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Discente: Laiza Setime Silva

Docente: Karla Carloni


Instituto de História
Relações Internacionais, 2º Período – novembro de 2022.

Atividade Final

INTRODUÇÃO

A priori, para a ampla compreensão do período republicano no Brasil, faz-se necessário o


seguimento por acontecimentos emblemáticos que, ajudaram a construir figuras, representações e
ideários no cenário político fundamentais.

Dessa maneira, o presente trabalho busca inicialmente traçar um panorama pontual ao


fenômeno da Primeira República, os eventos quais, antecedem a Revolução de 1930, o contexto do
Pós Abolição e seus dissidentes, o papel das Mulheres na formação de sua cidadania, a construção de
uma originalmente democracia brasileira, o período ditatorial — Golpe Militar 1964 — e o processo
da reabertura política, assim, descrevendo tal conjuntura atuante em seu auge contemporâneo.

O FENÔMENO DA PRIMEIRA REPÚBLICA

A análise feita demonstra periodicamente escolha de um ‘espaço tempo’ utilizando-se de


noções de poder — científico e intelectuais — dos historiadores ao designar aqueles pertencentes nele,
suas posições, importâncias e construções. Assim, inicia-se a urgência da periodização dos
acontecimentos históricos brasileiros, como o caso do estudo da ‘Primeira República’ ou ‘República
Velha’, pois a posteriori pôde-se entender os artifícios formuladores que, puderam moldar a
mentalidade civil — essa terminologia foi muito utilizada durante os primeiros regimes ditatoriais em
1930, o Estado Novo, teve o intuito de difundir a imagem de um momento atroz da história.

De antemão, Primeira República e reduzi-a a tal definição seria, dessa maneira pôr a
margem uma grande parte da história. O período da Primeira República teve seus percalços, desafios e
situações atenuantes, apesar disso, foi um momento importante na construção do país, assim, a
identidade nacional estava se desenvolvendo.

“O golpe que instalou o Estado Novo, uma ditadura com chefe civil amplamente
sustentada por forças militares, em especial pelo Exército, já foi destrinchado e caracterizado
como um “golpe silencioso”. (GOMES, ABREU, 2009)
A criação desse projeto político, intentou a divisão da história, composta pelo segmento
da Proclamação da República e a Revolução de 1930 — na qual, esse Estado Novo seria benevolente,
libertando o povo brasileiro desse despreparo político no que tange a sua atuação cidadã, consumando
suas verdadeiras necessidades, com a promessa de uma estratégia verdadeiramente nova de governo.

“O objetivo é destacar como ele foi capaz de abarcar e esgotar a experiência política,
social e cultural da Primeira República em um tipo de narrativa que, identificando, selecionando e
valorizando apenas determinadas vivências do campo da política formal, transforma-as em símbolos do
fracasso da experiência liberal do período, como um todo.” (GOMES, ABREU, 2009)

Em uma sociedade harmônica as vivências partem de um mesmo caminho, a pauta social


não possuiria fragmentações, mesmo que, no período diferentes coletivos entendessem suas
atribuições de cidadania e, dessa maneira, propunham iniciativas para os campos da educação, a saúde,
economia, trabalho e outras formas de expressão. Portanto, seria um equívoco perpetuar com esse mito
de que o povo brasileiro estava ‘alheio ou bestializado’ as diversas mudanças que, ocorriam ao seu
redor. Faz concordar o apagamento de uma participação política ativa, a criação de uma consciência
que ignora a capacidade intelectual de seus civis, diminuindo suas associatividades — ao corroborar o
discurso de que, o Estado Novo traria o esclarecimento políticos dos antigos modelos os quais, eram
apresentados de forma fraudada, ilegítima, e principalmente corrupta.

Ângela de Castro Gomes e Martha Abreu, mais uma vez, relembram as falhas do período,
ou as legislações que, eram redigidas em função de sua própria violação, dessa forma existiam
medidas cabíveis para a contravenção do liberalismo político no país. Tanto que, o fenômeno do
Coronelismo — caracterizado pelos interesses privados acatados de forma arbitrária por aqueles, que,
de forma datada até a década de 30, possuíam um título de renome/um cargo
social/econômico/político que pudesse usar da força para realizar suas vontades. Pra ciência política, é
um fenômeno datado até o momento específico da década de 30, no entanto, suas aplicabilidades
podem ser evidenciadas na sociedade até os dias atuais.

No voto de cabresto, o ideal patriarcal mantinha a necessidade de tutela para com o povo,
assim, somente uma figura de maior entendimento intelectual os designaria a um progresso na política.
A política do ‘café com leite’ ao receber tal título, não compacta sua dimensão pois, o que existia era a
ausência daquela considerada pelo senso comum da “aliança café com leite” ensinada por tantos anos
nas aulas de história tradicionais, assim sendo, o que ocorria entre os estados não era uma
comunicação tão restrita entre Minas Gerais e São Paulo. Mas sim, um conjunto de oligarquias
hegemônicas, as quais os políticos inseridos nesse contexto lideravam os processos de sucessão e
inserção política de uma nova personalidade representante ativa - senadores, governadores, deputados.
Portanto, a verdadeira aliança exclusiva destes dois estados tão evidenciados só ocorre no
final da primeira República, quando após diversos rodízios entre estados e governos, aquele que
estavam em concordância - Minas e SP - resolvem, dessa maneira buscar formas conjuntas de
recolocar um presidente paulista no poder, basta lembrar que o cenário político brasileiro não era
estável, em outras palavras, registrava uma série de conflitos que quando solucionadas geravam novas
alianças entre os estados.

Por isso os historiadores tiveram papel chave ao demonstrarem esses acontecimentos e,


mesmo assim, trazerem a reflexão da importância do desenvolvimento desses pilares democráticos – o
desestímulo do voto cabia a uma atuação limitada da cidadania nesse momento mas, as eleições foram
fundamentais para a vigência de um sistema político – colocava as elites em um espaço de competição
pelo poder, ao renovarem seus benefícios e, sempre ir em busca de novos territórios de alcance
quando, influenciavam no sufrágio de outras camadas da sociedade.

Ao delimitar o insucesso da Primeira República, diante seus políticos, teóricos, atores


civis e intelectuais, na legitimação desse perfil republicano brasileiro que necessitava suprir um amor
incondicional a sua pátria, valorizar suas etnias. Dado que, acreditava-se existir uma hegemonia racial
no país o qual, posteriormente abordarei esse pretexto ludibriado das igualdades de posições que, os
indígenas, negros escravizados e portugueses ocupavam na Nação.

Assim, quanto maior o afastamento desse período, melhor a criação de uma perspectiva
política limpa, trazendo uma justificativa aos regimes autoritários posteriores — num pilar vantajoso
somente a um pequeno grupo da sociedade, reforçar a incapacidade popular do discernimento político,
intenta constituir um cenário de disputa por interesses, poderes e privilégios que, pretendem acatar as
elites oligárquicas repaginadas ao longo da história. O Estado Novo, utilizou-se massivamente se seus
artifícios e investimentos nas esferas dos meios de comunicação, suas propagandas políticas
reforçavam traçar uma modernidade, concebendo uma verdadeira cultura brasileira, intitulando aquilo
que, seria de fato pertencente ao país, distinguindo-se de seus resquícios monárquicos europeus,
legitimando o regime e apropriando-se precisamente da memória popular.

Na Primeira República, diversos agentes sociais, como intelectuais, professores,


maestros, músicos populares e o variado público dos teatros e festas populares, formado por setores
médios e trabalhadores, experimentaram, em meio a muitos conflitos, a construção da nação – e
também da nação republicana – em termos culturais.

Ademais, a atuação do povo nos momentos antecedentes a república entre o século XIX e
XX não se limitavam, compondo camadas sociais, fazendeiros, profissionais liberais, jornalistas,
professores, estudantes, militares, comerciantes, operários, funcionários públicos e entre outros
importantíssimos atores, demonstram que, o novo regime não foi instituído somente pelos militares – a
população, em manifestação a José do Patrocínio iniciava seus exercícios de cidadania ao proclamar a
República na Câmara Municipal, marcando sua presença nos seguintes anos do regime.

Mostrou-se tão importante na instituição do Estado Novo, ferramentas políticas que,


garantissem o apaziguamento as teias construtivas de formação governamental brasileira. Explícito na
fala do Presidente Campos Sales, que pretendia legitimar a política centrada no Estado:

“É de lá [dos estados] que se governa a República, por cima das multidões que tumultuam, agitadas, nas ruas da
capital da União” (Sales, 1908, p. 252)

Contudo, parece contraditório dizer mas havia sim, povo ativo o suficiente para
intimidação do sistema político, embora seus atos não fossem sentidos de imediato suas consternações
deixavam expostas as queixas e as mazelas dissidentes desde os tempos do Império – as revoltas
populares foram concebidas em natureza de uma conquista por, defesa das delimitações arbitrárias do
Estado, conflituosamente as legislações iam de encontro as suas virtudes, tradições e culturas – por
exemplo: Revolta da Vacina (1904), Revolta da Chibata (1910) e nas grandes greves de 1917-19 (As
greves operárias).

“Apoiadas por uma imprensa agressiva, as associações operárias lutavam por


maiores salários, melhores condições de trabalho, contra medidas repressoras como a Lei Adolfo
Gordo de 1907, que previa a expulsão de “agitadores” estrangeiros, e por causas mais amplas
como o pacifismo” (GOMES, ABREU, 2009)

Por isso, até 1922, as movimentações de partidos propriamente compostos por operários
não obtiveram sucesso, sem forças ficavam à mercê de intenções golpistas de outros setores da
política. Um fato contundente ocorreu em 1918, quando no Rio de Janeiro, organizações que
denominavam-se anarco-sindicalistas intentavam um assalto ao Palácio do Catete por meio de uma
greve geral, acreditavam contar com apoio de praças do Exército – inspirada na revolução bolchevista
ocorrida no ano anterior – mesmo assim, a rebelião foi repreendida por denúncias e teve de ser
abortada.

“Após 1922, o movimento operário entrou em descenso. Seu maior impacto foi
indireto e retardado. Após 1930, a política social e trabalhista entrou na agenda dos governos
para não mais sair. Além da ação espetacular das greves e revoltas, havia também atividade,
embora menos organizada, em torno de problemas cotidianos.” (GOMES, ABREU, 2009)

A população das ruas e do campo compreendiam de reinvindicações diferentes, que, no


meio urbano pretendiam atender militares, civis, operários e trabalhadores girando em torno de
segurança, melhoria dos serviços públicos básicos e qualidade nas condições de vida, os ruralistas,
assim sendo, traziam motivações consternadas na pecuária, a agricultura, cunho religioso e político
que, às vezes eram atendidas quando recortadas a pequenos casos. Os movimentos de Contestado e de
Juazeiro foram importantes exemplos.

As questões políticas que, divergiam dos seguimentos da Constituição tinham de ser


conquistadas pela luta ou a negociação – vale destacar que, o ambiente urbano sempre recebeu maior
visibilidade e, assim suas consternações tinham alcance mais protegido que, aquelas empreendidas no
campo onde, a lei não era usada como primeira fonte de julgamento, mas sim, as delegações arbitrárias
dos grandes donos de terras e as autoridades rurais.

Assim, podemos concluir que, a Primeira República ao ser repaginada com o Golpe de
1930, iniciou-se com suas principais construções – a fraude nos postos eleitorais e, a incorporação da
área militar na política, continuamente com oligarquias dissidentes – caracterizou-se na comunicação
entre os setores intelectuais, urbanos, operários e o campo. Diferenciou-se em seus resultados pois, o
campo político foi revigorado, com um Estado forte, as questões sociais obtiveram maior enfoque e, os
sindicalismos entendidos como ponto urgente tiveram de ser debatidos, com um grande volume dos
movimentos populares os intelectuais, criadores, artistas, músicos e pensadores de sua época
construíram papel importantíssimo na sociedade política nacional.

O PÓS ABOLIÇÃO NO BRASIL

Os estudos sobre o Pós Abolição representam paralelamente uma profunda revisão da


história política nacional, ao ressignificar em muitas questões os pontos outrora legitimados de
opressões, violências e agressões acometidas aos negros e negras inseridos nesse período. Portanto,
esse processo ocorreu de maneira longa e tortuosa, iniciado em 1850 com a Lei Eusébio de Queiroz,
somente teve forma legitima em maio de 1988, ao instituir-se a Lei Áurea. Nesse cenário, um ano após
a primeira legislação de abolição à escravidão ocorreu a proclamação da República, em 1989, um
novo sistema político que, não assegurava ganhos civis materiais, ou qualquer tipo de ressarcimento de
seus direitos por um viés institucional, os deixando em local marginalizado da sociedade política.

Sendo assim, destacar-irei que, a população negra percorreu um profundo caminho para
sua liberdade, resistência e uma verdadeira luta por sua sobrevivência no país, seus locais de espaço
sociais eram diminutos assim, os libertos, ex escravizados e seus descendentes compuseram
movimentos de mobilização e conscientização racial brasileira – a partir da instituição de grêmios,
associações, clubes e conjuntos nos diversos estados capitais – exemplo a Sociedade Progresso da
Raça Africana (1891) e Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902).

Um exemplo notório também, foi a Imprensa Negra, a qual jornais, mensagens, avisos e
reclamações populares eram impressas por pessoas negras da época, destacando a necessidade de se
colocarem nos espaços das comunicações pois, não havia é claro, representatividade alguma aos seus
discursos, ocorrências ou formas de entender suas lutas.

No final do século XIX e até metade do século XX houve a criação da identidade do


Estado brasileiro como algo reformado, objetivando seus desenvolvimentos capitalistas, econômicos
tanto internos quanto externos, revelavam que, a posse dessa cultura da escravização atrasava por
demais esses processos. Devido o retardo desenvolvimentista nessa área, era necessário a instituição
efetiva de legislações que, reprimissem essas formas de trabalho, as quais em nada agregavam ao
Estado Novo. Mesmo assim, o país sempre foi aberto as brechas em sua Constituição, o que prolongou
esses contextos semelhantes e verdadeiramente escravizadores dos afro-brasileiros e, os indígenas no
Brasil.

Assim, é equivocado continuar a difundir os argumentos dos intelectuais dessa época que,
pregavam a existência de uma democracia racial e social no país, esse imaginário apresentava-se
distante devido as explícitas segregações, ramificações as quais, ainda, a divergência de patamar das
classes no que concerne aos âmbitos de raça, gênero e posição social. Foi-se propagado o destino
conhecido como “da senzala a favela”, onde, os intelectuais, cientistas, produtores de conhecimento do
momento reproduziam esta mentalidade racista e silenciosa de uma democracia racial que não existia
realmente. (ABREU, 2020).

Portanto, o Movimento Negro possuiu fases emblemáticas de atuação, embora seus atos
fossem sempre reprimidos por terem caráter contestatório nos regimes políticos que se sucederam, nos
anos de Vargas teve de ser realizado por meio de inúmeras barganhas legislativas para a reafirmação
racial no país, elevar os níveis econômicos e intelectual das pessoas de cor, os ingressar em atividades
sociais e administrações importantes para o Estado, consequentemente, foi enfraquecido porque seus
ideais eram considerados, é claro, subversivos.

Esse contexto não impedia os negros de continuarem suas lutas, com suas associações
promoveram o importantíssimo TEM – Teatro Experimental do Negro – em 1944 que, intentava
montar um grupo de teatro formado essencialmente artistas de cor, os movimentos culturais de arte ao
representarem atos políticos, concretizavam a ampliação da alfabetização, o ensino de corte e costura,
concursos e estudos de artes. Nesse momento e ao longo da história, é possível perceber que, a defesa
por direitos civis de qualidades ao povo negro no Brasil era demasiadamente reprimida o que,
demandou a luta por legislações antidiscriminatórias e libertárias. Algo que, com o período da ditadura
militar – a partir de 1964 - se intensificou, quase extinguindo esses espaços de reafirmação e luta, pois
não podia contar com apoio de nenhuma das matrizes políticas, tanto a esquerda quanto a direita,
deixavam de fomentar realmente a inserção negra material no projeto democrático de política.
“De acordo com Gonzalez, a repressão "desmobilizou as lideranças negras, lançando-as
numa espécie de semiclandestinidade". A discussão pública da questão racial foi praticamente banida.
Cunha Jr. aponta as dificuldades que havia para superar o desmantelamento do movimento negro naquela
época: tínhamos três tipos de problemas, o isolamento político, ditadura militar e o esvaziamento dos
movimentos passados. Posso dizer que em 1970 era difícil reunir mais de meia dúzia de militantes do
movimento negro.” (CARVALHO, 2003)

E, no final da década de 1970, com a ascensão dos movimentos populares enviesados nos
sindicais, estudantes e trabalhadores que, conseguiram reconhecimento estatal ainda mais conciso, no
contexto de rearticulação do movimento negro,

Em 1982, o MNU já defendia aquilo posto como, reivindicações de caráter básico para o
exercício do direito à vida dos negros e negras brasileira, por exemplo, a luta contra o racismo e a
exploração do trabalhador; organização para enfrentar a violência policial; organização nos sindicatos
e partidos políticos; luta pela introdução da História da África e do Negro no Brasil nos currículos
escolares, bem como a busca pelo apoio internacional contra o racismo no país. Seu objetivo era
integrar os estratégicos movimentos dos grupos, organizações e associações antirracistas em escala
nacional, fortalecendo seu alcance político, marcou a história de reinvindicação negra no país,
fomentando os processos de autoafirmação da negritude brasileira, a identidade própria do negro era
colocada em destaque ao valorizar seu contexto como algo de teor específico na sociedade.

Nessa terceira fase do movimento negro na República, os discursos raciais realizaram-se


de maneira contundente, defendendo suas correlativas ideologias políticas que, nesse período
alinharam-se a esquerda e os ditames marxistas, em função dos apontamentos prejudiciais a sociedade
do sistema capitalista em suas dissidentes segregações, legitimações das desigualdades e o mito do
alcance pleno da democracia nacional.

Pode-se evidenciar, como, ao longo dos estudos e pesquisas feitas sobre a história da
população negra no Brasil vão muito além da escravidão, por isso, reduzi-la a tal definição é apagar
todo um caminho de resistência, inteligência, conquistas e avanços dentre um povo que esteve
presente em toda a construção do país.

CRISE DE 1920, A REVOLUÇÃO DE 1930 E O ESTADO NOVO 1937-45

Retomando ao anterior debate, esse período, foi caracterizado por uma moralização da
política com o fomento do apoio militar e gradual centralização do poder (abandono do modelo
federalista), a partir de um - casamento de interesses: militares e Vargas, para abrir mão da democracia
liberal, em detrimento de um Estado autoritário e um regime ditatorial. Vargas articula sua narrativa
ditatorial — muitos intelectuais da ciência política e história a sua época difundiam esse ideal de
regime governamental travado nesses ideais. A ideia de uma identidade masculina viril, e mandatária,
que, fosse a única possível de desempenhar o papel governante patriótico de uma nação fortemente
unificada. Getúlio Vargas seria o líder que guiaria a nação brasileira.

“Uma das soluções propostas era a do controle social através da presença de um Estado
forte comandado por um líder carismático, capaz de conduzir as massas no caminho da ordem.”
(CAPELLATO, 2007)

O desenrolar político do país passava por redimensionamento, no qual, as alterações


democráticas eram particulares do governo de Vargas, assim, a figura Estatal recebeu uma repaginada
e, os civis receberiam uma nova identidade — intentando unificar as massas, portanto, criar uma
coletividade cidadã nacional brasileira. A valorização material e simbólica de um discurso feito para
os trabalhadores, sendo, estes, a peça chave pra esse processo inovador da industrialização brasileira.
Assim, no país elevaram-se os questionamentos acerca do desenvolvimento nacional e, as novas
ferramentas que poderiam ser aplicadas ao contexto interno, visto que, buscava-se fortemente a
superação do “atraso” capitalista e industrial brasileiro em comparação aos demais países. Tendo a
questão trabalhista social como, uma inicial conquista dos trabalhadores desde a primeira república e,
utilizada por Vargas para refrear as mobilizações públicas revolucionárias políticas, onde existia um
horror aos conflitos internos.

Nesse sentido, o corporativismo, reconhecia e valorizava outros tipos de representação —


isentando a política — que, seria a de interesses por meio de organizações constituídas pelas classes
produtivas, ou seja, os trabalhadores e igualmente os empresariados. O corporativismo surgiu da
necessidade que as forças nacionais fossem controladas pelo Estado para que, segundo os defensores
desse sistema, permitisse a modernização brasileira para representar os interesses nacionais da
sociedade. Proposta adotada institucionalmente a partir dos anos 30. Portanto, o implemento da
infraestrutura modernizada, atribuída a um projeto de Estado, com uma perspectiva nacional
desenvolvimentista,

Como nos períodos de 1930 a 1937, o exer cício da democracia foi retirado da conjuntura
política do Estado os avanços nos direitos sociais foram amplamente retrocedidos, e precarizados em
função de uma modernização burocrática do Estado, estabelecida na tecnologia construtiva estatal
centralizada, numa cultura mandatória e patriarcal que, viabilizava as relações entre governantes e
governados no Brasil.

A Constituição de 1934, tornou-se assim, aos moldes das discussões que anteriormente se
afunilaram, inviável, pois as propostas e suas contemplações contrariavam-se e seus autores na
tentativa da conciliação sócio-política do país encontraram-se num impasse sendo necessário a sua
implementação de forma ‘provisória’ nos primeiros anos da década de 30.
“Em 16 de julho de 1934, a nova Constituição foi apresentada ao país e, no dia seguinte,
Getúlio Vargas foi eleito presidente constitucional do Brasil por sufrágio indireto. Como o texto
constitucional representou uma síntese de posições contrárias, nenhum dos grupos se sentiu plenamente
vencedor.” (CAPELATO, 2007)

Destacando o ano de 1942, período onde, foram elaborados e divulgados amplamente o


discurso refinado do trabalhismo, assim dizendo, aquele que reconhece que o chefe de Estado —
Vargas — era responsável por uma série de importantíssimas políticas regulamentais do mercado de
trabalho, tanto, efetivamente trabalhistas quanto previdenciárias. Esse discurso, serve para explanar
essa legislação e estimula a população a cobrança da sua efetivação, com o objetivo de criar bases
sociais políticas que, sustentassem essa liderança Varguista e um conjunto grande de seus aliados
principalmente, visando a saída desse autoritarismo .

ATUAÇÃO DOS TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA


DEMOCRACIA

O PTB: Partido Trabalhista Brasileiro – foi fundado em 1945, mesmo ano da queda de
Vargas e o fim do Estado Novo, assim, de uma maneira interna visando a externa do Estado em si —
surgiu por parte do ministério do trabalho com grandes influências de G. Vargas — para auxiliar os
trabalhadores com uma via partidária a qual na década de 50 pudesse se aliar a outros âmbitos
políticos. Já em 55, após a morte de Vargas, o PTB incorpora a crescente pauta de defesa das reformas
agrárias, forte nacionalismo, desenvolvimentismo distributivista, fica claro, que este novo
direcionamento dentro do partido não excluiu a forte ligação dele com lideranças trabalhista como,
Getúlio Vargas e João Goulart.

A Década de 50 e o êxito brasileiro, composto por um clima de extremo otimismo. Início


época de ouro da história nacional, pois ao alcançarmos as eleições de JK e Jango — que, possuíam
intenções desenvolvimentistas de industrialização, criação de estradas, interiorização fortificada,
expansão das indústrias de base etc. — a partir do “Plano de Metas” ou “Brasil 50 anos em 5”.

A questão dos trabalhadores no Governo de JK - Juscelino Kubitschek de 1956 a 1961 –


foi marcada pela instituição do CGT: Comando Geral dos Trabalhadores no Brasil, seu objetivo era, se
tornar uma confederação geral dos trabalhadores brasileiros. Entretanto, era pertinente a garantia de
uma pauta no movimento sindical da época, que pudesse ser defendida em um de seus eixos:
desenvolvimentismo com grande ênfase social, reformismo e a industrialização do país.

O CGT, reuniu, portanto, uma diversidade de lideranças no campo dos movimentos


sociais que, vinham de partidos diferentes, liderou muitas greves algumas com pautas econômicas,
corporativas e políticas. Por isso, aqueles que, não apoiavam seu crescimento — e os dos movimentos
sociais revolucionários da época — falavam que, o sindicalismo no Brasil estava politizado e, o
grande objetivo do movimento sindical naquele momento era de transformar o país em uma extensa
república sindicalista.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERÍODO DITATORIAL NO BRASIL 1964 – 1985

A partir da história do cotidiano, compreendi uma série de evidências que, podem


comprovar ou não o apoio, indiferença ou resignação que prevaleceu em vastos setores da sociedade
brasileira, o que pode ser relacionado as tradições governamentais autoritárias do país. Nesse contexto,
havia a diminuição da cidadania brasileira que, diminuía a participação democrática do povo na
política – tinha a população como uma entidade inimiga ao buscar instituir agentes estatais as quais
validassem o uso ilegal do uso da força, a coerção, repressão e arbitrariedade de julgamento
consumando a tortura cívica como uma política de Estado. O Golpe, de forma Estatal, se valia nos
argumentos de fortificação da restauração de uma ‘verdadeira veia democrática’, a erradicação
novamente dos processos corruptos da política nacional, colocando o país em um eixo de êxito e
progresso.

Desse modo, o conceitua a Utopia Autoritária (FICO, 2020) — algo já utilizado por
outros autores, mas, nesse caso possuí o sentido de elevar o Brasil ao patamar de uma grande potência
— a ideia de que, seria possível o país ascender potencialmente sob a condição de eliminar os
obstáculos conhecidos como subversivos, os chamados comunistas, corruptos presentes no cenário.

Ou então, por um viés pedagógico autoritário que, partiria do pressuposto do despreparo


brasileiro em relação a democracia liberal, portanto, fazia-se necessária atuar na educação moral,
militar e cívica da população. Adentrando em uma censura, coibindo ataques a moral e os bons
costumes da pátria, essas seriam as dimensões que atingiram essa utopia autoritária — a saneadora
que, extirpava e eliminava os grupos opositores e, a pedagógica pretendia a reformulação do
entendimento brasileiro acerca de sua cidadania, fundamentado também na repressão, o uso demasiado
das propagandas políticas, a construção de imaginários corruptos etc.

Em suma, esse conceito validava-se na crença da possibilidade de elevar o país aos níveis
das grandes potências, com um importante aspecto do uso das medidas fortes e autoritárias,
visualmente não constitucionais, solucionar as mazelas brasileiras algo que ocorreu muito na ditadura
militar. A reconstrução da moral, os bons costumes, a capacidade econômica e patriótica do país. Por
meio de atalhos institucionais que, violavam a constituição civil brasileira encontrar os caminhos
necessários para remediar de vez os problemas no cenário político e social brasileiro — essa visão
paternalista, elitista e autoritária presente em toda a história republicana.
Destacando o papel da luta armada, na ditadura, houve uma legitimação do uso da força
como repressão aos movimentos sociais fossem eles pacíficos ou pertinentemente ativos contra o
governo, assim, com o AI-5 teve-se essa poderosa ferramenta do Estado perante as massas populares
que, buscava, demolir a ditadura e o capitalismo — atrelados aos contextos das lutas armadas
vitoriosas, 1949, China, Cuba, Argélia e Vietnã. Essas dissidências das esquerdas nesse período,
buscavam alcançar o comunismo para além da perspectiva teórica ideológica assim, no palco real, por
um mecanismo de etapas engendrado nos discursos de Karl Marx. Fazia-se necessário a ocorrência de
um pleno capitalismo para assim, seguir ao degrau comunista de desenvolvimento

Entretanto, o Brasil possuía uma característica divergente dos contextos de Marx, sua
elite burguesa sempre esteve remetida, portanto, aos grandes latifundiários e agroexportadores que, se
sucederam qualitativa e quantitativamente muito bem no capitalismo. Por isso, o Brasil estaria distante
deste ideal europeu que, urgia numa revolução burguesa, assim, nosso contexto se assemelharia mais
precisamente à Cuba ou Maari, em revoluções realizadas pelas camadas sociais e trabalhadoras.

O conjunto numeroso de ações armadas que, era composto por antigos grupos animados
nessas perspectivas revolucionárias de um contra-ataque perante o governo. No entanto, tal projeto
não teve impacto vigente na sociedade, e como, sobretudo a ditadura teve espaço e tempo para se
reorganizar de forma estatal centralizada em seu aparato repressivo. Por meio dos apoios de policiais
civis, militares, na marinha, exército e aeronáutica — esse mecanismo de repressão ditatorial destruiu,
usando a tortura como política de Estado, as organizações que, armadas propunham-se a lutar
radicalmente contra esse contexto autoritário. Essas organizações armadas revolucionárias, se
intitulavam como revolucionárias pois, buscavam erradicar além da ditadura em si o próprio
capitalismo ainda efervescente no Brasil, e vencidas essas organizações a “luta pacífica” obteve
espaço em maioria diante o cenário social e político.

Ao enxergar o cenário externo, a presente Guerra Fria acontecia no mesmo momento em


que a ditatura se fortalecia no país. A partir do mandato do Presidente Castelo Branco, Costa e Silva, a
junta militar e o Governo de Médici caracterizam fases conturbadas nas relações entra a Casa Branca e
o Brasil. Por isso, a ação da Casa Branca era tão concisa, na qual não apoiava os dissidentes da
ditadura brasileira o que, é importante pontuar pois, os EUA em suas posições imperialistas ao redor
do globo incentivaram diversos governos ditatoriais latino-americanos.

Destarte, de acordo com Carlos Fico, os atritos entre os dois governos que, ocorreram
durante esse período, no que tange a decretação dos Atos Institucionais nº 2 e 5 em 1965. Nesses
momentos, ocorreram grandes consternações sobre o suposto apoio do governo norte-americano de
uma ditadura militar, e, o governo dos EUA por meio dessas agências estatais mencionadas, ao
considerarem as análises, considerações e diagnósticos do contexto brasileiro, não apoiava as diversas
ações da ditadura militar brasileira — abertura das temporadas de cassação política, a pertinente
repressão civil, suspensão de direitos políticos etc. — que, ocorreram devido as execuções dos atos
institucionais.

O projeto militar da Utopia Autoritária, Carlos Fico, utiliza-se desse conceito ao substituir
as definições de que houveram uma doutrina de segurança nacional sistemática e muito elaborada,
promovidas por aqueles que lideraram o processo de ditadura brasileira. Um palco de ideias
formuladas de maneira complexa pelos militares, e adotadas como uma ideologia, para o autor,
demonstra um equívoco histórico dado que empiricamente não era algo tão formatador da ditadura

Sendo assim, percebe-se aquilo que, como um estruturador ideológico serviu para unir os
conhecidos da linha dura, moderados, e os diferentes grupos de militares atuantes em um padrão de
unidade na medida que integraram a ditadura militar. Portanto foi perceptível a construção da relação
entre a ditadura militar, e a explicação de como as figuras mandatórias atuaram de maneira tão
característica, dado que, a ideologia da Segurança Nacional não foi o ponto chave de influência em
suas posturas.

Em suma, o Golpe de 1964, foi acima de tudo a tentativa violenta de apaziguamento da


população brasileira que, travava conscientizações acerca de seus direitos sociais e civis como
estudantes, trabalhadores, camponeses – nesse período ocorre a formação das Ligas Camponesas, uma
entidade legal das associações que, reivindicava assistência estatal, reformas no setor agrário, abuso
dos grandes latifundiários, fim da violência no campo, indenizações e entre outros direitos – militares,
com suas manifestações públicas políticas perturbavam aquilo compreendido como a ‘ordem’ do país
na qual somente repercutia os ideais desiguais de oportunidades, distribuições serviços para com o
povo brasileiro.

PROCESSO DE ANISTIA POLÍTICA E REABERTURA DEMOCRÁTICA

Para um amplo entendimento da necessidade de se instituir uma legislação, acerca de uma


anistia política em 1979, é preciso recordar o passado — pautado na perseguição política alicerçada a
repressão de tudo aquilo que ia de encontro as diretrizes do governo ditatorial. Ao estudarmos os
registros pela luta em função da anistia em 1975, encontraremos informações sobre quais grupos
possuíam papel importantíssimos nessas ações, sendo estes, todos envolvidos no anterior governo
deposto de João Goulart, membros que lutavam pela implementação das reformas de base (reformas
estudantis, agrária, sindicatos) eram predominantes na luta, assim a sua perseguição foi
demasiadamente percebida durante o golpe. (RODEGHERO, 2020)
Entre 1967/68, temos um expressivo movimento diante as manifestações sociais de rua
contra o regime, principalmente nas capitais dos estados e, os alvos reprimidos eram maiormente
estudantes. Após a implementação do AI-5 de 1968 em diante, o foco das perseguições passou a ser
incisiva sobre as militâncias que se coligavam as organizações armadas, as quais em um curto período
de tempo acabaram sendo dizimadas — tendo muitos de seus compositores postos em exílio, presos,
banidos, mortos e desaparecidos.

A partir de 74/75 a repressão passou a voltar-se sobretudo aqueles que, escolheram optar
pela via pacífica de mudança, como o caso do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e também o MDB -
Movimento Democrático Brasileiro. Fica claro, portanto, como o país sempre foi diverso em sua
conjuntura histórica de lutas em função da redemocratização e, os seus grupos alvos reprimidos,
assim, a repressão foi algo persistente e as campanhas em função da anistia procuravam demonstrar a
opinião pública acerca dos acontecimentos durante o período de 1964 e os momentos onde iniciaram-
se essas campanhas — uma década após a introdução da ditadura.

Dessa forma, considerando esse histórico de repressão a anistia política tornou-se uma
bandeira de luta erguida por diferentes camadas sociais de oposição ao longo da ditadura, entretanto,
especialmente na década de 1970 ela passou a ser propagandeada como um dos passos necessários
para a reconquista das liberdades civis necessárias. À medida que, as demandas aumentavam nestes
movimentos, a conscientização da sociedade brasileira se expandia portanto, mostrando tudo aquilo
que havia ocorrido desde o início do regime ditatorial em 1964 que, não era explicitado nas grandes
imprensas por motivos de repressão e censura ou pela adesão dos canais comunicativos aos vigente
regime.

Isto posto, em 1978/79 caracterizando o final do Governo Geisel e o início do Governo de


Figueiredo, as campanhas obtiveram intenso fomento, um período onde a capacidade organizacional
da sociedade brasileira expandiu-se. E, o primeiro apresentava a política da distensão como proposta,
ou seja, significava traçar um afrouxamento seguro, lento e gradual do regime, todavia, não possuía
em suas bases legislações acerca da anistia política. O mandato de Geisel, ainda assim, foi evidenciado
pelo progressivo crescimento do MDB em pleito político, aumento da crise econômica, fim da
legislação do AI-5, rearticulação dos movimentos estudantis e sindicais entre outros.

O que foi necessário para a chegada de uma efetiva lei da anistia, a aprovação da emenda
constitucional imposta em 1969 reservava apenas ao presidente da república a prerrogativa da
discussão de um projeto de anistia política e, após esse período a fundamental aprovação no congresso
nacional novamente voltando-se a sanção presidencial, em outras palavras, mesmo que os membros do
MDB apoiassem a Lei da Anistia, era inevitável o suporte presidencial inicial no que tange a
modulação da legislação. Nesse contexto, a ditadura encontrava-se sendo alvo de críticas por seus
antigos apoiadores — parte dos empresários e um recorte da grande imprensa — devido a perceptível
crise econômica, o Governo Figueiredo apresenta ao congresso um projeto que, continha as
promulgações da anistia.

Com uma diminuta margem de vantagem, o congresso nacional aprovou a lei 6.683/79
que, ficou conhecida como a Lei da Anistia, a qual foi sancionada pelo Presidente Figueredo em
agosto de 1979. Em vista disso, foi considerada uma meia vitória para os movimentos que a defendiam
tão fortemente, pois permitiu a libertação de uma considerável parte dos presos políticos, a volta
daqueles exilados, a reconquista de direitos políticos e, principalmente o início do processo de
readmissão funcional daquelas pessoas que haviam sido expurgadas de seus serviços públicos.

É bem importante frisar que, torna-se inviável demarcar pontos consonantes entre, um
Estado (soberano) militarizado com todas as ferramentas de poder em seu auxílio com seus grupos de
oposição. A despeito disso, a lei da anistia apresentada pelo Governo Figueiredo e aprovada pelo
congresso, destinou-se a explicar que, tratavam-se de dois lados de uma guerra com responsabilidades
semelhantes e, fazia-se necessário o esquecimento desse pavoroso passado para assim, garantir uma
conciliação nacional.

Em suma, atualmente a lei da anistia e sua importância foram decisivas pois, foi por meio
desta, a materialização das noções de esquecimento, pacificação e desarmamento do período. E,
acabou criando impasses legislativos nas demandas políticas acerca das verdades, os julgamentos e a
decisões sobre os crimes cometidos durante a ditadura levando a um terreno tortuoso e instável, onde,
os interesses do governo permaneceram soberanos no limiar de uma abertura sem consequências
perigosas para o regime.

Esses empecilhos anteriormente abordados na lei de 1979, estão presentes no contexto de


atuação da Comissão da Verdade em 2012/14, restringindo seus alcances, e tem sido evocada no
andamento de processos contra aquelas autoridades responsáveis por torturas, perseguições e mortes
no período da ditadura, visando a sustentação de um discurso no qual, os que debatem sobre a temática
estariam ocupando a posição de ‘revanchistas’ perante o governo, isso acaba criando um cenário de
esquecimento e apagamento da memória do período ditatorial deixando espaços livres para a
propagação de imaginários totalmente distorcidos — evidenciando um avanço ‘social’ e ‘nacional’ do
momento da ditadura — fomentando discursos negacionistas.

AS MULHERES, SUA CIDADANIA NA REPÚBLICA E O AUTORITARISMO

As discussões acerca das temáticas de gênero, a história das mulheres, sexualidades


dissidentes da cis heteronormatividade, são atualmente, impassíveis de serem discutidas sem se levar
em conta as questões sobre interseccionalidade, que essencialmente abarcam os diversos debates entre
gerações, racismo, luta de classes — todos estes pilares, devem de serem postos tal qual peças
complementares. Dessa forma, não atuam como variáveis independentes dentro de uma história por
exemplo. (MARIA PEDRO, 2020)

A contemporaneidade de tais atribuições molda tradições, divisões e composições


diversas entre as orientações de gênero, também as relações pessoais dos civis. A
heteronormatividade, tão presente em nossa construção social, é extensa em se tratando das áreas de
expressão das associações entre os indivíduos — o trabalho, momentos de lazer, educação e poder.
Com isso, a violência manifesta-se de forma velada ou sensível, exprimindo as disparidades de gênero
na sociedade brasileira as quais encaixam-se simbólica, moral, física e psicologicamente.

Historicamente, o autoritarismo, deixou raízes nas relações e, nas questões de gênero atua
fortemente de maneira atemporal. A posição das mulheres de objetos intocáveis, e principalmente
subordinadas a seus parceiros, pais ou figuras masculinas ‘superiores’ revela a criação dessa
conjuntura de dependência — portanto, sujeitas a arbitrariedade do julgamento masculino para suas
ações, vivências e possibilidades.

O feminismo sendo entendido para além dos rizomas, em que, ao longo da história
apresentam seus picos de lutas e posicionamentos, mas, ampliando a luta feminista correlacionando-a
à todas as mulheres. Portanto, os meios de dominância patriarcas não foram suficientes para calar as
produções femininas ao longo da história e, a partir de 1930, tais criações ficcionais, artificiais,
criativas foram representadas por novos cânones de perspectivas femininas. Aqui, destacamos suas
atuações em projetos republicanos e abolicionistas, a importante atuação de Berta Lutz, ativista
feminina que, discursava estrategicamente com os partidos políticos no desenvolvimento da
constituição de 1934 sobre a inserção dos direitos de cidadania das mulheres – o sufrágio,
alfabetização, incentivos educacionais etc.

Os anos de 1970, borbulhavam movimentos sociais que, socialmente acordavam a


necessidade de mudança na sociedade — assim, as mulheres ao organizarem conjuntos de projeto que
reivindicavam seus direitos equiparados no trabalho, nos laços familiares, espaço público, na política e
socialmente. Por conseguinte, a herança dessas movimentações trouxera legislações, instuições e
maior enfoque nas causas feministas, ainda assim, a situação das mulheres na Nação permanece
complexa.

Como debatido anteriormente, os períodos coloniais traçaram importantíssimos limiares


relações sociais e os seus abusos propriamente ditos, ao evidenciarmos uma desigualdade sexual
contundente os homens eram maioria na sociedade — fossem eles escravizados ou colonizadores.
Então, os primeiros sinais desse cenário foram percebidos pela disparidade populacional que, refletiu-
se também nas relações de violência explicitas na sexualidade dos indivíduos. As mulheres brancas
recaíram-se o papel daquela imaculada e ingênua do lar, subservientes a seus companheiros, tendo
muitos filhos e, envelhecendo mais rapidamente. O recorte racial sempre se faz necessário em
tratando-se deste assunto, mulheres negras, portanto, ocupavam o espaço dos trabalhos braçais,
manuais e domésticos, ainda, pertencentes a um local estereotipado do objeto sexual, a fonte de desejo
e prazer dos seus senhores.

“Outro provérbio delimitava locais sociais para as mulheres, ao mesmo tempo que investia
numa hierarquia de gênero, largamente praticada: “A negra no fogão, a mulata na cama, a branca no altar”.
(SCHWARCZ, 2019)

A disseminação desse ideário na sociedade compôs estereótipos, preconceitos e,


julgamentos que fomentaram as formas violentas de tratamento dos corpos femininos socialmente.
Nessa perspectiva, a autoridade masculina incitou-se perigosamente, por isso, as percepções de poder,
as relações senhoriais, com o controle exacerbado do corpo feminino consumaram-se amplamente nos
setores do corpo social brasileiro. O paradigma do patriarcado resiste na sociedade brasileira,
entretanto, com novas conjunturas, o entendimento das subordinações compreendidas nas relações de
gênero e suas particularidades, ainda, determinam as posições sociais de muitos homens e mulheres.

Essa questão, recebe diretrizes de importâncias diversas, logo, as personalidades


masculinas ao serem supervalorizadas em relação as femininas permitem a propagação dessa
violência, marcada na inferioridade do gênero. Á vista disso, a masculinidade autoritária possuí a
sensibilidade de encontrar-se prejudicada ao enxergar mulheres em postos de poder exponencialmente
independentes, quando ao alcançarem espaços sociais, políticos, educacionais e morais de destaque, a
repulsa por essas conquistas é exprimida nos inúmeros casos de feminicídios – um exemplo atual foi o
assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018; os diversos ataques sofridos pela Presidenta
Dilma Rousseff em seus anos de mandato e entre outros casos.

“Quanto mais as mulheres vão conseguindo impor sua independência e autonomia, tanto

maior tem sido a reação masculina e as demonstrações de misoginia.” (SCHWARCZ, 2019)


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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IMAM-BR Podcast: Estado Oligárquico e política na Primeira República por Cláudia Viscardi [Locução de]:
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DOMINGUES, Petrônio. “Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos”. Revista Tempo. 12 (23),
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IMAM-BR Podcast: Utopia Autoritária (Carlos Fico) [Locução de]: Andréa Casa Nova e Karla Carloni.
[S.I.]: Brasil Republicano, 2020 - https://www.brasilrepublicano.com.br/ (entrevistas especiais)

IMAM-BR Podcast: Ditadura civil militar, sociedade, esquerdas e memória (Daniel Aarão Reis) [Locução
de]: Andréa Casa Nova e Karla Carloni. [S.I.]: Brasil Republicano, 2020 - https://www.brasilrepublicano.com.br/ (entrevistas
especiais)

IMAM-BR Podcast: As contradições e impasses da Nova República (Francisco Carlos) [Locução de]: Andréa
Casa Nova e Karla Carloni. [S.I.]: Brasil Republicano, 2020 - https://www.brasilrepublicano.com.br/ (entrevistas especiais)

IMAM-BR Podcast: Anistia Política (Carla Rodeghero) [Locução de]: Andréa Casa Nova e Karla Carloni.
[S.I.]: Brasil Republicano, 2020 - https://www.brasilrepublicano.com.br/ (entrevistas especiais)

SCHWARCZ, Lilia M. “Raça e Gênero”. In:_. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Cia. Das Letras,
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MORAES, M.L.Q. de. “Cidadania no Feminino”. In: PINSKY, Jaime. PINSKY, Carla B. (orgs,). História da
Cidadania. São Paulo: Contexto, 2016. (PDF)

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