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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Actividade 1: Análise Descritiva Sintética das Doze (12) Primeiras Unidades

Nome da Estudante: Carlos Puzumado Meia: 708190435

Licenciatura em Ensino de Português

Turma Única

Linguistica descritiva do Portugues III

4º Ano

Tete, aos 21 de Abril de 2022


Folha de fadback

Classificação

Categorias Indicadores Padrões Nota do


Pontuação
tutor Subtotal
máxima

Capa 0.5
Índice 0.5

Aspectos Introdução 0.5


Estrutura
organizacionais Discussão 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização
(Indicação clara do problema) 1.0

Introdução
Descrição dos objectivos 1.0

Metodologia adequada ao
2.0
objecto do trabalho
Articulação e domínio do
Conteúdo discurso académico
2.0
(Expressão escrita cuidada,
coerência / coesão textual)
Análise e
Revisão bibliográfica nacional
Discussão
e internacionais relevantes na
2.
área de estudo

Exploração dos dados 2.0


Contributos teóricos práticos
Conclusão 2.0

Paginação, tipo e tamanho de


Aspectos
Formatação letra, paragrafo, espaçamento 1.0
gerais
entre linhas
Normas APA 6ª
Rigor e coerência das
Referências edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
Bibliografia
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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ÍNDICE

1. Introdução............................................................................................................................ 3
1.1. Objectivos .................................................................................................................... 4
1.1.1. Objectivo Geral..................................................................................................... 4
1.1.2. Objectivos específicos .......................................................................................... 4
1.2. Metodologias de pesquisa ............................................................................................ 4
2. Análise Descritiva Sintética das Doze (12) Primeiras Unidades ........................................ 5
2.1. Coesão textual .............................................................................................................. 5
2.1.1. Elementos que garantem a coesão textual ............................................................ 6
2.2. Conectividade Conceptual (Coerência) ....................................................................... 8
2.3. Organização temática e informacional......................................................................... 9
2.4. Intuições sobre a estrutura das combinações de palavras .......................................... 11
2.5. Tipos de constituintes: categorias sintácticas ............................................................ 12
2.6. Relações gramaticais e processos de concordância ................................................... 13
2.7. Relações semânticas entre proposições e propriedades semânticas .......................... 14
2.8. Referência e sentido ................................................................................................... 14
2.9. Quantificação nominal ............................................................................................... 14
2.10. Expressões nominais definidas e indefinidas ............................................................. 17
2.11. Frases com tópicos marcados..................................................................................... 17
2.12. A sintaxe das construções dos tópicos marcados ....................................................... 18
2.12.1. A topicalização conectada .................................................................................. 18
2.12.2. O deslocamento à direita da topicalização conectada ........................................ 19
2.12.3. A topicalização pendente .................................................................................... 19
2.12.4. O deslocamento à esquerda tópico pendente ...................................................... 20
2.12.5. A topicalização de projecções verbais ................................................................ 20
3. Conclusão .......................................................................................................................... 21
Bibliografia ............................................................................................................................... 22
1. Introdução

De forma geral, define-se como linguística descritiva, o estudo do mecanismo pelo qual uma
dada língua funciona, como meio de comunicação entre seus falantes. A linguística
descritiva/gramática descritiva é nada mais do que a descrição da estrutura e o funcionamento
da língua, desde sua forma e função até estabelecer suas regras de uso, ou seja, o que é
gramatical e o que não é gramatical. Entretanto, os conteúdos da Linguística Descritiva do
Português III se centram nos domínios da Semântica, Lexicologia e História da Língua,
portanto, é uma consolidação e complementação da matéria estudada na Linguística descritiva
do Português I e II, visando dotar o estudante de ferramenta básica de Semântica, Lexicologia
e História da Língua à luz dos estágios em que a mesma vai passando, razão pela qual, surge o
presente trabalho, intitulado por Análise Descritiva Sintética do Conteúdo das Primeiras Doze
(12) Unidades do Módulo desta Cadeira. Portanto, o presente trabalho visa a descrever
sinteticamente sobre: Coesão textual, Conectividade Conceptual (Coerência), Organização
temática e informacional, Intuições sobre a estrutura das combinações de palavras, Tipos de
constituintes: categorias sintácticas, Relações gramaticais e processos de concordância,
Relações semânticas entre proposições e propriedades semânticas, Referência e sentido,
Quantificação nominal, Expressões nominais definidas e indefinidas, Frases com tópicos
marcados, A sintaxe das construções dos tópicos marcados.
O trabalho está assim estruturado:
 Elementos pré-sexuais
 Uma introdução breve que consta todos aspectos desenvolvidos;
 Objectivos: Gerais e específicos;
 Um desenvolvimento do tema;
 Conclusão
 Referencias Bibliográficas

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1.1.Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral


 Fazer análise descritiva sintética do conteúdo das primeiras doze (12) unidades do módulo
desta cadeira.

1.1.2. Objectivos específicos


 Definir Coesão textual, Conectividade Conceptual (Coerência);
 Distinguir a Organização temática da informacional e Referência do sentido
 Descrever as intuições sobre a estrutura das combinações de palavras;
 Identificar os tipos de constituintes nas categorias sintácticas;
 Identificar Relações gramaticais e processos de concordância e Relações semânticas entre
proposições e propriedades semânticas;
 Entender quantificação nominal e expressões nominais definidas e indefinidas,
 Descrever as frases com tópicos marcados,
 Caracterizar a sintaxe das construções dos tópicos marcados.

1.2.Metodologias de pesquisa
Tendo em com os objetivos preconizados, para a elaboração do presente trabalho usou-se o
método bibliográfico, consultando nos livros, revistas e artigos publicados na internet. Também
usou-se computador para digitar, e alguns recursos palpáveis.

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2. Análise Descritiva Sintética das Doze (12) Primeiras Unidades

2.1.Coesão textual
Segundo Koch e TRAVAGLIA (1989:13), a coesão é explicitamente apresentada
através de elementos linguísticos, indicações na estrutura superficial do texto, sendo de carácter
claro e directo, expressando-se na organização sucessiva do texto.
HALLIDAY E HASAN (1976 apud KOCH & TRAVAGLIA, 1989:13) afirmam que a
coesão é a relação semântica entre os elementos do texto que são decisivos para sua
interpretação; e ainda que a coesão é a relação entre os componentes superficiais do texto e a
maneira pela qual eles se interligam e se combinam para resultar num desenvolvimento
desejado. Essa visão semântica da coesão diz respeito às relações de dependência que
transformam enunciados interligados em um texto. Coesão é a relação de significado entre dois
componentes do texto, sendo um dependente do outro.
Para MARCUSCHI (1983) a coesão diz respeito à estruturação sucessiva da superfície
do texto e a sua conformidade linear sob o aspecto linguístico. TANNEN (1984) se refere à
coesão como o conjunto de conectores do texto que apresenta relações entre os componentes
do mesmo. CHAROLLES (1987) define coesão como as correspondências de associação entre
as partes de enunciados do texto “que podem ser resolvidos em termos de igualdade ou
diferença: pronomes, descrições definidas e demonstrativos, possessivos, etc.” “Todos os
estudiosos do texto estão de acordo quanto ao fato de que coesão e coerência estão intimamente
relacionadas no processo de produção e compreensão do texto” (KOCH & TRAVAGLIA
1989:23). Para TANNEN (1984) a coesão favorece o estabelecimento da coerência, porém não
obriga sua aquisição.
Em suma, o autor deste trabalho entende por coesão textual, os mecanismos linguísticos
que permitem uma conexão lógico-semântica entre as partes de um texto. A ligação e harmonia
que possibilitam a amarração de ideias dentro de um texto é feita com o uso de conjunções,
preposições, advérbios ou locuções adverbiais.
Coesão textual é um factor importante do texto que se refere à conexão de palavras,
expressões ou frases dentro de uma sequência. O texto coeso se constrói com elementos de
ligação que podem ser conjunções, pronomes, verbos, advérbios, conectores coesivos (termos
e expressões); e sem sequenciadores, sendo o lugar do conector marcado por sinais de
pontuação (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula).
A coesão textual assegura a ligação entre palavras e frases, interligando as diferentes
partes de um texto. Ela pode ser percebida ao se verificar que as frases e os parágrafos estão
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entrelaçados no texto, de modo que um elemento dá sequência ao outro, determinando a
transição das ideias presentes no texto.
Portanto, A coesão é essencial para garantir que o texto seja harmonioso, que transmita
a mensagem com clareza e que faça sentido para o leitor. Para isso é necessário empregar
elementos de coesão, utilizando conjunções, pronomes, advérbios, entre outras expressões que
têm como objectivo estabelecer a interligação entre os segmentos do texto.

2.1.1. Elementos que garantem a coesão textual


Para garantir a coesão, o texto deve conter alguns elementos fundamentais. Esses
elementos coesivos permitem que sejam feitas as articulações e ligações entre as diferentes
partes do texto, bem como a sequência de ideias do mesmo.
Os conectores são os elementos coesivos que fazem a coesão entre as frases. Eles
instituem as relações de dependência e conexão entre os termos. Esses elementos são formados
por conjunções, preposições e advérbios conectivos.
A correlação dos verbos trata da correcta utilização dos tempos verbais a fim de garantir
a coesão temporal ordenando os acontecimentos de maneira lógica e linear, o que possibilita
uma compreensão da sequência dos factos.
Segundo HALLIDAY & HASAN (1976), há diferentes mecanismos de coesão:
 Referência: elementos que não podem ser interpretados por si próprios, mas têm que ser
relacionados a outros elementos no discurso para serem compreendidos. Portanto, há dois
tipos de referência: a situacional (exofórica) feita a algum elemento da situação, por ex.:
Você não se arrependerá de ler este anúncio. E a textual (endofórica), ex.: Paulo e José são
advogados. Eles se formaram na UCM.
 Substituição: colocação de um item no lugar de outro no texto, seja este outro uma palavra,
seja uma oração inteira. Ex: O professor acha que os alunos estão preparados, mas eu não
penso assim. Para HALLIDAY & HASAN (1976), a distinção entre referência e
substituição, está em que, na ocorrência desta, há uma readaptação sintática a novos sujeitos
ou novas especificações. Ex: Pedro comprou uma camisa vermelha, mas eu preferi uma
verde. (há alteração de uma camisa vermelha para uma camisa verde.)
 Elipse: substituição por φ: omissão de um item, de uma palavra, um sintagma, ou uma frase:
– Você vai à Faculdade hoje? – φ Não φφφ.
Conjunção: permite estabelecer relações significativas entre elementos e palavras do texto.
Realiza-se através de conectores como e, mas, depois etc. Há elementos meramente
continuativos: agora (abre um novo estágio na comunicação, um novo ponto de argumentação,
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ou atitude tomada ou considerada pelo falante); bem (significa "eu sei de que trata a questão e
vou dar uma resposta ")
 Coesão lexical: obtida através de dois mecanismos: repetição de um mesmo item lexical,
ou sinônimos, pronomes, hipônimos, ou heterônimos. Ex: O Presidente foi ao cinema ver
Tropa de elite. Ele levou a esposa.
 Colocação: uso de termos pertencentes a um mesmo campo semântico. Ex: Houve um
grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos para o
hospital mais próximo. KOCH (1991, pa.30), tomando por base os mecanismos coesivos na
construção do texto, estabelece a existência de duas modalidades de coesão:
 Coesão referencial: existe coesão entre dois elementos de um texto, quando um deles para
ser interpretado semanticamente, exige a consideração do outro, que pode aparecer depois
ou antes do primeiro (catáfora e anáfora, respectivamente) - Ele era tão bom, o meu marido!
A forma retomada pelo elemento coesivo chama-se referente. O elemento, cuja
interpretação necessita do referente, chama-se forma remissiva. O referente tanto pode ser um
nome, um sintagma, um fragmento de oração, uma oração, ou todo um enunciado. Ex: A mulher
criticava duramente todas as suas decisões. Isso o aborrecia profundamente. (oração) Perto da
estação havia uma pequena estalagem. Lá reuniam-se os trabalhadores da ferrovia. (sintagma
nominal) No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros
passavam buzinando. Tudo isso tirava-me a concentração. (Enunciado). Elementos de várias
categorias diferentes podem servir de formas remissivas:
 - pronomes possessivos - Joana vendeu a casa. Depois que seus pais morreram, ela não
quis ficar lá.
 -pronomes relativos - é esta a árvore à cuja sombra sentam-se os viajantes.
 - advérbios – Antônio acha que a desonestidade não compensa, mas nem todos pensam
assim.
 - nomes ou grupos nominais - imagina-se que existam outros planetas habitados. Essa
hipótese se confirma pelo grande número de OVNIs avistados.
 Coesão sequencial: conjunto de procedimentos linguísticos que relacionam o que foi dito
ao que vai ser dito, estabelecendo relações semânticas e/ou pragmáticas à medida que faz o
texto progredir. Os elementos que marcam a coesão sequencial são chamados relatores e
podem estabelecer uma série de relações:
 Implicação entre um antecedente e um consequente: se etc.
 Restrição, oposição, contraste: ainda que, mas, no entanto etc

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 Soma de argumentos a favor de uma conclusão: e, bem como, também etc.
 Justificativa, explicação do ato de fala: pois etc. e) introdução de exemplificação ou
especificação: seja...seja, como etc.
 Alternativa (disjunção): ou etc.
 Extensão, amplificação: aliás, também etc.
 Correção: isto é, ou melhor etc. E mais as relações estabelecidas por outras conjunções
coordenadas e subordinadas.
A coesão temporal por exemplo, assenta nos processos de sequencialização temporal que
contribuem para a ordenação temporal e relativa das situações descritas nos enunciados. Os
tempos verbais e os advérbios de tempo asseguram, por excelência, este tipo de coesão. Ex.:
«Estudei muito durante o dia de ontem e hoje o teste vai correr bem.»
Coesão interfrásica assenta em processos gramaticais que estabelecer relações entre
segmentos frásicos. Os conectores são as unidades que tipicamente asseguram este tipo de
coesão: «Primeiro, abriu as portas. Depois, deu início à palestra.»
Coesão frásica: assenta nos mecanismos que asseguram a ligação correcta entre os
elementos linguísticos. As preposições, por exemplo, asseguram este tipo de coesão: «Gosto
de falar com as pessoas.»'
2.2.Conectividade Conceptual (Coerência)
Em conformidade com o site: https://www.passeidireto.com/arquivo/68886876/apostila-de-portugues-

instrumental-leitura-e-producao-textual-cursos-superiores, conectividade trata-se da relação lógico-


semântica existente entre as ocorrências textuais, de modo que só haverá conectividade entre
tais ocorrências e as interpretações de ambas forem semanticamente interdependentes. Ex.:
“Alinhei com a esperança de vencer, mas só se vence quando se corta a linha de chegada. ”
Observa-se que a ocorrência textual em itálico inclui uma relação semântica de contraste em
relação à que não está em itálico.
Portanto, a conectividade pode se manifestar tanto pela coesão entre os elementos
gramaticais do texto que chamamos de conectividade sequencial quanto pela coerência que tal
ligação constrói chamada de conectividade conceptual.
Contudo, IBID, conectividade conceptual ou coerência é um factor que resulta da
interação entre os elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e nosso
conhecimento de mundo. A coerência está directamente ligada à possibilidade de se estabelecer
um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto tenha sentido para os usuários,
devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à

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inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para
calcular o sentido desse texto.
Esse sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global. É por isso que
uma sequência como “Maria tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava
lavando a roupa é vista como incoerente, pois, apesar de cada uma de suas partes ter sentido,
parece difícil ou impossível estabelecer um sentido unitário para o todo da sequência, (IBID).
Portanto, para haver coerência, é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto
alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos. Outro aspecto a ser observado quanto
à coerência é que a relação a ser estabelecida entre os elementos linguísticos não é apenas
semântica, mas também pragmática, ou seja, a relação tem a ver com os nossos atos de fala.
Ex.: A: É telefone.
B: Estou no banho.
A: Tudo bem.
Como é que interpretamos o texto acima? Bem, nesse caso, devemos imaginar uma situação na
qual: a) a enunciação da primeira frase (o primeiro comentário de A) será interpretada como
pedido, uma vez que é uma frase declarativa; b) o comentário de B é uma resposta a A e tem a
força comunicativa de desculpas por não poder atender ao seu pedido; c) a segunda intervenção
de A é reconhecida como aceitação das desculpas de B e como um oferecimento pessoal para
fazer o que A havia solicitado que B fizesse, (HTTPS://WWW.PASSEIDIRETO.COM/ARQUIVO/68886876/APOSTILA-DE-
PORTUGUES-INSTRUMENTAL-LEITURA-E-PRODUCAO-TEXTUAL-CURSOS-SUPERIORES ).
Podemos considerar, então, que esses discursos estão coerentemente constituídos, uma
vez que podemos recuperar os laços proposicionais ausentes e produzir uma versão com coesão:
A: É telefone. (Você pode atender pra mim, por favor?)
B: (Não vou poder atender porque) Estou no banho.
A: Tudo bem. (Eu atendo).
Portanto, se há uma unidade de sentido no todo do texto quando este é coerente, a base da
coerência é a continuidade de sentidos entre os conhecimentos activados pelas expressões do
texto. Por outras palavras, quer-se dizer que é através da coerência que percebemos a
continuidade de sentido e o encadeamento entre os componentes de um texto.
2.3.Organização temática e informacional
Para HALLIDAY & MATTHIESSEN (2004), além de uma representação e de um
intercâmbio, a oração também consiste em uma mensagem. Como mensagem, a oração orienta-
se a partir de duas pressões: a organização temática e a estrutura informacional.

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Tomando como base o polo do falante, tem-se o sistema de organização temática. O
Tema consiste no elemento que o falante escolhe como ponto de partida para a sua construção
oracional. De um ponto de vista cognitivo, possui a função de orientação ou perspectivização,
sinalizando possíveis ângulos ou pontos de partida/expansão do texto, ao passo que o Rema
actua no sentido de elaborar o tópico do texto.
Tomando como base o polo do ouvinte, tem-se o sistema de estrutura informacional. A
estrutura informacional abarca duas dimensões interrelacionáveis de análise:
O status informacional, que diz respeito ao carácter recuperável (dado), acessível,
inferível, articulante das unidades informacionais do texto e da oração, e a relevância
informacional, que envolve o foco atribuído pelo produtor textual a certos segmentos
oracionais. O Novo configura-se no elemento que o falante projecta como aquele que é
desconhecido pelo ouvinte. Em outros termos, o Novo configura-se na informação que modifica
o fluxo discursivo e que tende, portanto, a ocupar a posição direita (pós-verbal) da oração. A
organização informacional tem natureza não estrutural, ou seja, ela não é mapeada a grupos
morfossintáticos específicos. Sua configuração é prosódica.
Campo Temático e Remático (ARÚS, LAVID, ZAMORANO-MANSILLA, 2010)
A. Tema→ Núcleo e Pré-Núcleo.
I. O Núcleo tem funções discursivas e oracionais. Trata-se do primeiro elemento com
função na configuração ideacional da oração. Em Português, tal função parece estar
circunscrita ao Sujeito, ao Complemento e ao Verbo.
II. O Pré-Núcleo é realizado por adjuntos que não exaurem o potencial temático da oração.
Em geral, tais elementos actuam na construção do cenário ou na perspectiva subjectiva
em que um evento é semioticamente construído.
B. Tópico →Tema Absoluto (Topicalizado), Tema Interpessoal, Tema Textual
I. Tópico →É demarcado prosodicamente e tende a ter autonomia sintáctica. Como resultado
dessa autonomia, não possui uma função discursiva independente. Muitas vezes, é anaforizado
na estrutura oracional subsequente e aparece à esquerda (posição pré-verbal) da oração.
C. Rema → O Rema tende a ser o espaço no qual a informação nova (Novo) tende a recair.
Tópico Tema Rema Tema Rema
O Paulo, Ele Ainda não marcou a prova Ontem Meus amigos Estavam bêbados
Núcleo Pré-núcleo Núcleo

Estrutura informacional (ARÚS, LAVID, ZAMORANO-MANSILLA, 2010). Excerto


de redação de aluno do Ensino Geral:
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Certo dia, 12:30 da manhã na escola Secundária de Changara, apareceu três rapazes estranhos, um
deles era usuário de drogas, e os outros dois eram traficantes, esta escola de noite era uma boca [..]

 Anáforas articulantes (meronímicas); anáfora Directa (dado). Excerto de notícia da Folha


de Cidade de Tete: Mesmo com o aviso da proibição do “rolezinho”, ELES correram pelos
corredores, causando pânico entre clientes e comerciantes. As lojas fecharam por temor de
saques.
 Anáfora indirecta (inferível) →ligação feita a partir do conhecimento de mundo. Presume-
se que o falante, por saber que há ‘rolezeiros’ em rolezinho, consiga fazer a inferência e
saber de quem se trata.
Neste caso, percebe-se que as informações dadas e inferíveis (velhas) tendem a aparecer em SN
com determinantes definidos (artigos definidos e demonstrativos), ao passo que informações
novas tendem a aparecer em SN indefinidos (sem determinantes ou com artigo indefinido),
(HTTPS://EDISCIPLINAS.USP.BR/MOD/FOLDER/VIEW.PHP?ID=174230 )
2.4.Intuições sobre a estrutura das combinações de palavras
Em conformidade com o MÓDULO DE LINGUISTICA DESCRITIVA DO PORTUGUÊS III DA UCM, PA.16-17,
percebe-se que a cada palavra ou combinação de palavras que funciona como uma unidade
sintáctica chama-se constituinte. Os constituintes que se combinam para formar uma unidade
sintáctica maior chamam-se constituintes imediatos dessa unidade.
Portanto, quando determinam a estrutura de uma combinação de palavras, analisando o
modo como cada palavra se combina em unidades sucessivamente maiores e mais complexas
estruturalmente, estamos a fazer análise em constituintes. A análise em constituintes pode estar
representada através de:
(i) Uma caixa de Hockectt;
(ii) Um diagrama em árvore e;
(iii) Uma parentetização.
As intuições dos falantes sobre a estrutura das frases podem ser confirmadas através de testes
de consistências, que permitem identificar os constituintes principais de cada frase.
Teste de substituição (por pronome pessoal): Essa rapariga loura /comprou um chapéu com
uma pena.
 Ela/comprou um chapéu com uma pena.
Teste de Deslocação (por clivagem e por Deslocação à Direita):
 Foi essa rapariga loura que comprou um chapéu com uma pena.
 Comprou um chapéu com uma pena, essa rapariga loura.

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Teste de Retoma Anafórica (em estrutura de coordenação):
 Essa rapariga loura comprou um chapéu com uma pena mas todos acham que ela fez
um disparate

2.5.Tipos de constituintes: categorias sintácticas


(IBID, pa. 19), entende-se que à unidade sintáctica formada pela combinação do núcleo com
um complemento dá-se o nome de grupo nominal, verbal, adjectiva, etc. Conforme a categoria
a que pertence; ao constituinte resultante da combinação de uma palavra com um grupo
nominal, verbal, adjectival, dá-se o nome de sintagma nominal, verbal adjectival.

Para: HTTPS://REPOSITORIOABERTO.UAB.PT/BITSTREAM/10400.2/10703/1/L%C3%ADNGUA%20PORTUGUESA_INSTRUMENTOS%20DE%20AN%C3%A1LISE.PDF, em síntese,


percebe-se que:
 As unidades sintácticas em que se organizam as combinações de palavras estão classificadas
em categorias (como nome, verbo, adjectivo);
 Estas categorias são de natureza sintáctica e não morfológica;
 Dadas as limitações das definições nocionais, as categorias sintácticas são determinadas
através do método distribucional, que desenvolve e operacionaliza os conceitos
saussurianos de relações sintagmáticas e paradigmáticas;
 O método distribucional, que recorre a operações de segmentação e de substituição,
estabelece que duas palavras distribucionalmente equivalentes pertencem à mesma
categoria sintáctica;
 Critérios distribucionais podem levar a reconhecer a existência de subclasses numa
categoria sintáctica;
 As representações da estrutura de constituintes que contêm informação sobre a categoria a
que pertence cada unidade sintáctica denominam-se representações etiquetadas;
 Para dar conta do diferente tipo de complexidade interna de cada tipo de unidade sintáctica,
utilizam-se etiquetas como N-GN-SN, V-GVSV (ou, equivalentemente, N-N'-N", V-V'-
V").

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2.6.Relações gramaticais e processos de concordância
Percebe-se que numa oração, o SV tem a função sintáctica de predicado e o SN ou a F
constituinte imediato da frase tem a relação gramatical-Sujeito. Exemplos:
 O actor tossiu
 Os meus amigos catalães vêm a Portugal em Abril.
 Já chegaram os livros que encomendei.
 Surpreende a Maria que ele tenha chegado tarde.
Nas frases (a, b, c) as expressões com a relação gramatical de sujeito da frase simples (a, b) e
da complexa (c) são expressões nominais; em (d), o sujeito da frase complexa é uma frase.
Portanto,HTTPS://REPOSITORIOABERTO.UAB.PT/BITSTREAM/10400.2/10703/1/L%C3%ADNGUA%20PORTUGUESA_INSTRUMENTOS%20DE%20AN%C3%A1LISE.PDF
,afirma-se que:
 Nas frases a que pertencem, os constituintes desempenham relações gramaticais;
 Em cada frase, o SV tem a função sintáctica de predicado, e o constituinte nominal ou oracional
que com ele se combina para formar a frase tem a função de sujeito;
 As relações gramaticais centrais são sujeito, objecto directo (relação desempenhada pelas
expressões nominais ou frásicas seleccionadas pelo verbo) e objecto indirecto (relação
desempenhada por expressões preposicionais seleccionadas pelo verbo e substituíveis pelo
pronome átono lhe(s)); os restantes complementos preposicionais e adverbiais, quer de verbos,
quer de nomes, adjectivos ou preposições, desempenham funções oblíquas;
 Através de testes de substituição por pronomes pessoais e demonstrativos, identificam-se com
clareza as expressões com a relação gramatical de sujeito, objecto directo e objecto indirecto;
 Através de um teste de retoma anafórica em pares pergunta-resposta é possível identificar as
expressões preposicionais e adverbiais que são seleccionadas pelo verbo: se são complementos
do verbo não podem ocorrer na pergunta e têm de ocorrer na resposta;
 O tipo e número de complementos exigido pelo verbo permite-nos distinguir, nesta categoria,
três grandes subclasses: verbos principais (organizáveis nas subclasses intransitivos, transitivos
directos, transitivos indirectos, ditransitivos), verbos copulativos (seleccionam um
complemento com a função de predicativo do sujeito) e verbos auxiliares (seleccionam um
complemento SV);
 Podem igualmente ocorrer nas frases expressões com funções sintácticas de modificação
restritiva e apositiva;
 As relações gramaticais desempenham um papel determinante na interpretação semântica das
frases e no desencadeamento de processos de concordância.

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2.7.Relações semânticas entre proposições e propriedades semânticas
Eis algumas relações semânticas que se podem estabelecer entre proposições:
(1) a) O vestido é azul.
b) O João comeu peixe.
c) Todos os homens são seres racionais.
O João é homem.
O João é um ser racional.
Percebe-se que se as proposições expressas por (1a) e (1b) forem verdadeiras, então as
proposições expressas, respectivamente, por (2a) e por (2b) são igualmente verdadeiras. Do
mesmo, em (1c), se as proposições expressas pelas duas frases (as premissas) forem
verdadeiras, a proposição expressa pela terceira frase (a conclusão) é igualmente verdadeira.
Portanto, uma proposição é o significado de uma frase que descreve uma situação.
Podem estabelecer-se entre preposições vários tipos de relações semânticas, de entre as quais
se destacam a implicação lógica, a pressuposição semântica, a equivalência semântica e a
contradição semântica.

2.8.Referência e sentido
Para atribuir significado a uma frase implica, determinar a sua referência (as condições
em que é verdade) e o sentido (o seu conteúdo informativo. O sentido fornece uma pista para a
determinação da referência de uma frase, uma vez que é comparando o conteúdo informativo
da frase com o mundo tal como o conhecemos que podemos atribuir-lhe o valor da verdade.
Mesmo quando a nossa enciclopédia mental não contém informação que nos permita
determinar o valor da verdade de uma frase, o sentido desta leva-nos a saber que estratégia
utilizar para o descobrir”.

2.9.Quantificação nominal
Em conformidade com o site:https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/determinantes-quantificadores-e-
pronomes/29575, no DT, a quantificação nominal é o principal objecto de atenção. Constata-se que,
no grupo nominal, o quantificador, tal como o determinante, precede geralmente o nome.
Ambos têm em comum a propriedade de construírem os valores referenciais do nome com o
qual se combinam, funcionando como operadores do grupo nominal:
 O determinante individualiza o nome, especificando a sua referência com informação não
quantitativa;
 O quantificador restringe a referência do nome com informação de natureza quantitativa.

14
O determinante especifica o nome com informação sobre propriedades sintácticas e semânticas
dos objectos ou entidades designados pelo nome. Ex.:
1. «Por precaução, fervi a água duas vezes, antes de beber.»
2. «Por precaução, fervi água duas vezes antes de beber.»
Em 1, o nome está especificado, sabemos por isso que a mesma água foi fervida duas vezes.
Em 2, o nome não está especificado, nada nos indica que foi a mesma água que foi fervida duas
vezes. Neste caso, o quantificador restringe a referência do nome com informação relacionada
com número, quantidade ou parte do referente do nome, independentemente da sua definitude.
Em 3, sabemos que a quantidade de funcionários se mantém. Em 4, sabemos que a
quantidade de funcionários se mantém e o determinante especifica, além disso, que se trata dos
mesmos funcionários definidos anteriormente.
3. «A empresa continua a ter dez funcionários.»
4. «A empresa continua a ter os dez funcionários.»
Não é só no plano semântico que o determinante e o quantificador se distinguem; na verdade,
também no plano sintáctico estes dois operadores têm comportamentos distintos no grupo
nominal. Os quantificadores, contrariamente aos determinantes, não podem surgir nas
chamadas construções de «deslocação à esquerda clítica». Ex.:
5. «Esses livros, eu li-os.»
6. *«Cinco livros, eu li-os.»
Há deslocação à esquerda do determinante, em 5, e não é aceitável a deslocação à esquerda do
quantificador, em 6.
Os quantificadores, isolados ou combinados com outros elementos, podem surgir com
elipse nominal, como acontece em 7 e como é o caso de um dos exemplos enviados, aqui
retomado em 8, como resposta à questão colocada com um quantificador interrogativo.
7. «Encomendei cinco livros, mas chegaram só dois [ ] até agora.»
8. (a) «Quantos alunos vieram?»
(b) «Vieram dois/só dois [ ].»
Os exemplos 7 e 8 mostram que os quantificadores apresentam um comportamento típico:
precedem o nome e podem surgir com elipse nominal, caso particularmente comum nos
quantificadores numerais.
No DT, os quantificadores estão agrupados num conjunto de classes fechadas de
palavras — quantificador numeral, quantificador relativo, quantificador interrogativo,
quantificador universal e quantificador existencial. Contudo, a classe dos quantificadores não é

15
composta apenas pelos elementos que integram estas subclasses. Trata-se de uma classe mais
abrangente composta por palavras ou locuções que podem pertencer igualmente à classe dos
nomes, dos advérbios, dos adjectivos, dos pronomes.
No exemplo 9, a par do numeral fraccionário que integra a expressão «um terço de», os
quantificadores são, respectivamente, o nome metade, que integra a expressão «metade de», e
a locução «uma parte de». Esta locução configura uma estrutura partitiva que nos diz que uma
parte do percurso foi concluída, mas não temos informação numérica sobre o referente.
9. «Ontem, os miúdos fizeram um terço/metade/uma parte do percurso.»
Os exemplos 10 e 11 ilustram a quantificação realizada por advérbio e adjectivo. Em 10, a
construção expressa o grau do adjectivo.
10. «O Pedro está muito alto para a idade.»
11. «Serviram numerosas sobremesas ao jantar.»
Os exemplos 12, 13 e 14 mostram-nos também que os quantificadores podem funcionar
isoladamente no grupo nominal, na forma de pronomes quantificadores. São casos típicos os
pronomes que funcionam como quantificadores negativos. Quanto a este valor quantificacional
do pronome, é de referir a informação fornecida no DT, sobre o pronome indefinido: «Pronome
(…) correspondente ao uso pronominal de um quantificador ou de um determinante
indefinido.»
12. «Todos vieram à festa.»
13. «Ninguém veio à rua.»
14. «Nada aconteceu.»
Do ponto de vista da interpretação do grupo nominal, poderemos estar perante quantificadores
que funcionam em elipse nominal. Tal como nos exemplos em 8, estes pronomes
quantificadores referem-se a entidades anteriormente referidas no co-texto ou referenciadas
pelo contexto. Resta ainda acrescentar que os quantificadores podem expressar informação
quantitativa não apenas sobre expressões que denotam entidades, mas sobre expressões que
denotam situações (15).
15. «Andei bastante e descansei poucas vezes.»
Portanto, através da quantificação nominal pode-se generalizar a atribuição a todos os
elementos de uma classe de indivíduos ou uma quantidade inferior à totalidade dos elementos
de uma classe.
a) Todos os portos são interessantes. (quantificação universal)
b) Cada estudante realizou três testes. (quantificação universal)

16
c) Muitos professores usam o correio electrónico. (quantificação existencial)
d) Algumas nódoas saem com benzina. (quantificação existencial)
e) Nenhum estudante faltou ao exame. (quantificação universal)
A frase contendo mais do que uma expressão quantificadora pode ser ambígua devido ao escopo
relativo que toma cada uma dessas expressões: escopo, largo ou estreito.

2.10. Expressões nominais definidas e indefinidas


De acordo com MÓDULO DE LINGUISTICA DESCRITIVA DO PORTUGUÊS III DA UCM, PA.16-17, percebe-se que as
expressões nominais definidas em certos contextos designam indivíduos singulares ou plurais.
As expressões nominais indefinidas são passíveis de uma interpretação específica ou, quando
dependentes de certos verbos de atitude proposicional ou modificadas por relativas no
conjuntivo, de uma interpretação não específica. Seguem alguns exemplos de expressões
nominais definidas e indefinidas:
a) O pai da Maria ofereceu-lhe um caro.
b) Os jogadores de Vólei do Sporting levantaram-se às seis da manhã.
c) Os jogadores de Vólei do Sporting reuniram-se com a direcção do clube.
Nota-se, contudo, que as descrições definidas que designam pluralidades, consoante os
predicados com que se combinam, podem designar os indivíduos de um conjunto um a um,
como acontece em (b), em que a propriedade que se levanta às seis da manhã é atribuída a cada
indivíduo do conjunto [os jogadores de vólei do Sporting], esta interpretação é denominada
distributiva, é parafraseável por “ cada jogador de Vólei do Sporting levantou-se da sua cama
às seis da manhã”, ou podem designar o conjunto de indivíduos como se tal conjunto fosse
uma entidade, a interpretação mais plausível de (c), em que o predicado [reunir-se com a
direcção do clube] é atribuído colectivamente a [os jogadores de Vólei do Sporting], esta
interpretação, denominada colectiva, é parafraseável por “o grupo de jogadores de Vólei do
Sporting reuniu-se com a direcção do clube”.
2.11. Frases com tópicos marcados
Segundo FÉRY E KRIFKA (2008: 126), um constituinte ‘tópico’ identifica a entidade
ou conjunto de entidades que se relacionam com informações respectivas no constituinte
‘comentário’, informações essas que devem ser guardadas no conteúdo do conhecimento
compartilhado (common ground).
Portanto, em línguas de proeminência de sujeito como o português, quando o mesmo
constituinte acumula a relação gramatical de sujeito com o papel discursivo de tópico chama-

17
se tópico não marcado, por exemplo: “Os miúdos telefonaram”. Quando o tópico frásico não
tem essa relação, denomina-se tópico marcado.
O tópico marcado pertence à categoria linguística que se manifesta no uso da língua
estruturalmente, portanto, pertence à sintaxe; desempenha determinadas funções
comunicativas, logo, é da ordem da pragmática; e apresenta determinados traços que o torna
distinto de outras categorias da língua, por isso, pertence à semântica.
Percebe-se que a aplicação de testes a sujeitos pós-verbais produz resultados negativos:
 Já chegou a encomenda: [Alguém está a afirmar que acerca da encomenda que ela chegou]

2.12. A sintaxe das construções dos tópicos marcados


Consideram-se como construções de tópico marcado aquelas em que há um constituinte
numa posição com destaque da frase, de forma a promover um referente de acessível a activo
na memória de curto prazo (LAMBRECHT 1994: 183). A noção de tópico é, portanto, muito
mais ampla do que a de tópico marcado, o que auxilia na distinção entre uma visão meramente
pragmática e outra sintática do fenômeno.
Segundo https://www.mundoalfal.org/sites/default/files/revista/12_2_cuaderno_006.pdf, no que diz
respeito às construções de tópico, boa parte dos trabalhos segue a intuição apresentada em
Pontes (1987) a respeito da caracterização do Português enquanto língua de proeminência de
tópico, o que o aproximaria do chinês (LI & THOMPSON 1976).
2.12.1. A topicalização conectada
A topicalização envolve o fronteamento de um constituinte para a esquerda da sentença,
deixando uma lacuna. O elemento movido é normalmente definido:
5. Contexto:
(Mara: - Você costuma citar um experimento que foi feito com crianças [...] que indica que as
crianças mais tolerantes, que esperam mais, tendem a se sair melhor, ter mais sucesso [...])
Eduardo: - Pois é Mara, [esse experimento TOP] i, eu acho _i muito interessante.
(Eduardo Gianetti, 28/11/2005, CRV)
Na proposta aqui apresentada, a topicalização segue a derivação abaixo (considerando somente
o passo relevante para a topicalização):
6. a. [IP Eu acho [VP [SC [DP esse experimento] [AP muito interessante]]]
b. Fronteamento do DP: [IP Esse experimento: [IP eu acho [VP [DP – ] [AP muito interessante]]]]
Como há movimento de V-para-I, a fase se estende, o que possibilita o movimento do
constituinte esse experimento para a borda da fase estendida IP. Em sentenças em que a lacuna
se origina numa oração subordinada, o mecanismo é o mesmo, com a diferença de haver
movimento cíclico-sucessivo pelas bordas de fase, como se mostra nos pontos relevantes de
uma derivação de uma sentença semelhante àquela em (6):

18
7. a. [IP [DP esse experimento] é muito interessante]
b. Fronteamento do DP para Spec,CP: [CP esse experimento que [IP – é muito interessante]]
c. Fronteamento do DP para Spec,IP: [IP Esse experimento [IP eu acho [CP - que [IP - é muito
interessante]]]

2.12.2. O deslocamento à direita da topicalização conectada


O deslocamento à direita é comumente denominado de ‘antitópico’, a partir do trabalho
de Lambrecht (1994), termo que evita por sugerir que o elemento expressaria uma categoria
informacional mente distinta da de tópico. Na verdade, ela só expressa que o tópico está em
posição “oposta” ao comum para tópicos, i.e. no fim da sentença, sendo que os dois
constituintes estão conectados sintaticamente. O termo ‘deslocamento à direita’, por outro lado,
deixa claro que há um pronome (expresso ou nulo) na posição à qual o tópico está conectado 9:
10. Contexto: (E este não foi o caso do PT, que, segundo eles, jamais fez um mea-culpa e nunca tentou
se alinhar às forças políticas democráticas.)
Embora seja exagerado, eci faz muito sentido [esse raciocínio TOP]i.
(Coluna de Ascânio Seleme, O Globo, 18/7/2020)
Berlinck et al. postulam que o tópico nesse tipo de construção apresenta “uma relação de
predicação secundária sobre o sujeito pronominal” (BERLINCK et al. 2015: 129). A ideia de
predicação secundária sugere que há um tipo de aposição. Por outro lado, a necessária ligação
ao sujeito parece ser mais uma restrição informacional que sintática, já que diz respeito à
identificação do constituinte que funciona como tópico, sendo que este é normalmente um
sujeito.
11. a. [IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse raciocínio] faz [VP [DP muito sentido]]].
b. Fronteamento para adjunção a IP na segunda oração: [ IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse
raciocínio] [IP [DP –] faz [VP [DP muito sentido]]]].
c. Elipse sentencial do IP: [IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse raciocínio] [IP [DP –] faz [VP [DP
muito sentido]]]].

2.12.3. A topicalização pendente


A topicalização pendente é uma construção que se caracteriza por não apresentar
conectividade sintática com a sentença à qual se relaciona. Sua relação com a contudo, uma
conectividade semântica. Uma característica muitas vezes associada como típica dessa
construção é a possibilidade de inclusão de uma expressão introdutora, normalmente uma
preposição ou locução preposicional (1). Quando o tópico não apresenta elemento introdutor,
costuma ser um item com leitura genérica, como uma relativa livre (2):
1. Contexto: (71% dos turistas são homens, 29% são mulheres.)
[Quanto à idade TOP], 45% têm 25 a 39 anos, 38% estão na faixa de 40 a 59 anos.
(Caio Luiz de Carvalho, 19/3/2001, RV)
2. Contexto: (A alegação da Receita Federal, e que eu acho que deve ser procedente [...]
(O bom contribuinte) recolhe a CPMF, no final do ano, [...] a pessoa física abate do Imposto de Renda.)
[Quem é sonegador TOP] fica mantido o recurso (...) para o governo.
19
(Jorge Bornhausen, 19/5/2003, RV)
Por sua falta de conectividade sintática, a discussão que a topicalização pendente normalmente
suscita diz respeito à caracterização do constituinte tópico não integrado enquanto parte da
sentença ou como um fragmento órfão, que se relaciona à sentença por mecanismos textuais e
não sintáticos, como propõe SHAER (2009). Aqui considera-se que a geração na base em
Spec,TopP, juntamente com a falta de um elemento presuntivo, são capazes de codificar a não
integração desse constituinte na sentença:
3. a. [IP ec fica [VP [SC [AP mantido] [DP o recurso para o governo]]]
b. Concatenação do tópico: [TopP [Quem é sonegador], [IP ec fica [VP [SC [AP mantido] [DP o recurso para
o governo]]]].

2.12.4. O deslocamento à esquerda tópico pendente


Corresponde basicamente quando já que os casos com resumptivos clíticos são tidos como
traços periféricos na gramática do Português falado culto. Essa construção é bastante
semelhante à topicalização pendente, mas além da conectividade semântica, também se verifica
a integração referencial com o tópico, por meio de um pronome ou mesmo um DP epíteto ou
repetido. O tópico geralmente é um DP definido, como em (4). Por outro lado, em (5) nota-se
que a presença de elemento introdutor do tópico também é possível nessa construção:
4. Contexto: (É uma questão de tempo [a população não avaliar bem o governo].)
[ A população do estado do Rio de Janeiro TOP]i, eu penso que elai já começa agora a analisar um pouco
o nosso governo. (BENEDITA DA SILVA, 18/11/2002, RV)
5. Contexto: (História também é objeto de negociação, há versões e versões.)
[Quanto à idéia de transação TOP]i, essai é antiga, é do século XIX pelo menos (...)
(CARLOS GUILHERME MOTA, 7/8/2000, RV)
2.12.5. A topicalização de projecções verbais
Trata-se de diferentes tipos de construções em que o constituinte tópico corresponde a
um DP. Nesta secção, referencia-se alguns tipos de topicalizações de projeções verbais, isto é,
as que incluem uma repetição do verbo na periferia esquerda, acompanhado ou não de seu (s)
complemento (s):
20. Contexto: ([...] agora estou aguardando para ver se ele se dá com a Aveia)
[gostar TOP] ele gostou, porque quando acaba ele até reclama.

20
3. Conclusão

Em suma, conclui-se que a coesão textual é um factor importante do texto que se refere à
conexão de palavras, expressões ou frases dentro de uma sequência. O texto coeso se constrói
com elementos de ligação que podem ser conjunções, pronomes, verbos, advérbios, conectores
coesivos (termos e expressões); e sem sequenciadores, sendo o lugar do conector marcado por
sinais de pontuação (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula). Conectividade conceptual
ou coerência é um factor que resulta da interação entre os elementos cognitivos apresentados
pelas ocorrências textuais e nosso conhecimento de mundo. Além de uma representação e de
um intercâmbio, a oração também consiste em uma mensagem. Como mensagem, a oração
orienta-se a partir de duas pressões: a organização temática e a estrutura informacional. As
intuições dos falantes sobre a estrutura das frases podem ser confirmadas através de testes de
constituência, que permitem identificar os constituintes principais da frase. Para dar conta dos
diferentes tipos de complexidade interna de cada tipo de unidade sintáctica, utilizam-se
etiquetas como N-GN-SN, V-GV-SV, (ou equivalente, N-N’-N’’, V-V’- V’’). As relações
gramaticais centrais são sujeito, objecto directo e objecto indirecto e os restantes complementos
preposicionais e adverbiais, quer de verbos, quer de nomes, adjectivos ou preposições,
desempenham funções oblíquas Entre as propriedades semânticas das combinações livres de
palavras destacam-se a anomalia semântica, a ambiguidade semântica, a vagueza e a
indexicalidade. Os nomes próprios têm uma função designatória, fornecendo pouca ou
nenhuma informação sobre as características dos indivíduos que denotam. As frases contendo
mais do que uma expressão quantificadora pode ser ambígua devido ao escopo relativo que
toma cada uma dessas expressões: escopo, largo ou estreito. As expressões nominais definidas
em certos contextos designam indivíduos singulares ou plurais. As expressões nominais
indefinidas são passíveis de uma interpretação específica ou, quando dependentes de certos
verbos de atitude proposicional ou modificadas por relativas no conjuntivo, de uma
interpretação não específica. Em línguas de proeminência de sujeito como o português, quando
o mesmo constituinte acumula a relação gramatical de sujeito com o papel discursivo de tópico
chama-se tópico não marcado, por exemplo: “Os miúdos telefonaram”. Quando o tópico frásico
não tem essa relação, denomina-se tópico marcado.

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Bibliografia

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