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Introdução
científica e social”, pois ela é uma ferramenta de poder, que pode contribuir (ou não)
para promover a escola de qualidade para todos. Entendendo imprescindível analisar
tais políticas buscamos responder: Como os coordenadores pedagógicos entendem,
reagem e convivem com essa política de avaliação no contexto escolar? O principal
objetivo é analisar como essa prática de avaliação é compreendida e gerida pelos
coordenadores pedagógicos em suas práticas. Nosso esforço está em compreender como
aspectos legais, instituídos por meio de encaminhamentos provenientes dos gabinetes
governamentais, são acolhidos no contexto escolar, uma vez que ocorrem
concomitantemente com as práticas educativas “regulares” no interior das escolas.
A investigação é de natureza qualitativa, com enfoque descritivo-interpretativo
analítico, cuja coleta de dados teve por instrumentos as entrevistas semiestruturadas e
análise documental. O lócus desse estudo foram 10 (dez) escolas da rede pública
municipal de Cuiabá/MT, sendo sujeitos 10 (dez) coordenadores/as pedagógicos/as que
atuavam junto aos professores do 5º ano do ensino fundamental em 2013.
do desempenho dos sistemas que permitam verificar tendências ao longo do tempo com
a finalidade de reorientar políticas públicas” como afirma Freitas (FREITAS et al, 2009
p. 47) ou como “forma privilegiada e frequentemente a única de se analisar a qualidade
da educação básica brasileira” como propõe Soares e Xavier (2013, p. 904) referindo-se
ao Ideb. Para esses autores a admissão do Ideb colocou no cerne do debate a ideia de
que os sistemas educacionais brasileiros devem ser avaliados não apenas pelos seus
processos de ensino e gestão, sobretudo, pelo aprendizado e trajetória escolar dos
alunos.
As políticas educacionais têm sido claramente influenciadas pela ideologia
neoliberal. Para Santos (2006) o surgimento de tais políticas foi propiciado por um
intenso desequilíbrio da tensão permanente entre aqueles que historicamente têm sido os
três grandes pilares reguladores da vida social: o estado, o mercado e a cidadania.
Dentre suas finalidades está garantir eficiência e produtividade em processos
pedagógicos, deste modo, implantaram no campo educacional mecanismos de mercado,
como responsabilização, meritocracia, e por que não dizer, privatização.
de políticas cria incentivos para que as escolas mantenham afastados aqueles estudantes
que podem baixar as médias dos resultados”. (DARLING-HAMMOND, 1991, p. 223
apud AFONSO, 2000, p. 90). Essa situação é reiterada por Hout e Elliott (2011) e
Ravitch (2011), pois eles também denunciam situações contestáveis, constrangedoras e
excludentes que algumas escolas americanas realizam para afastar os alunos que
consideram “fracos” e assim indesejáveis às escolas, porque podem deixar decair as
pontuações dos testes.
Ainda tomando o sistema educacional americano por lócus Nichols e Berliner
(2007) apresentam evidências de que os testes de alto impacto distorcem e corrompem a
educação e que o uso continuado destes constitui uma grave ameaça à profissão
docente. Os autores referem-se às fraudes, divulgadas corriqueiramente em estudos
acadêmicos e imprensas locais, como a manipulação da população de alunos testados, a
adulteração de respostas e notas em avaliações, e a diminuição do nível de exigência,
pelos estados, para dissimular resultados que comprovem melhoria, mesmo quando
estas não ocorrem.
Embora haja anuência a respeito da importância da avaliação, vale lembrar que
não é qualquer avaliação. Compreendemos que a meritocrática baseada exclusivamente
em testes não favorece o desenvolvimento de uma educação de qualidade. Defendemos
uma avaliação com significado político de caráter formativo, que sirva como
instrumento de apropriação da realidade escolar pelos seus atores, e que aponte como
referência esforços para a melhoria.
Entendendo que essas políticas mexem na função social da escola, logo tem que
alterar a organização do trabalho pedagógico da escola para além da sala de aula. Se por
um lado, a ação do coordenador pedagógico na contemporaneidade tem sido atingida
por uma gama de questões que permeiam o ambiente escolar que de certa forma,
também emergem de um contexto mais amplo que constitui o cenário nacional social,
político, econômico e educacional; e por outro, a escola, de acordo com Pérez Gómez
(2001, p.17) ao mesmo tempo em que propicia a mediação reflexiva dos valores e das
relações sociais de uma dada sociedade, respectivamente desenvolve e reproduz sua
própria cultura, suscitando um conjunto de significados e comportamentos próprios,
então podemos dizer que a escola situa-se em um constante movimento de contradições.
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Nós fomos chamados na SME para melhorar nosso IDEB. Por parte da SME,
propuseram auxiliar, às vezes técnicos vem aqui na escola olhar o
planejamento do professor, ajudar o professor a pensar numa melhor forma
de trabalhar algum tipo de conteúdo, então, houve essa mudança no sentido
de mexer com essa escola. Vem de lá uma orientação curricular, que nós
seguimos, porque entendo que a SME tem o papel de orientar e precisamos
seguir essas orientações. (CPM)
É claro que a gente sabe que exige muita “leitura e interpretação” e isso já é
uma coisa que temos a preocupação de trabalhar. (CPML)
É um “conteúdo” que cai, então “porque não cobrar da criança”? Temos essa
visão de que tem que ser trabalhado esse “conteúdo”. Quanto às avaliações já
vínhamos fazendo simulados desde 2008. (CPA)
Tem que “divulgar” para ver como está o ensino no Brasil e para o próprio
professor ver a turma dele. Não é uma turma só dele é de todos que já
passaram desde a Educação Infantil até o 5º, mas recai a responsabilidade no
professor do 5º ano. Aqui o IDEB é alto. Então a gente tem que puxar cada
vez mais porque não é a mesma turma que faz às avaliações. (CPA)
Fizemos inúmeras atividades, assim “treinando nossos alunos” para que eles
pudessem sair bem nessa avaliação e em outras que virão para eles na frente.
Ler, escrever e interpretar esse é nosso objetivo. O professor é escolhido a
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Para mim está avaliando o professor. A gente tem trabalhado muito com os
pais buscando a responsabilidade deles na ajuda em casa, no
acompanhamento. (CPA)
É evidente que se você trabalhar com uma estratégia pra ter um IDEB lá em
cima você tem, agora se esse IDEB corresponde realmente ao que o aluno
sabe, o que o aluno conhece, o que o aluno pensa? Tenho dúvidas... (CPV)
Algumas considerações
Referências
HOUT, Michael; ELLIOTT, Stuart W., (Eds). Incentives and Test-Based Accountability
in Education. Washington, D.C.: The National Academies Press, 2011
MADAUS, G.; RUSSEL, M.; HIGGINS, J. The paradoxes of High Stakes Testing:
how they affect students, their parents, teachers, principals, schools, and society.
Charlotte, NC, EUA: IAP – Information Age Publishing, INC, 2009
http://www.mitpressjournals.org/doi/abs/10.1162/rest.2010.12318, acesso em
28/09/2011.
RAVITCH, Diane. Vida e Morte do Grande sistema escolar americano: como os testes
padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação. Tradução Marcelo Duarte.
Porto Alegre: Sulina, 2011.