Pensar a interseccionalidade temática envelhecimento e homosexualiadade é, sobretudo,
nos endereçarmos para as tensões entre corpo e cultura. No universo das
homossociabilidades, tem-se acentuado cada vez mais a hipervalorização da estética jovem, conectada aos signos do consumismo, individualismo e sucesso medido pela quantidade de conquistas sexuais casuais. Daí resultam o alijamento e invisibilidade do homossexual idoso face a um mercado sexual hierarquizado por critérios de juventude e beleza, em que não há lugar para pessoas de mais idade, uma vez que carregariam os estereótipos derivados da depreciação de sua atratividade como parceiros sexuais desejáveis e decorrente marginalização pelos mais jovens. Nesse contexto, no âmbito das homorrepresentações literárias, tendo em mira a ideia da abjeção em relação ao corpo velho e à homossexualidade, intentamos, neste trabalho, problematizar o lugar periférico de personagens homossexuais em processo de envelhecimento, que realizam intercâmbios sociossexuais/afetivos. Para tanto, à luz de aportes teórico-metodológicos alinhados à crítica cultural em consonância à teoria queer, analisamos o romance “A céu aberto” (2008), de João Gilberto Noll. As discussões logradas, neste artigo, evidenciaram que os personagens homossexuais em envelhecimento, representam uma das formas mais salientes da alteridade abjeta e excluída dentro da própria experiência contemporânea da homossexualidade masculina visível.