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O TALIS E O PISA E SUAS POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES PARA AS POLÍTICAS

DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASILi

Arlete Maria Monte de Camargo – UFPA


Eduarda de Assunção Pacheco – UFPA
Maria José Santos Rabelo – UFPA/UEMA
Mary Ellen Costa Moraes - UFPA
Mary Jose Almeida Pereira – UFPA/SEDUC
RESUMO

O estudo teve como objetivo evidenciar a influência das orientações da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE nas políticas de formação docente
no Brasil, envolvendo as pesquisas TALIS e PISA. Para tanto, foi realizada uma revisão
de literatura, de caráter narrativa, por meio do levantamento de produções, em artigos
científicos, sobre a formação de professores e sua relação com as avaliações de larga
escala. Foram utilizados como fonte de busca o Portal de Periódicos da CAPES e o
SciELO. Os resultados indicam que as duas pesquisas têm influenciado a elaboração de
políticas educacionais dos países, no estabelecimento de parâmetros para a realização da
formação inicial e continuada dos professores e na responsabilização dos docentes no
protagonismo de execução delas, com o intuito de obter a qualidade da educação.
Concluímos que a formação de professores, orientada pela OCDE com base nos
resultados do PISA e TALIS, alinham-se a uma concepção de formação baseada em uma
lógica gerencialista, de conformação e manutenção do capital.
Palavras-chave: OCDE. Formação de professores. TALIS. PISA. Revisão de Literatura
Narrativa.

INTRODUÇÃO

Diferentes documentos dos organismos multilaterais têm indicado a necessidade


de os países, em todo o mundo, realizarem reformas educacionais tendo como objetivo
adequar a escolarização obrigatória a diferentes demandas do processo de produção
capitalista, como foi o caso do documento aprovado na Conferência de Jontiem, na
Tailândia. Nesse evento, foram definidas novas regulações que possibilitaram a
adequação de um modelo de gestão burocrático para o de gestão empresarial, resultando
na introdução do modelo gerencial capitalista na administração da coisa pública.
(SILVA; CARVALHO, 2014; LESSARD, CARPENTIER, 2016).
Dessa forma, desde a década de 1990, em consonância com essas demandas,
ganhou destaque um conjunto de orientações que visava a adequação dos processos de
escolarização e de formação de professores a essas exigências, dada a relevância do papel
desempenhado pelos docentes nos resultados de aprendizagem de alunos na educação
básica; segundo Werlang e Veriato (2012), esses aspectos, encontrados em inúmeros
2

documentos se interligam com a reforma administrativa do Estado brasileiro, a produção do


capital humano e a precarização do trabalho docente, já que contribuem para responsabilizar os
professores pelo próprio desempenho profissional, dentre outros.
Dessa forma, foi necessária uma maior articulação entre as esferas nacionais e as
políticas de formação docente adotadas pela comunidade internacional, com destaque ao
papel desempenhado pelos organismos internacionais, tais como: Banco Mundial (BM),
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), dentre outros.
Em relação à OCDE, pode-se afirmar que ela tem contribuído decisivamente na
definição das orientações para a formação de professores, mesmo em países que não fa-
zem parte dessa organização, a exemplo o Brasil. A OCDE tem difundido uma lógica no
campo educacional, que envolve pilares como, qualidade, eficácia, definição e implanta-
ção de metas, índices, cobrança de resultados, que vem contribuindo para desenvolver
políticas públicas transnacionais em âmbito internacional.
São incentivados a adoção de mecanismos de avaliação de desempenho
institucional e individual, de avaliações em larga escala, incluindo o incentivo à atuação
do setor privado. No documento “Professores são importantes. Atraindo, desenvolvendo
e retendo professores eficazes”, publicado em língua portuguesa, ficam claros nele os
pilares descritos. Exemplo disso, é a proposição feita, pelo Comitê de Educação do
referido organismo, de uma revisão de políticas para professores, em nível mundial, com
o objetivo de ajudar os países a compartilhar iniciativas inovadoras e bem-sucedidas e
para identificar opções de políticas para atrair, desenvolver e reter professores Eficazes.
(OCDE, 2006).
Na constituição de uma nova ordem social, são visíveis regras e orientações
voltadas para influenciar a conduta dos atores sociais envolvidos com a educação escolar,
em especial a formação de seus professores. Envolvem um conjunto de normas,
legislações, procedimentos, entre outros, tendo como marco principal no Brasil, a
aprovação da Lei nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996), que tendem acompanhar as
recomendações dos organismos multilaterais já referidos, o que não impede que sua
implantação se dê em meio a tensões e contradições nesse processo.
Dardot; Laval (2016, p. 07) consideram que o neoliberalismo é “um sistema
normativo que ampliou sua influência ao mundo inteiro, estendendo a lógica do capital a
todas as relações sociais e a todas as esferas da vida”. Para esses autores, as principais
consequências seriam o acirramento da concorrência em todos os níveis. Eles apontam
3

que a maior perversidade que acompanha esse sistema é a destruição da coletividade e o


incentivo à “polarização entre os que desistem e os que são bem sucedidos, o que
contribui para minar ideais de solidariedade e cidadania” (DARDOT; LAVAL, 2016, p.
15).
Esse fato vem ocorrendo no campo da formação docente, nele, entre algumas
tendências, destacam-se a adoção prioritária nos programas oficiais de formação em
serviço como forma de suprir os possíveis déficits na formação inicial, essa última
considerada dispendiosa; incentivo à oferta de cursos na modalidade à distância, com a
difusão das chamadas novas tecnologias de informação; aumento da participação de
grupos empresariais no desenvolvimento dessas políticas de formação, além de pouca
participação dos professores na concepção dessas ações, dentre outros. (TORRES, 1997;
MAUÉS, 2011; PEREIRA; CAMARGO, 2020).
As políticas de formação docente da educação básica apresentam estreita ligação
com os programas de avaliação internacional em larga escala e, desde 2007, com a criação
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), o qual passou a fixar metas
de desenvolvimento educacional de médio prazo nas várias instâncias e níveis educacio-
nais, e também, de avaliar o desempenho escolar com base em conhecimentos em Língua
Portuguesa e Matemática, assumindo um caráter indutor de políticas educacionais. (CA-
MARGO et. al 2018).
Nesse sentido, ganham força as avaliações baseadas em instrumentos
estandartizados, com relevo o Program for International Student Assessment (PISA), que
é aplicado no Brasil (desde 1997) e em outros paísesii, exame desenvolvido pela OCDE e
que se insere nos programas de avaliações nacionais e internacionais com o uso de dados
estatísticos como instrumento de produção de avaliação e informação como elementos
objetivos do processo, e contribuem para o desenvolvimento de uma relação entre
estatística e política pública. (MAUÉS; COSTA, 2020).
Segundo Villani e Oliveira (2018), as avaliações baseadas em instrumentos
estandardizados são aquelas que estabelecem comparação do nível de conhecimento e das
competências dos estudantes ou adultos em diferentes países do mundo. Outra iniciativa
coordenada pela OCDE é a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem
(TALIS), aplicada no Brasil desde 2008, tem como foco a avaliação do ambiente de
ensino e aprendizagem, as condições de trabalho dos professores e diretores nas escolas.
Assim como o PISA, a aplicação e o tratamento dos dados são responsabilidades do INEP.
4

O artigo aqui proposto se vincula ao projeto de pesquisa “A Internacionalização


da Educação Superior, os Organismos Internacionais e os Impactos nos Programas de
Formação de Professores”, desenvolvida pelo Grupo de Estudos sobre Política
Educacional e Trabalho Docente (GESTRADO/UFPA) e financiado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ. Neste recorte aqui
apresentado, objetiva destacar o papel da Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e sua influência nas diretrizes da formação docente na agenda
educacional brasileira; trata das recomendações da OCDE que se materializam na
realização do PISA e dos resultados da TALIS, que ao lado de outras iniciativas
contribuem para regular a escola e o professor, com o controle sutil sobre o trabalho e a
formação docente. (PETTERSSON; MOLSTAD, IVO; HIPÓLITO, 2017).
O escopo deste trabalho consistiu na análise das implicações geradas pelos
sistemas de avaliação em larga escala para a formação docente que circulam nas
produções científicas. Traz como questionamento: Quais as implicações das
recomendações da OCDE a partir do PISA e da TALIS para formação docente?
Desse modo, nesse estudo, buscamos evidenciar, por meio de um levantamento
nos periódicos nacionais, a influência e orientação do PISA e TALIS de acordo com a
produção científica, coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), nas políticas de formação docente no Brasil.

METODOLOGIA
A classificação quanto à natureza deste estudo está pautada na pesquisa
qualitativa, devido ela trabalhar os dados com a finalidade de buscar os seus significados,
possuindo como base a percepção do fenômeno dentro do seu contexto (TRIVIÑOS,
2019). Além disso, o estudo é também de caráter exploratório, pois as pesquisas
exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito, bem como aprimorar ideia e realizar a descoberta de
intuições (GIL, 2002)
Sendo assim, o estudo utilizou na coleta de dados a revisão de literatura narrativa
que, segundo Rother (2007), essa técnica de coleta é adequada para descrever e discutir
o desenvolvimento ou o “estado da arte” sob um ponto vista teórico ou contextual. Além
disso, não exige um protocolo rígido para o seu desenvolvimento, ou seja, apresenta-se
como uma forma de produção mais aberta (CORDEIRO et al., 2007).
5

Dito isso, para coletar e analisar os dados dos estudos incluídos na referida
revisão, foram considerados, em seu desenvolvimento, os pressupostos estabelecidos por
Romanowski e Ens (2006), dessa forma foi necessário seguir os procedimentos expressos
na figura 1.
Figura 1: Fluxograma do procedimento de Revisão de Literatura Narrativa (ROMANOWSKI; ENS,
2006).

Coleta de Análise e
Organização
Base de Material Leitura das elaboração
Descritores Critérios dos relatórios
dados da publicações das
dos estudos
Pesquisa conclusões

Fonte: elaborado pelas autoras, 2021.

A escolha dos descritores emergiu a partir do objetivo do trabalho, que interessado


em buscar produções que versam sobre a orientação do PISA e TALIS no campo da
Formação de Professores, considerou “TALIS”, “PISA” e “FORMAÇÃO de
PROFESSORES” como palavras-chave para realização da busca de dados.
Sendo assim, definimos e utilizamos os descritores controlados e combinados com
operadores booleanos: “TALIS” OR “PISA” AND “formação docente” OR “formação de
professores” OR “formação em serviço” OR “formação inicial” OR “formação
continuada”. A etapa seguinte foi seleção da amostra que se deu por meio do acesso às
bases de dados, Portal Periódicos CAPES e Scientific Electronic Library Online -
SciELO. As duas bases de dados definidas foram escolhidas por serem as maiores
bibliotecas virtuais de publicações científicas e por conter um acervo abrangente dos
principais estudos publicados em diversas áreas da pós-graduação.
Foram incluídos na revisão somente artigos de periódicos relacionados ao objeto
de pesquisa, escritos em língua portuguesa, originados nas bases de dados nacionais, no
período de 2005, ano de surgimento da TALIS (OCDE, 2009), até o ano 2020, perfazendo
um total de quinze anos, e trabalhos que contenham, no título e/ou resumo, as palavras
formação de professores, educação básica, TALIS e/ou OCDE. Foram excluídos
trabalhos que não se adequaram ao objetivo da revisão da literatura em questão. O registro
das informações obtidas nos artigos selecionados deu-se em um instrumento estrutural,
foi utilizado o software Microsoft Excel 2019 para gerar uma planilha. Essa foi preenchida
após a leitura dos estudos selecionados na íntegra, tendo em vista o objeto do estudo,
posteriormente, foram organizadas em programa específico de gerenciamento de
coleções, o Mendeley Desktop.iii
6

Nas duas bases de dados utilizadas, SciELO e CAPES, foram identificadas um


total de 523 publicações, dessas, 412 trabalhos não atenderam aos critérios de inclusão
estabelecidos, pois não correspondiam à temática proposta para esse estudo. Dessa forma,
apenas 111 publicações foram selecionadas. Dessas publicações, foram excluídos 84
estudos por atenderam aos critérios de exclusão. Na sequência foram lidos os títulos,
resumo e palavras-chave de 27 publicações, com a finalidade de verificar se os trabalhos
se referiam ao assunto proposto, o que permitiu a seleção de 14 trabalhos.
Após esta fase, houve a verificação da repetição de estudos em um ou mais
descritores, o que permitiu excluir 04 estudos. Ao final restaram 10 artigos para serem
lidos na íntegra, conforme expressa a figura 2 abaixo.
Figura 2. Fluxograma de constituição da amostra.

Amostra Inicial
SciELO:11
CAPES:512
TOTAL:523
Trabalhos excluídos por não
atenderem aos critérios de
inclusão.
Total: 412
Trabalhos Selecionados
Total: 111
Atendeu aos critérios de
exclusão
Total: 84
Artigos selecionados após
critérios de exclusão.
Total: 27 Exclusão de trabalhos que
não se referiam ao assunto
proposto.
Total: 13
Artigos selecionados
Total: 14
Exclusão de trabalhos por
serem repetidos.
Total: 04
Amostra Final
TOTAL: 10
Fonte: elaborado pelas autoras, 2021.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise dos 10 artigos selecionados, apresenta-se no Quadro 01 o


resultado obtido considerando alguns elementos que os constituem: título do estudo,
nome do autor, ano e objetivo.
7

Quadro 1. Distribuição das referências incluídas na revisão de literatura narrativa, de acordo com os
títulos, autores, ano de publicação e objetivo.

Nº Título Autor Ano Objetivo


1 Acrescentar elementos à discussão sobre a crescente
A presença da OCDE no Brasil no utilização de instrumentos avaliativos importados
Darosjr. 2013
contexto da avaliação educacional como parâmetros de qualidade da educação
brasileira.
2 Condições de trabalho dos professores e Apontar problemas, tendências e demandas para
Trojan e
desempenho estudantil: uma análise 2015 futuras investigações, a partir do exame dos
Corrêa
crítica sobre as perspectivas da OCDE relatórios divulgados pela OCDE.
3
Analisar as ideias sobre os professores, as atividades
Professores do PISA: a esperança e a Pettersson
2016 que realizam, e como estas são conceitualizadas no
realização da educação e Molstad
interior de uma narrativa própria ao PISA.
4 Apresentar, através do levantamento em periódicos
Os sistemas de avaliação em larga escala Pizarro e
nacionais e internacionais, possíveis demandas e/ou
e seus resultados: o pisa e suas possíveis Lopes 2017
considerações para a área de ensino de Ciências,
implicações para o ensino de ciências Júnior
com o advento das avaliações em larga escala
5 Analisar os resultados do PISA 2015, na área de
Um olhar sobre os resultados brasileiros ciências, buscando desvelar dados que justifiquem a
no PISA 2015: possibilidades de se Melo, necessidade de um curso de formação de professores
refletir sobre problemas do ensino de Neves e 2018 de ciências, vislumbrando melhorar os seus
ciências e à formação inicial do Silva desempenhos no que se refere à promoção da
professor de ciências Alfabetização Científica e Tecnológica dos seus
alunos.
6 Analisar as (in)afinidades existentes nos três pilares
As (In)afinidades no sistema educativo, Rodrigues, fundamentais da educação decorrentes da
formação de professores e resultados Brito e 2018 implementação do Processo de Bolonha, refletindo
escolares na União Europeia Ferreira sobre sua influência na construção das políticas
educacionais na UE 28.
7 Proposições da OCDE para América Analisar as proposições educacionais da
Latina: o PISA como instrumento de Pereira 2019 Organização para Cooperação e Desenvolvimento
padronização da educação Econômico (OCDE) para a região latino-americana.
8 Caracterizar as percepções de um professor e dos
As Percepções de um Professor e Alunos Ranulfo,
seus alunos sobre o ensino e as questões de Ciências
sobre o Ensino e as Questões de Ciências Fernandes 2019
do Programa Internacional de Avaliação de
do PISA de 2015 e Allain
Estudantes (PISA) de 2015.
9 Apresentar alguns resultados de uma pesquisa, em
A OCDE e a Formação Docente: a Maués e curso, financiada pelo CNPq, que tem como foco a
2020
TALIS em questão Costa OCDE e a TALIS, buscando trazer elementos a
propósito da formação docente.
10 Perscrutar as políticas educacionais para o Ensino
Médio, no que concerne à melhoria da qualidade
A desigualdade educacional no ensino Pereira, educativa, particularmente aquelas desencadeadas
médio sob o fetiche das competências Matín e 2020 sob orientação dos organismos multilaterais, tais
socioemocionais Landini como Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (PISA) e Pesquisa Internacional sobre
Ensino e Aprendizagem (TALIS).
Fonte: elaborado pelas autoras, 2021.

Os 10 trabalhos selecionados acima se dedicaram a analisar as repercussões do


PISA e TALIS na educação brasileira, evidenciando suas atuações como orientadores de
ações, intervenções e construção de políticas educacionais.
A quantidade de 10 produções ainda é tímida, o que pode ser justificada, dentre
outras, pelo fato do Brasil não se constituir como membro integrante da OCDE, e sim um
parceiro-chave que faz parte de uma estratégia de Enhanced Engagement (‘Envolvimento
Ampliado’), que por meio dela a Organização estabelece um vínculo com países
emergentes, a exemplo da Rússia, Índia, China, África do Sul, Indonésia, bem como o
8

Brasil (DAROS JÚNIOR, 2013). Além disso, esses trabalhos não tratam todos da
repercussão dos dados das pesquisas PISA e TALIS no campo da formação de
professores. Alguns deles discutem a influência desses dados em outros segmentos da
área da educação.
No que se refere ao campo da Formação de Professores, destacam-se dois artigos
especificamente: “Um olhar sobre os resultados brasileiros no PISA 2015: possibilidades
de se refletir sobre problemas do ensino de ciências e a formação inicial do professor de
ciências” (MELO; NEVES e SILVA, 2018) e “A OCDE e a Formação Docente: a TALIS
em questão” (MAUÉS; COSTA, 2020).
Melo, Neves e Silva (2018) analisam os resultados do PISA 2015, na área de
ciências, buscando desvelar dados que justifiquem a necessidade de um curso de
formação de professores de ciências, objetivando melhorar os desempenhos no que se
refere à promoção da Alfabetização Científica e Tecnológica dos seus alunos. Os
resultados do PISA trazem subsídios para fomentar no processo formativo docente o
trabalho com saberes científicos, incluindo conteúdos procedimentais e tecnológicos,
reforçando que a importância do desenvolvimento de competências alinhadas aos
referidos saberes como capazes de estimular a criticidade.
Maués e Costa (2020) apresentam alguns resultados de pesquisa em curso,
financiada pelo CNPq, que tem como foco a OCDE e a TALIS, buscando trazer elementos
da formação docente. As autoras em suas análises, permitem que categorias relacionadas
ao campo da formação de professores emergissem e assim pontuaram evidências que
sustentam a forte orientação da OCDE no processo formativo docente brasileiro. Na
sociedade do conhecimento o professor é o profissional capaz de formar o cidadão com
perfil exigido às demandas do mercado. Nessa perspectiva o desempenho do professor
deve ser excelente e eficaz para alcançar uma educação de qualidade.
Nesse sentido no âmbito da formação de professores, acredita-se que os resultados
dos exames apontam relação com o planejamento de políticas voltadas para os docentes,
inclusive havendo iniciativas de atribuir bônus a professores a partir dos resultados.
Além disso, de acordo com as publicações, é possível identificar a estreita relação
entre o desempenho dos alunos em testes, a formação e o trabalho dos docentes, sendo
importante instaurar o debate em torno dessa questão, conforme pode ser visto no Quadro
2:
Quadro 2. Implicações acerca da formação de professores em relação ao PISA e TALIS.
9

PISA TALIS
- A melhor formação inicial e continuada dos docentes - Avaliação dos professores entendendo que existe uma
tende a fazer com que os alunos apresentem melhor de- relação intrínseca entre rendimento escolar e formação
sempenho do exame; docente;

- Os docentes são “elementos-chave” na elevação dos - Promover “boas práticas’, visando elaborar políticas
padrões educacionais; para a formação de professor com o mais alto nível de
qualidade;
- O conhecimento dos professores precisa ser melho-
rado; - Levantamento de dados sobre o ambiente de aprendi-
zagem e as condições de trabalho oferecidas ao professor
- A importância de elevar os padrões entre os professo- pela escola;
res;
- Investimento do poder público na formação e qualifi-
- Orientar práticas de formação de professores, desta- cação de professores como prioridade;
cando que qualquer ação de formação deve primar para
uma efetiva mudança na sala de aula e na aprendizagem - Pouca ênfase às condições materiais (salário, plano de
dos alunos. carreira, etc) dos professores.
Fonte: elaborado pelas autoras, 2021.

A avaliação em larga escala, é justificada com a finalidade de monitorar o


funcionamento das redes de ensino, bem como oferecer subsídios para os gestores, no que
diz respeito, a formulação de políticas de cunho educacionais, pois são fornecidos dados
definidos em termos dos resultados que, por sua vez, decorreriam das aprendizagens dos
alunos e ao ambiente educacional. Cabe ressaltar que as avaliações possuem como
características, entre outras, a definição de uma matriz de avaliação, os quais são
especificados os objetos de avaliação, e o emprego de provas padronizadas, como
condição para que sejam possíveis, quando cabíveis, comparações baseadas em resultados
mais objetivos.
É importante não perder de vista que a qualidade da educação está interligada com
as condições de formação dos professores, apesar de que essas políticas destacarem que
o problema da qualidade do ensino está relacionado à má formação dos profissionais da
educação. As avaliações decorrentes dos resultados do PISA e da TALIS podem
contribuir para a reflexão de quais conhecimentos precisam ser aprimorados, já que se
constitui em uma das alternativas da melhoria da qualidade do ensino.
Os resultados dessas avaliações refletem igualmente as condições precárias do
ensino no Brasil, e da realidade socioeconômica. Assim, a qualidade da educação vai
além da formação dos professores ou dos resultados que decorrem das avaliações
padronizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A OCDE assumiu um papel central na governança global atuando
simultaneamente como diagnosticador, juiz, consultor de política para o sistema escolar
10

mundial. Tem conduzido de forma hegemônica as orientações para a educação, sugerindo


políticas para formação de professores a partir dos resultados da avaliação em larga
escala, como a proposição de bonificação ao desempenho docente, indicação de metas,
indicadores e parâmetros quantificáveis como meio de comparação de melhores práticas
e como instrumento de análise do progresso obtido, o que proporciona uma base para a
formulação de políticas educacionais.
Os resultados do PISA e TALIS são em geral atribuídos à qualidade da educação
a da formação dos docentes, e apesar de citar as condições de trabalho e de infraestrutura,
focaliza nos docentes e na formação esse protagonismo para superação das dificuldades
e avanço da qualidade nos países. A OCDE vincula o discurso da qualidade de ensino aos
resultados de testes padronizados, incentiva o entendimento do professor como
protagonista das políticas, ainda que de forma precarizada; além disso, uma boa formação
deve ter como base práticas exitosas, além da adequação da gestão do tempo em sala de
aula, planejamento com metas e ranqueamentos, estabelece ainda parâmetros para
elaboração de planos de carreira que incentive a permanência dos professores de
“qualidade” no magistério. Portanto, essas ferramentas da OCDE tem uma importância
decisiva no modelo de formação de professores hoje hegemônico, em consonância com
a lógica gerencialista, apesar de não garantirem a qualidade da educação.

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no Brasil: os vínculos entre o PISA e o IDEB. Educação & Realidade, v. 43, n. 4, p.
1343-1362, 2018.

i O artigo tem como referência o projeto de pesquisa “A internacionalização da educação superior, os


organismos internacionais e os impactos nos programas de formação de professores”, coordenado pela
Profª Drª Olgaíses Cabral Maués e desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisa de Políticas
Educacionais, Formação e Trabalho Docente – GESTRADO/UFPA. Tem como objetivo analisar de
forma crítica o processo de internacionalização da educação superior e o papel dos organismos
internacionais, como parte desse processo, buscando identificar os impactos sobre a formação de
professores.
ii Em 2018, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão
responsável pela aplicação do Pisa no Brasil, 79 países participaram do PISA (37 membros da OCDE e
42 países/economias parceiras).
iii Software gratuito que auxilia nos trabalhos acadêmicos e tem a finalidade de gerenciar arquivos
eletrônicos, além de ajudar na normalização de citações e referências geradas automaticamente.

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