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UNIVERSIDADE FEDERAL DA CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – PPGCS
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

PROJETO DE PESQUISA - SELEÇÃO DA TURMA 2024


EDITAL PRPG N° 38/2023

CANDIDATO: CAIO CÉSAR DE OLIVEIRA BELTRÃO

AS REFERÊNCIAS CULTURAIS DE ADOLESCENTES QUILOMBOLAS DO BREJO


PARAIBANO: UMA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA SOBRE TRADIÇÃO E TRADUÇÃO
NO CONTEXTO DE INTERSECCIONALIDADES E DESTERRITORIALIDADES

LINHA DE PESQUISA: CULTURA E IDENTIDADES

CAMPINA GRANDE
NOVEMBRO DE 2023
AS REFERÊNCIAS CULTURAIS DE ADOLESCENTES QUILOMBOLAS DO BREJO
PARAIBANO: UMA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA SOBRE TRADIÇÃO E TRADUÇÃO
NO CONTEXTO DE INTERSECCIONALIDADES E DESTERRITORIALIDADES

RESUMO

O presente projeto de pesquisa tem como cerne a proposta de contribuição ao debate


acadêmico em torno da questão identitária dos povos quilombolas, mediante o cenário
de territorialização e desterritorialização, sendo também no Brasil a situação dos povos
quilombolas, marcada pelo desafio de domínio/posse dos próprios territórios na
compreensão geográfica e sociocultural em um cenário cada vez mais globalizado.
Quem são seus ídolos? O que escutam? O que leem? Com o que se identificam?
Dialogam com suas tradições? De modo que enquanto territórios que recorrem às
tradições como performances de resistências, a questão central do estudo busca
compreender como as tradições culturais e territoriais se entrelaçam com influências
globais, com a indústria cultural e as estruturas econômicas, moldando as identidades
em transformação dos jovens quilombolas. Tem como lócus empírico o Quilombo Caiana
dos Crioulos, na cidade de Alagoa Grande, Brejo Paraibano, justamente por ser o referido
território um lugar que alguns grupos tem buscado ressignificar suas tradições,
traduzindo-as em novos significantes, enquanto lugar-experiência-vivência e como
produto do turismo de base comunitária. Nesse estudo que se ampara
metodologicamente nos referenciais da antropologia e das ferramentas etnográficas, a
proposta se constitui em uma descrição densa dos costumes, formas intersticiais de
vivência e experiências entre os sujeitos, modos de significação e partilha de visões de
mundos intergeracionais, os quais encontram referenciais nos valores socio culturais do
grupo ou da sociedade capitalista.

Palavras-chave: Povos quilombolas. Territorialização. Identidades. Tradições culturais.

1 INTRODUÇÃO

O projeto de pesquisa em proposição, emerge da necessidade de compreender


as intrincadas relações que moldam a identidade dos jovens quilombolas diante das
tradições aludidas a esses povos historicamente, mediante o cenário contemporâneo
de influências culturais de sujeitos plurais, das interseccionalidades de raça, classe e
gênero e da capilarização dos elementos de referenciamento identitário promovidos
pela globalização e digitalização das formas de interação humana.
No âmbito racial, a pesquisa busca compreender as dinâmicas que permeiam a
identidade desses jovens, promovendo uma compreensão mais profunda da herança de
tradições e costumes dos povos quilombolas e as formas de tradução nesse cenário em
transformação. A territorialidade surge como elemento-chave, explorando como as
interações entre referências culturais tradicionais locais e influências globais se
entrelaçam, moldando a identidade em um ambiente local e global dos sujeitos plurais,
cujo imperativo global se encaminha para a desterritorialização, ou seja, para o
(re)conhecimento dos elementos que demarcam os sujeitos e os territórios na
contemporaneidade.
Na perspectiva de gênero, se torna relevante a análise de como as referências
culturais impactam experiências entre pessoas de diferentes expressões. A indústria
cultural, inserida na globalização virtual, desempenha um papel significativo, exigindo
uma análise crítica das representações culturais veiculadas pela mídia e seu impacto na
formação das identidades e expectativas.
Ao contextualizar o projeto no cenário global, há uma reflexão sobre as
implicações do capitalismo. Desse modo, a compreensão de como os jovens quilombolas
se posicionam diante das estruturas econômicas globais e suas estratégias de inserção e
consumo, contribui para uma análise abrangente das forças que moldam suas
identidades e posicionamentos interseccionais.
A justificativa para a realização do estudo se configura pela importância de
analisar como as referências culturais influenciam a construção da identidade socio
étnico-racial no contexto globalizado e da discussão emergente sobre vieses de raça e
gênero, cujas expressões assumem atualmente no debate acadêmico um espaço cada
vez mais presente, diante do uso de algoritmos e da inteligência artificial e da
necessidade de discussão das categorias e classificações como elementos dos
mecanismos de opressão.
Pessoalmente a realização do estudo se justifica como uma possiblidade de
continuidade de estudos a partir do Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação
Social, cujo lócus de estudo se deu no Quilombo de Caiana dos Crioulos no ano de 2014,
onde a comunidade vivenciava um processo de compartilhamento de suas vivências no
território, tendo como elemento fundamental suas tradições e cenários formatados a
partir de elementos de transformação dos recursos socioculturais em ativos de
experiencias do turismo de base comunitária. Protagonizavam na época de produção do
documentário como produto midiático que foi objeto de registro daquela experiência,
geralmente as mulheres nas expressões do coco de roda, elemento de forte tradição
local, as lendas e histórias do território e a gastronomia, denotando-se e a pouca
presença dos jovens.
Assim, o projeto propõe uma abordagem holística, visando não apenas
compreender, mas também apontar estratégias de resistência, preservação e
fortalecimento das identidades culturais dos jovens quilombolas no Brejo Paraibano,
considerando aspectos raciais, territoriais, de gênero, da indústria cultural e do
capitalismo e de que forma as tradições alegadas como elementos de resistência estão
posicionadas na atualidade.

2 PROBLEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO

Desse modo, o estudo elege como problemática de investigação as dinâmicas


contemporâneas de globalização, digitalização e as formas de influências culturais
plurais e discussões emergentes sobre raça, classe e gênero e o modo como impactam a
construção da identidade socio étnico-racial dos jovens quilombolas no Brejo Paraibano.
Em particular, como as tradições culturais e territoriais se entrelaçam com
influências globais, com a indústria cultural e as estruturas econômicas, moldando as
identidades em transformação dos jovens quilombolas? Qual é o papel das interações
digitais, algoritmos e inteligência artificial nesse processo, e como isso influencia as
expressões de resistência, preservação e fortalecimento de suas identidades culturais?
Em suma, a pesquisa busca apontar que mesmo em territórios de resistências
socioculturais como nos quilombos, é possível identificar e rastrear transformações
identitárias tanto na forma como o global é comunicado aos territórios e os elementos
de posicionamento dos sujeitos na periferia dos processos econômicos globais, quando
na forma como essas identidades emergem dos territórios, a partir dos signos de
validação da originalidade dessa comunidades, ou seja, a partir dos seus recursos
simbólicos.

3 OBJETIVOS

3.1 Geral
Investigar as referências culturais dos jovens quilombolas no Brejo Paraibano,
analisando como esses elementos influenciam e moldam sua identidade socio étnico-
racial em um cenário globalizado e virtual.
3.2 Específicos

Analisar quais as referências culturais na construção da identidade desses jovens,


considerando como tais elementos contribuem para sua autoimagem e percepção no
contexto social;
Apontar as dinâmicas de interação entre as referências culturais tradicionais e as
influências externas, especialmente aquelas provenientes da globalização e do ambiente
virtual;
Descrever as interpretações dos valores que gerações anteriores expressaram e
expressam a esses jovens como elementos de resistência;
Comparar as construções cognitivas que embasam as crenças dessas novas
gerações de sujeitos plurais e suas experiências diante das oportunidades atuais e como
as mesmas se apropriam do legado geracional.
Apontar elementos de percepção dos jovens como ameaças à forma como os
vieses raciais modulam a expressão dos sujeitos na atualidade no fenômeno da
virtualização e da globalização periférica.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

No escopo das ciências sociais e da antropologia, é imperativo fundamentar o


debate sobre a cultura e tradição em referenciais teóricos que possibilitem uma
compreensão aprofundada das práticas culturais. Para inaugurar esse diálogo,
recorremos à perspectiva de Clifford Geertz (1978), que oferece uma visão essencial
sobre a interpretação simbólica e o entendimento profundo das culturas. Geertz
concebe a cultura como um intricado sistema de símbolos e significados imersos nas
práticas e costumes dos povos. Destaca-se aqui a relevância de mergulhar nas
experiências locais e nos significados atribuídos pelos participantes de uma determinada
matriz cultural.
Num panorama mais amplo da antropologia, Marcel Mauss (2003), por meio de
sua obra seminal "Ensaios Sobre a Dádiva", enriquece o estudo em consideração. Mauss
proporciona uma reflexão profunda sobre as trocas sociais e rituais, oferecendo insights
preciosos sobre a interconexão entre cultura, tradição e reciprocidade. As contribuições
de Mauss instigam a pensar nos sujeitos plurais contemporâneos como entrelaçados nas
redes de significados e símbolos transmitidos por seus antepassados, delineando uma
continuidade dinâmica de herança cultural.
Arjun Appadurai (1996), por sua vez, lança luz sobre a contemporaneidade em
suas obras "Modernidade em Disputa" e "Dimensões Culturais da Globalização". Sua
abordagem ressalta a importância crucial da tradução cultural na era da globalização,
explorando como os objetos culturais transitam e são reinterpretados em diferentes
contextos. As reflexões de Appadurai desafiam a visão estática de tradição, evidenciando
as complexas dinâmicas de hibridização cultural que permeiam as interações globais.
Nesse sentido, ao reunir esses referenciais teóricos, buscamos não apenas
compreender a cultura e a tradição como fenômenos estáticos, mas como elementos
dinâmicos que se entrelaçam, transformam-se e ganham novos significados ao longo do
tempo. Essa abordagem teórica inicial visa criar um alicerce sólido para a análise das
vivências dos adolescentes quilombolas, reconhecendo que suas experiências são
moldadas por uma rede complexa de símbolos, significados e trocas sociais enraizadas
em suas tradições culturais.
No âmbito da Sociologia, a obra de Mary Douglas (2010) emerge como um
convite à reflexão sobre os elementos e práticas intrínsecas aos grupos sociais. Douglas
oferece um olhar penetrante sobre a complexa teia cultural que interpreta alguns
elementos como legítimos e outros como ilegítimos, delineando nuances que se
entrelaçam na matriz das estratificações sociais. Este entendimento, permeado por
juízos de pureza e impureza, revela-se como uma matriz sutil, mas penetrante, que
colore as categorizações sociais, refletindo sobre as dinâmicas culturais que moldam as
percepções do que é aceitável e reprovável em uma sociedade.
Pierre Bourdieu (2011), ao adentrar a relação entre cultura, poder e estratificação
social, aprofunda a discussão, destacando a função crucial das práticas culturais na
reprodução das hierarquias sociais. As formas de cultura não são meras expressões
artísticas, mas agentes ativos na manutenção e reprodução das desigualdades. Nesse
contexto, a cultura se torna uma ferramenta de poder, moldando não apenas os gostos
estéticos, mas também as oportunidades e desvantagens socialmente construídas.
A compreensão dos fenômenos de territorialização e desterritorialização,
aspectos intrínsecos à dinâmica social, ganha complexidade quando analisada sob a
lente da geografia de Haesbaert (2007) e da semiótica de Deleuze e Guattari (1995).
Ambos oferecem perspectivas interdisciplinares que transcendem a mera análise
espacial. Haesbaert explora territorialização como um processo de dominação e
apropriação do espaço, destacando sua relação intrínseca com as forças sociais que
delineiam fronteiras e espaços de poder. Por sua vez, a desterritorialização e
reterritorialização, sob a visão de Deleuze e Guattari, revelam-se como processos
dinâmicos, onde a desapropriação é seguida pela reconquista em novas configurações.
É crucial reconhecer que, embora a territorialização inicialmente possa parecer
um processo unívoco, sua complexidade se desdobra ao incorporar elementos
socioculturais, dinâmicas intersticiais e simbólicas. Território transcende a mera
delimitação geográfica, incorporando a riqueza de elementos culturais que permeiam e
dão significado aos espaços sociais.
Assim, ao mergulhar nas obras desses pensadores sociológicos, desvelamos
camadas profundas da interação cultural, do poder e da configuração territorial. A
reflexão sociológica aqui empreendida não apenas ilumina as estruturas aparentes, mas
também busca sondar as sutilezas que moldam as complexas teias sociais.
Embora não se trate de um estudo de curso histórico, mas de perspectiva
reflexiva das práticas dos sujeitos em interface com os fenômenos globais, ligados as
redes de cognição da cultura e das tradições tensionadas no presente, o estudo se
ampara na análise de autores como Munanga (2019) que se propõe a rediscutir a
mestiçagem no Brasil e apontar elementos da construção da identidade negra. Também
se ampara na interpretação da Gonzalez (1984) na perspectiva de gênero, que se
encaminha na compreensão das interseccionalidades na formação racial brasileira.
As transformações contemporâneas no debate e no posicionamento dos agentes
é explorado por autores como Collins (2015) chamando atenção para ” à necessidade de
novos padrões de pensamento e ação” (p. 16) no tocante à raça, classe e gênero. Chama
a atenção na análise da autora a necessidade de reconhecimento das dinâmicas de
opressão, que passam por reconhecer a parte do opressor em nossas ações que só
podem ser “afastadas” mediante um pensamento que seja possível reconhecer as
categorias de raça, classe e gênero como base da estrutura de dominação e
subordinação.
As questões possíveis de serem mediadas no debate sobre capitalismo e efeitos
nos grupos periféricos podem ser contemplados a partir de autores como Hall (2006)
que trata da relação entre identidade, raça e classe, considerando o impacto do
capitalismo na formação de identidades culturais. Já Fanon (2002; 2008) explora os
efeitos do colonialismo, racismo e capitalismo nas populações negras, principalmente na
África. Nessa mesma perspectiva, Hooks (2019) e Davis (2016) exploram a
interseccionalidade entre raça, gênero e classe, especialmente no contexto das mulheres
negras.
Alguns estudos locais realizados sobre as temáticas de identidade e território
apontam para um conjunto de análises diversificadas do Quilombo de Caiana dos
Crioulos. Souza (2014) propõe em sua Tese de Doutorado um “panorama étnico
territorial, espiritual e familiar como dimensões que se conjugam no cotidiano, dando
forma e dinâmica ao fluxo da vida comunitária” (p. 12). Pouco mais de vinte estudos com
o descritor “caiana dos crioulos” podem ser encontrados no Repositório de Teses e
Dissertações da CAPES (2023), com temáticas diversas como saúde pública, educação,
história e cultura.
Embora este estudo não se configure como uma análise histórica linear, mas sim
como uma perspectiva reflexiva sobre as práticas dos sujeitos imersos nos fenômenos
globais, ancoramo-nos em autores que traçam trilhas de cognição cultural e tradições,
sob a tensão contemporânea. O pensamento provocador de Munanga (2019), ao
rediscutir a mestiçagem no Brasil, oferece um prisma para a compreensão dos elementos
que moldam a identidade negra em meio a uma trama cultural complexa. A
interpretação de Gonzalez (1984) sobre gênero enriquece essa tapeçaria,
proporcionando uma visão interseccional na formação racial brasileira.
Neste terreno de transformações contemporâneas, ecoam as palavras de Collins
(2015), que nos convoca à reflexão sobre a necessidade de novos padrões de
pensamento e ação em relação a raça, classe e gênero. O cerne de sua análise reside na
imprescindibilidade de reconhecimento das dinâmicas de opressão, um reconhecimento
que transcende a mera identificação de opressores externos, demandando uma
introspecção sobre as contribuições individuais para estruturas de dominação e
subordinação.
A dialética entre capitalismo, identidade e classe encontra solo fértil nas reflexões
de Hall (2006), que desenha as interconexões complexas entre esses elementos,
ressaltando o impacto do capitalismo na tessitura das identidades culturais. Fanon
(2002; 2008), por sua vez, desvela os efeitos nefastos do colonialismo, racismo e
capitalismo nas populações negras, especialmente na África. O entrelaçamento das
experiências de raça, gênero e classe é aprofundado por Hooks (2019) e Davis (2016),
que mergulham na interseccionalidade, sobretudo no contexto das mulheres negras.
No contexto local, o Quilombo de Caiana dos Crioulos é palco de análises
multifacetadas. Souza (2014), em sua Tese de Doutorado, lança luz sobre um "panorama
étnico territorial, espiritual e familiar" que entrelaça as dimensões cotidianas,
conferindo forma e dinâmica à vida comunitária. Ao adentrar o Repositório de Teses e
Dissertações da CAPES (2023), depara-se com mais de vinte estudos sob o descritor
"caiana dos crioulos", explorando temáticas tão diversas quanto saúde pública,
educação, história e cultura.
Este panorama de reflexões e estudos locais, entrelaçado com as teorias globais,
nos convoca a um mergulho profundo na complexidade das interações culturais,
identitárias e territoriais. A tessitura dessa rica tapeçaria acadêmica demanda não
apenas um olhar amplo, mas também uma disposição para sondar as nuances e
contradições que compõem a intricada rede de fenômenos em questão.

5 METODOLOGIA

O presente projeto se propõe a uma incursão etnográfica profunda (Geertz, 1978) para
desvelar as vivências, tradições e referências culturais de adolescentes quilombolas, indivíduos
que, situados entre os 12 e 18 anos, no contexto de agenciamento dessa população (escolas,
grupos e relações familiares). Esta pesquisa, ancorada nos pilares teóricos da antropologia,
sociologia e história, desdobrar-se-á em um recorte metodológico composto por entrevistas
narrativas, observação participante, aplicação de questionários estruturados e interpretação
substanciada pela pesquisa bibliográfica e documental.
A escolha pela pesquisa etnográfica, uma abordagem qualitativa, se justifdica pela
necessidade de um mergulho nas práticas culturais desse grupo específico. A imersão do
pesquisador em seu ambiente natural, valorizando a observação participante e interação direta,
visa não apenas compreender, mas também contextualizar as dinâmicas culturais,
desentranhando os valores, crenças e comportamentos que permeiam a comunidade
quilombola.
O refinamento dessa abordagem se dá por meio de recortes específicos. A variação
etária, ao ser explorada, não é apenas uma categorização, mas uma janela para compreender as
diferentes perspectivas, desafios e experiências cruciais na fase de desenvolvimento dos
adolescentes quilombolas. A análise das experiências de gênero, por sua vez, não se limita a uma
mera dicotomia, mas pode oferecer insights sobre as manifestações das identidades de gênero
na complexa formação social e simbólica dos povos quilombolas. A diversidade de orientações
sexuais é abordada não apenas como uma categoria, mas como uma riqueza que amplia a
compreensão das identidades sexuais em trânsito, promovendo uma visão contemporânea na
análise.
O recorte racial, enfocado com crítica e sensibilidade, reconhece que as experiências dos
adolescentes quilombolas são profundamente enraizadas em sua herança cultural e histórica,
desencadeando uma análise aguda das influências raciais presentes em suas vivências. A ênfase
nesse recorte não se limita ao colorismo, mas abarca a complexidade das nuances raciais que
moldam suas experiências, destacando a interconexão entre o passado, o presente e a
construção de identidades individuais e coletivas.
Dessa forma, este projeto não é apenas uma exploração metodológica, mas um
compromisso com a compreensão integral e respeitosa das complexas dinâmicas culturais e
identitárias em um contexto quilombola. A pesquisa não se limita a captar, mas a interpretar as
vozes, tradições e experiências que compõem o vibrante mosaico de uma comunidade plural.

6 CRONOGRAMA

ETAPA MÊS/ANO
Curso de créditos obrigatórios e optativos Março de 2024 a Julho de 2025
Exame de proficiência em língua estrangeira Outubro de 2024
Defesa do projeto de pesquisa Março de 2025
Exame de qualificação Agosto de 2025
Pesquisa de campo Setembro de 2025
Análise de dados e escrita da dissertação Outubro a dezembro de 2025
Defesa da dissertação Fevereiro de 2026
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPADURAI, Arjun. Dimensões Culturais da globalização: a modernidade sem peias.


Lisboa, Portugal: Editorial Teorema, 1996.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: Crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk
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DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.
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FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
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GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva,
Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HOOKS, bell. Teoria Feminista: Da margem ao Centro. São Paulo: Perspectiva, 2019.
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional
versus Identidade Negra. São Paulo: Autêntica, 2019.
SOUZA, Wallace Gomes Ferreira de. Famílias, Território E Espiritualidades: Uma
Etnocartografia de Caiana dos Crioulos-PB. Tese de Doutorado. Ciências Sociais.
Universidade Federal De Campina Grande: Campina Grande, PB: UFCG, 2014.

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