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1.

Os povos nativos africanos que falavam idiomas do tronco linguístico dos bantu formam o
primeiro e maior grupo étnico vindo para o Brasil através da diáspora, representando cerca de
70% do total de africanos em todo período escravagista. Este povo influenciou profundamente
nossa cultura, sobretudo na língua (palavras utilizadas no português abrasileirado), na dança
(samba e capoeira), na música e na culinária.

2.

O termo Preto Velho é a união de duas palavras de suma importância para o entendimento
desta corrente, pois quando entendemos a palavra Preto (associado a cor da pele) ao velho
(uma conotação ao tempo vivido) entendemos que estamos em contato com espíritos que
comungam com tais identidades e culturas. Este é o perfil que as pessoas procuram, quando
adentram numa gira desta corrente, no terreiro, buscando justamente a principal função social
que ela exerce, a escuta.

3.

Mesmo sendo diretamente ligados a escravização, há manifestações que demonstram que


estes espíritos tiveram uma vivência humana logo no início do século XVI, vindos estes
diretamente de África. Nos estudos realizados são os Pretos Velhos eram a maioria de espíritos
que representam aqueles que viveram a escravização, trabalhando dentro das casas dos
colonizadores, nas ruas ou até nas lavouras, de maioria nascidos aqui no Brasil, que viveram
imersos ao cristianismo, participando da vida religiosa católica e assumindo tal costume
religioso, os mais presentes nos cultos aos Pretos Velhos na Umbanda atualmente.

4.

E também há uma grande que passaram viver nas matas, os fugidos e os resistentes as
condições escravagistas, sendo estes mais atuantes nas práticas religiosas africanas,
conservando suas culturas de cura baseada nos próprios saberes adquiridos ainda no
continente mãe, hoje chamados de Pretos Velhos Quimbandeiros.

5.

Na senzala, os mais velhos eram responsáveis em inserir os mais novos nas regras e costumes
daquele espaço de escravização. O ancião deveria manter as boas relações e conservação do
sentimento cooperativo e subserviente dos demais, utilizando de vasta sabedoria,
transmitindo esperança e positividade diante daquela situação tão adversa. Era o mais velho,
também, quem cuidava das crianças, para que as mães pudessem trabalhar, como escravas.
Era também função do mais velho controlar e catequizar os jovens, que não resistiam a
catequização e transgrediam as regras, causando desordens. Além de ensinar os serviços da
casa, lavouras, cuidar das criações, realizar a manutenção dos espaços da casa grande, senzala,
terreiro entre outros.

6.

Nos terreiros de Umbanda, quando os pretos passaram a manifestar, a função deles não era
diferente da que exerciam enquanto vivos, além de aconselhar, afagar, orientar, eram os
responsáveis pelo percurso a ser trilhado pelos mais novos. Então essa corrente organiza o
terreiro material e espiritualmente, priorizando as relações humanas, pois é ela quem realiza
as maiores mudanças sendo os pretos velhos o mais pensante e organizador das ações a serem
qualificadas no espaço, espiritualidade e os frequentadores, sendo muitas vezes o guia chefe
do terreiro.

7.

A presença do Preto Velho nos terreiros é respeitada por todos, sejam participantes das
correntes, consulentes, visitantes ou outros espíritos, que nunca contradizem a palavra do
Preto Velho, visto que a idade avançada é sinônimo de sabedoria em todas as culturas
africanas e indígenas. Representando também a função de cuidador e, resgatando a ideia de
que espíritos infantis não seguram a força espiritual da corrente, o Preto Velho sempre esteve
presente, baixando antes e se despedindo após o trabalho das crianças.

8.

Mesmo tendo muitos espíritos dessa corrente católicos, alguns fazem valer através do encruzo
(encruzilhada) de madeira, como amuleto e que as pessoas acabam por confundir com a cruz
cristã. Tem também aqueles que carregam um patuá pendurado do pescoço, são os mandinga.
O ponto riscado de um bom preto velho, principalmente os de origem bantu, sempre traz um
elemento da dikenga nas entrelinhas. A cruz cristã é mais uma obra construída do colonizador.
Preto velho não toma somente café ou vinho, ele também gosta de um bom marafo. Nem
todos fumam cachimbo, muitos preferem um paiêro, ou até mesmo um charuto. Alguns
dançam livremente sem bengala, são alegres e falantes, outros são mais sérios, de pouca
conversa e não há nada de errado nisso.

9.

Enfim, não há espaço de culto ancestral baseado nas culturas africanas, de quaisquer vertentes
existentes, um terreiro que não cultue o Preto Velho, pois a presença desta corrente identifica
e prepara o espaço de culto aos espíritos ancestrais, tornando-o sagrado, firme e
representativo. Cultuar o Preto Velho é sem dúvida resgatar o valor, a resistência e a
magnitude das culturas e ancestralidade africana.

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