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Hoje, refletir sobre a relação entre avaliação e educação nos exige uma extensa
reflexão acerca de alguns processos sociais contemporâneos sem os quais ficaria
impossível entender a massiva presença, nos sistemas de ensino, em especial os
públicos, dos testes de larga escala.
Este artigo não pretende esgotar tal reflexão dado a complexidade dos aspectos
envolvidos na referida relação, bem como o espaço dedicado a esse texto.
É importante fazer um recorte de análise, sendo este relativo às incoerências
encontradas entre os discursos dos textos das políticas quanto à concepção e a finalidade
da avaliação para os processos escolares e educacionais e as práticas pedagógicas
cotidianas dos docentes nas escolas. Ou seja, esse texto abordará aspectos relativos às
políticas de avaliação, bem como resultados de pesquisas3 que apontam implicações
significativas no cotidiano das escolas, com alterações em suas práticas de gestão do
tempo e espaço da escola e da sala de aula, com a forte presença dos exames
estandardizados.
Primeiramente, é importante chamar atenção para a questão da qualidade da
educação, temática que apresenta estreita relação com o debate acerca do papel social da
escola e da avaliação escolar. Em outro texto, argumentamos que qualidade é um termo
polissêmico, construído sócio-historicamente e que, portanto, não pode ser tomado
como absoluto, sem implicações político-pedagógicas no âmbito das políticas e práticas
educativas. A ênfase das políticas educacionais tem se voltado para os resultados do
desempenho dos estudantes em exames de larga escala, para o empreendedorismo, a
performatividade e a competitividade (FERNANDES e NAZARETH, 2011).
A qualidade em educação escolar nos remete a outra questão que também
precisa ser debatida e que está fortemente relacionada com a avaliação em educação que
é o projeto de sociedade que nós temos e que queremos.
Desde os anos 90, as políticas de avaliação externa, com foco nos testes de larga
escala, têm tomado a cena dos diferentes sistemas educativos estaduais ou municipais
no Brasil, direcionando os currículos, definindo aquilo que vai ser ensinado nas escolas,
criando os standards de aprendizagem. Esse é um aspecto que precisa ser largamente
debatido pelos profissionais da educação.
1
Texto publicado na Revista Nuevamérica, n.134, abril-jun. 2012, p.62-67.
2
Professora da Escola de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO. Coordenadora do GEPAC (Grupo de
Estudos e Pesquisas em Avaliação e Currículo) certificado pelo CNPq
3
Têm sido realizadas pesquisas com foco nos exames de larga escala e seus impactos na escola
de ensino fundamental pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação e Currículo (GEPAC)
coordenado por mim e pela professora Andréa Fetzner, na UNIRIO.
As políticas tomam o Índice da Educação Básica (IDEB) como indicador de
qualidade e como guia de ações, uma vez que é o índice oficial utilizado pelo
MEC/INEP. A prática de tomar o IDEB como indicador de qualidade vem se
naturalizando, inclusive, entre pesquisadores como, por exemplo, critérios para escolha
de uma boa escola. Entretanto, argumenta-se que há problemas com a legitimidade dos
resultados dos exames – utilizados para o cálculo do IDEB – tanto no que tange à sua
gênese/concepção quanto à sua aplicação nas escolas. Há também problemas do ponto
de vista técnico com o cálculo do IDEB (SOARES, 2011).
A naturalização da utilização dos testes no cotidiano da escola traz outra
inquietação. No âmbito das secretarias de educação municipais e estaduais, os testes de
larga escala são elaborados e até, muitas vezes, aplicados por empresas privadas pagas
pelas prefeituras por tal serviço. A transferência de verbas públicas para o setor privado
também se naturaliza e há certa aceitação, porque tais serviços são apresentados como
melhorias para a qualidade da educação escolar oferecida.
4
Refiro-me a todos os profissionais envolvidos com o pedagógico e o ensino que trabalham na
escola: professores, diretores, coordenadores pedagógicos, orientadores.
5
http://oglobo.globo.com/educacao/enem-2009-revela-que-das-mil-piores-escolas-do-pais-973-
sao-estaduais-2977786#ixzz1tkELpTeE
escolas, mas em suas posições sócio-econômicas, perpetuadas pela educação escolar,
sob a égide da “avaliação para a qualidade”. Fica fácil observar pelos resultados, que o
problema da classificação das escolas é sócio-econômico, antes de ser educacional e que
muito menos, é um problema dos estudantes. Como comparar os incomparáveis?
Avalia-se para se justificar as políticas, e como a avaliação não é neutra, nem
destituída de ideologia e de poder, ela justifica e legitima resultados e ações.
Referências
FERNANDES, Claudia de O. e NAZARETH, Henrique Dias Gomes. A retórica por
uma educação de qualidade e a avaliação de larga escala. Impulso, Piracicaba • 21(51),
63-71, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767, PP.
63-71. Acesso em 02/05/2012.