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uma espécie de reverso das grandes oposições binárias que atravessam e segmentam o
corpo social: oposições de classe (rico/pobre), de idade (jovem/velho), de gênero
(macho/bicha), intensificando as diferenças na produção de um gozo” (PERLONGHER,
1987b, p. 58).
[...]os órgãos e os atos sexuais têm nomes que fazem sobressair a baixeza, cuja origem é
a linguagem especial do mundo da queda. Esses órgãos e esses atos têm outros nomes,
mas uns são científicos, e os outros, de uso mais raro, pouco durável, fazem parte da
linguagem infantil e do pudor dos apaixonados. Os nomes sujos do amor não deixam de
ser menos associados, de uma forma estreita e irremediável por nós, a essa vida secreta
que levamos ao lado dos sentimentos mais elevados. É, em suma, através desses termos
inomináveis que o horror geral se formula em nós, que sabemos pertencer ao mundo
não degradado. Esses termos exprimem esse horror com violência. São eles mesmos
violentamente rejeitados pelo mundo honesto. De um mundo ao outro, não discussão
concebível (BATAILLE, 1987, p. 91)
[...]ao mesmo tempo que reverencia os modernistas, rompe com eles na enunciação ou
no no próprio enunciado ao reescrever algumas cenas do modernismo brasileiro em seus
textos (CAMARGO, 2007, p. 25).
Integra a linha de escritores urbanos que falam da vida das metrópoles, iniciada
em nossa literatura com a obra de Mário e Oswald de Andrade, ambos participando do
tumulto da moderna São Paulo da década de 20. Retoma essa linha de urbanidade
vertiginosa, que do primeiro tempo modernista em diante foi posta como
impessoalidade das relações, solidão, mas que em alguns casos ainda guardava no fundo
certa cordialidade capaz de resgatar a afetividade das relações. Recorde-se, por
exemplo, a ternura dos personagens de Aníbal Machado, que viveu no Rio de Janeiro
anterior às mudanças aceleradas dos anos de 60. Nossa literatura, bem como outras
literaturas periféricas, passaria por um movimento significativo de internacionalização
no período seguinte (VIDAL, 2000).
De acordo com Pellegrini (2001, p.14), atualmente, a literatura urbana tem
ultrapassado no perímetro da cidade “seus horizontes originais de representação”, ao
traduzir a opressão em diversos “níveis”: social, expressando o processo de exclusão da
grande maioria da sociedade; político, expressando a centralização do poder; ideológico,
expressando as crenças que oprimem os indivíduos urbanos, impedindo-os de se
realizarem afetiva e pessoalmente; estético, expressando do ponto de vista linguístico a
atmosfera nervosa dos grandes centros urbanos:
Dessa maneira, o espaço urbano ficcionalizado passa, gradativamente, a
abrigar significados novos... hoje já muito diferente daquele das origens. De
cenário que funcionava apenas como pano de fundo para idílios e a
aventuras, “locus amenus”, foi aos poucos se transformando numa
possibilidade de representação dos problemas sociais, até se metamorfosear
num complexo corpo vivo, de que os habitantes são apenas parte, a parte
mais frágil, cujas vozes são menos audíveis na turbulência das ruas. Na
verdade, esse corpo vivo, criado pela ficção, com raras exceções, vem se
revelando cada vez mais como locus horribilis, que corresponde às nossas
condições econômicas, sociais e políticas (Pellegrini (2001, p.14-15).
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