidade e a coletividade. Assim sendo, é preciso aprender a se vincular
ao trabalho coletivo, a se relacionar com o outro, a ter empatia e alteridade
suficientes para essa relação.
Outro fator fundamental para a avaliação institucional, é a qualificação dos
profissionais para uma interlocução consequente. Não há como discutir e decidir
sobre algo que não conhecemos, que não temos acesso à informação. O diálogo
dificilmente será democrático se apenas algumas pessoas detém todo o
conhecimento acerca das condições e questões importantes que precisam ser
discutidas e avaliadas. É necessário qualificar as discussões e preparar as
pessoas com informações necessárias para que possam fazer inferências,
problematizar, questionar e avaliar. Não é possível avaliar algo que eu não
conheço minimamente.
É necessário compreender também que discutir resultados da
aprendizagem dos estudantes é refletir sobre o trabalho de ensino, que o
professor e a escola e todos os processos que se desenvolvem são também
objeto de avaliação, estabelecer instrumentos de avaliação e autoavaliação pelos
pares pode ser produtivo. Além disso, o olhar contextualizado os fatores intra e
extraescolares são imprescindíveis. Conhecer a comunidade e contexto social em
que o estudante está inserido pode fornecer informações explicativas importantes
Assim como em outros tipos de avaliação, na avaliação institucional é
necessário construir instrumentos de medida, estabelecer estratégias e
indicadores de qualidade que permitam aferição das dimensões pedagógica,
administrativa, financeira da escola, assim como sobre as condições estruturais,
materiais e humanas do trabalho escolar.
Nesse sentido, a escola deve ter clareza sobre a concepção de qualidade
que permeia o seu trabalho e permeará a avaliação institucional. Certamente, o
direito à educação deve ser o norte de todo o trabalho desenvolvido na escola e
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os resultados da avaliação externa devem ser considerados nesse momento,
analisando-os com propriedade e o devido cuidado.
A avaliação institucional tem caráter transformacional, assim deve-se
utilizar seus resultados em planos e proposições de trabalho. Da mesma forma
que o coletivo se reúne para discutir e avaliar, pode-se estabelecer possibilidades
frente aos resultados.
Professores, pedagogos, diretores e comunidade têm responsabilidade
frente aos resultados produzidos, assim o grupo deve propor ações sobre os
rumos do trabalho, em consonância ao Projeto Político Pedagógico.
Por isso a avaliação institucional tem caráter propositivo e de mudança,
pois é possível transformar a escola que temos na escola que os estudantes
precisam ter!
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
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