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SESSÃO 1 - 30/11 - 14h a 16h30 - Sala 1 (Emma Bovary)

Debatedores: Francisca Carolina Lima da Silva (PPGLetras – UFC) e Lídia Barroso Gomes
Castro (PPGLetras - UFC)

1. A ARTE DE AMAR SEGUNDO LÚCIO CARDOSO - Romildo Biar Monteiro


(PPGLetras – UFC)

Abordar a conceituação do amor, atentando para seus matizes, implica ingressar numa seara de
incontestável inventividade literária e, a um só tempo, admitir uma difícil peregrinação no caminho da
filosofia. Mas o que é o amor? De que matéria ele é feito? Quais são as suas razões? Essas são
indagações tão antigas quanto os fundamentos do próprio mundo. Considerando-se esses
questionamentos, a comunicação ora apresentada lança um olhar sobre a arte de amar inscrita no
poema “Receita de Homem”, de Lúcio Cardoso (1912-1968). Para tanto, adota-se uma perspectiva
crítico-analítica alicerçada no pensamento dialógico e interdisciplinar, em virtude do enleio comparatista
entre literatura e outras áreas do conhecimento, dialogando entre outros estudos com os de Alain
Badiou (2013), André Comte-Sponville (2001), Byung-Chul Han (2017), Erich Fromm (2015), Erich
Neuman (2017), Georges Bataille (2017), Harry G. Frankfurt (2007), José Ortega y Gasset (2020),
Octavio Paz (2001), Platão (2016) e Sigmund Freud (2010). Em sentido global, constata-se que, no
poema em causa, a experiência do eu-lírico desabrocha por intermédio do fascínio pelo insondável
mistério da constituição do amor, essa força que nos faz caminhar à procura da inalcançável
completude. Destarte, nos limites desta discussão, a palavra é um candeeiro cuja luminescência
somente pode vislumbrar uma pálida imagem de Eros.

2. “O MAL NO MUNDO, O MAL EM NÓS”, OS HOMENS QUE NÃO NASCERAM PARA


A DESUMANIDADE: Uma análise da Teologia Humanista de José Saramago -
Francisca Carolina Lima da Silva (PPGLetras – UFC)

Saramago é um autor que elenca a literatura como forma de refletir sobre a realidade, trazendo
propostas que combinam dados contundentes e violentos da vivência atual com a incorporação de
elementos insólitos, que conduzem a caminhos da construção de uma humanidade marcada pelo
retorno a subjetividade do ser humano, capaz de amar ao próximo e a si mesmo. O resultado é uma
literatura que ocupa o lugar vazio deixado pela existência racional da humanidade. Transportada por
essa falta, sua escrita oportuniza a vivência de um mundo que ainda não é, mas que pode ser,
revelando muito de nossa realidade social e humana, em especial nas obras elencadas para serem
analisadas neste trabalho: Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio sobre a Cegueira (1995) e
Ensaio sobre a Lucidez (2004). Nestes textos, o que se pode experienciar é um “ensaio” do que pode
ser o destino do ser humano caso ele permaneça incrustado no estado de profunda coisificação e
massificação em que se encontra hoje. Como consequência, percebemos erguer-se em seus textos
uma visão particularmente analítica e crítica sobre o homem e sua relação com o mundo, alicerçado
em uma escrita que assume um ponto de vista marcadamente humanista. Adotando esse caminho,
construímos nossa proposta de tese, pautada na necessidade de compreender o humanismo
materializado por Saramago em sua produção artística, em que ele traz uma visão redentora da
humanidade, por meio da teoria da encarnação de Jesus Cristo, tensionando esse humanismo como
existencial. Adotando uma perspectiva comparativista, que problematiza, questiona e relativiza o
diálogo empreendido com o discurso filosófico, teológico e sociológico que fundamentam nossa
pesquisa, procuramos, através de um estudo bibliográfico, crítico e qualitativo das obras elencadas,
realizar nossos objetivos. Para tanto, recorreremos a leituras teóricas de Perrone-Moisés (1990),
Barthes (1980), Candido (2011), Wisnik (2020), Hannah Arendt (2020), Sartre (2009), Byung-Chul Han
(2018), entre outros, que serão determinantes para compreendermos as engrenagens que conduzem
o mundo a tal estado.

3. DESVIRTUANTES: AS PERSONAGENS FEMININAS NA LITERATURA DE MEDO


DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA - Ana Raquel da Costa Farias (PPGLetras – UFC)

A literatura de medo, desde sua origem gótica no século XVIII, apoiou-se em construções interessantes,
mas limitadas, para as personagens femininas que ecoaram durante muitas décadas. Dentre elas, a
figura da femme fatale, a mulher responsável por desvirtuar um santo homem e atraí-lo para as garras
do pecado ou a pobre vítima damsel in distress foram revisitadas em diversas narrativas de horror até
o final do século XIX e ressoam em um imaginário coletivo até os dias atuais. No entanto, às sombras
do cânone, existem obras de autoras que quebram com os arquétipos femininos moldados por uma
sociedade patriarcal com fortes influências judaico-cristãs e descrevem com destreza uma perspectiva
heterogênea e multifacetada para o feminino. É nessa perspectiva, que o presente trabalho tem como
objetivo principal analisar os contos “Os porcos” e “A neurose da cor” de Júlia Lopes de Almeida
publicados na antologia nsia Eterna em 1903. Desse modo, sob o prisma da Literatura Comparada e
baseando-se nos estudos de Júlio França e Ana Paula Araújo dos Santos sobre o gótico colonial e a
literatura feminina em Poéticas do mal: a literatura de medo no Brasil(1830-1920) publicado em 2017,
pretende-se refletir sobre a construção das personagens Umbelina e Issira em meios aos símbolos e
sinestesias propostos pela autora.

4. A PERSPECTIVA DA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA ENQUANTO


TRADUÇÃO: A REPRESENTAÇÃO QUEER DO MONSTRO GÓTICO NA
ADAPTAÇÃO FÍLMICA “DEIXE ELA ENTRAR” - Weslley Mayron Cunha Pacheco
(PPCL – UERN)

Este trabalho tem como objetivo analisar a adaptação cinematográfica do romance sueco “Deixe Ela
Entrar” (2008) sob a perspectiva dos estudos da tradução de base pós-moderna, especialmente em
relação à representação do monstro gótico como um veículo de tradução da identidade de gêneros
queers. A adaptação cinematográfica explora temas de isolamento, construção identitária e amor em
meio a um cenário gótico, carregado de suspense e drama. Este estudo examina como o gênero e a
sexualidade são traduzidos e representados na personagem Eli, uma vampira imortal, e Oskar, um
menino solitário, bem como nos lações afetivos de ambos os protagonistas. A análise se concentra em
como a figura do monstro gótico, representa a identidade queer, sendo tal monstro utilizado como uma
forma de tradução e representação dos sujeitos queers na adaptação fílmica. Eli, que desafia as normas
de gênero e sexualidade, personifica uma identidade fluida, representando o outro e o diferente na
sociedade heteronormativa. Além disso, a relação entre Eli e Oskar, que transcende as barreiras da
idade e da mortalidade, pode ser interpretada como uma expressão do desejo queer, destacando a
capacidade do cinema de traduzir experiências e identidades marginalizadas para um público mais
amplo. A metodologia da pesquisa é qualitativa, empregando a abordagem analítica-descritiva. Nesse
contexto, examina-se como as escolhas estéticas, estilísticas e narrativas na adaptação moldam ou
reforçam a compreensão do texto literário. A análise de “Deixe Ela Entrar” ilustra como o cinema pode
ser um meio eficaz para dar visibilidade e voz às experiências queers, enquanto utiliza a representação
do monstro gótico para traduzir essas experiências de forma complexa e provocativa.

5. O DEMONÍACO EM "GRANDE SERTÃO: VEREDAS": DA COMPULSÃO DE


DESTINO AO SUPEREU - Filipe Ramalheiro Venâncio de Souza (PPGP – UFC)

Partindo de uma articulação entre a psicanálise e a crítica literária, esta pesquisa visa investigar a
apresentação do demoníaco em "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa. Comparecendo
na nomeada "tradição fáustica", a partir do pacto, o demoníaco coloca em questão uma problemática
em torno da divisão concernente ao desejo, uma vez que os protagonistas das obras que compõem
esta tradição realizam o pacto com o demônio na tentativa de realizar uma tarefa que a eles se
apresenta como impossível de ser empreendida com forças humanas. Fazendo isso, passam a atribuir
suas ações a um agente externo, o que impossibilita o comparecimento de um sujeito. No romance que
estudamos, o protagonista, Riobaldo, faz o pacto para realizar uma tarefa tomada por ele como
impossível. Articulamos isso à noção freudiana de "compulsão de destino", que o autor nomeia como
a face demoníaca da compulsão à repetição. Assim, ao atribuir suas ações a um agente externo, o
sujeito se submete à ação do destino que, com a psicanálise, diz respeito ao ordenamento cruel do
supereu, que se apresenta como um resto paterno não simbolizado. Com isso, articulamos a posição
de Riobaldo frente ao pai, a partir das formulações lacanianas que o repartem em registros distintos:
Simbólico, Real e Imaginário, de modo a aclarar a posição de Riobaldo no pacto a partir de sua posição
frente à divisão constitutiva do significante. Assim, situamos a posição do protagonista diante de seu
desejo, articulando-a à possibilidade de ir "além do pai" para assim ter condições de ter acesso à
singularidade de seu desejo, o que nos permitiu localizar a posição de Riobaldo diante do demoníaco
e do supereu: o que antes se apresentava como uma submissão insensata, com o decorrer da narrativa
permite ao protagonista encontrar os caminhos da singularidade de seu desejo.

6. FOLHAS SOLTAS PRONTAS PARA MONTAGEM: CLARICE À LUZ DO CINEMA -


Patricia Rodrigues de Souza (PPGLetras – UFC)

Clarice literária, em seu romance Água viva (1973), parece expressar, em uma ideia, a
indissociabilidade evidente entre seu trabalho de escritora e seu processo criativo ao dizer: “escrevo-te
em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos” (LISPECTOR, 2019,
p. 76). Essa informação encontra-se ratificada quando a autora empírica revela, na conhecida entrevista
de 1977 (Tv Cultura), que seu método de escrita consiste em anotar, seja de dia ou à noite, lampejos
criativos, advindos de suas inspirações. Nesse sentido, o artigo em tela busca demonstrar a relação
que haveria entre o seu processo de escrita literário autoral, baseado em anotação imediata e folhas
soltas, e o cinema, cuja integração na fase de pós-produção, trabalha com a justaposição de cenas.
Para tanto, mobilizaremos a teoria da montagem cinematográfica de Eisenstein (1990) e da poética de
Bordwell (1989), bem como Gotlib (2013), Sousa (2000), Nascimento (2022), Montero (1999), Borelli
(1981), Souza (2011) e Perez (1964). Metodologicamente, partiremos do romance Perto do Coração
Selvagem da autora. Isto porque essa obra de estreia carrega o “germén” do porvir do conjunto de sua
obra, na visão de Varin (2002), e sobre o qual entende-se o gerenciamento da sintaxe de sentido,
advinda da contribuição do escritor e amigo da escritora, Lúcio Cardoso, na publicação desse livro. O
objetivo, nesse sentido, é apresentar e fazer entender não só as interseções entre literatura e cinema,
como também compreender o relacionamento entre a obra e a vida clariciana quando, por exemplo, a
autora imaginava, em sua tenra idade, que livros já nasciam prontos, em árvores. Ou seja, em que
medida os passos da escritora se cruzam com sua escritura mutilada e ambulante?

7. CLARICE LISPECTOR E MARINA COLASSANTI: TRANSGRESSORAS? - Luciana


Braga (PPGLetras – UFC)

Esse trabalho representa um recorte da pesquisa desenvolvida no Doutorado em Letras intitulada


temporariamente como “Clarice Lispector e Marina Colasanti: Feministas?” que existe devido a
necessidade de atualizar a leitura dos cânones e dar voz aos corpos dissidentes, sobretudo, as
mulheres. Dessa forma, investigar-se-á como as autoras transgridem nas narrativas “Mais vai chover”,
presente na obra A Via Crucis do Corpo (1974), de Clarice Lispector, e A moça tecelã (2003), que nessa
edição compõe sozinha a obra, mas também está presente em Doze reis e a moça do labirinto do vento
(2006), de Marina Colasanti. A leitura desses contos é fundamental para ampliar a discussão sobre
submissão feminina e liberdade sexual, a medida que em ambos as personagens sofrem mudanças
que resultam na vivência em uma nova condição feminina dentro do contexto social. No primeiro, a
protagonista se deixa enganar pelo desejo por um rapaz mais novo que a controla para satisfazer seus
interesses financeiros e no segundo, a mulher passa a sofrer com a imposição de autoridade do homem
que ela mesma criou. Entender como as personagens transgridem e mudam seu modo de viver é o
objetivo desse trabalho. Para tanto, autores como Bel Hooks (2019), Marilena Chauí (1985) e Mary Del
Priore (2014) ajudarão na fundamentação teórica dessa pesquisa.

8. IMAGINAÇÃO PORNOGRÁFICA NO ROMANCE “A DIVINA RELAÇÃO DO


CORPO” DE JOSÉ ALCIDES PINTO - Leonardo Prudêncio (PPGLetras – UFC)

José Alcides Pinto foi romancista, teatrólogo, cronista, poeta e jornalista. Nascido no distrito de São
Francisco do Estreito, Santana do Acaraú (CE), estreou na literatura ainda nos anos 1940 com o livro
"Cantos da liberdade", publicação perdida conforme estudo de Macedo (2012). Pinto inicia uma série
de publicações engajadas em temáticas eróticas em meados dos anos 1980, com a publicação do livro
de poemas "Relicário pornô" (1982), que gerou uma ampla discussão pública por conta do teor dos
poemas. Nesse livro, Pinto (1982) afirma que iria dar inicio a uma série erótica composta por quatro
livros, sendo eles: Relicário pornô; O reino das bucetas encantadas; Bote a boquinha aqui e; Mulher se
mija à-toa. No entanto, contrariando seus próprios planos, apenas o Relicário pornô foi editado. Tempos
depois, o poeta cearense edita o romance "A divina relação do corpo" (1990), que conforme ele disse
em entrevistas da época, aquele romance cumpria a missão da tetralogia erótica anunciada na folha
de guarda do Relicário pornô. "A divina relação do corpo" (1990) traz uma série de histórias,
fragmentadas, sobre os amores e as conquistas do sedutor José, que dizia ter feito amor com mais de
quatrocentas mulheres. Ao lermos o romance alcidiano e compará-lo com o texto “Imaginação
pornográfica” escrito por Susan Sontag (1987) iremos encontrar muitos paralelos, como as descrições
dos atos sexuais, a linguagem de fácil alcance e a mercantilização da literatura. Este estudo
comparativo é um dos temas que abordaremos no nosso projeto de tese de doutorado, por este mesmo
Programa de Pós-graduação.

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