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PRINCÍPIOS

E FUNDAMENTOS
DO PDE, PPE E PE

Pablo Rodrigo Bes


Avaliação institucional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar avaliação institucional.


 Identificar as contribuições da avaliação institucional à implementação
do PPP nas escolas.
 Descrever a relação entre as avaliações e a qualidade nas escolas.

Introdução
Para conduzir uma escola rumo aos seus objetivos, oferecendo uma edu-
cação de qualidade aos estudantes e atuando de acordo com o projeto
político-pedagógico (PPP) da instituição, o gestor escolar necessita de
ferramentas para monitorar e acompanhar os processos e relações que
ocorrem no ambiente de ensino. Nesse contexto, a avaliação institucional
é um excelente instrumento. Quando instituída de forma colaborativa e
participativa, ela propicia que a escola se aperfeiçoe, buscando contemplar o
que prevê o seu PPP e priorizando a qualidade dos processos desenvolvidos.
Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de avaliação institucional,
verificando como ela contribui para a implementação do PPP das escolas.
Além disso, você vai ver como a avaliação institucional se relaciona com
a busca da qualidade nas instituições de ensino.

Conceitos fundamentais
As práticas avaliativas são inerentes ao funcionamento da escola. Elas se
realizam de diversas formas, seja para a verificação da aprendizagem dos
estudantes (avaliação educacional) ou ainda como importante ferramenta
de gestão. Nesse sentido, a gestão tanto pode ser a do diretor da escola e de
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sua equipe de trabalho quanto a dos dirigentes educacionais que precisam


acompanhar, monitorar e propor políticas públicas que visem a conduzir as
escolas do sistema educacional brasileiro aos seus objetivos constitucionais.
Como saber se as escolas estão desenvolvendo plenamente os seus alunos,
preparando-os para o exercício da cidadania e para o trabalho? Como ter
certeza de que a escola coloca em prática o seu PPP? Ou, ainda, como saber
se uma política pública educacional específica atinge os seus objetivos? Esses
questionamentos podem ser respondidos a partir do conceito de avaliação
institucional, como você vai ver a seguir.
A avaliação institucional pode ser interna ou externa. A avaliação insti-
tucional interna é aquela referente a cada escola, também conhecida como
autoavaliação. Um dos primeiros pontos a serem considerados é que cada escola
é uma organização única, com particularidades que costumam influenciar o
seu PPP. Este, quando elaborado de forma democrática e participativa, revela
os entendimentos da comunidade escolar (alunos, professores, responsáveis
pelos estudantes, gestores escolares, funcionários da escola, organizações
sociais e comerciais do entorno e comunidade em geral) sobre a educação
que a instituição se propõe a desenvolver. Tais entendimentos envolvem o
tipo de formação que os estudantes terão, as práticas pedagógicas adotadas,
entre tantos outros aspectos. Por essa razão, entende-se que o PPP define a
identidade da escola.
Dessa forma, implantar um sistema capaz de avaliar a instituição escolar
como um todo, globalmente, somente funciona se se considerarem as par-
ticularidades de cada escola, seus múltiplos processos e as relações que ali
ocorrem. Brandalise (2010, documento on-line) pontua que “[...] a avaliação
institucional tem um caráter formativo, está voltada para a compreensão e
promoção da autoconsciência da instituição escolar”. Assim, muito além
do paradigma classificatório que ainda hoje se faz presente nas práticas de
avaliação educacionais, a avaliação institucional deve envolver todos os pro-
fissionais da educação e os demais membros da comunidade escolar. Além
disso, deve considerar todos os setores que a estrutura apresenta, bem como
todos os seus processos internos, ao longo de todo o ano letivo.
Beloni e Beloni (2003, p. 17) compreendem a avaliação institucional como
“[...] um processo sistemático de análise de uma atividade ou instituição que
permite compreender, de forma contextualizada, todas as dimensões e im-
plicações, com vistas a estimular seu aperfeiçoamento”. Ou seja, a avaliação
institucional também contribui para que a escola atinja com maior qualidade
os seus objetivos. Afinal, por meio da percepção das fragilidades de seus
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processos, os gestores podem direcionar as suas ações. Para que a avaliação


institucional da escola ocorra eficientemente, ela deve envolver algumas
dimensões (ALAIZ; GÓIS; GONÇALVES, 2003):

 contexto externo;
 contexto interno;
 organização e gestão;
 ensino e aprendizagem;
 cultura da escola;
 resultados educacionais.

O contexto externo considera todos os campos que não são diretamente


afetados pelas ações desenvolvidas na escola. Ele envolve os aspectos so-
cioeconômicos e culturais das famílias dos estudantes e da comunidade, as
expectativas acerca do trabalho da escola, as pressões que a instituição recebe
sobre si, a qualidade do ensino que oferece, etc. Tais campos podem integrar
tanto a esfera pública quanto a esfera privada.
O contexto interno abrange os aspectos históricos da criação da escola, a
sua estrutura física e curricular, o seu corpo de professores e os seus alunos,
além dos seus processos administrativos. A organização e a gestão devem
ter como foco a organização pedagógica da escola, a sua execução e a sua
avaliação. É imprescindível, nessa dimensão, a consideração sobre o PPP da
instituição.
O ensino e a aprendizagem são igualmente importantes para a avaliação
institucional, pois demonstram como as ações em sala de aula convergem,
junto a todas as demais dimensões, para o alcance dos objetivos da escola. A
cultura da escola, por sua vez, envolve a identidade que a instituição assume
para si, o modo como organiza os seus processos didáticos, a gestão, a par-
ticipação ou colaboração, a motivação da equipe, a formação continuada, os
aspectos disciplinares, as interações e os relacionamentos com a comunidade,
entre outros fatores.
Os resultados educacionais refletem as medidas de desempenho adotadas
pela escola e traduzem se ela foi bem-sucedida em relação ao que previa no
seu PPP. Tais resultados costumam ser associados com a maior ou menor
qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Eles compõem a dimensão
que se vale das práticas avaliativas educacionais internas e externas (de larga
escala, propostas pelo Ministério da Educação — MEC) e dos seus indicadores,
apontando para os ajustes necessários.
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Quando se fala da avaliação institucional externa, deve-se esclarecer


que ela pode tanto ser realizada por agências públicas como por instituições
privadas. Normalmente, no campo educacional brasileiro, a avaliação institu-
cional é usada como uma ferramenta de gestão do sistema educacional como
um todo, materializada a partir das políticas públicas do MEC. Na lógica
do Estado avaliador, o MEC procura estabelecer instrumentos de medição
e controle dos resultados de suas ações na área educacional. Ao referir-se
ao Estado avaliador, Brandalise (2010, documento on-line) comenta que ele
“[...] tem o papel de controlar, monitorar, credenciar e oferecer indicadores de
desempenho para as escolas e os sistemas de ensino dos países”.
No ensino superior brasileiro, existe o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (Sinaes), instituído pela Lei nº. 10.861, de 14 de abril de
2004. Ele envolve de forma globalizada “[...] a avaliação das instituições, dos
cursos e do desempenho dos estudantes. O Sinaes avalia todos os aspectos
que giram em torno desses três eixos, principalmente o ensino, a pesquisa,
a extensão, a responsabilidade social, o desempenho dos alunos, a gestão da
instituição, o corpo docente e as instalações” (BRASIL, 2015, documento
on-line). Na educação básica, embora existam iniciativas governamentais,
como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), elas têm como
foco principal o desempenho dos estudantes. Assim, não há um sistema de
avaliação institucional.
Como você pode perceber, pensar em práticas de avaliação institucional
internas e externas é muito importante na educação básica. A partir de tais
práticas, é possível promover melhorias tanto no âmbito do sistema educacional
quanto na gestão das escolas. A avaliação institucional interna (ou autoava-
liação) também é uma excelente ferramenta para a implementação do PPP da
escola, como você vai ver a seguir.

Algumas instituições de ensino, ao optarem por um sistema de gestão pela qualidade,


podem ser alvo de avaliações externas realizadas por auditores de empresas privadas.
Tais auditores verificam se as escolas põem em prática o que projetaram nos seus
procedimentos operacionais. Eles também podem certificar as instituições quanto ao
padrão de qualidade que possuem. É o caso da certificação ISO 9001.
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Contribuições para o PPP da escola


Com a Constituição Federal de 1988, promulgada após um período de luta
pela redemocratização nacional depois da Ditadura Militar, define-se o mo-
delo de gestão a ser aplicado nas escolas: a gestão democrática. Uma gestão
democrática exige uma escola que tenha espaços abertos para a participação
da comunidade, o que normalmente é impulsionado pela construção do PPP.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN, Lei nº. 9.394, de
20 de dezembro de 1996), em seus arts. 12, 13 e 14, estabelece que as institui-
ções de ensino devem elaborar e executar os seus PPPs com a participação dos
profissionais da educação e da comunidade escolar (BRASIL, 1996). Dessa
forma, o PPP é fundamental para que a escola pública de educação básica atenda
aos preceitos constitucionais da gestão democrática. Além disso, é essencial
para que as escolas atinjam os objetivos da educação brasileira, desenvolvendo
plenamente os seus estudantes, preparando-os para o exercício da cidadania
e qualificando-os para o mercado de trabalho. Para que possa cumprir esses
aspectos de sua gestão, a escola conta com a avaliação institucional como uma
grande aliada. Considere o seguinte:

O projeto pedagógico e a avaliação institucional estão intimamente rela-


cionados. A não existência de um desses processos ou a separação deles
trará danos para a própria escola. Sem um projeto pedagógico que delimite
a intencionalidade da ação educativa e ofereça horizontes para que a escola
possa projetar seu futuro, faltará sempre a referência de todo o trabalho e suas
concepções básicas (FERNANDES, 2002, p. 58).

Perceba que somente estabelecer os rumos e as intenções da escola, con-


forme manifestado pela comunidade escolar, não é suficiente para atingir os
objetivos propostos. Para isso, são necessárias ações de acompanhamento e
monitoramento, que podem ser postas em prática por meio da avaliação insti-
tucional. A avaliação deve ser realizada de forma global, promovendo a análise
e o diagnóstico de todas as dimensões que abrangem a escola. Ao referir-se
à importância do PPP para as escolas, Veiga (2008, p. 13) ressalta o seguinte:

Ao se constituir em processo democrático, o projeto político-pedagógico


preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagó-
gico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas,
corporativas e autoritárias, rompendo com as rotinas do mando impessoal e
racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola,
diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as
diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
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Como você pode notar, a avaliação institucional é uma ferramenta muito


útil e adequada para os processos de implementação e monitoramento do PPP
da escola. Ela permite a autoavaliação dos gestores e de toda a comunidade
escolar, indicando como se encontram as relações internas que fazem parte
dos processos que a escola desenvolve. Assim, permite que todos obtenham
uma visão compartilhada e uma noção sistêmica da importância de cada setor
e de cada sujeito da escola para o sucesso da instituição.
Após realizar uma pesquisa abrangendo as escolas públicas que de-
senvolvem processos de avaliação institucional efetivos, Limeira (2012,
documento on-line) constatou que “[...] a avaliação institucional, tanto
externa quanto interna, deve ser o instrumento de autoavaliação das escolas
para que estas reconduzam os processos educativos que desenvolvem de
forma consciente, condizente com o seu PPP e em favor da comunidade
que atendem”. Assim, um processo de avaliação institucional, para que
seja legitimado por todos, precisa permitir que os sujeitos se autoavaliem
e possam, dessa maneira, perceber o quanto cada um está implicado com
a escola e com os seus objetivos.

Limeira (2012) realizou uma análise em escolas públicas localizadas no Distrito Federal
a fim de verificar as articulações existentes entre as avaliações institucionais realizadas
nesses estabelecimentos de ensino e os seus respectivos PPPs. O autor identificou
alguns contrastes entre o que a escola projeta no PPP e o que realiza. Uma das distorções
diz respeito ao processo de avaliação educacional aplicado pelas escolas analisadas:
embora tenham conhecimento do que está expresso em seu PPP e saibam que a
avaliação deve ser encarada como processo formativo e processual, voltado para
aprendizagens significativas, as escolas ainda realizam testes e provas bimestrais
como principal instrumento avaliativo dos estudantes. Assim, elas reforçam um para-
digma classificatório diferente daquele que a comunidade escolar gostaria de ver em
funcionamento. A partir dessa constatação, possível devido à avaliação institucional,
podem ser propostas novas práticas avaliativas que se alinhem adequadamente ao PPP.

Uma das tarefas inerentes ao gestor da escola é a tomada de decisões sempre


que se fizer necessário. Essas decisões, porém, precisam de embasamento na
realidade da escola, que pode ser apurada de forma muito mais eficiente a
partir do momento em que existe um plano de avaliação institucional, com
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uma comissão própria de avaliação composta por representantes da comuni-


dade escolar. Por meio do trabalho dessa comissão na aplicação da avaliação
institucional e das posteriores análise e crítica de seus dados, ficam mais claros
os pontos fortes e as fragilidades da instituição de ensino, o que favorece as
ações dos gestores da escola.
Ao se referirem a esse processo, Sanches e Raphael (2006, documento
on-line) comentam que “[...] a tomada de decisão é a ação resultante de um
processo de reflexões que proporcionou conhecer os pontos positivos e frágeis
da instituição e, por isso, embasará seus passos futuros, em especial no sentido
de solucionar as necessidades identificadas e buscar o fortalecimento de sua
qualidade acadêmica”. Dessa forma, a avaliação institucional, além de aliar-se
à implementação do PPP, também contribui significativamente para a busca
pela qualidade na educação que as escolas tanto almejam.
É importante você notar que para que tanto o PPP quanto o plano de avalia-
ção institucional sejam bem-sucedidos, esses processos precisam ocorrer com
a participação da comunidade escolar. Algumas vezes, contudo, esbarra-se
em problemas culturais, pois muitas pessoas não reconhecem a escola como
um espaço de participação. Portanto, às vezes, mesmo que a escola procure
envolver a comunidade escolar em sua gestão, garantindo a existência dos
conselhos e estimulando a participação de todos nas plenárias de construção
ou renovação do PPP, a adesão é baixa. Logo, essa não é uma tarefa simples
ou fácil; pelo contrário. Nesse sentido, cabe aos gestores da escola estimular
esses aspectos na cultura organizacional da instituição.
Quando se fala em avaliação institucional, da mesma forma, há a tendência
a surgirem movimentos de resistência, uma vez que, culturalmente, em muitas
comunidades escolares, a avaliação ainda é vista de forma restritiva, como
mera ação de controle e fiscalização, voltada para cobranças por parte dos
gestores. Por isso, deve-se empreender um esforço para ampliar o conceito da
avaliação institucional, compreendendo-a como uma ação que busca a melhoria
contínua e que é exercida com o principal propósito de apoiar os processos
da escola rumo aos seus objetivos educacionais. Sanches e Raphael (2006,
documento on-line) reforçam tais ideias ao afirmarem o seguinte:

Cabe ressaltar a importância da criação de uma cultura de avaliação, na


qual o processo avaliativo seja um espaço de reflexão e mudanças das ações
institucionais. A consolidação dessa cultura se dá com a intensa participação
de toda a comunidade acadêmica, no momento em que ela participe tanto
da definição de procedimentos avaliativos e sua implementação, como da
apropriação dos resultados, que devem ser traduzidos em ações direcionadas
ao aperfeiçoamento das práticas acadêmicas e administrativas da instituição.
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Veja as características de uma cultura de avaliação consolidada na escola


(COTTA, 2001):

 apoio à avaliação por parte de atores que ocupam posições-chave no


governo ou em outras esferas do sistema educacional;
 demanda regular pelas informações de avaliação em todos os níveis
do sistema;
 registro de experiências bem-sucedidas de utilização das informações
de avaliação para subsidiar o processo decisório;
 profissionalização das atividades de avaliação nas esferas pública e
privada;
 consolidação da avaliação educacional como campo de investigação
acadêmica.

Como você pode perceber, um processo de gestão democrática se realiza por


meio da criação e da implementação do PPP da escola, que deve ser realizado
de forma conjunta com a comunidade escolar. Para garantir o monitoramento e
o acompanhamento das proposições do PPP, é necessária uma política de ava-
liação institucional que se realize de forma contínua, sistemática e igualmente
participativa. Afinal, o PPP deve se renovar cotidianamente e as fragilidades
da escola precisam ser conhecidas para serem superadas.

A avaliação institucional
e a qualidade nas escolas
Os discursos em torno da busca por qualidade na educação ganharam destaque
na década de 1990 no Brasil. Nesse período, eles passaram a integrar políticas
públicas educacionais que entendiam que não bastava somente garantir o
acesso e a permanência nas escolas, mas também era necessário desenvolver
um processo de ensino e aprendizagem de qualidade. Essa busca pela qua-
lidade na educação acompanha a tendência das instituições educacionais de
assumirem modelos de gestão típicos da área empresarial e, assim, passarem
a pôr em prática nas escolas requisitos exigidos pelo mercado de trabalho.
Antes de você ir adiante, deve ter em mente a definição do termo qua-
lidade. A qualidade é um processo subjetivo, ligado à percepção que cada
um possui sobre alguma coisa. Ou seja, a qualidade do mesmo produto ou
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serviço pode ser compreendida de diferentes formas, pois está em jogo o


modo como cada um atribui valor às coisas. Por isso, quando você quer
estabelecer qualquer tipo de gestão relacionada à qualidade, precisa, obri-
gatoriamente, de indicadores, de objetivos estabelecidos que definam e
norteiem os processos organizacionais.

A utilização do conceito de qualidade remonta ao surgimento da denominada qua-


lidade total, que se desenvolveu durante a Segunda Guerra Mundial nas indústrias
bélicas. Naquele contexto, buscava-se aperfeiçoar os processos produtivos, otimizando
a produção e diminuindo o desperdício e o percentual de defeitos nas fábricas de
armamento. Com o passar das décadas, a qualidade total se expandiu para todas as
organizações, sendo implementada como um sistema de gestão capaz de produzir
melhores resultados organizacionais.

Para definir o conceito de qualidade, Demo (2012, p. 11) se vale do seguinte


exemplo:

Um diamante pode ser de qualidade se, comparado a outros, for mais puro,
perfeito, limpo. Um clima, por ser mais completo e equilibrado, apresentaria
qualidade superior a outro marcado por características de excessiva instabili-
dade, por exemplo. Nesse caso, qualidade significa a perfeição de algo diante
da expectativa das pessoas.

Ao ser transposto para as instituições de ensino, o conceito de qualidade


passa a exigir ao menos dois elementos importantes: o conhecimento das
expectativas das pessoas sobre a escola e a sua finalidade; e o estabelecimento
de critérios de verificação e padrões de comparação que sustentem essa quali-
dade. As expectativas da comunidade escolar devem, em um regime de gestão
democrática, integrar o PPP da escola. Além disso, os critérios ou indicadores
utilizados para a comparação e a busca das adequações necessárias para o
aperfeiçoamento da instituição costumam estar presentes nas avaliações
institucionais externas ou internas.
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Não é possível existir qualidade na educação caso não haja padrões de qualidade a
serem buscados pelas instituições de ensino. Portanto, há uma relação muito estreita
entre a avaliação institucional, o PPP e a qualidade na educação.

Lembre-se de que a avaliação institucional é entendida aqui de forma


processual e formativa. Nesse sentido, por mais que os dados das avaliações
educacionais de larga escala disponibilizadas pelo Saeb possam ser utilizados
pelos gestores das escolas para a sua gestão, eles se restringem à dimensão da
avaliação da aprendizagem dos estudantes e do mapeamento de suas caracte-
rísticas socioeconômicas. Portanto, deixam de fora todas as demais dimensões
envolvidas em uma avaliação institucional. Convém ainda salientar que cada
escola possui uma identidade, um jeito de pensar a educação e de funcionar
a partir das concepções validadas e legitimadas pela comunidade escolar em
seu PPP, que deve ser considerado na avaliação institucional.
Paro (2007) salienta que a qualidade é uma competência humana e que
a sua maior expressão se encontra justamente na participação. Logo, a qua-
lidade nas escolas requer também esse olhar atento para que todos aqueles
envolvidos direta e indiretamente com as instituições encontrem meios de
estar ali, interagindo e colaborando das mais diversas formas em busca de
um objetivo comum.
Ao considerar as relações existentes entre a avaliação institucional e a
busca pela qualidade de ensino, você deve entender essa qualidade para além
dos objetivos classificatórios tradicionais. É necessário ampliar o valor da
qualidade rumo à formação de um estudante mais crítico e consciente de sua
realidade social e cultural. Paro (2007, p. 110), ao discorrer sobre a necessidade
da ampliação do conceito de qualidade de ensino para as escolas da educação
básica, comenta o seguinte:

a educação consiste, pois, na mediação pela qual se processa a formação


integral do homem em sua dimensão histórica. Desta perspectiva, considerar
a qualidade de ensino em nossas escolas de Educação Básica é [...] levar em
conta em que medida se alcança esta formação, tendo presentes as dimensões
individual e social.
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A dimensão individual se refere à forma como o estudante se apropria


da cultura humana e, assim, se produz como sujeito a partir dela, podendo
viver em sociedade de forma a desfrutar de tudo o que esta lhe oferece. Já
a dimensão social significa a capacidade que os estudantes desenvolvem
para viver coletivamente, o que envolve o aspecto político da convivência
harmoniosa e democrática.
Fonseca (2007) realiza uma análise da inserção do tema da qualidade nas
escolas e no sistema educacional brasileiro. Tal inserção visa a acompanhar
as transformações ocasionadas na vida social pelo processo de globalização
ocorrido na década de 1990. O autor propõe o seguinte questionamento:

Diante das exigências trazidas pelas transformações sociais e pela evolução


da qualidade nas empresas, o sistema educacional está sendo intensamente
solicitado a transformar-se. Para isto, é cada vez mais importante o papel
da liderança, cujo desafio maior é aglutinar todos os esforços dos vários
segmentos da comunidade escolar (“envolvimento de todos”) em torno desse
vital e premente objetivo: sintonizar a educação com os novos tempos. Como
vencer esse desafio? (FONSECA, 2007, p. 116).

O alinhamento da escola com o tempo presente é uma tarefa complexa, que


implica formar os estudantes para que lidem criticamente com as mudanças
sociais. Ainda assim, uma das possíveis respostas para o questionamento de
Fonseca (2007) é que o desafio pode ser vencido a partir do investimento
realizado pelos gestores na construção de uma avaliação institucional que,
aliada ao PPP da escola, direcione a instituição ao aperfeiçoamento de seus
processos e práticas administrativas e pedagógicas, rumo aos objetivos edu-
cacionais traçados pela comunidade escolar à qual pertence.
Como você pode constatar, a avaliação institucional precisa ser posta em
prática para promover a autoavaliação das escolas quanto aos seus processos
globais e às relações existentes em seu cotidiano. Além disso, a avaliação
institucional funciona como ação de governo do MEC, visando a melhor
conduzir e incrementar o sistema educacional brasileiro. Da mesma forma,
essa avaliação contribui especialmente para o monitoramento e a real imple-
mentação do PPP das instituições de ensino, fornecendo diagnósticos para
que sejam realizados ajustes em busca de uma educação com maior qualidade
e equidade para todos. Os professores devem contribuir, nas escolas em que
atuam, para a compreensão da avaliação enquanto processo de formação e de
melhoria que envolve e viabiliza a participação de todos.
12 Avaliação institucional

Para saber mais sobre o conceito de qualidade na educação e a importância da


construção de uma avaliação institucional que contemple os múltiplos aspectos
desse conceito, assista ao vídeo “Educação de qualidade”, do Instituto Ayrton Senna,
disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/n7wXk

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