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RESUMO
O presente projeto tem como objetivo o estudo das práticas das rezadeiras das
comunidades Quilombolas de Serra Branca-PB, analisando a transmissão oral do
conhecimento e examinando a relação entre as rezadeiras, ancestralidade e a preservação
das tradições quilombolas. A metodologia proposta envolve pesquisa bibliográfica,
análise qualitativa, e trabalho de campo nas comunidades quilombolas, utilizando a
história oral para capturar as vivências e práticas dos indivíduos. Como referencial teórico
uma das bases é a intelectual negra quilombola Beatriz Nascimento ressaltando que os
quilombos vão além de serem simples espaços físicos de resistência, sendo também
narrativas autênticas que surgem quando a comunidade negra tem a oportunidade de
contar sua própria história. A oralidade, conceito defendido por Hampate Bâ e Leda
Martins, assume um papel crucial como a ferramenta principal para transmitir essas
narrativas, preservando assim a riqueza cultural e histórica das comunidades. Conforme
a intelectual negra bell hooks, o ato de cuidar se transforma em uma expressão de amor
que não apenas fortalece os laços sociais, destacando a interconexão vital desses
elementos na construção e manutenção da identidade afrodescendente. A religiosidade,
conceito abordado por Santos ao falar em seu trabalho sobre as benzedeiras. Tendo como
enfoque os intelectuais negros e negras, desmestificando a visão eurocentrica do saber. O
estudo visa valorizar e transmitir os saberes tradicionais, ressaltando a importância
cultural e histórica dessas comunidades.
1 INTRODUÇÃO
Os estudos sobre as Comunidades Rurais Quilombolas no estado da Paraíba tiveram
início na década de 1990, cerca de três décadas após a exibição do documentário
Aruanda1. Desde então, as questões relacionadas às rezadeiras nas comunidades rurais
quilombolas têm recebido cada vez mais atenção. Atualmente, no estado da Paraíba,
existem 45 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares
(FCP), e em cada uma delas existem rezadeiras ou benzedeiras na comunidade.
As "rezadeiras" ou "benzedeiras" são mulheres que utilizam conhecimentos oriundos
do catolicismo popular, orações e súplicas para realizar benzeduras, com o objetivo de
auxiliar pessoas que buscam ajuda. A intenção é restaurar o equilíbrio material, físico e
espiritual do indivíduo que procura seus serviços. Para curar, essas mulheres podem se
1
O curta metragem de gênero documentário, Aruanda, foi produzido no ano de 1960 pelo paraibano
Linduarte Noronha, tendo como tema a comunidade quilombola do Talhado, originada o ex-escravo e
madeireiro ex-escravo Zé Bento e sua família que sobreviveu cultivando algodão e produzindo cerâmica
nos períodos de grande estiagem. Localizada no município de Santa Luzia – PB.
valer de diversos elementos, como ramos verdes, gestos em cruz com a mão direita,
agulha, linha, pano e orações. O ritual pode ser realizado presencialmente ou à distância,
por meio do uso de fotografias ou peças de vestuário, ou simplesmente por orações. Essas
profissionais são capazes de rezar pelos males de pessoas, animais ou objetos, sem que
estes precisem se deslocar até elas, bastando que lhes forneçam os nomes e locais de
residência.
A transmissão do conhecimento especializado de uma rezadeira geralmente ocorre
entre parentes próximos que dominam os saberes das rezas, como avós, mães e tias. No
entanto, algumas afirmam ter recebido esse dom diretamente de Deus. Apesar das
diferenças no tipo de aprendizado, seja imitativo ou sobrenatural, todas elas se declaram
católicas, rezam e são devotas dos santos populares, além de manejarem ramos verdes. É
importante ressaltar que essas mulheres não cobram pelas suas rezas, justificando que a
prática é uma forma de caridade.
Ao pesquisar sobre as rezadeiras e suas práticas, questões importantes podem surgir.
Neste estudo, optamos por aprofundar em um tópico crucial: quais os conhecimentos
ancestrais utilizados pelas rezadeiras em suas práticas de cuidado? Este trabalho contribui
para a compreensão de práticas populares de cuidado não-oficiais e não-profissionais. As
rezadeiras desempenham um papel significativo no tratamento de diversas enfermidades
e são frequentemente procuradas por muitas pessoas, assim como os médicos. Estas
práticas são complementares às práticas de profissionais da saúde e não são rejeitadas ou
excluídas. Ao contrário, as rezadeiras são vistas como agentes religiosos entre seus
clientes, que geralmente provêm do mesmo contexto social. Como Boltanski (1989)
observou, o curandeiro é um membro das classes populares que participa de seu modo de
vida e de pensamento.
No sentido de contribuir para a análise dos conhecimentos ancestrais das rezadeiras,
o contexto escolhido para o campo de pesquisa foi as comunidades quilombolas,
concentraremos nossa pesquisa nas comunidades quilombolas de Lagoinha, Cantinho e
Ligeiro de Baixo. Essas comunidades quilombolas foram reconhecidas pela Fundação
Cultural Palmares e estão localizadas na zona rural do município de Serra Branca, região
do Cariri Paraibano, a uma distância de 230 quilômetros da capital João Pessoa. Possui
uma população estimada de 13.637 habitantes, que se distribuem por uma área de 738
km², segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maioria
das comunidades negras rurais, como as Comunidades Quilombolas estudadas, é
composta por famílias camponesas que têm acesso às políticas públicas em todas as três
esferas governamentais: municipal, estadual e federal.
Quando o povo negro foi sequestrado de suas raizes, de suas famílias e do continente
africano, e foram levados para diversas partes do mundo, incluindo o Brasil que era um
dos maiores recebedores de pessoas escravizadas. O povo negro não trouxe livros,
escrituras, cartas ou outras formas de grafia/escrita, que falassem sobre seus povos, sua
língua, sua economia, sua estrutura social e suas culturas, sendo obrigados a deixar tudo
para traz incluindo familiares, além de suas tradições.
Apesar disso, a cultura negra vive no Brasil, de várias formas e misturas que foram
sendo necessárias para a expressão cultural do povo negro. Sendo usados de outros
métodos além da escrita para manter tradições conhecidas por essas pessoas. “Quando
falamos de tradição em relação à história africana, referimo-nos à tradição oral” (Bâ,
2010, pág. 167). Mesmo que os povos africanos não tenham trazido escrituras, eles
trouxeram suas memórias, sua história. Histórias essas que foram constantemente
silenciadas, mas nunca apagadas.
As comunidades quilombolas se diferenciam entre si e se interligam em
resistência e organização. Cada comunidade tem suas particularidades culturais e
geográficas, mas a suas similaridades com o uso da memória coletiva, sendo algo
simbólico, místico e espiritual que contribui para sua formação. “Sua mística percorre a
memória da coletividade negra e nacional, não mais como guerra bélica declarada, mas
como um esforço de combate pela vida” (Nascimento 2021, pág. 250).
Em comunidades Afrodiaspóricas2, a transmissão do conhecimento se dá através
da oralidade, desempenhando um papel central nas comunidades tradicionais. Esse
conhecimento ancestral, transmitido oralmente, não apenas faz parte da identidade e
cultura dessas comunidades, mas também é uma prova viva da resiliência e da capacidade
de adaptação dessas comunidades ao longo de séculos de desafios e adversidades.
Nas comunidades tradicionais, incluindo os quilombolas, há uma organização
social definida e cada indivíduo tem um papel a desempenhar na coletividade de uma
comunidade. Tendo alguém específico para desempenhar o papel de educador e sendo
aquele responsável por preservar as tradições, sendo sobre a memória da história daquela
comunidade ou sendo o cuidador do físico e/ou do espiritual. Essa pessoa recebe o nome
de griôs3, sendo o mais velho ou aquele reconhecido pelos integrantes da comunidade,
eles são os detentores da oralidade e da formação da comunidade.
2
Termo usado para se referir às comunidades negras que se formaram desde o período colonial fora da
África.
3
Griô ou Mestre(a) é todo(a) cidadão(ã) que se reconheça e seja reconhecido(a) pela sua própria
comunidade como herdeiro(a) dos saberes e fazeres da tradição oral e que, através do poder da palavra, da
A valorização da oralidade como meio de preservação cultural é uma
demonstração da sabedoria coletiva dessas comunidades. Nas histórias contadas pelas
rezadeiras, nas cantigas entoadas durante rituais, nas fábulas que explicam a relação com
a terra e a natureza, e nas rezas que curam, reside um conhecimento profundo que abrange
desde práticas medicinais até a relação com o divino e os ancestrais.
2 PROBLEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO
A minha vida acadêmica está relacionada e entrelaçada com minha vida pessoal e
minha identidade, enquanto mulher negra e quilombola. Sendo um caminho longo e
tortuoso para correlacionar essas experiências, acadêmicas e pessoais, para compreender
e aceitar uma identidade que historicamente era vista de forma negativa e pejorativa.
Tive muitos questionamentos e aprendizados durante meu percurso acadêmico.
Em 2017, iniciei a graduação em Licenciatura em Ciências Sociais no Centro de
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido-CDSA, da Universidade Federal de Campina
Grande-UFCG. Quando começo a graduação, levo meus estudos iniciais para a docência,
começando em 2018, no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-
PIBID, em Sociologia, coordenado pelo Profº Drº José Marciano Monteiro. Com o
programa aprendi sobre o ensino, elaboração de planos de aula e funcionalidades do
ensino e pesquisa sobre didática.
No meu terceiro ano de graduação, em 2019, comecei a fazer parte do grupo de
estudos coordenado pelo do Profº. Drº. Wallace Gomes Ferreira de Souza, grupo esse
intitulado de Núcleo de Estudos e Pesquisa em Etnicidades e Culturas-NEPEC, vinculado
a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com seus estudos voltados para os
grupos minoritários e temáticas raciais a exemplo dos quilombos, terreiros, religiões de
matriz africana, povos originários e ciganos. Foi quando comecei a conhecer a história e
teorias sobre os povos afrodiasporicos. Sendo um importante passo para conhecer sobre
minha própria identidade e ancestralidade.
Com o início do ano de 2020, veio uma pandemia e com ela muitos
desconhecimentos, inseguranças e outras oportunidades de conhecimento e vivências em
uma realidade que necessitava o distanciamento social. Foi quando tive a oportunidade
oralidade, da corporeidade e da vivência, dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da
tradição oral, transmitindo saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a ancestralidade e
identidade do seu povo.
de participar do Programa de Pesquisa e Extensão-PROPEX, da UFCG, que era intitulado
“Informar para coibir a violência doméstica e familiar durante a pandemia pelo
coronavírus”, programa esse coordenado pelo Profº. Drº. Valdonilson Barbosa dos
Santos. O programa foi voltado para informar sobre a violência no período da pandemia
e os programas voltados para ajudar as pessoas em situação de violência familiar.
Em 2021, ainda em período de pandemia e de forma remota, participei do
Programa Institucional de Residência Pedagógica-RPG, em Sociologia, coordenado pelo
Profº. Drº. José Marciano Monteiro. Com o programa pude vivenciar a experiência
pedagógica, podendo ter meu primeiro contato com a sala de aula e os alunos, elaborando
o planejamento para as aulas, a elaboração de atividades com jogos e culminâncias com
as turmas.
Quando iniciei na graduação meu interesse de estudo e pesquisa eram sobre as
religiões, como a exemplo das de matriz-africana, a doutrina espírita, as crenças no geral.
Ao iniciar a elaboração da minha monografia, depois de ter toda a experiência do curso e
ter passado pelo período da pandemia, senti a necessidade de me encontrar na minha
pesquisa, dessa forma decidi voltar meu trabalho para a comunidade Quilombola do
Cantinho. A pesquisa contribuiu para a formação da minha identidade e reconhecimento
de pertencimento à comunidade Quilombola.
O meu trabalho foi intitulado “Quilombo Cantinho de São João Batista: História,
Território e Parentesco”, com ela conheci a história do município e da comunidade,
descobri violências sofridas por causa do território e elaborei a genealogia da
comunidade. Durante minha pesquisa de campo comecei a fazer parte de um projeto de
pesquisa do NEPEC, coordenado pelo Profº. Drº Wallace Gomes Ferreira de Souza. O
censo quilombola, que está sendo realizado nas comunidades quilombolas tituladas de
Serra Branca - PB (Cantinho, Lagoinha e Ligeiro), que tem como objetivo saber a real
situação dessas comunidades em sete eixos: parentesco: perfil unifamiliar, educação,
trabalho e renda, saúde, território e meio ambiente, moradia e segurança alimentar e
organização sociopolítica. Sendo uma pesquisa que está em andamento.
Considerando o prosseguimento das pesquisas sobre os quilombos de Serra
Branca-PB, desejo unir meu antigo interesse em crenças à minha formação voltada para
o ensino. Na minha região, é comum recorrer a rezadeiras ou benzedores quando se está
desmotivado ou excessivamente cansado. Essas práticas me fizeram questionar como esse
conhecimento é transmitido de uma geração para outra. Será que é uma tradição familiar
ou é necessário ter um dom especial? Quem são essas pessoas que possuem uma função
espiritual tão importante em suas comunidades e qual é a sua história?
3 OBJETIVOS
4 REFERENCIAL TEÓRICO
4
No Brasil, o termo quilombo tornou-se sinônimo de resistência. Resistência atrelada à negação de uma
condição imposta que tentava, diariamente, transformar os africanos e seus descendentes, que se
encontravam na condição de cativos, em coisas.
Entretanto o termo quilombo não poderia mais ser utilizado legalmente, uma vez
que a definição proposta pelo Conselho Ultramarino de 1740 5 caia em desuso. Dessa
maneira, um debate envolvendo, principalmente, história e antropologia foi gerado em
torno da concepção de quilombo, como a questão levantada sobre o termo estar
“frigorificado” (Almeida, 2002, p. 47), ou seja, seu significado histórico não mais é
suficiente para englobar os arranjos desenrolados na pós-abolição. Entretanto,
compactuaremos com a percepção de que o conceito de remanescente de quilombos
engloba uma gama de fatores que extrapolam a noção de local de ex-escravo fugido,
abarcando terras doadas por antigos senhores, posseiros, entre outras (O’Dwyer, 2002).
Desse modo, acreditamos que uma aproximação entre a história dos moradores dessas
comunidades quilombolas, bem como suas transformações temporais, tendo como foco
memória dos moradores, são elementos cruciais nessa jornada (Arruti, 2006 e Mattos,
2006).
De acordo com Barth (2011), a identidade étnica ou etnicidade não é um elemento
estático, que se isola em uma espécie de ilha e se torna alheio a modificações de ordem
histórica, social e cultural, por exemplo. Para o autor, é a partir das relações estabelecidas
com o outro – o diferente – que ela é modificada. Desse modo, a identidade quilombola
se transforma, seguindo o raciocínio de Barth, em um grupo étnico, pois é por através
dela que os moradores de Lagoinha, Ligeiro de Baixo e Cantinho, tanto em relação a sua
origem quanto ao meio ambiente no qual estão inseridos, nesse caso, as comunidades de
Serra Branca-PB.
Ao falarmos de comunidades quilombolas, temos uma grande referência teórica
que é Beatriz Nascimento, figura central na afrocentricidade brasileira, destaca a
importância dos quilombos como espaços de resistência e autonomia para o povo negro.
A autora faz uma grande pesquisa nos quilombos localizados em Minas Gerais,
abordando o significado, a organização social e a história dos quilombos.
Segundo Beatriz Nascimento (2021), as palavras africanas não têm apenas um
significado no Brasil, pela estrutura da língua e pelo contexto histórico do país, a palavra
sendo um instrumento de invocação, evocação e revelação. “Nesse sentido, “quilombo”
marca um processo de ação, atividade, conduta dentro daqueles três princípios antes
5
De acordo com Moura (1981, p. 16), o Conselho Ultramarino definia quilombo como “[...] toda habitação
de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados
nem se achem pilões neles”.
mencionados” (Nascimento, 2021, pág. 248). O que retrata a trajetória percorrida pelas
comunidades quilombolas no Brasil.
Infelizmente ainda vemos e nós é ensinado que os quilombos são algo antigo, que
foi congelado no tempo e visto como no período colonial de forma criminosa. Sendo
apenas um reduto de pessoas escravizadas que fugiram do período escravocrata. Os
quilombos têm suas histórias apagadas, mas podemos ver nas obras de Beatriz que há
muito mais a ser visto, sendo essa uma grande inquietação da autora, a história do povo
negro ser reduzida a escravidão.
Os quilombos têm sistemas sociais muito bem construídos, levando em
consideração as culturas dos integrantes, a geografia da localidade da comunidade e as
possíveis fontes de renda que possibilitaram a permanência das pessoas (Beatriz, 2021).
Sua teoria enfatiza a necessidade de contar a história afro-descendente a partir da
perspectiva própria, desafiando narrativas dominantes. Sendo inclusive o nome de sua
obra “uma história feita por mãos negras”. Nascimento propõe que a compreensão da
história do povo negro deve ser conduzida por eles mesmos, promovendo a valorização
da identidade, cultura e contribuições significativas para a sociedade.
Partindo da necessidade de que Beatriz retrata de que a história do povo negro
precisa ser contada pelos próprios agentes, ressalta o pouco que conhecemos, incluído de
nossos próprios lares e para conhecer e necessário ouvi, os detentores dessas falas. Essas
histórias e sabedorias tem uma forma própria de ser repassada, através da oralidade, da
tradição oral.
Segundo Hampate Bâ (2010), nas nações modernas, onde a escrita predomina o
meio de registrar e conta as histórias, as comunidades/povos que utilizam da oralidade
como ferramenta de repassar conhecimento, são tidas como sem cultura, sem sabedoria.
O que é uma metodologia bastante utilizada em comunidades tradicionais, sendo passado
o conhecimento dos mais velhos para os mais novos, de mestres aos discípulos, um
conhecimento que utiliza da memória, da experiência e da observação.
A quem questione a confiabilidade dos registros orais que são utilizados nessas
comunidades e quem utiliza da oralidade como metodologia de pesquisa. “O testemunho,
seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o
homem” (Bâ, 2010, pág. 168).
Hampate Bâ (2010), ressalta a importância da tradição oral na preservação e
transmissão do conhecimento africano. Sua teoria destaca que a oralidade serve como
uma fonte rica de sabedoria, mantendo viva a história, os valores e as tradições do povo
africano. Bâ propõe que a valorização da oralidade é essencial para uma compreensão
autêntica da cultura africana, reconhecendo-a como uma expressão válida e vital da
identidade.
Segundo Leda Martins (2003), a textualidade dos povos africanos, o repertório
narrativo, poético, a linguagem e a aprendizagem, apresenta o real que não se encontra na
escrita que conhecemos. “A memória, inscrita como grafia pela letra escrita, articula-se
assim ao campo e processo de visão mapeada pelo olhar, apreendido como janela do
conhecimento” (Martins, 2003, pág. 64)
Um dos conhecimentos transmitidos pela oralidade é o ato de cuidar, do bem-estar
dessas comunidades quilombolas, o cuidar espiritual e os indivíduos que estão nessa
função são os chamados benzedeiros (as), rezadores (as). Tendo suas práticas ligadas e
transmitidas pelos ancestrais, sendo posto como um ato de amor nessas comunidades, por
não haver a troca financeira desse cuidado.
6
Escritora afro-americana é uma das vozes mais emblemáticas do feminismo negro. O nome "bell hooks"
foi inspirado na sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. A letra minúscula pretende dar enfoque ao conteúdo
da sua escrita e não à sua pessoa.
a riqueza cultural e histórica da comunidade. O cuidado, na visão de hooks, torna-se um
ato de amor que fortalece os laços sociais, empoderando indivíduos e comunidades.
E ao trazer sobre tema do cuidado nas comunidades quilombolas, as benzedeiras
(os) têm suas práticas ligadas à religiosidade, à crença e não a uma religião específica. É
possível ter rezadeiras (os), católicas, evangélicas, de matriz africana, entre outras. E a
partir da reza, são tidas como “cuidadoras” do outro a partir da religiosidade.
6 CRONOGRAMA
Imagem 1 – Cronograma do projeto
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