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Roberto Araújo da Silva

DOI: http://dx.doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2020.v30.n61.p329-343

A Avaliação Educacional como


Política Pública de Resistência:
o caso do SINAES
Roberto Araújo da Silva (UCS)*
https://orcid.org/0000-0002-8132-2831

RESUMO
O estudo analisa a atual política pública de avaliação da educação superior
como meio de resistência ao conservadorismo. Apresenta o cenário da educação
superior no país e explora aspectos da concepção, implementação e efeitos do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Elaborado como
articulador entre avaliação como regulação e avaliação educativa, o Sistema
sustenta-se como política de resistência, se consideradas as características
formativas e indutoras de qualidade presentes em alguns de seus instrumentos
avaliativos. De caráter teórico-analítico, o trabalho vale-se do diálogo entre a
literatura e os documentos sobre a temática como recurso hermenêutico. Conclui
que o SINAES, como outras políticas públicas, passa por processo dinâmico de
mudanças, porém permanece relevante como modo de repensar práticas no
âmbito da educação superior.
Palavras-chave: Educação superior. Política pública. Política educacional.
Avaliação educacional. SINAES.

ABSTRACT
THE EDUCATIONAL ASSESSMENT AS PUBLIC POLICY OF RESISTANCE:
THE CASE OF SINAES
The study analyzes the current assessment public policy of brazilian higher
education as an instrument of resistance to conservatism. It presents the
environment of higher education in the country and explores aspects of the
formulation, implementation and effects of Assessment National System of the
Higher Education (SINAES). Elaborated as a connection between regulation
and formative assessment, the System sustains itself as a resistance policy, if
considering the formative and quality inducing characteristics present in some
of its evaluation instruments. With theoretical-analytical character, the paper
uses the dialogue between the literature and the documents about the thematic
as hermeneutical resource. It concludes that SINAES, like other public policies,
undergoes trough a dynamic process of changes, but remains relevant as a way
of rethinking practices in higher education.

Doutorando em Educação pela Universidade Católica de Santos (UCS). Santos, São Paulo, Brasil. Membro do Grupo de Pesquisa
Pedagogia Crítica: Práticas e Formação (UCS). E-mail: roberto.araujodasilva@yahoo.com.br

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A Avaliação Educacional como Política Pública de Resistência: o caso do SINAES

Keywords: Higher education. Public policy. Educational policy. Educational


evaluation. SINAES.

resumen
LA EVALUACIÓN EDUCATIVA COMO POLÍTICA PÚBLICA DE
RESISTENCIA: EL CASO DEL SINAES
Analiza la actual política pública de evaluación de la educación superior como
medio de resistencia al conservadurismo. Presenta el escenario de la educación
superior en Brasil y explora aspectos de la concepción, implementación y
efectos del Sistema Nacional de Evaluación de la Educación Superior (SINAES).
Elaborado como articulador entre la evaluación como regulación y la evaluación
educativa-formativa, el Sistema se sostiene como política de resistencia, si
considerar las características formativas y inductoras de calidad presentes en
algunos de sus instrumentos evaluativos. De carácter teórico-analítico, el trabajo
se fundamenta en el diálogo entre la literatura y los documentos como recurso
hermenéutico. Concluye que el SINAES, como otras políticas públicas, pasa por
un proceso dinámico de cambios, pero sigue pertinente como modo de repensar
prácticas en el ámbito de la educación superior.
Palabras clave: Educación Superior. Política Pública. Política Educativa.
Evaluación Educativa. SINAES.

Introdução
O presente trabalho teórico-analítico ex- destacada participação do setor privado como
plora e investiga as possibilidades da atual agente relevante (SAMPAIO, 2000). Com ele-
política pública de avaliação da educação su- vada quantidade de estudantes e instituições,
perior brasileira, materializada por meio do torna-se imprescindível a atuação do Estado
Sistema Nacional de Avaliação da Educação na avaliação desse segmento educacional. O
Superior (SINAES), como meio de resistência poder público tende a observar criticamente a
ao conservadorismo. Com intenção de abranger educação ofertada e, nesse sentido, as políticas
a totalidade do sistema educacional de nível públicas de avaliação têm importante signifi-
superior no país, o SINAES articula três mo- cado. Mais que atribuir juízo de valor, políticas
dalidades de avaliação: avaliação institucional, de avaliação educacional devem ser indutoras
avaliação de cursos e avaliação de estudantes. de qualidade, pois por meio delas é possível
Instituído pela Lei nº 10.861 (BRASIL, 2004), refletir e modificar práticas.
de 2004, sua concepção está ligada historica- Enquanto elemento de reflexão e mudança,
mente às diversas tentativas de elaboração de políticas de avaliação educacional tornam-se
uma política de avaliação educacional capaz campo de lutas entre concepções conservado-
de compreender a complexidade da educação ras e progressistas de educação. Compreende-
superior do país. No SINAES concentram-se se o conservadorismo na área educativa como
atributos das perspectivas de avaliação como ideologia que defende conceito orgânico de
regulação, controle e supervisão e da avaliação sociedade, fundamentada em valores tradi-
como meio formativo-pedagógico. cionais e na permanência de hierarquias, bem
A educação superior brasileira é multiface- como a continuidade do status quo social (BOB-
tada, porque caracteriza-se heterogênea e com BIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998; CORREIA,

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2013). Assim, em concordância com Bertolin abordagem teórica do ciclo de políticas (BALL,
(2018), no contexto da educação superior bra- 1994; BOWE; BALL; GOLD, 1992) como recurso
sileira apontam-se disputas entre a educação investigativo.
enquanto mercadoria, que reduz dimensões O texto inicia-se com breve panorama sobre
coletivistas, tecniciza processos formativos a educação superior no Brasil. Em seguida
-pedagógicos e mantem estruturas sociais, e o apresenta o histórico da concepção do SINAES,
entendimento de educação como bem público discutindo sua implementação e modificações
e social. durante o processo. Por fim, explora e analisa
Devido à magnitude do setor privado com possíveis efeitos da atual política de avaliação
fins lucrativos na educação superior brasileira ao público envolvido (alunos, professores,
(SAMPAIO, 2000), políticas educacionais de gestores, entre outros), demonstrando suas
avaliação têm se configurado como instrumen- possibilidades enquanto meio de resistência
tos reprodutores de processos tecnicistas em ao conservadorismo.
educação, constituindo-se meros elementos
de controle. Contudo, assim como em Silva Educação superior no Brasil:
e Franco (2019), defende-se a pedagogia da
avaliação, ou seja, que esta promova aspectos situando o SINAES
de (trans)formação social, mediante questio- A educação superior no Brasil tem caracte-
namento de tradições e hierarquias sociais, rísticas singulares. Além de diversos tipos de
que muitas vezes carregam preconceitos e organização acadêmica (Institutos, Faculdades,
opressões dentro de si; é com esse sentido Centros Universitários e Universidades), o
que a avaliação educacional torna-se política sistema concentra relevante presença do setor
pública de resistência. Compreende-se esse ato privado como principal provedor educacional.
de resistir como práxis que envolve a esperan- Embora existam Instituições de Educação Su-
ça de defender a educação para a equidade, a perior (IES) públicas, a dimensão e relevância
justiça social e o desenvolvimento coletivo, em do setor privado se dá não somente pelo fator
detrimento de posições hegemônicas as quais quantitativo, mas pelo caráter histórico de
têm coisificado a existência humana (FREIRE, constituição da educação superior no país. Se-
2007; TEODORO, 2003). gundo Cunha (1980) e Sampaio (2000), as pri-
A partir do exposto, analisa-se a construção meiras instituições de nível superior surgiram
do SINAES, com foco em seus limites e possi- no Brasil a partir do século XIX, com a chegada
bilidades enquanto política educacional. De da família real portuguesa, e estavam direta-
modo a sustentar a análise, o estudo vale-se mente ligadas à profissionalização das cama-
de revisão bibliográfica e análise documental das mais abastadas da população. Ademais, as
como procedimentos metodológicos. A biblio- primeiras instituições, mesmo mantidas pelo
grafia consultada e discutida relaciona-se às Estado, cobravam taxas de seus estudantes.
temáticas da educação superior, das políticas A construção do sistema de educação supe-
educacionais e da avaliação educacional. A rior brasileiro pautou-se pela forte presença
análise documental foi realizada em documen- do setor privado. Em diferentes momentos e
tos oficiais (Leis, Portarias, Decretos, entre por contextos variados, a iniciativa privada
outros) e institucionais. O diálogo entre as re- foi consolidando-se como majoritária nesse
ferências teóricas presentes na literatura e os nível educacional (SAMPAIO, 2000). Dados do
documentos permitiu conduzir hermenêutica Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Edu-
focada na dialeticidade entre contexto social cacionais (INEP) evidenciam essa magnitude.
e contradições envolvidas. Como forma de No Brasil, das 2.448 instituições, mais de 88%
expor possíveis efeitos do SINAES, utiliza-se a (2.152) pertencem ao setor privado (INSTI-

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TUTO NACIONAL DE PESQUISAS E ESTUDOS lizada por Chauí (1999) sugere que vivemos
EDUCACIONAIS, 2018). Como no quantitativo o período no qual as IES deixam de ser insti-
de instituições, o segmento também é o que tuições sociais, orientadas pelo caráter ético
concentra o maior número de matrículas, educacional, para tornarem-se organizações
pois das 8.286.663 matrículas, cerca de 75% prestadoras de serviço, com o objetivo de
(6.058.623) estão na iniciativa privada (INS- alcançar lucros, resultados, boa performan-
TITUTO NACIONAL DE PESQUISAS E ESTUDOS ce, sendo estes medidos pela quantidade de
EDUCACIONAIS, 2018). Outrossim, o setor egressos e sua iniciação no mercado trabalho.
privado recebe o maior número de ingressan- Assim, nesse contexto, o Estado necessita agir
tes: dos 3.226.249 alunos que ingressaram como órgão mediador, a fim de impedir a pro-
na Educação Superior em 2017, mais de 81% dução, reprodução ou ampliação de possíveis
(2.636.663) iniciaram estudos em instituições desigualdades e problemas.
privadas (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUI- O panorama atual indica a dimensão do
SAS E ESTUDOS EDUCACIONAIS, 2018). setor privado para a educação superior brasi-
Em 1997, o Decreto nº 2.306 regulamentou leira. Ainda que haja IES públicas, é evidente o
de forma clara, em seu artigo 4º, “as instituições contexto privatista, portanto, a avaliação edu-
de ensino superior, com finalidade lucrativa” cacional surge com o intuito de atribuir valor e
(BRASIL, 1997) e com isso o cenário da edu- de garantir a qualidade da educação ofertada.
cação superior brasileira sofreu alterações. O No atual quase mercado, uma política pública
setor privado passou a conceber lógica rentista, de avaliação educacional torna-se mais que
fundamentada na prestação de serviços educa- relevante, imprescindível. Com o contingente
cionais com o objetivo lucrativo. Ao considerar tão grande de estudantes e instituições, o Esta-
a perspectiva do capital financeiro e a quanti- do busca avaliar o funcionamento do sistema,
dade de instituições, o setor passou a funcionar mas afinal, como ele está fazendo isso? E sobre
pela lógica da concorrência (MONFREDINI, quais fundamentos? Para compreender essas
2013). Essas mudanças têm trazido implica-
questões é necessário observar o processo his-
ções diretas e indiretas na formação oferecida,
tórico de construção das políticas de avaliação
no trabalho docente, entre outros. Para grande
anteriores ao atual SINAES, pois assim será
parte das IES privadas, como forma de garantir
possível apreender princípios que nortearam
sua existência nesse cenário, a quantidade de
a criação do Sistema e suas possibilidades en-
alunos tornou-se tão ou mais importante que a
quanto política pública.
qualidade e as condições de ensino ofertadas.
A busca pela sobrevivência institucional me-
diante a concorrência ocorre, segundo Oliveira SINAES: entre antecedentes,
(2009, p. 740), em razão da “transformação
da educação em objeto de interesse do grande
elaboração e conceitos
capital, ocasionando uma crescente comerciali- O SINAES, assim como qualquer política
zação do setor”. Composta por um setor privado pública, é uma construção histórico-social, isto
preponderante e um setor público minoritário, é, permeado por relações contraditórias, dialé-
a educação superior no Brasil pode ser classifi- ticas, entre diversos interesses de variados
cada como “quase mercado”, pois, não se trata segmentos da sociedade (AFONSO, 2009). De
de uma gestão “estatal-centralizada-burocráti- forma a percebê-lo desta maneira, cabe explo-
ca” e nem de um “mercado-concorrencial-per- rar aspectos fundamentais para sua concepção
feito” (SOUZA; OLIVEIRA, 2003, p. 876). que foram construídos ao longo da trajetória
O ambiente de quase mercado consolida-se das políticas de avaliação da educação superior
como cenário contraditório. A reflexão rea- no Brasil.

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Roberto Araújo da Silva

A avaliação sistemática de instituições e avaliação didático-pedagógica do ensino, ava-


de cursos da educação superior brasileira foi liação de servidores técnicos e administrativos
iniciada em 1977 pela Coordenação de Aperfei- e avaliação de carreiras (ZAINKO, 2008).
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Sem colocar o resultado do trabalho da
(ROTHEN, 2018). Contudo, a primeira tentativa Comissão imediatamente em ação, em 1986
relevante de constituir uma política pública, o Ministério de Educação (MEC) criou inter-
enquanto sistema de avaliação da educação namente o Grupo Executivo da Reforma da
superior no Brasil, foi a criação do Programa Educação Superior (GERES) (BRASIL, 1986).
de Avaliação da Reforma Universitária (PARU), Constituído por cinco integrantes que exerciam
em 1983. Ainda no regime militar, ocorrido funções no MEC, o GERES teve como função
entre os anos de 1964 e 1985, o PARU conce- elaborar uma proposta de reforma universitá-
bia características investigativas, ou seja, de ria e contou como ponto de partida o relatório
levantamento de dados e indicadores. Seu ca- final da CNRES (BARREYRO; ROTHEN, 2008).
ráter, portanto, consistia na “busca, indagação, O relatório final do GERES foi discutido com
investigação que fundamentaria ações futuras”, os setores envolvidos, entretanto a lógica do
o que o diferenciava de documentos afirmati- documento não chegou a um consenso efetivo
vos e propositivos posteriores (BARREYRO; sobre a avaliação na educação superior. Bar-
ROTHEN, 2008, p. 135). A avaliação no PARU reyro e Rothen (2008, p. 145) destacam que:
foi entendida como forma de conhecimento so- A avaliação, na visão do GERES, teria a função
bre a realidade, como método capaz de refletir primordial de controlar a qualidade do desem-
sobre práticas educativas. Com o objetivo de penho da Educação Superior, especialmente
realizar uma pesquisa de avaliação sistêmica, a pública. No caso do setor privado, o próprio
o Programa recorreu à avaliação institucional, mercado faria a regulação, pois esse setor de-
pende do sucesso do seu produto para obter
considerando a avaliação interna como pro-
os recursos para a sua manutenção e expansão.
cedimento privilegiado. Ao considerar essa Assim nessa lógica, o financiamento da Educa-
modalidade avaliativa, o PARU foi o precursor ção Superior cumpriria, para o setor público, o
de experiências de avaliação posteriores (BAR- mesmo papel que o mercado tem em relação
REYRO; ROTHEN, 2008). O PARU não chegou ao privado.
a apresentar resultados efetivos em razão de A partir das tentativas de experiências ante-
sua desativação em 1984. riores, uma nova política pública de avaliação
Com a redemocratização do país, em 1985 do nível superior teve início. Em 1993, o MEC
foi instituída a Comissão Nacional para Refor- instituiu o Programa de Avaliação Institucional
mulação da Educação Superior (CNRES), com das Universidades Brasileiras (PAIUB) (BRA-
o objetivo de reformular o sistema de educa- SIL, 1993). A criação do PAIUB foi relevante
ção superior (BRASIL, 1985). O resultado do para a posterior introdução do SINAES, pois
trabalho da Comissão é o relatório “Uma Nova seus objetivos estimulavam a participação das
Política para a Educação Superior Brasileira” IES, fator que seria retomado com a criação da
(COMISSÃO NACIONAL PARA REFORMULAÇÃO atual política. Segundo Zainko (2008, p. 829),
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR, 1985). O trabalho o Programa buscava “articular, viabilizar e
da CNRES evidenciava a necessidade de nova financiar a avaliação da Educação Superior, es-
política abrangente para a educação superior timulando a adesão voluntária das instituições
e não somente de uma lei com diretrizes. O a esta prática avaliativa”.
relatório também indicava que a avaliação da
Apesar de o documento do PAIUB defender a
educação superior fosse realizada incluindo ideia de que toda avaliação seria institucional,
as seguintes dimensões: avaliação de cursos, fez-se a opção de iniciar o processo de avaliação
avaliação de alunos, avaliação de professores, pelo ensino de graduação. Escolha justificada

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pela repercussão que o ensino de graduação década de 1980. Todos esses movimentos polí-
tem na sociedade e pelo fato de que a pós- ticos tiveram relevância para a constituição do
graduação já vinha sendo avaliada por uma SINAES. O processo de elaboração do atual Sis-
agência governamental, a CAPES. Essa opção
iria ter uma influência não desejada pelos seus
tema de Avaliação teve início em 2003, quando
autores, a saber, na política de avaliação como o MEC definiu, por intermédio da Secretaria de
regulação, implantada no governo Fernando Educação Superior (SESu), a Comissão Especial
Henrique Cardoso: a avaliação seria dos cursos de Avaliação (CEA) (BRASIL, 2003). A Comissão
de graduação e não da instituição. (BARREYRO; entregou no mesmo ano o relatório “Sistema
ROTHEN, 2008, p. 147-148). Nacional de Avaliação da Educação Superior
Ainda que observasse as instituições, o SINAES: bases para uma nova proposta da
PAIUB não apresentava avaliação abrangente Educação Superior” (COMISSÃO ESPECIAL DE
de estudantes. De modo a garantir essa prática, AVALIAÇÃO, 2003).
em 1995, pela Lei nº 9.131 (BRASIL, 1995), foi Em sua formulação, o SINAES fundamen-
instituído o Exame Nacional de Cursos (ENC), tava-se na articulação entre duas concepções
que ficou popularmente conhecido como sociológicas e epistemológicas de avaliação:
“Provão”. O Censo da Educação Superior e a a regulação e a avaliação educativa. Em seu
Avaliação das Condições de Ensino (ACE) tam- documento de proposição, também está es-
bém eram instrumentos de avaliação na época, tabelecida a educação como “direito social e
embora de “menor importância e com escassa dever do Estado” (COMISSÃO ESPECIAL DE
relação entre si”, de acordo com Dias Sobrinho AVALIAÇÃO, 2003, p. 63). A proposta da Co-
(2010, p. 203). Conforme esse autor, os resul- missão entendia que “o Estado supervisiona
tados desses instrumentos, especialmente do e regula a educação superior para efeitos de
Provão, “serviam de base para os atos regula- planejamento e garantia de qualidade do sis-
tórios de credenciamento e recredenciamento tema” (COMISSÃO ESPECIAL DE AVALIAÇÃO,
de instituições e reconhecimento de cursos” 2003, p. 64). Entretanto, no caso do SINAES,
(DIAS SOBRINHO, 2010, p. 204). essa prática estaria integrada em movimento
A implantação do Provão se fez em con- dialógico com a avaliação educativa, esta que
tradições. Por ser um modelo imposto pelo promove consciência institucional ao incluir
MEC, sem consulta e sem discussão pública, o compromisso com a qualidade da atividade
recebeu críticas de boa parte da comunida- pedagógica e que questiona “os significados da
de, sobretudo de especialistas em avaliação formação e dos conhecimentos produzidos em
(DIAS SOBRINHO, 2010). Mesmo garantindo relação ao desenvolvimento do país, ao avanço
sua existência por alguns anos, o Provão da ciência e a participação dos indivíduos na
tinha deficiências. O Exame foi apresentado vida social” (COMISSÃO ESPECIAL DE AVA-
como modelo objetivo e seus resultados po- LIAÇÃO, 2003, p. 64). Assim, a atual política
diam ser divulgados de maneira quase que de avaliação surgiu como forma de superar
inquestionável, entretanto, estava longe de a concepção e a prática da “regulação como
se consolidar como sistema de avaliação que mera função burocrática e legalista” (COMIS-
contemplasse a complexidade educacional do SÃO ESPECIAL DE AVALIAÇÃO, 2003, p. 64).
nível superior do país. Neste sentido, a regulação não se esgota em si,
Comparado com outras nações, o processo pois articulada à avaliação educativa torna-se
histórico da avaliação no âmbito da educação também uma prática “formativa e construtiva”
superior no Brasil é recente (ZAINKO, 2008) (COMISSÃO ESPECIAL DE AVALIAÇÃO, 2003,
e, como mencionado, as primeiras tentativas p. 64).
de elaborar um sistema de avaliação desse Nota-se que o SINAES passou por um longo
segmento surgiram nos primeiros anos da processo político de diálogo até sua constitui-

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ção. Segundo Saravia (2006), o processo de Implementação, modificações e


elaboração de uma política pública pode ser
visto de modo sequencial, iniciando-se com a a hipertrofia do ENADE
estipulação de uma agenda até a avaliação dos Como forma de consolidar uma política
efeitos da política em si. Articulando esse apon- pública de avaliação educacional sustentável
tamento com a elaboração e implementação da e perene, em 2004, o governo reestruturou a
atual política de avaliação, é possível relacio- avaliação na educação superior assumindo as-
nar a coerência entre a criação de um sistema pectos das políticas anteriores e incorporando
como o SINAES e a necessidade do Estado em novos. Baseada no documento elaborado pela
avaliar a educação superior brasileira de modo CEA, a Lei nº 10.861 (BRASIL, 2004) instituiu o
a contemplar sua complexidade. Convergindo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su-
com Saravia (2006), Kingdon (2006, p. 221) perior. Mais que um instrumento ou programa,
afirma que: o SINAES surgiu como um sistema ao articular
[...] podemos considerar que a formulação de três modalidades de avaliação: “(1) avaliação
políticas públicas é um conjunto de processos, institucional (avaliação externa e autoavalia-
incluindo pelo menos: o estabelecimento de ção); (2) avaliação de cursos e (3) avaliação do
uma agenda; a especificação das alternativas desempenho dos alunos pelo ENADE (Exame
a partir das quais as escolhas são feitas; uma Nacional de Desempenho do Estudante)” (BRA-
escolha final entre essas alternativas específicas
SIL, 2004). Com exceção do Exame Nacional de
e a implementação dessa decisão.
Desempenho do Estudante (ENADE), as duas
Contudo, Subirats (2006) e Villanueva outras modalidades de avaliação são realizadas
(2006) consideram que o principal problema por meio de visitas de avaliadores ligados ao
na elaboração de políticas públicas encon- MEC (BRASIL, 2004).
tra-se na definição do problema gerador de Segundo Dias Sobrinho (2010, p. 208), o
políticas. No caso de políticas de avaliação SINAES “se realiza como uma ideia básica e in-
educacional, estas devem considerar as pe- tegradora que se materializa em determinadas
culiaridades dos sistemas nos quais estão in- práticas articuladas entre si, com a finalidade
seridas. A missão do SINAES, ou de qualquer de produzir efeitos e alcançar objetivos coe-
outra política como tal, é garantir a qualidade rentes e consistentes”. Com base em resultados
da educação ofertada, sem perder a perspec- amplos de avaliação e não somente em um úni-
tiva do cenário de dualismos da educação co instrumento ou teste, a regulação promovida
superior no Brasil, isto é, ensino público e pelo Sistema tornou-se mais confiável.
ensino privado, concorrência e cooperação, O SINAES também estabeleceu que toda IES
retorno social e lucros. deveria constituir sua Comissão Própria de Ava-
Em contexto tão complexo, somente um liação (CPA), com as atribuições de “condução
sistema articulado de concepções e práticas dos processos de avaliação internos da insti-
de avaliação poderia sustentar-se. Com vis- tuição, de sistematização e de prestação das
tas aos pontos positivos e aos negativos das informações solicitadas pelo INEP” (BRASIL,
políticas precedentes, o SINAES tem em sua 2004). A partir das CPAs, o Sistema reconhece e
criação uma variada gama de recursos que respeita a “identidade, a missão e a história das
possibilitam ao Estado regular e aprimorar IES”, conforme destacado por Polidori (2009,
todo o sistema nacional de educação superior. p. 445). Diferente de políticas anteriores, a
Todavia, como outras políticas educacionais, existência das CPAs tende a garantir as possibi-
o Sistema passou por mudanças durante sua lidades da avaliação educativa, isto porque sua
implementação e tem recebido reformulações atuação propicia a emergência e a ampliação da
periodicamente. cultura de avaliação no interior das IES.

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A Avaliação Educacional como Política Pública de Resistência: o caso do SINAES

O SINAES, enquanto política pública, tenta lados predominantemente com resultados do


sustentar o conceito mais complexo de edu- ENADE, aumentaram a relevância do Exame
cação superior, cuja essência não é somente e fortaleceram sobremaneira a avaliação de
a profissionalização, mas a formação integral estudantes como eixo fundamental da atual
de cidadãos-profissionais. A referência é a so- política de avaliação.
ciedade e as complexidades da humanidade, Com a divulgação anual do resultado do
não apenas o mercado. Portanto, prevalece IGC, o índice tornou-se base para rankings e
o princípio de educação como bem e direito classificações. Sguissardi (2008, p. 858) alertou
humano e social, dever do Estado, ligada ao que o IGC, divulgado “com festa pela grande
projeto de país, sendo ela avaliada, indepen- mídia” poucos dias após sua criação, foi visto
dentemente se oferecida pelo próprio Estado por muitos especialistas que ajudaram a ela-
ou pela iniciativa privada (DIAS SOBRINHO, borar e implantar o SINAES como sua “mais
2010; SANTOS, 2011). completa negação”. O ENADE como elemento
Contudo, algumas mudanças no SINAES central do Sistema vai contra os princípios de
começaram a acontecer logo após seu lança- avaliação educativa e global que nortearam a
mento. O Decreto nº 5.773, de 2006 (BRASIL, elaboração do SINAES e que se sustentavam no
2006), desequilibrou as concepções que cons- diálogo intersubjetivo entre as três modalida-
tavam na elaboração original do Sistema. Em des de avaliação.
seu primeiro artigo, o decreto estabeleceu que Barreyro (2008) destaca que a avaliação
a regulação seria realizada por “atos adminis- institucional, em conjunto com a autoavaliação,
trativos autorizativos do funcionamento de até então fundamentos do SINAES, parecem
instituições de Educação Superior e de cursos não ter tanta relevância no ranking das insti-
de graduação e sequenciais” (BRASIL, 2006) tuições divulgado pelo Ministério da Educação,
e que as avaliações da atual política constitui- apesar de continuarem vigentes. A avaliação
riam “referencial básico para os processos de da educação superior a partir de resultados
regulação e supervisão da Educação Superior, a do exame de estudantes, levou Leite (2008, p.
fim de promover a melhoria de sua qualidade” 840) a afirmar que o atual ENADE relembra os
(BRASIL, 2006). Se em sua criação o SINAES tempos de Provão, constituindo-se como “ENA-
tinha objetivos educativos de aperfeiçoamento DÃO”. Entre superlativos passados e presentes,
das IES, e equilibrava a regulação e a supervi- o que se percebe são diversas práticas no inte-
são com a avaliação educativa, com o estipu- rior das IES em busca de garantir bom desem-
lado no decreto, passou a ter seus resultados penho de estudantes no Exame. Por tratar-se
apenas como instrumentos autorizativos e de de um quase mercado, ter bons resultados nos
acreditação. rankings é uma forma mercadológica de apre-
Em sequência ao decreto citado, as Portarias sentar a qualidade de seu produto e consolidar
nº 40, de 2007, republicada em 2010 (BRASIL, a sobrevivência institucional. Diversos estudos,
2010), nº 4, de 2008 (BRASIL, 2008a), e nº 12, tais como os de Alonso (2012), Molck (2013),
de 2008 (BRASIL, 2008b), que respectivamente Pimenta (2013), Valluis (2014) e Silva (2016),
instituíram o e-MEC (sistema de gerenciamen- exploram e discutem variadas ações realizadas
to de dados entre as IES e o MEC), o Conceito com o intuito de garantir boa performance no
Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de ENADE e nas outras avaliações do SINAES.
Cursos (IGC), consolidaram o SINAES como Atribuir valor e/ou definir qualidade a
política pública com tendências à classificação partir de um único indicador é possível, mas
em redução de suas capacidades de formação. problemático. O ENADE hipertrofiado traz
Os novos índices, IGC e CPC, sendo um problemas com relação à heterogeneidade da
construído a partir do outro, e ambos estipu- educação superior do país, diferenças que se

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Roberto Araújo da Silva

desdobram entre instituições, conteúdos de Efeitos e possibilidades de uma


cursos, culturas, entre outros. Em sua análise,
Cardoso (2015) afirma que as práticas atuais política pública educacional:
de avaliação do SINAES negligenciam as iden- a avaliação como meio de
tidades institucionais e regionais em uma na-
ção com dimensões continentais e de grande
resistência
diversidade cultural. Entretanto, esses desafios Dentre as diversas abordagens de análises
à atual política estão em consonância com as de políticas públicas educacionais, destaca-se
dificuldades enfrentadas por qualquer avalia- o ciclo de políticas proposto por Ball (1994) e
ção. A práxis avaliativa envolve-se na complexa Bowe, Ball e Gold (1992). O ciclo é uma abor-
missão de definir o conceito de qualidade e, dagem pós-estruturalista e, de acordo com
portanto, do que seria bom ou ruim. Mainardes (2006, p. 55), o processo político
Concorda-se que a atual política de avaliação é entendido como “multifacetado e dialético,
tenha problemas e deve ser aperfeiçoada, mas, necessitando articular as perspectivas macro
apesar de dificuldades, o SINAES sustenta- e micro”. Essa concepção hermenêutica propõe
se como importante recurso avaliativo. Seus cinco contextos: contexto da influência, contex-
aspectos negativos não podem incapacitar o to da produção de texto, contexto da prática,
desejo social de aprimorá-lo e garantir o equi- contexto dos efeitos e resultados e contexto
líbrio entre regulação burocrática e avaliação da estratégia política. Estes contextos estão
formativo-educativa, e entre as três modalida- relacionados, sem uma dimensão temporal,
des avaliativas que o integram. sequencial ou linear (BALL, 1994; MAINARDES,
Silva e Melo (2000, p. 95) afirmam que a 2006). De forma sucinta, apresentam-se arti-
implementação é considerada como o “elo per- culações teórico-analíticas fundamentadas nos
dido” na elaboração de políticas públicas, pois cinco contextos do ciclo de políticas, em busca
é o momento no qual os diversos interesses se de compreender o SINAES.
confrontam efetivamente e por vezes prejudi- No ciclo de políticas educacionais, o con-
cam a execução do projeto. Com o SINAES não texto de influência é quando “os grupos de
foi diferente, sua proposta inicial concebia a interesse disputam para influenciar a defi-
coexistência entre regulação e avaliação edu- nição das finalidades sociais da educação e
cativa, mas as mudanças ocorridas em sua im- do que significa ser educado” (MAINARDES,
plementação desequilibraram esses aspectos 2006, p. 51). É nesse contexto que, geralmen-
e ampliaram as características de regulação e te, as políticas são iniciadas e fortemente
supervisão legalista-burocrática. Entretanto, debatidas, com influências dos vários setores
mesmo com arranjos e rearranjos, em compa- interessados. Considerando o PARU como
ração com políticas anteriores, o atual sistema etapa inicial, a elaboração do atual Sistema
é o mais perene e sustenta caminhos, indícios, passou por processo histórico de aproxima-
características e indutores educativos, como a damente vinte anos. Para chegar ao que se
presença e a articulação da cultura de avaliação conhece hoje como SINAES, foram realizadas
por meio das CPAs. discussões que envolveram diversos atores e
Apesar de suas reformulações, o SINAES entidades ligadas, diretamente ou não, à edu-
contempla potências formativas e, enquanto cação superior. Cabe ressaltar que o SINAES
política indutora de qualidade, produz efeitos foi criado após a constituição da Comissão
relevantes. Como resistência ao conservadoris- Especial de Avaliação da Educação Superior,
mo, concentra em seus processos avaliativos esta que mobilizou esforços para um diálogo
possibilidades de inquietações e transforma- aberto em busca do desenvolvimento de um
ções à realidade social contemporânea. sistema abrangente e eficaz.

Rev. FAEEBA – Ed. e Contemp., Salvador, v. 30, n. 61, p. 329-343, jan./mar. 2021 337
A Avaliação Educacional como Política Pública de Resistência: o caso do SINAES

O contexto da produção de texto, dentro do podem ocorrer alterações nos currículos de


ciclo de políticas, se constitui como a produção cursos. Mudanças desse tipo indicam, em con-
textual e o texto legal em si. Tendo uma relação vergência com o ciclo de políticas, efeitos de
“simbiótica, porém não evidente ou simples” primeira e segunda ordem.
com o contexto de influência (MAINARDES, As reformulações as quais o SINAES tem
2006, p. 52). Os textos políticos estão articu- sofrido dialogam com o contexto da estratégia
lados com a linguagem do interesse público, política. No ciclo de políticas, esse contexto
portanto, “representam” a política educacional envolve a identificação de um conjunto de
(MAINARDES, 2006, p. 52). Ainda que haja atividades que seriam necessárias para lidar
debate acerca dos textos legais referentes ao com as desigualdades criadas ou reproduzidas
SINAES – em razão das ideias que permeavam pela política investigada (MAINARDES, 2006).
sua concepção e sua atual forma –, eles estão As lutas sobre os objetivos do SINAES ou como
diretamente relacionados à política em questão este deve funcionar – seja como política de
e representam claramente o que está proposto mera regulação ou como sistema regulatório
pelo governo. articulado à avaliação educativa – indicam
No que se refere à prática, é onde a política tensões levantadas por esse contexto.
está sujeita à interpretação e recriação dos Por ser política pública de grandes dimen-
diversos sujeitos políticos, é onde a política sões, o SINAES gera variadas consequências.
produz efeitos, consequências e implicações Professores, coordenadores de curso, alunos,
que podem representar mudanças e trans- instituições e outros sujeitos estão imbricados
formações substanciais e significativas na nos processos avaliativos do Sistema. Dentre as
política original (MAINARDES, 2006). Como possíveis contribuições dessa política educa-
comentado, o SINAES envolveu e relaciona-se cional, destaca-se sua premissa como avaliação
a uma série de atores, e todos eles contribuem educativa, indutora de novas práticas.
na interpretação e recriação dessa política. Analisa-se o SINAES com a concepção de
O contexto da prática está diretamente avaliação enquanto práxis social, conforme
relacionado ao dos efeitos e resultados. Na outros autores (AFONSO, 1999, 2009; FRAN-
abordagem do ciclo de políticas os resulta- CO, 1990; LÜDKE, 1987, 1989; PERRENOUD,
dos ou efeitos preocupam-se com questões 1989), portanto considera-se o juízo de valor
de “justiça, igualdade e liberdade individual” em suas variadas e complexas relações sociais
(MAINARDES, 2006, p. 54). Nesse contexto, como fundamento epistêmico do processo ava-
políticas deveriam ser analisadas em termos liativo (DIAS SOBRINHO, 2002; SILVA; FRANCO,
do seu impacto e das interações com o meio 2019).
social. É possível classificar os efeitos, tais como A ideia de avaliação educativa presente no
de primeira e segunda ordem: SINAES é recurso para transformação social.
Em sua concepção subjaz a investigação e a
Os efeitos de primeira ordem referem-se a
mudanças na prática ou na estrutura e são valoração de um dado fenômeno, situação ou
evidentes em lugares específicos ou no sistema objeto educacional, na busca de compreendê-lo
como um todo. Os efeitos de segunda ordem e desenvolvê-lo a partir de um conjunto de cri-
referem-se ao impacto dessas mudanças nos térios construídos a priori, com reformulações
padrões de acesso social, oportunidade e justiça ao longo do processo.
social. (MAINARDES, 2006, p. 55).
O conceito e as práticas de avaliação educati-
Como exemplo, destaca-se a relevância do va estão permeados por pedagogia crítico- for-
ENADE. O SINAES requer atenção por parte de mativa. Políticas de avaliação baseadas nessa
instituições de ensino, de gestores e de alunos. concepção superam seu caráter meramente le-
Portanto, a partir das exigências no Exame, gal-burocrático e tornam-se potentes recursos

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Roberto Araújo da Silva

pedagógicos (AFONSO, 2009; DIAS SOBRINHO sociedades equânimes e pacíficas.


2008). Essa perspectiva epistemológica e socio- As três modalidades de avaliação do SI-
lógica aproxima-se do paradigma de avaliação NAES, em especial os instrumentos e proces-
emancipatória, o qual, conforme Saul (2010), sos avaliativos de instituições e cursos, como
caracteriza-se como processo de descrição, modo de enfrentamento ao conservadorismo
análise e crítica da realidade, visando trans- concentram formas indutivas de alteração da
formá-la. Destina-se, portanto, à avaliação de qualidade de práticas pedagógicas. A partir da
programas educacionais ou sociais e está si- educação, como já afirmou Freire (1987, 2016),
tuado numa vertente político-pedagógica cujo é possível educar pessoas e estas transforma-
interesse principal é emancipador, libertador rem a realidade social.
e provocador de crítica, de modo a libertar Ao solicitar a inclusão de conteúdos sobre
os sujeitos envolvidos de condicionamentos questões étnico-raciais, ambientais, garantia
deterministas. de direitos humanos e de diversidade social;
Como política que contempla a avaliação ao buscar garantir infraestrutura acadêmica
educativa, nota-se o SINAES como meio de re- e práticas de extensão com responsabilidade
sistência ao conservadorismo moderno. Essa social, os instrumentos de avaliação do SI-
vertente política define-se como conservação NAES (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS
de um presente eterno, pois, segundo Souza E ESTUDOS EDUCACIONAIS, 2017a, 2017b)
(2015, p. 7), de um lado blinda o presente em propiciam a reflexão e a construção de novas
relação às utopias revolucionárias e: condutas éticas-políticas. São com essas pos-
[...] De outro, projetando-se contrários às ‘uto- sibilidades que a atual política de avaliação da
pias’ reacionárias, aferradas que são às formas educação superior constitui-se como resistên-
do passado. Com essa blindagem ‘presentista’ cia ao conservadorismo. Ainda que possam ser
(nem passado - reacionário, nem futuro - re- pequenas mudanças, exigências ou normas,
volucionário, somente o presente importa), o
mesmo com características formais-burocrá-
conservadorismo moderno acredita estar se
movendo em bases ‘progressistas’, uma vez que ticas, as intenções contidas nesses elementos
rejeita, equalizando, tanto as ‘utopias’ revolucio- avaliativos fomentam o debate e a inserção
nárias, quanto reacionárias, ambas concebidas, de conteúdos e práticas pedagógicas outrora
pejorativamente, como idealizações potencial- inexistentes ou ignorados. Talvez sejam pe-
mente ‘totalitárias’. quenos indícios, mas simbolizam relevantes
Contudo, ao rejeitar o passado e o futuro, o passos na busca pela equidade, consistindo
conservadorismo tende a conviver – aliás com como elementos no esforço para a construção
destacada passividade – com desigualdades de justiça social no país.
sociais reais. Para Löwy (2015), o conservado-
rismo em atual avanço no Brasil também traz o
culto à violência e a intolerância às diferenças
Considerações finais
em seu interior, geradores de ódio e opressão. Políticas públicas educacionais geram de-
O pensamento conservador tende a manter bates constantes, definições e redefinições
relações hierarquizadas, representadas por motivados pelas variações do contexto político
opressores e oprimidos, frutos, muitas vezes, no qual estão inseridas. Os caminhos futuros do
de condutas racistas, homofóbicas, xenofóbicas SINAES podem ser de ampliação de suas carac-
e misóginas. Essas relações são enfrentadas terísticas educativas ou de sua total transfor-
pelo paradigma emancipatório-educativo de mação em mero instrumento burocrático. Não
avaliação, pois este defende o devir humano e a há como prever o que ocorrerá. Todavia, o Sis-
possibilidade de desenvolvimento e aperfeiçoa- tema opera atualmente como gangorra entre as
mento da vida social como forma de construir duas concepções presentes em seu documento

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A Avaliação Educacional como Política Pública de Resistência: o caso do SINAES

de proposição, com momentos pendendo para superiores de tecnologia em instituições de


a regulação-supervisão e outros para a avalia- educação superior de setor privado. 2012. 141
ção enquanto meio pedagógico-formativo. f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa
de Pós-graduação stricto sensu em Educação,
Ainda que o SINAES tenha deficiências e Universidade Católica de Santos, Santos, SP, 2012.
limitações, este estudo encerra-se reiterando
BALL, S. J. Educational reform: a critical and post-
a complexa missão da atual política pública
structural approach. Buckingham: Open University
de avaliação, isto é, considerar e observar a Press, 1994.
diversidade do sistema de educação superior
BARREYRO, G. B. De exames, rankings e mídia.
do Brasil, os desafios que nele constam e apri- Avaliação, Campinas, SP, v. 13, n. 3, p. 863-868,
morá-lo. Somente o SINAES não é a solução nov. 2008.
para todas as dificuldades e nem mesmo é o BARREYRO, G. B.; ROTHEN, J. C. Para uma história
grande problema. É esta lógica que propicia da avaliação da educação superior brasileira:
sua caracterização como recurso de resistência. análise dos documentos do PARU, CNRES, GERES e
O avançar do conservadorismo não é e nem PAIUB. Avaliação, Campinas, SP, v. 13, n. 1, p. 131-
será enfrentado com ações simples, pode e 152, mar. 2008.
deve ser rebatido com atividades políticas em BERTOLIN, J. Ideologias e percepções da educação
diversos campos. A avaliação educacional é superior: da dicotomia entre o social e o econômico
um deles. As lutas no interior do SINAES, ou ao “caminho do meio”. Horizontes, Bragança
Paulista, SP, v. 36, n. 2, p. 86-101, maio/ago. 2018.
melhor, os rearranjos em suas concepções e
instrumentos avaliativos são fundamentais BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicio-
nário de Política. Vol. 1. Brasília, DF: Editora da
para a constituição, o estímulo e o reforço
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de movimentos de confronto às posições
BOWE, R.; BALL, S. J.; GOLD, A. Reforming educa-
conservadoras.
tion & changing schools: case studies in policy
Acredita-se que, atualmente, o SINAES já sociology. London: Routledge, 1992.
apresenta e induz práticas que pouco a pouco
BRASIL. Decreto nº 91.177, de 29 de março de 1985.
auxiliam na resistência ao pensamento con- Institui Comissão Nacional visando à reformulação
servador, mas isto pode ser aperfeiçoado e da educação superior e dá outras providências.
ampliado. Para tanto é necessário repensar Brasília, DF, Diário Oficial [da] República Fede-
suas práticas burocráticas e fomentar parte rativa do Brasil, n. 133, de 1/4/1985, Seção 1, p.
daquilo que consiste a atual política de avalia- 5651. 1985.
ção da educação superior, ou seja, um sistema BRASIL. Portaria normativa nº 100, de 06 de
de avaliação educativa, com foco na melhoria fevereiro de 1986. Cria o Grupo Executivo para
a Reformulação da Educação Superior. Brasília,
de cursos e de instituições, mediante a cultura
DF, Diário Oficial [da] República Federativa do
e processos de autoavaliação realizados pelo Brasil, n. 27, de 7/02/1986, Seção 1, p. 2230. 1986.
público envolvido.
BRASIL. Portaria normativa nº 130, de 14 de julho
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Roberto Araújo da Silva

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