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CORRENTE DOS PRETOS TRABALHADORES

1.

Todo umbandista entende a corrente dos pretos sendo representada pelos espíritos anciãos de
origem ou descendência africana, que possui largo conhecimento da magia e filosofia africana
bantu, utilizando disto para orientar seus descendentes e pupilos.

2.

Diferente do que muitos pensam, a corrente dos pretos velhos não é a única que representa a
cultura africana, há outras correntes, como a dos espíritos que representam os africanos e
descendentes escravizados, com características de pessoas novas, aquelas que estavam em
idade adulta de trabalhar nas lavouras, nas cozinhas e ruas, exercendo o trabalho escravo do
qual tanto marcou nosso povo no Brasil. São aqueles que possuem os mesmos atributos dos
Pretos Velhos, curando pelo conselho e também pelas histórias, conversas e "chamadas de
atenção", pois o baiano se apresenta de idade mais nova que o Preto Velho!

3.

Durante muito tempo se acreditou que os espíritos da corrente dos pretos trabalhadores eram
de sacerdotes do candomblé, oriundos da Bahia, pois muitos detinham conhecimento do culto
de orixás, por isso a ideia de uma corrente volta somente a espíritos baianos, mas sabemos
que há cangaceiros, ribeirinhos, mineiros e trabalhadores em geral, todos eles brasileiros.
Podemos chamar esta corrente de “pretos novos” ou “pretos trabalhadores” que,
popularmente são conhecidos como “baianos” ou “mineiros” nos terreiros de umbanda,
dependendo da região deste país, apresentando características desta terra,
predominantemente nordestinas, nas não somente do estado da Bahia, mas do que hoje
entendemos como todos os estados da região, sendo diversos entre eles.

4.

Estes espíritos identificam diretamente com o trabalho, seja ele braçal, comercial ou
doméstico, visto que diferentemente do restante do mundo, o nosso país possui seu povo
chamado brasileiro, com sufixo “eiro”, que identifica puramente como trabalhador, assim como
pedreiro, mineiro, marceneiro, borracheiro, entre outros. Evidente prova do quanto o povo
desta terra é movido pelo trabalho. São espíritos de nordestinos, sejam eles ribeirinhos, rurais,
das vilas ou interioranos, que carregam suas tradições, culturas e crenças muito latentes nas
manifestações, fazendo questão de mostrar formas de falar, vestir, comer e beber com muita
alegria e descontração.

5.

Tal corrente passou a ser presente no culto ancestral do Sudeste dentro das engiras de pretos
velhos da macumba carioca, quando houve maior migração dos nordestinos para o RJ, entre as
décadas de 1930 e 1970. Assim como Zé Pilintra, os baianos podiam manifestar nas correntes
dos povos da rua representando o povo trabalhador brasileiro, que não foge a luta e cria
estratégias para conciliar o trabalho árduo, semi-escravizado, com a alegria pela vida. São os
vendedores, donos de botecos, trabalhadores das roças e minas. Cozinheiras, bordadeiras,
vendedoras, além de grandes conhecedores das culturas afro-indígenas. Muitos espíritos
contam que praticavam o culto que hoje estamos resgatando, de cura ancestral. Sabemos que
nas regiões do nordeste, assim como em algumas regiões do norte e do sul essa corrente não é
chamada de baianos, e sim de mineiros. Com esse nome se apresentam em maior número
espíritos de trabalhadores dos minérios como os carvoeiros, garimpeiros e outros, que
carregam a cultura dos povos das Minas Gerais.

6.

Assim como os baianos se apresentam alegres, dançam, cantam, fumam, comem e bebem. São
desafiadores, superprotetores, conhecedores de mandingas potentes para fazer e desfazer
feitiços, demandas e magias. Possuem características parecidas com os Pretos velhos, na
função de aconselhar sendo eles mais enérgicos, sinceros e contadores de “causos”, para
exemplificar o que querem dizer. Auxiliam na busca de empregos, sucesso em avaliações,
concursos e demais necessidades humanas que necessitam de esperteza e inteligência.

7.

Geralmente os espíritos nordestinos são muito devotos a santos, milagreiros e até orixás. Isso
prova o quanto são conhecedores das religiões e cultos, pois é no Nordeste que o catolicismo
popular se faz mais intenso e evidente, assim como o catolicismo na Bahia e Minas Gerais se
constituíram de forma genuína, com igrejas banhadas a ouro e grande sincretismo, formado
pelas irmandades. Por este motivo, os espíritos que manifestam na corrente dos Pretos
Trabalhadores carregam muito sincretismo, principalmente nas cantigas a eles entoadas nas
engiras de umbanda. Isso não quer dizer que nós, por manifestarmos uma entidade sincrética,
devemos ser sincréticos também, porém é inegável a importância de respeitarmos a
identidade dos espíritos.

8.

Isso não quer dizer que tais crenças fazem deles menos feiticeiros, muito pelo contrário. A
corrente dos baianos é muito poderosa no feitiço, mandingas e, principalmente, nos
conhecimentos para desmanchar demandas. Tudo isso dentro da cultura africana, seja ela
bantu ou Yorubana, e indígena, pelos ricos contatos que tiveram com os povos nativos desta
terra. Por isso dizem que criança nem exu desmancham o que baiano apronta, pois maiores
macumbeiros que baiano, na umbanda, dificilmente há.

9.

A baianada deveria ser curinga em qualquer engira de umbanda, pois se dão muito bem com
boiadeiros, crianças, marujos, exus e, principalmente, pretos velhos. Um baiano para resolver
problemas de emprego e presepadas de um filho de pemba ou consulente problemático é
perfeito, porque eles não têm papas na língua e contarão uma história para explicar como um
filho deve agir e se comportar. Não há maravilha maior do que ser acompanhado por um
espírito com esta identidade, pois eles nos jogam pra frente, nem que seja com um empurrão
ou chute no traseiro!

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