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Código:
Ano ꞉ 4°
Classificação
Capa 0.5
Índice 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução
Descrição dos objectivos 1.0
II
Folha de feedback
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III
Índice
..........................................................................................................................................................I
Folha de Feedback..........................................................................................................................II
1. Introdução.................................................................................................................................5
1.2. Objectivos.............................................................................................................................6
2. Resumo.....................................................................................................................................7
Unidade 11: Pedagogia do cânone literário escolar: adequação e Violência, reijeição e desejo19
Unidade 12: Recomendações sobre o Ensino de textos Canónicos na aula de Língua Portuguesa
.......................................................................................................................................................20
4
Unidade 14: Níveis de Análise de Textos Literários......................................................................35
Unidade 20: Materiais de Ensino de Literatura no ensino secundário geral (1.º e 2.º Ciclos)....40
Unidade 22: A prática Pedagógica do Ensino de um Texto Literário: Reflexões sobre os apectos
intra e extratextuais.......................................................................................................................41
Resolução de exercícios.................................................................................................................46
Conclusão......................................................................................................................................56
Referências bibliográficas.............................................................................................................57
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1. Introdução
Este trabalho, trata-se de um estudo de leitura com base nas respostas do módulo de Didáctica de
Literaturas com objectivo de sintetizar os conhecimentos acerca daquele manual. Ressaltamos
aqui, antes mas porém que o ensino da literatura pode fazer-se por esta via analítica. A literatura
é tão indefinível como o conhecimento, pelo que qualquer forma de ensino da literatura tem que
passar por uma condição de indeterminação. Ensinar passa a ser equivalente à criação de
condições de acesso ao conhecimento mais do que à falsa convicção de que é possível deter
conhecimento e transmiti-lo, porque quem segue esta via está normalmente convencido de que
não tem nada para aprender e que sabe o suficiente para cumprir profissionalmente a sua missão.
Entendamos que não basta conhecer uma Literatura, os seus autores fundamentais e os seus
epígonos, as suas obras paradigmáticas e as menores, a sua evolução literária e os factores
sociológicos que a condicionam, para se saber ensinar Literatura são necessárias ferramentas e
métodos de trabalho diferenciados que se sobrepõem ao conhecimento da Literatura.
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1.2. Objectivos
LIBANEO (2002:104) afirma que “objectivo, é um fim a ser alcançado, alvo a ser alcançado”.
Por conseguinte, de acordo com a citação que apresentamos acima, o nosso trabalho apresenta
dois objectivos, sendo um geral e outros de caracteres específicos.
7
2. Resumo
8
Unidade 02: A Didáctica da Literatura e Outras Ciências
2.1 Como determinar o campo da didáctica da literatura?
Johannes Timmermann dá-nos a seguinte descrição das funções que competem à didáctica de
uma disciplina:
“A didáctica de uma disciplina alia essa disciplina específica à ciência da educação e às
ciências sociais, tendo em vista a investigação sobre o ensino e a formação de professores. -
Analisa o domínio do objecto de disciplinas específicas, de forma a torná-lo mais acessível”.
No mesmo sentido, Stocker define a didáctica de uma disciplina:
"Como uma ciência de integração de outras cuja função será de elaborar uma teoria sobre o
modo mais eficaz de organizar os processos de ensino e de aprendizagem, não deixando de
atender aos interesses do sujeito que aprende, do objecto a transmitir e do objectivo a
alcançar."
De acordo com Karl Otto Conrady, a didáctica da literatura será entendida como uma ciência da
mediação a qual, ao transmitir os conhecimentos dessa disciplina, deverá atender às capacidades
e aos conhecimentos limitados dos destinatários, enquanto que a ciência da literatura se poderá
dedicar ao objecto, sem que tais limitações constituam obstáculo.
Deborlav chama a esta concepção “o entendimento pedagógico do leigo” / conceito positivista da
ciência que rejeita qualquer interrogação sobre o sentido da ciência como não tendo carácter
científico, porque entre o ser e o dever ser vê um fosso intransponível. Alfred Clemens
Baumgärtner rejeita a ideia da didáctica da literatura como uma ciência da mediação, porque isso
acarretaria a adopção de critérios formais e específicos de cada género literário, próprios da
ciência da literatura.
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Porém, Peter Heintel defende que a questão do sentido formativo ( a dimensão didáctica) deve
ser procurado dentro da própria ciência e não ser lhe aduzido a partir de fora: a disciplina deve
assumir a sua especificidade pedagógica e formativa.
Como refere Timmermann “ a ligação da didáctica de uma disciplina à ciência dessa disciplina
só pode ser justificada, na medida em que esta última contribui para a compreensão que o
indivíduo tem de si próprio e do mundo.”
A relação entre teoria e praxis depende daquilo que se entende por praxis. Se a praxis for aquele
domínio que está sempre sujeito às exigências da educação e da formação, à teoria cabe a função
de
tornar conscientes essas exigências que determinam a praxis e de possibilitar ao docente uma
orientação do sentido que, partindo da praxis, tem como objectivo a praxis.
Função antropológica da literatura: compensar uma realidade dolorosa; isto é, permitir que o
aluno esqueça uma realidade frustrante, por intermédio da literatura.
Todavia, a literatura pode ser entendida não na sua função compensatória, mas a partir da sua
exigência de sentido.
A didáctica da literatura como teoria da educação e da formação literárias tem como missão
tornar conscientes todas as concepções, princípios e normas, de que qualquer praxis sempre
exigiu socorrer-se.
A legitimação do ensino da literatura não pode depender do facto de ele impor ao sujeito da
aprendizagem certas normas e modos de acção, mas, antes, de ele ser capaz de alargar o
horizonte de
motivação do aluno e de diferenciá-lo.
2.5 O modelo de ensino orientado pela crítica da ideologia.
A crítica de Fingerhut: este modelo conduz apenas à indignação moral que acaba por redundar
em resignação e cinismo, já que não proporciona aos alunos quaisquer possibilidades de acção.
A crítica violenta de Platão (A República) - para quem a literatura não tem como meta atingir o
conhecimento da praxis correcta, da justiça e do bem, mas que se satisfaz apenas com a
representação daquilo que o homem considera justo ou injusto, bom ou mau; ela limita-se a
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representar as crises da vida e as emoções controversas da alma, sem procurar saber qual é o seu
verdadeiro motivo.
No essencial, Platão acusa a literatura de visão superficial da realidade e de, fruto da aptidão
artística do escritor, poder desvirtuar a reflexão, a razão e a autodeterminação, na medida em que
a literatura não é um domínio isolado, retirado de todo o contexto da vida, que só consegue
operar por meio do sentimento.
De certo modo, para Platão, à literatura cabe a tarefa de fornecer regras morais e de confirmar a
ordem política, sem, todavia, se deixar tutelar, quando encarada em termos de recepção, isto é,
relacionando o objectivo geral - a realização do homem - e a recepção da literatura.
E nesse sentido, a concepção de literatura de Platão pode fundamentar um modelo de didáctica
da literatura que vise a “emancipação e autoconfiguração” do ser, porque o próprio conceito de
literatura integra este objectivo geral da educação.
Aristóteles, segundo Schadewalt, procura entendê-la, tomando como ponto de partida o efeito
que ela exerce no espírito do receptor, sem preconceitos. Enquanto que Platão criticara a entrega,
sem reservas, aos afectos de dor e de temor, como forma de auto-alienação, Aristóteles procura
demonstrar que esta entrega, numa perspectiva ética, não é nociva.
2. 6 Duas concepções diferentes quanto ao efeito da literatura:
A obra literária como proposta de sentido no qual o que está em causa é a “praxis orientada para
o sucesso”, exige do receptor que ele, por um lado, veja o que é representado, projectado sobre
as suas representações e normas e que, por outro, ele ponha em causa as suas representações.
De acordo com a segunda concepção, o processo de recepção é caracterizado por o receptor se
deixar dominar por aquilo que é representado na obra literária, de tal forma que se esquece de si
próprio e do mundo.
A discussão actual em torno da didáctica da literatura
A - O método da redução explicativa [def. de Karl-Otto Apel]: quando a literatura é explicada
com base na necessidade de distensão, alívio, distracção e compensação...
B - Uma hipótese de escapar às consequências da aplicação “método de redução explicativa”:
será a literatura não ser analisada em função de factores que a condicionam, mas em função do
“que, em última instância, interessa quer ao poeta quer ao leitor”.
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Unidade 03: Didáctica de Literatura e Didáctica de Língua
"Língua” e "literatura" são termos que se associam de um modo quase automático, formando um
sintagma sólido e coeso.
É sabido que nos modelos tradicionais do ensino da língua materna o texto literário tinha uma
presença constante ou mesmo exclusiva.
Os diálogos escritos da ficção literária eram (e, em parte, continuam a ser ... ) objecto de análise
a vários níveis - incluindo o nível pragmático, a análise das interacções verbais - como se se
tratasse de diálogos orais reais.
O estatuto que é preciso reivindicar para o texto literário na aula de língua materna não implica
repor a sua presença constante e indiscriminada.
Um processo de produção em que é trabalhada como "matéria-prima" a linguagem: "a obra
literária /...I é obra de linguagem, obra que não utiliza simplesmente a linguagem mas que
constrói linguagem, desenvolve, realiza virtualidades já contidas na linguagem" (Coseriu, E..
1993: 30).
O uso literário não se institui, pois, como "desvio" em relação ao uso "corrente" mas antes como
intensificação e exploração de um potencial comum.
A linguagem, na sua natureza de fenómeno humano tem características que a tornam rebelde a
toda a espécie de simplificações ou esquematismos. É preciso superar, nomeadamente, a
estreiteza de uma concepção da linguagem restrita à função comunicativa. A comunicação não é
nem a única, nem a mais importante das funções da linguagem. Há muitos momentos da
actividade verbal em que "I ... I se suspende o dispositivo quotidiano da comunicação” (Lopes,
O.,1986:23), em que a motivação de agir sobre uma situação concreta e presente é superada pela
motivação cognitiva, pela urgência incessantemente renovada no discurso de exprimir
integralmente o possível e o dizível da nossa experiência.
Cabe ao professor de língua materna promover a activação intencional e o aprofundamento
gradual dessas capacidades e motivações presentes desde a primeira infância, fazendo-as evoluir
para formas de percepção e fruição mais elaboradas, nomeadamente no âmbito da recepção do
texto literário.
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Unidade 04: Definição do estatuto de Didáctica de Literatura
A definição do estatuto existencial de uma ciência não pode nunca partir do pressuposto de
anular à partida qualquer relação com outras ciências.
A literatura é fundamentalmente uma prática epistemológica da estética, isto é, um exercício de
re-criação do mundo através da linguagem que nos esforçamos por realizar em determinadas
condições e produzir determinados efeitos e cujo resultado final terá de ser sempre a produção de
um novo significado, que escreveremos significado, para dizer que se trata de um universo de
sentidos.
Ora, dizer que a "literatura não se fez para ensinar", retomando as palavras de Jacinto do Prado
Coelho, pode sugerir, em primeiro lugar, que a literatura está em conflito com a pedagogia; em
segundo, que a génese do fenómeno literário tem uma determinada relação com a pedagogia e
que essa relação se funda numa negatividade ou exclusão recíproca; e em terceiro, que a
literatura, não podendo ser ensinada, isto é, existindo virada somente para si mesmo, nunca
poderá ser objecto de estudo.
A literatura é tão indefinível como o conhecimento, pelo que qualquer forma de ensino da
literatura tem que passar por uma condição de indeterminação. Se em filosofia, normalmente se
aceita que o conhecimento é a representação de alguma coisa, o ensino da literatura terá de ser
sempre a representação de alguma coisa ao espírito.
Se em filosofia, normalmente se aceita que o conhecimento é a representação de alguma coisa, o
ensino da literatura terá de ser sempre a representação de alguma coisa ao espírito.
Quer a didáctica da literatura quer a própria literatura constituem exercícios naturais das funções
vitais da vida cognitiva, fazendo uso de todas elas: a percepção externa do mundo sensível e dos
seus fenómenos corresponde à criação textual do autor; a consciência corresponde ao
conhecimento do eu textual (todos aqueles que podem representar esta identidade: autor,
narrador, personagens) e dos seus actos; a razão corresponde ao trabalho de leitura textual,
facilmente identificado no trabalho crítico do estudo das relações necessárias entre os sentidos de
um texto, das identidades, causalidades, finalidades, leis e princípios de significação.
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Unidade 05: Importância da Educação literária no desenvolvimento da competência
linguístico-discursiva dos alunos
A língua, como poesia, é energia, é mobilidade, viagem e horizonte.
Numa como na outra, porém, são indispensáveis mecanismos de regulação – como em toda a
cultura – e o texto poético é sempre um texto altamente codificação.
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Com isso, pode-se então que a compreensão do texto é o resultado de operações a dois níveis
fundamentais, nomeadamente a interpretação e a análise. O domínio destes níveis conduz o
leitor não só à compreensão, como também o ajudam no enquadramento do texto numa
determinada tipologia de textos e no seu enquadramento e/ou contextualização histórica e
temática.
Unidade 07: A Análise Estilística
A Análise Estilística
Com efeito, a análise estilística é o pano de fundo da análise textual literária. As figuras de estilo
são o perfume da linguagem literária, em razão disso, figurativa e conotativa. Este nível de
análise requer do leitor a capacidade de operar abstracções sem as quais a compreensão torna-se
impossível ou deficitária. Interpretar e analisar é, acima de tudo, um processo de busca de
significados que os significantes veiculam ou que se supõe veicularem.
Uma análise orientada para a valorização do signo e, neste momento, para o relevo
eventualmente conferido ao significado, fundamenta-se na noção de que toda a linguagem
literária é essencialmente plurissignificativa; o que implica a ideia de que o discurso literário
dificilmente se confina, do ponto de vista semântico, aos limites estreitos de um sentido unívoco,
mas antes se concebe como discurso plurívoco em que confluem planos isotópicos.
Uma análise estilística que atente na importância das conotações que povoam o texto não deve
cingir-se à verificação da polivalência significativa, como não pode limitar-se à noção de que
essa polivalência, se estende à colectividade, de acordo com a necessidade de funcionamento
social da linguagem literária, mais do que isso, uma análise estilística debruçada sobre a
conotação deve empenhar-se em enraizar a elaboração formal por ela responsável no estatuto
ideológico e afectivo do escritor responsável pelo estilo peculiar que enforma o texto literário.
Análise estilística deve procurar articular harmoniosamente duas atitudes específicas:
(i) O conhecimento e capacidades de descrição do funcionamento retórico das figuras;
(ii) a tentativa de descortinar, em certos textos, a importância relativa de determinada ou
determinadas figuras.
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Unidade 08: A importância da leitura para a produção de textos
Porquê ler? É simples, porque a leitura tem a capacidade de nos transportar para um mundo
completamente diferente do nosso, tem a capacidade de nos fazer imaginar o imaginável, de
pensar e reflectir sobre assuntos banais com os quais nos debatemos diariamente. Porque com a
leitura tudo se torna agradável e harmonioso por mais dura e cruel que seja a realidade.
Ler é importante porque leva a pessoa a ter contacto com várias ideias diferentes (dos autores),
adquirindo assim uma visão mais ampla do mundo e dos conflitos que envolvem a humanidade e
a sociedade.
Ler também é um exercício de imaginação e prazer, pois ao ler, diferente do que acontece
quando se assiste a um vídeo, as imagens se formam na sua mente, pela sua bagagem cultural e
pelo seu estado emocional.
O texto literário – mais propriamente, o texto poético foram e são por excelência os espaços e os
organismos da constituição, do desenvolvimento e da ilustração das línguas históricas. Neles
coexistem, em tensão criadora, a exemplaridade e a normatividade linguísticas e a inovação, a
inventividade e a fantasia verbais, muitas vezes bordejando mesmo a transgressividade e nessa
fronteira de aventura e risco abrindo novos horizontes de expressão e comunicação.
Não se pode ensinar a língua sem o estudo da poesia, não se pode ensinar a poesia sem o estudo
da língua. A gramática, a retórica e a poética, três artes fundamentais da cultura e da escola do
Ocidente, têm como um dos seus pilares mais sólidos a indissociabilidade da língua e da poesia.
TESE II
Em todos os segmentos do sistema educativo, desde o 1.º ciclo do ensino básico até ao ensino
secundário, o texto literário não deve ser considerado como uma área apendicular ou como uma
área perifericamente aristocrática da disciplina de Português, como uma espécie de quinta
senhorial escondida nos arredores da grande cidade da língua, mas como o núcleo da disciplina
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de Português, como a praça maior dessa cidade, como a manifestação por excelência da
memória, do funcionamento e da criatividade da língua portuguesa.
Quando se diz “núcleo” e “praça maior”, se está a afirmar obviamente a necessidade de estudar,
nos diversos segmentos do sistema educativo, outros tipos ou outras classes de textos, numa
polifonia, consonante e contrastiva, de vozes, de estratégias e de arquitecturas discursivas.
TESE III
Os textos literários lidos e estudados na disciplina de Português do ensino básico e do ensino
secundário devem ser escolhidos tendo em consideração os estádios de desenvolvimento
linguístico, psicológico, cognitivo, cultural e estético dos alunos, mas devem ser sempre textos
de grande qualidade literária
Defende-se, em particular, a ideia de que, ao longo dos três anos do ensino secundário, deviam
ser estudados o que denomino núcleos de textualidade canónica, em número não muito elevado
por cada ano. Denomino «núcleos de textualidade canónica» textos ou corpora de textos cuja
qualidade estético-literária, cuja relevância linguística e cultural e cuja capacidade de irradiação
criadora sejam inequivocamente reconhecidas no campo da literatura portuguesa, e que sejam
adequadamente representativos dos diversos períodos ou estilos epocais e dos diversos modos,
géneros e subgéneros literários.
TESE IV
Ao longo do ensino básico e do ensino secundário, a disciplina de Português, tendo o texto
literário como área nuclear, na perspectiva atrás delineada, deve desempenhar um papel central
na educação das crianças, dos jovens e dos adolescentes, com o adequado aproveitamento das
possíveis articulações dos textos literários com textos pictóricos, com textos musicais e com
textos fílmicos, por exemplo.
A formação e o desenvolvimento da sensibilidade e do gosto estéticos não são um luxo, um
privilégio ou um adorno supérfluos, aristocráticos ou burgueses, pois que constituem uma
dimensão primordial e constante, antropológica e socialmente, do homem.
Não se deve cair na tentação de ocultar aos jovens e adolescentes, em nome de uma pedagogia
catequeticamente optimista, os universos sombrios, trágicos, cruéis e perversos da literatura de
todos os tempos.
TESE V
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Uma língua e uma literatura e, por conseguinte, os textos, em geral, e os textos literários, em
particular, constituem-se e desenvolvem-se na temporalidade histórica de uma comunidade
social e de uma cultura, mas o reconhecimento da sua historicidade não impõeque o estudo do
texto literário, sobretudo no ensino básico, seja dominado pela história literária.
O texto literário, nas suas estruturas formais, retóricas, estilísticas, semânticas e pragmáticas,
deve ser o fulcro do processo de ensinoaprendizagem e será a partir da descrição, da análise, da
interpretação e da valorização dessas estruturas que se efectuarão as aconselháveis ou
indispensáveis correlações e articulações com a história da língua e da literatura, com os
períodos literários e com os contextos histórico-sociais.
Nos programas de Literatura Portuguesa do ensino secundário,os “núcleos de textualidade
canónica” devem ser equilibradamente representativos dos diversos estádios da história da
língua e da literatura.
A representação equilibrada deve assegurar a compreensão da mencionada dinâmica, mas deve
também, e principalmente, manter uma relação de proporcionalidade com o valor reconhecido e
atribuído aos autores e aos textos (a referência a cânone implica a referência a valor).
O modelo de programa de Literatura Portuguesa que proponho para o ensino secundário tem
fundamentalmente os seguintes objectivos: reduzir a extensão dos programas; diminuir a massa
de informação histórico-literária a transmitir e a decorar; formar leitores que leiam com gosto,
com emoção e com discernimento, na escola, fora da escola e para além da escola.
TESE VI
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TESE VII
A leitura e a interpretação dos textos literários devem ser para os alunos uma viagem guiada pelo
professor com segurança, mas com delicadeza e com discreção, de modo que o aluno seja
efectivamente um leitor com identidade própria, isto é, um leitor que lê com a sua memória, a
sua imaginação, a sua experiência vital, as suas expectativas e os seus conhecimentos
linguísticosliterários.
Na educação estético-literária, é indispensável alcançar o que alguns especialistas da ciência
cognitiva designam por «conhecimento quente» (hot cognition), ou seja, um conhecimento que
está profundamente ligado às emoções e aos afectos.
TESE VIII
Os textos literários, pelo modo como utilizam, reinventam e potenciam, sob todos os pontos de
vista, a língua portuguesa e pela sua ligação memorial ao destino e à aventura de uma terra, de
um povo e de uma cultura, constituem o thesaurus por excelência da identidade nacional. Desde
a poesia trovadoresca, porém, até à obra de Fernando Pessoa, de Vergílio Ferreira ou de Carlos
de Oliveira, os textos literários têm sido também o lugar de diálogo criativo com outros textos de
outros povos, de outras terras, de outras culturas.
TESE IX
Na análise e na interpretação dos textos literários, deve ser utilizada com parcimónia, com
clareza e com rigor, a terminologia das metalinguagens linguísticas e literárias. Sublinho com
parcimónia, porque a inflação de tais terminologias terá um efeito devastador na relação dos
alunos com os textos.
TESE X
Os textos literários no Ocidente são, desde há cerca de vinte e cinco séculos, predominantemente
textos escritos.
O texto literário escrito, se é um objecto percepcionado e apreendido visualmente, possui uma
corporeidade verbal em que o ritmo, a música, o rosto fónico das vogais, das consoantes, das
sílabas, das palavras e dos sintagmas desempenham uma função nuclear.
19
Unidade 10: O Papel do Texto literário, narrativo ou poético
Os textos poéticos orais e escritos foram e são por excelência os espaços e os organismos da
constituição, do desenvolvimento e da ilustração das línguas históricas. Os textos poéticos são os
mais perduráveis, mais vivos e mais fecundantes, de todas as culturas.
Não se pode ensinar a língua sem ensinar a poesia, não se pode ensinar poesia sem o estudo da
língua.
Os textos literários lidos e estudados na disciplina de português do ensino secundário devem ser
escolhidos tendo em consideração os estádios de desenvolvimento linguístico, psicológico,
cognitivo, cultural e estético dos alunos, mas devem ser sempre textos de grande qualidade
literária, isto é, no sentido mais lídimo da expressão, textos canónicos: textos modelares pela
utilização da língua portuguesa, pela beleza das formas, pela densidade semântica, pela
originalidade, pela riqueza e pela sedução dos mundos representados.
O texto literário, nas suas estruturas formais, retóricas, estilísticas, semânticas, semânticas e
pragmáticas, deve ser o fulcro do processo de ensino-aprendizagem e será a partir da descrição,
da
análise, da interpretação e da valorização dessas estruturas que se efectuarão as aconselháveis ou
indispensáveis correlações e articulações com a história da língua e da literatura, com os
períodos literários e com os textos histórico-sociais.
Unidade 11: Pedagogia do cânone literário escolar: adequação e Violência, reijeição e desejo
Hoje em dia e ao nível das práticas pedagógicas, a noção de cânone encontra a sua
materialização no chamado manual escolar, livro de textos, selecta ou antologia, isto é, numa
selecção de textos que socialmente são reconhecidos, por comunidades interpretativas, como
modelares e oportunos num processo formativo.
Nesta perspectiva, os manuais escolares veiculam sempre, implícita ou explicitamente,
determinadas concepções e representações acerca daquilo que é a língua e quais são ou devem
ser, na óptica das comunidades interpretativas que socialmente ratificam esse manual, as suas
práticas. Ora, a relação do cânone com a didáctica do texto é tanto mais relevante quanto o
manual escolar é, hoje em dia, um objecto pedagógico de que não é possível prescindir.
20
Se, como afirmávamos noutro lugar os textos inovadores e criativos constituem os catalisadores
dos sistemas semióticos culturais, incentivando uma renovação criativa dos mesmos, tal
concepção dificilmente se poderá aplicar a alguns exemplos apresentados pelos manuais.
Um outro aspecto que, infelizmente, também parece caracterizar os manuais escolares reside na
elevada presença de adaptações, as quais, todavia, raramente são assinaladas, contribuindo, com
frequência, para adulterações várias da leitura do texto, seja pela intromissão de elementos
estranhos ao original, seja pelo impedimento da possibilidade de uma leitura coerente e global do
texto.
Se a língua deve ser aprendida na sua omnifuncionalidade, o que supõe ser capaz de exercitá-la
não só na sua dimensão utilitária e comunicativa, como também noutros usos menos imediatos e
menos transitivos, importa que o professor possua o sentido crítico necessário para poder
seleccionar os textos adequados, e, uma vez essa tarefa realizada, reconheça as formas eficientes
de interrogar
o texto.
Efectivamente, sendo o mediador, por excelência, da relação aluno-texto, o professor tem
necessariamente que possuir um conhecimento profundo acerca daquilo que é a língua e as
formas de a transformar pedagogicamente em objecto explícito de ensino e de aprendizagem. Se
a língua deve ser aprendida na sua omnifuncionalidade, o que supõe ser capaz de exercitá-la não
só na sua dimensão utilitária e comunicativa, como também noutros usos menos imediatos e
menos transitivos, importa que o professor possua o sentido crítico necessário para poder
seleccionar os textos adequados, e, uma vez essa tarefa realizada, reconheça as formas eficientes
de interrogar o texto.
21
estéticoliterário, ideológico e histórico-cultural; Contribuir para a identificação crítica com as
manifestações e as realizações da cultura, regionais, nacionais e universais, facultando os
conhecimentos que possibilitem o diálogo intertextual com obras do passado e do presente;
proporcionar uma educação básica.
Estes enunciados autorizam algumas inferências: a de que, por um lado, o texto canónico não
tem por finalidade proporcionar o desenvolvimento profundo e tecnicamente sustentado da
competência da interpretação, nem o de problematizar o lugar do texto no continuum histórico,
mas tão-somente, integrá-lo básica e pacificamente nessa série. Por outro, a de que não só se
pretende, com o estudo da selecção canónica, o desenvolvimento de uma competência de leitura
aturada e distanciada, mas também a aquisição de saberes que possibilitem o reconhecimento da
duplicidade histórica e a -histórica do texto literário.
Unidade
Perguntas Respostas
Temática
22
literatura? literatura ser considerada como um sistema que
nos aparece correlacionada com outros sistemas
incluindo a língua.
5. A Didáctica é,
dentro das
disciplinas que
constituem os
Estudos Literários,
aquela que trata da
arte de ensinar a Faz-se entender aqui que existe uma aprendizagem
Literatura. Tem de quem trabalha com a arte, em face do que se
como objectivo entende por literatura que é aquilo que se ensina
uma técnica, um de facto quando pretendemos ensinar literatura.
saber fazer, mas
não dispensa a
especulação, não
se limita a um
receituário de
técnicas eficientes
de aprendizagem,
23
como se afirma
com ligeireza num
manual clássico
(Introdução à
Didáctica Geral,
de Imídeo G.
Nérici). Comente
24
tem como objectivo a praxis.
3. Fale sobre a
relação existente Relação existente entre a Didáctica de literatura e
entre a Didáctica outras ciências, como: pedagogia, Psicologia e
de literatura e Sociologia é de que entende-se a didáctica de uma
outras ciências, disciplina “como a integração de outras disciplinas
como: pedagogia, específicas - a sociologia, a psicologia e a
Psicologia e pedagogia.
Sociologia
1. Não é possível
“ensinar”
literatura sem um Devemos antes compreender que a gama múltipla
domínio cabal, de utilizações da linguagem (em que está incluído
aprofundado e o uso literário) constitui um continuum, no interior
Unidade 03: Didáctica de Literatura e Didáctica de Língua
25
A literatura é marcada pela presença necessária da
linguagem, sendo na poética clássica desde
Aristóteles, uma forma de representação pela
linguagem, oposta, por exemplo à representação
pela imagem que identifica a pintura, tal facto não
esgota todas as possibilidades: se é representação
1. Reflicta sobre o pela linguagem também deve ser entendido como
texto e, no mínimo trabalho de representação (do autor) e
de uma página e representação de uma representação (o texto que
meia (A4), representa uma linguagem particular). Um
escreva sobre a investigador formalista ocupar-se-á apenas com os
relação conhecer, registos finais da representação, isto é, com o texto
estudar, viver e em si sem olhar para dentro; um investigador
ensinar a socrático pré-ocupar-se-á com o trabalho textual
Unidade 04: Definição do estatuto de Didáctica de Literatura
2. Apresente uma Óbvio que a literatura não se fez para ser ensinada,
opinião mas de certeza que se pode ensinar sem com isso
fundamentada excluirmos a sua originalidade nem nos servirmos
sobre o tema deste facto de relação para a separarmos da
“literatura não se pedagogia
fez para ensinar.”
26
1. Fale da No texto literário, como em nenhum outro tipo de
linguística?
27
4. “Estudar (e
ensinar) a
literatura e a
língua é,
essencialmente ler
o livro, que é de Porque a condição fundamental para que o texto
facto o suporte literário desempenhe satisfatoriamente as suas
material do texto” funções no processo de ensino e aprendizagem da
a. Desenvolva língua reside na existência de antologias/manuais
algumas de boa qualidade.
estratégias
didácticas que
motivem os alunos
a ter gosto pela
leitura.
28
Análise – é uma questão de coerência etimológica,
como decomposição de um todo nos seus
elementos constitutivos. Sendo esse todo um texto
literário de variável extensão, a análise conceber-
se-á então como atitude descritiva que assume
individualmente cada uma das suas partes,
2. Distinga o conceito
tentando descortinar depois as relações que entre
de análise da
essas distintas partes se estabelecem. por sua vez,
interpretação de texto.
a interpretação entende-se, como a pesquisa,
fundamentada de modo mais ou menos explícito
num processo de análise, de um sentido a atribuir
ao texto literário, tal sentido visa principalmente a
posição de posterioridade de que, em relação à
produção do texto, beneficia o seu receptor.
29
1. Como pode ver, a A leitura é uma experiência individual e que pode
unidade sugere ser caracterizada como sendo a decodificação de
que você e os seus signos linguísticos, por meio dos quais o leitor
colegas encontrem decifra sinais, e também como sendo um processo
Unidade 08: A importância da leitura para a produção de textos
30
2. Ler é:
As questões nos levam a tentar compreender a
(i) Compreender;
questão da leitura, vai dizer que ela é uma
(ii) Conhecer outras experiência individual e que pode ser
pessoas; caracterizada como sendo a decodificação de
signos linguísticos, por meio dos quais o leitor
(iii) Dialogar com os
decifra sinais, e também como sendo um processo
autores;
de compreensão mais abrangente, em que o leitor
(iv) Divertir. dá sentido a esses sinais.
a) Fundamente cada
item apresentado.
31
3. Refira-se, na sua Concordo com os objectivos como: Reduzir a
opinião, aos extensão dos programas; diminuir a massa de
objectivos da aula de informação histórico-literária a transmitir e a
literatura no ensino decorar; formar leitores que leiam com gosto, com
secundário. emoção e com discernimento, na escola, fora da
escola e para além da escola.
32
Hoje em dia e ao nível das práticas pedagógicas, a
33
2. Num texto corrido, A análise cruzada é uma técnica de análise de
faça uma análise dados que consiste em comparar informações de
cruzada dos textos diferentes fontes para identificar padrões e
abaixo indicados e, tendências. Essa técnica pode ser aplicada em
tendo em conta aos diversas áreas, como marketing, finanças e
aspectos temático- pesquisa académica. Na literatura, a análise
ideológicos; cruzada pode ser utilizada para comparar
estéticos/estilísticos. diferentes obras e autores, identificando
Não se esqueça de semelhanças e diferenças temáticas e estilísticas.
falar da sua estrutura A estrutura formal da análise cruzada pode variar
formal. dependendo do objectivo e do contexto em que é
realizada.
34
Unidade 13: O Conto: Estretégias de interpretação
O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho), ainda
que contenha os mesmos componentes do romance. Entre suas principais características, estão a
concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total – da qual falava Poe
(1809-1849) e Tchekhov (1860-1904): o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita
excitação e emotividade.
Logicamente a primeira fase é a oral, a qual não é possível precisar o seu início: o conto se
origina num tempo em que nem sequer existia a escrita; as histórias eram narradas oralmente ao
redor das fogueiras das habitações dos povos primitivos – geralmente à noite. A primeira fase
escrita é provavelmente aquela em que os egípcios registraram O livro do mágico (cerca de 4000
a.C.). Daí vamos passando pela Bíblia – veja-se como a história de Caim e Abel (2000 a.C.) tem
a precisa estrutura de um conto.
35
A referência a um nível sub-textual inspirador de um certo tipo de abordagem crítica do texto
literário obriga, antes de mais, a tentar estabelecer os termos em que uma concepção se define.
Deste
modo, entendemos como sub-textual o nível em que é possível detectar certos impulsos e
factores, de carácter individual ou colectivo, que, encontrando-se subjacentes e latentes em
relação ao nível textual, estão ao mesmo tempo disponíveis para serem actualizados pela
concretização do texto literário.
(iii) Nível textual
A fixação da leitura crítica no nível textual relaciona-se de alguma maneira com as conquistas
teóricas recentemente alcançadas no domínio da teoria do texto. Referimo-nos em particular a
noção teorizada e divulgada por Jean Bellemin- Noel: a noção de ante-texto. Este autor encara o
ante-texto como possibilidae de desortinar a gestação de sentidos patenteados pelo texto literário.
o conceito de ante-texto permite superar determinadas carências metológiacs.
36
A construção da aprendizagem é entendida, no cenário didáctico-pedagógico, como
desenvolvimento da autonomia intelectual do aluno, respeitando-se uma articulação entre saber e
saber fazer.
37
Na identificação de valores ideológicos e simbólicos configurados pela obra literária (romance,
novela, drama, etc.), o aluno realiza macroprocessos de compreensão ao seleccionar elementos
implicados, que surgem integrados num todo em que convergem aspectos temáticos, categorias
genológicas e procedimentos técnic-literários. A aprendizagem acerca de como são se organizam
discursivamente os diversos textos que são objecto de estudo, na escola, deve processar-se de
forma progressiva e recorrente, de modo a permitir que os saberes sejam conscientemente
reinvestidos em novas situaçòes de recepção e produção textual. Estratégia de ensino entende-se
um conjunto de acções do professor orientadas para alcançar determinados objectivos de
aprendizagem que se tem em vista.
No caso de literatura, estratégias entendemos um conjunto de processos de ensino. O
estabelecimento das estratégias envolve opções diversas: quanto aos procedimentos
metodológicos de abordagem dos textos, de acordo com a sua natureza modal e genológica;
quanto á selecção de obras de referência teórica, com vista à informaçào que se deve transmitir
aos alunos; quanto à selecção de textos literários em função dos objectivos de aprendizagem, e
dos conteúdos program’aticos.
38
Em contrapartida, textos ricos, variados, carregados de sentido são impróprios para colocar em
evidência as relações que ligam as letras e os grupos de letras escritas aos sons orais. Uma
orientação eficiente para a prática de produção de textos, na escola, deve envolver procedimentos
fundamentais distribuídos em dois grandes momentos: o que antecede e o que coincide com o
acto de escrever, propriamente dito.
Os alunos devem estar convictos de que escrever é expressar ideias, conceitos, informações,
sentimentos, sensações de maneira clara, coesa e coerente com aquilo que se deseja e cabe ao
professor ensinar-lhes a seleccionar e manipular tanto palavras e frases como ideias, conceitos e
informações para que possam obter o resultado desejado em sua produção textual.
39
que podem enriquecer a vida daqueles que a lêem. Não deve estar presa a modismos pedagógicos
e sim ser considerada como uma actividade prazerosa de conhecimento do ser humano e das
diversas funções da linguagem, dentre elas a função poética, pois retrata e recria as questões
humanas universais, numa linguagem esteticamente trabalhada, transgressora da rotina
quotidiana.
Segundo Silva (1990: 43), “os protocolos de leitura estão estremecidos, como estão estremecidos
os cânones autoritários de interpretação. Nada – é isso que resulta de respostas fechadas aos
textos literários.”
Unidade 20: Materiais de Ensino de Literatura no ensino secundário geral (1.º e 2.º Ciclos)
Ao elaborar o material de leitura, uma das primeiras preocupações do professor deve ser quanto
aos critérios de selecção de textos que podem estar agrupados por temas, tipologias, nível
linguístico, interesses dos alunos, entre outros.
Um dos princípios básicos que o professor deve atentar ao elaborar o seu material em leitura
interactiva é respeitar os conhecimentos prévios ou de mundo que o aluno possui. Os textos
seleccionados para trabalhar em sala de aula não podem ser culturalmente distantes do aluno. A
dificuldade em compreender o texto pode ser maior se o aluno não possui o conhecimento prévio
sobre o assunto a ser tratado. O texto não deve somente possuir significado no universo de
conhecimento do aluno, mas também deve pertencer ao seu universo de interesse. Deve tratar de
assuntos que motive o seu engajamento no acto de aprender. Em um primeiro momento, o
professor deve ater-se a textos que o aluno seja capaz de relacionar a um conhecimento de
mundo anterior e, de maneira gradativa, inserir textos diferentes que ampliem o conhecimento de
mundo do aluno. Assim, a falta do conhecimento de mundo não será um elemento
desestimulante para a leitura do texto.
Outro princípio é o que se refere à tipologia dos textos seleccionados. O professor deve escolher
textos, os mais variados possíveis, de diferentes tipologias para que o aluno se familiarize com as
diferentes marcas discursivas inerentes a cada discurso: o espaço que ocupa em uma página, se
possui autoria individual ou colectiva, se está em colunas, porque o autor destaca determinadas
palavras em detrimento de outras.
Ao seleccionar um texto, o professor precisa verificar se o texto seleccionado realmente
promoverá a prática da habilidade visada, pois o aluno não pode ser forçado a executar uma
40
tarefa de leitura não-realista porque o professor decidiu trabalhar determinada estratégia naquele
ponto do planeamento e não conseguiu encontrar um texto melhor.
As ferramentas de avaliação também devem ser contempladas no planificação do professor de
leitura instrumental. A avaliação é o instrumento fundamental para o professor saber se atingiu
ou não os objectivos propostos no planificação e assim, verificar se deve avançar ou retroceder
no programa. Para o aluno, a avaliação é o instrumento para saber se alcançou ou não os
objectivos propostos.
A língua, como poesia, é energia, é mobilidade, viagem e horizonte. Numa como na outra,
porém, são indispensáveis mecanismos de regulação – como em toda a cultura – e o texto
poético é sempre um texto altamente codificação. Ele é também, todavia, um texto capaz de
jogar ironicamente com a sua própria codificação, transgressivo em relação aos mecanismos
reguladores da semiose. No texto literário, como em nenhum outro tipo de texto,
entrecruzam-se múltiplos discursos e dialogam múltiplos textos. O professor e o aluno, ao
descreverem e analisarem os fenómenos interdiscursivos, intertextuais do texto literário estão a
descobrir mecanismos e manifestações fundamentais da semiose textual.
41
A condição fundamental para que o texto literário desempenhe satisfatoriamente as suas funções
no processo de ensino e aprendizagem da língua reside na existência de antologias/manuais de
boa qualidade. Pelos autores que acolhe e que exclui, pelos estilos de época que privilegia, pelos
géneros e subgéneros discursivos que acolhe, pelo modo como delimita um “texto” no texto
originário, pela distribuição topológica dos seus textos, pelos títulos que impõe, pelas linhas de
leitura que propõe.
42
Wilderness, defende que não há diferença entre ambos, servindo-se para isso do exemplo do Glas
de Derrida.
Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado em primeira pessoa, trata-
se do “eu” lírico, que se refere à subjectividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos.
Notamos também a presença de vários predicativos do sujeito, referindo-se à subjectividade do
“eu” lírico.
No poema, como um todo, percebemos logo de início algumas das principais características da
poesia de Cecília Meireles, tais como leveza e a delicadeza com que tematiza a passagem do
tempo, a transitoriedade da vida e a fugacidade dos objectos, que parecem intocáveis em seus
poemas, com uma linguagem altamente feminina, intuitiva e sensorial, decorrendo assim, um
certo tom melancólico dos mesmos.
Alfredo Bosi, em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira, define: “Com Cecília
Meireles a vertente intimista, (...), afina-se ao extremo e toca os limites da música abstracta”.
(AB, p. 515)
É importante ressaltar que, por ter estudado música, seus poemas tematizam a musicalidade
como uma importante característica.
No último terceto do soneto, primeiro verso, há aliteração da oclusiva /k/, o que sugere o ritmo
da batida do coração, quando eterniza a música, a canção, enquanto a assonância da vogal /a/
sugere um sentimento de alegria do “eu” lírico.
Na primeira estrofe, o “eu” lírico dá importância ao tempo presente, à criação do seu poema.
Afirma que o poeta declara os sentimentos para as pessoas, mas o poeta é imparcial.
No terceiro verso desta estrofe há uma antítese entre “alegre” X “triste”. Entretanto, ao colocar
as palavras “não” e “nem”, o “eu” lírico dá um tom de indiferença, mas a melancolia persiste
com o uso das consoantes semi-abertas /o/, /e/ e as vogais fechadas /u/ e /i/.
O “eu” lírico se contenta em ser apenas poeta, como afirma no quarto verso deste quarteto,
apesar de a sua existência ser triste.
43
Outra ocorrência importante e recorrente na obra de Cecília é o uso dos verbos “existir” e “ser”,
que sugerindo o tom existencialista de Cecília Meireles.
Na segunda estrofe, chama a atenção ao valor que se dá às coisas passageiras, para que não nos
prendamos a elas, pois passam como o vento. Deve -se agir como o poeta, que é livre, como o
vento.
Logo, não sente “gozo” nem “tormento”.
Em seu primeiro verso há assonância dos fonemas /a/, /i/, /o/ e a presença do fonema /s/,
ocorrendo uma aliteração, que lembra a passagem do tempo, de forma rápida, com um vento,
como diz o “eu” lírico.
Na terceira estrofe, percebemos um conflito interior, uma dúvida do “eu” lírico, que não sabe
qual decisão tomar: a de parar ou a de continuar. A dúvida com relação a sua existência
permanece na
repetição da expressão “Não sei”. Ocorre uma antítese entre as formas verbais “fico” (terceiro
verso) e “passo” (quarto verso), pois a transitoriedade da vida mais uma vez é questionada. As
formas “fico” (terceiro verso) e “edifico” (primeiro verso) estão rimando e nós podemos pensar
que, enquanto vivemos, edificamos algo na terra, de ordem espiritual ou material, mas quando
“passamos”, tudo se desfaz, como observamos na rima que acontece no segundo e no quarto
versos.
Na quarta estrofe, o “eu” lírico reafirma a importância dada ao presente, ao tempo do “agora”,
iniciado na primeira estrofe, pois o poeta continua a cantar e diz que a canção é tudo, assim como
o
poema, porque são eternizados com o passar do tempo, assim como o voo ritmado das asas dos
pássaros, enquanto que ele e nós somos finitos - um dia, ficaremos mudos e não seremos mais
nada.
A música, que muitos consideram desnecessária, será e é eterna, como o espírito. Percebemos,
então, que o poema é uma metáfora que representa a fugacidade da vida e como as pessoas a
deixam passar, sem dar o real valor ao que realmente importa, também notamos a existência de
um eufemismo nos terceiro e quarto versos da última estrofe, pois se evita a palavra morte,
substituindo-a por uma expressão menos desagradável.
Notamos também no interior de alguns versos, uma pausa interna, denominada cesura, na qual o
“eu” lírico faz uma reflexão sobre o que vai tratar poeticamente.
44
No segundo verso da quarta estrofe, aparece o hipérbato, que resulta da inversão na ordem
natural das palavras relacionadas entre si, realçando a eternidade do espírito.
Nas últimas estrofes podemos dizer que ocorre a gradação, ou seja, o encadeamento gradual dos
termos relativos a uma ideia, que intensifica a dúvida do “eu” lírico sobre uma decisão a ser
tomada. No poema de Cecília Meireles notamos a presença de uma certa feição do clássico no
Modernismo, principalmente no que se refere às rimas, no caso do poema todo composto de
rimas alternadas.
Na primeira estrofe, há a rima do primeiro e terceiro versos e do segundo e do quarto versos. Na
segunda estrofe ocorre o mesmo esquema: primeiro e terceiro versos e segundo e quarto versos.
Na terceira estrofe: primeiro e terceiro versos. Na quarta estrofe: primeiro e terceiro versos e do
segundo e quarto versos.
Observamos, também, a existência da rima rica, ou seja, rimas entre palavras de classes
gramaticais diferentes, na primeira estrofe, o primeiro e terceiro versos e segundo e quarto
versos.
Também, na segunda estrofe, o primeiro e terceiro versos. No restante do poema, constata-se a
presença da rima pobre, isto é, rimas com palavras de classes gramaticais semelhantes. A
herança simbolista da poetisa é reconhecida por essas métricas.
O uso dessas figuras denominadas cavalgamento, sinalefa, hiato e crase contribuem para a
prorrogação da reflexão na primeira figura citada e a efemeridade da vida, nas duas posteriores.
Ocorre a sinérese, fusão, numa só, de duas vogais próximas pertencentes a sílabas distintas na
primeira estrofe do quarto verso, ou seja, a passagem de um hiato a ditongo e também na quarta
estrofe, no terceiro verso.
O poema Motivo é riquíssimo de significações e através da detecção dos fatos estilísticos vemos
como a poetisa os utiliza com tanta propriedade, criando o seu estilo, que o torna único.
O título Motivo pode significar uma esperança que o “eu” lírico sente para poder continuar
vivendo, apesar de conscientemente saber que ela, a vida, é uma passagem para um outro plano
desconhecido.
45
Resolução de exercícios
1. Distinga o conto
conta duas histórias como se fossem uma só. A
moderno do conto
O
46
Noémia de Sousa e José Craveirinha são dois
importantes intelectuais da literatura nacionalista
em Moçambique. Eles representam uma poética
que contestava o imperialismo português e
buscavam restaurar o espírito moçambicano. A
produção literária de ambos os autores é marcada
1. Procure um ou dois
por circunstâncias históricas e políticas que
textos de autores
influenciaram suas obras.
moçambicanos, como
Noémia de Sousa, Noémia de Sousa, por exemplo, foi uma das
José Craveirinha e, primeiras mulheres negras a publicar poesia em
analise-os sob ponto Moçambique. Ela escreveu sobre a luta contra o
de vista das colonialismo português e a opressão racial. Sua
circunstâncias e poesia é caracterizada por um forte senso de
motivações que identidade cultural e nacionalismo.
explicam a sua
José Craveirinha, por sua vez, foi um poeta e
produção.
jornalista moçambicano que também lutou contra
Unidade 14: Níveis de Análise de Textos Literários
47
A problemática dos géneros literários é um
1. Proceda uma leitura assunto já abordado na cadeira de Introdução aos
minuciosa sobre esta Estudos Literários. Estamos agora a recapitula-lo,
matéria e faça uma já que o mesmo se reveste de importância extrema
ficha de leitura. na compreensão da problemática da interpretação
e análise textual.
3. Refira-se às
estratégias didáctico- A interactividade pedagógica diz respeito ao papel
pedagógicas de activo do aluno nas diversas actividades de ensino-
leitura, tendo em aprendizagem: na planificação dos projectos da
conta o que acaba de leitura, nas aulas, nas estratégias de avaliação, etc.
aprender nesta lição.
48
Reflicta sobre o texto Em síntese, conhecer, estudar, ensinar e viver a
49
1. “No âmbito da
interpretação literária,
encerram alguma
complexidade as
actividades de leitura
que exigem operações
Considerando a produção de textos na escola,
de relacionamento do
pode-se dizer que cabe aos educadores, portanto,
tipo globalizante
propiciar condições para o aluno exercitar-se na
( aproximações
arte de pensar, captar e criar suas próprias ideias,
analógicas ou
através de actividades que exijam reflexão e
importância da leitura para Unidade 17: Estratégias Didáctico-Pedagógicas da Leitura
contrastivas)”. a)
produção de um novo texto; e para alcançar esse
Refira-se à
objectivo, deve-se utilizar a criatividade, sempre
complexidade que se
considerando e usando “A PALAVRA” como
desenha no âmbito da
veículo de expressão do pensamento, desenhando
interpretação de um
através da “ARTE DA PALAVRA ESCRITA” um
texto literário, tendo
texto original, diferente, como se fosse uma
em conta os três
verdadeira obra de arte.
níveis aprendidos nas
unidades anteriores.
b) Proponha
estratégias eficazes
para o ensino do texto
literário.
aprisionou.
50
Na escola, uma grande dificuldade enfrentada
pelos alunos com relação ao escrever refere-se à
necessidade que eles têm de deixar a linguagem
coloquial, “aquela do dia-a-dia”, e passar a se
2. Discuta sobre a
expressar por escrito, numa linguagem mais
relevância do manual
formal e mais cuidadosa. A fala por ser mais
de ensino de
espontânea, menos cerimoniosa e com certeza
literatura/português.
mais fácil que escrever, e pelo facto de a escrita ter
normas próprias (ortografia, acentuação, etc.), a
falta de um interlocutor à sua frente exige deles
que obedeçam a essas normas.
51
Professores podem e devem planificar um
Ensino
sucinta, fale da atitude social, no interior da unidade escolar, mais
professor de literatura
A
52
2. Refira-se à Um dos princípios básicos que o professor deve
elaboração e atentar ao elaborar o seu material em leitura
organização do interactiva é respeitar os conhecimentos prévios
material para uma ou de mundo que o aluno possui. Os textos
e 2.º Ciclos)
53
1. Fale da O texto literário solicita a atenção do leitor/leitor
importância dos para os níveis fonológico, sintáctico, lexical,
textos literários no semântico e pragmático da linguagem, para os
Unidade 22: A prática Pedagógica do Ensino de um Texto Literário: Reflexões sobre os aspectos intra e extratextuais.
4. 8. “Estudar (e
ensinar) a
literatura e a
língua é,
essencialmente ler Porque a condição fundamental para que o texto
o livro, que é de literário desempenhe satisfatoriamente as suas
facto o suporte funções no processo de ensino e aprendizagem da
material do texto” língua reside na existência de antologias/manuais
54
Ler atentamente o texto a comentar, pelo menos
Unidade 23: Estratégias de
Análise e Comentário de Textos
duas vezes. Desde logo, devemos assinalar todos
1. Proponha o melhor os elementos do texto que nos ofereçam
método para comentar dificuldades de compreensão (vocábulos,
um texto. referências concretas, conceitos complexos
desconhecidos ou empregues em situações
Literários
inesperadas).
social e a verbal.
55
A análise cruzada é uma técnica de análise de
dados que consiste em comparar informações de
diferentes fontes para identificar padrões e
tendências. Essa técnica pode ser aplicada em
4. Num texto corrido,
diversas áreas, como marketing, finanças e
faça uma análise
pesquisa académica. Na literatura, a análise
cruzada de dois textos
cruzada pode ser utilizada para comparar
de autores
diferentes obras e autores, identificando
moçambicanos.
semelhanças e diferenças temáticas e estilísticas.
A estrutura formal da análise cruzada pode variar
dependendo do objectivo e do contexto em que é
realizada.
56
Conclusão
De forma conclusiva, tomamos como princípio de que a concepção de literatura de alguns
pensadores nos vem de modo duplo, eles se referem à literatura como um documento de seu
tempo de modo lúdico e crítico, mas mostra-se sempre original não esgotando as possibilidades
de criar, pois o imaginário empurra o artista à geração de formas e expressões inusitadas.
Doravante, a literatura provoca no leitor um efeito também dúplice, acciona sua fantasia
colocando frente a frente dois imaginários e dois tipos de vivência interior, mas suscita um
posicionamento intelectual, uma vez que o mundo representado no texto mesmo afastado no
tempo ou diferenciado enquanto invenção produz uma modalidade de reconhecimento em quem
lê.
57
Referências bibliográficas
58